Autor: Vortex Cultural

  • Crítica | Marcados para Morrer

    Crítica | Marcados para Morrer

    A onda de filmes com o estilo handcam parece longe de acabar. Depois de virar praticamente o padrão em produções de terror, e algumas tentativas em outros gêneros, como Poder Sem Limites e Projeto X, a bola da vez é o policial Marcados Para Morrer. David Ayer, roteirista de filmes como Dia de Treinamento e o primeiro Velozes e Furiosos, escreve e dirige o longa sobre uma dupla de jovens policiais de Los Angeles (vividos por Jake Gylenhaal e Michael Peña). Apesar desta já ser a terceira vez de Ayer na direção, a impressão é que o negócio dele é só escrever mesmo.

    Ao optar pela estética de câmera na mão, o diretor parece ter apenas seguido uma modinha, e não tentado oferecer uma experiência até então inédita no gênero ação. Os problemas começam quando não apenas os policias gravam seu dia-a-dia (a desculpa que é o projeto acadêmico de um deles), mas os bandidos também se filmam só pra tirar onda. Então não há uma única filmagem, e sim uma colagem de várias só pra possibilitar que outros ambientes sejam mostrados sem quebrar a proposta. Até aí, nada demais, vários filmes fazem o mesmo. Só que em vários momentos temos ângulos de handcam que não fazem o menor sentido considerando as câmeras presentes no local. E em outros, uma câmera assumidamente convencional toma conta, ou seja, fugindo da ideia inicial. Essa esquizofrenia da direção, também aplicável à edição, aliás, acaba privando o filme daquilo que o estilo câmera na mão oferece de melhor, a imersão total na narrativa. Ficam somente os aspectos negativos, como qualidade de imagem inferior e lacunas na história.

    Caso tivesse sido filmado inteiro de maneira convencional, Marcados Para Morrer poderia ter sido um ótimo filme. Isso porque o roteiro é muito bem trabalhado, em especial em relação aos protagonistas. Amigos de infância, praticamente irmãos, os dois policiais revelam toda sua humanidade de modo bastante crível. Durante as patrulhas, eles conversam sobre tudo de suas vidas pessoais com um tom de intimidade e camaradagem que só parceiros de longa data poderiam ter. Alternando-se a isso, as situações tensas e até macabras que o trabalho joga diariamente pra cima deles, e como ambos reagem, lutando pra não serem afetados mais do que o suportável.

    A dura realidade impacta diretamente na visão romântica, principalmente de Brian (Gylenhaal), de que eles são super-heróis que vão salvar o mundo. Patrulhando as regiões mais barra-pesada da cidade, os personagens acabam se destacando e entrando na mira de um perigoso cartel mexicano. A presença violenta de gangues latinas, em conflito com os já estabelecidos negros, criou um cenário bem interessante e inclusive realista. Pena que isso, até pelo tempo e proposta, não foi tão desenvolvido.

    Em relação aos atores, os dois se saíram muito bem, há uma inegável “química” (totalmente heterossexual) entre eles. Gylenhaal se esforça e consegue convencer como durão, mas seria exigir demais dele a ausência de sua marca registrada: o olhar de cachorrinho triste está lá, nas cenas mais emotivas. Peña, não tão famoso de nome mas com um rosto reconhecível (de filmes como Invasão do Mundo, Crash, Torres Gêmeas, etc.) teve um trabalho consideravelmente mais fácil, viver um latino expressivo e tagarela. O resto do elenco está dentro do esperado no pouco espaço que tem, apelando pra estereótipos do gênero. Vale destacar a presença de Anna Kendrick, que já provou ser uma atriz competente, apesar de estar na Saga Crepúsculo.

    Naquilo que pretendia inovar, Marcados Para Morrer sinaliza que handcam talvez não combine com filmes de ação. Contudo, se enquanto experiência do ponto de vista técnico, o resultado não foi dos melhores, não deixa de ser uma boa pedida por cumprir a função básica do cinema: contar boas histórias.

    Texto de autoria de Jackson Good.

  • Crítica | Moonrise Kingdom

    Crítica | Moonrise Kingdom

    Wes Anderson é conhecido por seus personagens estranhos e histórias um tanto surreais que, ao serem embaladas em uma direção de arte cuidadosa, constroem universos que parecem funcionar no limite entre a realidade e uma espécie de conto de fadas. Em Moonrise Kingdom, seu filme mais recente, essas características aparecem com clareza e montam um filme leve, divertido e extremamente autoral.

    O filme se passa em uma minúscula ilha na costa leste dos Estados Unidos, nos anos 60, onde vivem Suzy e Sam, uma “menina problema” e um garoto órfão. Os dois se conhecem por acaso, iniciam uma correspondência e planejam uma fuga através de uma trilha indígena famosa na região.

    Suzy e Sam se encontram por serem desajustados. Ele é órfão e detestado por seus colegas do grupo de escoteiro, ela é a filha problema de uma família “perfeita”, famosa pelas brigas violentas na escola para meninas. No entanto, conforme o filme avança vemos que todos os personagens, dos pais de Suzy ao chefe dos escoteiros, são igualmente desorientados em relação a vida e aos seus papeis no mundo e é Anderson ironiza com precisão esse desajuste entre as expectativas infantis e a desorientação dos adultos.

    Em vários momentos Moonrise Kingdom faz versões em miniaturas de filmes grandiosos: a uma sequência construída exatamente como um filme de guerra, a perseguição com motos de brinquedo a própria fuga que lembra clássicos como Bonnie e Clyde e Monika e o Desejo. Mas Anderson transforma os soldados em escoteiros e um casal de ladrões em duas crianças fugindo de casa, ele fala de pessoas comuns, pequenas e perdidas e do ridículo que as cerca.

    A paleta de cores do filme é toda construída com cores primárias ou pasteis e retoma os mesmos toms que o diretor vem usando desde seus primeiros filmes. Essa escolha, aliada a fotografia lavada, com cara de polaroid, ajudam a deslocar o filme para uma época e um lugar fora do tempo, tornando-o esse conto de fadas torto. O Narrador e a montagem evocam ainda os filmes da Nouvelle Vague, clara referência de Wes Anderson com sua simpatia por anti-heróis e desajustados, mas sempre de forma mais simples e infantil, como se o próprio cinema não merecesse ser levado a sério.

    Dessa forma, Wes Anderson articula os elementos recorrentes de seu cinema com um elenco notável e uma protagonista adorável e carismática para criar um filme que fala de um tema possivelmente dolorido, mas que o faz de forma leve, divertida e irônica. Moonrise Kingdom é irônico em cada imagem e finalmente faz jus ao humor ácido de Wes Anderson, além de ser seu melhor filme desde Os Excêntricos Tenenbaums.

    Texto de autoria de Isadora Sinay.

  • Resenha | Vaporpunk

    Resenha | Vaporpunk

    vaporpunk

    O steampunk surgiu como um subgênero literário e evoluiu para uma estética presente em diversas mídias, inclusive cinema e games. Pode ser definido como um cruzamento entre ficção científica e ficção histórica, apresentando realidades alternativas onde o avanço tecnológico aconteceu mais rápido, empregando o maquinário disponível na época (quase sempre o século XIX). Os cenários explorados costumam ser a Inglaterra Vitoriana ou o Oeste Selvagem norte-americano.

    A proposta de Vaporpunk – Relatos steampunk publicados sob as ordens de Suas Majestades, publicado pela Editora Draco, é um exercício de imaginação no mínimo curioso: como Brasil e Portugal seriam sob a ótica steampunk? Organizada por Gerson Lodi-Ribeiro e Luís Filipe Silva, a coletânea consiste em oito contos (ou noveletas, como eles preferem chamar) de escritores dos dois países, que trazem diferentes e criativas visões sobre o assunto.

    A Fazenda-Relógio, de Octavio Aragão, trata de autômatos substituindo a mão de obra escrava nas lavouras de café do final do Império, e a revolta dos negros com a abolição que, na prática, os condenou a morrer de fome. Curtíssimo, o conto traz uma boa ideia, e só, pois não há espaço para se desenvolver.

    Os Oito Nomes do Deus Sem Nome, de Yves Robert (sim, ele é português) é uma história de espionagem com elementos sobrenaturais, com o steampunk como pano de fundo. Essa ligeira “fuga” da proposta, aliás, está presente em outras das noveletas. Nesta, vemos o que acontece quando Portugal se torna uma potência mundial graças a um sinistro acordo com divindades africanas.

    É impossível não pensar em A Liga Extraordinária ao ler Os Primeiros Astecas na Lua, de Flavio Medeiros Jr, disparado o conto mais massa véio do livro. Num contexto onde a evolução tecnológica antecipou a Guerra Fria e a corrida espacial (!), aqui entre Inglaterra e França, acompanhamos outra trama de espionagem, pelo ponto de vista de um agente duplo britânico que espiona para os franceses. Alguém se esqueceu de avisar o autor sobre a proposta da coletânea, pois Brasil e Portugal mal são citados. O que não tem a menor importância, pois ele, numa empolgação sem freio, mergulha em mil referências à literatura da época, com direito a H. G. Wells e Júlio Verne como ministros dos países rivais, e várias das criações de ambos dando as caras. Com um final surpreendente, Os Primeiros Astecas na Lua daria um filmaço.

    Gerson Lodi-Ribeiro apresenta em Consciência de Ébano um mundo onde Palmares evoluiu de quilombo para uma grande nação independente que divide espaço com o Brasil dos portugueses e uma colônia holandesa no Nordeste. Uma pena que não haja nenhuma pista sobre como isso aconteceu, pois é um cenário bastante interessante. O foco é em um agente de uma organização secreta palmarina, que decide trair sua missão e destruir a arma secreta de seu governo: um vampiro indígena. Aqui o steampunk (presente com a construção de uma hidrelétrica) é uma mera desculpa para se contar uma história sobrenatural densa e pessimista. Vale mencionar o esforço do autor em relação à linguagem empregada, que simula perfeitamente algo escrito no século XIX.

    Unidade em Chamas, de Jorge Candeias, mostra um corpo militar português às vésperas de uma guerra. O diferencial é que tais soldados estão em uma grande frota de dirigíveis, chamados aqui de “passarolas”. Pelo ponto de vista de um recruta, vemos a dureza do cotidiano dos soldados, se preparando para um combate que eles nem sabem direito contra quem ou por que, além da tensão racial provocada pela união com outra tropa reunida e treinada em segredo nas colônias. Ainda que peque pela narrativa excessivamente descritiva ao tratar do treinamento e do funcionamento das aeronaves, nas entrelinhas percebe-se um cenário fantástico, de modo que esta noveleta sem dúvida merecia ser expandida em um romance.

    Uma interessante discussão moral/ética sobre se criar ou mesmo reproduzir a vida através da Ciência pontua A Extinção das Espécies, de Carlos Orsi. Protagonizada por um jovem Charles Darwin, em sua célebre viagem a bordo do HMS Beagle, a história também foge um pouco da ideia do livro. Há uma passagem pelo Rio de Janeiro, mas o foco mesmo é na Patagônia argentina, onde os gaúchos estão em guerra contra os indígenas da região. Conceitos de armas biológicas, robótica e até nanotecnologia rendem alguns momentos perturbadores.

    O nível cai um pouco com Os Dias da Besta, de Eric Novello. A trama parte da investigação sobre a presença de uma criatura metamorfa no Rio de Janeiro. Mas aí vemos um Brasil próspero e se destacando na corrida tecnológica sob o governo de D. Pedro II, Conde de Tunay com um super agente secreto/inventor, Princesa Isabel aviadora liderando um grupo de piratas, diversas invenções mirabolantes, intrigas internacionais… falta foco. Ao jogar tantos conceitos poucos trabalhados, a história parece um aleatório capítulo do meio de algum livro.

    João Ventura, mais do que qualquer outra coisa, presta uma homenagem à figura histórica do inventor português Padre Manuel Himalaya com O Sol é que Alegra o Dia… Abordando a energia solar em diversas aplicações, este é de longe o conto mais leve da coletânea. Interessante, porém incomoda um pouco o tom documental adotado pra contar um grande período de tempo em pouco espaço. A impressão é estar lendo um livro didático ou um artigo de enciclopédia.

    Mesmo com a oscilação de qualidade entre os contos (até porque seria injusto e ingênuo esperar o contrário), Vaporpunk só teve a ganhar com essa diversidade enorme entre as histórias. Cada autor soube imprimir seu estilo, tom e interesse específicos, seguindo (ou desviando elegantemente) a linha-mestra do steampunk em terras lusófonas. Leitura mais do que recomendada.

    Texto de autoria de Jackson Good.

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  • Crítica | Gran Torino

    Crítica | Gran Torino

    gran torino

    Gran Torino foi o último filme de Clint Eastwood em que ele apareceu como ator e parecia, antes do anúncio de Curvas da Vida, que seria efetivamente seu último trabalho de atuação. Ao abandonar o posto de protagonista de suas próprias histórias, Eastwood construiu um filme que fala justamente de legado e tradição.

    No entanto, a tradição aqui vai além do ritual vazio ou da admiração desinteressada pelas coisas “antigas”. Tradição em Gran Torino passa pelo respeito profundo às origens e à identidade.

    Walt Kowalski é um homem de origem polonesa que acaba de perder a mulher e vive distante dos filhos em um bairro tomado por imigrantes asiáticos. Kowalski é nacionalista e conservador e olha com desconfiança tanto para a nova população da vizinhança quanto para os filhos que compram carros japoneses e para a neta com piercing no umbigo.

    Por uma série de eventos, incluindo uma tentativa de roubo de seu Gran Torino, Kowalski se aproxima da família vizinha e acaba descobrindo que os imigrantes compartilham suas opiniões e sentimentos muito mais que a própria família. É quando vê o respeito e o cuidado com que as tradições são respeitadas que ele começa a desenvolver carinho pelos dois jovens da casa ao lado.

    A tradição enquanto algo que deve ser cuidado e respeitado é representada no próprio carro: esse Gran Torino não tem valor apenas por ser um carro de 1972, mas por ser um carro bem cuidado de 1972. A neta de Kowalski deseja o carro porque é legal ter algo “vintage”, a gangue local como uma forma de status, mas é Thao que herda o carro: apesar de não ter laços de sangue com Walt, é ele que entende o valor depositado ali.

    Se, por um lado, Eastwood defende a preservação e o respeito às tradições, por outro ele crítica o ritual que se torna vazio. Em Gran Torino a igreja aparece como um padre que mal chegou na idade adulta e não entende nada da vida; a instituição em si perdeu o sentido e continuar indo à missa ou se confessando se torna um teatro patético.

    Eastwood dialoga com sua própria imagem: seu personagem é construído em cima das expectativas e dos clichês que se acumularam nele, tanto pelos papéis no cinema quanto por sua posição de republicano. A cena final do personagem lembra a figura imponente dos filmes de Leone, o cowboy decadente de Os Imperdoáveis e o tipo de homem que ele encarnou tantas vezes em vários de seus filmes.

    A fotografia é toda lavada, como uma polaroid, e a direção de arte enfatiza a decadência do bairro. Gran Torino é um filme sobre tradição, mas reconhece em sua própria forma que algumas coisas estão ficando para trás.

    É um filme sobre fazer as coisas de uma certa maneira, sobre o valor que reside na permanência. É também um filme sobre legado: como e por que essa tradição tem que continuar, já que muitas vezes os laços que pareceriam óbvios não são aqueles que a sustentarão.

    Em Gran Torino, Clint Eastwood se volta sobre sua própria imagem e sobre tudo aquilo que dizem dele, e parece reafirmar e de certa forma justificar aquilo em que acredita. É um dos filmes mais otimistas do diretor e talvez aquele em que ator, diretor e personagem melhor se articulam.

    Texto de autoria de Isadora Sinay.

  • Crítica | Argo

    Crítica | Argo

    Quando se ouve o nome de Ben Affleck, muitas torções de nariz e desconfiança são dadas. Affleck não construiu sua carreira de maneira tão promissora enquanto ator, porém vem se destacando na direção. Argo é a prova viva da maturidade de Affleck no ramo cinematográfico, evidenciando que merece mais respeito e reconhecimento do que lhe dão de fato.

    Baseado em fatos reais, Argo se passa no contexto do auge da tensão entre EUA e Irã, no final dos anos 70 e início dos 80. Àquele tempo, os EUA haviam dado asilo político ao Xá Reza Pahlevi enquanto fundamentalistas iranianos invadiram a embaixada americana em Teerã, requerendo a extradição do mesmo. Porém, seis funcionários da embaixada conseguiram fugir e se esconder dentro da casa do embaixador canadense. Tony Mendez (Ben Affleck), agente da CIA especialista em “exfiltração”, desenvolve um improvável plano criando um falso longa-metragem de ficção científica canadense intitulado “Argo” e usando-o como desculpa para adentrar o país e retirar os fugitivos a salvo.

    A primeira coisa a se dizer do filme é que a clássica exaltação do heroísmo norte-americano está, sim, presente. Porém, Affleck tem o cuidado de iniciar a história explicando o contexto da época e mostrando a motivação do povo iraniano em suas manifestações. O que se segue dali em diante é a criação meticulosa de uma tensão sincera e real – tendo em vista que vivenciada pelos fugitivos em 1980 -, porém aos olhos da plateia, que acaba participando emocionalmente daqueles fatos (mesmo aqueles que já sabem do final da história). Affleck desenvolve o filme com uma direção muito segura e extremamente satisfatória, demonstrando que sua carreira como diretor só tem a se desenvolver.

    Em alguns momentos, o filme se diverte com as auto-referências a Hollywood, mostrando personalidades e vícios dos bastidores da indústria cinematográfica. John Chambers (famoso maquiador que venceu o Oscar por Planeta dos Macacos, interpretado por John Goodman aqui) e Lester Siegel (Alan Arkin) representam esses momentos do filme, que funcionam como alívio cômico no desenrolar do longa. Apesar de não serem tão expressivos assim para o desenrolar da tensa trama, não depreciam a obra final – principalmente ao considerar que os dois atores esbanjam conforto em seus papéis e o fazem muito bem. A atuação de Affleck é relativamente inexpressiva, mas coerente no papel de um agente da CIA, cujo emprego é lidar com tensão e com a vida de outras pessoas enquanto se está correndo risco da própria.

    Soma-se às qualidades do filme a fotografia, adequada à época retratada, e a trilha sonora, discreta porém intensa. A qualidade técnica de Argo como um todo é muitíssimo bem trabalhada e todo esse rigor merece ser reconhecido.

    Apenas em 1997 o ex-presidente americano Bill Clinton permitiu a publicidade deste caso, cujos detalhes eram confidenciais até então. Hoje temos o privilégio de ver essa história sendo contada nos cinemas e, felizmente, por um diretor tão competente quanto Ben Affleck.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.

    Ouça nosso podcast sobre Ben Affleck.

  • Resenha | O Inimigo Final – André Bozzetto Jr.

    Resenha | O Inimigo Final – André Bozzetto Jr.

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    O Inimigo Final parte de uma sinopse bem interessante: três personagens devem lidar com seu passado e confrontar aquilo que os  assombra para poderem seguir em frente. Um velho músico de rock, um jovem perdido na cidade grande e um homem arrasado com o fim de um romance são os personagens e o livro se propõe a mergulhar em um mundo escuro e boêmio e contar sua história ao som de rock and roll.

    Já de início essa proposta falha na linguagem: ela é artificial, rebuscada e um tanto clichê demais. Tanto a narração em primeira pessoa quanto os diálogos não soam como algo que realmente seria dito por aqueles personagens. Ainda que o autor se esforce pra incluir palavrões e gírias, tudo é muito correto, muito discursado, cheio de construções perfeitas gramaticalmente, mas que ninguém usa na realidade. O excesso de adjetivos também incomoda, eles são vazios e parecem estar ali apenas para dar ao texto um requinte que, além de falso, não condiz com o tema ou o cenário apresentados.

    O escritor também erra ao escolher aquilo que deve ou não dizer: a primeira história é apenas uma espécie de prólogo e várias informações são jogadas sem serem desenvolvidas. Não sabemos quem são realmente aqueles personagens ou qual o grande segredo do velho rockeiro e entretanto esse parece ser o segmento mais interessante dos três. Por outro lado, durante a segunda história (que compõe a maior parte do livro) tudo é excessivamente explicado, todos os sentimentos são didaticamente descritos e cada vez que alguém cita “AC/DC” o narrador adiciona desnecessariamente “a banda de rock australiana”.

    A presença do rock contudo é uma das coisas mais interessantes do livro. Bandas são citadas, os personagens fazem referência a trechos de música ou a trilha sonora de algum momento o que poderia dar ao livro um ar pop, uma atmosfera de cotidiano como a dos romances de Nick Hornby ou Jeffrey Eugenides, mas isso acaba se perdendo no meio da linguagem excessivamente rígida. Outro ponto forte é o projeto gráfico: a narração é interrompida por poemas do livro que o personagem está escrevendo e as páginas entre os capítulos trazem imagens de paredes quebradas, como a dos bares sujos que são citados o tempo todo.

    No fim, Bozzetto parte de uma ideia original, mas é condescendente demais com seus personagens: eles são unidimensionais e moralistas, o protagonista da segunda história soa como uma versão idealizada do próprio autor na adolescência. Falta crueza a “O Inimigo Final”, tanto na linguagem quanto na trama, Bozzetto quer trabalhar com anti-heróis, mas lhe falta apresentar suas falhas honestamente. É um livro que deveria olhar para autores como Bukowski, John Fante e até Hemingway, mas ignora essas referências e acaba se tornando apenas pretensioso.

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    Texto de autoria de Isadora Sinay.

  • Resenha | Nós: Dream Sequence Revisited

    Resenha | Nós: Dream Sequence Revisited

    Uma das coisas mais impressionantes de ser ler histórias em quadrinhos é poder sempre acompanhar uma variedade de possibilidades na utilização da linguagem e das estruturas narrativas em seus desenvolvimentos. Quadrinistas sempre inovam e é o que Mario Cau faz em sua HQ Nós – Dream Sequence Revisited.

    “Nós” é uma história curta que brinca com a linguagem sequencial. Aproveitando o formato do álbum, o autor mescla a dinâmica de leitura de quadros juntando duas páginas como se fosse uma apenas. Usa e abusa de quadros arqueados e sequências horizontais para envolver o clima do sonho que o personagem está na história.  Esse é de fato o maior mérito de Mario Cau, que utilizou dessa técnica para dar um diferencial para uma história simples, mas significativa nos sentimentos que transmite.

    Outro diferencial do álbum “Nós – Dream Sequence Revisited” é a presença de um DVD, que contém uma motion comic com a mesma história do quadrinho – o qual não é tão impactante quanto a leitura do mesmo, mas cumpre seu papel em desenvolver a história sob óticas de linguagem diferentes – e informações sobre o autor. Alguns textos do autor contando um pouco do seu processo criativo e de como começou sua carreira, bem relevante para os mais curiosos em saber como funciona os bastidores do universo dos quadrinistas.

    Neste ponto, tomo emprestadas as palavras da professora Sandra Daige Antunes Corrêa Hitner, que introduz a HQ de Mario Cau dizendo que “a arte tem a capacidade de colocar em imagens os sentimentos mais profundos como uma espécie de arco-íris que atravessa as dores da alma e as possibilidades da vida”.

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    Texto de  autoria Pedro Lobato.

  • Resenha | Tex Gigante 27 – A Cavalgada do Morto

    Resenha | Tex Gigante 27 – A Cavalgada do Morto

    O sobrenatural sempre esteve presente no Velho Oeste americano. Regiões inóspitas e pouco povoadas, gente simplória e supersticiosa, mitos indígenas e o folclore europeu trazido pelos imigrantes; toda essa mistura resultou em várias lendas macabras, contadas ao redor da fogueira. Uma das mais famosas é a do cavaleiro sem cabeça, baseada num fato real ocorrido na metade do século XIX, e que inspirou inclusive o filme de Tim Burton. Agora é vez do maior cowboy dos quadrinhos enfrentar essa assombração no recente lançamento da Mythos Editora, Tex Gigante número 27, intitulado A Cavalgada do Morto.

    O perigoso bandoleiro Artur Videla assolou a região da fronteira com o México até ser capturado por quatro Texas Rangers que resolveram fazer dele um exemplo. Após decapitar o bandido, prenderam seu cadáver (com a cabeça no colo) num cavalo e puseram o bicho pra galopar pelo deserto. Muitos anos depois, com a lenda já criada, El Hombre Muerto ressurge e começa a matar. É então que Tex e seus parceiros são chamados para resolver o mistério, e sua mensagem é clara: fantasma ou não, chumbo quente é a solução.

    A série Tex Gigante traz sempre histórias completas e geralmente ilustradas por um artista convidado. Raras vezes, porém, um desenhista que já faz parte da equipe do personagem ganha essa honra. O escolhido da vez está entre os últimos: Fabio Civitelli desenha histórias de Tex desde 1984, e não é exagero nenhum dizer que ele se tornou o preferido dos leitores com seu traço limpo e elegante. Aqui ele aproveitou para dar maior atenção aos pequenos detalhes do desenho e até tentar algumas experimentações. Embarcando no clima de terror da história, ele abusou de contrastes entre luz e sombra (ou, muitas vezes, praticamente entre sombra e sombra) e inovou com alguns dégradés e efeitos esfumaçados, em especial nos cenários e paisagens – sem, contudo, deixar de lado a clareza de composição e a precisão anatômica que o consagraram. Apesar de alguns deslizes, como armas inexplicavelmente enevoadas quando o rosto do personagem está nítido, foi um trabalho impressionante. Só um adendo, Civitelli esteve em outubro no Brasil, na FestComix de São Paulo e na GibiCon de Curitiba, e se mostrou extremamente simpático e atencioso com todos os fãs. Um artista em todos os sentidos.

    O roteiro da edição ficou a cargo de Mauro Boselli, veterano escritor de Tex e outros personagens da editora Bonelli. Também ele está entre os mais apreciados pelos leitores, sempre se destacando por criar tramas nas quais aventura é a palavra- chave, sempre bem movimentadas e empolgantes. Outra característica marcante sua é apresentar coadjuvantes muito bem trabalhados. Como ele próprio declarou certa vez, todo mundo sabe que Tex e seus parceiros não vão morrer, então se a história tiver coadjuvantes interessantes, fica um tempero a mais. Em A Cavalgada do Morto ele usa de todos esses expedientes e mais alguns, como a divisão tradicional de Tex e Carson investigarem uma pista enquanto Kit Willer e Jack Tigre seguem outra. Também vale mencionar a presença de El Morisco, o “bruxo” mouro amigo do herói, recorrente em diversas histórias onde o ranger enfrenta algo sobrenatural. O roteiro funciona muito bem como um “filme” de western-terror, o único ponto fraco é a previsibilidade da trama, ao menos para leitores experientes em Tex.

    Nas bancas custando R$ 19,90, A Cavalgada do Morto tem 242 páginas e é recomendação máxima até pra quem não conhece o personagem, pois este é um excelente ponto de partida.

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    Texto de autoria de Jackson Good.

  • Crítica | Ruby Sparks: A Namorada Perfeita

    Crítica | Ruby Sparks: A Namorada Perfeita

    Ruby Sparks

    A comédia romântica não é um gênero conhecido pela imprevisibilidade ou pelas inovações: o roteiro segue uma espécie de fórmula e é preciso fazer um filme simpático e divertido, mas todos os espectadores sabem que um casal se conhece, se desentende e fica junto no final. Sendo assim, o sucesso desses filmes se baseia no carisma e na química dos protagonistas, e também na parcela de “comédia” que torna agradável todo o caminho até um final já esperado.

    Ruby Sparks acerta exatamente em fazer um filme que trabalha muito bem a maior parte dos clichês do gênero, mas ainda assim inova o suficiente para se destacar do mar de filmes bonitinhos existentes.

    O roteiro escrito por Zoe Kazan (que também é a protagonista-título e neta do lendário diretor Elia Kazan) se foca em Calvin, um escritor prodígio que, dez anos depois do sucesso de seu romance de estreia, está em crise e com bloqueio criativo. Calvin não tem mais amigos e não interage com ninguém exceto seu irmão e psicanalista, até que um dia a protagonista do romance que ele afinal começou a escrever se materializa em sua cozinha e afirma ser sua namorada.

    Aqui está a maior originalidade do filme: Ruby Sparks não acaba quando os protagonistas finalmente ficam juntos. Ele começa aí, e sua trama não é composta das desventuras enfrentadas até que um descubra o amor do outro, mas justamente das dificuldades em se manter um relacionamento depois que o primeiro momento já passou. Ruby surgiu na mente de Calvin, logo, ela é a namorada perfeita, sua garota dos sonhos; mas, conforme ela vai vivendo no mundo real, sua personalidade ganha nuances. O que a torna encantadora também a faz inconstante, e a maior questão de Calvin vai ser aprender a lidar com algo que escapa completamente ao seu controle, mas que ele também não quer viver sem.

    Kazan acerta na construção de seus personagens: ambos são multi-dimensionais, parecidos com pessoas de verdade e parecem fazer sentido juntos. Mas, mais do que isso, Ruby é uma espécie de crítica ao estereótipo da menina problemática-mas-espontânea-e-adorável que vem proliferando nos últimos tempos. Sim, ela é adorável e também irritante, divertidamente espontânea, mas capaz de acabar de lingerie na piscina de uma festa cheia de gente importante. A visão da roteirista sobre essa legião de meninas “desajustadamente perfeitas” parece  estar expressa em uma fala do irmão de Calvin: “Mulheres esquisitas e bagunçadas, cujos problemas apenas as tornam mais adoráveis, não são reais.” E é justamente esse abismo entre a ideia na cabeça de Calvin e a menina de verdade à sua frente o assunto do filme.

    Ruby Sparks não açucara excessivamente seu tema: em alguns momentos a relação de Ruby e Calvin beira o doentio, e o final do filme traz uma cena bastante violenta. Ainda assim, o clima geral é alegre, romântico e otimista. Kazan e os diretores Jonathan Dayton e Valerie Faris (responsáveis por Pequena Miss Sunshine) conseguem resgatar um gênero que definhava visivelmente e inserir inteligência e reflexões válidas, sem perder o charme das comédias românticas tradicionais. Não é uma obra-prima do cinema, mas é um filme inteligente, divertido e a melhor comédia romântica em muito tempo.

    Texto de autoria de Isadora Sinay.

  • Review | Copper – 1ª Temporada

    Review | Copper – 1ª Temporada

    Primeira produção original da BBC America, Copper é um seriado policial ambientado na cidade de New York em 1864. A trama gira em torno do detetive de origem irlandesa Kevin “Corky” Corcoran (Tom Weston-Jones), ex-boxeador e ex-soldado, que luta para fazer cumprir a Lei no violento e miserável bairro Five Points. Paralelamente, ele busca de maneira incansável esclarecer o mistério do desaparecimento de sua esposa e do assassinato de sua filha.

    Além desses dois plots centrais, outros temas foram explorados ao longo da recém-concluída primeira temporada. Em especial, o contexto da Guerra Civil Norte-Americana e seus desdobramentos políticos (com espiões sulistas e suas conspirações) e sócio-econômicos: milhares de negros libertados da escravidão chegando à cidade, se instalando nas áreas mais pobres, já ocupadas pelos imigrantes irlandeses, gerando uma tensão cada vez mais explosiva.

    Ainda que pareça ambiciosa (e de fato é) ao abordar tantos assuntos, a série tem um resultado positivo nessa proposta. O roteiro peca em alguns momentos pela indecisão em escolher um foco, mas ao longo dos episódios conseguiu se equilibrar entre todos os assuntos, e contar uma boa história de época. Ironicamente, caracterização da metrópole do século XIX foi um dos aspectos mais complicados. Ainda que os figurinos estejam ok, os cenários são tão claramente digitais que chegam a incomodar, ao menos quando não há como apelar pra tradicional fotografia escura como “disfarce” para os poucos recursos. Como exemplo, se for comparada a Hell On Wheels (série exibida atualmente e que se passa na mesma época, mas no Oeste), Copper perde feio.

    O diferencial acaba sendo mesmo a história e seus personagens bem trabalhados. Nesse cenário tão opressivo, ambiguidade moral acaba sendo a característica comum a todos. Nem o protagonista escapa de algumas ações questionáveis, como buscar “conforto” nos braços da cafetina Eva (interpretada por Franka Potente) enquanto procura sua amada esposa.

    Outro exemplo é a menina Annie (Kiara Glasco), vítima de exploração sexual que é salva por Corky. Porém, a garotinha não é uma simples coitadinha, se revela uma viborazinha problemática. Outros personagens que se destacam são Robert Morehouse (Kyle Schmid), amigo de Kevin, filho de um poderoso magnata e que mescla uma enorme simpatia com interesses pouco nobres; Matthew Freeman (Ato Essandoh), um médico negro que conheceu Kevin e Robert na Guerra e hoje atua como quebra galho científico do detetive; Elizabeth Haverford (Anastasia Griffith), uma dama da alta sociedade que se encanta por Corky; e Francis Maguire (Kevin Ryan), o atormentado detetive que é parceiro e melhor amigo do herói.

    Conseguindo aliar um argumento rico em conteúdo a um roteiro competente, além de boas atuações, Copper mostra que é possível para uma série policial não ficar apenas no engessado formato de “caso de semana” e se dedicar a construir uma história maior. Com a renovação já confirmada, surge mais uma opção para quem deseja fugir da mesmice televisiva.

    Texto de autoria de Jackson Good.

  • Top 10 – Filmes de Stalkers

    Top 10 – Filmes de Stalkers

    TOP10_Stalkers

    Recentemente li esse artigo que fala sobre 10 stalkers assustadores e rapidamente não pude deixar de fazer a ligação com os filmes que abordam essa temática, recorrente no cinema. Eis alguns interessantes abaixo:

    10. Retratos de uma obsessão

    Robin Williams interpreta Sy, um solitário empregado de uma loja de revelação de fotos instantâneas que fica fascinado com uma família média americana.

    09. A mão que balança o berço

    Uma viúva grávida decide se candidatar a vaga de emprego de uma babá e entra na vida de um casal. Tudo vai bem, até que a viúva, interpretada por Rebecca de Mornay, decide começar aos poucos a substituir a esposa do casal.

    08. Estranha Obsessão

    Robert De Niro e Wesley Snipes estrelam um filme que discute os limites da relação entre um fã de baseball por seu ídolo, o atleta Bobby Rayburn.

    07. Copycat

    Algumas pessoas podem até argumentar que este thriller de serial killer sai um pouco da proposta do tópico, mas ele não deixa de ter relação com o tema. No filme, encontramos uma psiquiatra criminal atormentada por seu passado onde foi atacada por um deles.

    06. Notas sobre um escândalo

    Nos últimos anos de sua carreira, poucos papéis foram tão interessantes a Judi Dench como este, onde ela interpreta uma professora veterana do ensino médio e, por uma estranha amizade à nova professora de arte da escola, Cate Blanchett, decide ajudá-la a encobrir um caso extra-conjugal com seu aluno de 15 anos.

    05. O Invasor

    Em 2001, Beto Brant adaptou o romance homônimo de Marçal Aquino sobre um matador de aluguel, contratado por dois sócios de uma construtora para eliminar o terceiro. O problema é quando o matador tem seus próprios interesses para cima dos outros dois.

    04. Medo

    Nesse filme de 1996, o rapper Marky Mark Mark Whalberg interpreta o interesse romântico de uma jovem, vivida por Reese Whiterespoon. As coisas vão bem, até que o CSI master pai da moça pede para que o namoro termine quando o rapaz começa a exibir suas faces violentas.

    03. Atração Fatal

    Um dos poucos filmes memoráveis do Adrien Lyne. Michael Douglas tem um caso de uma noite com Glenn Close, uma executiva desequilibrada que irá atormentá-lo por um bom tempo.

    02. Círculo do Medo e Cabo do Medo

    Dispensável a apresentação das duas versões do romance de John D. MacDonald. Apesar da versão do Scorsese ter ficado mais famosa e virado referência pop (o episódio dos Simpsons onde o Sideshow Bob ameaça o Bart que o diga), vale a pena dar uma conferida também na primeira adaptação de 1962, estrelando Gregory PeckRobert Mitchum, e dirigido por J. Lee Thompson.


    01. Louca Obsessão

    Baseado na obra de Stephen King, o filme rendeu a Kathy Bates o Oscar de melhor atriz, no papel de uma fã que faz tudo por sua personagem, inclusive ameaçar seu criador, o próprio autor.

    Texto de autoria de Pablo Grilo.

  • Crítica | Atividade Paranormal 4

    Crítica | Atividade Paranormal 4

    Atividade Paranormal 4

    Minha experiência cinematográfica vai desde filmes paspalhões como Loucademia de Polícia até filmes primorosos como Casablanca. Já assisti muito filme ruim, e não acho perda de tempo… me divirto muito até. O problema para mim é quando um filme ruim vira uma franquia de 4 filmes ou mais. É o caso da franquia Atividade Paranormal.

    Inspirando-se no sucesso de baixo orçamento A Bruxa de Blair, o primeiro Atividade Paranormal foi até bacana. Um susto aqui, um ali, e o uso da câmera até que compensava. Compensou muito para Oren Peli, roteirista e diretor que gastou 11 mil e ganhou milhões. Veio o Atividade Paranormal 2 e o negócio começou a degringolar… Enredo fraco, soluções que assumem o expectador como um semi-idiota, sustos nem tão bons assim…

    O Atividade Paranormal 3 deu uma pequena revigorada na franquia, com Henry Joost e Ariel Schulman (diretores de Catfish). Com a boa recepção do filme 3, os diretores se repetem no quarto filme.

    Atividade Paranormal 4 pega o gancho do filme número 2 da franquia. Não só o gancho aparentemente. Os pontos fracos também.

    O novo filme da franquia mostra a teenager Alex (Kathryn Newton), que é como todos os adolescentes atuais: meio rebelde, viciada em internet, facebook, chat roulette e afins. Mora em uma casa confortável com os pais e um irmão mais novo Wyatt (Aiden Lovekamp). Também tem um peguete/namorado chamado Ben (Matt Shivley) igualmente adolescente, viciado em internet… enfim, neste filme os personagens não precisam ser detalhados, já que o único propósito dele é dar sustinhos.

    Uma vizinha desta adolescente adoece e deixa o filho pequeno, Robbie (Brady Allen), com a família de Alex. Acontece que o garoto introvertido tem uma ligação com os personagens remanescentes do filme 2 (Katie, interpretada por Katie Featherston e Hunter interpretado por William Juan Prieto, respectivamente a tia maluca/endemoniada da maldição e o sobrinho raptado no segundo filme). Coisas estranhas começam a acontecer por conta da presença do garotinho, o que leva Alex a gravar tudo através de celular, webcam e etc. As ações de merchandising neste filme são gritantes e acharam uso até para um Kinect, com função de assustar os espectadores.

    Daí é o mesmo de sempre… movimentos bruscos, sombras, barulhos, levitação. Alguns sustos inesperados e numerosos esperados. Atuações sofríveis, mas agora com o recurso do “falso documentário” desgastado pelos 3 filmes anteriores e outros filmes fora da franquia.

    O final é aberto, o que possibilita um filme 5, 6, 7… até onde o orçamento (geralmente baixo) empatar ou perder para a bilheteria.

    Tem gente que vai curtir. Existe mercado para tudo nesse mundão, mas acho que não compensa pegar carro, pagar estacionamento, pegar fila na bilheteria, pagar ingresso e perder tempo assistindo a uma produção de roteiro horroroso e pretensão de fazer pessoas pularem na cadeira de medo. Quase ninguém pula. Pra mim a pipoca foi mais interessante.

    Nada contra a diversão de um filme ruim, um filme B… o que pega é querer ser uma franquia de inúmeros filmes ruins. Isso já é masoquismo, não dos envolvidos no filme (que estão ganhando a graninha esperta), mas dos espectadores que não se cansam de gastar um dinheiro pra levar uns sustinhos.

    Acho que terror tem de ser mais que o pulo do gato que está escondido que assusta ou ficar procurando sombra nos cantos da tela. O mal nos filmes de terror são maléficos é com os espectadores, que são cozinhados em banho-maria durante 2 horas e dorme tranquilo quando chega em casa. Aonde estão aqueles filmes que as namoradas ficam com medo de dormir sozinhas? Pois é…

    Texto de autoria de Robson Rossi.

  • GIBICON | A Gibiteca e o paraíso das HQs

    GIBICON | A Gibiteca e o paraíso das HQs

    Sabe-se que a Convenção Internacional de Quadrinhos – Gibicon #01, realizada neste ano, foi uma homenagem ao aniversário de 30 anos da Gibiteca de Curitiba. Agora, já no fim do evento, vale contar um pouco sobre um dos espaços mais incríveis da cidade de Curitiba.

    A primeira coisa a se dizer da Gibiteca de Curitiba é que se trata de um espaço cultural contagiante. Não é apenas um mero acervo de mais de 25 mil títulos dos mais variados gêneros das histórias em quadrinhos. Antes de tudo, a Gibiteca representa um ponto de encontro entre as mais diversas pessoas, as quais estão unidas por um elo que são as HQs. Ilustradores, designers, estudantes, artistas plásticos, professores…isso são apenas alguns tipos de pessoa que podemos encontrar no local. Mais do que um ponto de networking, a Gibiteca exece um papel fundamental oferecendo cursos de desenho em quadrinhos, mangá, além de promover oficinas variadas e exposições. Vários artistas curitibanos se destacaram no mercado nacional e internacional começando na Gibiteca. Só para citar alguns exemplos: José Aguiar e André Caliman.

    Esse espaço foi criado em 1982 e funciona desde então, oferecendo um acervo para consulta gigantesco e que faz brilhar os olhos de todos os fãs de quadrinhos que adentram o local. As primeiras edições de Tico-Tico, Batman e Capitão América (publicações nacionais) são apenas algumas das raridades que podem ser encontradas nas prateleiras.

    É claro que cuidar de tantas obras não é um trabalho fácil. Se você for até o local vai encontrar Maristela Garcia, curadora responsável pela Gibiteca, que diariamente se dedica ao cuidado de todo aquele acervo. Menos de 10 minutos de conversa com a mesma é tempo suficiente para ficar contagiado com o amor e carinho que sente por cada centímetro das estantes da Gibiteca. Os frequentadores (e esse que vos fala se inclui neste ponto) também corroboram esta ideia, pois mesmo que só estejam de passagem, disputam espaço para conversar um pouco com Maristela, a qual é dotada de uma personalidade acolhedora e amável. Maristela representa bem o espírito da Gibiteca.

    O Vortex Cultural conseguiu roubar a Maristela por alguns minutos para falar um pouco sobre suas opiniões e sobre a Gibiteca:

    Vortex Cultural: Maristela, o que você está achando da Gibicon?

    Maristela Garcia: A Gibicon #01 é uma homenagem para os 30 anos da gibiteca. Eu, pessoalmente, achei isso tudo muito fantástico! Eu estou adorando isso! Estava falando hoje para o Fabrizio Andriani (um dos coordenadores do evento) que eu odiei essa Gibicon…porque foi muito curta! (risos) Tem que ser maior! A Gibicon do ano passado teve um público fantástico. Em três dias conseguir reunir 10 mil pessoas foi surpreendente. Nós também não tínhamos tantas exposições, – apesar de mesmo assim serem excelentes-, mas a desse ano está ainda mais fantástica. As exposições estão impecáveis, a programação está redondinha e tudo está indo nos seus conformes.  Tá muito legal. É uma pena só que acaba rápido!

    VC: O que você espera da próxima Gibicon?

    MG: A partir desse ano a Gibicon será bienal. A próxima será só em 2014. Se o mundo não acabar esse ano, faremos a próxima (risos). Eu espero que ela seja maior!

    VC: Agora, falando da gibiteca em si: você acha que histórias em quadrinhos tem um espaço significativo nas bibliotecas públicas? Acha que existe acesso a esse tipo de conteúdo?

    MG: Sim. Cada vez mais isso cresce. Agora está começando a ter espaço também nas escolas. Hoje, por lei federal, quadrinho é uma linguagem que deve ser estudada. Para você ver, nós recebemos toda a rede de ensino de Curitiba no evento. Só ontem tivemos um total de 120 crianças visitando a exposição. Tivemos até que ir revezando as crianças nos blocos do local pra poder dar conta (risos).  O acesso tende a melhorar sempre.

    VC: Qual que é, para você,  a maior importância de existir uma gibiteca no espaço e contexto cultural de Curitiba?

    MG: Antes de mais nada, a gibiteca é um marco. A gibiteca é uma loucura que deu certo. Esses 30 anos por si só representam um marco maravilhoso. Ela é pioneira não só como centro de leitura, mas como centro de formação. Por causa dela, há muitas pessoas que hoje estão nas áreas de design, artes gráficas, ilustração e até mesmo quadrinhos. Alguns, inclusive, estão desenhando até para a Europa.

    Fica claro que a Gibiteca é um espaço muito importante para o contexto de Curitiba e do Brasil como um todo. O que se percebe a partir desse ano, analisando todos os dias em que estivemos presentes na Gibicon #01, é que o evento em si também está tomando uma proporção de grande importância no contexto nacional. Amantes de quadrinhos se reúnem para encontrar com alguns de seus ídolos, conversar sobre HQs e, ainda mais importante, conhecer uma série de novos artistas que nascem em nosso país. A Gibicon #01 pode ter acabado, mas os sentimentos que ela trouxe e as pessoas que conhecemos vão durar para sempre.

    Agradecimentos especiais a José Aguiar, Fabrizio Andriani, Maristela Garcia, Marialda Pereira, Andre Caliman, Leonardo Melo, Daniel Esteves, Danilo Beyruth, Renato Guedes, Joe Bennet, Rod Reis, o grupo Lobo Limão (Yoshi Itice, Marcel Keiichi, Kenji Saito e Gouji Saito), Gustavo Ravaglio, Gus Morais, e todas as pessoas que fizeram esse evento acontecer e ficar marcado na história da nossa cidade e do país.

    Texto de  autoria Pedro Lobato.

    Crédito das Imagens: Bruno Tomasoni

  • GIBICON | Astronautas e criação de HQ

    GIBICON | Astronautas e criação de HQ

    O sábado chegou e o dia prometia ser o mais lotado de todo o evento. Toda a correria e animação dos primeiros dias não seria nada frente ao clímax do evento. As previsões estavam certas.

    O Vortex Cultural foi conferir de perto a palestra de criação de histórias em quadrinhos com ninguém menos do que Danilo Beyruth, quadrinista brasileiro responsável pela premiada HQ Bando de Dois e Necronauta. Como era de se esperar, tendo em vista todas as outras pessoas que vimos no evento, Danilo foi extremamente simpático e deixou todas as pessoas que estavam presentes na sala lotada bastante à vontade.

    Em sua palestra, Danilo contou um pouco da forma como ele enxerga as histórias em quadrinhos e qual a lógica básica para a criação de uma. “A história em quadrinhos é uma forma de linguagem, assim como o cinema e a literatura. Linguagem nada mais é do que comunicação”, disse Beyruth. Assim como havíamos ouvido de Daniel Esteves no dia anterior, o público também pode ouvir de Danilo que através da HQ se transmite uma história. Explicou várias partes técnicas do processo criativo e deu várias dicas para as pessoas que se interessam em criar HQs. Uma delas, muito importante, e que vale dizer aqui é “sempre leve caderno e caneta com você, para todos os lugares onde você vá. Assim você sempre anotará suas boas ideias”.

    Mais perto do final da palestra, Danilo teve a oportunidade de falar um pouco de seu mais novo trabalho: Astronauta – Magnetar, álbum em HQ cujo personagem principal é ninguém menos do que o velho e conhecido Astronauta da Turma da Mônica (Maurício de Souza), porém participando de uma história com um viés um pouco diferente daquele infantil e humorístico que estamos acostumados com o personagem. Danilo explicou a experiência com o Astronauta, de iniciar um processo criativo com um personagem de outra pessoa, tentar entender o mesmo e partir para uma narrativa com o mesmo sendo o motor principal que move a história. “A primeira coisa foi descobrir que o Astronauta não era um mero astronauta, mas um navegador. Ele está fadado a navegar pelo espaço, enfrentando a solidão e a saudade. Tive que me aproximar de exemplos do tipo, como Amyr Klink, para assim poder me aproximar ao personagem”.

    Após a brilhante palestra de Danilo Beyruth, fomos novamente interagir com o resto do público e outros autores de quadrinhos. Uma das principais novidades do dia mais cheio de todo o evento com certeza foram os cosplayers. No local encontramos Stormtroopers, Mulher Gavião, Canário Negro, Arlequina e até mesmo um Freddie Krueger.

    Após enfrentarmos uma hora de fila para conseguir autógrafos com alguns expoentes dos quadrinhos como Renato Guedes, Joe Bennet, Rod Reis e Carlos Magno, encontramos com mais um artista independente que estava lançando um trabalho no evento. Dessa vez, conversamos com Gustavo Ravaglio, um dos autores da primeira edição da HQ Capa Preta, juntamente com seu colega Her Ming Hsu Yen. A primeira impressão que se tem do material é a de que ela não é feita por artistas independentes, pois chama atenção e esbanja beleza. Gustavo ofereceu um pouco do seu tempo para falar um pouco conosco:

    Vortex Cultural: Gustavo, você poderia nos falar um pouco de como está sendo a experiência da Gibicon para você e seu trabalho?

    Gustavo Ravaglio: Eu tenho o meu estúdio e trabalho com quadrinhos, animação e ilustração. Aqui na Gibicon eu estou lançando a minha primeira HQ, o Capa Preta n. 01, então basicamente tem sido uma experiência nova. Nós estamos com uma tiragem boa e está saindo bastante. O público tem gostado bastante e elogiado principalmente nosso acabamento gráfico da revista e tudo o mais. Acaba que dá pra experimentar diversas coisas e vemos o que cai bem para o público e o que não cai. Em todos os sentidos a Gibicon está sendo muito boa para mim.

    VC: De onde surgiu a vontade de fazer quadrinhos?

    GR: Pode parecer puxação de saco, mas acredite, não é.  Na Gibicon passada, quando eu vim no evento, decidi que no ano seguinte eu lançaria um quadrinho e hoje estou aqui. A Gibicon n. 0 significou isso para mim, minha motivação. Foi imediato. O Capa preta é um livro de quadrinhos independentes que pretende ser um novo meio pra divulgar novos artistas, novas histórias e sempre com caráter experimental. O Capa Preta tenta cumprir essa função e por isso pretendemos aumentar o número de artistas conosco, além de continuar com nosso trabalho.

    Chegamos finalmente ao fim de mais um dia agitado no evento, que tem se mostrado um verdadeiro sucesso com o público e com os próprios artistas que mostram seus novos trabalhos. O domingo nem passou e o evento já começa a deixar resquícios de que vai fazer falta.

    Texto de  autoria Pedro Lobato.

  • GIBICON | Roteiros e Quadrinhos independentes

    GIBICON | Roteiros e Quadrinhos independentes

    O segundo dia da Gibicon começou cedo para o Vortex Cultural. Fomos conferir uma das oficinas do evento. Se o primeiro dia foi o dia dos coloristas, o segundo seria o dia dos roteiristas, um dos principais autores da equipe criativa de uma história em quadrinhos, portanto, escolhemos assistir à oficina de Roteiro ministrada por Daniel Esteves, ganhador de diversos prêmios HQMIX como roteirista, pela sua série Nanquim Descartável, além da HQ em que é co-autor: O Louco, a Caixa e o Homem.

    Em duas horas de oficina, que foi realizada na Aliança Francesa de Curitiba, o público foi levado a compreender o processo de um roteiro. Esteves evidenciou que um roteirista, antes de tudo, deve ser um contador de histórias. Ele é um dos principais responsáveis por criar uma ligação emotiva com o leitor (criando um elo sentimental) e, portanto, encoraja o processo criativo de um roteiro que seja natural, em detrimento da artificialidade das histórias megalomaníacas (principalmente ao considerar os iniciantes). Um roteirista, antes de mais nada, é leitor e também um vivente. Essas foram, resumidamente, apenas alguns dos pontos que Daniel compartilhou com o público presente e não escondeu que leva uma carreira ao mesmo tempo “caótica”, mas divertida.

    Novamente, corremos de volta para o Memorial de Curitiba, ponto de encontro principal da convenção de todas as pessoas e artistas. José Aguiar, um dos idealizadores da Gibicon e curador do evento, esbanjando simpatia e animação, veio nos contar mais um pouco sobre o evento. Perguntado sobre as mudanças que ocorreram da edição zero (2011) para a desse ano, Aguiar respondeu:

    José Aguiar: A Gibicon deu uma mudada para poder crescer. Quando fizemos a edição de número 0, que foi experimental, a equipe era muito diminuta e o orçamento também era menor (apesar de ainda ser  limitado, melhorou), mas aprendemos muito com aquele. Aprendemos a nos organizar melhor, principalmente.  Esse ano eu saí da coordenação do evento e fui para a curadoria, pois eu tenho mais capacidade de estar mais presente e render melhor. Tudo isso foi pensado com o intuito de oferecer um evento melhor. Acho que isso tudo foi positivo tanto para o evento quanto para mim. Continuo dando o sangue e acreditando no projeto igualmente. A Gibicon é um evento sem fins lucrativos e o que estamos fazendo é exatamente porque acreditamos em investir no mercado brasileiro de quadrinhos. É claro que eu ganho com isso, pois também sou autor de quadrinhos. Se eu fomento novos leitores eu estou fazendo bem não só para mim, mas para todos os autores brasileiros em especial. Esse é um dos grandes objetivos da Gibicon: mostrar para a mídia e o grande público que quadrinho brasileiro tem espaço. Estamos aproveitando os 30 anos da Gibiteca de Curitiba como mote pra trazer exposições, autores internacionais e nacionais de renome e os que ainda são desconhecidos no Brasil, mas que são muito bons. Estamos com uma lista grande de lançamentos esse ano. Até eu estou lançando quadrinhos independente (risos). A intenção é só melhorar.

    O crescimento descrito por José Aguiar do evento é facilmente visualizado ao correr os olhos por todos os espaços da convenção, não apenas no Memorial de Curitiba. Esse em especial, onde se localizavam os estandes, era o local em que encontramos vários artistas independentes. Tentamos conversar com a maior quantidade de artistas possível e todos muito animados com toda a atmosfera da Gibicon, não se importaram em trocar uma ideia conosco e falar um pouco do trabalho deles.

    Perguntados sobre o que estavam achando do evento como um todo e o que mais agradava a eles, pudemos ver relatos de entusiasmo semelhantes. André Caliman (um dos responsáveis pelas HQs Quadrinhópole, Avenida e desenhista da HQ ELF) disse: “estou gostando bastante dessa área de estandes. Ano passado tinha, mas era pouco e mais informal. Não tinha tanta coisa independente, mas esse ano tem vários. A Gibicon tem servido com um propósito relevante para nós autores independentes. Não apenas curitibanos, mas tem muita gente de São Paulo e Rio de Janeiro mostrando seus trabalhos, por exemplo. Pode-se ver claramente que a Gibicon tem ganhado uma visualização nacional, pois não só nós costumamos ir para São Paulo e Belo Horizonte para mostrar nossos trabalhos, como eles estão vindo para cá”.

    Falando um pouco da HQ Revolta, que estava lançando no evento, Caliman explica que ele está distribuindo o primeiro capítulo da referida HQ no evento para os interessados, e a mesma terá um capítulo novo sendo publicado todos os meses no site oficial (www.revoltahq.blogspot.com). Revolta conta a história de um grupo de amigos que estão revoltados com o que acontece com o cenário político nacional. Caliman conta “até achei legal lançar agora em outubro, tendo em vista as eleições nesse final de semana. É um quadrinho que faz uma série de críticas, mas não quero contar o fato principal da história para não estragar a surpresa dos leitores (risos)”.

    Yoshi Itice e Marcel Keiichi, membros do grupo Lobo Limão e dois dos três autores do lançamento independente Last RPG Fantasy (o terceiro autor é Kendy Saito), reiteraram as impressões da evolução do evento: “Ano passado não tinha tantos estandes. Era um evento mais focado em palestras e oficinas, tanto que era o que mais eu fui ver, porém esse ano é diferente e estamos aqui participando mais ativamente”.

    Perguntamos sobre o lançamento deles – o qual foi lançado oficialmente na Gibicon #01 e está a venda não apenas no evento como também no site oficial www.lobolimao.com.br)-  e como foi a inspiração para estarem ali naquele dia lançando um trabalho próprio:

    Marcel Keiichi: Tudo começou quando fomos na FIQ (Feira Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte/MG) do ano passado. Lá levamos nossos primeiros fanzines e vimos que tinha muitas pessoas fazendo livros bonitos e completos. Foi um tapa na nossa cara…

    Yoshi Itice: A gente tem que correr atrás, foi o que dissemos para nós mesmos naquele momento.

    MK: Temos que fazer uma coisa nessa qualidade também, foi o que pensamos! Pensamos em produzir um livro legal e estabelecemos como meta a produção da nossa HQ “Last RPG Fantasy” esse ano na Gibicon em Curitiba.

    YI: O Last RPG Fantasy é um livro jogo interativo.

    Vortex Cultural: Tipo aqueles do Steve Jackson que jogávamos na nossa infância? (risos)

    YI: Exatamente! Você vai escolhendo os rumos do herói e tem vários finais. Seu personagem pode morrer, vencer, ou não. A diferença é que ao invés do texto corrido como era com os livros do Steve Jackson, fazemos isso com a linguagem dos quadrinhos.

    Tivemos a oportunidade de conversar também com  Leonardo Melo,  roteirista de quadrinhos, cinema e um dos responsáveis pela revista Quadrinhópole. Queríamos saber a opinião do autor sobre o evento como um todo e sobre seu trabalho e fomos bem atendidos:

    Leonardo Melo: Sou roteirista, edito a Quadrinhópole desde 2006. Ao meu ver, a Gibicon é um espaço mega importante para os artistas independentes com o intuito de abrir espaço para mostrarmos nosso trabalho. No caso aqui, hoje, estou lançando o encadernado do Undeadman, que é meu personagem. Não apenas eu, mas todos nós precisamos desse espaço, que é imprescindível para nossa divulgação.

    Vortex Cultural: E o que você tem a dizer sobre a recepção do público no evento?

    LM: A recepção do público está bacana. Ontem, no primeiro dia, esperávamos um movimento menor e mesmo assim rendeu várias pessoas. Ontem choveu bastante ainda e curitibano não é muito chegado em sair de casa pra ir em evento (risos), mas mesmo assim teve bastante gente e a expectativa pro final da semana é que venha mais ainda.

    Leonardo está lançando o encadernado de seu personagem, intitulado Undeadman, que é um personagem de uma história de aventura. Um imortal, cuja história se inicia na Idade Média. “A ideia principal é que ele vá passando por momentos históricos da humanidade. Esse primeiro volume reúne todas as histórias da Idade Média, o próximo será da idade moderna e assim por diante”, conta Leonardo.

    Por fim, antes de nos aventurarmos nas filas quilométricas de autógrafos com grandes nomes das HQs como Renato Guedes, Carlos Magno, Rod ReisJoe Bennet, encontramos com o paulistano Gus Morais, mais um artista independente que estava lançando em Curitiba sua coletânea de tirinhas intitulada Privilégios. Gus esbanjou carisma e animação e prestou um pouco da sua experiência pessoal

    Gus Morais: É a primeira vez que venho visitar a Gibicon. A parte mais interessante, para mim, é que aqui é um ponto de encontro. Você observa o que os outros artistas estão produzindo e os modelos que eles estão seguindo. Pra quem produz para a internet como eu, é um ponto onde a gente cruza com as pessoas que estão experimentando coisas parecidas. Tem o espaço da venda, de encontrar novos leitores e isso é muito legal, mas acho que o principal (pra mim, sempre que vou em alguma feira do tipo) é o meu ponto de mutação que acontece na feira. Vejo o que os outros estão fazendo, outros trabalhos e o meu trabalho acaba mudando qualitativamente após o evento. Você tem uma proposta com uma história de um jeito específico, daí você vê uma pessoa com o trabalho diferente e isso acaba influenciando você. Tu acha aquele trabalho diferente, legal e tenta se arriscar em caminhos diferentes também. A HQ é um processo. Não é estática. Mesmo o Mauricio de Souza, que tem uma linha bem definida, ainda está experimentando maneiras diferentes de contar suas histórias. Sempre que eu vou na feira eu repenso caminhos e quase sempre as histórias acabam mudando um pouco de perfil e acho isso super positivo. Vem da convivência com o meio. Eu tenho um site (www.gusmorais.com) desde 2010 e ele concentra quadrinhos que eu faço pensado para o formato do blog (formato pergaminho que você baixa o scroll para fazer a leitura) e, depois de acumular diversas histórias de um ano e meio de produção, cerca de 30 histórias, que resolvi compilar em um trabalho de livro. Era o projeto desde o começo quando comecei a fazer webcomics. Sempre pensei em um trabalho que pudesse funcionar tanto para a web quanto para o papel. O livro está a venda no site e na Gibicon. A intenção é continuar publicando meus quadrinhos na rede e a cada um ano e meio, dois anos, fazer novas compilações de tirinhas, trazendo material novo. Esse é o plano por ora. Estou experimentando ainda (risos).

    E chegamos ao fim do segundo dia da Convenção Internacional de Quadrinhos de Curitiba. A atmosfera empolgante composta pelos artistas independentes, interessados em incentivar uma produção nacional, é um dos principais pontos de destaque do evento, com toda a certeza. O espaço de abertura que a Gibicon tem dado para essas pessoas é extremamente valioso, como ficou bem claro nos relatos acima, e deve continuar sendo incentivado incessantemente. Cada vez abrindo mais portas para mais autores de quadrinhos.

    Texto de  autoria Pedro Lobato.

  • GIBICON | Cor e Paixão pelas Histórias em Quadrinhos

    GIBICON | Cor e Paixão pelas Histórias em Quadrinhos

    E eis que finalmente se iniciou a tão aguardada Convenção Internacional de Quadrinhos de Curitiba, a Gibicon. Em sua primeira edição neste ano – considerando que a edição de 2011 foi chamada de edição 0 -, o evento conta com diversos debates, palestras, oficinas, exposições e sessões de autógrafo simultaneamente até o domingo (dia 28 de outubro).  Muito conteúdo para os fãs das histórias em quadrinhos, sem a menor sombra de dúvidas.

    Chegamos no Paço da Liberdade para conferir um dos debates e pudemos conversar um pouco com Juliano Lamb, um dos membros da organização do evento, que não escondeu seu entusiasmo com a edição deste ano. Evidenciou as grandes melhorias e o aumento exponencial da equipe, organização e dimensão do evento desde o ano passado para cá e ainda é otimista quanto ao futuro do evento. “A Gibicon é um evento de extrema importância para fazer com que quadrinhos sejam acessíveis a um público diversificado e não somente àqueles que estão acostumados com essa cultura. O evento tende a crescer cada vez mais, permitindo uma expansão cultural na cidade e atraindo cada vez mais pessoas”, diz Lamb.

    O entusiasmo de Juliano não era para menos, após seguir adiante para dar uma volta e conhecer a exposição “O Quadrinho Russo”, é facilmente perceptível o interesse de vários tipos de pessoas que se envolvem com essa forma tão peculiar de fazer arte.  Esta exposição é um ponto alto do evento, pois a Rússia passou por um período de estagnação da pesquisa estética das HQs, devido as proibições do governo comunista. Mesmo assim, ao observar obras de Askold Akishin, Egoroff, Lumbricus, Komardin e Surzenzo, visualizamos que por mais que tenha existido um hiato na história das HQs no país, os artistas fizeram e ainda fazem um excelente trabalho.

    Posteriormente a isso, nos dirigimos para o debate “Cor nas HQs”, contando com a presença de Rod Reis, colorista da DC Comics (tendo trabalhado nas revistas do Superman, Supergirl, Teen Titans e atual colorista do Aquaman e do Asa Noturna), Renato Faccini, colorista da BOOM! Studios (G.I. Joe, Farscape e Planeta dos Macacos), Marcio Menyz, coordenador e professor de colorização digital na Impacto Quadrinhos, além da presença do mediador Érico Assis, jornalista e tradutor de histórias em quadrinhos. Uma conversa completamente descontraída e animada se desenrolou por toda a extensão do debate. Cada um dos participantes contou um pouco de sua carreira pessoal, como fizeram para virar coloristas e não se conteram em contar histórias engraçadas da profissão. As histórias em quadrinhos são narrativas e os coloristas, enquanto parte da equipe criativa, ajudam a desenvolver a mesma. O colorista é aquele responsável em provocar uma imersão psicológica do leitor através da cor. Assim como o desenhista, aqueles também dão um toque interpretativo para as artes que conferimos nas HQs. Compararam inclusive com a fotografia e a sensibilidade que deve ter um colorista em observar uma paleta de cores e conseguir criar as melhores composições para os desenhos. Perguntados se gostariam de colorir os desenhos de Rob Liefeld, não exitaram em dizer que não o fariam em tom de gargalhada, com a exceção de Renato que disse que acharia uma experiência interessante. Todos do salão estavam completamente a vontade com os convidados e todos se divertiram bastante.

    Ao fim do debate, percebia-se o contentamento por parte das pessoas que ali estavam quanto ao conteúdo precioso de informações que ali foi divido. Logo após, corremos para o Memorial de Curitiba, com o intuito de verificar como andava o evento por lá. Vários estandes estavam montados, de várias editoras e revistarias. Tínhamos a presença da Itiban Comic Shop (loja especializada em HQ de Curitiba) e da Comix Book Shop (de São Paulo), representando os grandes comerciantes de quadrinhos, mas o destaque maior fica a cargo dos vários artistas independentes que estavam por lá divulgando e vendendo seus trabalhos. Pausa para algumas compras e trocar algumas ideias com os artistas antes da solenidade de abertura oficial da Gibicon no Solar do Barão.

    Isso é o que podemos dizer por ora do primeiro dia do evento. A atmosfera extremamente empolgante do local evidencia que o evento tem tudo para ser um grande sucesso novamente. Os fãs de quadrinhos com certeza vão estar muito agradecidos até o final dessa semana pela presença de um evento de tamanho porte na cidade de Curitiba.

    E o Vortex Cultural continua a jornada pela Gibicon!

    Texto de autoria de Pedro Lobato.

  • Crítica | Ted

    Crítica | Ted

    Ted

    Ted é um ursinho de pelúcia que encantaria qualquer criança, exceto pelo fato de xingar, ser arrogante e meio louco. Resultante de um daqueles desejos infantis que se tornam realidade nos filmes, Ted definitivamente é um brinquedo de adultos.

    Filme de estreia de Seth MacFarlane (criador dos aclamados desenhos adultos Family Guy, Uma família da pesada e American Dad!), Ted trata de John, um menino solitário que ganha um urso e faz um pedido para que ele fale. Seu desejo é atendido e os dois acabam passando para a fase adulta.

    O interessante é que o urso falante se torna comparável a uma pessoa. As pessoas de verdade se relacionam com Ted quase como se ele fosse um humano – inclusive, ele é uma ex-celebridade, já que fez muito sucesso na mídia quando “ganhou vida”.

    MacFarlane coloca neste filme a linguagem e as características de seus desenhos. Ted é machista, rude, preguiçoso, que vive xingando, bebendo e fumando maconha (Ted tem uma alma meio Charlie Sheen) e é o melhor amigo de John, que compartilha quase todas as características de Ted. O interessante é que o próprio MacFarlane faz a voz de Ted, e com muito brilhantismo.

    John (Mark Wahlberg) tem um trabalho entediante em uma empresa de aluguel de carros e namora Lori (Mila Kunis), que, ao contrário de John, é uma mulher bem sucedida que vive sendo assediada pelo próprio chefe e que se incomoda pelo fato de que John está estacionado mentalmente na adolescência. Ela deseja que seu namorado seja mais independente de Ted e que a acompanhe em seus objetivos.

    O filme se presta a piadas dos tipos mais variados, ligadas ao relacionamento cômico entre John e Ted. Mark Wahlberg está muito bem no papel de um homem que tem uma adolescência prorrogada por sua relação com Ted, o que é o ponto alto do filme.

    Durante o filme há a introdução de uma sub-trama que trata de um fã maníaco de Ted (Giovanni Ribisi), com um filho adolescente obeso (Aedin Mincks), que Ted comicamente trata como Susan Boyle. Pai e filho tentam sequestrar Ted. Esta sub-trama é a parte mais sem graça do filme. Sua existência serve unicamente para criar ação, o que reforça a suspeita de que o roteiro ficou sem ideias, já que o filme tem algumas outras partes pedantes, em que o roteiro perde o ritmo (principalmente nas partes em que mostra a tradicional crise de casal de comédias românticas).

    Um grande destaque é o fato de o personagem Ted ser inteiramente desenvolvido em computação gráfica – de forma primorosa, diga-se de passagem. Em entrevistas, MacFarlane falou sobre o processo caro e trabalhoso com que o urso foi digitalmente inserido no filme: “O meu conselho seria usar um fantoche, que teria sido mais barato, mais fácil e mais engraçado”. De certa forma, MacFarlane faz alusão ao filme Um Novo Despertar, não só nesta declaração mas também em algumas passagens do filme, em que John se vê em meio a uma crise de idade e dá vazão às suas angústias através de Ted.

    Ted pode ser considerado um filme de piadas, mas as piadas são engraçadas, e os efeitos especiais são tão críveis que até nos esquecemos de que não existem ursos de pelúcia tagarelas e debochados.

    Texto de autoria de Robson Rossi.

  • Resenha | Lugar Nenhum – Neil Gaiman (1)

    Resenha | Lugar Nenhum – Neil Gaiman (1)

    Lugar-Nenhum

    No começo da carreira que o tornaria famoso – quando a obra Sandman ainda estava sendo publicada, mas ele ainda não era conhecido por suas outras obras fora dos quadrinhos -, o promissor Neil Gaiman seria contratado pela produtora britânica de TV BBC para ser roteirizar uma serie chamada Lugar nenhum, que estreou em 1996. Mas não é sobre essa obra que falaremos hoje.

    A série contou com restrições de orçamento e alguns enganos na produção, que podem ser notados principalmente pela qualidade da direção de fotografia, que não tem uma iluminação boa. A qualidade da filmagem também não é boa e os efeitos são feitos com carinho, mas sem dinheiro. Por causa disso, Neil Gaiman não gostou do resultado da série e sempre achou que poderia fazer algo melhor. E ele de fato fez, recriando a mesma obra em outras mídias, como HQs, e lançando também um livro, em 1996 (que chegou ao Brasil em 2005).

    O fato de querer criar uma história digna do que ele imaginou e bem melhor do que o modo como a série foi feita fez com que Neil Gaiman escrevesse o seu primeiro livro, incrivelmente adaptado do roteiro que ele tinha desenvolvido na série, que pouco tempo depois foi publicado com o nome também de Lugar nenhum.

    O livro demostra o estilo literário de Neil Gaiman, muito parecido com o que ele usa em Deuses americanos e em outras obras. Podemos ver a falta de informação sobre alguns elementos da história, como em muitos contos de fantasia clássicos. Pelo fato de não ser explicado o porquê e o como, em muitos momentos a história abre para o próprio leitor imaginar o passado de lugares e personagens, o que acaba tornando bem mais fácil de criar cenários interessantes para o livro. Esse recurso é muito bem utilizado no livro porque normalmente essa é a realidade de quem vive em uma cidade (porque, por exemplo, não sabemos quem é a pessoa que tem um nome em uma placa ou local da cidade), mas ele extrapola esse desconhecimento para conceitos de historias fantásticas. Por exemplo, existe um distrito em Londres chamado Angel Islington (Anjo Islington), então Neil Gaiman extrapola o nome do lugar e diz que realmente existe um anjo chamado Islington, e depois revela pela metade detalhes sobre o passado dele em pequenas conversas entre os personagens. Isso é bem usado para passar o clima de uma sociedade dentro de outra sociedade.

    O livro também conta com um o clima bem punk inglês, porque Neil Gaiman descreve tudo de forma bem suja, com um visual sempre em farrapos e um clima bem “do it yourself“. A obra adquire uma identidade única (uma fantasia punk), além do leitor sempre ficar imaginando o visual da protagonista de forma especial, já que ela é uma gracinha.

    Outra coisa a se destacar é o trabalho de usar o próprio ambiente de Londres, que tem milhares de referências locais muito legais – até porque Neil Gaiman é inglês. Além de já estar acostumado com o ambiente por ser natural da Inglaterra, ele faz um ótimo trabalho criando ainda mais conteúdo com esses ambientes, fazendo brincadeiras e trocadilhos com nomes de lugares e personagens da cidade, e dando um background que eu não sei se são contos malucos e lendas urbanas londrinas, ou se ele tirou tudo da cabeça dele mesmo. Isso tudo para transformar todos os lugares (isso mesmo, os lugares) em personagens interessantes, imagine os personagens normais…

    São legais as mensagens que o livro passa também: a existência de uma sociedade dentro de um sociedade, de pessoas esquecidas, porque simplesmente é mais conveniente esquecer essas pessoas. Mas, apesar de tudo, por eles serem esquecidos, eles acabam sendo mais livres do que as pessoas que vivem na Londres de cima, onde todos são presos aos seus itens de consumismo, ou a vidas que eles não conseguem largar ou se adaptar, como era o personagem principal. A história chama o leitor a refletir mais sobre o mundo à sua volta, mais localmente, e sobre suas histórias de certa forma esquecidas ou que fazemos questão de não saber.

    Quanto aos personagens, temos que o principal é o que representa o personagem que guia o leitor da melhor forma possível nesse universo. O personagem principal carece de uma personalidade mais forte, mas ele foi feito para representar o londrino médio, o leitor do livro, então não podia ser alguém muito diferente do normal. Ele tem algumas características que o tornam diferente das pessoas comuns, mas só dando a ideia de que algo o diferencia e que por isso ele vai entrar na história. Os personagens restantes são personificações de lugares ou de ideias, e eles são tão marcantes quanto pensamos que eles sejam, já que Neil Gaiman deixa muito da personalidade deles para que o leitor imagine.

    Esse livro tem uma história muito bem desenvolvida, e tudo se acerta de uma forma bem mais natural do que em outras obras de Neil Gaiman, como Deuses americanos. Como este é o primeiro livro de Neil Gaiman, em resumo, Lugar Nenhum é mais obrigatório do que outras obras do autor – em minha opinião, claro.

    Compre aqui.

    Texto de autoria de Psycho Mantys.

  • Review | 666 Park Avenue

    Review | 666 Park Avenue

    666 Park Avenue

    Eu tinha visto os teasers e trailers desta série e ela não conseguia me chamar muito a atenção. Um dia, de bobeira em casa, decidi baixar os dois primeiros episódios e conto aqui o que achei.

    Trata-se se um drama de terror concebido para aproveitar-se um pouco do sucesso de American Horror History. Então 666 Park Avenue tenta emular aquele clima de filme de terror da grande tela. Trata de um casal do interior (Jane e Henry) que vai a Nova Iorque para tentar a vida e consegue o emprego de zeladores do edifício residencial de luxo Drake (localizado no 666 Park Avenue), onde não sabem, mas o mal espreita e cada morador do prédio tem seus desejos realizados graças a um pacto feito com o Diabo, através do proprietário rico, elegante e ocultamente maligno Gavin Doran, que parece ter planos nada legais para o casal. Qualquer semelhança com o começo de Advogado do Diabo é mero aproveitamento da mesma ideia.

    No primeiro episódio, fiquei incomodado com os clichês de sempre, vistos em vários filmes e seriados: o casal do interior que se deslumbra com o local onde vão morar, com a cidade grande, com o glamour… e vão parar no covil de forças sobrenaturais. São tão perfeitos, tão inocentes, éticos, se amam tanto. Não sei porque o mal não se interessa por pessoas reais, com vícios e defeitos reais.

    Ainda no episódio piloto, somos introduzidos no edifício homônimo da série e a alguns de seus moradores. Logo fica claro que a série seguirá 3 arcos distintos: o arco do tipo “caso da semana”, onde algum morador bizarro é apresentado; o arco de “médio prazo”, onde algum mistério ou história é contado e seu desfecho será em mais de um capítulo; e o arco de “longo prazo”, que lida com a relação entre o casal bonzinho de zeladores, o edifício e seu maléfico proprietário (e sua mulher, igualmente misteriosa).

    Os efeitos especiais são bacaninhas, o roteiro e o desenrolar da história dão um pouco de sonolência. Nada é impactante, nada é novo, nada é maravilhoso nessa série. Seria uma série ótima para tapar buracos da grade de programação de alguma emissora, como a série do Cris tapa na Record.

    Não há nada amedrontador e, embora sejam apresentados alguns mistérios no segundo episódio, eles não são suficientes para prender a atenção de alguém.

    Acredito que 666 Park Avenue não passe da primeira temporada, não por ser muito ruim, mas por não passar a ser imperdível para ninguém.

    Texto de autoria de Robson Rossi.

    ERIK PALLADINO, SAMANTHA LOGAN, TERRY O'QUINN, RACHAEL TAYLOR, VANESSA WILLIAMS, DAVE ANNABLE, MERCEDES MASOHN, ROBERT BUCKLEY, HELENA MATTSSON

  • Resenha | Cosmópolis – Don Delillo

    Resenha | Cosmópolis – Don Delillo

    cosmopolis-livroCosmopolis é o 13º romance de Don DeLillo, escritor americano que já ganhou diversos prêmios e é tido como um dos maiores romancistas contemporâneos. DeLillo é um analista cético da cultura moderna, especialmente da nossa relação com os meios de comunicação e consumo, no entanto seus romances parecem muito mais uma constatação do estado das coisas do que uma crítica e em Cosmopolis essa ambiguidade aparece de forma muito explícita.

    O livro se passa quase inteiro na limosine de Eric Packer, um jovem bilionário, no dia em que ele perde toda sua fortuna por causa de uma aposta mal feita no yen. A narrativa é construída como um fluxo de consciência e mesmo os poucos diálogos soam como algo que acontece dentro da mente de Eric. O protagonista é a âncora e o motor do livro, é como se o universo de Cosmopolis só se movesse por causa da existência de Eric Packer.

    Ao mesmo tempo o próprio Eric parece não ter identidade fora de seu trabalho, de sua função no mundo capitalista. Em casa ele não consegue dormir e vaga como um fantasma, é quase um estranho para a mulher, incapaz de fazer sexo com ele, e não estabelece qualquer relacionamento pessoal com as pessoas a sua volta. Quando ele falha, sua auto-destruição se torna inevitável.

    Para DeLillo o mundo contemporâneo fundiu vida pessoal e trabalho, dinheiro e relacionamentos. Eric falha como empresário porque falha em saber quem ele mesmo é, e porque falha como empresário, falha em ser amado pela mulher. O mundo de Cosmopolis é fluido demais, o personagem precisa se movimentar durante todo o tempo, ou ele inevitavelmente se quebra.

    Fica clara a referência a Odisseia e a Ulysses: Eric empreende uma jornada épica e ao longo dela faz paradas que lhe revelam algo de si mesmo e mostram o quão inevitável é seu destino final. O ritmo do romance e a relação dos outros personagens com Packer é bastante simbólica, por exemplo, como por acaso ele acaba realizando todas as suas refeições com a esposa.

    Há também uma referência mais sutil a O Apanhador no Campo de Centeio. Eric se pergunta para onde as limosines vão a noite da mesma forma que Holden Caulfield se pergunta para onde os patos vão no inverno. No fundo Eric é quase um garoto e sua fragilidade e solidão ficam dolorosamente claras em seu apego ao antigo barbeiro da infância. Eric vive em um mundo em que nada permanece, mas ele parece desejar o contrário.

    A linguagem de DeLillo parece ter a tendência de ser intencionalmente pretensiosa e artificial, mas aqui, talvez porque vemos tudo pela ótica do personagem, isso se torna mais orgânico. Cosmopolis não é uma crítica ao capitalismo. É uma constatação do seu avanço, de suas contradições e da forma como ele engole aquilo que quer miná-lo. Eric Packer é o símbolo desse sistema e ele deve morrer para que a imagem se mantenha.  É um romance original e denso, em que a reflexão filosófica se articula bem com o ritmo acelerado.

    Compre aqui.

    Texto de autoria de Isadora Sinay.

  • Resenha | Batman: O Filho do Demônio

    Resenha | Batman: O Filho do Demônio

    Batman - O FIlho do Demônio


    A Panini segue apostando em lançamentos com o Homem-Morcego, e traz agora uma republicação da famosa graphic novel Batman – O Filho do Demônio, de 1987 (no Brasil, saiu em 1989). A luxuosa nova edição, além de capa dura, traz formato e gramatura de papel maiores do que o habitual, ao acessível preço de R$ 17,90. Ótima oportunidade para conhecer a polemica história na qual Batman tem um filho com Talia Al Ghul, e que havia sido excluída da cronologia oficial do personagem, mas foi resgatada por Grant Morrison com a introdução de Damien Wayne, o atual Robin.

    Escrita por Mike W. Barr e desenhada por Jerry Bingham, a aventura mostra o Cavaleiro das Trevas tendo que se aliar a seu grande adversário Ra’s Al Ghul para combater um inimigo comum, o terrorista Qaym, que ameaça o mundo inteiro ao obter uma arma capaz de manipular o clima. Como parte do acordo, o herói tem que desposar a filha do vilão, Talia, e finalmente se tornar “filho” e herdeiro de Ra’s. Porém, a notícia de que será pai faz Bruce Wayne questionar tudo, até mesmo sua carreira como justiceiro.

    Esta é uma história inegavelmente datada, para o bem e para o mal. O roteiro, mesmo não tendo o excesso de texto que seria típico da época, tem uma densidade quase literária, ao estilo de Frank Miller em seus melhores momentos. A arte é um show à parte, com um traço realista no sentido anatômico (meio que um padrão na época e que infelizmente se perdeu na década seguinte), diagramação de quadros inspirada e cores simples que se encaixam perfeitamente no contexto. Uma obra que claramente só pode ser produzida estando fora dos cruéis prazos das revistas mensais.

    Os problemas, contudo, surgem ao se analisar mais a fundo os caminhos que a trama toma, e não são poucos. Talvez a causa de todos eles seja simplesmente o pouco espaço para se desenvolver uma ideia complexa: são apenas 80 páginas, e a impressão é de que tudo acontece muito rápido. A começar por Batman sequer hesitar em se juntar à organização de Ra’s Al Ghul, também um terrorista, e que ele sempre combateu. Não havia mesmo outra forma de deter Qaym? Pedir ajuda para a Liga da Justiça, talvez? E, pior ainda, ele de imediato aceita se casar com Talia, por quem prontamente confessa um intenso amor que mal vinha conseguindo conter (?). Isso, e a forma como a gravidez é usada tanto pelo roteiro quanto pelos próprios personagens, ficou caricatamente novelesco – no sentido mais mexicano da palavra.

    Entende-se a intenção de buscar humanizar o personagem, ou melhor, trazer à tona a humanidade que de fato existe sob o capuz, sob o mito. Mas não deixa de ser um choque, diante da imagem tradicional que se tem do Batman, de um homem comprometido com sua missão num nível obsessivo. Como dito acima, a forma brusca como isso é jogado fora (e pelo próprio Bruce) é o que compromete a credibilidade da obra. Aliás, essa ruptura tão acentuada na personalidade do herói justifica (muito mais do que ele ter um filho) que a história seja situada fora da cronologia, num Elseworld, onde “ousadias” desse tipo são permitidas. Xiitismos ranzinzas à parte, O Filho do Demônio é um importante marco na historiografia do Batman, leitura obrigatória.

    Texto de autoria de Jackson Good.