Autor: Vortex Cultural

  • Crítica | Greyhound: Na Mira do Inimigo

    Crítica | Greyhound: Na Mira do Inimigo

    Podemos dizer que o astro Tom Hanks tem uma relação bastante próxima com a Segunda Guerra Mundial, afinal, o ator americano estrelou uma das maiores produções do gênero, O Resgate do Soldado Ryan, um dos filmes mais sensacionais, impactantes e realistas sobre o tema. Na época, o filme de Steven Spielberg faturou cinco estatuetas do Oscar, inclusive, com Spielberg vencendo como melhor diretor.

    Todos nós sabemos que Hanks é um ótimo ator e, ao longo de sua carreira, é possível mencionar pelo menos 30 filmes em que o ator estava presente e que foi marcante. Podemos dizer que sua participação em Greyhound: Na Mira do Inimigo certamente entrará nessa lista.

    Inicialmente, a produção teria seu lançamento no cinema no mês de junho desse ano, mas em virtude da pandemia causada pelo vírus COVID-19 a estreia foi adiada e, consequentemente, os direitos de distribuição foram repassados ao serviço de streaming da Apple, a Apple TV e o filme chegou na plataforma em 10 de julho.

    Hanks vive o religioso capitão Ernst Krause, que é designado para liderar o enorme destroier USS Keeling, mais conhecido como Greyhound, durante sua primeira escolta pelo Oceano Atlântico, juntamente com outros dois navios militares menores, protegendo diversas embarcações que levam diversos tipos de suprimentos para a Inglaterra, num dos momentos mais tensos da Segunda Guerra conhecido como Batalha do Atlântico, uma vez que os submarinos nazistas conhecidos como U-boat foram responsáveis por afundar milhares de embarcações por todo o oceano, causando a morte de milhares de pessoas. Durante a travessia, o comboio aliado fica sem nenhum tipo de apoio aéreo e precisa lidar sozinho com os mortais U-boats que surgem como moscas em cima de um animal morto.

    O diretor Aaron Scheider que possui pouquíssimos filmes em seu currículo na cadeira de direção e diversas outras produções como diretor de fotografia, conduz Hanks com maestria. No transcorrer da fita, podemos perceber as sutilezas na mudança da personalidade do Capitão Krause, à medida que as coisas vão acontecendo e a tensão toma conta da tela logo nos primeiros 15 minutos, só deixando aquele que assiste respirar em seus momentos finais. Por opção e por ter uma missão a cumprir, o capitão deixa de se alimentar, privando-se inclusive do sono, sendo que o terror promovido pelos nazistas, a falta de alimentação e a falta de descanso são fatores fundamentais para a mudança do personagem durante o filme. É possível perceber de maneira sutil a sua degradação. Méritos também de Hanks que, além de ter sido o protagonista, escreveu o roteiro, baseado no livro The Good Shepherd, escrito em 1955 por CS Forester.

    Outro destaque fica para o design de produção. Apesar do ambiente claustrofóbico (já que 95% do filme acontece dentro da embarcação), esse departamento dá show com a quantidade de detalhes de itens ou situações que são perceptíveis dentro do Greyhound. Aliás, o espectador sai com aquela sensação de que teve uma aula sobre como os navios eram operados durante a guerra e como seus tripulantes precisavam se portar, tanto em situações de tranquilidade, quanto em situações de risco ou em batalha. Inclusive é completamente entendível o porquê de certas pessoas terem sido condecoradas com atos de heroísmo. Além disso, que época complicada para ser soldado.

    Com isso, pelo fato de Greyhound: Na Mira do Inimigo estar sendo um sucesso, podemos dizer que a Apple TV deu uma cartada certeira em adquirir os direitos de distribuição, fato esse que poderá aumentar a coragem dos distribuidores e investidores de produções. Enquanto isso, quem ganha é o espectador que, a cada dia que passa, pode ver produções incríveis por um baixo custo. De qualquer forma, seria legal ver esse filme nos cinemas quando a pandemia acabar, mesmo as chances disso acontecer serem remotas.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Review | Tower of God – 1ª Temporada

    Review | Tower of God – 1ª Temporada

    O Crunchyroll, serviço de streaming focado em animações japonesas que distribui mundo afora semanalmente One Piece, Boruto e os demais animes transmitidos por temporada na terra do sol nascente, começou a produzir suas próprias séries. Um dos grandes destaques do seu selo original é a adaptação de Tower of God, web comic sul coreana do autor SIU de grande sucesso. O anime foca em Vigésima Quinta Bam, um garoto solitário que quer encontrar sua amiga Rachel, única pessoa que ele conhece, na misteriosa Torre de Deus, um lugar cultuado por dar tudo que é desejado a quem alcança o topo dela.

    Bam acaba entrando na Torre por si só, demonstrando ser um irregular, alguém que entra no local por vontade própria, diferente dos regulares que são convidados. Headon, uma criatura que se apresenta como senhor da Torre, propõe o primeiro teste a Bam, para começar a subir para os próximos níveis, onde o jovem encontra Yuri, uma das princesas da Jahad. O protagonista consegue uma arma lendária com a princesa e posteriormente cai no meio de um battle royale com vários outros indivíduos. Tower of God então demonstra um aspecto similar a um RPG, um universo que tem uma intenção de ser grandioso. A separação das especialidades dos personagens em classes e todo conceito que envolve o shinsu, a energia usada pelos seres desse universo, também deixam a caracterização mais interessante, sendo o atrativo maior do anime.

    Bam é jogado nesse novo mundo e é tentado de alguma forma fazer com que o telespectador acompanhe a evolução da história junto ao protagonista. Bam vai tentando se adaptar às provas da Torre e conhecendo seus aliados propícios, como o astuto Khun Aguero Agnes (uma homenagem do autor ao futebolista argentino Kun Agüero do Manchester City) e o réptil antropomorfizado grandalhão Rak Wraithraiser, sendo o trio principal durante o decorrer da história.

    O trio entre si funciona bem, Bam sendo a alma inocente, Khun age como o grande cabeça da equipe, com um fundo interessante, só que pouco explorado. Khun se identifica com Bam pela semelhança da sua causa, devido à relação com a sua irmã e a rejeição da família que ele carrega consigo. Rak acaba somente sendo usado como alívio cômico. Porém deixa a desejar bastante na construção do protagonista e dos laços com os personagens secundários. Bam começa vazio e termina mais vazio ainda, sem conseguir expressar sua verdadeira intenção na obra. Seu carinho pela Rachel é a única interação e motivação colocada ali, de resto, não há diálogo nem conteúdo que justifique sua bondade posta, mesmo os demais personagens tendo personalidade, mas nada que seja orgânico. O protagonista é colocado como alguém adorável e que faz tudo pelos seus próximos, mas nada que ele faça, confirma do porquê dele ser bom. Além de cair no clichê de ter uma progressão exponencial diante os demais, o protagonismo barato comum em qualquer anime de luta.

    O arco fora do trio protagonista é bem mais convincente e melhor construído. A parte de Anaak e Endorsi, princesas de Jahad apresentadas posteriormente, é inicialmente um mistério, pelo fato delas serem poderosas e da relação delas com o domínio da Torre. Isso leva para toda a motivação de Anaak agir contra tudo relacionado à Torre e de como Endorsi se vê ligada a ela em relação ao seu segredo. Uma história de poder e riqueza construídos pelos senhores da Torre dados por meio de opressão.

    A ação é bem feita, principalmente pelo uso do shinsu, de toda forma que é animada e do aporte que certos personagens dão, como as estratégias de Khun e das provas colocadas pelos rankers, pessoas que chegaram mais alto na Torre, mas nada que encha os olhos e seja marcante. Tower of God é apático, desinteressante, com várias tramas colocadas como importantes, mas pouco exploradas e acaba tendo um final problemático, com uma reviravolta que tenta justificar as ações de certos personagens, mas só coloca dúvidas no desenvolvimento da narrativa, quebrando todo o clima da possível continuação. Os 13 episódios disponíveis no Crunchyroll parecem ser corridos e imediatistas, numa tentativa falha de sucesso, contrariando toda a expectativa de um dos animes mais aguardados de 2020.

    Texto de autoria de Wedson Correia.

  • Review | Alta Fidelidade – 1ª Temporada

    Review | Alta Fidelidade – 1ª Temporada

    Maior que uma homenagem, Alta Fidelidade é uma jornada de amadurecimento.

    Em dias de isolamento social, uma série que é um afago para os corações obcecados por música e assumidamente depressivos. Alta Fidelidade, o cultuado livro do Nick Hornby que já havia virado um filme dirigido por Stephen Frears acabou de ganhar também sua série. Lançada no último fevereiro no Hulu,canal de streaming da Disney, essa nova versão reverencia o romance e ao mesmo tempo o filme de várias maneiras, fazendo uma atualização considerável na tentativa de contar uma história mais atraente e palatável para um novo público.História que ainda conversa com muita gente, que se vê representada nesse mundo e por alguns de seus personagens,crentes que a cultura pop é o que existe de mais importante na vida. A série é capaz de agradar quem faz seu primeiro contato com Alta Fidelidade, mas funciona muito melhor para os adeptos da filosofia de Hornby em sua obra mais aclamada.

    Ao longo dos últimos trinta anos, Rob (Fleming no livro e Gordon no filme) ganhou status de ícone entre uma juventude fissurada por rock e mal ditava sua miséria pessoal às músicas que viveu escutando e às letras tristes que moldaram sua personalidade. Sem olhar para o próprio umbigo, prega que esse consumo é o que está de fato consumindo as almas de milhares de adolescentes no mundo. Para ele, a culpa da tristeza massiva é da indústria cultural e as pessoas, engolidas por esse fenômeno, nem desconfiam.

    Exaltado por esses vícios e exageros, mas estagnado no mesmo emprego sem qualquer perspectiva de melhora, ruim de grana e persistindo em culpar os outros por tudo de errado em sua vida, não há culto que se sustente.Virou consenso que esse protagonista é o tipo de arquétipo que precisa ser superado. Já que ele não apresenta qualquer redenção em sua trajetória. Rob, começa a história sem entender porque a Laura, sua última companheira o deixou. Durante esse percalço todo ele até descobre, mas não toma qualquer atitude a respeito disso. E termina com Laura mesmo assim, depois de prejudica-la bastante.

    Esse dilema está no coração da nova roupagem de Alta Fidelidade. Como os “desvios de caráter” tratados no filme de vinte anos pegam mal, a produção viu na segunda adaptação uma oportunidade de mudar as coisas. Fazer do protagonista um melhor exemplo (?!), mas ainda problemático. Então, a ideia da mudança mais significativa que esse reboot apresenta: Rob agora é uma mulher do Brooklyn, vivida por Zoe Kravitz. Menos explosiva, mais simpática e igualmente paranoica e apaixonada por seus discos. A Rob da Zoe também não se redime. Se mostra egoísta e não tem medo de ferir os outros, mas não é nem de longe a bomba atômica que John Cusack encarnou um dia.

    Proprietária de uma loja de discos, ela está passando por uma fase turbulenta no amor. Seu relacionamento acabou de maneira traumática e seus últimos dias andam terrivelmente angustiantes por não conseguir emplacar mais nada após esse término. Teve oportunidades, conheceu (e está conhecendo) gente, mas continua perdida. A coisa mais charmosa na história ainda é esse ponto: quem nunca teve o coração partido a ponto de isso destruir completamente sua rotina? Te fazer evitar trabalho e amigos? Rob passeia por todas as esferas de sua vida, relembra os traumas de relacionamentos anteriores, sua relação com a loja e com seu irmão, para chegarmos até o que importa: o quanto esse problema significa pra ela, e claro, isso é realmente um problema?

    Essa abordagem é mais próxima da história original de Hornby. Ao se aproximar mais de Rob como alguém que está emocionalmente quebrada e ao invés de partir para uma guerra contra o EX, ela vai se conhecer melhor. E fazendo isso ao longo de alguns episódios, permite que acompanha a série também se aproxime de Rob e do seu universo. O próprio capítulo que vai contar o background de Simon, ex-namorado dela e hoje atendente de sua loja é uma excelente adição e enriquece o vínculo com tudo o que se passa na trama.

    Muitos tributos são prestados. Coisa que só tem no livro é citada, coisa que só acontece no filme é citada e situações que acontecem nos dois também… As vezes indiretamente e as vezes – palavra por palavra.Até o figurino acaba sendo revisitado. Zoe Kravitz é filha de Lisa Bonet, que faz a Marie De Salle no filme… Mas esses sinais que são distribuídos ao público não são o que define a nova série.A personalidade da protagonista e as pessoas à sua volta são praticamente um começo do zero, claro, com o devido respeito àquilo que é sua fonte.Simon e Cherise são Dick e Barry em sua essência, mas ao serem traduzidos para o ano de 2020 e com a possibilidade de serem melhor trabalhados, eles oferecem mais.

    Para o piloto, a série apresenta na direção o ex-baixista dos Lemonheads, Jesse Peretz que previamente já havia trabalhado numa outra adaptação de Juliet Nua e Crua enquanto quem dirige a maioria dos episódios da série é Jeffrey Reiner (responsável por alguns episódios da segunda temporada de Fargo). É importante que sejam essas pessoas trabalhando em Alta Fidelidade porque é o que ela tem de melhor para oferecer é a imersão e intimidade com as ruas do Brooklyn, com os bares visitados, com a música pulsante, a loja de Rob e com as vidas das pessoas que circulam por ali. O toque de rock que eles trazem possibilita essa magia, especialmente, num momento em que as pessoas se encontram limitadas no que diz respeito a ocupação de espaços.

    É difícil trazer um clássico para conversar com outra geração, e até arriscar passar através dele uma nova mensagem também. Mas Alta Fidelidade consegue, desperta nostalgia e ao mesmo tempo também projeta as questões de numa nova geração, sem abrir mão do que tinha de melhor. Ao recontar tudo isso em paralelo com sua personagem principal, buscando essa nova perspectiva, é a história que amadurece. Se revela como o já que foi, sem arrependimentos, mas ainda o que é e tudo o que pode vir a ser. Conversando com jovens que tem uma relação 100% digital com a música ou sequer pisaram numa loja de discos na vida. Mas com certeza, já levaram um pé na bunda e se afogaram numa música lamentosa.

    Texto de autoria de Gabriel Caetano.

  • Review | The Midnight Gospel – 1ª Temporada

    Review | The Midnight Gospel – 1ª Temporada

    Lançada em abril de 2020, como referência ao consumo de cannabis, o conhecido código “4i20”, The Midnight Gospel, é uma série de animação com selo original Netflix, desenvolvida por Pendleton Ward (criador de Hora de Aventura) e Duncan Trussell. Inspirada em seu podcast The Duncan Trussel Family Hour, conhecemos na série Clancy Gilroy, um podcaster que visita mundos através de seu simulador de universo para entrevistar personagens de diversas formas, abordando assuntos como liberação do uso de drogas, meditação, ciclo da vida, magia. Devido ao conteúdo dessas entrevistas, Midnight é uma animação classificada para maiores, então não se engane, são poucas semelhanças com o universo de Jake e Finn em Hora de Aventura.

    A série é profundamente marcada pelo absurdo em sua idealização, com forte apelo na psicodelia, desde seus traços irregulares a personagens de diferentes formas e misturas, situados em cenários cheios de cores fortes, vibrantes e com muitas estruturas geométricas. Sua trilha sonora carrega os mesmos traços, como no pequeno trecho de transporte do protagonista para o universo simulado, acompanhado por trilha eletro-psicodélica, e isso se reflete também nos assuntos discutidos por Clancy e seus entrevistados. No segundo episódio por exemplo, o protagonista conhece Annie, uma espécie de cão-veado, que enquanto comia alguns bebês palhaços é capturada e enviada para morte juntamente com o podcaster, aproveitando da situação, debatem sobre a própria morte e suas consequências, com relatos vividos por Annie. Situações assim são comuns no desenho: enquanto Clancy entrevista um convidado (retirados de episódios do podcast de Duncan), algo de hilário acontece no plano de fundo, como um apocalipse zumbi, a vingança de morte num planeta medieval, uma prisão onde um personagem é obrigado a experimentar a morte repetidas vezes, até mesmo no episódio com trechos no mundo real.

    Devido à complexidade da forma quanto do conteúdo, Midnight Gospel pode passar a falsa sensação de não continuidade entre os episódios, o que não é verdade. Aqui alguns mínimos detalhes são transportados de um capítulo para o outro, como objetos, amadurecimento do personagem devido a pequenas conexões entre as temáticas e as consequências de algumas escolhas. Evolução essa quase que espiritual, já que Clancy é exposto a histórias de superação, autoconhecimento, evolução da consciência, e o desenho tem muito mérito em apresentar isso de forma didática para o público, que também aprende junto com o próprio personagem e os entrevistados. Como dito anteriormente, alguns dos entrevistados são retirados do próprio podcast, a exemplo do homem com cabeça de aquário e um peixe dentro, Damien Echols (que conta parte de sua história de vida ao ser preso acusado de assassinato, o caso de West Memphis, história também retratada no documentário Paradise Lost, produzido pela HBO). Até a mãe de Duncan é personagem em uma jornada de vida e morte no belíssimo episódio que finaliza a série.

    Ward e Duncan utilizaram do conceito de podcast para inovar em sua série, criando uma grande forma de diálogo entre a obra e o espectador, trazendo temas fortes e de suma importância, seja como informação ou reflexões. Tudo idealizado com bastante cuidado, na composição da imagem e som, criando uma rica fonte de entretenimento e conhecimento para o público, que, coincidentemente lançada diante de uma crise enfrentada pela população mundial, causada por uma pandemia, fortalece o laço entre a obra e o espectador.

    Texto de autoria de Mattheus Henx.

  • Review | Too Old To Die Young – 1ª Temporada

    Review | Too Old To Die Young – 1ª Temporada

    Durante a produção de sua série, Nicolas Winding Refn disse que a TV está morta, criticando a falta de conteúdo, mas também a forma de consumo de mídia nos serviços de streaming, maratonar séries. Afirmando que as pessoas não conseguem consumir e absorver tanta informação rapidamente, em sua Too Old Die Young o público teria o seu devido respeito, com a liberdade de escolher por onde começar e até mesmo assistir de forma aleatória suas 13 horas, divididas em 10 episódios. Inclusive na montagem o diretor decidiu não seguir a duração padrão de uma série, com episódios de até uma hora e meia, finalizando com um corte de 30 mins. Inicialmente já é mostrado a conexão entre Martin (Miles Teller) e Jesus (Augusto Aguilera). Jesus atira no parceiro de Martin, Larry (Lance Gross), matando o policial e vingando a morte de sua mãe, Magdalena (Carlotta Montanari). Após isso a narrativa se desenvolve através da jornadas de Martin e Jesus, o detetive secretamente decide investigar o caso, adentrando no submundo, revelando ser tão perverso quanto aqueles quem caça, enquanto Jesus se reencontra com a família no México para preparar-se na função de restabelecer o império da mãe nos EUA.

    Ed Brubaker e Refn, juntos criadores e roteiristas da série, decidem revelar pouco do passado de seus protagonistas, trabalhando mais o desenvolvimento dos personagens através de arquétipos e passagens guiadas pelas cartas de tarot que nomeiam os episódios, todos dirigidos pelo realizador de Drive, que optou por uma narrativa lenta e arrastada, combinando com a quietude das cenas, com pouca movimentação e diálogos dos personagens, reforçando o uso da imagem como ferramenta narrativa, com enigmas guiados pela trilha sonora de Cliff Martinez. Por um lado acompanhamos a jornada de Martin, sua queda no submundo, exposto cada vez mais a situações perversas, colocando em xeque sua própria moral para julgamento do público, mas cria-se a real dúvida, o que de fato move esse personagem, que parece mais existir apenas como chave para ligação das subtramas que permeiam a série, do que individualmente. Como a problemática relação com Janey (Nell Tiger Free), uma menor de idade, relação que aparenta ser sustentada apenas no prazer carnal pois são raros os momentos de afeto entre o casal, afirmando a personalidade fria e obscura de Martin

    Por outro lado, a jornada de Jesus é mistificada pela presença de Yaritza (Cristina Rodlo), uma cartomante deixada pelo seu falecido tio, com a promessa de ser uma divindade encontrada para iluminar a família e o detentor do poder do cartel. Yaritza se revela cada vez mais importante na trama, chegando em alguns momentos evocar a presença de Magdalena em cena, através de memórias e projeções de Jesus, que nutre um profunda devoção por sua mãe, sendo colocado em diversos cenários cheios de quadros e memórias de sua Magdalena, sempre exaltando sua beleza, em alguns momentos, sugerindo uma relação incestuosa entre eles. Momentos esses que cada vez mais ganham importância na série, colocando o cartel em segundo plano, com algumas passagens de tempo percebidas nas falas dos personagens.

    Com personagens como Diana (Jena Malone) e Viggo (John Hawkes), que dão escopo a jornada de Martin, apresentando à ele uma oportunidade de se recompensar, atuando como um justiceiro, assassinando e caçando estupradores e pedófilos, trazendo também questionamentos morais para o personagem e discurso da série, Too Old apresenta um breve comentário sobre o fascismo, como raiz de todos esses problemas, reforçado pelo monólogo de Diana. Martin também é exposto ao julgamento com o personagem Theo (William Baldwin), pai de sua namorada, aqui acontece um dos momentos mais interessantes da série onde é mostrada uma pequena reprodução do primeiro episódio, funcionando como uma sátira, ridicularizando o detetive e pondo em jogo sua abordagem diante o ocorrido.

    Refn já sem interesse de trabalhar em uma segunda temporada tinha plena consciência do produto em mãos, faltou inspiração para preencher tantas horas de planos que apesar de belos, nada acrescentam para a trama, que por outro lado se mostrou vazia e rasa, sustentada no enigma dos personagens, não fazendo jus aos seus discursos, na verdade, nos faz questionar qual seu papel na colaboração para esses serviços de streaming, já que em sua oportunidade criou um grande exercício de sua própria carreira, mantendo seus acertos e excessos, causando total indiferença no espectador.

    Texto de autoria de Mattheus Henx.

    https://www.youtube.com/watch?v=im2hWV3ZJjI

  • Crítica | Os Invencíveis

    Crítica | Os Invencíveis

    Kim Jee-woon é um realizador que sabe como passear em diversos gêneros, podendo trabalhar em cada um especificamente. Os Invencíveis, filme sul-coreano de 2008, é um dos casos em que o diretor exemplifica. Um filme de ação inspirado no faroeste spaghetti da década de 60, começando pelo título original Joheunnom Nabbeunnom Isanghannom, que seria traduzido como “O Bom, o Mau e o Estranho”, que remete ao clássico de 1966 de Sérgio Leone, Três Homens em Conflito.

    Os Invencíveis se passa na década de 40, durante a invasão japonesa à antiga região da Manchúria, localizada no nordeste da China. O exército japonês e vários grupos do submundo estão à procura de um mapa misterioso e vários mercenários são enviados para sequestrar um trem por esse motivo, um deles é Park Chang-yi, o Mau, interpretado por Lee Byung-hun, maior colaborador de Jee-woon em sua filmografia. Vulgarmente conhecido por Cortadores de Dedos, Chang-yi lidera o ataque dos mercenários, enquanto em seu encalço está o caçador de recompensa Park Do-won (Jung Woo-sung), o Bom, contratado para interceptar o ataque e capturar o Cortador de Dedos. Em meio a um grande tumulto, em uma sequência de ação no trem, o mapa acaba com o Estranho, Yoon Tae-goo (Song Kang-ho), um enigmático e atrapalhado ladrão.

    A história começa a ter um crescimento progressivo, com que os acontecimentos se tornem grandiosos e que as coisas fujam do controle dos personagens, o que torna tudo mais interessante. Tae-goo proporciona momentos toscamente cômicos, com Kang-ho se sobressaindo em cena, principalmente na sua tentativa de interação com o sério Do-won, numa embaraçada colaboração da dupla, com o Bom em busca da recompensa de Chang-yi, em que o Mau tem uma obsessão esquisita no Estranho. 

    A trama, por mais simples, induz o espectador a querer saber o segredo final e quem ficará com o mapa, ficando nítida a progressão na história. Os personagens mesmo como caricaturas, dão o tom específico para cada cena, tornando algo bastante característico do cinema sul-coreano, entre flutuar entre gêneros, dando uma cara bastante específica ao faroeste, trazendo ao contexto histórico e geográfico do leste asiático. Song é totalmente cômico, Jung se mostra sempre bastante sério para passar um ar de justiça, já Lee adota a pose de vilão de faroeste, o olhar, os trejeitos, a compulsão. Essa caricatura dá mais urgência e grandiosidade, sendo exemplificado com os líderes do exército japonês falando sobre o que o mapa leva e o que pode proporcionar. A escala crescente que o filme ganha demonstra como Jee-woon fez um ótimo trabalho na direção, utilizando com excelência os espaços nas cenas de ação, tanto nos lugares fechados, como em campo aberto. As cenas de tiroteio e as várias perseguições são bastante cômicas de tão absurdas, ao mesmo tempo empolgantes. O trabalho da fotografia de Lee Mo-gae, caracteriza bastante a paisagem durante o decorrer do filme, com os cenários desérticos da região da Manchúria.

    Os Invencíveis, ao longo das suas 2h19min, demonstra como o trabalho do diretor soa bastante autoral, das suas aspirações e de como ele consegue trazer um gênero para o cinema coreano, que é referência na sua filmografia, sem perder a sua autenticidade. O final reflete bem esses pontos, a história, após um seguimento de reviravoltas, resulta num grande momento e levando a mais uma reviravolta com os três protagonistas, essa em especial, onde o cineasta encerra com uma nítida homenagem ao faroeste spaghetti.

    Texto de autoria de Wedson Correia.

  • Crítica | Resgate

    Crítica | Resgate

    Falar que a Netflix é uma empresa de sucesso é chover no molhado. Já tem alguns poucos anos que a gigante de streaming vem apresentando produções de extrema qualidade, seja no que diz respeito a filmes, seja no que diz respeito a seriados. Mas também, nem tudo são flores, já que, ainda assim, a quantidade de produções de qualidade duvidosa, supera facilmente as boas produções. Por exemplo, faltava à empresa uma produção de ação que fosse digna. E olha que não foi por falta de tentativa, mas foi difícil de acertar até Resgate ser lançado.

    Pra quem gosta das produções mais recentes da Marvel, Resgate guarda muitas relações com o UCM – Universo Cinemático Marvel, a começar pelo protagonista Chris Hemstorth, o Thor. O filme tem o roteiro de Joe Russo, um dos diretores do melhor filme da Marvel, Capitão América 2: O Soldado Invernal, além dos clássicos Vingadores: Guerra Infinita e Vingadores: Ultimato, sendo que temos a direção de Sam Hargrave, estreando em grande estilo nessa produção. Hargrave é o braço direito da Marvel Studios, sendo dublê, coordenador de dublês e diretor de segunda unidade de diversos filmes da casa. O filme ainda conta com uma participação de David Habour, que será o Guardião Vermelho no filme da Viúva Negra.

    O filme conta a história de Tyler Rake (Hemsworth), um mercenário que recebe uma importante tarefa: resgatar o jovem Ovi Mahajan (Rudhraksh Jaiswal), filho de Ovi Mahajan Senior (Pankaj Tripathi), nada mais nada menos que o maior traficante da Índia e que está preso. O mandante do sequestro é Amir Asif (Priyanshu Painyuli), o maior rival de Nahajan Senior e o maior traficante de Bangladesh. Vale destacar que antes de Ovi ser levado, ele estava sob os cuidados de Saju (Randeep Hooda), que decide ir atrás do menino em troca da segurança de sua família, agora ameaçada.

    Não demora muito para Resgate ter um jogo interessante de gato e rato, uma vez que temos a equipe de Tyler atrás do menino, enquanto o mercenário cuida da extração do jovem e paralelo a isso, podemos ver os capangas de Amir e Saju fazendo de tudo o que é possível para atrapalhar a vida do protagonista e é aí que podemos ver uma das cenas de ação mais sensacionais da história do cinema, em um plano sequência absurdo, que começa com uma perseguição a pé e combates violentos “mano a mano” pelas apertadas casas da região e que termina numa empolgante perseguição envolvendo carros, onde a câmera na mão, diversas vezes, entra e sai do carro com o máximo de destreza possível. Toda essa ousada sequência dura cerca de quinze minutos e mostra que o diretor não veio para brincar.

    Aliás, o filme tem ação do começo ao fim e pouco desacelera, mas o suficiente para estabelecer relações entre os personagens, principalmente na relação de Tyler com Ovi e de Amir com um outro jovem rapaz que decide entrar para o tráfico numa cena bem forte envolvendo crianças.

    Quanto ao roteiro de Joe Russo, cabe um detalhe: não tem nada de diferente de algo que o espectador já não tenha visto em filmes de sequestro e olha que Russo estava amparado pela história original, já que o filme é uma adaptação de uma graphic novel chamada Ciudad, de Ande Parks. Assim, o destaque fica mesmo totalmente voltado à ação que aqui, guarda semelhanças com duas ótimas franquias, como a de John Wick (coincidentemente uma franquia desenvolvida por coordenadores de cenas de ação) e Operação: Invasão.

    Com isso, a Netflix emplaca seu primeiro grande filme de ação e os números não mentem, já que a produção deve alcançar noventa milhões de views em seu primeiro mês, batendo outra promessa da empresa, mas que não emplacou, Esquadrão 6, o que faz com que Joe Russo, possivelmente, tenha ganhado sinal verde para a produção de uma continuação.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Crítica | O Poço

    Crítica | O Poço

    Franz Kafka dizia: Os cães de caça ainda brincam na propriedade, mas a caça não lhes escapa, mesmo que ela já corra pelos bosques.”  O escritor tcheco, talvez tenha sido o maior expoente literário do Século XX no que tange esmiuçar as relações do homem e o sistema no qual o próprio se encontra inserido. Em um de seus mais célebres contos intitulado Um Artista da Fome, Kafka imagina um artista que faz da fome sua arte. Quanto mais faminto fica diante dos expectadores que o assistem, mais chama atenção pra si, e isso se perpetrará no conto até as últimas consequências.  

    O Poço, mais novo filme em cartaz na Netflix, poderia seguramente se encontrar entrincheirado nesse universo Kafkiano.  Na obra em questão, somos situados em uma espécie de prisão, dotada de camadas, que uma vez por dia oferece aos carcereiros uma mesa  vasta de alimentos, lógico tudo isso carrega um propósito maior enquanto mensagem. Os blocos prisionais literalmente seguem o formato de um poço, sendo possível inclusive que os aprisionados consigam vislumbrar aqueles que se encontram acima de si e observar alguns situados mais abaixo ainda. É em meio essa situação que somos apresentados a  Goreng (Iván Massagué), personagem principal da trama, que ao que tudo indica optou passar por esse batismo de fogo por livre e espontânea vontade, mas ao se deparar com tal sistema, não concorda com a atual situação do “Poço” e suas condições e opta por se rebelar. Em determinado grau, Goreng se vê confrontado com a figura de Miharu (Alexandra Masangkay) uma enigmática mulher  que trafega de camada em camada prisional atrás de sua suposta criança, criança essa que por sua vez se encontra perdida em algum pavimento. Eis aí o estalo da insurgência que acompanharemos.  

    O filme tenta traçar nesse universo distópico , tudo aquilo pelo qual o mundo e os seres humanos têm de pior ao se verem confrontados em situações limite e degradantes, questões que vão do egoísmo à avareza, perpassando a selvageria até ensejar em momentos escatológicos. O grande problema é que à obra não respira enquanto linguagem cinematográfica, não sabe delimitar ou salientar ao certo os pontos que propõe e os problemas surgem aí. O filme por vezes é didático em excesso (subestimando o público) e omissivo quando deveria ser claro.  O tom se perde completamente, mesmo quando se pode vislumbrar um grande potencial no material em questão. O célebre diretor francês Robert Bresson em seu livro Notas de um Cinematógrifo salienta a seguinte questão sobre o ato de fazer Cinema: As Imagens, os sons tornam o real perceptível por um instante: ao traduzir o vento invisível através da água que ele esculpe passando. Infelizmente O Poço passa longe disso, não que tal proposição deva ser encarada como uma verdade única, porém, o filme é totalmente desprovido de sensibilidade no trato dos temas que propõe, e tal sensibilidade ao qual me refiro, não se dá meramente no campo  estético.  

    Tomo por exemplo elucidativo  um curta-metragem do diretor canadense Dennis Villeneuve intitulado  Próximo Piso, que dialoga com os mesmos temas, de uma forma totalmente diferente em termos cinematográficos, conseguindo em  meros 11 minutos adentrar de maneira bem mais feroz no âmago do debate que O Poço suscita. 

    Infelizmente,  ao fim da mais nova produção da Netflix, a impressão que fica entalada na garganta é de que a ideia do filme era bastante promissora, enquanto a execução por sua vez deixa muito a desejar. Ainda assim,   ressalto que o filme é válido enquanto experiência e seu caráter insurgente deve ser levado em consideração por quem se aventurar vê-lo, afinal, em um universo que clama dia a dia por empatia, o homem segue sendo o lobo do homem. 

    Texto de autoria de Tiago Lopes.

    https://www.youtube.com/watch?v=IKoURpr85pI

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  • Crítica | As Pontes de Madison (2)

    Crítica | As Pontes de Madison (2)

    Baseado em obra homônima de Robert James Waller, As Pontes de Madison é um dos grandes romances da história do cinema. Produzido (com a Amblin, produtora de Steven Spielberg e Kathleen Kennedy), dirigido e estrelado por Clint Eastwood, é um filme que destoa de toda a imagem que ele havia construído no cinema até ali: do brutamontes, durão e implacável. Clint encontra em Meryl Streep (vivendo um momento marcante em sua carreira, reconhecido pela academia) um par amoroso perfeito para discorrer sobre o quanto é complicado lidar com os sentimentos humanos, com as dores e incertezas trazidas pelo amor e o peso de cada escolha e suas renúncias.

    O filme se passa em decorrência de uma carta deixada por Francesca Johnson, uma italiana que vivia em função de sua família no interior do estado de Ohio, a seus dois filhos, Michael e Carolyn, como nota de seu falecimento. Francesca, que foi morar nos Estados Unidos ao conhecer Richard, seu marido, na segunda grande guerra e abdicou de sua vida para começar um casamento e construir uma vida conjugal. Nesta carta, ela registra seu último desejo e para ser atendida, descreve um caso amoroso que viveu com Robert Kincaid – um fotógrafo da revista National Geographic que passou por aquela região em Ohio enquanto seu marido e filhos visitavam uma feira em outro estado.

    Francesca e Robert, cada um dos dois, atravessam em suas vidas um momento em que se encontram em ruptura com seus sonhos e esperanças. Ela, numa cidade pequena, onde todas as pessoas se vigiam e precisa tomar conta das responsabilidades da casa, não se encontra mais consigo mesma. Está perdida dentro de si mesma e da vida pacata que leva ali. Já Robert, divorciado e muito bem resolvido com o trabalho, ficou tão fragilizado com esse encontro – e com a presença forte daquela mulher – que insiste, a todo custo em levar Francesca consigo para Washington, de onde ele veio. O tempo passou para o casal e eles abdicaram de todas as possibilidades que a vida lhes ofereceu em função – do casamento para ela – e do trabalho para ele. Resolver esse impasse, agora, que outras pessoas serão afetadas é uma situação impossível. E o sofrimento misturando com o afeto, profundo e singelo é transmitido brilhantemente por Eastwood trabalhando como diretor. Como conduz a trama, e como arma pequenas sutilezas que vão desde olhares até o movimento em quadro dos personagens que expõem como aqueles dois personagens se sentem e como eles vagam entre o carinho e o conflito impostos pela situação.

    Se em seus filmes mais antigos, Clint era mais conhecido por “falar” com a arma, neste, o diretor passa uma delicadeza poucas vezes vistas na história do cinema.Para tratar de um casal tão delicado,como maestro e na pele de Robert, ele precisa das palavras para conduzir cada impasse que está vivendo com Francesca.

    É difícil tratar de uma obra grandiosa assim de maneira sucinta, mas As Pontes de Madison, é, em suma, um filme sobre dois temas e tudo o que deriva de suas preposições: o tempo, em especial, o passado e a complexidade do que chamamos de“amor”. Os sonhos deixados para trás em função de um relacionamento, a dificuldade de fazer escolhas e lidar com suas consequências, como o passar do tempo enrijece as relações e as próprias pessoas. É um dito popular que o verdadeiro amor só acontece uma vez na vida, pena que não seja possível determinar o momento, afinal, a vida ainda é uma força maior que insiste em nos pressionar contra nossas vontades.

    Texto de autoria de Gabriel Caetano.

    https://www.youtube.com/watch?v=bn79t3d3UiQ

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  • Review | Vinland Saga – 1ª Temporada

    Review | Vinland Saga – 1ª Temporada

    Na virada do primeiro para o segundo milênio, os dinamarqueses guerreavam contra os ingleses pelas terras da Grã-Bretanha, durante a expansão viking. Baseado nos relatos históricos e nas personalidades que figuraram toda a guerra política e colonização, o mangaká Makoto Yukimura tirou sua licença poética para escrever Vinland Saga, uma grande aventura sobre os guerreiros nórdicos, misturando todo o misticismo envolvido com a cultura viking. Agora em 2019, o estúdio Wit (de Shingeki no Kyojin) ficou encarregado pela animação.

    O anime começa com Thors, comandante dos lendários Jomsvikings, tendo uma visão num campo florido com sua esposa Helga segurando sua filha Ylva, mudando de repente para uma batalha naval. Thors lidera os guerreiros de elite em nome de Dinamarca, junto ao bárbaro Thorkell, o Alto. A batalha destaca imediatamente o estilo de ação da animação, como movimentos de luta sobre-humanos e a ultra violência, onde Thors salta de um navio a outro de uma distância enorme e Thorkell derruba um mastro com seu machado ao mesmo tempo em que estraçalha diversos adversários. Ao final da batalha, Thors, após afundar no mar, aparece numa praia, desertando do exército.

    15 anos depois, a história se desloca para a Islândia, com Thors, Helga, Ylva e agora também Thorfinn, o pequeno protagonista e segundo filho de Thors. Na aldeia, o comerciante explorador Leif Ericson fala sobre seus contos, fantasiando os seus trajetos em busca de mercadorias para as crianças da vila como grandes aventuras, alimentando a imaginação de Thorfinn, que planeja um dia ser um guerreiro que irá navegar por todo o mar em busca de Vinland, o novo mundo de clima quente, que Leif diz ter descoberto e batizado, onde a grama cobre toda a terra e os frutos crescem nas árvores em abundância. As outras crianças, por conta da cultura nórdica e do que é passado pelos pais, o contestam e dizem que nada pode ultrapassar e que Leif não é um guerreiro e não há como ele ter todos esses méritos. O comerciante conta que o cocar que ele usa contando suas aventuras, feito de plumas coloridas, é um presente dado pelos nativos de Vinland, dado pelos povos originários da América do Norte, e que mesmo sem lutar, suas viagens o fazem um verdadeiro guerreiro.

    A questão de ser ou não um guerreiro é o dilema sobre a violência de Vinland Saga. Thors abandona sua liderança e vida de guerras para ter uma vida pacata, sem sangue, sem pecados, vivendo como fazendeiro, isso faz Ylva o questionar o motivo deles não ter um escravo, caso comum durante as colonizações, que seria mão-de-obra para os trabalhos pesados na ilha gelada que habitam. Thors explica que a família dele não irá fazer isso, causando grande estranheza à filha, sem entender toda a compaixão do pai por algo que ela e toda comunidade acham comum. Em certo momento, Thors prova a honra do seu novo estilo de vida ao salvar um escravo e oferecer grande parte da sua criação de ovelhas, mesmo com o homem estando à beira da morte, mostrando que o seu ideal de vida é um mundo sem pecados, sem escravos e sem sofrimento, com fartura para que ninguém mais passe fome, imaginando Vinland como um lugar para conseguir esse sonho.

    Dias depois, Thors é descoberto pelo seu antigo companheiro e novo líder dos Jomsvikings, Floki, e acaba sendo convocado para uma nova batalha. Thors convoca jovens da sua aldeia e parte com Leif, navegando para se juntar aos guerreiros de elite. Thorfinn acaba embarcando escondido para a viagem que mudaria todo o destino dele e do seu pai. O barco deles então é emboscado pelo excêntrico bando de Askeladd, um misterioso pirata que vive de saques e pagamentos por sua força de batalha. Tanto Thorfinn quanto Askeladd testemunham o valor de Thors, a verdadeira essência de um guerreiro, que num ato final, salva a vida dos seus encarregados ao sofrer a emboscada. Os sobreviventes embarcam de volta a Islândia, menos Thorfinn permanece com a tripulação inimiga e jura matar o pirata a qualquer custo, deixando tudo para trás.

    O terço inicial da obra é uma introdução da trama na visão por Thorfinn, que cresce em meio a toda desgraça das guerras, sobrevivendo ao caos saqueando, devastando vilas, tornando-se um assassino cruel e frio, tudo que seu pai decidiu abandonar e repudiar. Thorfinn vive no meio dos carniceiros que vivem dessa realidade, pilhando e saqueando junto a Askeladd, busca sempre desafiá-lo para duelos após suas missões, como sua recompensa em troca da sua incrível habilidade e pela busca por vingança. A cada duelo, Askeladd demonstra o que aprendeu na sua vida e do que viu de humano no pai do protagonista, colaborando na motivação do personagem.

    Mais de uma década após a emboscada de Askeladd, o pirata e seu bando resolvem prestar serviços ao Rei Sweyn da Dinamarca, nas disputas de terras entre os vikings e os ingleses. O centro político que move as peças da história inicia na metade da história, a partir do encontro do bando de Askeladd com Thorkell, agora do lado da Inglaterra. As apostas de cada personagem são exploradas quando começa a perseguição pelo príncipe Canute, filho do Rei Sweyn, um jovem tímido de característica delicada, que vira alvo de facções organizadas numa tentativa de derrubar o reinado da Dinamarca e conseguir poder.

    A narrativa segue em reviravoltas que são estopim para uma nova batalha, seja naval ou em terra, mas que continua sendo montada de forma empolgante e que leve ao um novo ponto na trama. O efeito de causa e consequência é nítido nas tramas, seja na discussão moral sobre o que é ser bom e mau e sobre pecado e barbárie, do motivo de haver massacres sem justificativa e de como a religião reprime os anseios no modo de viver das pessoas. A causa e consequência faz também que as lutas não sejam vazias e nem ocupem tempo de tela por nada.

    O traço limpo da caracterização gráfica combinando o 2D simulado em 3D, faz das batalhas de Vinland Saga algo dinâmico, sem poluição visual e sem cansaço, mesclando os conceitos de força e violência, resultando em lutas brutais no momento certo. O diretor Shuuhei Yubata repete o feito de Shingeki no Kyojin, agora na animação dos vikings, sabendo fazer a ação funcionar de acordo com desenrolar da toda trama, aqui a partir do trajetória do jogo político.

    As crenças dos personagens definem as suas motivações. Thorfinn idealiza a sua vingança em primeiro lugar, mas sonha com que Vinland um dia seja sua parada. Thorkell imagina-se indo para Valhalla, o paraíso viking, seguindo as divindades nórdicas, como um guerreiro deve agir na sua concepção, de que as batalhas são fundamentais, afirmando sobre ser sempre o mais forte, e até zomba do temor a Deus que diferem pagãos e cristãos. Askeladd coordena todo seu trajeto com uma astúcia e frieza imensas, fazendo de tudo para cumprir seu objetivo, idealizando a figura do herói que salvou seus ancestrais.

    Canute se destaca como a maior evolução de personagem, revertendo sua crença cristã, ensinada desde criança por seu protetor Ragnar e seu professor e padre Willibald, mostrando sua convicção de candidato a monarca e de como um governante deve se portar, deixando sua fragilidade. A sua metamorfose ocorre numa cena que explora todo o ensinamento do padre e sua concepção de amor, mesclando as sensações com o uso da fotografia e a ambientação das regiões frias britânicas.

    Thorfinn, Canute e Askeladd compõem um complicado, mas interessante trio principal. O protagonista odeia o seu líder pirata e ao mesmo tempo o admira, lhe colocando como alguém sem rumo, mas que no fundo procura uma resposta para algo além da retaliação. Canute interage com Thorfinn como um indivíduo oposto, alguém sensível, porém totalmente frio e convicto do seu objetivo final e encontra em Askeladd, a figura para ter como conselheiro. Askeladd antagoniza de um modo peculiar, algo que o torna cativante e crível, defendendo seus preceitos e sua origem. Todos seus companheiros de anos se questionam sobre o que Askeladd quer representar. Ele faz de Canute seu senhor em busca de proteger tudo que mais ama e se afeiçoa com a figura de Thorfinn, mostrando a sua condolência por Thors e sua essência como guerreiro.

    Os papéis de Thorfinn e Askeladd diferem da comum dualidade de bem e mal, fazendo com que o primeiro, que no decorrer da série e toda a sua construção de personagem pareça vazio, tem sua queda para uma projeção futura, e o segundo, após todo o mistério, finaliza a série num momento catártico. O último episodio, com o título sugestivo de “FIM DO PRÓLOGO”, fecha o arco introdutório de Vinland Saga em um trabalho de uma direção excelente. Tensão, sangue e sentimento juntos nos acontecimentos que encaminham Canute, Askeladd e Thorfinn para fins distintos, e move os personagens pelos seus anseios.

    Vinland Saga está disponível na Amazon Prime, totalizado em 24 episódios. Ao fim do episódio final, passagens com personagens desconhecidos em lugares diferentes são colocadas, projetando provavelmente uma continuação e também um pequeno teaser foi liberado, terminando com um Thorfinn diferente, com os escritos na tela “esta é a história de um verdadeiro guerreiro”. Nada confirmado ainda, mas essa odisseia nórdica promete muita coisa futuramente.

    Texto de autoria de Wedson Correia.

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  • Review | Arrow – 7ª Temporada

    Review | Arrow – 7ª Temporada

    Após uma ótima sexta temporada, o seriado do Arqueiro Verde tinha a dura missão de, ao mínimo, manter a qualidade de sua temporada anterior, o que era bem difícil. Se a sexta temporada do arqueiro esmeralda foi ovacionada pela ousadia apresentada, o sétimo ano continuou ousando ainda mais, mas sem aquele resultado totalmente satisfatório.

    Lembrando um pouco da temporada anterior, tivemos a equipe de Oliver Queen/Arqueiro Verde (Stephen Amell) quebrada ao meio, com o herói voltando à carreira solo ao lado de Felicity Smoak/Observadora (Emily Bett-Rickards), enquanto John Diggle/Espartano (David Ramsey) aceita um cargo na A.R.G.U.S, e o restante dos companheiros da equipe, Curtis Holt/Sr. Incrível (Echo Kellum), Dinah Drake/Canário Negro (Juliana Harkavy) e Rene Ramirez/Cão Raivoso (Rick Gonzalez), passaram a atuar juntos em um novo bunker. Após Ollie ser desmascarado, o herói faz um acordo com o FBI e acaba sendo preso ao final da temporada em troca da liberdade de seus ex-colegas. Para piorar a situação, o pior vilão que a série já teve, o Dragão, Ricardo Diaz (Kirk Acevedo), conseguiu escapar, deixando a expectativa alta para a sétima temporada.

    Como dito, a sétima temporada continuou ousando e fez uma manobra arriscada: além do elenco principal, tivemos então a escalação de um segundo elenco, responsável por outra linha temporal bastante conhecida na série. Porém, com o final dos já costumeiros flashbacks que, vale lembrar, foram extintos na temporada passada, agora temos flashforwards, que mostram um futuro nada animador para os personagens. Então, além da trama principal da linha do presente, tivemos outra trama de suma importância com esses flashfowards do futuro, além das já tradicionais subtramas.

    Com Oliver Queen na prisão e com a lei anti vigilante em vigor, Curtis passa a trabalhar no serviço de inteligência da A.R.G.U.S junto com Diggle; Dinah é promovida capitã de polícia de Star City e Rene, que já teve um passado obscuro, continua burlando a lei por livre e espontânea vontade, atuando como o Cão Raivoso. Já Laurel Lance (Katie Cassidy) segue como promotora em Star City. Enquanto isso, Felicity e William (Jack Moore) tentam viver uma vida normal, mas não tão normal assim, já que a Observadora desenvolveu uma obsessão por segurança. Ou seja, tramas paralelas demais para toda a equipe de produção tomar conta e ainda nem falamos a respeito das tramas principais.

    Podemos começar com a trama do futuro, onde um William já adulto, vivido por Ben Lewis consegue chegar em Lian Yu, em busca de uma pista. Lá encontra um velho Roy Harper/Arsenal vivendo em exílio com o ator Colton Haynes retornando ao papel depois de anos. A pista sugere que havia sido deixada por Felicity, que foi supostamente assassinada. Roy e William partem diretamente para uma Star City completamente acabada, suja e corrupta e lá passam a investigar o suposto sumiço de Felicity juntamente com as Canários Dinah Drake e Zoe Ramirez (Andrea Sixtos), a filha de Rene, que até então, era uma criança. Quanto a Rene, ele é o atual prefeito do antigo bairro Glades que agora está separado de Star City por enormes muros de contenção. Aqui cabe uma crítica: o canal CW envelhece muito mal seus personagens e tudo soa muito brega quando os vemos em tela. Logo eles descobrem um plano diabólico para Star City ser tirada de vez do mapa e a investigação os coloca com outros dois novos personagens: um deles nem é tão novo assim. Trata-se de Connor Hawke, o filho adotivo de John Diggle, vivido por Joseph David-Jones. Connor já apareceu no Arrowverse sendo o Arqueiro Verde do futuro no pastelão Legends of Tomorrow e a outra personagem é de suma importância para a história do seriado: Mia Smoak, a filha de Oliver e Felicity, vivida por Katherine McNamara. Assim, juntos, todos eles tem a missão de interromper a destruição da cidade.

    Já no presente, o melhor da temporada, sem dúvida foi o tempo que Oliver Queen ficou na prisão. Muito antes do UCDC – Universo Cinemático DC surgir, tinha-se a ideia de um filme solo do Arqueiro Verde, onde a premissa seria colocar Oliver dentro da mesma prisão onde estariam diversos vilões que o herói ajudou a prender. Certamente, com o projeto cancelado, essa ideia pôde ser aproveitada na série, com Oliver tendo que lidar com carcereiros que o odeiam além dos vilões Tigre de Bronze, Brick e Derek Sampson, com os atores Michael Jay-White, Vinnie Jones e o lutador Cody Runnels retornando aos seus papéis.

    Mas com o anúncio do cancelamento do seriado, Oliver Queen não poderia passar sua última temporada completa dentro da prisão, então, logo ao sair, temos o mega crossover do canal, que desta vez traz o episódio Elseworlds, uma espécie de prelúdio para a Crise Nas Infinitas Terras. Saiba tudo sobre o episódio aqui.

    Ao retornar, Oliver precisa lidar com uma misteriosa personagem, Emiko (Sea Shimooka) que, na verdade, é um fechamento de um ciclo para a série, que explica diversos acontecimentos ao longo destes sete anos e principalmente o porquê de Oliver ter sofrido o naufrágio do iate junto de seu pai, Robert, logo no primeiro episódio da série. Obviamente, as ações de Emiko acabam colocando a equipe de certa forma junta novamente, ainda mais por causa da revogação da lei, que permite que os heróis voltem a atuar, desta vez com suas identidades expostas. Contudo, a dinâmica imposta parece não funcionar muito e as coisas se tornam cada vez mais desinteressantes, à medida que os episódios passam e o desfecho até chega a ser interessante, mas nem tanto. De qualquer forma, naquela altura, o elenco já sabia do cancelamento do seriado e as cenas ali começam a ter uma pegada mais emocional, principalmente por parte de Stephen Amell que não esconde as lágrimas em cena.

    Infelizmente, Arrow já fez a sua curva para a reta final. A série deve terminar em seu oitavo episódio, que será um dos capítulos do crossover Crise Nas Infinitas Terras. Os fãs esperam que o Arqueiro Verde tenha um final tão grandioso quanto o próprio personagem em si.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Crítica | Contato Visceral

    Crítica | Contato Visceral

    Contato Visceral é mais uma das várias recentes produções da Netflix. Juntamente com outros filmes da gigante de streaming como Fratura, Eli, Campo do Medo e Cascavel, o filme é um terror psicológico, focado mais no suspense do que na parte gráfica de outras produções.

    Logo no início, na cidade de New Orleans, somos apresentados a seu protagonista, Will, vivido por Armie Hammer. O rapaz trabalha num bar local e parece não querer muito mais de sua vida fútil, a não ser trabalhar no bar e beber de graça junto de sua amiga Alicia (Zazie Beetz), por quem tem certa queda. Will namora Carrie (Dakota Johnson), mas parece que o relacionamento dos dois está próximo do fim. O bar é frequentado por pessoas bastante conhecidas por Will (algumas muito excêntricas) e sua vida começa a mudar quando um grupo de jovens menores de idade decide ir ao bar. Mesmo sabendo que o grupo é menor de idade, Will faz vista grossa e permite que o grupo beba no bar. Acontece que o grupo acaba se envolvendo em uma briga entre velhos frequentadores do local, sendo que um dos amigos de Will fica gravemente ferido. O grupo vai embora, mas acaba esquecendo um aparelho celular que fica com o Will. A partir daí, o filme abre espaço para o terror psicológico mencionado no início deste texto, uma vez que Will passa a receber sinistras mensagens pelo aparelho, colocando em risco sua vida e de todos que estão ao seu redor.

    Dirigido pelo jovem talento, o britânico Babak Anvari que foi contratado após o bom À Sombra do Medo, seu primeiro longa, o filme até tenta se espelhar em ótimos clássicos do cinema, como Bug ou em escritores, como H. P. Lovecraft. Fã de Cronenberg, o diretor tenta emular o clima retratado em A Mosca, adiciona uma “pitada” de David Lynch e um “aconchego” de Roman Polanski, como ele mesmo diz. Mas por algum motivo, ele falha. Anvari também assina o roteiro do filme, que na verdade é uma adaptação do livro The Visible Filth, escrito por Nathan Ballingrud e o fato dele querer ser um cineasta que dirige e assina a história, foi uma decisão bastante ousada logo em sua primeira experiência em Hollywood. O elenco tem um certo peso, mas todos eles soam apáticos em tela. Johnson parece que está ali somente porque pagaram suas despesas de viagem e alimentação, assim como a personagem de Beetz, que é boa, mas falta consistência no roteiro para aprofundar ainda mais sua trama. Aquele que foi melhor explorado foi Will, sendo que, Hammer sabe muito bem fazer esse tipo de papel. Contudo, como dito, o filme poderia explorar muito mais os arcos de seus coadjuvantes, mas o tempo de fita (pouco mais de uma hora e meia) impede esse desenvolvimento. Então podemos dizer que talvez tenha faltado o dedo de Anvari para extrair um pouco mais do seu elenco, assim como um roteirista mais gabaritado e obviamente, pelo menos quarenta minutos a mais de filme.

    Ainda assim, o que salva é a atuação de Hammer, aliada à algumas poucas situações que envolvem o grupo de amigos, o bar, Carrie e Alicia. As partes de suspense são realmente bem feitas e é possível perceber facilmente a transformação de Will no transcorrer da fita, o que é de fato ponto positivo. De qualquer forma, se você é fã desse gênero de filme, vale a pena conferir.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

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  • Crítica | Dois Papas

    Crítica | Dois Papas

    Podemos dizer que a quase década que perdurou do ano de 2005 até 2013 foi bastante agitada para a Igreja Católica. Com o falecimento de Karol Wojtyla, mais conhecido como João Paulo II, um dos maiores papas da história, deu-se início ao conclave, que consistia na busca por um novo papa. O conclave é como se fosse uma eleição, porém, ultrassecreta, onde os cardeais se reúnem para eleger um novo líder de Roma, do Vaticano e consequentemente, da Igreja Católica. João Paulo II foi um papa extremamente carismático, sendo que morte e a consequente escolha de um novo pontífice foram recebidas pelo mundo com muita tristeza e ansiedade. Foi então que após quatro fumaças pretas, os cardeais escolheram o alemão Joseph Ratzinger como novo papa, que adotou o nome de Bento XVI. O papado de Bento XVI foi muito difícil. Logo no início, as acusações de que ele havia sido um soldado durante o regime de Adolf Hitler começaram a pipocar pelo globo. Mas, obviamente, a mensagem compartilhada por milhares de pessoas eram recheadas de maldade e principalmente falta de um mínimo de conhecimento, além disso, o Vaticano foi exposto a uma série de sérios escândalos que envolviam corrupção e pedofilia, o chamado Vatileaks, onde o secretário do próprio papa vazou as informações. É quase certo que os escândalos foram responsáveis pela renúncia de Bento XVI em 2013, um fato inédito na Igreja. Assim, um novo conclave foi realizado e o argentino Jorge Bergoglio que passou a adotar o nome de Francisco, foi eleito o novo papa.

    Dois Papas busca retratar exatamente esse período tão turbulento tratado como um claro pano de fundo, focando, mais precisamente, na relação entre Bento XVI e Francisco (ainda como cardeal Jorge Bergoglio), dois seres extremamente cultos, estudiosos e conhecedores de suas doutrinas, mas com uma única diferença: cada um tinha sua própria maneira de interpretar a Bíblia e os ensinamentos de Jesus Cristo. O que começou com embates intelectuais entre os dois seres, terminou com uma bonita relação de amizade, o que não é escondido de ninguém.

    Dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles, que tem no currículo filmes como Cidade de Deus, O Jardineiro Fiel e Ensaio Sobre a Cegueira, e escrito por Anthony McCarten, que emendou a trinca A Teoria de Tudo, O Destino de Uma Nação e Bohemian Rhapsody, a produção da Netflix é bastante leve, focada principalmente nos diálogos e na humanidade dos dois personagens, ainda que Bento XVI (Anthony Hopkins) seja um pouco mais seco e Bergoglio (Jonathan Pryce) mais bem humorado, piadista e até sarcástico. Apesar de o filme retratar a relação dos dois, fica mais que evidente, que, na verdade, o foco é no argentino, já que podemos observar por meios de flashbacks toda sua trajetória, desde o curioso (e bastante bacana) momento decisivo que fez com que ele decidisse optar por entrar já adulto no seminário, bem como um momento onde muitos enxergam como uma mancha em sua história, durante o período da ditadura militar argentina. Acredita-se que Bergoglio se aliou ao ditador Jorge Rafael Videla, e muitos o culpam pelo sequestro, tortura e morte de algumas pessoas. Obviamente, esse trecho da fita retrata o ponto de vista do futuro pontífice sobre o fato. Falando em fatos, o filme é baseado em fatos reais. Portanto, nem tudo que vimos em tela pode ter realmente acontecido. Obviamente, a simplicidade do cardeal é algo muito bem retratado, já que ele compra suas passagens com o próprio dinheiro, não aceita que carreguem sua bagagem, além de usar uma pasta e um par de sapatos velhos.

    A direção de Meirelles é característica. Com seu braço direito, o diretor de fotografia César Charlone, a dupla usa e abusa de técnicas que hoje são suas marcas registradas: muita câmera na mão e o chamado ângulo holandês, onde a câmera é levemente inclinada deixando a imagem “torta”. Mas o destaque fica por conta da interpretação da dupla de protagonistas. Anthony Hopkins é um estudante metódico do texto. Segundo Meirelles, o ator pediu que o roteiro fosse entregue cerca de cinco meses antes do início das filmagens e pediu que o texto não fosse alterado, o que é muito difícil. Já Jonathan Pryce, buscou observar mais o jeito de Bergoglio, estudando seu jeito de falar, seus movimentos, como gestos, postura, modo de andar e o resultado disso tudo é uma aula de interpretação dos dois atores que são mundialmente respeitados.

    Como dito, Dois Papas é um filme bem leve e bastante equilibrado no quesito drama/humor e traz uma trilha sonora bastante ousada, porém, diferente do que se espera de um filme dessa natureza. Obrigatório para os católicos, o filme também agradará os amantes de bastidores, já que procura mostrar aquilo que, de certa forma, não chega sempre ao conhecimento do grande público. Ainda que seja uma obra de ficção baseada em fatos reais, é algo que vale a pena.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

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  • Review | Flash – 5ª Temporada

    Review | Flash – 5ª Temporada

    The Flash sempre foi uma promessa dentro do Canal CW. Seguindo os passos de Arrow, que é o atual carro chefe da emissora, principalmente no que diz respeito ao universo compartilhado, a série do velocista escarlate terá a dura missão de substituir o seriado do Arqueiro Verde quando seu final chegar. Se for por conta dos heróis em si, já sabemos muito bem que o Flash é um dos mais importantes heróis já criados por conta de sua habilidade única e por ótimas histórias vindas dos quadrinhos, mas quando se trata da qualidade dos seriados do universo da CW, a sua liderança é obrigatória, uma vez que Supergirl claramente demonstra ficar em sua sombra e nem vamos falar a respeito daquela “brincadeira” chamada Legends of Tomorrow, que não se leva nem um pouco a sério. Mas, como dito, Flash tem a dura missão de se manter no topo, já que sua qualidade vem caindo a cada temporada.

    Após derrotar o Pensador em sua quarta temporada, Barry Allen (Grant Gustin) ficou a estranha sensação de que foi ajudado a destruir Clifford DeVoe e que sem a ajuda, o vilão não teria sido derrotado. É aí que temos a revelação de que, de fato, Barry contou com um empurrãozinho que ninguém menos que Nora West-Allen (Jessica Parker Kennedy), a filha de Barry e Iris (Candice Patton), já adulta e que veio do futuro. Nora também é velocista e em seu tempo, ela é conhecida como a heroína XS, que vem da palavra excesso. Algum tempo depois, descobrimos o motivo desse nome. Apesar do choque e da felicidade dessa reunião familiar, Barry fica extremamente preocupado com o fato de Nora já estar há tanto tempo no ano de 2018, uma vez que ele a reconheceu nas diversas vezes que a moça cruzou seu caminho na última temporada. Por causa da viagem temporal de Nora e pelo tempo em que ela se encontra em 2018, a possibilidade dela ter esculhambado a linha do tempo é enorme e Barry só se preocupa em mandar a menina de volta para o ano de 2049.

    Meta-humanos começaram a ser cruelmente assassinados em Central City e a equipe começa a desconfiar de que há um caçador de metas na cidade. Infelizmente, todas as buscas que Cisco Ramon (Carlos Valdes) e Caitlin Snow (Danielle Panabaker) fazem usando os instrumentos e equipamentos do S.T.A.R. Labs, bem como a busca feita por Barry, Joe (Jesse L. Martin) e Ralph Dibny (Hartley Sawyer) no campo, são em vão, deixando a equipe, pela primeira vez de mãos atadas. Paralelo a isso, já podemos perceber que o desaparecimento do Flash durante uma crise mencionada numa manchete de jornal do futuro logo no primeiro episódio da primeira temporada é mais urgente do que nunca, já que é revelado que Nora nunca chegou a conhecer seu pai, Barry, por causa de seu desaparecimento na mencionada crise ocorrida no ano de 2024. Além disso, todas as coisas que Nora aprendeu sobre o Flash se deram por causa do famoso Museu do Flash, que é bastante retratado nos quadrinhos e que no seriado aparece pela primeira vez em flashfowards durante a temporada. Com o passar dos episódios, vemos que após o desaparecimento do Flash, a relação entre Iris e Nora fica bastante desgastada e é por isso que a jovem prefere ficar muito mais ao lado do pai, do que da mãe.

    Por motivos simplesmente de roteiro, é decidido que Nora ficará em 2018 para aproveitar seu pai ao máximo e para ajudar a equipe a pegar o assassino de meta-humanos que a esta altura já está estabilizado com o nome de Cicada, vivido pelo ator Chris Klein, porém, sem deixar pista alguma sobre sua identidade e paradeiro. Nora traz algumas informações importantes do futuro e revela que o Flash nunca consegue prender Cicada, o que aumenta ainda mais o desafio da equipe em solucionar essa questão. É quando resolvem recrutar o maior detetive do multiverso, Sherloque Wells (Tom Cavanagh), que já prendeu mais de 30 Cicadas em infinitas terras. Sherloque Wells, diferentemente do famoso Sherlock Holmes, é francês e obviamente é um dos milhões de Wells espalhados pelo multiverso e que possuem uma mente brilhante. Sherloque facilmente descobre a identidade do assassino (já que todos possuem a mesma identidade), contudo, a viagem temporal promovida por Nora, alterou a linha do tempo, alterando, também, a identidade de Cicada, dificultando as ações da equipe.

    A primeira parte da temporada é muito legal. A dinâmica imposta pelos produtores com o fato de Nora vir do futuro e contar informações interessantes sobre algumas coisas e o fato de Sherloque ser um viajante do multiverso, deixam as coisas muito divertidas, porém perigosíssimas, já que o detetive duvida muito das ações da velocista, sendo que, desconfiado, passa a investigar Nora às escondidas. Em contrapartida, Nora viaja constantemente no tempo em 2049 para fazer visitas ao seu mentor, o maior inimigo de Flash, o Flash Reverso/Eobard Thawne, vivido também por Tom Cavanagh. O problema é que a dinâmica da equipe com Cicada não funciona muito bem, sem contar que Iris se torna uma personagem insuportável, obviamente por causa da sua relação com a filha e o fato de que ela em breve, perderá seu marido.

    Como já é costume, logo na primeira metade da temporada tivemos o ótimo episódio Elseworlds, que fez parte do já tradicional mega crossover do canal CW, que juntou, novamente, o elenco de FlashSupergirlArrow e Legends of Tomorrow. Confira todos os detalhes desse encontro clicando aqui.

    As coisas melhoram um pouco. Primeiro porque temos episódios realmente bons e extremamente importantes para o seriado, como a criação de um soro capaz de curar meta-humanos, fazendo com que Cisco, que desenvolveu o antídoto, comece a duvidar sobre sua continuidade como Vibro. Segundo porque muito do passado de Caitlin Snow/Nevasca é mostrado e terceiro porque temos dois episódios com viagens no tempo que são sensacionais, sendo que, em um deles, vemos algo muito parecido com o que ocorre em Vingadores: Ultimato, onde o Flash parte para o passado visitando parte de episódios das temporadas anteriores. E aqui cabe uma nota: como Zoom (Teddy Sears) é assustador! Além disso, um novo e misterioso Cicada chega do futuro, mais destruidor que o primeiro, dificultando ainda mais aquilo que já era difícil.

    À medida que os episódios vão passando, podemos perceber o que a dinâmica dos personagens aliados e os vilões vão melhorando, enquanto a relação entre Nora e o restante do elenco vai entrando em colapso, principalmente quando Sherloque a desmascara e percebemos as reais intenções do Flash Reverso. A jovem XS não é má, mas ela é impulsiva, agindo em excesso (o que justifica seu nome). O legal é que Thawne ensina Nora da mesma forma que ensinou Barry, deixando esse déjà vu com um sabor mais especial. O Flash Reverso é um ótimo vilão, mesmo dentro de uma cela por todo o tempo. E se uma coisa que ele sabe fazer, além de manipular, é esperar, já que, ironicamente, ao contrário de Barry, o oposto do velocista escarlate sabe esperar e muito.

    A boa temporada fez com que Flash ganhasse o respiro que precisava. Afinal, após a triste notícia do cancelamento de Arrow, a série do velocista deverá assumir como a líder do Arrowverse, já que temos engatilhados dois novos shows, sendo um focado na Batwoman e posteriormente, um focado numa equipe de canários, provavelmente lideradas por Dinah Drake e Laurel Lance do seriado do arqueiro esmeralda.

    Aliás, a crise é iminente. As viagens recorrentes no tempo de Nora, que transitou diversas vezes entre os anos de 2018 e 2049, adiantaram em muito a data da manchete do desaparecimento do Flash. Assim, a Crise Nas Infinitas Terras, acontecerá já em 2019 e mudará para sempre o universo dos seriados, cujas novas temporadas estão sendo aguardadíssimas.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

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  • Review | The Flash – 4ª Temporada

    Review | The Flash – 4ª Temporada

    The Flash surgiu como um seriado promissor no Canal CW, após as ótimas primeira e segunda temporadas, a produção teve uma baixa na qualidade, entregando uma terceira temporada bastante regular. Contudo, é inegável que o Flash é um dos principais e mais poderosos heróis da DC Comics, além de ter um papel bastante fundamental e que interfere diretamente em todas as outras séries do canal que fazem parte do chamado “Arrowverse”.

    Ao derrotar Savitar na temporada anterior, deixando a Força de Aceleração completamente desestabilizada, o que faz com que Barry Allen (Grant Gustin) precise abandonar sua Terra, o team Flash, juntamente com Iris (Candice Patton) e Joe (Jesse L. Martin) unem forças para trazer Barry de volta. O plano funciona, mas Barry volta à Terra completamente estranho, como se ele não pertencesse a aquele local. Porém, a questão é rapidamente resolvida e já damos início à premissa principal desta temporada. A produção do seriado é expert em causar aos fãs anticlímax por resolverem rápido demais as questões deixadas em temporadas anteriores. Foi assim com relação à adaptação de Ponto de Ignição, cuja resolução se deu em apenas um episódio e foi assim com a questão da Força de Aceleração.

    Novos meta-humanos começam a aparecer em Central City e a equipe logo descobre que todos eles estavam dentro de um ônibus que foi atingido exatamente na mesma hora em que Barry Allen é resgatado da Força de Aceleração. Barry, obviamente, se sente responsável e somos apresentados a Ralph Dibny (Hartley Sawyer), um dos integrantes do ônibus. Dibny é um ótimo personagem. De início, sabemos que ele era um ex-policial em Central City e que após sua demissão, se tornou detetive particular. Acontece que ele é um cidadão asqueroso, especialista em deixar as pessoas desconfortáveis com suas piadas nojentas, que quase em sua maioria tem a ver com sexo, gases e coisas do tipo. Resumindo, o cara é o tio do pavê, mas possui o poder de se esticar. Acontece que Ralph Dibny, apesar de sua personalidade esquisita é um homem sozinho e não demora muito para começar a integrar a equipe de Barry como o Homem-Elástico.

    Com o sumiço dos metas que estavam dentro do ônibus, Barry (que é policial em Central City) e Joe passam a investigar o caso. Paralelamente a isso, Cisco Ramon/Vibro (Carlos Valdes), Caitlin Snow/Nevasca (Danielle Panabaker), Iris West e Harry Wells (Tom Cavanagh), usam de toda a tecnologia do S.T.A.R. Labs para chegar onde a polícia de Central City não consegue. Vale destacar que o Wells que ajuda a equipe nesta temporada é o Wells da Terra 2 e que já nos visitou na segunda temporada do seriado. Harry, embora tenha uma mente brilhante, assim como todos os Wells, é impaciente e bastante grosseiro e não se dá muito bem com Cisco.

    Com a investigação que se avança, a primeira parte da temporada agrada aos olhos de quem assiste e é focada no fanatismo de Barry pelo professor Clifford DeVoe (Neil Sandilands), que está por trás dos desaparecimento dos metas que estavam no ônibus. Acontece que os álibis de DeVoe o isentam de qualquer tipo de acusação, principalmente pelo professor ser paralítico, o que, de certa forma, o impossibilitaria de cometer tais crimes. Mas Barry desacata até as ordens do capitão da polícia. Suas ações levam a encontrar o corpo de DeVoe e o herói acaba preso.

    Com a prisão de Barry, a equipe precisa lidar sozinha com os crimes na cidade, mas as coisas acabam não dando muito certo e Vibro, Nevasca e Homem-Elástico parecem não dar conta das questões que envolvem à segurança da cidade, principalmente com a vilã Amunet Black (Katee Sackhoff) ganhando força na cidade e atrapalhando os planos da equipe. Vale destacar que nos quadrinhos, a vilã é conhecida como Forja, mas esse nome, nunca foi usado no seriado.

    Como já é costume, logo na primeira metade da temporada tivemos o episódio Crise na Terra X, que fez parte do já tradicional mega crossover do canal CW, que juntou, novamente, o elenco de FlashSupergirlArrow e Legends of Tomorrow. Confira todos os detalhes desse encontro clicando aqui.

    A temporada passa a perder muita força quando Barry consegue sair da prisão e DeVoe passa a mudar sua forma física. O vilão, devidamente estabilizado como o Pensador, passa a absorver os poderes dos metas que sequestra com o objetivo de deixá-lo indefectível contra o velocista escarlate e sua equipe e também para dar seguimento ao seu maligno plano, e isso faz com que ele sempre esteja passos à frente da equipe. O problema é que os produtores optaram por não fazer uma linha contínua com a história principal, sempre interrompendo o ritmo para colocar episódios que, as vezes, não tem nada a ver com a trama principal, dando um pouco mais de atenção aos episódios conhecidos como fillers, indo de maneira contrária a que Arrow fez em sua sexta temporada. Assim, a temporada seguiu sem graça até o seu desfecho onde coisas interessantíssimas aconteceram nos episódios finais.

    Apesar dos últimos episódios terem sido bons, o que chamou a atenção não foi exatamente o desfecho da derrota Pensador, mas sim, o que aconteceu com a equipe e os sacrifícios que ela precisou fazer para começar a trilhar esse caminho de vitória. Como sempre digo, Tom Cavanagh é o melhor ator do elenco, seja como Eobard Thawne, seja como Harry Wells, ou H.R. Wells. A relação de Harry e Cisco evoluiu muito nessa temporada e Harry se tornou mais humano, mesmo abrindo mão de toda sua inteligência ao tentar replicar o dispositivo que multiplicou a inteligência de DeVoe. Ver Harry tentando solucionar questões e a cada dia estar menos inteligente e útil para a equipe foi algo bem doído de se ver. Méritos a Cavanagh que sempre dá show. Outro detalhe que chamou a atenção na temporada foi as participações esporádicas de uma jovem personagem, ainda sem nome, mas que, acredita-se que terá um papel fundamental na próxima temporada.

    Flash, talvez, tenha nos mostrado sua pior produção até então. Sua quinta temporada é aguardada com ansiedade, por causa da promessa de termos uma viajante do futuro que vai interferir diretamente na vida de Barry e Iris, mudando suas vidas para sempre.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

    https://www.youtube.com/watch?v=Rb6PycazVyA

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  • Crítica | Star Wars – Episódio IX: A Ascensão Skywalker

    Crítica | Star Wars – Episódio IX: A Ascensão Skywalker

    Não é de hoje que vinha sendo afirmado que Star Wars: A Ascensão Skywalker seria o último filme da saga da família Skywalker iniciada lá em 1977 com Uma Nova Esperança. Após uma bem sucedida trilogia marcada também por O Império Contra-Ataca e O Retorno de Jedi, anos mais tarde, o criador da saga, George Lucas resolveu responder as questões e os por quês de seus filmes anteriores serem os episódios IV, V e VI, numa nova e contestadíssima trilogia, ao final dos anos 90, onde nos foi mostrado o nascimento do Império e de seu mais importante membro, Darth Vader. Os resultados dos episódios I, II e III não foi nada satisfatório. Mas os fãs sempre tinham algumas perguntas em mente: o que aconteceu após a derrota do Império? O que aconteceu com Luke Skywalker, Leia Organa e Han Solo? Essas perguntas foram respondidas por meios de livros autorizados por Lucas, mas nunca chegamos a ver nada na tela do cinema. E essa era a vontade de muitos, porém, não era a vontade do cineasta, que ao deixar essa enorme marca na história do cinema, praticamente parou de produzir e criar, se concentrando somente em seu próprio império, a Lucasfilm e a Industrial Light & Magic, além de empresas menores, todas elas praticamente criadas para Star Wars, pois na época, não havia quem fizesse o que estava arquitetado na mente do diretor. Foi então que em 2012, uma bomba foi anunciada: A Disney comprou a Lucasfilm e, junto do anúncio, trouxe consigo o renascimento da franquia com uma nova trilogia com o episódio VII já programado para 2015 e mais, com o aclamado diretor J.J. Abrams na cadeira de direção e o aguardadíssimo retorno de Mark Hamill, Carrie Fisher e Harrison Ford. Muita coisa aconteceu desde o anúncio até aqui. Prazos curtíssimos, roteiros não aprovados, troca do time de roteiristas e troca de diretores. Após um correto filme (mas que deixou a desejar em alguns pontos), como foi O Despertar da Força, o oitavo capítulo, Os Últimos Jedi dividiu os fãs. Rian Johnson ousou muito trazendo uma visão bem peculiar sobre aquele universo e coube a J. J. Abrams retornar à direção com a clara missão de tentar “salvar” a franquia, buscando trazer  para o lado da luz aqueles fãs que ficaram extremamente descontentes com o filme anterior. É esse o propósito de A Ascensão Skywalker.

    Ao término de Os Últimos Jedi, podemos perceber que a Primeira Ordem dizimou quase que de uma vez por todas a Resistência. Não se sabe exatamente quanto tempo e passou da Batalha de Crait para o início do filme, mas a película já se inicia com um sanguinário Kylo Ren (Adam Driver) indo em busca de uma misteriosa e horripilante pista, enquanto Poe Dameron (Oscar Isaac) e Finn (John Boyega) estão numa perigosa missão para conseguir coletar informações importantíssimas vazadas por um espião infiltrado na Primeira Ordem. Por pouco a missão quase dá errado e Rey (Daisy Ridley) é duramente criticada por Poe, já que ela preferiu ficar em terra em treinamento Jedi sob os olhos da General Leia (Carrie Fisher). Rey está afobada, com sérios problemas de foco, o que interfere diretamente em seu treinamento e no seu julgamento por todo o transcorrer da fita, sendo que as informações coletadas são profundamente aterrorizantes, pois mostram um plano para um retorno triunfal do Império e a destruição de toda a galáxia.

    O Despertar da Força e Os Últimos Jedi tiveram tempo suficiente para trabalhar o desenvolvimento do trio principal e isso não acontece no novo episódio da saga, uma vez que o filme já começa frenético e urgente, sem tempo para que o expectador tenha uma pausa para respirar, até mesmo porque, com o perdão do trocadilho, os momentos de respiro são de tirar o fôlego. A propósito, algumas das teorias apresentadas são verdadeiras, contudo, acontecem de uma maneira diferente que aquele que assiste espera, deixando A Ascensão Skywalker com aquela impressão de ser um filme que busca o sorriso (e o choro) a cada momento.

    O filme é bem diferente de seus antecessores e muito mais em relação ao anterior, principalmente no que diz respeito ao tom e à fotografia. “Skywalker” é um filme bem mais colorido e leve, com vários momentos de humor e, curiosamente, equilibra bem com o contraste da violência, já que, talvez, seja o filme mais violento da franquia. Como dito no início deste texto, Os Últimos Jedi se desviou muito do “caminho” que a franquia costuma percorrer e aqui nos é mostrado as claras intenções de corrigir o curso e muitas vezes chega a soar forçado, sendo que em outras, parece que o filme é um gigante boneco de vodu de Rian Johnson, onde ele é alfinetado vez ou outra. Mas é importante deixar claro que não estraga em momento algum a experiência, e o sentimento, sinceramente, é de sorrir de maneira sádica ao experienciar certas situações lá apresentadas. Importante destacar que Abrams busca corrigir até seus próprios erros cometidos em O Despertar da Força.

    É interessante como J. J. Abrams e Chris Terrio, ao escreverem o filme, se preocuparam em fazer uma história em que o quarteto principal (Rey, Ren, Finn e Poe) seja o destaque. Se o fã tomar a consciência de que o filme é deles e não de Han, Luke e Leia, as coisas fluem com muito mais leveza. Tanto é verdade que, embora tardiamente, se trata da primeira aventura onde Rey, Finn e Poe aparecem em tela ao mesmo tempo, já que Rey só havia conhecido Poe ao final do filme anterior e junto deles estão novos personagens como Zorii Bliss, vivida por Keri Russel e Jannah, vivida por Naomie Ackie. Os droides que ficaram bastante sumidos tiveram participações significativas, principalmente quando se trata de C-3PO, brilhantemente vivido por Anthony Daniels, o único a gravar todos os filmes. Podemos sentir que A Ascensão Skywalker passa a ter novamente aquele aspecto familiar de amigos que se unem na batalha do bem contra o mal, algo que ficou bem definido e muito elogiado na trilogia original. O resgate desse sentimento é extremamente satisfatório.

    É inegável que o filme ainda divide opiniões, principalmente com relação à ameaça do Imperador Palpatine (Ian McDiarmid), em sua presença real e assustadora e os rumos tomados pelos personagens, principalmente o caminho de Rey e Kylo Ren, cuja química estabelecida no filme anterior continua sendo bastante explorada, mas de uma maneira que pode fazer com que o fã mais hardcore não aprecie, mas a questão é que o filme é desenvolvido em terreno seguro, sendo totalmente burocrático e em algumas vezes se espelhando em Vingadores: Ultimato.

    Diversos tipos de emoções definem Star Wars: A Ascensão Skywalker. Um filme que não só fecha a saga da família Skywalker, mas coloca um ponto final, fechando um capítulo importantíssimo na história do cinema e na história da cultura pop mundial. Obviamente a Disney tem planos ambiciosos para a franquia, como o já bem sucedido The Mandalorian, além de projetos futuros como a série de Obi-Wan Kenobi, que será protagonizada por Ewan McGregor, além de novas trilogias de longas metragens que devem focar em épocas como a da Velha República. Star Wars cresceu tanto que quase foi vítima de seu próprio crescimento e a nova trilogia, mesmo dentro de suas próprias limitações, nos permite agradecer e dizer “obrigado” por tudo isso ter existido.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

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  • O que esperar de Star Wars: A Ascensão Skywalker

    O que esperar de Star Wars: A Ascensão Skywalker

    Queridos amigos e fãs de todo o mundo, a espera acabou. Nosso país terá o privilégio de poder assistir Star Wars: A Ascenção Skywalker. Chegando por aqui em 19 de dezembro desta semana, o nono capítulo da maior franquia da história do cinema chegará ao seu fim depois de muita ação, batalhas espaciais, reviravoltas e também muitos pontos controvertidos, e nem estou falando da trilogia prequel e sim do penúltimo capítulo da saga, o polêmico Os Últimos Jedi, que dividiu os fãs ao meio, deixando muita gente desacreditada quanto à conclusão da saga. Mas sempre temos aqueles otimistas que confiam cegamente que o diretor J.J. Abrams possa dar um final digno à uma história criada por George Lucas, lá em 1977.

    De maneira estranha, a expectativa para o Episódio IX é altíssima, contudo, os fãs da franquia já sabem que existe a possibilidade do final não ser como todo mundo espera, como por exemplo como ocorreu e Vingadores: Ultimato que, apesar de duas baixas pesadas, foi algo muito mais que bonito ou épico e sim, justo.

    Falaremos disso mais para frente, depois que o filme for digerido pela maioria das pessoas, mas esse que vos escreve acredita que O Despertar da Força já trilhou um caminho que não deveria trilhar, mas uma vez que esse caminho começou a ser percorrido, não havia como voltar atrás, não com o que Rian Johnson fez em Os Últimos Jedi. O cineasta optou por trazer sua própria visão para a história de Luke Skywalker, recebendo críticas de Mark Hamill (que sempre que tem a oportunidade fala a respeito) e mais recentemente do ator John Boyega, responsável por dar vida a Finn. Assim, sobrou para J.J Abrams dar um final digno a história.

    Nós do Vortex optamos por não nos inteirar com relação às teorias e a história do filme, mas, de qualquer forma, alguma das teorias trazidas aqui por nosso time de redatores podem não fugir do óbvio. Então vamos a elas.

    A HISTÓRIA

    Acredita-se que o começo de A Ascenção Skywalker será uma espécie da caça ao tesouro, onde Rey (Daisy Ridley) e Kylo Ren (Adam Driver) estarão em busca de algo que poderá mudar a história da galáxia. Ren deverá ir atrás deste artefato para ter poder absoluto, enquanto a jovem Jedi (ou aprendiz) tentará impedir que o artefato caia nas mãos erradas.

    Vale destacar que esta é a primeira empreitada que Rey, Finn e Poe (Oscar Isaac) estão juntos, já que até agora, o trio principal nunca foi visto juntos numa aventura.

    Essa corrida contra o tempo, colocam os dróides com tempo suficiente em tela e ainda traz novos personagens como Zorii Bliss (Keri Russel) e Jannah, vivida por Naomi Ackie e o retorno de Billy Dee Williams como o homem mais charmoso da galáxia, Lando Calrissian, cuja participação se tornou obrigatória após a morte de Carrie Fischer e da união de Luke Skywalker à Força.

    Por algum motivo que ainda desconhecemos, teremos o aguardado retorno do Imperador Palpatine (Ian McDiarmid), que voltará em grade estilo, liderando uma massiva armada de cruzadores imperiais, com um exército de dar inveja a qualquer um. Com isso, é pouco provável que às antigas naves que aparecem nos trailers sejam descobertas e usadas pelos Rebeldes, como antes se acreditava. Ainda não se sabe se Palpatine estará independente, buscando retomar o controle da galáxia, inclusive acabando com a Primeira Ordem, ou se eles serão aliados.

    Porém, são as atitudes de Palpatine que devem fazer com que Kylo Ren siga os passos de seu avô e retorne para o Lado da Luz, primeiro para salvar Rey e segundo para destruir o maléfico lorde Sith de uma vez por todas. Inclusive, existe a possibilidade deste filme ser mais sobre Kylo Ren do que sobre Rey, cuja jornada, definitivamente será amparada por Luke Skywalker, como fantasma da força.

    RESPOSTAS

    Star Wars: A Ascensão Skywalker deve trazer muitas respostas e sem dúvida, a que mais atiça a curiosidade dos fãs é sobre o parentesco de Rey. Afinal ela é uma Skywalker? Uma Kenobi? Um clone de Anakin Skywalker? Existe a enorme possibilidade de Rey, assim como Kylo Ren já afirmou, ser uma ninguém, uma órfã, abandonada em Jakku. Mas a possibilidade dela ser descendente de Obi-Wan Kenobi é praticamente nula, assim como dela ser uma Skywalker (pelo menos até o final do filme). Uma das teorias mais loucas a respeito, como dito acima, é a da jovem ser um clone de Anakin Skywalker. Ora, em O Ataque dos Clones tomamos conhecimento do maior exército já visto em Star Wars, sendo que, em A Vingança dos Sith, é comprovado que o grandioso exército fez parte de um ambicioso plano de Palpatine para tomar o poder e ainda levou consigo o Jedi mais poderoso da galáxia. Já está comprovado que o exército de cruzadores estará a mando do lorde Sith, devendo ser demonstrado como um plano para um futuro que chegou. Faz bastante sentido ele ter alguém ao seu lado para liderar este novo golpe e esse alguém, poderá ser muito bem Rey (sendo clone ou não).

    MORTES

    Também é possível que tenhamos que nos despedir de personagens queridos, como Chewie (Joonas Suotamo) ou C3PO (Anthony Daniels). O gigante wookie sobreviveu às Guerras Clônicas, foi resgatado por Han Solo e junto de seu amigo ajudou a derrotar o Império. Com a morte de seu querido parceiro, talvez não haja mais nada para ele neste plano, se a hora requerer algum sacrifício de sua parte.

    Embora as imagens dos trailers mostram que C3PO está olhando seus amigos pela última vez, não acho que ele vá morrer ou ser destruído. Em algum momento do filme, talvez seja necessária uma troca de protocolo que talvez faça com que “Threepio” tenha toda sua memória apagada ao voltar ao normal. Obviamente isso o fará esquecer de tudo que passou com seu amigo R2-D2 desde que se lançaram numa cápsula de sobrevivência em Um Nova Esperança, em busca da ajuda de Obi Wan Kenobi

    PARTICIPAÇÕES ESPECIAIS

    J,J. Abrams tem a missão de agradar os fãs da saga. Então é muito provável que o filme traga rostos conhecidos do público e as participações não devem se contentar somente com o retorno de Luke e Lando. Yoda deve aparecer, assim como Obi-Wan (vivido por Ewan McGregor) e por que não, Anakin Skywalker (vivido novamente por Hayden Christensen)?

    E eu não falo tão somente de personagens dos filmes. Os fãs do universo expandido também terão seus egos inflados, uma vez que já vimos a nave Fantasma de Star Wars: Rebels escoltando a Millennium Falcon para a batalha final. Se a Fantasma está lá, quem a estará pilotando? Assim, é possível que veremos ainda que brevemente algum querido personagem do elenco de Rebels.

    Além disso, devemos ter atores conhecidos vestindo o manto dos Stormtroopers, assim como Daniel Craig, que gravou uma cena com Daisy Ridley em O Despertar da Força e Tom Hardy, juntamente com os príncipes William e Harry, que tiveram suas participações cortadas da edição final de Os Últimos Jedi. Fica aqui uma curiosidade: William e Harry foram cortados por causa da altura de William que era superior à altura padrão dos soldados.

    UM FINAL GRANDIOSO

    O final de A Ascensão Skywalker deve ser grandioso, primeiro por conta da batalha final que deve se assemelhar em escopo à batalha de O Retorno de Jedi ou, ainda mais, como a batalha de Coruscant, no início de A Vingança dos Sith.

    Mas as suas últimas cenas deverão arrancar lágrimas dos fãs.

    O cineasta Kevin Smith (um fanático por cultura pop e Star Wars) passou um dia num dos sets de A Ascensão Skywalker e acompanhou as gravações da famosa cena envolvendo C3PO. Ele disse recentemente que, nesse dia, pessoas da produção falaram para ele de um set de filmagens secreto, um set que estava sendo escondido até de outras pessoas envolvidas na produção. Ao questionar J.J. Abrams sobre o set, o diretor, inicialmente, proibiu que Smith visitasse o local, mas em seguida, concordou com a visita, porém, fazendo uma ressalva: Abrams disse a Smith que o set era o da última cena do filme e que algo especial havia sido preparado. Prontamente Smith desistiu de visitar o local.

    Então é isso, pessoal. Star Wars: A Ascensão Skywalker chega aos cinemas brasileiros em 19/12/2019.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

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  • Review | Arrow – 6ª Temporada

    Review | Arrow – 6ª Temporada

    Desde sua criação e por toda a sua história, Arrow tem sido um seriado cheio de altos e baixos (mais baixos do que altos), o que é normal para uma série que está no ar há mais de cinco anos. Tivemos uma boa temporada de estreia, uma excelente segunda temporada, seguida de uma terceira temporada terrível e uma quarta e quinta temporada bem razoáveis, mas que trouxeram um pouco mais de respiro para o seriado.

    Se no desfecho da temporada anterior tivemos uma espécie de cliffhanger, o sexto ano do arqueiro esmeralda mostraria logo de cara o que de fato aconteceu com praticamente todos os integrantes do elenco, cujos personagens estavam na ilha de Lian Yu, após o vilão Prometheus explodi-la em quase sua totalidade. Logo nos primeiros episódios, tivemos flashbacks que responderam algumas das perguntas deixadas, mas a maioria delas foram sendo respondidas ao longo da temporada. Isso ajudou a responder também como seriam os flashbacks tão recorrentes na série, uma vez que, nas cinco primeiras temporadas, podemos acompanhar toda a jornada de cinco anos para que Oliver Queen pudesse se tornar o Arqueiro Verde. Porém, para a nossa surpresa, as vezes em que visitamos o passado, foram tão somente para responder às perguntas deixadas em Lian Yu, extinguindo assim, os já mencionados flashbacks. Uma decisão ousada, mas acertada em cheio, uma vez que Arrow entregou a mais audaciosa temporada de sua história.

    Oliver Queen (Stephen Amell), ainda prefeito de Star City, agora tem a custódia de seu filho, William (Jack Moore), que odeia o pai com todas as forças e para criar um laço entre os dois, o arqueiro decide se aposentar, deixando seu manto para seu braço direito, John Diggle (David Ramsey). Ocorre que Diggle sofreu uma grave lesão no nervo de sua mão enquanto estava em Lian Yu, que o está impedindo de usar armas com a habilidade que lhe era peculiar, colocando em risco mais de uma vez os heróis Cão Raivoso/Rene Ramirez (Rick Gonzalez),Sr. Incrível/Curtis Holt (Echo Kellum) e a Canário Negro/Dinah Drake (Juliana Harkavy), seus colegas de equipe, sob os olhos de Felicity Smoak, a Observadora (Emily Bett-Rickards).

    A temporada teve como premissa a aparição do cyber-terrorista Cayden James, vivido pelo ótimo Michael Emerson, mais conhecido por ter interpretado Benjamin Linus, em Lost. James logo no primeiro episódio expõe a identidade de Oliver Queen para o mundo todo, o que faz com que a arrogante e linha dura agente do FBI, Samanda Watson (Sydelle Noel) fique na cola do team Arrow, querendo prender todos. Vale destacar que o vilão é assessorado por um time de capangas liderados pela Sereia Negra, a Laurel Lance da Terra 2, que veio de Flash e novamente interpretada por Katie Cassidy e pelo impetuoso e cruel Ricardo Diaz, vivido brilhantemente por Kirk Acevedo e também por um velho amigo de Oliver, o russo Anatoly Kniazev (David Nykl).

    Pelo fato de Oliver Queen ter se aposentado como Arqueiro Verde, dificilmente o vemos em tela usando o uniforme, porém vemos bastante o personagem lidando com os problemas burocráticos de sua cidade, juntamente com o vice-prefeito, o ex-capitão Quentin Lance (Paul Blackthorne) e o assessor de Queen, Rene Ramirez, principalmente por conta da exposição causada por Cayden James.

    Porém, não demora muito para a temporada ter uma reviravolta, fazendo com que Ricardo Diaz se torne o melhor vilão da história do seriado (ganhando um episódio inteiro para si), se tornando também o melhor personagem em anos, tirando inclusive o protagonista do topo. Claro que os méritos também são de Kirk Acevedo que dá show. Logo no início desse texto, lhes foi dito que esta tinha sido a temporada mais audaciosa de Arrow. E vamos explicar o motivo.

    O modus operandi de Diaz fez com que a equipe do Arqueiro Verde fosse esmigalhada. A já cansativa história de que os métodos de liderança e de ação de Oliver são questionáveis, mais uma vez deu as caras por aqui. Só que dessa vez funcionou muito bem, a ponto de até John Diggle abandonar Oliver e virar um agente da A.R.G.U.S., após Cão Raivoso, Sr. Incrível e Canário Negro montarem a própria equipe, deixando o arqueiro sozinho, como no começo de sua história. Isso causou uma dinâmica interessantíssima para o decorrer do seriado. Embora os vigilantes tivessem o mesmo objetivo (capturar Ricardo Diaz), agora tínhamos três fronts praticamente rivais e que algumas vezes se enfrentaram, inclusive.

    Se tem uma das coisas que os fãs não podem reclamar é da ação. As cenas de luta (tão boas nas duas primeiras temporadas) deram às caras novamente e, sem dúvida, essa foi também a temporada mais violenta de Arrow, onde briga, tiros, flechadas, fraturas e muito sangue não foram poupados no orçamento. Vale destacar que parte da violência foi de autoria de Ricardo Diaz, cujos métodos causam arrepios até na Sereia Negra que aliás, falando na versão demoníaca da Canário Negro, passou a estreitar laços com Quentin Lance, uma vez que o Quentin desta Terra já não tinha mais sua filha Laurel e a Laurel da Terra 2 (a Sereia Negra) já não tinha mais seu pai. Isso foi bastante legal de se ver.

    Como já é costume, logo na primeira metade da temporada tivemos o episódio Crise na Terra X, que fez parte do já tradicional mega crossover da do canal CW, que juntou, novamente, o elenco  de FlashSupergirlArrow e Legends of Tomorrow. Confira todos os detalhes desse encontro clicando aqui.

    Assim como na temporada passada, tivemos menos ainda aqueles episódios conhecidos como fillers, ou monstros da semana, que não costumam ter nenhuma relevância com o enredo principal, mas ainda assim pudemos destacar dois episódios onde tivemos o retorno de Manu Bennett como Slade Wilson/Exterminador em busca de seu filho. Apesar dos produtores não terem mais planos para com o personagem (por causa do Universo Cinemático DC – UCDC), é sempre bom ver Bennett e Amell juntos em cena, independente de qual lado Slade Wilson está.

    A reta final da temporada foi de tirar o fôlego e pela primeira vez podemos dizer que apesar das tradicionais mortes que costumamos ver em diversos seriados, Oliver Queen e os demais heróis não saíram vitoriosos e isso trouxe diversas consequências para os personagens que terão suas vidas mudadas para sempre. Não houve final feliz e ainda perdemos um querido personagem.

    O saldo da sexta temporada do arqueiro esmeralda é mais que positivo. A produção entregou, como dito anteriormente, sua temporada mais audaciosa e me arrisco a dizer que talvez seja a melhor temporada do seriado. O sétimo capítulo será aguardado com muita ansiedade.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

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  • Crítica | A Excêntrica Família de Antônia

    Crítica | A Excêntrica Família de Antônia

    Escrito e dirigido pela holandesa Marleen Gorris (Sra. Dalloway), A Excêntrica Família de Antônia, lançado em 1995, é uma comédia dramática que narra a vida de uma mulher que destoa da sua época e lugar. Tendo nascido e vivido seus primeiros anos em uma pequena vila interiorana e atrasada da Holanda, na juventude, Antônia (Willeke van Ammelrooy) ruma para um grande centro urbano para construir sua vida. Casa-se, traz Danielle (Els Dottermans) à luz, é abandonada pelo marido e precisa batalhar para cuidar de si e da filha. Ao receber a notícia da proximidade da morte da mãe, retorna, após 20 anos, para seu local de nascimento levando Danielle.

    O filme apresenta uma perspectiva feminista e utópica de independência individual, especialmente da mulher. Narra a passagem da vida de ao menos três gerações femininas, Antônia, Danielle – sua filha – e Thérèse (Veerle van Overloop) – filha de Danielle. Gorris se esforça para entregar uma narrativa interessante, mas que não passa de uma crítica barata às tradições e ao machismo do pós-guerra.

    Os papéis dessas três mulheres são os centrais na trama. Justificam-se em função da mensagem que a roteirista-diretora que transmitir. Para um olhar mais atento, o papel de Boer Bas (Jan Decleir) será o de maior atratividade e o mais verossímil. Praticamente todos os personagens são caricaturas, o que parece ter sido intencional na obra de Gorris. No meio dessa novela caricata, a verosimilhança de Bas é um alento. Destaca um tipo de homem pouco explorado no cinema, especialmente o contemporâneo e “engajado”, do qual “A Excêntrica Família de Antônia” é grande modelo. O ator é um ótimo exemplo de masculinidade não-tóxica; um homem viril, responsável, honesto, trabalhador, admirador das mulheres (no caso do filme, apaixonado por Antônia) e capaz de amar uma mulher mais forte que ele próprio sem se deixar “enfraquecer” em tal relação. O típico homem que constrói uma vida sólida ao lado de um mulher que também o faz.

    Antônia é uma mulher que ainda muito cedo deixou sua cidade natal interiorana e “parada no tempo” para ir viver num centro urbano moderno. Uma mulher que teve de enfrentar várias dificuldades nesse processo e que ao se tornar mãe teve de criar sua filha sozinha. Papel que assumiu com determinação e força. A personagem acaba por figurar um exemplo de mulher forte que constrói sua vida em cima (e não apesar) das dificuldades; ao mesmo tempo em que delineia sua trajetória sem se preocupar com preconceitos e esteriótipos. Ela é apresentada como uma mulher que age como se por consequência da reflexão sobre o Ser. Antônia narra a história, os fatos, descreve os personagens e as relações; e também reflete sobre tudo isso. Nesse processo mesmo de narração-reflexão, ela está sempre questionando o que é “Ser” em nossa espécie, e em seu tempo, lugar, situações e relações.

    As questões existenciais vividas pelos personagens são extremamente fortes no longa (vencedor de diversas premiações, incluindo o Oscar de melhor filme de língua estrangeira de 1996). Destacam-se: o existencialismo, o relativismo cultural e a divisão sexual do trabalho.

    O existencialista Dedotorto (Mil Seghers) não via sentido na vida, apenas no “conhecimento”; e, por isso mesmo, como diz Antônia em certa passagem, “Não saia de casa desde a Guerra”. Na carta que envia a Thérèse, Dedotorto escreve: “É um absurdo crer que a dor constante que nos aflige seja puro acaso. Pelo contrário, a desgraça é a regra, não exceção. A quem culpar pela nossa existência? À explosão solar que nos deu vida? Eu me acuso, já que não creio em Deus ou reencarnação. Se acreditasse, poderia me iludir do que a vida nos promete, uma sobremesa divina depois da indigesta refeição” (cena em torno de 1h22min do filme). Deixa óbvio seu entendimento de que a vida é sem sentido e o homem nada mais é que qualquer outro animal, qualquer outra matéria e que, assim, a vida e a morte de um indivíduo são meros fatos corriqueiros na modificação de estado da matéria. Essa é filosofia que tem como destino gerar um único resultado: o fim da vida humana.

    A não aceitação da “gravidez solitária” de Danielle por parte do padre e seu discurso na igreja (na cena em que ela e Antônia se levantam e saem da igreja em função do discurso odioso e agressivo dele em relação à situação daquela – em torno do minuto 37 do filme) demonstram todo potencial humano de intolerância. Postura que depois se inverte, após o padre ser pego realizando sexo oral em uma mulher dentro da igreja (em torno do minuto 39 do filme) e sua hipocrisia é exposta.

    A divisão sexual do trabalho é criticada muito diretamente na relação entre Thérèse e Simon (Reinout Bussemaker) e em como conduzem a divisão de papéis familiares, em especial na criação de Sarah (Thyrza Ravesteijn). Papéis que, no geral, são o oposto do padrão patriarcal e machista das sociedades humanas. Cenas bastante ilustrativas disso são: (i) a reunião no quarto do casal logo após o nascimento de Sarah, em que Simon está preocupado no cuidado com a criança e na recepção às pessoas, enquanto Thérèse trabalha na cama; (ii) o momento em que Sarah está brincando no balanço e pede a atenção da mãe que está próximo a ela, mas que não se distrai do trabalho para ficar com a filha; que, por sua vez, na sequência, cai do balanço, se machuca e é cuidada pelo pai, ao tempo em que a mãe retorna ao trabalho.

    A maternidade de Danielle chama muito a atenção. Um estudioso da tradição filosófica conservadora (de Edmund Burke até Thomas Sowell e Roger Scruton, passando por Russel Kirk e Michael Oakeshott) tem convicção de que as tradições são construídas e resistem ao “teste do tempo” por que se demonstram positivas dentro das possibilidades reais (ou seja, excetuando as imaginárias, as utopias). Sendo assim, ainda que perceba e entenda que em certas situações particulares uma criança pode ser melhor criada numa configuração que não a da família tradicional, no geral, entende que a melhor configuração possível é aquela em que um ser humano é concebido por consenso mútuo e com base no amor; e criado e educado nas mesmas bases. Por isso, a decisão de Danielle, apoiada por sua mãe, de simplesmente “procriar”, encontrando um homem “provedor de boa genética” para engravidá-la sem que ele saiba; e de simplesmente “criar” a criança no meio de sua “comunidade alternativa rural” é uma mensagem muito forte e deturpadora do bom senso. A não ser por seus aspectos negativos, a película não deveria ter recebido a atenção que lhe foi dada.

    Texto de autoria de Marcos Pena Júnior (marcospenajr.com).

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  • Review | One Punch Man – 1ª Temporada

    Review | One Punch Man – 1ª Temporada

    Ser um herói por diversão e desempenhar suas tarefas é a motivação e sina de Saitama, o personagem principal da cômica e desmedida história de One-Punch Man. Adaptada pelo ótimo estúdio Madhouse, o sucesso do mangá de Yusuke Murata, responsável pela arte e ONE, autor da webcomic original, de onde o roteiro foi tirado. Saitama é um jovem trabalhador, que após salvar um garoto de aparência bastante pitoresca das literais garras de um vilão em forma de caranguejo, começa a refletir na noção de agir pelo bem e por justiça.

    Saitama então começa seu insano treino por três anos, consistindo em fazer diariamente 100 agachamentos, 100 flexões, 100 abdominais e correr por 10 km, ganhando uma força descomunal após finalizar, derrotando seus oponentes com apenas um soco, sendo sugestivo ao título. Entretanto, acaba perdendo seu cabelo e sua sensibilidade emocional, o que faz o iniciante herói refletir sobre o seu papel e seu distanciamento da realidade. Quando o ciborgue Genos pede para ser seu discípulo e os outros heróis aparecem no decorrer a história, Saitama compreende sobre avançar na sua ocupação, melhorando seus laços e se licenciando na Associação de Heróis na tentativa de ganhar reconhecimento e achar algo que faça valer todo o poder que tem.

    Sendo uma grande sátira aos famosos animes de porrada e quadrinhos em geral, o anime conta com uma carga enorme de comédia, com piadas pastelão na dose certa, que foca exatamente nos devaneios e reflexões do Saitama sobre o recorte do seu cotidiano. A caricatura do personagem, seu visual simplista, bastante próximo ao traço da webcomic, ganha uma aura séria nos momentos de salvador, com direito a trilha sonora arrojada, curiosamente se importando mais com seus afazeres domésticos, quando entra em combate contra ameaças de monstros, organizações secretas do mal, meteoros, invasão alienígena e tudo que se pode pensar em um script de herói.

    O ambiente e o design são tratados e focados de modo estereotipado, com cidades nomeadas por letras, como a esquisita Cidade Z que Saitama reside, prédios e ruas feitos inteiramente para serem destruídos durante a ação, mortes e poderes exagerados e uma equipe de elite. Personagens, do herói ao vilão, com seus uniformes das mais variadas estéticas e aspirações, fazendo referência a tudo que já se viu na cultura pop, de Bruce Lee a Chapolin Colorado, da cultura japonesa dos yankii aos samurais, dos estilosos, como o próprio Genos com seus braços biônicos e Amai Mask com seus traços suaves de astro, aos mais ridículos, como Tanktop Master e seus subordinados, que são marombados que usam regata ou o grupo de carecas que se rebelam contra o capitalismo, gerando um pânico na população e causando confusão com o protagonista.

    No entanto, a obra cumpre um propósito estrutural, utilizando bem os elementos da narrativa. Aproveitando tanto a crítica ao clichê de heróis, ao mesmo tempo em que exerce um ótimo entretenimento de ação, para que o anime não caia na monotonia, criando uma expectativa na próxima ameaça a surgir e de como irá ser a reação do Saitama. Focando também na evolução dos personagens secundários, mostrando suas cargas dramáticas, como eles interpretam a função de fazer o bem, como Genos e o ninja anti-herói Sonic, na busca incessante por mais poder, um querendo cumprir melhor sua tarefa e o outro ansiando por um jeito de derrotar o protagonista. Até mesmo os heróis mais fracos, a exemplo do Cavaleiro sem Licença, que mesmo com suas limitações, faz de tudo para salvar os cidadãos em perigo e tentar se provar.

    Ao longo dos 12 episódios da primeira temporada, disponíveis na Netflix com uma ótima dublagem brasileira, Saitama não enfrenta somente vários tipos de vilões, mas principalmente anseia pelo momento que ele poderá fazer com que seu treino compense e que possa demonstrar seu potencial, indo além do único soco. Assim, One-Punch Man faz jus ao seu grande sucesso, com cenas de ação de fazerem inveja, graças à competência da companhia Madhouse e pela forma como brinca com os conceitos de animes e mangás japoneses, demostrando basicamente passo a passo a jornada do herói, de um modo nada convencional.

    Texto de autoria de Wedson Correia.

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  • Crítica | Doutor Sono

    Crítica | Doutor Sono

    É inevitável que Hollywood revisite alguns de seus maiores clássicos, na impossibilidade de revisitar todos por questões práticas (talvez nem tudo pareça rentável aos olhos dos executivos que regem estúdios), já que revigorar IPs envolve menor risco financeiro e criativo por parte de quase qualquer projeto. Quando se trata de filmes especialmente populares e cultuados, o máximo que espectadores podem esperar é algum nível de respeito e circunstância em torno da obra original; mesmo que a realização seja por parte de artistas com as melhores intenções, o norte destes empreendimentos artísticos é mercadológico, e os resultados variam conforme o vento (mais precisamente de acordo com as correntes que controlam orçamento e distribuição). Doutor Sono, continuação de O Iluminado, peça seminal da filmografia de Stanley Kubrick, baseado na continuação literária homônima de Stephen King para a obra adaptada (com várias liberdades) por Kubrick, não é a primeira vez que Hollywood se aventura em uma sequência para um filme de Kubrick (2010 – O Ano em que Faremos Contato, sequência de 2001 – Uma Odisseia no Espaço, a antecedeu; ambos os filmes igualmente inspirados em livros de Arthur C. Clarke), mas certamente é a mais honesta e inspirada incursão possível de volta àquele universo. Por consequência, uma das raras ocasiões em que voltar a um clássico realmente não parece motivado exclusivamente por dinheiro.

    Roteirizado (reescrito, na verdade) e dirigido por Mike Flanagan, um dos mais sólidos realizadores aninhados no terror e em subgêneros adjacentes, Doutor Sono traz Ewan McGregor no papel de Daniel Torrance, a criança “iluminada” (capaz de feitos como projeção astral, percepção extrasensorial, telepatia e telecinese) da obra original, décadas após os eventos transcorridos no hotel Overlook, tentando reconstruir uma vida permeada por paranormalidade, perdas, traumas e vícios, e que se vê às voltas com outra criança (Abra Stone, vivida por Kyliegh Curran) dotada com os mesmos poderes e um grupo de iluminados (liderados por Rose Cartola, ótima personagem de Rebecca Ferguson) que busca pessoas semelhantes para consumir suas energias vitais e prolongar a própria existência.

    Dan, que sobreviveu como pode junto de sua mãe aos eventos d’O Iluminado, quando a instabilidade emocional causada pela bebida fez seu pai, Jack Torrance sucumbir às forças obscuras presentes no Overlook, passou por (previsíveis) maus-bocados na idade adulta; com a morte da mãe, Wendy (Alex Essoe em flashbacks e breves recriações de O Iluminado), Dan se entregou a atitudes autodestrutivas e vícios que chegaram perto de destruir sua vida e, muito provável, várias outras. Chegando ao fundo do poço, o protagonista consegue um reinício em uma pequena cidade, largando a bebida e encontrando algum rumo na forma de um solícito amigo, Billy (Cliff Curtis), que o conduz ao AA, onde Dan encontra apoio, fortitude, e também uma oportunidade de emprego, como auxiliar-geral de um asilo. Sua condição de iluminado o permite confortar pacientes terminais ou próximos da morte. Ao passo em que encontra alguma paz de espírito, Dan começa a se comunicar com Abra, cujos poderes tem imenso alcance, através de escritos na parede do sótão que aluga. Abra, por sua vez, devido a este imenso alcance, acaba atraindo a atenção do Nó, um grupo de longevos iluminados que busca seus pares a fim de vampirizar seus poderes ou somá-los ao bando. Já tendo escassas fontes de poderes e vitalidade, enfraquecidos pela idade e apreensivos pela manutenção das vidas que levam, os membros do Nó descobrem Abra quando esta os observa, em choque, atacando outra criança iluminada – e Rose Cartola rapidamente a estabelece como o novo e oportuno alvo preferencial do Nó. Que Abra recorra a Dan de alguma forma em busca de justiça e compreensão para a violência que testemunhou, é um desdobramento lógico; Dan, no entanto, demorou o tempo de uma vida para se desvencilhar de traumas antigos, e reluta em tomar parte em ocorrências extraordinárias; é o incentivo de Dick Hallorann (Carl Lumbly), seu mentor e amigo, vítima de seu pai no hotel Overlook, que enfim o propele a não fugir de seus próprios destino e responsabilidade, mesmo que o curso das ações o conduza justamente até aonde Dan jamais quereria voltar.

    Num primeiro momento, a expansão da ambientação e dos elementos presentes no filme original parecem condenar Doutor Sono a um inchaço desnecessário. O Iluminado é um filme simples e absurdamente eficiente em estabelecer sua premissa e o desenrolar dos fatos, e Doutor Sono, além de observar o filme de Kubrick, precisa (idealmente) apresentar algo que justifique sua existência de maneira a não diminuí-lo diante de seu predecessor (o que em si já configuraria um desrespeito). Mas é justamente o entendimento da necessidade de construir algo baseado no que Kubrick realizou que o trabalho de Flanagan se sobressai; se Kubrick demonstrava interesse genuíno na fragmentação psicológica de Jack Torrance diante do fracasso profissional e como provedor, e na maneira como as trevas se apoderaram de sua mente em meio ao isolamento (físico e mental) crescente cultivado em meio ao pesadelo do abuso de álcool, é a recomposição de Dan como indivíduo que leva Doutor Sono adiante. O roteiro de Flanagan aproveita o reencontro de Dan com sua dignidade para permiti-lo uma reconciliação com seus poderes e com as possibilidades de fazer algo bom, algo contrário à sua história, e não sucumbir ao medo de explorar seu próprio potencial (uma alegoria singela para algo tão nocivo quanto qualquer perverso fantasma remanescente no Overlook). Em determinado momento, o orgulho de Dan vence o peso da culpa que carrega ao constatar que conseguiu somar um período de sobriedade imensuravelmente maior do que seu pai jamais havia conseguido, e é um ótimo exemplo da valorização de Doutor Sono a pequenas mas significativas vitórias de suas personagens. Da mesma forma, Flanagan (um cineasta nem tão sutil, mas que sempre busca soluções elegantes e diretas em suas obras) não tenta perverter a estética e as convenções narrativas de O Iluminado em um esforço tolo para diferenciar-se ou de alguma forma superá-lo, seja em escala ou em impacto – o maior trunfo do longa é se aceitar como uma derivação natural do que veio antes, algo que ecoa também na maneira como suas figuras relacionam-se com a realidade fantástica que habitam. Dan tenta suprimir sua iluminação até aceitá-la como parte de quem ele é; Abra entrega-se a um uso justo e benevolente de seus poderes, e o Nó, guiado por Rose, objetiva apenas tragar energia para perpetuar-se em um estado irredutível de vida fácil e predatória. Não é à toa que Dan decide opor-se ao Nó em defesa de Abra, após um empurrãozinho de Dick Hallorann, e que para Abra e para o Nó suas posições pareçam ser as únicas possíveis. Se n’O Iluminado Danny era apenas uma vítima das elucubrações malignas das presenças do Overlook, em sua sequência ele pela primeira vez tem a chance de enfrentar personificações do mal ao invés de apenas fugir e eventualmente testemunhar desdobramentos trágicos. É claro que a história de Dan, mesmo girando em torno de Abra e contra o Nó, não poderia escapar de um enfrentamento com o próprio Overlook, mas atestando a busca por soluções que honram o original, a trama da continuação se direciona com simplicidade e clareza ao resgate daquele espaço, em si uma manifestação das ideias de Kubrick para a criação de King.

    É curioso como a reverência de Flanagan pelo filme de Kubrick o inspira de forma saudável para desenvolver Doutor Sono como um capítulo de vida própria; Flanagan não tem medo de destoar razoavelmente da construção estética de O Iluminado, mas mesmo suas propostas mais ousadas (uma sequência de projeção astral, a representação dos pensamentos de Abra e Rose em suas respectivas mentes, a expansão das capacidades paranormais de iluminados) parecem soluções adequadas ao que cineastas daquela época, pós-Nova Hollywood, apresentariam. Talvez o elemento mais deslocado seja a apoteose da vampirização de iluminados pelo Nó, mas onde Flanagan perde pontos pela obviedade, ganha pela intensidade do processo e pelo efeito quase transcendental nos membros do bando – Doutor Sono não é um filme amedrontador como em certos momentos o é o filme que o inspirou, então, é elogiável quando consegue ser realmente macabro. Isto é parte do estilo de Flanagan em seus filmes e séries, e é incrível que ele não tenha aberto mão da mesma abordagem emocional que utilizou em A Maldição da Residência Hill para realizar uma continuação para a obra original. Kubrick recontou a trama familiar de Stephen King por uma ótica mais distante e observadora, e Doutor Sono soa como um resgate consciente dos valores dos livros de King na ambientação da película original. Muito se fala em reconciliar os universos literário e cinematográfico de King e Kubrick em Doutor Sono, mas Flanagan parece entender que as diferenças são irreconciliáveis, e que o melhor denominador comum é reconhecer as discrepâncias como pertinentes à complexidade de Dan, Jack e as novas personagens. Uma saída esperta e cheia de classe para um distanciamento bem conhecido por quem acompanhou a trajetória de O Iluminado das páginas às telas.

    Embora Ferguson tenha quase todos os melhores momentos de personagem  vil e carismática como uma autêntica habitante do Overlook, McGregor não fica atrás com seu Dan/Danny Torrance; aqui, existe a oportunidade de reapresentar o objeto de desejo dos fantasmas do Overlook como alguém dobrado pelas circunstâncias e atormentado por questões fora de seu controle, e que de certa forma nunca amadureceu de forma apropriada por não ter crescido e vivido como alguém normal, e o longa ainda nos sugere uma boa reflexão; quanto da facilidade com que Abra lida com sua condição é propiciada por uma família saudável, e quanto da ruína sentimental de Dan foi resultado direto de uma família em processo de decomposição tão avançado quanto a mulher do quarto 237. Também merecem menções Cliff Curtis e Zahn McClarnon, respectivamente como Billy, amigo e apoiador de Dan em sua nova vida, e Corvo, parceiro de Rose Cartola e um dos mais eficazes membros do Nó (é particularmente satisfatório ver McClarnon participar de um ótimo filme, após grandes papéis em séries como Fargo e Westworld). Flanagan é um ótimo diretor de atores, e os poucos momentos em que Doutor Sono se distancia mais do visual de O Iluminado, que o filme tende a seguir à risca, são exatamente os momentos em que Flanagan permite que as câmeras orquestradas por Michael Fimognari, seu parceiro habitual na direção de fotografia, se detenha mais nos rostos dos elenco e menos na integração destes rostos ao tecido narrativo do filme

    Em geral, a trilha sonora composta pelos Newton Brothers para Doutor Sono ecoa certas manias do terror contemporâneo, e um filme quieto como este dispensaria até mesmo os poucos jump scares espalhados (e espaçados) pela generosa duração, mas há de se aplaudir em especial as breves intervenções da trilha original. A intenção de Flanagan era a de acrescentar ao universo dos iluminados, não a de apelar para a nostalgia desmedida (cineastas menos inspirados/as não pensariam duas vezes antes de recorrer à saudade de um clássico do cinema de horror), e isto conduz à maior prova de coragem e confiança de Doutor Sono: ao invés de apelar para recriações digitais, Flanagan escalou atores contemporâneos para personagens consagrados e praticamente indissociáveis se suas intérpretes. Carl Lumbly empresta solenidade e calor humano a um Dick Hallorann que já era adorável com Scatman Crothers, e Alex Essoe demonstra uma compreensão impressionante de como era a Wendy vivida por Shelley Duvall, sem concessões à Wendy caricatural que habita o imaginário coletivo de muita gente que assistiu ao filme original. É fácil repovoar o Overlook com bartenders, assessores e gêmeas sem maiores funções narrativas, mas conferir importância e gravitas a personagens que sempre serão alvo de escrutínio por parte do público, ainda mais através de rostos novos, é um ato de bravura – e Flanagan reserva uma surpresa fabulosa para um momento único de introspecção e desespero. Essoe, Lumbly e um recorrente ator nas obras de Flanagan simbolizam à perfeição o apreço dos envolvidos para com a obra original, e a excelência de Doutor Sono como sucessor valoroso a O Iluminado confirma que interesses duvidosos nem sempre impedem um triunfo.

    Texto de autoria de Henrique Rodrigues.

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