Autor: Vortex Cultural

  • Melhores filmes “alternativos” de 2012

    Melhores filmes “alternativos” de 2012

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    Lista de melhores filmes é um negócio repetitivo e a essa altura eu suspeito que vocês já entenderam que Cavaleiro das Trevas é uma certa unanimidade por aqui. Então, honrando minha fama de menina dos filmes “cults” e nêmesis do Jackson, eu faço a lista de melhores filmes hipsters/alternativos/falados em línguas estranhas/não entendo nada, mas tá bonito.

    Primeiro: essa não é minha lista de melhores filmes de 2012, em uma seleção que fosse só pela minha preferência entrariam um bom número de blockbusters. Pelo critério totalmente intuitivo e arbitrário dos filmes que caberiam aqui Drive ficou de fora (mas é de longe um dos melhores filmes do ano), mas eu vou considerar uma menção honrosa, porque o lançamento não foi tão grande assim.

    Em segundo lugar, o critério: filmes lançados em circuito no Brasil em 2012. Doeu um pouquinho esse critério porque eu tive que deixar de fora filmes incríveis que vi em mostras, festivais ou por meios menos oficiais e que só vão entrar aqui em 2013. Enfim, ficam para a próxima. A única exceção é um filme lançado lá fora em 2012, mas que não chegou aqui de forma nenhuma, achei que a lista pseudo-intelectual merecia um desses.

    10. Amores Imaginários
    Na verdade é um filme de 2010, um beijo para as distribuidoras brasileiras! Xavier Dolan, o diretor, ficou famoso em 2009 com Eu Matei a minha Mãe, filme pequeno, de baixo orçamento, que ele mesmo atuava, quase com cara de trabalho de graduação de estudante de cinema e que ainda assim foi a escolha canadense ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Amores Imaginários é mais bem elaborado, mais maduro e bem dirigido, mas ainda mantém o que é tão interessante em Dolan: essa auto-exposição tão descarada, quase crua. Ele atua novamente e os personagens são mostrados em toda sua fragilidade, cheio das ilusões estúpidas de quem começa a se apaixonar. O roteiro e o ritmo do filme têm alguns problemas, mas a honestidade faz valer. Bônus para excelente trilha sonora.

    9. Martha Marcy May Marlene
    Esse é o que não chegou aqui, mas eu aposto que daqui uns dois anos, quando a Elizabeth Olsen virar estrela de comédias românticas indies, ele chega. Elizabeth Olsen é a irmã boa atriz daquelas gêmeas de filmes da sessão da tarde que de repente surgiu do nada com esse filme em Sundance. Ela faz Martha, uma menina que foge de um culto e tenta se reintegrar na sociedade. A fotografia é escura, suja, e o filme flerta com o terror psicológico. É perturbador e todo o barulho em volta de Olsen tem razão de ser, já que tudo depende da capacidade dela de convencer o espectador do seu medo e sua paranoia.

    8. O Gato do Rabino
    Eu vou para sempre promover animações de países que não sejam Estados Unidos e Japão e a França tem um bom histórico. O Gato do Rabino é adaptação de uma HQ e tem roteiro e direção do próprio autor. A animação em si é linda, com um traço cuidadoso, todo cheio de detalhes. Os personagens são carismáticos, o roteiro bem feito e engraçado. O filme faz um ótimo trabalho em colocar um ou outro diálogo filosófico sem atrapalhar o ritmo e a ironia do Gato torna tudo divertido e adorável.

    7. Moonrise Kingdom
    Ok, ok, esse foi um lançamento consideravelmente grande, mas quem vai argumentar que o Wes Anderson não é hipster? Melhor filme dele desde Os Excêntricos Tenenbaums, com duas crianças lindas e um ar de ironia com um tema sério. Eu gosto particularmente de como ele transforma tudo em uma versão miniatura de um filme de guerra, assim como as crianças são versões pequeninas dos conflitos adultos. É leve, divertido, bonito, mas meio dolorido lá no fundo.

    6. Pina
    Eu reclamo muito por aí que o 3D é um recurso legal, mas que o cinema não chega a explorar criativamente, além de ser uma forma de deixar tudo mais “bonito” e tentar evitar pirataria. Junto com Hugo, Pina é a exceção. Pina é um documentário do Wim Wenders sobre a Pina Bausch, ícone da dança contemporânea e amiga pessoal do diretor, cujo principal objetivo era explorar a relação dos corpos com o espaço do palco. Wenders não faz um documentário sobre a vida dela, mas sobre o trabalho da coreógrafa e assim o uso do 3D espelha toda a investigação sobre a ocupação do espaço. Wim Wenders é um dos melhores documentaristas em atividade e esse filme é plasticamente a coisa mais bonita que eu vi em muito tempo.

    5. Habemus Papam
    Ou: se Woody Allen fosse italiano e católico. É o mesmo tipo de humor auto-irônico, paranóico e inseguro, mas por um outro viés e até um pouco mais escrachado. Nani Moretti dirige e atua como um psicólogo chamado para lidar com um Papa em crise existencial. O filme aponta todos os dedos possíveis para a igreja e o conservadorismo da sociedade italiana e desconstroi a imagem dos cardeais até chegar ao absurdo, sendo sempre um pouco melancólico, mas principalmente engraçado.

    4. Um Alguém Apaixonado
    Porque não é uma lista esnobe suficiente se não tiver filme iraniano. Melhor: filme de diretor iraniano filmado no Japão. Eu confesso e aviso: talvez seja o melhor exemplo da minha definição de “não entendo nada, mas tá bonito”, mas ainda assim vale a pena. É sobre a relação entre um velho professor e uma jovem prostituta com um namorado horrível. Sobre as escolhas irracionais que as pessoas fazem e, sim, claro, sobre pessoas apaixonadas. É mais uma reflexão do que respostas, mas é um exemplo maravilhoso do que o cinema é quando desiste de dar respostas.

    3. A Separação
    Porque eu não me satisfaço com só um filme iraniano. Ganhou Oscar de melhor filme estrangeiro em 2012, Bafta, Urso de Ouro em Berlim e mais um monte de prêmios e eu prometo que por mais que filme iraniano tenha fama de chato não é o caso desse. O diretor, Asghar Farhadi, fala das contradições entre a imagem de um Irã ultra-religioso e a modernidade que na verdade existe lá dentro e, da mesma forma, seus filmes integram o ritmo contemplativo pelo qual o cinema iraniano ficou famoso com elementos do cinema comercial. Seu filme anterior “Procurando Elly” era quase um thriller e aqui o mistério move boa parte da trama. É angustiante, claustrofóbico e um tanto genial. Mostra um Irã que nós não estamos acostumados a ver e reflete sobre o país, mas tudo em cima de uma narrativa bem feita e um filme envolvente.

    2. No
    O cinema latino-americano vem soltando coisas ótimas, inclusive de países inesperados, como o Peru e o Uruguai, mas o Chile andava meio quieto desde Machuca (2004). “Não” compensa isso. Em 1988 os chilenos deveriam votar em um plebiscito que diria “sim” ou “não” para o governo do General Pinochet e o filme se centra no publicitário responsável pela campanha que deveria convencer o povo a dizer “não”. “Não” tem um roteiro tão bom, tão bem amarrado e cheio de boas tiradas que é até difícil apontar exatamente porque ele acabou em segundo lugar nessa lista. O filme flui e trata do tema de forma honesta e leve, sem medo de revirar um tema complexo e é bem dirigido, atuado, fotografado sem ser correto demais.

    1. Fausto
    Eu fiz uma crítica dele aqui e não sei se cabe falar muita coisa mais. Quando o Sokurov fez a Arca Russa eu fiquei fascinada, mas achei que faltava ancorar aquilo, dar uma narrativa, conseguir tornar esse cinema de sensações que ele faz um pouco mais palatável e Fausto faz tudo isso. É experimentação e estética, mas tem também uma narrativa forte, é cheio de diálogos sobre a vida, a morte, a efemeridade da beleza e o mal, mas também expressa essas contradições na fotografia, na direção de arte e na montagem. Fausto é um dos melhores exemplos do que é o cinema como arte, ao mesmo tempo apontando para toda uma tradição e sendo original. É difícil, é lento, definitivamente é um filme que requer investimento, mas é o melhor encontro de forma e conteúdo desde Asas do Desejo.

    Texto de autoria de Isadora Sinay.

  • Resenha | Diablo 3: A Ordem – Nate Kenyon

    Resenha | Diablo 3: A Ordem – Nate Kenyon

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    Diablo 3 – A Ordem lançado em março de 2012 nos Estados Unidos e em Junho deste mesmo ano aqui no Brasil pela editora Galera e escrito pelo autor Nate Kenyon – autor de diversas obras literárias da Blizzard, produtora dos games da série, e o livro se passa entre o segundo e terceiro jogo da franquia.

    O livro narra a jornada de Deckard Cain, último sobrevivente da ordem dos Horadrim, que tem como objetivo salvar o mundo dos demônios. Um livro que para os fãs da história do jogo, como é o meu caso, estavam ansiosos para conhecer a literatura de Diablo, entrar no mundo de Tristram e conhecer mais sobre os personagens, principalmente aqueles já conhecidos do segundo jogo, contudo, a decepção só aumentava a cada página lida.

    O desenvolvimento narrativo do autor erra seguidas vezes para contar sua história, o principal deles é que o livro não funciona para quem não conhece a história do jogo, deixando o leitor perdido durante a leitura, se é comum para eu ficar tentando lembrar do segundo jogo para encaixar melhor as coisas, imagina quem não teve contato com os jogos. O próprio autor parece ter percebido esse problema e tentou consertar com flashback’s, no entanto nenhum deles funciona como deveria, perdendo tempo em divagações que contam o que não é necessário e acabam se tornando enfadonhos. O mais difícil é saber o que é pior, a narrativa por meio de flashback’s ou quando está contando o presente.

    Outro problema da narração de Kenyon são seus personagens. Todos são extremamente rasos e em mais de 300 páginas de livro, você chega ao final do livro e não se apega à nenhum deles. Em dado momento, parei e pensei se todos os personagens do livro morressem eu sentiria falta de alguém, a resposta é não. Temos um personagem principal fraco que deveria ser o sábio da jornada, por ser o ancião e o último da ordem dos Horadrim, mas na verdade, é apenas um velho que não sabe conjurar nenhuma magia que preste e está em grande parte do livro perdido, sem saber o que fazer. A Léa, que é uma menina com grandes poderes ocultos, porém, se perde na timidez exagerada por Nate Kenyon e vira apenas mais um personagem sem graça. Mikulov que é pra ser o monge com experiência e força, fica escondido e passa quase despercebido.

    O grande inimigo do livro é Belial, um dos demônios menores, que chega a ser citado no segundo jogo mas não aparece, é outro personagem que você pouco se amedronta e não convence do que é capaz. Façamos as contas, no segundo jogo, você mata os 3 demônios maiores (Mephisto, Baal e Diablo) e 2 dos menores (Duriel e Andariel) e Deckard Cain acompanha tudo isso, quando Belial está planejando seu plano, Deckard Cain diz que a jornada que se passou será “um passeio no parque em comparação a essa de agora”. Exagerou um pouco Nate Kenyon?

    O ponto alto do livro com certeza é o final, não por ter um bom encerramento, mas simplesmente por você chegar ao final da leitura de um livro decepcionante. Nate Kenyon transmite um sentimento de angústia, mas não da forma como ele estava esperando.

    Compre aqui.

    Texto de autoria de Felipe Vieira.

  • Melhores filmes de 2012, por Jackson Good

    Melhores filmes de 2012, por Jackson Good

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    Saudações, nem tão nobres colegas. Chegou a hora da nossa tradicional (é apenas a segunda vez que acontece, mas quem se importa) escolha dos destaques cinematográficos do ano que passou. Houve uma leve mudança em relação à lista anterior, intitulada “Os melhores blockbusters”, agora estão inclusos filmes que não se enquadrariam nessa categoria, por terem orçamento baixo e/ou lançamento limitado. Mas o espírito massa véio permanece em todas as escolhas, afinal este é o Top 10 do cara do blockbuster/cinéfilo de verão. Antes, porém, uma rápida menção desonrosa não ao pior, mas àquele que foi de longe o mais decepcionante do ano: O “Espetacular” Homem-Aranha. Os caras tinham que se esforçar muito, mas muito mesmo, pra tirar o bom e velho Cabeça de Teia desta seleção. E vejam só, conseguiram! Parabéns, campeões. Enfim, vamos à lista, naturalmente de baixo pra cima.

    10. Looper – Assassinos do Futuro
    Bastante controverso, o filme recebeu duras críticas, em especial pelo roteiro não muito bem resolvido e arrastado em diversos momentos. Mas ele ganha pontos por apresentar uma boa direção, cenas de ação bem legais, interessantes conceitos acerca de viagens temporais, e dois Bruces Willis; o próprio e Joseph Gordon-Levitt, numa atuação digna de nota e que supera até a bizarra maquiagem digital. Num ano cheio de decepções, isso bastou para Looper estar aqui.

    9. 2 Coelhos
    Uma produção nacional estar presente nesta lista é deveras surpreendente. Mas não dava pra deixar de fora este divertido filme de ação, como visual ultra estilizado e repleto de referências à cultura pop. O diretor, produtor e roteirista Afonso Poyart mostrou-se claramente influenciado por Zack Snyder, Quentin Tarantino e Guy Ritchie, entre outros, e entregou um produto fora dos padrões do cinema brasileiro. Ainda que peque por alguns excessos, é mais do que louvável ver algo fora dos eternos “gêneros” favela, sertão, Selton Mello e comédias imbecis com cara de televisão.

    8. Poder Sem Limites
    Partindo do já explorado à exaustão estilo handcam, e do igualmente pouco inovador tema “pessoas comuns ganhando superpoderes”, esta modesta produção conseguiu surpreender. O roteiro foi muito bem trabalhado no sentido de tornar humanos e críveis os personagens e suas ações. Em essência, é uma história de origem de um herói – e de um vilão, simples, porém bem contada, coisa que muitos filmes milionários falham em fazer. Destaque merecidíssimo.

    7. Operação Invasão (The Raid: Redemption)
    Sensação em vários festivais pelo mundo desde 2011, o filme indonésio chegou ao Brasil direto para o home video, com um título caprichado. A história trata de uma equipe de elite da polícia de Jacarta invadindo um prédio controlado por traficantes, e se ferrando gloriosamente no processo. As cenas de luta são coreografadas de forma impressionante, uma porradaria épica como só os orientais sabem fazer. Além do melhor uso de uma geladeira desde Indiana Jones 4. Já está programado um remake norte-americano, mas nem precisa dizer que o original é que deve ser assistido o quanto antes.

    6. Dredd
    O policial badass dos quadrinhos britânicos surge bem colocado no Top 10, graças à fiel adaptação estrelada por Karl Urban. Com uma trama bastante similar ao item anterior, mas indo além por trazer um interessante pano de fundo sci fi (e um protagonista mais marcante). Ação constante, violência sem concessões e um 3D bem empregado renderam uma das melhores surpresas do ano, e que infelizmente pouca gente viu, dada a passagem relâmpago pelos cinemas.

    5. Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge
    Ah, a polêmica. Este era um filme que tinha tudo pra estar no topo da lista (ok, mentira, mas o 2º lugar era garantido), as posições perdidas se devem única e exclusivamente ao roteiro. Foram muitos os elementos forçados, sem sentido prático, presentes em nome de um pretenso conteúdo simbólico, metafórico, subtextual. Se fosse uma obra puramente alegórica, nada de errado. O problema é que ela não é: sacrificou-se toda a contextualização realista tão bem construída pelas duas partes anteriores da trilogia. Ainda assim, é um filme poderoso, com excelente ritmo, direção fantástica e atuações espetaculares. E ainda é o Bátema, porra.

    4. O Hobbit – Uma Jornada Inesperada
    Outro com potencial pra ser o campeão do ano (quer dizer, o vice), mas nesse caso a colocação se justifica mais pelos méritos dos concorrentes do que pelos seus próprios deméritos. Que se resumem à duração além do necessário e à consequente perda de ritmo, aliás. Peter Jackson mais uma vez está de parabéns por trazer a magia da Terra-Média até nós, com um filme divertido, empolgante e com um visual deslumbrante – que fica ainda melhor no 3D 48 quadros por segundo. Duas cenas de sair e pagar o ingresso de novo: Adivinhas No Escuro e a origem do Escudo de Carvalho.

    3. Sherlock Holmes – O Jogo de Sombras
    Lá no distante janeiro de 2012 tivemos uma das melhores aventuras da temporada. A segunda parte da franquia que “modernizou” o clássico detetive britânico superou e muito a primeira, com Guy Ritchie caprichando na direção e uma trama épica de conspiração internacional. Sem falar no sensacional embate intelectual entre Holmes e seu nêmese Moriarty, engrandecido por Robert Downey Jr. (o cara do ano) numa atuação inspirada, e Jared Harris mais inspirado ainda.

    2. Os Mercenários 2
    Sylvester Stallone, Jason Statham, Jet Li, Chuck Norris (na melhor cena do ano, sem discussão), Terry Crews, Randy Couture, Liam Hemsworth, Scott Adkins, e também Jean-Claude Van Damme, Bruce Willis e Arnold Schwarzenegger. Nem precisava acrescentar mais nada, mas enfim: outra sequência infinitamente melhor que seu predecessor, assumiu o tom de comédia e acertou em cheio. Grande homenagem ao cinema brucutu dos anos 80 regada a tiros, porrada, mais tiros, explosões e mais alguns tiros. Pode algo ser melhor que isso? Hã, pode.

    1. Os Vingadores
    Repetindo o que foi dito na lista de 2011, empolgação é a palavra-chave em um blockbuster. Assim, esta escolha já estava definida no momento em que o filme foi anunciado. Só uma catástrofe de proporções bíblicas mudaria as coisas. O que seria improvável, tendo em vista a competência da Marvel Studios em construir seu universo cinematográfico e preparar o terreno para a grande reunião de seus heróis. Atendeu às enormes expectativas, entregando ação, diversão, humor, ótimos efeitos visuais e uma trama simples mas que cumpre aquilo que se propõe a fazer. Um filme perfeito? Evidente que não, mas ele é maior que seus defeitos. Os Vingadores é maior que a VIDA.

    Texto de autoria de Jackson Good.

  • Melhores Animes de 2012

    Melhores Animes de 2012

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    Tentei por bastante tempo, mas falhei em pensar numa introdução que não parecesse já ter sido usada por Sérgio Chapelin em alguma Retrospectiva da Globo. Então não farei introdução. Quero apenas, antes de ir à lista daquelas que, em minha opinião, foram as melhores animações lançadas no Japão em 2012, dizer que elaborar esse Top foi difícil e que o resultado final não me agradou muito. Vejam bem, muitas das séries com grande potencial desse ano começaram somente em outubro, e, portanto, ainda se encontram na metade no momento em que elaboro esta lista. Já outras se equiparem em qualidade com títulos que entraram na seleção final, mas, por razões que nem eu sei explicar em pormenores, optei por deixar de fora. É, não tem jeito. A vida é feita de escolhas e tudo. Só gostaria de fazer menções honrosas a Kyoukaisenjou no Horizon II, Tsuritama, Natsuyuki Rendezvous, Nisemonogatari e Magi, que, caso se tratasse de um Top 15, seriam os nomes complementares. Bem, parece que escrevi uma introdução. Mas tanto faz. Segue o que interessa:

    10º – Kuroko no Basket

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    Devido a um boom de popularidade que há muito não se via, em menos de um ano o primeiro trabalho de Tadatoshi Fujimaki na maior antologia para garotos do Japão, a Shonen Jump, passou de série constantemente ameaçada pelos cortes editoriais a segundo mangá mais vendido da Terra do Sol Nascente. Canalizando desde uma imensa (e ainda em expansão) base de admiradores até preocupantes ameaças de morte ao autor, Kuroko no Basket foi um dos poucos títulos que causou comoção em 2012. E um dos motivos foi, indubitavelmente, uma adaptação animada de 25 episódios concedida pelo estúdio Production I.G.

    Se apropriando de um já conhecido modelo de mangás de esporte, que consiste na escalada do nada ao topo despendida pelos membros de uma equipe colegial sem prestígio, o anime lança mão de todos os clichês do gênero: intermináveis treinamentos, o estabelecimento de rivais, o desenvolvimento de habilidades inverossímeis (não, nada de bolas que pegam fogo), o fortalecimento de laços de amizade, etc. Aliando momentos de descontração ao frenético ritmo de partidas muitíssimo bem animadas – apesar de alguns problemas orçamentários que levaram ao reaproveitamento de tomadas aqui e acolá –, Kuroko no Basket aproveita uma fórmula já utilizada por muitos para, no fim,  empolgar como poucos.

    9º – Hyouka

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    Ao deixar de entregar a terceira temporada de Suzumiya Haruhi no Yuuutsu em 2012, ano em que o retorno da milionária franquia às telas era dado como quase certo, o Kyoto Animation decepcionou um sem número de fãs. Em vez de voltar a explorar as aventuras da série de light novels mais bem-sucedida da história, o estúdio optou por lançar duas produções inesperadas: uma totalmente original (Chuunibyou demo Koi ga Shitai!) e uma adaptação de 22 episódios da série de livros de Honobu Yonezawa (Hyouka). Esta, uma infantilidade de mensagem duvidosa. Aquela, um curioso slice of life pautado nos mistérios banais com que se deparam os integrantes de um Clube de Literatura Clássica – que, ao contrário do que sugerem os primeiros episódios, acaba surpreendendo.

    A animação deslumbrante propiciada pela anormal soma investida no projeto, a direção segura de Yasuhiro Takemoto, competente ao apimentar o cotidiano com enquadramentos e cortes criativos, e uma trilha sonora indescritível, que comporta tanto faixas originais quanto composições de monstros da música clássica como Johann Sebastian Bach e Gabriel Fauré, conferem a Hyouka personalidade e carisma similares ao que encontramos no melancólico dia-a-dia em seus bons personagens.

     8º – Psycho-Pass

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    Responsável pela franquia Ghost in the Shell, que talvez seja o maior expoente da temática cyberpunk no âmbito das animações, o Production I.G resolveu revisitar os futuros tecnocráticos distópicos em Psycho-Pass. Passado num universo em que o estado mental dos indivíduos é arduamente monitorado por um sistema que os divide entre cidadãos saudáveis e criminosos latentes (aqueles que, devido à conturbação mental, podem cometer crimes violentos a qualquer momento), a série aborda a rotina de um departamento de Segurança Pública responsável por investigar casos atrelados a pessoas que perderam o controle, e que – julgadas sumariamente pelo sistema, sem nenhum intermédio humano – devem ser ou encaminhadas para tratamento ou eliminadas.

    Com roteiro de Urobuchi Gen (Phantom: Requiem for the Phantom; Puella Magi Madoka Magica; Fate/Zero) e direção de Naoyoshi Shiotani (Blood-C: The Last Dark), esse thriller de ação provou ser um dos mais interessantes trabalhos originais em um ano no qual imperaram as adaptações. Mesmo que problemas pontuais possam ser apontados, os casos instigantes e ótimas cenas de ação de certo garantem seu lugar nesta lista.

     7º – Tonari no Kaibutsu-kun

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    Após o péssimo Sengoku Collection, o Brains Base, estúdio que vem se destacando nos últimos anos por contornar com criatividade as limitações financeiras, se redimiu ao transcrever para o audiovisual a comédia romântica Tonari no Kaibutsu-kun, primeiro grande hit da autora de mangás para garotas que atende apenas por Robiko.

    Assim como Kimi ni Todoke, projeto anterior do diretor Hiro Kaburaki, com o qual é impossível não traçar um paralelo, Kaibutsu-kun parte de um pressuposto mais velho do que andar pra frente (“opostos que se atraem”) e proporciona uma diversão simples e descompromissada, voltada para adolescentes. Dispondo de um carnaval de cores e personagens carismáticos, a animação, assertiva ao conseguir encaixar melodrama em meio a piadas quase ininterruptas, mostra-se apaixonante.

     6º – Joshiraku

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    Nas discussões totalmente aleatórias que surgem durante os encontros de um grupo de cinco garotas, o gênio do humor Kouji Kumeta, aclamado por Sayonara Zetsubou Sensei, esconde um leque de ácidas criticas não só à atual indústria do entretenimento japonês, levada pelo fenômeno moe ao cúmulo do escapismo, como também à política e às tendências (ou doenças) sociais de sua terra. Esse é o mote de Joshiraku, mangá que muitos acreditavam ser impossível adaptar. Frente a essa descrença, o J.C Staff, estúdio conhecido por irritar fãs ao modificar diversas obras, tinha que fazer desse premeditado erro um grande acerto. E fez. Em um ano muito bom para as comédias, em que tivemos os hilariantes Thermae Romae, Binbougami ga! e Danshi Koukousei no Nichijou, nenhuma outra conseguiu tocar Joshiraku, que, com um humor ríspido, porém inteligente, se sagrou campeão em arrancar gargalhadas.

    5º – Fate/Zero (2nd Season)

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    Corridos alguns meses, a segunda temporada de Fate/Zero veio para fechar a trajetória de uma das Guerras do Santo Graal. Tendo eliminado na primeira parte a necessidade de introduzir personagens e explicar o universo, os 12 episódios restantes se ocuparam de entregar os confrontos épicos, sanguinolentos e imprevisíveis prometidos.

    Contando com a mesma equipe e o mesmo orçamento descomunais do Ufotable, o anime contém, sem sombra de dúvida, as melhores lutas vistas na TV japonesa em 2012. Já no tocante a cenários, fluidez da movimentação e qualidade geral da animação, apenas o já citado Hyouka poderia barrá-lo. Em suma, um deleite visual, que peca apenas por seu final anticlimático.

     4º – Natsume Yuujinchou Shi

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    Tudo o que foi dito no texto do ano passado, quando a terceira temporada do sempre excelente Natsume Yuujinchou recebeu a medalha de bronze, pode ser repetido aqui. Não há muito a acrescentar. Trata-se de uma das mais envolventes séries da atualidade, que, em seu 4º amontoado de 13 episódios, repetiu o feito dos anteriores: encantar o espectador a cada episódio.

    Destoando da dinâmica de “causo da semana” que permeou os anos anteriores, um fio condutor mais nítido fez desta a temporada mais focada no mundo dos exorcistas e na prática de tal ofício – aspectos que eram antes apenas mencionados vez ou outra sem maiores explicações. Por conta disso, para desespero dos fãs que preferem as aventuras breves e autocontidas, arcos de dois ou mais episódios dominaram Natsume Yuujinchou Shi. Contudo, essa pequena alteração não turvou a essência da série.

     3º – Empate:

    JoJo’s Bizarre Adventure

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    O segundo mangá mais longo da história da Shonen Jump, contando com 107 volumes publicados e ainda em produção, já recebera três versões animadas no passado, resultando num fracasso maior que o outro. Quando ninguém mais acreditava que JoJo’s Bizarre Adventure algum dia pudesse ser dignamente adaptado, o pouco expressivo David Production surpreendeu a todos, entregando um dos mais empolgantes e espirituosos títulos do ano. Qual foi o segredo? Um orçamento assombroso, uma equipe imensa e a utilização das mais modernas técnicas de animação? Não! Pelo contrário: pouco dinheiro investido – o que obrigou o time de produção a se virar com uma animação pouco movimentada, que recorreu a onomatopeias soltando na tela e outros recursos criativos para gerar emoção – e fidelidade à obra original foram os trunfos. Resgatando o clima dos animes oitentistas através de seu character design retrô e de uma trilha sonora saudosista – que conta, por exemplo, com Roundabout, da banda britânica Yes –, Jojo’s promove uma oportuna viagem ao passado.

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    Remontando o longínquo ano de 1974, o remake de um dos maiores clássicos de Leiji Matsumoto veio para apresentar às novas gerações uma Space Opera tradicional, com todos os seus clichês e exageros. Em uma guerra interplanetária contra um império expansionista, os tripulantes da espaçonave Yamato devem cruzar a galáxia a fim de encontrar um meio de salvar o que restou da Terra. Amalgamando excelentes batalhas de fragatas cósmicas e personagens que despertam empatia (tanto os mocinhos quanto os vilões), o estúdio Xebec foi feliz ao recontar essa história, que mostra ainda ser atual.

     2º – Uchuu Kyoudai

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    Quando o A-1 Pictures anunciou Uchuu Kyoudai, adaptação do famoso mangá homônimo de Chuuya Koyama, muitos pensaram que um projeto de longo prazo, com no mínimo um ano de duração, e que, por conta disso, se daria ao luxo de dispor de uma narrativa mais lenta, seria difícil e, por que não dizer, chato de se acompanhar semanalmente. Foi assim que pensei na época, admito. Agora, passadas quase 40 semanas, me sinto muito feliz por constatar que quebrei a cara. A falta de pressa, observa no cuidado com que cada personagem, evento e diálogo é construído provou ser o grande atrativo de Uchuu Kyoudai.

    Intercalando passado, presente e futuro num clima novelesco, o anime narra a história de dois irmãos que desde a terna infância desejam se tornar astronautas. Uma vez que o mais novo deles realizou o sonho, o mais velho precisa superar seu ceticismo e encarrar seus medos a fim de não ficar para trás. Fruto de uma ostensiva pesquisa, Uchuu Kyoudai aborda de modo realístico as questões cientificas, assim como aquelas que concernem à rotina das agências espaciais. Desse modo, crível e gradualmente, o anime se tornou parte da rotina de milhares de espectadores, que aguardam ansiosos por mais um capítulo dessa jornada.

    1º – Sakamichi no Apollon

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    Jazz!

    Oito anos após sua última obra-prima, Samurai Champloo, de 2004, Shinichiro Watanabe (Cowboy Bebop; Macross Plus), talvez o maior diretor de animes televisivos de todos os tempos, com o respaldo do Tezuka Productions, decidiu se aventurar em sua primeira adaptação: o romance de época de Yuki Kodama, Sakamichi no Apollon. Passado em 1966, o enredo entrelaça as histórias de jovens que se veem unidos por uma paixão em comum: o jazz. Paixão essa que sabidamente também é compartilhada pela dupla que comandou o projeto; o já citado diretor e a lendária compositora Yoko Kanno, responsável por pontuar musicalmente cada uma das viradas do roteiro.

    Seja em belas composições originais, seja em versões de clássicos de gigantes como Art Blakey, John Coltrane, Miles Davis, Horace SilverDuke Ellington e Chet Baker, a música é a essência de Sakamichi no Apollon, que, ao longo de 11 episódios, reuniu drama, comédia e romance numa homenagem musical, retratando um conturbado período da história do Japão sob uma ótica sensível. Um trabalho de mestre, que não poderia ocupar outra posição.

    Texto de autoria de Alexandre “Noots” Oliveira.

  • Resenha | Dragões de Éter: Caçadores de Bruxas – Raphael Draccon

    Resenha | Dragões de Éter: Caçadores de Bruxas – Raphael Draccon

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    Ao lado de André Vianco e Eduardo Spohr, Raphael Draccon completa a tríade de autores brasileiros de ficção especulativa mais bem-sucedidos dos últimos tempos. Enquanto o primeiro ficou notório pela auto-publicação de Os Sete, vendendo-o diretamente às livrarias no ano de 2000, e o segundo utilizando as redes sociais e a força do podcast do Jovem Nerd, Raphael aqui utilizou-se do caminho convencional, sendo publicado inicialmente por uma grande editora como a Planeta e posteriormente pela gigante portuguesa Leya, a mesma casa do adorado George Martin aqui no Brasil com o seu Guerra dos Tronos.

    Curta sinopse: Nova Éter é um mundo protegido por avatares do semi-deus Criador em forma de fadas. Neste mundo ocorreu um dos mais importantes episódios do passado, conhecido como a “Caçada”, quando caçaram as bruxas liderados por Primo Branford – que acabou se tornando rei, o maior deles. Por 20 anos reina a paz, até que situações esquisitas começam a acontecer: a avó de uma menina é devorada por um lobo em uma floresta, e dois irmãos são atacados por uma bruxa enquanto estavam em uma casa que parecia ser de doces.

    Familiarizados com alguma coisa? Pois é. A utilização dos personagens e situações dos contos de fadas clássicos é ao mesm0 tempo o maior mérito e o maior problema do livro, não em relação ao enredo ou aos personagens, mas sim em propor uma releitura diferente de todas já feitas, criando assim os seus próprios cânones. Neste primeiro livro da trilogia, Raphael se utiliza de alguns personagens clássicos que, misturados à trama política criada, deixam a narrativa livre para fazer o que deseja. Quem é fã da visão infantil dos contos de fadas, por exemplo, deverá achar estranho Chapeuzinho Vermelho, João e Maria falando gírias dos adolescentes contemporâneos ou se envolvendo em outras situações esquisitas.

    Outra grande contribuição é o narrador do livro, que volta e meia conversa com o leitor, comentando várias partes da história. Por exemplo, na página 296: “Estava na hora de todas voltarem para casa, ainda mais porque em breve iria soar o toque de recolher, e isso era motivo suficiente para se dirigirem o mais rápido possível para seus lares. Certo, você e eu sabemos que o toque de recolher havia sido antecipado, mas elas não conseguiriam ouvi-lo de onde estavam“.

    Em outras partes ele até chega a cortar a trama de forma brusca, mas não menos interessante, como na página 113: “Viajaremos agora. Também iremos mexer no tempo e no espaço, pois, se narramos uma história em um local etéreo que só existe porque semideuses pensam nele, também o fazemos no passado, em eventos de sagas que já aconteceram até o momento. […] Confie em mim, vamos, venha. E um, e dois. E três.”

    No entanto, o narrador chega também a antecipar perigos de forma desnecessária, acabando com uma possível revelação surpreendente – por exemplo, na página 332: “Estava muito longe do Rei que imaginava se tornar, mas, sem saber, seu sofrimento estava purificando-o do Rei que deveria um dia ser. E que estivesse errado sobre aquela maldita sensação a lhe dizer que esse dia não parecia tardar a chegar.”

    Por outro lado, Raphael consegue comentar brilhantemente algumas das situações, como na página 309, após mãe e filha serem abordadas por dois soldados no meio da floresta: “E os soldados se olharam e pareceram concordar em silêncio. Ariane ainda não havia entendido o que estava para acontecer a ela e a mãe. Era pura e inocente demais para isso ainda.

    Outro fato a ser comentado é o ritmo da narrativa. Às vezes ganha-se um fôlego enorme em algumas partes, como no ato 3, tornando-a eletrizante até o final do livro e fazendo o leitor querer ler o resto da trilogia logo; mas em outras engessa, podendo fazer perder boa parte do interesse do público, como no final do ato 1 e inicio do ato 2.

    Por último, o clima juvenil na maior parte do livro pode incomodar certos leitores mais velhos, mas deve agradar aos mais jovens. Alguns dos diálogos chegam a ser bobos em certas partes, além da descrição das cenas. No entanto, a seriedade em ambos os casos também acontece, mais para o fim do livro, chegando perto do ato 3.

    Ponto para a Editora Leya por simplesmente dar uma chance ao autor nacional de fantasia, tornando o box Dragões de Éter um dos mais desejados no Submarino, e que já vendeu mais de 100 mil cópias.

    Vale a leitura? Sim, se você quiser conhecer os autores nacionais de fantasia mais vendidos. Ainda mais agora que Draccon se tornou editor da Fantasy – Casa da Palavra, selo da Editora Leya específico para literatura especulativa.

    Texto de autoria de Pablo Grilo.

  • Crítica | Mad Max 2: A Caçada Continua

    Crítica | Mad Max 2: A Caçada Continua

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    Mad Max 2 é um filme com muita ação e movimento que tem enredo simples e eficiente. Nele, ainda temos a visão pós-apocalíptica e futurista do primeiro filme da série, com escassez de combustível e uma sociedade decadente, onde o mais forte prevalece e as pessoas se juntam em comunidades e gangues para sobreviver no deserto de um mundo anárquico e violento, o que proporciona um dos filmes mais implacavelmente agressivos já feito.

    As maravilhosas paisagens desoladas da Austrália, combinadas com a trilha sonora (que não é necessariamente primorosa, mas é marcante), proporcionam ao espectador certa angústia e um tantinho de depressão. Temos ainda aquela estética bem anos 80, de roupas e carros bizarros, que frequentemente são envenenados e fortificados na frente, onde pode-se prender o inimigo (e matá-lo com uma batida frontal).

    Estamos sozinhos com Mel Gibson, uma espécie de pistoleiro de western moderno (que lembra um pouco os personagens de Clint Eastwood), um homem que perdeu tudo, que quase não abre a boca e que, ao decorrer da trama, enfrenta os guerreiros da estrada, que dão nome ao filme e que são ajuntamentos de pessoas com códigos de conduta, lendas e mitos muito particulares. São basicamente gangues de motoqueiros, guerreiros samurais, kamikazes, gangues de rua, vaqueiros, policiais e pilotos que se digladiam pelos recursos escassos de uma comunidade protegida por Max. Isso proporciona muita ação, efeitos especiais primorosos e muita perseguição de carros (e caminhões).

    A experiência proporcionada pelo filme é fantástica. Literalmente somos imersos nesse mundo catastrófico e isso é assustador, nojento e emocionante. Para mim, Mad Max 2 é o melhor filme da trilogia e um marco dos anos 80.

    Texto de autoria de Robson Rossi.

    Ouça nosso podcast sobre Mad Max.

  • Resenha | Filhos do Éden: Herdeiros de Atlântida – Eduardo Spohr

    Resenha | Filhos do Éden: Herdeiros de Atlântida – Eduardo Spohr

    filhos-do-eden-capaFilhos do Éden – Herdeiros de Atlântida foi contado no mesmo cenário do primeiro livro (A Batalha do Apocalipse). E mesmo tendo uma história mais simples, objetiva e melhor narrada, sofreu do mesmo mal de A Batalha do Apocalipse: É cansativo. Mesmo transbordando mistério o tempo todo, o livro cai no clichê em torno dos dois personagens principais (Kaira e Denyel).

    Kaira é um anjo, uma líder de sua casta, que acaba sendo aprisionada no corpo de uma mortal. Ela perde a memória e o enredo começa com seus subordinados indo em sua busca na Terra. Mesmo não se lembrando de nada, os dois anjos que vão buscá-la, conseguem convencê-la de que é um anjo. Durante toda a trama, Kaira só consegue usar seus poderes quando a batalha já está “perdida”. E pronto, o primeiro grande clichê do livro. Denyel é o rebelde bonzinho. Um anjo exilado, forte e habilidoso que tenta se fazer de mal, mas acaba ajudando Kaira e seus amigos na jornada. Particularmente gostei dele, além de ser bem misterioso, é o alívio cômico do livro.

    Diferente do primeiro livro, Herdeiros de Atlântida não é interrompido por longos e entediantes flashbacks. Os poucos que tem, são rápidos e muito importantes para o enredo. Mesmo com uma história relativamente fraca, Spohr usa bem as palavras e teve uma boa sincronia no livro. Acho que por isso, li tudo em 4 dias. O livro tem ação o tempo todo, mesmo no meio de diálogos longos. Esse é grande ponto positivo.

    Um outro ponto positivo da trama são os anjos. O autor não mostra seres divinos, perfeitos e tudo isso que somos acostumados a ver. Em Filhos do Éden, os anjos, em personalidade, são quase tão comuns quanto os humanos.

    Não é que eu não tenha gostado do livro. Achei uma história bem contada, só que fraca, clichê. Personagens muito bem desenvolvidos, que poderiam ser melhor explorados, desenvolvidos. Muitas cenas do livro, sinceramente, são dignas de sessão da tarde. Mas é fato que o Eduardo Spohr corrigiu muitos erros de A Batalha do Apocalipse nesse livro, e provavelmente irá corrigir os erros do segundo, no terceiro.

    Compre aqui.

    – Texto de Jean Dangelo

  • Crítica | Bronson

    Crítica | Bronson

    Produção independente lançada em 2008, Bronson é dirigido por Nicolas Winding Refn (Drive, O Guerreiro Silencioso), co-escrito por ele e Brock Norman Brock, e estrelado por Tom Hardy. O filme é uma biografia altamente estilizada de Michael Peterson, que ficou famoso como “o prisioneiro mais violento – e caro – do Reino Unido”. Já há mais de 30 anos encarcerado, boa parte desse tempo na solitária, Peterson fez a alegria dos tabloides ingleses ao longo dos anos. Seu nome virou sinônimo de episódios violentos, situações com reféns, rebeliões, incêndios e protestos.

    Ainda que vislumbre as motivações e origens da insanidade do protagonista, o foco do filme é na verdade um mergulho na sua perturbada psique. Aproveitando essa figura incompreensível de tão maluca, o diretor opta por uma narrativa surreal, com o próprio Bronson contando sua história diante de uma plateia imaginária e conseguindo a ovação que sempre buscou. Isso porque ele declara que sempre quis ser famoso, mas não tinha talento para atuação ou canto: a única coisa em que sempre foi bom era machucar os outros. Após brigas constantes na escola, Peterson foi preso pela primeira vez aos 19 anos. Assumindo o pseudônimo de Charles Bronson como sua identidade real, ele passou a extravasar toda a agressividade que havia dentro de si e a se sentir confortável atrás das grades, onde a sonhada fama finalmente veio.

    Da mesma forma que em Drive, aqui a direção de Winding Refn é marcante do início ao fim. O surrealismo citado aparece também no modo como os (vários) rompantes de violência são mostrados, sempre com o uso de trilha sonora pesada, seja ela orquestral ou eletrônica (com os sintetizadores típicos dos anos 80, que parecem ser uma obsessão do diretor). Isso confere às cenas um ar de apresentação artística, quase um balé. Com isso em mente, não são absurdas as comparações que Bronson teve com Laranja Mecânica. Antes que os xiitas tenham seus ataques, não estamos falando de genialidade e muito menos de importância na história do cinema. As semelhanças estão na estrutura narrativa e no plot básico de um indivíduo incompreendido que se expressa através da violência.

    Parece haver um consenso entre os críticos de que Bronson faz uma crítica ao culto às celebridades, mas, honestamente, o filme toca muito pouco, ou nada, nesse aspecto. As consequências e repercussões para a sociedade dos atos do protagonista são praticamente ignoradas. Muito mais pertinente seria apontar sua reflexão sobre a incapacidade da sociedade em lidar com alguém tão incomum: após sua “reabilitação” fracassar tanto em prisões quanto em instalações psiquiátricas, o governo chega ao absurdo de libertá-lo com um falso atestado de sanidade – o que obviamente não dura muito. Outra crítica, sutil ou nem tanto, é em relação à condescendência que os pais de Peterson sempre demonstraram para com ele, desde sua infância problemática.

    Tais observações, porém, são muito subjetivas e restritas à interpretação de cada espectador, uma vez que a atenção do filme é voltada toda para o próprio protagonista. Isso permite que Tom Hardy brilhe na composição do personagem, entre overactings propositais e justificados e uma expressão corporal assustadora (reconhecível no Bane que ele faria mais tarde). Mesmo não possibilitando nenhuma empatia, o Bronson dele consegue captar toda a atenção do espectador, sem dúvida ajudado pela claustrofóbica direção que nos mantém incomodamente próximos a ele o tempo todo – inclusive nos momentos mais desagradáveis.

    Único ponto a se lamentar, a ausência de alguns episódios mais doidos da vida de Bronson, como suas exigências malucas (certa vez pediu uma boneca inflável, uma xícara de chá e um helicóptero como resgate) e sua conversão e rápida “desconversão” ao islamismo. Provavelmente situações mais engraçadas foram deixadas de lado em nome da proposta de contar a história sob o viés psicológico. Nada que comprometa este filme perturbador, com direção e atuação poderosas.

    Texto de autoria de Jackson Good.

  • Resenha | Sociedade da Justiça – Vol. 01

    Resenha | Sociedade da Justiça – Vol. 01

    Sociedade da Justiça - 01
    O famigerado reboot há pouco promovido pela DC tinha claramente um, e, a despeito de qualquer desculpa que tenha sido lançada aos fãs, apenas um objetivo: catapultar as vendas da editora e torná-la novamente competitiva frente à sua maior rival, a Marvel. Tal objetivo foi alcançado com louvor, sendo um dos principais motivos o fato de a reformulação ter permitido que o novo leitor, que se sentia intimidado perante o caos que então imperava na cronologia da editora, finalmente ingressasse nesse universo.

    Na antiga conjuntura do universo DC, havia de fato pouquíssimas histórias que serviam de ponto de ingresso adequado para o leitor que pouco ou nada sabia sobre o mundaréu de aventuras já enfrentadas por determinado herói ou grupo de heróis. Entretanto, a “faxina criativa” acabou por apagar não só essas raras, mas ainda louváveis, fases que podiam ser assimiladas por alguém que nunca antes tivera contato com quadrinhos, como também as não tão raras boas histórias idealizadas ao longo das muitas décadas de prevalência da antiga ordem cronológica. E Sociedade da Justiça nº 01, encadernado lançado pela Panini em abril de 2011, amalgama ambas as coisas – o que, infelizmente, não vale muita coisa no atual momento.

    A revista reúne do 30º ao 35º número da terceira série da Sociedade da Justiça da América, que perdurou de 2006 a 2011. O volume conta com os dois primeiros arcos escritos por Bill Willingham, criador da premiadíssima série Fábulas, em sua curta passagem pela revista. No primeiro e mais interessante deles, Sementes Ruins, vemos uma equipe ainda imatura, chefiada por alguns heróis do primeiro escalão – Flash (Jay Garrick), Lanterna Verde (Allan Scott), Pantera (Ted Grant), principais responsáveis por essa nova formação, e alguns outros como a Poderosa –, mas composta principalmente por buchas de segunda e terceira categoria – Mr. América, Homem-Hora, Rajada, Tempestade e Mestra Judoca –, lidar simultaneamente com três perigosas ameaças: um bem-arranjado ataque de diversos vilões, a infiltração de um inimigo desconhecido que propaga insegurança e medo dentro do time, e um racha interno provocado pelas discrepantes visões dos veteranos e dos heróis do novo século para com o papel das equipes de super-humanos na sociedade.

    Competente ao intercalar as três tramas, o roteiro acaba por agradar a leitores com diferentes interesses. Os fãs da boa e velha porradaria não se decepcionam, ao passo que tanto aqueles que buscam por um mistério que perpasse a aventura quanto os que esperam visões mais frescas sobre o mundo dos heróis – aqui presenteados com um instigante debate sobre a funcionalidade das super-equipes dos velhos tempos, “clubinhos sociais felizes”, como descrito na própria revista, em um mundo cada vez mais militarizado – também sairão satisfeitos.

    Já o segundo arco, Impiedoso, consiste num episódio blasé, em que os heróis encarram e derrotam, sem grandes dificuldades, um mago poderoso, porém não muito astuto. Embalados pelos consistentes e detalhados – em níveis diferentes, é claro – traços de Jesús Merino e Travis Moore, respectivamente, esses dois arcos compõem um encadernado divertido, que pode ser apreciado por ávidos consumidores ou por novatos no mundo dos quadrinhos, como este que vos escreve.

    Que o material é bom, isso é. Mas cabe ao leitor responder a seguinte questão: uma boa história – e nada além disso – situada na antiga cronologia, e que, portanto, de nada mais vale no universo DC, ainda merece ser consumida, ou os trâmites editoriais jogaram no lixo não só os esforços criativos de diversos realizadores, como também o valor a eles agregado?

    Texto de autoria de Alexandre “Noots” Oliveira.

  • Resenha | Reis do Rio – Rafael Lima

    Resenha | Reis do Rio – Rafael Lima

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    Há pouco tempo eu tinha prestado atenção e ficado de olho no romance de Rafael Lima, Os Reis do Rio, lançado pela Editora Draco na metade deste ano. O motivo é um só: se passa em um mundo apocalíptico anos após um inverno nuclear, mas nesse caso não é em uma pequena cidade estadunidense, a trama se passa em um Rio de Janeiro destruído por armas nucleares. Sim, isso mesmo, o ambiente de um futuro nuclear é o Rio de Janeiro. Só pela coragem de colocar a realidade de uma cidade brasileira neste mundo varrido pelas bombas o livro já merece ser lido e o autor parabenizado.

    Pequena sinopse: William Costa, mais conhecido como Will, sai em busca do seu irmão Eduardo, que foi sequestrado pela Radius, organização que reina sob o caótico Rio de Janeiro de 2189. Morador do bairro afastado de Grota IV, Will sai acompanhado de Lia, namorada de Edu e Ulisses, um tiziu, rumo a cidadela de Iraputã, base da Radius, na aparente missão suicida de resgatá-lo, entre armas de plasmas e harpias.

    O livro tem uma leitura bem ágil e um bom ritmo. O ótimo trabalho de edição priorizou as cenas dramáticas e de ação, permitindo com que a narrativa diminua em poucos momentos para voltar ao crescente logo depois. Em especial, a sequência do bosque descrita no capítulo 7 é simplesmente de tirar o fôlego, uma das mais bem escritas cenas de ação em um livro que eu já li, o Jackson vai adorar o massaveístico da cena. Entretanto, duas ressalvas: boa parte das cenas de ação ao longo do livro poderiam ser um pouco mais descritivas ao invés de contadas, p. ex, na página 201, ao invés de “Pelo retrovisor, o […] viu os […] dispararem mais algumas vezes. Depois, executarem […] com uma bala na cabeça”, Rafael poderia relatar que: “viu pelo retrovisor chegarem perto dele, aproximarem a arma e atirar na sua cabeça”; outro incômodo é a falta de explicações posteriores para as siglas que aparecem constantemente durante a narrativa, p. ex: GTOE, RRL, por várias vezes o leitor pode vir a se confundir e se esquecer o que elas são.

    Outro ponto positivo são os diálogos. O autor abusa de expressões atuais da realidade dos cariocas, tornando a maioria dos diálogos coloquiais que soam verídicos para o leitor, eis um exemplo: “Vou esquentar uma carninha de gato. Você quer?” (pág 193). Talvez quem não for muito familiarizado com o carioquês pode se sentir incomodado. Também há poucos diálogos que soam falsos, mas são poucos, p. ex, na explicação de um personagem (pág 139), que apesar de interessante é explicativa demais. Vou evitar colocá-la aqui para não dar spoilers.

    Quem conhece o Rio de Janeiro vai gostar bastante de saber o que aconteceu com os principais pontos turísticos da cidade. Novamente, para não estragar a experiência do leitor, vou evitar colocá-los aqui, mas saiba que os principais pontos estão lá, e o que aconteceu a um deles em especial é simplesmente fantástico. Para quem não conhece a geografia da cidade, faltou um mapa para situar melhor o leitor, o que pode ser um incômodo.

    Por último, a obra é muito bem escrita e a narrativa fluente deve agradar. Temos ao longo do livro alguns trechos interessantes, tais como: “o […] sentia-se, de uma forma jamais experimentada, livre para fazer o que sabia de melhor. O que nascera para fazer. Livre para escrever, naquele terreno maculado por gritos de dor, sangue e cheiro de carne queimada, seu poema mais belo. Cada farda negra tombada, um verso, que rapidamente formavam estrofes, repletas de tropos fumegantes” (pág 253).

    Porém, para quem busca maiores reflexões, faltaram mais camadas no livro. Relacionando com The Walking Dead, que após o arco da prisão se revela a premissa do Robert Kirkman: os vivos são piores ameaças aos sobreviventes do que os próprios zumbis em um mundo pós-apocalíptico, aqui faltou uma maior reflexão do autor com a obra, ou perguntas e/ou questionamentos maiores que poderiam ser gerados a partir de alterações nas situações chaves ao longo do livro.

    Mais um ponto para a Editora Draco pelo excelente tratamento gráfico da capa e competente acabamento das partes internas, deixando a leitura agradável, ainda mais com o tipo de papel escolhido; e também por apostar no livro do Rafael Lima, ampliando mais ainda o seu já extenso catálogo de literatura especulativa.

    Vale a leitura? Sim, se o leitor for do Rio de Janeiro ou familiarizado com a geografia e os costumes cariocas, ou simplesmente para quem quiser aproveitar a experiência de um mundo pós-apocalíptico no Brasil, o livro é bastante abrangente, não se restringindo ao nicho pós-apocalíptico.

    Texto de autoria de Pablo Grilo.

  • Resenha | Savage Dragon: Unidos

    Resenha | Savage Dragon: Unidos

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    Está de volta ao Brasil um dos mais clássicos personagens da Image, com o encadernado Savage Dragon – Unidos, lançado recentemente pela Mythos Editora. Publicado ininterruptamente nos EUA desde 1993, o fortão verde com barbatana na cabeça nunca deu muita sorte por aqui: teve apenas uma breve série mensal nos anos 1990 e alguns especiais (quase sempre crossovers com heróis da Marvel ou da DC). O diferencial de Dragon é que ele é até hoje escrito e desenhado por seu criador, Erik Larsen, sendo assim um recorde nos quadrinhos norte-americanos.

    Neste especial, Dragon se junta a outros personagens da Image (Spawn, Witchblade, Shadowhawk e Invencível) para deter o Solar Man, um poderosíssimo super-herói que resolveu exterminar todos os criminosos do mundo, sem ligar para os inocentes pegos no fogo cruzado de sua jornada. A história tem bons conceitos, principalmente ao evidenciar que o vilão é uma das inúmeras versões/paródias do Superman que existem nas HQs, além de momentos bem-humorados típicos das aventuras do Dragon. Por outro lado, há alguns sérios problemas no que diz respeito à acessibilidade para os leitores.

    O encadernado não traz uma minissérie, ou mesmo uma “nova fase” preparada para angariar um novo público: é simplesmente um compilado das edições 139 a 144 da série mensal do personagem. Dessa forma, alguns subplots que vinham sendo trabalhados nas histórias anteriores (que não foram publicadas no Brasil) tomam espaço. E, como a aventura principal se concluiu na metade do especial, o restante é um grande fechamento de coisas como o sumiço da esposa e do filho do herói. Fora isso, temos vários personagens dando as caras sem serem apresentados, além da verdadeira zona que é o universo Image, com seus “subuniversos” onde cada autor trabalha como quer e cria zilhões de heróis irrelevantes só pra coadjuvar. A opção da Mythos foi apostar que estampar na capa outros personagens conhecidos ajudaria a vender, mas para o leitor talvez fosse mais palatável lançar as histórias seguintes do título, em que realmente há um recomeço na vida do Dragon.

    Sobre o trabalho de Larsen, é interessante frisar o seu desde sempre assumido estilo “free style” ao criar os roteiros. O autor sempre declarou improvisar saga a saga, sem grandes planejamentos, o que lhe confere maior liberdade para produzir. Claro que tal postura só é possível na Image, onde os criadores realmente mandam no que fazem (imagine isso acontecendo nas gigantes DC e Marvel). Se o fôlego criativo se mantém mesmo após quase vinte anos a frente da sua criação, nos desenhos a história infelizmente é outra. Seja por cansaço ou pelos implacáveis prazos mensais, Larsen simplificou ao máximo seu traço. Ainda que faça alguns quadros inspirados (que lembram até Frank Miller nos bons e veeeelhos tempos), no geral ele se aproxima do rústico, inclusive com a ausência do cenário de fundo.

    Apesar das falhas, Savage Dragon – Unidos pode ser uma forma de conhecer o personagem e experimentar um tipo mais descompromissado (sem cair na galhofa) de super-herói. Fica a expectativa por mais material dele em terras brasileiras.

    Texto de autoria de Jackson Good.

  • Resenha | Um Lugar na Janela – Martha Medeiros

    Resenha | Um Lugar na Janela – Martha Medeiros

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    Martha Medeiros é famosa por suas crônicas em revistas femininas e livros que já foram adaptados para filmes e séries de televisão. Seus textos são leves, íntimos, como se ela conversasse com uma amiga em um café e esse é exatamente o espírito de Um Lugar na Janela.

    Nesse livro, a autora reúne crônicas sobre suas muitas viagens. O livro começa com um relato detalhado da primeira experiência dela na Europa, de mochila, dormindo na casa de amigos de amigos, movida a pouco dinheiro e muita cara de pau. Em seguida, seguem-se relatos menos exatos, apenas pequenos apanhados de sensações de lugares como Roma, Santiago, Nova York e Tóquio.

    Desde o início Martha deixa claro que não se trata de um guia de viagens, que ali não serão encontradas dicas de hotéis ou restaurantes, apenas suas impressões, pensamentos, uma espécie de diário de viagens. No fundo, esse diário narra também a vida da escritora: sua jornada de menina que dormia no sofá de dois lugares da casa de alguém que nunca viu à mãe de duas adolescentes sendo carregada por elas por Tóquio.

    Se é interessante ver um relato tão emocional de cidades tão conhecidas, em diversos momentos a personagem Martha assume demais o papel central das histórias. Na maior parte do tempo não é da cidade que ela está falando, mas dela mesma e embora Martha seja uma personagem simpática e agradável, no fim de cada crônica a sensação é que vimos muito pouco da cidade que, a princípio, deveria ser o tema e personagem principal.

    No final, Um Lugar na Janela é um livro agradável, com uma narradora que conversa com o leitor como um amigo muito antigo e muito querido, contando suas sensações e lembrança de alguns dos lugares mais famosos do mundo. No entanto, justamente  a presença da narradora torna tudo um pouco superficial e deixa pouco lugar ao que realmente esperamos ver nesse livro: lugares diferentes do mundo. Não é bem um lugar na janela, é mais um lugar na sala de estar de Martha Medeiros ouvindo suas aventuras. Ainda assim, é um livro simpático, bem escrito e honesto, um possível bom livro para se levar a uma praia ou uma viagem.

    Compre aqui.

    Texto de autoria de Isadora Sinay.

  • Crítica | Abaixo de Zero

    Crítica | Abaixo de Zero

    Em 1985, Bret Easton Ellis chocou todo um público quando lançou seu primeiro romance “Less Than Zero” (Abaixo de Zero na tradução nacional), o qual mostrava de uma forma diferente, pessimista e quase agressiva a classe de pessoas com maior poder aquisitivo na sociedade. Em 1987, o diretor Marek Kanievska faz uma adaptação homônima e leva a visão de Ellis para os cinemas.

    Abaixo de Zero conta a história de três jovens que se formaram juntos no Ensino Médio: Julian (Robert Downey Jr.), Clay (Andrew McCarthy) e Blair (Jami Gertz). Após vários anos distante de seus amigos, por ter ido para a Universidade, Clay é chamado por sua ex-namorada, Blair, para visitá-los. Chegando de volta à sua terra natal, Clay encontra seu amigo Julian completamente entregue ao vício por drogas e tenta ajudá-lo.

    A primeira coisa a se dizer de Abaixo de Zero é que o filme é um soco no estômago. Marek é bem sucedido ao adaptar a realidade de jovens ricos, mas que se entregam a uma vida de sexo e drogas em excesso, ausentes de qualquer esperança. É exatamente isso que se trata este filme: a falta de esperança. Esta ganha forma pelo fato de que é praticamente impossível fazer um viciado largar o seu vício.

    O filme apresenta várias cenas significativas que constroem a atmosfera decadente da narrativa. A atuação de Robert Downey Jr. é arrebatadora ao interpretar Julian que, além de viciado, foi expulso de casa e está devendo uma grande quantia em dinheiro para seu traficante. Seu personagem vai se mostrando cada vez mais ao longo do filme, mostrando devagar ao expectador o quão fundo ele está dentro do poço e o que faz para conseguir um pouco de droga. Os sentimentos são fortes e expressivos por parte do ator a retratar tudo isso. McCarthy e Gertz não são excepcionais, mas cumprem uma atuação satisfatória para seus personagens, desesperados ao ver um amigo decadente e tentando ajudá-lo.

    Toda essa decadência do personagem Julian se contrapõe, durante toda a extensão do filme, com as ambientações de Los Angeles, Bel Air e Palm Springs. Mansões, ruas limpas, carros caríssimos, glamour. Dentro de todo esse lugar visualmente intocável, a existência de elementos de podridão. Jovens que representavam “o futuro da nação” completamente entregues à aceitação da decadência de suas vidas.

    Abaixo de Zero é forte e expressivo. Todos os elementos do filme são muito bem colocados em sintonia com sua narrativa, o que o torna mais significativo ainda.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.

    Ouça nosso podcast sobre Bret Easton Ellis.

  • Crítica | Regras da Atração

    Crítica | Regras da Atração

    Regras da Atração, baseado no livro homônimo de Bret Easton Ellis e dirigido por Roger Avary e considerado um dos trabalhos mais significativos do mesmo como diretor. Assim como os demais trabalhos de Ellis, vai se focar em uma geração perdida e vazia, de jovens ricos, os quais se entregam às drogas e ao sexo.

    A história do filme vai se envolver nos conflitos e confusões amorosas de alguns jovens: Sean (interpretado por James Van Der Beek), traficante de drogas na universidade de New Hampshire, o qual é apaixonado por Lauren (Shannyn Sossamon), que está guardando sua virgindade para Victor (Kip Pardue), o qual já namorou Paul (Ian Somerhalder), que por sua vez só possui olhos para Sean.

    Durante toda a narrativa, somos apresentados aos fatos através dos olhos de Sean, Lauren e Paul, muitas vezes inclusive repetindo algumas cenas com o intuito de mostrar as mesmas situações, mas dos olhos de cada um deles. Essa é a primeira coisa a se dizer sobre o filme, o qual explora esses momentos com vários recursos divertidos e muito válidos à trama. Temos a “rebobinação” de cenas e o uso de “Split-screen” (tela dividida em duas). Em uma das cenas, duas câmeras se encontram e se unem a partir do momento em que Sean e Lauren se encontram também. Alguns momentos do filme são muito significativos e mesclam bem ao jogo de câmeras utilizados.

    Alguns podem achar que se trata de mais um filme do estilo de “American Pie”, mas aqui cabe uma ressalva, pois Regras da Atração não busca apenas mostrar o lado divertido da vida de jovens pansexualistas. Breast Easton Ellis é conhecido por retratar uma geração vazia de uma juventude entregue aos prazeres e a efemeridade da vida.

    Por mais que Regras da Atração possua esse lado divertido, temos situações que beiram o desesperador. Sean recebia cartas de uma admiradora secreta, a qual acreditava ser Lauren. Em determinado momento do filme uma garota completamente desconhecida ao espectador se mata em uma banheira, em uma das cenas de suicídio mais significativas que pude ver em filmes – e não pelo explícito da cena, mas pelo o que ela passaria a significar. Em flashbacks o diretor nos mostra a garota em dezenas de cenas anteriores do filme, porém em posições secundárias. Avary nos faz sentir que assim como Sean havia ignorado a a existência da sua real admiradora secreta no seu dia a dia, nós também a ignoramos. Os espectadores eram cúmplices de Sean ao fazê-la se sentir extremamente solitária, perder as esperanças e se matar.

    Tudo o que acontece leva a um fim onde todos os personagens acabam se entregando para a própria decadência e se conformando com ela. Regras da Atração é uma jornada a um mundo de jovens irreverentes e sem escrúpulos. As atuações são significativas para somar positivamente à narrativa deste filme. Avary adaptou muito bem os sentimentos, os quais Ellis é conhecido por passar em suas obras.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.

    Ouça nosso podcast sobre Bret Easton Ellis.

  • Resenha | Casanova: Luxúria

    Resenha | Casanova: Luxúria

    “Bem-vindo ao mundo de Casanova! Cornelius, seu pai, é o diretor supremo da I.M.P.E.R.I.O., uma força-tarefa internacional que mantém brutalmente a paz e a ordem por toda a Terra. Sua irmã gêmea, Zephyr, é a principal agente da I.M.P.E.R.I.O. e investiga uma perturbação no tecido do continuum do tempo-espaço.

    Todo o planeta está sob a jurisdição da família Quinn; toda lei é cumprida por sua vontade. E Casanova Quinn pretende destruir todos eles ao mesmo tempo…”

    Casanova: Luxúria é o primeiro arco desta série, sucesso de crítica nos EUA e Europa, assinada pelas mãos de Matt Fraction nos roteiros e Gabriel Bá (Daytripper) na arte. Somos apresentados a uma história de ficção científica de espionagem, recheada de humor, conspirações mundiais e espionagem ao melhor estilo James Bond. Impossível não comparar o carisma de Casanova Quinn com o 007 de Sean Connery.

    A arte de Gabriel Bá, responsável pelas ilustrações do premiado Umbrella Academy, é fluida e se encaixa perfeitamente à história proposta por Fraction. As belíssimas cores de Cris Peter criam harmonia para a arte de Bá, tornando-a mais significativa ainda no contexto da história. Ao final do encadernado, temos alguns comentários de Gabriel Bá e Cris Peter contando como foi escolher a paleta de cores e de que forma ela contribui para a narrativa.

    Tirando o preço alto do encadernado, o material vale muito a pena não só pelo seu conteúdo, mas também pelo acabamento gráfico impecável realizado pela Panini Books. As aventuras de Casanova Quinn são bem-vindas em terras tupiniquins.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.

  • Crítica | Psicopata Americano

    Crítica | Psicopata Americano

    Psicopata Americano não foi um sucesso notável de bilheteria, mas acabou se firmando como um dos filmes mais cultuados do cinema contemporâneo. O misto de violência, cultura pop e a atuação memorável de Christian Bale tornaram o filme uma espécie de clássico cult e referência para o cinema independente.

    Psicopata Americano conta a história de Patrick Bateman, um jovem executivo de Nova York que esconde fortes tendências assassinas. De dia, Bateman senta em seu escritório, almoça no clube e compara cartões de visita, durante a noite ele tortura e esquarteja prostitutas e rivais.

    O personagem de Bateman é apresentado enquanto realiza sua rotina cosmética diária. A precisão com que ele cita cada passo e principalmente cada produto, e a luz dourada que enquadra Bale como uma espécie de quadro ou deus grego deixam claro o que é Patrick Bateman: uma imagem. E no plano final da sequência, ao simbolicamente retirar uma máscara do seu rosto, o personagem confessa que sabe disso.

    Patrick Bateman é uma imagem, uma casca cuidadosamente construída, mas sem nada do lado de dentro. Nada, exceto a obsessão com essa imagem. A cena em que diversos executivos comparam seus cartões de visita é didática: eles são todos iguais, ainda assim cada um precisa ser o melhor.

    O filme é extremamente irônico e o distanciamento de Bateman é tratado de forma precisa e sutil, com destaque para os momentos em que ele discorre longa e academicamente sobre bandas da época, enquanto assassina alguém, assiste duas prostitutas transando ou se prepara para torturá-las. Mary Harron, a diretora do filme, acerta ao contar a história pelo ponto de vista de Bateman sem avisar o espectador disso, o que permite a surpresa e ambiguidade finais.

    A ironia confere ainda um ar absurdo a coisa toda: a violência de Bateman se torna extremamente caricata e no final até improvável; a forma como ele nunca faz nada em seu escritório, exceto palavras cruzadas; a noiva, interpretada por Reese Whiterspoon, que podia facilmente ser a “barbie anos 80”. O filme é uma crítica ácida, mas irônica, que equilibra violência e humor e talvez por isso tenha se tornado tão comentado.

    A direção de arte, os enquadramentos e a trilham reforçam a caricatura. Os figurinos são exatamente aquilo que diz o estereótipo dos anos 80, a direção usa planos e recursos datados, como o zoom e efeitos de transição na montagem e a trilha parece algum tipo de compilação de “top hits” da época. Tudo é extremamente anos 80, os yuppies, a cocaína, as roupas.

    Psicopata Americano critica fortemente o capitalismo e uma sociedade obsessivamente voltada para a imagem. Mas o faz de forma sarcástica e quase auto-acusatória (afinal, o cuidado da direção de arte do filme ecoa o de Bateman com seu corpo), ao contrário do que David Cronenberg fez em Cosmópolis, Psicopata Americano não se apoia em discursos, mas na imagem. Isso tudo, quando aliado ao final duvidoso do filme, parece querer falar de uma loucura que não é só de Bateman, mas própria do sistema.

    Texto de autoria de Isadora Sinay.

    Ouça nosso podcast sobre Bret Easton Ellis.

  • Resenha | Extraneus Vol. 3 – Em Nome de Deus

    Resenha | Extraneus Vol. 3 – Em Nome de Deus

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    Convenhamos que discorrer acerca das atrocidades que nossos semelhantes cometeram e continuam a cometer em nome de um Deus, seja ele qual for, não é exatamente algo original. Entretanto, destoando de vampiros, lobisomens e guerreiros de capa e espada, o reflexo da crença no divino na vida mundana é uma temática desbravada ainda timidamente, que não se encaminha para o eminente esgotamento, tampouco se tornou blasé – e talvez isso jamais ocorra. Por quê? Ora, porque alienação, loucura, crueldade e demais mazelas que podem ser desencadeadas pela religiosidade são assuntos incômodos; inconvenientes dispensados por muitos. E é justamente esse o pertinente desconforto que os quatorze contos que compõem o terceiro volume da Série Extraneus, Em Nome de Deus, vem trazer ao leitor em suas 109 páginas.

    Narrativas dramáticas, de horror e suspense se intercalam nessa breve antologia, que abarca autores de diferentes idades e localidades, com diferentes bagagens culturais e visões de mundo, e que, consequentemente, expressando-se em diferentes estilos. O virar da última página de cada conto desperta certa apreensão, pois não se sabe o que virá a seguir; podemos desembarcar num futuro próximo ou na Lisboa do século XVIII. Assim sendo, a diversidade de experiências promovida pelo livro é, sem dúvida, seu maior mérito.

    Porém, embora a proposta e o formato dados à obra sejam acertados, seu conteúdo deixa a desejar. Em Nome de Deus dá seu primeiro tropeço logo na 11ª página, na qual tem início o conto O Trevo de Quatro Folhas, o primeiro do conjunto. O “defeito” do texto – que não diz respeito ao escrito em si, mas à sua disposição na coletânea – chega a ser tragicômico: a estória contada por Bethania Amaro é de uma desenvoltura e sensibilidade que o leitor não tornará a ver no restante do volume, ou seja, por ser o mais factível, o mais surpreendente e, ao fim e ao cabo, o melhor conto do apanhado justamente o primeiro deles, as narrativas subsequentes acabam por ser prejudicadas.

    A partir daí, ainda que premissas interessantes se perpetuem por todo o volume, como nos intrigantes cenários criados por Eric Novello em Dúvida em Tânatos, ou por Fernando Salvaterra em Depois do Mar, falta aos autores a habilidade para quebrar os protocolos da linguagem demasiadamente rebuscada, travada, que jamais vemos aplicada no cotidiano, e das descrições didáticas. Longe da maturidade de um Joseph Conrad ao tratar da religião, boa parte dos contos se resume a sermões pessimistas, que, por vezes fugindo para o macabro, também falham em evocar com palavras a atmosfera encontrada nos relatos das referências imediatas do gênero, como Edgar Allan Poe e H. P. Lovecraft.

    A essência de Extraneus Vol. 3 – Em Nome de Deus é facilmente encontrada, quer analisemos a disfuncional e pouco criativa distopia apresentada em Determinação, Fidelidade, Sacrifício – Amém, de Daniel Cavalcante, que reproduz ideias que vão de George Orwell a Alan Moore, mas sem o brio dos originais, quer peguemos o insosso Um Lobo às Ovelhas, de Marcelo Augusto Claro, que mais lembra a construção do background de um personagem qualquer de uma aventura de RPG do que um registro literário. A ideia era boa. Já o que se fez dela, nem tanto.

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    Texto de autoria de Alexandre “Noots” Oliveira.

  • Crítica | O Homem da Máfia

    Crítica | O Homem da Máfia

    Andrew Dominik chamou atenção em 2007 ao revisitar o western, um gênero praticamente esquecido, com o excelente O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford. A direção sóbria e a crueza de Dominik injetaram frescor na fórmula e, a partir de então, alguns diretores consagrados – notavelmente os irmãos Coen – voltaram a olhar para um tipo de filme até então ultrapassado.

    Em O Homem da Máfia, Dominik novamente se volta pra um gênero fora de moda e o moderniza com uma direção precisa e eficiente. A trama se foca em Jackie (Brad Pitt), uma espécie de investigador da máfia chamado a uma cidade não identificada para investigar o assalto a uma casa de carteado. O filme se passa durante a primeira campanha de Barack Obama para a presidência, no auge da crise econômica que atingiu os Estados Unidos e principalmente os bancos e instituições financeiras de Wall Street. Esse pano de fundo está sempre presente, fazendo um paralelo com a história apresentada.

    Assim que Jackie entra em cena, fica claro que a máfia de Dominik não é a de Copolla: aqui não existem valores de nenhum tipo, nenhuma consideração familiar, e o método frio, burocrático e eficiente do protagonista claramente vem tomando o lugar das investigações e ferramentas tradicionais. Segundo Jackie, os Estados Unidos não são um país baseado em comunidade, solidariedade ou qualquer um dos valores apregoados por Obama; se trata, pura e simplesmente, de dinheiro e negócios.

    A visão política do diretor é muito clara durante todo o filme; no entanto, ele nunca se torna panfletário ou didático. Dominik é claramente um republicano, mas sua posição está costurada na trama, tanto no desenrolar da história quanto nas falas de seu personagem principal. É um filme pessoal, autoral e político, mas é também um belo filme de máfia.

    A fotografia escura e cinzenta lembra o tempo todo ao espectador que se trata de um mundo devastado e uma instituição decadente. A montagem é rápida, mas rígida, sem espaço para cenas desnecessárias ou cortes que desorientem o espectador: é um filme firme, austero, no roteiro e na linguagem. Essas escolhas são aliadas a interpretações excelentes (Brad Pitt é de uma precisão absurda) e provam que Dominik é um diretor extremamente competente e que caminha para grandes filmes.

    O Homem da Máfia não chega a ser um filme tão bom quanto O Assassinato de Jesse James, mas é competente, firme e tem a qualidade muito rara de articular perfeitamente as opiniões de seu diretor à trama. A visão cínica e controversa de Dominik e o brilhantismo técnico com que ele conduz seus filmes o apontam como um dos diretores mais interessantes da atualidade.

    Texto de autoria de Isadora Sinay.

  • Resenha | O Incrível Cabeça de Parafuso e Outros Objetos Curiosos

    Resenha | O Incrível Cabeça de Parafuso e Outros Objetos Curiosos

    Mike Mignola um dia teve uma ideia para um brinquedo: “Um robô com a cabeça semelhante a uma lâmpada, que se encaixaria em diversos corpos”. Dessa ideia surgiu o Cabeça de Parafuso, personagem que protagoniza a história principal que dá nome ao álbum, composto por seis pequenas histórias em quadrinhos.

    “Máquinas voadoras vitorianas, uma cabeça mecânica, roubos de tumbas, fantasmas, bruxas, marionetes, alienígenas e vegetais gigantes: um vertiginoso desfile de curiosidades encontra-se reunido nesta coletânea.”

    O Incrível Cabeça de Parafuso e Outros Objetos Curiosos conta com duas histórias ganhadoras do Eisner Awards: O Incrível Cabeça de Parafuso,vencedora da categoria Melhor Publicação de Humor do Eisner 2002, e O mágico e a cobra, vencedora do Eisner por melhor história curta. Só esse fato por si só demonstra o quão valioso é este compilado de histórias. Porém, trata-se de um trabalho que pode causar um pouco de estranhamento para aqueles que não estão familiarizados com o trabalho de Mike Mignola, que é mais conhecido por ser o responsável por criar o Hellboy.

    Mignola possui uma arte peculiar e sombria, que se completa brilhantemente dentro de suas narrativas influenciadas por uma atmosfera de terror, obscurantismo e mistério. Mignola é único. Alguns podem considerar histórias como Na capela dos objetos estranhos e A bruxa e sua alma superficiais, mas têm bastante significado no universo que o autor vem desenvolvendo desde o início de sua carreira. Esta pode não ser a obra mais importante de sua vida, mas com certeza é obrigatória para todos os seus fãs, que se envolvem em seu universo oculto e misterioso.

    O preço do encadernado de fato é alto, porém ele possui um acabamento gráfico impecável. Ao final, temos 11 páginas de esboços e anotações do autor, que vão deixar qualquer fã extremamente satisfeito.

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    Texto de autoria de Pedro Lobato.

  • Resenha | Sombras e Sonhos – Álvaro Domingues

    Resenha | Sombras e Sonhos – Álvaro Domingues

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    Sombras e Sonhos é o livro de estreia do autor Álvaro Domingues. Atuante no meio da ficção científica e autor do Blog do Pai Nerd, Domingues sempre cavou o seu espaço em sites e revistas técnicas para publicar contos que investigam a fundo a mente humana até reunir material suficiente para um livro.

    Em Sombras e Sonhos, 38 textos – entre contos, micro-contos e um poema – compõem um trabalho que explora anseios, temores, mitos e descrenças humanos. O resultado é uma ficção científica sui generis, caracterizada pelo lirismo e pela paixão dos textos e de seus personagens.

    Álvaro Domingues é um autor que demonstra experiência em sua forma de escrever. É facilmente perceptível ao ler “Sombras e Sonhos” a segurança com que o autor escreve e descreve os mais variados sentimentos presentes na vida de nós seres humanos. Surpreende o fato de que esta é a sua primeira publicação em forma de livro.

    “Sombras e Sonhos” é um livro que não só explora sentimentos, mas os recônditos da mente humana. Impossível passar pela ficção do livro sem acabar encontrando pensamentos, sentimentos e anseios familiares ao nosso cotidiano. Domingues beira o intimismo.

    O livro é composto por contos, poesias e, principalmente e micro-contos. Por esse fato, carrega simplicidade em sua forma, mas substância em seu conteúdo. Algumas histórias acabam sendo prejudicadas pela simplicidade, pois poderiam se desenvolver e envolver mais, o que não afeta a qualidade da obra como um todo. Domingues é com certeza um autor a prestar atenção.

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    Texto de autoria de Pedro Lobato.

  • Crítica | Frankenweenie

    Crítica | Frankenweenie

    Baseado em seu curta metragem homônimo de 1984, Tim Burton retorna às suas raízes no remake de um dos seus primeiros trabalhos como diretor em uma homenagem aos clássicos filmes de terror cult da história do cinema (Veja aqui).

    Frankenweenie conta a história de Victor e seu cachorro Sparky, que após ser atropelado em um acidente de carro, é trazido de volta à vida pelo seu dono, que é aficionado por ciências. Desde 2005 Tim Burton não fazia mais animações em stop motion (Noiva Cadáver), porém volta com o diferencial de ser produzido inteiramente em preto e branco e

    Como de praxe, a trilha sonora de Danny Elfman é certeira ao se mesclar à atmosfera sombria característica dos filmes de Burton. Por outro lado, Johnny Depp e Helena Bonham Carter não estão no elenco das vozes do filme, para surpresa de todo um público já acostumado com a presença dos mesmos em “quase” todos os filmes do diretor.

    Burton se diverte com sua narrativa e as várias referências que implementa nela. Até mesmo o cinema japonês não ficou de fora das referências, sendo possível encontrar uma clara homenagem ao monstro Gamera, pertencente ao mesmo universo de Godzilla e um dos inimigos do monstro. Não apenas ele, mas a Múmia, Frankenstein, Drácula e tantos outros estão presentes para o deleite do espectador.

    O character design dos personagens não precisam de comentários, eis que é um dos pontos mais fortes do trabalho de Burton. Muitos dos que estão presentes no filme já foram vistos nas outras obras do diretor, cabendo ao público reconhece-los dentre os personagens.

    Frankenweenie é um filme simples, que não procura ser nada mais do que realmente é: um filme que busca a diversão em suas dezenas de referências e, por isso, acaba sendo tão bem realizado.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.