Autor: Vortex Cultural

  • Resenha | A Companhia Negra – Glen Cook

    Resenha | A Companhia Negra – Glen Cook

    a companhia negra

    Tolkien encontra Bernard Cornwell – estampa a quarta capa do livro.

    Estratégias publicitárias desse tipo são um tanto duvidosas, pois os fãs costumam ficar irritados com um novato comparando-se aos seus monstros sagrados. Neste caso, porém, vale a pena ignorar qualquer preconceito inicial, pois A Companhia Negra rapidamente define uma identidade própria no gênero da fantasia medieval, inclusive passando longe dos autores citados.

    No primeiro de uma série de dez livros, iniciada nos anos 1980 e que finalmente chega ao Brasil através da editora Record, o autor Glen Cook nos joga em seu universo sem qualquer aviso ou preparação. A Companhia Negra é um grupo de mercenários, cujos tempos de glória há muito passaram. Reduzidos a um pequeno contingente, eles se veem envolvidos num grandioso conflito entre a Dama, a mais poderosa feiticeira que já existiu, e um numeroso exército rebelde. Recrutados por um dos dez Tomados, principais servos da Dama (outrora ferrenhos adversários dela, corrompidos por uma espécie de lavagem cerebral mágica), os membros da Companhia logo se destacam por sua destreza, ao mesmo tempo em que passam a questionar se estão do lado certo dessa luta.

    O estilo do autor já de início surpreende os leitores experientes no gênero. Como citado anteriormente, Cook começa a contar sua história como se o cenário e os personagens já tivessem sido apresentados. Sua preocupação em situar o leitor na geografia, história e política daquele universo é mínima, pra não dizer nula.

    Sabemos o que precisamos saber, e QUANDO precisamos saber. Pra alguém habituado a Tolkien, ou mesmo George R. R. Martin, é um choque e tanto. Mas, passada a estranheza inicial, é fácil e prazeroso embarcar na história, também porque a escrita em si é a mais direta e objetiva possível. O livro é narrado em primeira pessoa pelo médico Chagas, o responsável por registrar os anais da Companhia. Um detalhe divertido é que ele mesmo censura-se quando começa a ter alguma divagação mais filosófica, dizendo algo como “Ei, diabos, eu sou um mercenário, não um poeta”. Dessa forma, a linguagem dos personagens nada tem do lirismo tipicamente medieval, soando incrivelmente contemporânea. Também no quesito desenvolvimento dos personagens não há nada muito aprofundado. Eles são definidos por suas características mais marcantes, virando estereótipos. Isso e a forma como se relacionam entre si torna a Companhia Negra comparável, muito mais do que a qualquer obra literária, a filmes de ação com militares, em especial os oitentistas. O que faz muito sentido, sabendo que Glen Cook foi fuzileiro da Marinha norte-americana.

    O resultado de toda essa simplicidade (que passa longe de mediocridade, porém) é uma obra que se pode chamar de única no gênero. Com pouco mais de 300 páginas, A Companhia Negra é uma leitura rápida e agradável, uma grata surpresa e uma novidade muito bem-vinda no campo da fantasia medieval. Recomendável até para os não-apreciadores desse estilo, que não suportam longas descrições e enrolações. Fica a expectativa pelo lançamento dos demais livros da saga o mais breve possível.

    Texto de autoria de Jackson Good.

  • Crítica | Movimento Browniano

    Crítica | Movimento Browniano

    Movimento Browniano

    Um quarto vazio, ordenado e silencioso. Os primeiros minutos de filme já indicam perfeitamente o ritmo da narrativa que vai se suceder a partir de então em Movimento Browniano, da diretora holandesa Nanouk Leopold: lento e inexpressivo.

    Charlotte (Sandra Hüller) é uma médica que vive em Bruxelas com seu marido Max (Dragan Bakema) e seu filho pequeno. Divide sua vida familiar e de trabalho com os encontros íntimos que tem com os pacientes que atende no hospital. Quando Max descobre as traições de sua esposa, passa a levá-la a consultas psiquiátricas, além de ter que lidar com a perda da confiança de sua mulher.

    Ausência de expressão, frieza e distanciamento são palavras que ilustram bem a atmosfera do filme. Os poucos diálogos da obra dão lugar à escolha estética narrativa de suspensão de informação. Não há trilha sonora alguma no filme, apenas sons ambientes. Olhares, sorrisos e respirações. Os sons dão lugar às sensações na maior parte do tempo. Assim como Max, somos levados a tentar entender as motivações misteriosas de Charlotte, porém o filme nos faz acreditar que tudo aquilo é mais profundo do que podemos imaginar. Não há nada certo. Tudo permanece em suspeição.

    Os planos abertos, de longa duração, a direção distante e a utilização da câmera de maneira imparcial são todos usados com o intuito de dar uma entonação reflexiva ao filme. Movimento Browniano arrisca em escolhas que poucos filmes possuem coragem de fazer. Leopold é corajosa e abstrai as aparências externas para causar reflexão nos espectadores, quase como se estivesse invadindo a mente destes mesmo sem perceberem.

    Existe muito mais no vazio do que aparentemente acreditamos. No vazio existem pensamentos e estes são tão grandiosos quanto qualquer outra forma de expressão do ser.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.

  • Review | The Elder Scrolls V: Skyrim – Dawnguard

    Review | The Elder Scrolls V: Skyrim – Dawnguard

    Todos nós jogamos Skyrim. Uns menos, outros mais: é raro encontrar um jogador que não tenha dado seu jeito de conhecer as terras congeladas dos Nords, interpretando do melhor modo possível o gritalhão Dovahkiin e fugindo de dentes-de-sabre até pelo menos o trigésimo nível. Mesmo com a requentada engine Gamebryo dando os últimos sinais de vida, a opinião geral é que estávamos jogando o maior jogo de 2011.

    Há mais ou menos um mês, os usuários de Xbox 360 recebiam a primeira expansão, Dawnguard – DLC não é um termo exato, já que a quantidade de conteúdo e o preço são muito mais próximos da cultura antiga de lançar jogos sobre jogos, e não vender armaduras de cavalo e pequenas aventuras. Donos de PC já exterminam vampiros nas novas quests desde a semana passada, enquanto quem escolheu o PS3 vai continuar esperando a Bethesda aprender a escrever código feito gente. Tenho amigos que não conseguiram passar de 10 horas de jogo no console da Sony, tamanha a inaptidão dos programadores com o excessivamente complicado sistema dos japoneses.

    Quem já jogou um título da série Elder Scrolls, sabe que a história principal é feita com algum carinho, mas que roteiro passa longe de ser a maior paixão dos caras. Do começo ao fim, o plot principal de Skyrim dura cerca de oito horas; sem problemas, já que só de andar pelas cidades e estradas seu log de missões acaba tão cheio que qualquer mãe com mania de organização teria uma síncope e viraria notícia de canal conservador americano. Para quem não se encaixa nessa categoria, as sidequests ficam muito mais interessantes e garantem, aos mais aplicados, centenas de horas de diversão bem longe da luz do sol.

    Depois de abandonar o jogo por meses, reinstalei os cinco giga e uns quebrados, descolei a expansão e procurei por mods – que fazem o serviço de polimento do jogo melhor que qualquer patch oficial jamais sonhou -, e tive belas e agradáveis surpresas. O que vi foi um jogo muito mais redondo do que o aquele entregue no dia 11/11/11. Mais quests, melhor uso de NPCs, locações melhor desenhadas e uma proposta bem melhor executada com os Dawnguards e Vampiros do que com os Stormcloaks, e o Império: Skyrim variou a própria essência de maneira conservadora, mas bem-feita. Talvez não seja suficiente para aqueles que gastaram preciosos momentos de vida consciente fazendo as tais “quests infinitas” que anunciaram – se for matar javali e levar carne para NPC eu jogo WoW, porque pelo menos lá eu interajo com bonecos digitais numa tentativa patética de emular vida social -, mas foi mais do que suficiente para mim.

    TL;DR: Skyrim recebeu uma expansão e um monte de patches que deixaram o jogo menos vagabundo do que quando foi lançado, colocaram vampiros e caçadores na roda, garantiram uma boa razão pra você continuar não tendo namorada por pelo menos mais uns dois meses.

    Texto de autoria de Pedro Souza.

  • Crítica | O Vingador Do Futuro

    Crítica | O Vingador Do Futuro

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    Na onda interminável dos remakes hollywoodianos, chegou a vez de uma das maiores pérolas das traduções brasileiras, O Vingador do Futuro (tudo a ver com o nome original, Total Recall). Não vou entrar em comparações com o clássico de 1990 dirigido por Paul Verhoeven, pelo simples motivo de que não o vi, shame on me. Mas não precisa ser nenhum gênio pra deduzir que a nova versão já sai perdendo ao colocar Colin Farrell no papel que foi de Arnold Schwarzenegger.

    Num futuro não tão distante, uma guerra química tornou inabitável a maior parte do planeta. Os dois únicos locais povoados são a Federação Unida da Bretanha e a Colônia (Oceania). Superpopulação é apelido, e na segunda área há um movimento de resistência contra o Estado opressor da primeira, exigindo direitos iguais para os explorados trabalhadores. Nesse cenário, Quaid é um operário atormentado por uma rotina maçante e sonhos recorrentes nos quais é alguém importante. Buscando um escape, ele vai até um local chamado Total Recall, que implantará em sua mente memórias falsas a título de “férias”. Porém, antes que o procedimento comece, ele é atacado por agentes do governo e a correria começa.

    Correria, aliás, é a definição do filme. Apesar de bem executadas, as cenas de ação são inúmeras, permeadas por breves momentos de respiro. Meio na linha Michael Bay de ser, o que inevitavelmente acaba cansando lá pelo meio da história. O diretor aqui é Len Wiseman (da franquia Anjos da Noite e Duro de Matar 4.0), na melhor das hipóteses apenas competente na parte visual, mas sem qualquer brilho. E isso se reflete nesse novo O Vingador do Futuro, que sugere potencial para ter um algo a mais, algum conteúdo, mas de cara já opta por se dedicar inteiramente à ação desenfreada.

    A crítica social é de um capitalismo tão agressivo que evolui pra um novo imperialismo, mas isso fica apenas como um raso pano de fundo. Os aspectos de sci fi são mais dignos de nota, apesar de estarem presentes somente na ambientação. Os cenários urbanos são muito interessantes, uma extrapolação da nossa própria realidade em termos de moradia, trânsito e cidades cosmopolitas. Nada original, porém: é fácil encontrar elementos de Blade Runner Minority Report. Não por acaso, todos inspirados em contos de Philip K. Dick. Outra possibilidade do filme seria uma discussão sobre identidade, realidade e ilusão, subconsciente e o diabo a quatro nesse viés psicológico. Os próprios trailers e pôsteres sugerem isso – que é incrivelmente mal trabalhado! Em momento algum surgem dúvidas sobre a veracidade da situação do protagonista, e tudo se resume a algumas frases soltas dignas de filosofia de biscoitos da sorte.

    Dentre os atores, Farrell se esforça, mas a seriedade do papel o impediu de usar sua melhor faceta, a de canalha irônico canastrão. Jessica Biel está apagadíssima, Bill Nighy faz pouco mais que figuração, e o vilão vivido por Bryan Cranston ficou muito abaixo do potencial do ator. O destaque vai mesmo para a esposa do diretor, a linda e maravilhosa Kate Beckinsale. Como uma vilã incansável, cachorrona e determinada a ferrar o herói, ela rouba a cena ao definir o que é uma “ex-mulher”. Antes que me acusem de machista ou coisa parecida, é o filme que sugere isso, gerando um humor que não decidi se foi ou não involuntário.

    No fim das contas, O Vingador do Futuro versão 2012 serve apenas como uma boa distração entre Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge e Os Mercenários 2, e dificilmente será lembrado como um destaque dos gêneros ação ou ficção científica.

    Texto de autoria de Jackson Good.

  • Crítica | Mary e Max

    Crítica | Mary e Max

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    O que aconteceria se você recebesse uma carta de um completo estranho que mora do outro lado do mundo? É com essa premissa que o filme Mary e Max se desenrola. Trata-se de uma animação em stop motion em estilo massinha (como em O Estranho Mundo de Jack e Fuga das Galinhas), baseada em fatos reais. Dirigido e roteirizado por Adam Elliot, o filme conta com a participação das vozes de Toni CollettePhilip Seymour HoffmanBarry Humphries entre outros.

    A história se inicia a partir do momento em que Mary, uma garotinha de oito anos, que mora na Austrália, resolve enviar uma carta a uma pessoa aleatória nos Estados Unidos da América ao ver uma lista telefônica do local. Em Nova York, Max, um senhor de quarenta e quatro anos e vítima da síndrome de Asperger, recebe a carta da garota e resolve respondê-la. A partir desse momento, inicia-se uma amizade por correspondência entre duas pessoas diferentes e que vivem em contextos de vida completamente diferentes.

    A narrativa do filme é precisa e envolvente e com certeza fará com que muitas pessoas se identifiquem com situações, sentimentos e pensamentos, os quais são muito bem explorados já que a todo instante o filme abre espaço para definir características dos personagens apresentados. Mesmo apresentando requintes de humor durante a história, é com certeza uma animação voltada para o público adulto, pois apresenta temas como suicídio e uso de drogas. Os cenários combinam com a trama melancólica do filme, sendo apresentada uma contraposição em tons de marrom (na Austrália) e cinza (em Nova York). Essa contraposição de cores é interessante, pois explicita as diferenças entre as personalidades dos personagens, já que de um lado encontramos uma garota curiosa por descobrir o mundo, e do outro lado temos um homem que tem medo de explorar o mesmo.

    Mary e Max é uma história sobre solidão e amizades. Em um mundo imperfeito, temos que aprender a viver com nossos defeitos e conviver com os outros. Por mais que as pessoas sejam diferentes entre si, Mary e Max nos mostram um belo exemplo de que no fundo temos mais em comum do que realmente imaginamos.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.

  • Crítica | Da Vida das Marionetes

    Crítica | Da Vida das Marionetes

    Da Vida das Marionetes

    Ingmar Bergman é um cineasta conhecido por seus temas densos e complexos, mas apesar da melancolia seus filmes normalmente apresentam lirismo e beleza. Não é o caso de Da Vida das Marionetes, realização sua para a televisão alemã em 1980.

    O filme começa com Peter Egerman assassinando brutalmente uma prostituta e em seguida fazendo sexo com seu cadáver, evento a que o diretor se refere como “a catástrofe”. A partir daí o filme investiga os dias anteriores ao crime e acompanha os depoimentos no processo contra Egerman.

    Peter e Katarina Egerman já haviam aparecido em Cenas de um Casamento, minissérie de 1973, como um casal histérico e em crise que briga violentamente na frente de Johan e Marianne, os protagonistas, e faz com que esses se sintam gratos pela estabilidade e sucesso de seu casamento. Aqui nós somos levados para a intimidade do casal e as coisas se tornam mais sutis e complicadas.

    Em público Peter e Katarina se detestam, atacam e traem sem pudores, ainda assim ela afirma para um de seus amantes (e psiquiatra de Peter) que ama o marido. A cena em que ambos conversam na cozinha durante a madrugada mostra que existe carinho e cumplicidade ali, talvez mesmo amor, mas ao mesmo tempo se coloca um abismo intransponível.

    O filme é todo construído em cima desse paradoxo: o desejo de proximidade e afeto e a vulnerabilidade e dor que isso pode causar. Tim, um amigo homossexual de Catarina, explica em um brilhante monólogo (filmado, não por acaso, com o personagem se olhando em um espelho, sua imagem duplicada) como se sente quebrado em dois, uma parte ansiando por contato e a outra reprimida frente a possibilidade de horror e violência.  Esse sentimento é comum a todos os personagens do diretor, mas aqui isso se expressa claramente. Bergman sempre utilizou muito close-ups de seus atores, se aproximar tanto dos rostos permite que os sentimentos sejam expressos em toda sua sutileza e dimensão, mas em Da Vida das Marionetes quase sempre esses rostos estão divididos, metade visível, metade na sombra.

    A fotografia em preto e branco aliás reforça esses sentimentos contrastantes: o escritório de Peter, lugar da burocracia e do distanciamento,  é quase todo preto, enquanto seu sonho com Katarina inteiro branco. Além disso, filmar em preto e branco evoca os primeiros filmes do diretor e coloca Egerman como uma releitura, mais moderna e pessimista, dos personagens anteriores, especialmente Antonius Block, protagonista de O Sétimo Selo.

    Ambos se perguntam sobre a possibilidade de paz e sentido, mas ao contrário de Block, que afirma várias vezes nunca cansar de perguntar, Egerman desistiu. Ele conta para Katarina que seu desejo é morrer, ou ao menos não sentir mais nada, uma espécie de morte em vida tão criticada por Bergman em seus primeiros filmes.

    No fim, o diretor reforça o paralelo ao colocar Peter, em uma clínica psiquiátrica, jogando xadrez com um computador, um eco de sua cena mais famosa em que Antonius Block joga com a morte. No entanto a enfermeira afirma que o paciente sempre joga no modo mais difícil, Egerman, de novo ao contrário de Block, não faz questão de ganhar.

    Da Vida das Marionetes talvez seja um filme menor de um grande diretor e com certeza é um dos filmes mais atípicos da obra de Ingmar Bergman,  mas é citado como influência por cineastas como Lars Von Trier e David Cronenberg. Nele Bergman revisita seus temas e personagens recorrentes e constrói seu filme mais pessimista, mas também o mais claro deles, em que todas as questões que antes se instalavam na narrativa ou em longos diálogos metafóricos aqui são destrinchadas. A presença da figura do psiquiatra e os testemunhos em julgamento ajudam nisso, é um filme quase didático para se entender as questões que norteiam o cinema de Ingmar Bergman.

    Texto de autoria de Isadora Sinay.

  • Review | Alphas

    Review | Alphas

    alphas

    O tema “pessoas com superpoderes” hoje sem dúvida afasta muita gente. O trauma de Heroes foi brutal. Uma pena, pois essa produção do canal SyFy deveria receber mais atenção. Atualmente em sua segunda temporada, a série conta a história de um grupo de pessoas com habilidades sobre-humanas, identificados como Alphas, atuando numa força-tarefa do governo americano que investiga crimes cometidos por outros Alphas. A equipe é liderada pelo psiquiatra Lee Rosen (vivido pelo ótimo David Strathairn), descobridor desse fenômeno ao tratar de seus pacientes.

    O mérito de Alphas é combinar simplicidade com seriedade. O formato é de um típico seriado policial, com o inevitável caso da semana, ao mesmo tempo em que os personagens e a trama maior são aos poucos desenvolvidos. Se não existem mistérios grandiosos e explosões de cabeça, por outro lado o roteiro é sempre coerente ao trabalhar as questões apresentadas. A maior delas é o preconceito e o temor dos agentes do governo em relação aos Alphas, sempre querendo aprisiona-los sem qualquer preocupação com direitos civis. Rosen, por outro lado, é um pacifista convicto, e os enxerga como seres humanos, muitas vezes com problemas psicológicos. A dinâmica é sempre conturbada, e entre aquilo que o doutor gostaria de fazer e aquilo que ele consegue fazer, cada vitória da equipe traz um gosto amargo.

    Outro aspecto interessante é a postura pés no chão em relação aos poderes, mantendo uma visão (pseudo) científica, e limitando-os, evitando assim um dos erros de Heroes: criar personagens nível DEUS e ficar sem história pra contar sobre eles. Além de estabelecer que o uso das habilidades traz consequências. Bill, ex-agente do FBI e líder de campo da equipe, tem superforça temporária graças a elevadas descargas de adrenalina. Porém, seu corpo e principalmente seu coração sofrem desgaste com o processo. Rachel consegue ampliar seus sentidos a níveis impressionantes, mas apenas um por vez, a custo de muita concentração, e prejuízo dos outros quatro. Nina tem algo entre hipnose e controle mental, mas depende de contato visual pra poder “influenciar” alguém. E o vício em conseguir tudo o que quer através desse poder a impede de ter qualquer relacionamento verdadeiro. Gary, de longe o mais carismático da série, é um jovem autista que enxerga ondas eletromagnéticas, conseguindo interceptar e filtrar emails, ligações telefônicas, etc. Não raro, ele mergulha nesse “mundo” só dele e se isola ainda mais. Completando a equipe, Hicks possui hipercinese, em essência uma pontaria absurda e reflexos dignos de um THE NINDJA. Sua habilidade é afetada por stress e autoconfiança, e o personagem surge como o clássico talentoso porém fracassado.

    As comparações com quadrinhos também estão lá e são bastante óbvias. Lee Rosen é Charles Xavier com outro nome. Toda a discussão sobre preconceito e perseguição levando ao inevitável “nós contra eles”, não dá pra negar, é X-Men puro. E quando o vilão se revela, o negócio fica tão explicito que uma acusação de plágio não seria exagero. A série peca por falta de originalidade, então? Seria ingênuo dizer o contrário. O que vale, porém, é a forma como as coisas são apresentadas, com um “realismo” que consegue ser inédito. Alphas é uma série competente que merece ser vista e levada a sério.

    Texto de autoria de Jackson Good.

  • Crítica | O Corvo

    Crítica | O Corvo

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    Explorando a mente singular do famoso romancista do século XIX, Edgard Allan PoeO Corvo, do diretor James McTeigue (V de Vingança), mostra muito potencial nos 30 primeiros minutos de filme, o qual, infelizmente, é totalmente exaurido no decorrer do filme.

    No último ano de sua vida, Allan Poe está afundado em dívidas em bares e fracassos na sua carreira literária, porém acaba sendo obrigado a ajudar o Inspetor Fields a desvendar os crimes de um Serial Killer, que aparentemente se inspira nas obras do autor para cometer seus crimes. Poe se vê obrigado a participar das investigações quando sua amada Emily é sequestrada pelo assassino.

    Nos 30 minutos iniciais do filme, quando nos é apresentado um Allan Poe beberrão, arrogante e um tanto quanto genial (não que isso não seja um retrato da realidade), a trama parece se mostrar sólida. Poe com toda sua genialidade passa por dificuldades financeiras e por um lapso de criatividade – a versatilidade do personagem é um ponto forte que chama bastante a atenção -, mas sua versatilidade acaba lhe causando problemas. Em certos momentos o personagem se passa por bobo da corte, o que acaba tirando um ar de seriedade que seria muito mais interessante a ser atribuída ao personagem. Ora temos um Poe totalmente profundo e lírico, ora temos o oposto se sujeitando até a situações cômicas. Por todas essas questões, acaba restando prejudicado o desenvolvimento do personagem na trama, pois começa com um tom misterioso – com aquele contraste de facetas – e conclui na mesmice dos filmes de suspense que envolvem serial killers.

    O roteiro tem vários problemas. O suspense que não te deixa tenso a nenhum momento é realmente o elemento principal para deixar essa obra tão pobre. Pistas são deixadas em todas as cenas do crime, porém a resolução das charadas deixadas nas pistas são instantâneas (com a desculpa de que é o autor reavaliando suas obras), o que tira totalmente a tensão exercida pelo momento. Cenas desnecessárias são usadas como via de escape para pontas soltas deixadas do desenvolvimento da história.

    Os personagens parecem perder sua motivações a partir da metade do filme. Um exemplo disso é o pai de Emily que a todo momento culpa Poe pelo sequestro de sua filha, porém em um determinado momento esquece totalmente a raiva que sentia por ele, colidindo assim com o que foi apresentado anteriormente e com um desenvolvimento fraco. Outro ponto é que as características que marcavam Allan Poe desde o início do filme somem, deixando no lugar um personagem desesperado e sem rumo na trama.

    A atuação de John Cusak como o protagonista não é ruim, pois consegue personificar um personagem histórico de uma forma muito interessante, porém acaba sendo prejudicado pelo mal desenvolvimento do personagem no roteiro. Outro ator que deve ser destacado, porém negativamente, é Luke Evans, que interpreta um inspetor com um semblante estático e inexpressivo.

    Em algum lugar desse filme desmotivador há um filme lírico que pincela muito bem a imaginação poética de Poe. Infelizmente o roteiro de Ben Livingston e Hannah Shakespeare não foi feliz tentando fazer isso. A direção de James McTeigue  não chama muita atenção mas é competente na parte técnica, principalmente pela sua fotografia (ambiente sombrio e uso frequente de neblina). O Corvo é um filme que tinha algum potencial escondido, mas que preferiu beber da fonte dos filmes de Serial Killer que evidentemente não expressam mais nenhuma surpresa no público.

    Texto de autoria de Raphael Wisnesky.

  • Crítica | Onde Vivem Os Monstros

    Crítica | Onde Vivem Os Monstros

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    Onde Vivem os Monstros é o último filme de Spike Jonze, diretor de Adaptação e Quero ser John Malkovich.  Trata-se de uma adaptação de um clássico da literatura infantil americana e conta a história de Max, um menino endiabrado que foge de casa e vai parar em uma ilha fantástica onde vivem “coisas selvagens”.

    Jonze toma uma história muito curta e adiciona elementos conhecidos de seu cinema, uma certa estranheza e uma tendência para o obscuro, e confere profundidade e melancolia a fábula infantil, tornando-a um filme sobre amadurecimento e solidão.

    Desde o início  Max é apresentado como uma pequena coisa selvagem: quando os amigos da irmã destroem seu iglu, a raiva que ele sente só pode ser extravasada destruindo o quarto dessa; quando ele vê a mãe com o novo namorado sua reação é vestir uma fantasia de lobo, correr pela casa e mordê-la. A mãe de Max está certa quando diz ao menino que ele está fora de controle, as coisas começaram a mudar e ele é só uma criança que ainda não sabe lidar com fato de que o mundo nem sempre responde as expectativas.

    A ideia de um abrigo percorre todo o filme: Max constrói um iglu e uma tenda em casa, já na ilha ele desenha um forte (que é na verdade um enorme casulo) e dorme com os monstros em um bolinho. Os próprios monstros são fofos, peludos e aconchegantes. O que o menino busca é a sensação de proteção e cuidado, a certeza de que estará seguro não importa o que aconteça.

    É isso que ele acredita achar na ilha, os monstros o acolhem, selvagem como ele é, e o amam e elegem rei apenas por ele ter prometido um “escudo anti-tristeza”. Jonze contrasta muito bem o mundo real ao de fantasia: a primeira parte do filme tem cores frias e uma textura quase de vídeo caseiro, enquanto na ilha a luz é dourada e a fotografia tem uma beleza notável.

    No entanto esses monstros são bastante humanos e Carol se parece demais com o próprio Max, principalmente na violência com que reage ao abandono. Ao nomear Max como rei o que essas criaturas buscam é exatamente o que o menino também quer, alguém que os projeta e evite que machuquem uns aos outros, alguém que nunca se decepcione ou fique bravo, mesmo quando eles são terríveis.

    Ao cuidar de seres tão vulneráveis quanto ele mesmo Max percebe a fragilidade e a solidão da própria mãe e começa a entender que não tem nada que ela possa fazer para evitar que sua vida mude, ou para que ele lide melhor com os próprios sentimentos. Ele então volta para casa, consideravelmente mais velho.

    Jonze contrasta a violência das coisas selvagens com a organização exigida pela vida adulta e cria um filme repleto de nuances, símbolos e sutilezas, mas que ao mesmo tempo é engraçado e divertido. Onde Vivem os Monstros talvez seja seu filme mais complexo e um dos mais subestimados dos últimos tempos.

    Texto de autoria de Isadora Sinay.

  • Crítica | Valente

    Crítica | Valente

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    Após a união dos estúdios da Pixar com a Disney, muitas foram as reclamações e críticas por parte de uma parcela do público, sob o argumento de que esta união traria a ruína às grandes obras da Pixar. Com o fracasso de Carros 2, os ânimos abaixaram ainda mais, porém Valente , dirigido por Mark Andrews e Brenda Chapman, chega aos cinemas para renovar o conceito e o valor da união destes dois grandes estúdios.

    O filme conta a história de Merida, filha do Rei Fergus e da Rainha Elinor, a qual está para atingir a maioridade e, por isso, com o intuito de seguir os costumes da época, ela terá sua mão disputada pelos príncipes de outras famílias. Merida não hesita em mostrar descontentamento com os costumes de seu povo e acaba causando tensão entre as famílias. Após encontrar-se com uma bruxa e realizar um pedido que acaba causando mais problemas do que soluções, Merida deve correr contra o tempo com o intuito de evitar os conflitos entre os reinos e salvar a vida de sua mãe.

    O primeiro aspecto a ser levantado do filme é que Merida é a primeira princesa da Pixar. Muitos irão falar que isso é influência direta da Disney, porém a personagem deste filme tem uma personalidade muito diferente daquelas personagens clássicas como Bela Adormecida ou Branca de Neve. Merida é guerreira, astuta, rebelde e independente. Por outro lado é uma representação muito mais firme e contextualizada de uma mulher que possui seus próprios valores e os defende, em contraposição a uma princesa que apenas está aguardando para ser salva por um príncipe encantado.

    Merida é uma jovem com pensamentos e valores contemporâneos, por isso a todo momento bate de frente diretamente com os valores conservadores de sua mãe. Os personagens são carismáticos, possuem profundidade, possuem desejos e anseios humanos. Juntos ilustram uma belíssima história que indaga sobre os significados de liberdade (e a forma como a buscamos em nossas vidas) e de família.

    Os aspectos técnicos obtiveram um resultado muito positivo. A tecnologia 3D utilizada na animação ficou bem encaixada com os cenários da Escócia, em que foi baseado, e suas vastas florestas, as quais dão uma profundidade envolvente à atmosfera do filme. A animação por si só já é o suficiente para criar uma beleza estética muito proveitosa. Isso é facilmente visualizado ao observar a sutileza de detalhes na modelagem dos cabelos da protagonista: rebeldes, soltos e vermelhos como fogo (inclusive tendo relação com a própria personalidade da mesma), que se compõe juntamente com a beleza gráfica de todos os demais detalhes.

    Valente é um bom filme e divertido. Possui uma qualidade estética muito grande e uma narrativa redonda. Não foi dessa vez que a Pixar superou outros de seus sucessos (como Wall-E, por exemplo), porém é uma obra respeitável para abrir os olhos dos mais céticos em relação ao futuro da empresa.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.

    OBS: Para os céticos que estão reclamando das cópias dubladas, a dublagem desse filme ficou muito bem feita e não diminuiu nenhum pouco a beleza da obra. Podem conferir sem medo.

  • Resenha | Death Note: Another Note – O Caso dos Assassinatos em Los Angeles

    Resenha | Death Note: Another Note – O Caso dos Assassinatos em Los Angeles

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    Um aspecto interessante da vertente virtual do atual mercado de entretenimento é a aproximação entre produtores e consumidores, sobretudo por meio das redes sociais. Os comentários lançado no Twitter de um autor de nosso agrado, por exemplo, tende a revelar traços desconhecidos de sua personalidade. Em especial, é interessante descobrir que, como nós, esses realizadores são também consumidores que admiram determinadas pessoas e se inspiram em determinadas obras. No mundo dos animes e mangás, é bastante comum que autores citem e comentem obras de terceiros, seja na mídia impressa, “oficialmente”, ou no meio digital, de modo mais pessoal.

    O aclamado novelista Ryohgo Narita, autor dos sucessos Baccano! e Durarara!! é um exemplo apropriado, não apenas por comentar regularmente séries que acompanha, como Fate/Zero e Bleach, em seu Twitter (@ryohgo_narita), mas principalmente por ir um pouco além em sua apreciação, deixando de ser um mero consumidor para tornar-se criador. Em suma, Narita, além de idealizador de seus próprios títulos, é também um autor de fanfics (fan fiction, ficção de fãs), ou seja, alguém que escreve estórias se apropriando de outro universo ficcional, podendo ou não usar personagens já estabelecidos. Entretanto, por ser um autor de renome – embora a qualidade de seus contos, poucas vezes encontrada nesse tipo de escrito, não deva ser ignorada –, Narita consegue o que para a maioria dos fãs é um mero sonho: publicar oficialmente essas estórias. Suas light novels Toaru Jihanki no Fanfare, que se passa no amplo cenário da franquia To Aru Majutsu No Index, e Spirits Are Forever With You, uma side-story do sucesso mundial Bleach, receberam elogios, apoio e colaboração dos criadores originais, Kazuma Kamachi e Kubo Tite, respectivamente, e alcançaram o feito de serem canonizadas, ou seja, tornarem-se parte oficial desses universos. E este é apenas um entre inúmeros casos. O notório novelista Nisio Isin (NisiOisiN) foi igualmente feliz ao publicar, em 2006, Death Note – Another Note: O Caso dos Assassinatos em Los Angeles, intrigante história ambientada no realístico mundo de um dos mais populares mangás da década passada, Death Note, de Tsugumi Ohba e Takeshi Obata.

    Narrado em forma de notas por Mihael Keehl, o Mello, um dos mais importantes personagens da por muitos odiada segunda fase da história original, o livro consiste num relato informal sobre um evento citado uma única vez pelos idealizadores de Death Note. Embasado na afirmação feita no segundo volume do mangá por Naomi Misora, agente reformada do FBI que protagoniza uma das mais interessantes passagens do roteiro de Ohba, que diz já ter trabalhado com o misterioso L, o maior detetive do mundo, anos antes do maníaco Kira começar a agir (informação aparentemente irrelevante, esquecida ou simplesmente relevado por muitos leitores), o autor criar um thriller policial nos moldes clássicos, desafiador e imprevisível, destrinchando o caso em que L e Misora trabalharam juntos para deter o metódico serial killer conhecido como Beyond Birthday, o Caso dos Assassinatos em Los Angeles.

    A premissa, extraída de uma minúscula brecha deixada no material original, já demonstra a criatividade e habilidade textual de Nisio Isin, atestada a cada frase e parágrafo de (quase) todo o livro. Deixando de lado os ostensivos diálogos de muitas camadas, que perduram por páginas a fio e caracterizam seus maiores sucessos, com destaque para a série Monogatari (da qual já forma adaptados televisivamente os volumes de Bakemonogatari e Nisemonogatari, tendo Kizumonogatari sido anunciado como longa-metragem com previsão de estreia ainda para 2012), nesta obra temos um Isin bastante descritivo, que se certifica de expor em detalhes os cenários e ocorridos, soltando pistas para que, como em qualquer bom livro detetivesco, o leitor reúna em sua mente as peças do quebra-cabeça e, caso capaz, desvende-o antes do término das 173 páginas que compõem o romance.

    Engenhoso nos assassinatos e cenas de crimes, o autor desenvolve um sagaz e obscuro jogo intelectual entre o assassino e os detetives, esporadicamente aliviado por pitadas de humor negro e sarcasmo do onisciente narrador, e diálogos afiadíssimos, quase embates verbais entre dupla, ou melhor, trio de personagens que preenche a narração. Deixando-nos cientes das regras e perto das respostas (mas nunca perto o bastante) o romance se mantém interessante até a conclusão. Mas, infelizmente, apenas até a conclusão do caso em si, sucedida por um verborrágico e desnecessário epílogo, que destoa por completo do restante deste belo suspense.

    Embora não seja impecável, Death Note: Another Note – O Caso dos Assassinatos em Los Angeles é, em meio a tantas iniciativas infelizes que infestam os mundos do cinema e dos quadrinhos, um excelente prelúdio do mangá, recomendado a todos os seus fãs. Com um preço nada amigável (R$ 29,90), o livro foi lançado em nossas terras pela Editora JBC. E mesmo que a edição não faça valer o valor exibido na capa, o conteúdo certamente o faz.

    Texto de autoria de Alexandre “Noots” Oliveira.

  • Review | The IT Crowd

    Review | The IT Crowd

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    Muito se fala da série The Big Bang Theory. Alguns até mesmo acreditam que a série americana seja o supra sumo do humor nerd. Se TBBT faz muito sucesso, parte dele pode ser creditado à série The IT Crowd, série sitcon britânica que durou 4 temporadas (2006 – 2010) que também trás luz ao mundo dos garotos inteligentes com nenhum traquejo social.

    A série gira em torno dos personagens Roy (Chris O’Dowd), Moss (Richard Ayoade) e Jen (Katherine Parkinson). Os dois primeiros trabalham no imundo e entulhado porão do prédio reluzente das fictícias industrias Reynholm, na área de TI (em inglês IT de information technology). A personagem Jen meio que cai de paraquedas na empresa e acaba como chefe deste departamento.

    Roy e Moss são nerds da informática. Ambos são extremamente requisitados na empresa mas são muito menosprezados. Roy sempre usa camisetas com piadas nerds (principalmente relacionado a informática) e é extremamente egoísta e avarento. Moss é um almofadinha sem qualquer capacidade de relação social, infantil e muito inteligente em questões de tecnologia e muito burro em questões cotidianas.

    Jen, tecno-analfabeta solteirona, sempre está  metida em problemas por não saber lidar com seus dois únicos subordinados e com o megalomaníaco, mulherengo e insano dono da corporação londrina, Denholm Reynholm (Christopher Morris), outro total ignorante em relação a computadores.

    Nesta série vemos o motivo pelo qual nunca conseguimos obter suporte para nossa internet defeituosa ou para nosso computador travado, vemos em imagens o que muita gente pensa que é a internet, vemos pitadas de The Office em meio a piadas nerds e sempre nos deparamos com situações embaraçosas que são a base do humor inglês.

    Esta é uma série politicamente incorreta que já vicia a partir da abertura, que é bem diferente.

    Em suas 4 temporadas foram produzidos 24 episódios, no formato de 20 minutos. Uma quinta temporada chegou a ser anunciada pelo canal inglês E4 mas ainda não foi produzida.

    Texto de autoria de Robson Rossi.

  • Crítica | Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge

    Crítica | Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge

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    Inestimável é a primeira palavra que se pode ter em mente ao falar de Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge. O terceiro filme da trilogia dirigida por Christopher Nolan dá fim a um projeto que mudou a forma como as pessoas enxergam e lidam com filmes de super heróis. Uma forma mais realista e sombria foi apresentada a um público que estava acostumado a um Batman mais “super-herói” e menos próximo à realidade. Nesta conclusão temos o melhor filme da trilogia e provavelmente um dos melhores – se não o melhor – filme de super herói já feito.

    Dark Knight Rises se passa 8 anos após os acontecimentos do filme que o antecede. Somos apresentados à uma Gotham City em paz, com um índice de criminalidade baixo, uma polícia acomodada à tranquilidade e um Batman aposentado (além de um Bruce Wayne recluso). Porém, surge Bane (Tom Hardy), um mercenário que resolve aproveitar esse momento de aparente tranquilidade e fragilidade para colocar em ação seu plano sombrio de destruir Gotham City.

    Primeiramente, é importante ressaltar que a escolha da palavra “Rise” no título – aqui sendo pensada no sentido de “ascender”, ao invés de “ressurgir” como na tradução realizada no Brasil – é muito importante pelas várias formas que ela assume ao longo do filme em diversos momentos. Isso é só um pequeno exemplo com o intuito de dizer que trata-se de uma obra com detalhes muito importantes e que se unem a um todo sem pontas soltas. O roteiro é sólido e extremamente meticuloso, fruto de um trabalho excepcional por parte de Christopher Nolan, Jonathan Nolan e David S. Goyer.

     A trama é forte, tensa e envolvente. Dessa vez, temos um Batman que passa por piores dificuldades, tem seu corpo e sua alma destroçados, mas que ressurge como o verdadeiro herói. Ao mesmo tempo, temos um Batman que se ausenta das cenas pra dar lugar a um personagem também muito importante: a cidade de Gotham. Não somente o protagonista é abalado, como também a cidade se vê obrigada a reagir a um ditador extremista que quer fazer com que o povo conquiste a liberdade através da violência. Em contraposição, temos Batman se tornando um símbolo para que a cidade busque sua própria liberdade e justiça.

    Nolan não só acertou em um bom roteiro como, novamente, acertou em todas suas escolhas de elenco. Christian Bale continua com sua excelente atuação do herói principal, que cativou pessoas do mundo inteiro ao longo dessa franquia. Anne Hathaway, interpretando a Mulher Gato, demonstrou profundidade na atuação de uma personagem que estava em conflito sobre os valores que deveria defender. Tom Hardy interpreta um vilão amedrontador e de personalidade forte e cativante. Seu olhar penetrante ajuda a construir um ar de poder ao personagem que o carrega e sustenta durante toda sua participação no filme. Joseph Gordon-Levitt, por sua vez,  faz o papel do braço direito do Comissário Gordon e esbanja uma impressionante atuação em um personagem de excelente desenvolvimento e de grande importância na trama.

    Toda a trilogia se completa com este final. Todas as pontas se unem e formam uma obra completa e fantástica. Christopher Nolan eternamente será lembrado como o homem que eternizou o Batman nos cinemas. Um verdadeiro presente para todos os fãs.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.

  • Crítica | Amnésia

    Crítica | Amnésia

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    Em 2000, Cristopher Nolan, então um diretor estreante, movimentou os festivais, surpreendeu a crítica e foi indicado a dois Oscars com um filme contado ao contrário.

    O primeiro plano de Amnésia nos mostra uma polaroid que desaparece gradualmente e a primeira cena estabelece toda a estrutura do filme: essa é uma história contada de trás para frente, em que o diretor nos apresenta as consequências antes das causas.

    O protagonista de “Amnésia” é Leonard, um homem incapaz de armazenar novas memórias após ser agredido pelo mesmo homem que estuprou e matou sua mulher. Em busca de vingança ele desenvolveu um sistema de notas, fotos e tatuagens para se lembrar do que é importante e do último propósito que ainda o mantém funcionando.

    Em determinado momento Leonard diz que sua condição é como estar sempre acordando, sempre naqueles poucos minutos em que o mundo ainda não entrou em foco e você não sabe exatamente quem é ou onde está. E a estrutura do filme simula exatamente essa sensação: cada vez que um novo fragmento começa o espectador não tem ideia de como chegou ali.

    No entanto, mesmo ao contrário, a informação se acumula e conforme o filme avança nós passamos a interpretar a origem dos atos de Leonard sob a ótica de suas consequências. Nolan domina muito bem esse efeito ao inserir reviravoltas e tornar duvidosas as origens de atos que até então julgávamos certos. Ao final do filme o lugar do espectador é de novo muito parecido com o de Leonard: ele viu a conclusão de uma história, mas não pode confiar plenamente nela.

    Dessa forma “Amnésia” usa as possibilidades do cinema para reforçar e construir a historia que conta, e Nolan se prova desde o início um diretor particularmente consciente de seu ofício. No fundo, o filme fala sobre as diversas possibilidades de uma narrativa e, principalmente, da forma como alguém constrói sua identidade a partir das histórias que conta a si mesmo.

    Nolan voltará nesses temas em seus filmes posteriores. Ainda que ele nunca revisite a mesma ousadia de forma, seu cinema se constrói em reflexões sobre identidade, manipulação e as histórias que escolhemos contar para nós mesmos.

    “Amnésia” é ao mesmo tempo um filme não-convencional e um noir, um dos gêneros mais clássicos do cinema, sua estrutura aparentemente difícil é dosada com cenas intermediárias que a tornam mais fácil de absorver. É um excelente filme de estreia e marca Nolan como um grande herdeiro de Hitchcock, tanto nas escolhas narrativas e formais, como na capacidade de andar na linha entre o autoral e o comercial.

    Texto de autoria de Isadora Sinay.

  • Crítica | Na Estrada

    Crítica | Na Estrada

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    Walter Salles é um diretor que gosta de road movies: Central do Brasil e Diários de Motocicleta, seus dois filmes mais conhecidos, se passam quase inteiros na estrada. Foi provavelmente o sucesso na biografia de Che Guevara que fez com que Francis Ford Coppola (detentor dos direitos do romance e produtor executivo de Na Estrada) desse a Salles a direção de um filme que parecia impossível de ser feito (Gus Van Sant e Joel Schumacher já haviam desistido da adaptação).

    Salles prova que sim, Na Estrada era um livro adaptável e inclusive bastante cinematográfico, mas talvez sua vontade de ser fiel ao romance impeça o filme de ser extraordinário.

    Na Estrada é um bom filme e, principalmente, uma boa adaptação: é fiel ao espírito do livro e a maior parte de sua trama, bem atuado, com fotografia impecável, edição eficiente e bons planos na maior parte. Mas é um filme que poderia ser excelente.

    Salles constrói bons contrastes: entre Sal e Dean; Marylou e Camille; Nova Iorque e a Califórnia; entre planos fechados, cheios, quase claustrofóbicos e enormes paisagens abertas; a linguagem direta, simples e apressada de Jack Kerouac e as frases longas e pomposas de Proust (Sal carrega No Caminho de Swann por quase todo o filme). Mas tudo isso não parece se achar no filme que não explora a fundo as contradições e os personagens que tem na mão. Da mesma forma a beleza da fotografia acaba servindo apenas pra isso, não tem função narrativa, não ajuda na construção de uma ideia, o que é uma pena vindo do diretor de Abril Despedaçado.

    Em diversos momentos o diretor faz mais literatura do que cinema, se apoia mais em diálogos e na narração em off do que nas imagens que possui e na boa atuação dos protagonistas. Aliás, um dos grandes méritos do filme é o trabalho dos atores, com um destaque surpreendente para Kristen Stewart, que  equilibra bem o apelo e a fragilidade de Marylou e consegue não ficar apagada perto do trabalho Kirsten Dunst.

    A impressão final é de um diretor com medo de seu material original: um medo de se distanciar do livro, que faz com que o filme perca em linguagem, e medo de cortar passagens, o que o torna um pouco longo e cansativo. Não é um filme ruim, mas não é o filme que Walter Salles poderia fazer, há um encantamento e um frescor em Diários de Motocicleta que deveriam estar presentes aqui, mas não estão.

    Texto de autoria de Isadora Sinay.

  • Crítica | A Vida em Um Dia

    Crítica | A Vida em Um Dia

    A Vida em Um Dia

    Você consegue imaginar um filme feito com cerca de 80.000 clipes de vídeo e mais de 4.500 horas de material fornecido por milhares de pessoas do mundo inteiro? Acredito que é um pouco difícil para qualquer um imaginar e conceber isso, mas A vida em um dia (Life In A Day) está aí em toda sua grandiosidade para mostrar que a ideia não só é possível como também é preciosa.

    Produzido da parceria entre a Scott Free UK (do aclamado diretor Ridley Scott) e o YouTube, o filme conta o que estava se passando ao redor do mundo no dia 24 de julho de 2010 através dos olhos de pessoas ordinárias. Adentramos o íntimo da vida pessoal de pessoas que talvez jamais venhamos a conhecer, mas que nem por isso deixamos de ter um sentimento de empatia por elas.

    O filme é belo e inspirador. As mais diversas cenas são apresentadas, desde a hora em que todos estão se levantando para mais um novo dia até o momento que a noite cai e as pessoas se despedem dele. Diversas culturas e costumes são reunidos mostrando as mais diversas formas de existir enquanto ser humano neste planeta. Somos todos pessoas diferentes e com pensamentos diferentes, porém unidos pela humanidade.

    O diretor brinca em diversos momentos do filme fazendo perguntas como “O que você ama?” ou “Do que você tem medo?” e o mundo responde em mais sequências de cenas simples, porém intensas. Intensidade essa provocada pela sensação de que existe um mundo gigantesco lá fora muito maior do que aquilo que conhecemos. Um dos personagens mais marcantes do filme é um ciclista coreano, o qual já inicia dizendo que não importa saber se é do norte ou do sul, que está viajando o mundo descobrindo novas culturas e engrandecendo a si mesmo enquanto pessoa.

    A vida em um dia é uma epifania de que ninguém nesse mundo está sozinho e nenhuma vida que nele está presente é dispensável. Através dos fatos mais comuns e simples do dia a dia de várias pessoas do mundo atingiu-se a grandiosidade. Muitas vezes nada de especial precisa acontecer para fazer com que um determinado dia valha a pena. Viver é enxergar a beleza nas pequenas coisas e nos pequenos momentos. É basicamente isso o que A vida em um dia nos mostra: a vida em sua plenitude.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.

  • Review | Zelda: Ocarina of Time

    Review | Zelda: Ocarina of Time

    Existem jogos que não só marcam momentos de nossas vidas pacatas, como marcam nossas vidas inteiras. Não estou aqui pra falar de um game qualquer. Estou aqui para falar do jogo que fez uma geração inteira pular da cadeira de empolgação, morder a língua e chorar de emoção. Uma geração inteira uma ova! Até hoje vejo gente catando um Nintendo 64 por aí para poder colocar suas mãos nessa belezinha. Sem mais delongas, vamos falar de Zelda: Ocarina of Time!

    Em 1998, o quinto jogo da franquia The Legend of Zelda (A Lenda de Zelda, em tradução livre), Ocarina of Time, era lançado para o N64. Trazendo uma épica história de fantasia que revolucionaria os rumos da franquia e o modo como todos os gamers passariam a ver jogos de RPG, Ocarina veio a ser possivelmente o game mais aclamado da geração 32/64 bits. Nada do que vou falar aqui já não foi dito anteriormente por algum outro fã maluco desse duende que fica correndo por aí com uma espada e um escudo nas mãos, mas é uma questão de valores. O game nos trouxe novos valores a serem considerados e que, indubitavelmente, até hoje nos fazem comparar com as gerações mais recentes de videogames.

    A premissa do jogo é bem simples: você controla Link, um elfo que reside na Floresta Kokiri, localizada no reino de Hyrule. Certo dia, Link se depara com a missão de salvar o reino de Hyrule das mãos do malévolo Ganondorf, o qual quer obter a todo custo o poder da Triforce, um item poderosíssimo que poderia dar a capacidade de dominar o mundo (para o bem ou para o mal) ao seu possuidor. Tendo sido confiada a responsabilidade de salvar o mundo pela própria princesa Zelda, Link (você) sai em uma jornada em busca das pedras espirituais que vão poder evitar que Ganondorf conquiste a Triforce. Como todo bom RPG, como se não bastasse o herói ter que buscar as pedras espirituais, viajamos para o futuro com a ajuda da fiel companheira Master Sword e nos deparamos com um mundo dominado pela maldade. Salvar o mundo com certeza iria dar um pouco mais de trabalho do que parecia.

    Como disse anteriormente, a premissa do jogo é bem simples – o que não quer dizer que é ruim, desaponta ou perde em originalidade. Muito pelo contrário. Somos apresentados a uma história envolvente e com personagens fantásticos. Você é transportado para um mundo de fantasia que te imerge em mais de 30 horas de jogo e que te faz perceber a infinidade de possibilidades de interação com o cenário e os objetos que o compõem. Shigeru Miyamoto, criador de Zelda, Mario e Donkey Kong, é um gênio e Ocarina of Time está aí para comprovar esse fato. E digo gênio mesmo lembrando das centenas de momentos do game que esse japonês malandro nos faz passar e que são difíceis pra burro – além de muitas vezes extremamente irritantes. De qualquer forma, isso não é desculpa pra nenhum gamer e o jogo não perde nem um pouco em beleza por causa disso. Aproveitando o ensejo e falando de beleza, vale dar um destaque importante à trilha sonora do game, que não é nada menos do que incrível. Composta por Koji Kondo, as músicas do game acompanham nossos sentimentos conforme a história vai se desenvolvendo. Mais um ponto para um jogo que simplesmente se tornou uma obra prima.

    O game é um action RPG, ou seja, você controla seu personagem livremente durante o jogo inteiro, em contraposição ao games da franquia Final Fantasy, por exemplo, no qual as ações são realizadas em turnos, tal qual um RPG convencional (de livro). Esse fato dá um pouco mais de fluidez às batalhas, já que não tem como prever os movimentos dos inimigos. Dessa forma, cada batalha, cada criatura, cada chefão devem ser estudados meticulosamente para que possamos sair vitoriosos.

    Em termos de entretenimento, Ocarina traz muitas boas surpresas. Além de uma quantidade considerável de itens a serem adquiridos ao longo do game (três tipos de roupas, botas, espadas e escudos diferentes, cada um com uma habilidade especial, além de bombas e magias), nosso personagem é detentor da ocarina do tempo, um instrumento musical mágico. Conforme a história vai evoluindo, ganhamos diferentes músicas para serem tocadas nesta ocarina, as quais possuem habilidades únicas e que ajudam nosso herói em momentos diversos do jogo. O game é tão meticuloso com detalhes assim que às vezes é difícil lembrar que temos um certo item (ou uma certa música) que poderá ajudar a resolver determinado puzzle no mapa.

    Ah, os puzzles! Se você é um gamer hardcore e gosta de bons desafios, tenho certeza que irá gostar do que Zelda tem a oferecer. Quem já esta acostumado com a franquia já vai conhecer o estilo de desafios que vão surgindo, mas não dispensa o fato de que devemos ser atentos a detalhes. Um buraco na parede pode ser o indicativo de que ela deve ser explodida, por exemplo. Qualquer coisa pode significar um avanço no jogo e qualquer desatenção pode representar um atraso de 20 minutos circulando em um mesmo cenário.

    Outro ponto que não envolve questões técnicas, mas que vale ser destacado, são as diversas (e inusitadas) possibilidades que o game apresenta. Se você, assíduo, que se empolgou em poder controlar livremente seu cowboy montando o cavalo em Red Dead Redemption, o que você sente ao saber (ou lembrar) de poder fazer a mesma coisa em Ocarina of Time? Isso mesmo. Após controlar nosso personagem crescido podemos montar em Epona e andar livremente pelo cenário, facilitando a locomoção entre as longas distâncias do mapa (lembrando que trata-se de um game de RPG, ou seja, temos que ir pra lá e pra cá incessantemente por centenas de vezes). Outro destaque não tão importante, mas que vale ser apontado só pelo fato de ilustrar tamanha criatividade dos desenvolvedores do game, é a possibilidade de participar de uma espécie de mini-game de pescaria. Sim, meus caros, você pode brincar de pescaria e ganhar prêmios de acordo com o tamanho do peixe que você consegue fisgar. O mais engraçado de tudo isso é que em um momento como o jogo da pescaria ficamos tão descontraídos que, quando percebemos, nos esquecemos de fazer as missões principais e já perdemos um bom tempo brincando de pegar alguns peixes.

    Uma boa notícia para a nova geração de gamers que podem estar lendo esse texto é que Zelda: Ocarina of Time foi relançado para o mais recente console portátil da Nintendo, o 3DS. A história continua a mesma, mas os gráficos foram melhorados e poder ter a experiência desse jogo no portátil deve ser no mínimo interessante.

    Não preciso deixar ainda mais claros os motivos pelos quais sou apaixonado por Zelda: Ocarina of Time, não é mesmo? Relembrar é viver e esse game merece estar vivo por toda a eternidade. Se você aí não teve a oportunidade (ou nunca se sentiu realmente interessado) de jogar, só te digo uma coisa: o que você está esperando? Vá salvar Hyrule!

    Texto de autoria de Pedro Lobato.

  • Resenha | Scott Pilgrim Contra o Mundo

    Resenha | Scott Pilgrim Contra o Mundo

    Scott Pilgrim Contra o Mundo - Bryan Lee O´Malley
    Scott Pilgrim é um jovem roqueiro de Toronto, meio lesado, desempregado por opção e que mora com um amigo gay – os dois dormem na mesma cama, pois só têm uma. Sua rotina consiste em jogar video game, ensaiar com sua banda horrível, namorar uma colegial porque isso é simples (um namoro em que nem pegar na mão rola) e basicamente não fazer nada. Scott está satisfeito com sua preciosa vidinha. As coisas mudam quando ele se apaixona pela misteriosa americana Ramona Flowers: pra ficar com ela, Pilgrim terá que derrotar os sete membros da Liga dos Ex-Namorados do Mal de Ramona.

    A maluquice acima é a sinopse de Scott Pilgrim Contra o Mundo, lançamento da editora Quadrinhos na Cia. para livrarias e comic shops. A edição reúne os dois primeiros volumes da série, de um total de seis. Trata-se de uma criação do cartunista canadense Bryan Lee O’Malley, e de obra independente e underground rapidamente se tornou cult, aclamada e premiada. E como não poderia deixar de ser, virou filme. Dirigido por Edgar Wright (de Todo Mundo Quase Morto e Chumbo Grosso) e estrelado pelo onipresente Michael Cera e a coisinha linda que papai do céu botou na terra, Mary Elizabeth Winstead.

    Mas qual é a dessa hq, afinal? É até meio difícil descrever, pois é algo diferente de tudo. Uma coisa única. Acho que Scott Pilgrim, no fim das contas, é como as cebolas e os ogros: tem camadas. A primeira, mais visível, é uma comédia romântica. Engraçadinha, bonitinha… e completamente viciante, por conta do carisma dos personagens. O traço, aliás, causa um certo choque à primeira vista, por ser MUITO caricato, tosco até. Mas em pouco tempo você se acostuma e percebe que o autor consegue passar uma expressividade absurda com um desenho tão simples.

    A segunda camada é a da diversão non sense. O clima de história realista é quebrado quando chega a hora da pancadaria: superpoderes, elementos de games (os inimigos são derrotados e deixam moedas e itens!), além de um humor insano e incompreensível as vezes… creio seja humor canadense, sei lá. Também há referências mil à cultura pop em geral (quadrinhos, games, música, cinema, etc.) e uma certa metalinguagem, quando alguém pergunta algo do passado e Scott diz “deixa isso pro próximo volume”.

    E por fim, mais uma camada, essa nas entrelinhas: o retrato social de uma geração. Aí reside a genialidade de O’Malley, e é o que diferencia as OBRAS-PRIMAS do resto no mundo do entretenimento, a capacidade ser profundo e simples ao mesmo tempo. Scott e aqueles que o cercam estão na fase da vida que alguns chamam de pós-adolescência, vinte e tantos anos. Quando as pessoas estão começando a enfrentar as responsabilidades (e chatices) da vida adulta, com a síndrome de Peter Pan batendo forte. Medo do que vem pela frente, vontade de mandar um f*da-se pro mundo e só se divertir. Fala sério, quem não se identifica com isso? Nosso herói Scott atravessa essa jornada de crescimento e amadurecimento, seja psicológico, emocional, financeiro… HUMANO.

    Por tudo isso, é uma obra recomendadíssima para todos, sem ressalvas. Esqueça qualquer preconceito e curta essa viagem. Quer você aproveite só uma, duas ou as três camadas, sem dúvida vai valer a pena.

    Texto de autoria de Jackson Good.

  • Resenha | Orgulho e Preconceito e Zumbis – Seth Grahame-Smith

    Resenha | Orgulho e Preconceito e Zumbis – Seth Grahame-Smith

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    É uma verdade universalmente reconhecida, que um homem solteiro na posse de uma boa fortuna deve estar em busca de uma esposa”. No entanto, para Seth Grahame-Smith também é uma verdade universalmente reconhecida que um zumbi que possua cérebros deve estar em busca de mais cérebros. E é assim, parodiando a famosa frase de abertura de um dos romances mais populares da história, que Grahame-Smith começa seu Orgulho e Preconceito e Zumbis.

    O livro segue mais ou menos a mesma trama, a história cheia de desintendimentos e acidentes da relação entre Lizzie Bennet, independente demais para uma mulher da sua época, e Mr. Darcy, jovem rico e orgulhoso, mas acontece em uma dimensão paralela em que a Inglaterra vitoriana é infestada por zumbis.

    A praga não tem qualquer explicação, mas é dado a entender que vem indo e voltando há séculos. A coroa inglesa a combate com seu exército oficial e guerreiros associados, entre eles as irmãs Bennet e Mr. Darcy. O treinamento é feito no oriente, China ou Japão, e a habilidade nas “artes letais” um grande sinal de distinção.

    O livro é cheio de detalhes divertidos, como o momento em que Elizabeth pondera que um mosquete é uma arma melhor que uma adaga, mas considerado “pouco feminino” e referência a katanas e ninjas. Como se espera de uma história zumbis a momentos nojentos e por alguns momentos chegamos mesmo a entrar na mente de um infectado em transformação.

    No fim, a adaptação mantém muito do espírito de Jane Austen, inclusive a ironia da autora, mas deixa o livro ainda mais divertido pelo nonsense e as cenas de aventura. Há boatos de uma adaptação cinematográfica produzida por Natalie Portman, daria mesmo um ótimo filme.

    Texto de autoria de Isadora Sinay.

  • Resenha | Sandman Apresenta – Os Caçadores de Sonhos

    Resenha | Sandman Apresenta – Os Caçadores de Sonhos

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    Não sei se foi você que veio a mim ou eu que fui até você. Nem se foi realidade ou se foi sonho, adormecido ou desperto. Estou perdido nas trevas de um coração abatido. Se foi sonho ou realidade, que decidamos nesta noite.”

    Digo desde já que as chances de eu ser imparcial falando de Neil Gaiman são remotas. É com certeza um dos escritores que mais me influenciaram; admiro-o com todo o respeito e sempre fico empolgado quando vejo um livro ou quadrinho que foi roteirizado pelo mesmo. Não foi à toa que não demorei cinco minutos para comprar Sandman – Os Caçadores de Sonhos quando vi em uma livraria.

    Primeiramente, esta obra foi lançada em formato de livro, em comemoração ao décimo aniversário de Sandman. À época, Gaiman transcrevia para o inglês os diálogos de filmes de Hayao Miyazaki, o que o fez estudar sobre mitologia japonesa. Foi da leitura do conto A Raposa, o Monge e o Mikado dos Sonhos que surgiu a inspiração para a adaptação da história para o mundo de Sandman, pois havia enxergado uma grande semelhança com o universo do seu personagem. Juntou-se ao artista Yoshitaka Amano e concluiu um trabalho que foi recebido de braços abertos por todos os fãs. Dez anos se passaram e P. Craig Russell resolve adaptar a obra literária de Gaiman para uma história em quadrinhos. Felizmente, o resultado deste trabalho grandioso se encontra em minhas mãos.

    Os Caçadores de Sonhos conta a história de um Japão antigo em que criaturas mitológicas e lendas viviam entre os humanos. Certo dia, uma raposa apostou que faria um humilde monge perder a guarda de seu templo, porém acabou se apaixonando por ele. Um maldoso senhor, que dominava as artes de magia demoníaca, cobiçou a força interior do monge e a queria roubar para si a qualquer custo. O Rei dos Sonhos se vê em favor de um amor que nunca deveria ter acontecido.

    Não é necessário dizer mais nada sobre a história. A sinopse acima é o suficiente para ilustrá-la na imaginação virgem de quem ainda não a leu e atiçar a curiosidade.

    P. Craig Russell faz um trabalho grandiosíssimo adaptando com delicadeza para a linguagem dos quadrinhos uma história que já havia feito bastante sucesso. Consegue transpor em imagens todos os elementos e a atmosfera presentes nas histórias de Neil Gaiman. Se aproximando ainda mais do universo em que se passa o conto, o artista, juntamente com o colorista Lovern Kindzierski, mistura a beleza da arte asiática e técnicas da art nouveau europeia, para assim criar um padrão de proximidade da arte com aquilo que o leitor está lendo. Os traços de Russell, juntamente com as cores de Lovern, são simples, porém ricos em detalhes, sempre valorando os elementos importantes de cada quadro que se vislumbra.

    Para aqueles que já conhecem as histórias de Sandman, este livro é uma obrigação, pois ainda podemos contar com ilustrações lindíssimas de vários artistas diferentes (como Mike Mignola, Yuko Shimizu, Paul Pope, Joe Kubert e do próprio Russell) nos extras do encadernado.

    Falar mais sobre este lançamento apenas seria continuar insistindo no óbvio. Minha intenção inclusive não é dar spoilers, longe disso, pois estaria incorrendo em um erro gravíssimo para aqueles que leem as obras de Gaiman. Meu objetivo, porém, é incentivar a leitura e a experimentação (porque é assim que visualizo a leitura deste, como uma experiência) desta belíssima obra.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.

  • Crítica | Para Roma com Amor

    Crítica | Para Roma com Amor

    To-Rome-with-Love

    Woody Allen é um cineasta de fórmulas: sua filmografia consiste em algumas histórias contadas repetidas vezes de forma mais ou menos parecida.  Porém o diretor é tão dono de seu estilo que é capaz de injetar frescor na obra e manter o interesse em filmes que apresentam pouca coisa de novidade.

    Mas, se o talento de Woody Allen é ser Woody Allen, seus filmes não são tão bons quando ele tenta ser outro diretor. Ainda que esse diretor seja Federico Fellini.

    Para Woody Allen (como para mim e, imagino, para a maior parte daqueles que já ficaram atrás de uma câmera de cinema), Roma é de Fellini, e ele enche seu filme de referências e homenagens ao diretor italiano: o núcleo do casal em lua-de-mel é adaptado de Abismo de um Sonho, o surrealismo da história de Leopoldo ou do “cantor de chuveiro” são absolutamente fellinianos.

    Mas de todas essas histórias a mais interessante é que tem menos Fellini e mais Woody Allen. O personagem de Jesse Eisenberg é um dos muitos alter-egos do diretor, um daqueles personagens inseguros, neuróticos, intelectuais e desajustados que ele analisa tão bem, mas que nesse filme não ganha espaço para ser olhado de perto, justamente por conta dos múltiplos núcleos.

    O forte de Allen são seus personagens e a forma como ele destrincha suas inseguranças, medos e neuroses. A graça de seus filmes é a lupa colocada nas nossas relações, nas brigas e detalhes de cada personalidade. Assim, ao optar por contar várias histórias ao mesmo tempo o diretor perde aquilo que tem de melhor e constrói um filme bastante simpático e eficiente, mas que não tem o carisma de seus melhores momentos.

    Texto de autoria de Isadora Sinay.