Categoria: Críticas

  • Crítica | Réquiem Para um Sonho

    Crítica | Réquiem Para um Sonho

    Réquiem Para um Sonho

    Em seu segundo longa, Darren Aronofsky retorna com um filme realista onde retrata a vida de quatro dependentes de drogas, desde seu início e o que motivou essa atitude, os sonhos até seu total declínio, retratando como ela é usada como um instrumento do agora, de uma busca de seus objetivos, porém, da forma mais rápida e fácil possível.

    Trazendo um elenco pequeno, mas com grande enfoque e profundidade em todos as personagens, Réquiem Para um Sonho é uma daquelas obras-primas ao retratar o declínio do ser humano em decorrência do vício, seja ele qual for.

    A trama conta a história de quatro viciados cheios sonhos, três deles são jovens, Harry (Jared Leto), Tyrone (Marlon Wayans) e Marion (Jennifer Connelly). Todos os três são viciados em drogas e buscam nela uma perspectiva para mudança em suas vidas passando a traficar, cada um com seu objetivo. Harry quer montar uma loja de grife para sua namorada Marion, ela por sua vez só queria não depender dos seus pais ricos para isso. Tyrone almejava ser alguém, não sofrer discriminação pela sua cor e provar para sua mãe que seria bem-sucedido.

    Em paralelo temos a personagem mais profunda, Sara Goldfarb (Ellen Burstyn), a mãe de Harry. Sara é uma senhora onde sua única distração é a televisão, onde passa boa parte de sua vida vendo programas de auditório. Sua vida muda quando recebe uma possível proposta para participar desse programa, com isso resolve se consultar com um médico para lhe receitar algo que a ajudasse a emagrecer. Sara passa a administrar comprimidos de anfetamina e calmantes que com o passar do tempo passam a lhe propiciar alucinações, com isso Sara passa a aumentar a dosagem dos comprimidos.

    A narrativa é contada por meio das estações do ano. O filme inicia no Verão, onde temos o ponto alto das personagens, e com a mudança de estações, esses mesmos personagens caminham para um final trágico. Os cortes rápidos do Diretor e a trilha de Clint Mansell ajudam a ambientar a ruína das personagens.

    Réquiem Para Um Sonho definitivamente não é um filme feliz. Não existe redenção alguma. A cada sequência em tela, nos sentimos incomodados com a forma cruel que os efeitos das drogas causam aos seus dependentes. Só resta desespero e dor. Ademais, fica claro a bandeira contra às drogas que o filme levanta, no entanto, em nenhum momento soa panfletário, nem tenta forçá-lo a tomar partido ou servir como lição de moral para alguém, ele apenas “vomita” a ruína causada pelas drogas ao longo de toda sua projeção. Cabe a cada um refletir se tudo o que viu é o suficiente ou não.

    Ouça nosso podcast sobre Darren Aronofsky.

  • Crítica | Cisne Negro

    Crítica | Cisne Negro

    Cisne Negro

    Darren Aronofsky nos apresenta um thriller psicológico intenso, desafiante, até mesmo aflitivo… Mas ao mesmo tempo imperdível.

    Em uma primeira leitura da sinopse do Cisne Negro, dificilmente alguém se surpreenderia com a sua história. O mais atento, porém notaria que a obra é assinada por um diretor autoral que já nos trouxe filmes de qualidade dificilmente questionáveis, para se dizer o mínimo.

    A obra acompanha a história de Nina Sayers (Natalie Portman), uma dançarina de balé clássico que  almeja o papel principal no mais do que famoso espetáculo ‘O Lago dos Cisnes’. A Rainha Cisne é este papel, e para interpretá-lo Nina terá que mostrar não somente o seu lado doce e frágil do cisne branco, mas também deixar aflorar seu alter ego, o cisne negro. Metáfora clássica maniqueísta que por sí só já diz muito sobre a personagem e os diversos obstáculos que ela vivenciará.

    E é aí que o filme arrebata o espectador mostrando o que Aronofsky tem de melhor. Sua edição singular unida a uma interpretação por parte de Natalie Portman sem igual, merecidamente indicada ao Oscar de melhor atriz. Como tantos outros personagens do diretor, Nina se vê cercada de ameaças aos seus maiores objetivos de vida, sejam estas reais ou não. Sua obsessão culmina na personagem de Mila Kunis (Lyli). Lyli em teoria teria as qualidades faltantes em Nina para interpretar o lado mais sombrio da Rainha Cisne. A interação entre as duas é cercada de mistério e desconfiança por parte de Nina. Mila Kunis também não deixa a desejar, atuando com uma sensualidade e sedução que atinge perfeitamente o que o cisne negro representa na história.

    Conseguimos ver em Nina diversas características de trabalhos anteriores de Darren. A sua busca por perfeição, superação e até mesmo sua autodestruição são recorrentes. Max em π (PI), Randy em O Lutador e Tomas em A Fonte da Vida, todos têm em si um pouco dessas características. Isso dá uma identidade aos personagens de Darren, e que quase que invariavelmente resulta em ótimas atuações, seguido de um terror psicológico até mesmo incômodo. Com isso Darren consegue atrair e (algo ainda de maior mérito) manter a nossa atenção em seu núcleo esquizofrênico, bestial, frenético.

    Não poderia deixar de comentar também a magnífica trilha sonora, sempre bem dosada com as aflições de Nina. Quem assina a trilha é Clint Mansell, que já havia trabalhado com Aronofsky em seus quatro filmes anteriores. Ele usa da trilha original de Tchaikovsky para o Lago dos Cisnes com algumas nuances. Tornando algumas cenas simplesmente épicas e que valem a pena serem conferidas no cinema.

    A fotografia é outro espetáculo neste filme. Os poucos, mas muitíssimo bem executados efeitos especiais adicionam o terror, ou a beleza necessária em diversas cenas. Estes efeitos são importantes para marcar o contraste dos fantasmas internos de Nina, como também para acentuar sua integração, principalmente quando esta não pode mais ser negada ou escondida.

    Com tudo isso, Darren Aronofsky nos delicia com mais um grande filme. Um real espetáculo em diversos quesitos técnicos e ainda com uma substância psicológica que não pode ser desconsiderada e vale como uma síntese da obstinação do ser humano na busca pela perfeição.

    Texto de autoria de Amilton Brandão.

    Ouça nosso podcast sobre Darren Aronofsky.

  • Crítica | O Lutador

    Crítica | O Lutador

    O Lutador

    Darren Aronofsky traz de volta aos holofotes Mickey Rourke, em um filme quase autobiográfico do próprio ator. O Lutador utiliza uma abordagem com um caráter bastante documental, Aronofsky passa a seguir Rourke com sua câmera durante boa parte da filmagem, sendo bem comum, olharmos as costas do ator durante o longa, o que remete não apenas a um documentário, como a algo bastante pessoal, registrando os  acontecimentos da vida do protagonista.

    O filme conta a história de Randy “The Ram” Robinson, um astro de luta livre que foi muito conhecido durante os anos 80, mas que hoje em dia vive das glórias do passado, já que foi esquecido pela maioria, não só pelo desinteresse pela atração nos dias atuais, como também por sua personalidade autodestrutiva. A partir daí, se faz necessário um comparativo com a carreira do próprio Mickey Rourke, que como um dos grandes astros do cinema, caiu no esquecimento devido a sua vida repleta de excessos, e com isso passou a ganhar a vida fazendo filmes baratos, sem nenhum apelo do grande público.

    Randy tinha um futuro promissor, mas devido a uma série de escolhas equivocadas e da forma destrutiva que levou sua vida pessoal, chegou em um situação difícil financeiramente e familiarmente, já que nem sua filha o quer por perto. Na sequência inicial vemos uma série de montagens de sua época áurea, para logo depois o reencontrarmos vinte anos após, sozinho, com uma saúde já debilitada e se preparando para uma luta em uma escola infantil. A câmera demora a mostrar o rosto de Rourke, o que torna um triste reencontro, pois vemos que de galã de uma época, ele se tornou um homem de meia-idade completamentamente destruído pelo tempo e seu modo de vida.

    Stallone já havia ajudado o amigo em O Implacável (Get Carter), dando um papel de destaque para o astro em 2000, porém, o próprio Stallone estava tentando se reinventar na época e assim como o próprio Rourke, vivia de glórias do passado e filmes menores até se reencontrar com Rocky Balboa, de 2006. O reconhecimento merecido de Rourke, só viria anos depois com “O Lutador”, graças ao roteiro de Robert Siegel e a direção de Aronofsky.

    Os anos foram cruéis com Randy, que apesar de demonstrar um bom físico, notamos que  isso é devido ao uso exarcebado de anabolizantes, o que acabou lhe rendendo um problema no coração. Seu personagem sofre grandes dificuldades financeiras e com isso, se sujeita a trabalhar em um supermercado enquanto continua com suas lutas nos finais de semana. O contraste entre seus dois empregos é brutal, enquanto como lutador, recebe o carinho dos fãs e vê seus companheiros de luta como uma verdadeira família, o oposto ocorre no supermercado, onde recebe um tratamento degradante através do seu patrão.

    Rourke se doa por inteiro, transmitindo uma onda de emoções a cada momento em tela, deixando exposto a enorme sensibilidade da personagem, como quando recebe a notícia de quem não poderia mais subir aos ringues, ou mesmo nos diálogos com a stripper Cassidy, personagem de Marisa Tomei, que se identifica com Randy. Cassidy passa o mesmo que Randy, o pesadelo da idade, pois mesmo continuando linda, seus clientes já acham ela velha demais, e sente que em breve, terá que abandonar o palco. A troca do velho pelo novo.

    Entre os personagens centrais da trama, temos tambem Evan Rachel Wood interpretando a filha de Randy, Stephanie, e conhecemos um pouco mais do lado autodestrutivo de Randy e sua capacidade de magoar todos à sua volta, já que ela hesita em permitir uma reaproximação com o pai, devido ao passado onde foi magoada por ele. Rachel Wood traz uma grande atuação, mesmo com poucos momentos em tela. É impossível não sensibilizar com a vulnerabilidade da garota e as trocas de olhares que tem com o pai, muitas vezes sem necessitar de diálogo algum entre eles.

    Aronofsky adota um estilo narrativo completamente diferente de seus filmes anteriores, exibindo uma direção mais realista, quase documental, linear e pessoal, trazendo o expectador para a trama e apesar de não cair no lugar comum usando um tom melodramático, O Lutador emociona por esse pé na realidade, e claro, as atuações, bom roteiro e excelente direção, tudo sem soar clichê ou mesmo forçar uma identificação com o protagonista, como ocorre com tantos dramalhões por aí, pelo contrário, Randy é uma pessoa que vive cometendo os mesmos erros, autodestrutivo e trágico, mas que nem por isso, não se torna inesquecível.

    O Lutador é um filme sobre envelhecer, o que nos define como pessoas e o quanto podemos seguir adiante sem perder nossa identidade.

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  • Crítica | Os Goonies

    Crítica | Os Goonies

    Os Goonies

    Pois é, bateu uma nostalgia nesses últimos dias e decidi assistir novamente o clássico da Sessão da Tarde, Os Goonies. Me pergunto, qual jovem nascido no final entre os anos 70/80 não se divertiu com este filme?

    O filme tinha a receita exata para a geração daquela época, afinal, era bastante comum inventar brincadeiras na rua e sair desbravando rua-a-rua, arrumar confusões com o pessoal do bairro vizinho, inventar brincadeiras novas ou mesmo as velhas, tudo isso até a hora do sol se pôr, sinal dado para a molecada voltar para casa antes que tomassem uns “petelecos” dos pais. Mas o melhor de tudo eram as tão esperadas férias, onde tínhamos quase 2 meses de diversão, sem se preocupar com lições de casa e provas. Enfim, um retrato de uma geração há muito esquecida, onde as travessuras de rua foram trocadas por horas em frente ao computador ou videogame (bons tempos de fliperama), tudo isso talvez seja motivado pela violência crescente e pelos pais super protetores de hoje, ou talvez, a violência continue a mesma, os pais também e eu esteja bancando o nostálgico aqui… Talvez, seja isso mesmo.

    No meio disso tudo, tínhamos os famosos filmes “juvenis” dos anos 80, entre eles estão clássicos como Conta Comigo, Clube dos Cinco, Curtindo a Vida Adoidado, entre tantos outros. Dentre essa invasão, Os Goonies reunia tudo aquilo que as crianças daquela época viviam: aventuras, confusões, trapalhada (parece até uma chamada da sessão da tarde, não é mesmo?), talvez por isso, o filme seja tão querido por tantos, por tudo que representou em sua infância, um retrato de suas aventuras, em menor potencial, é claro. Mas ele tem o ar infantil que toda criança tem, a vontade de sair por aí, conhecer novos lugares, fazer novos amigos, saber seus limites, Goonies transpira tudo isso.

    Richard Donner consegue transpor todos esses sentimentos em tela, o filme “cheira” a aventura juvenil, seja no roteiro, nas interpretações ou mesmo na trilha. A produção é assinada por ninguém menos que Steven Spielberg e o roteiro é do próprio, com a adaptação feita por Chris Columbus. Com um time desses, é difícil acreditar que não poderia dar certo.

    Falar da história de Goonies não é novidade pra ninguém, porém, se existe alguém que ainda não viu (corrija essa falha de caráter agora!), vamos lá. A cidade onde um grupo de garotos moram, será demolida para a criação de um campo de golfe, com isso, esse grupo de amigos terão de se mudar para lugares distantes uns dos outros, colocando ao fim nas aventuras vivenciadas por eles. No último dia deles em sua cidade, Mikey (Sean Astin ainda criança), encontra um mapa que supostamente levaria a um tesouro pirata.

    Como uma última aventura do grupo, eles decidem sair em busca desse tesouro e quem sabe quitar a dívida que os possibilitava de continuar com suas casas e impedir a construção do campo de golfe e a separação deles. Contudo, um dos pontos de partida fica dentro de uma casa na colina (por sinal, que fotografia excelente durante este trecho do filme), que está habitada pelos Fratelli, bandidos foragidos que estão usando o local como esconderijo. Uma trama relativamente simples, porém, divertidíssima.

    A produção de Spielberg não poupou verba durante o filme. Quem não se lembra do navio pirata construído em tamanho real para as filmagens? Quanto ao elenco, os personagens são carismáticos e muitos se tornaram ícones da cultura pop. Cenas como a do Gordo se confessando para os Fratelli, Sloth e seus chocolates, Bocão falando espanhol com a empregada da mãe de Mikey e as invenções que nunca davam certo do Data são inesquecíveis.

    Direção impecável e elenco cativante em uma história aventuresca e repleta de magia torna Goonies um filme que sempre será lembrado com carinho por quem já o assistiu, e acima de tudo, Goonies é um retrato de uma geração que quem viveu, sente saudades.

  • Crítica | Final Fantasy VII: Advent Children

    Crítica | Final Fantasy VII: Advent Children

    Final Fantasy VII Advent Children

    Preparem as pedras. Final Fantasy VII: Advent Children, dirigido por Tetsuya Nomura e Takeshi Nozue, é um filme apenas para fãs xiitas que não aceitam sua má realização e roteiro pífio. Só tive a oportunidade de conferir o longa, tempos atrás, e minha decepção não foi pouca.

    Antes de prosseguir, é necessário fazer alguns apontamentos: O filme se passa logo após o término do jogo, para ser mais preciso, dois anos depois, porém, não vemos mudanças nenhuma no mundo em questão. Um doença sem cura chamada Geostigma surge, infectando diversas pessoas. Sem grandes explicações, surgem três novos vilões que são clones do Sephiroth, que estão em busca da entidade Jenova, pois através dela conseguiriam convocar um misterioso ser chamado “Mãe”. Cloud continua com seus problemas não superados e agora infectado pela nova doença.

    Sendo simplista, esse é o cenário onde se passa o filme, após os dois anos da derrota de Sephiroth, o mundo continua o mesmo, os personagens continuam com os mesmos problemas. Cloud está insuportável, já não bastasse todos os problemas e dramas psicológicos no jogo, aqui ele volta sem evolução alguma.

    Não poderia deixar de citar a tentativa frustrada da Square Enix em trazer de volta Sephiroth para a grande batalha final, porque não o deixam morto e tentam emplacar um outro grande vilão? Enfim, totalmente desnecessário, só mostrou que o filme foi um grande caça-níquel para os milhares de fãs que a franquia tem espalhada pelo mundo.

    O filme tem seus momentos: Lutas muito bem coreografadas abusando da computação gráfica, trilha fantástica de Nobuo Uematsu, fotografia de encher os olhos, todos os personagens da série estão de volta. Porém, as coisas param por aí, o roteiro é uma bagunça, é IMPOSSÍVEL para quem não jogou FFVII entender o que está se passando em tela, aliás, é difícil até pra quem jogou.

    Apesar da animação ser magnífica, como sempre, me incomodou um pouco o design dos personagens, boa parte dos personagens masculinos estão com um visual andrógino demais até para animes. No final das contas, Final Fantasy VII: Advent Children é mais um filme descartável, que seria abominável, se não fosse pela trilha sonora de Uematsu e a qualidade técnica da animação.

    Recomendado apenas para “fãs”.

  • Crítica | Arraste-me para o Inferno

    Crítica | Arraste-me para o Inferno

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    Sam Raimi é um desses diretores que alçou o seu lugar na indústria pela criatividade empreendida em seus trabalhos, isso está explícito em sua série que o tornou visível para a Hollywood. Evil Dead ou Uma noite Alucinante, como ficou conhecida por aqui, era uma filme de terror que mesclava efeitos especiais paupérrimos, com um roteiro de terror simples mas extremamente funcional, tudo isso somado a doses de humor que beiravam o ridículo, e assim tornou-se um dos grandes nomes do chamado cinema “Terrir”.

    Com o tempo, Raimi abandonou o seu cultuado Evil Dead e foi se aproximando cada vez mais a um cinema hollywoodiano sem deixar sua veia autoral de lado, mas abandonando um pouco o gênero que o havia sido consagrado, porém, em 2009 ele retorna com Arraste-me Para o Inferno, um retorno ao passado em grande estilo.

    A história do filme é focada em Christine Brown (Alison Lohman), uma jovem simpática que trabalha em uma instituição financeira que com o tempo se vê obrigada a mudar o rumo de sua vida e se tornar uma pessoa mais ambiciosa, após seu chefe colocá-la em uma competição direta com seu colega de trabalho para uma oportunidade de promoção em seu emprego. Após ser pressionada pelo seu chefe de não conseguir tomar decisões difíceis, Christine nega um crédito para uma senhora idosa, e com isso faz com que ela perca seu imóvel.

    O que Christine não sabia era que essa senhora na realidade era uma feiticeira cigana, e que após se humilhar e ter seu crédito negado, um feitiço é preparado para a jovem. A maldição da Lâmia, que consiste em três dias de tormentos e ao fim desse terceiro dia, ela seria arrastada para o Inferno de onde não sairia mais.

    Raimi acerta em cheio, ao utilizar um tema que está tão em voga nos dias atuais como uma metáfora em seu filme. O capitalismo desenfreado, o desapego ao próximo e a crise econômica que tem assolado o mundo são colocados nas entrelinhas do longa, acrescentando um ponto para reflexão, que os mais atentos não deixarão passar despercebido. E tudo isso fica claro quando o banco em que a protagonista trabalha nega o crédito para a senhora, tomando seu imóvel e em decorrência disso, sua vida. O desespero da cigana em perder sua casa é o mesmo de Christine em lutar pela sua vida, custe o que custar.

    O trabalho de direção de Raimi é impecável, usando planos originais e com precisão, com um destaque para a cena entre o duelo entre dois carros, além de tantas outras tomadas que utilizam do clima sombrio na medida exata, e esse é o grande mérito do diretor, saber que o terror está em criar o clima proporcionando uma tensão que acarretará no susto, e não abusando de efeitos especiais e cenas de violência desmedidas.

    O elenco funciona muito bem, principalmente com sua protagonista, Alison, que funciona perfeitamente como a típica heroína de filmes de terror, porém, com personalidade, repleta de ambições e frustraçoes, defeitos e qualidades, enfim, uma personagem de verdade, não os estereótipos das atrizes de terror. O filme ainda arruma espaço de destaque para os coadjuvantes, entre eles, Justin Long, que interpreta o namorado de Christine, tendo uma boa química com o personagem. Lorna Raver interpreta a Sra. Ganush, a cigana/bruxa que faz o papel da antagonista da história, simplesmente medonha.

    Arraste-me para o Inferno prova para àqueles que não acreditavam que Sam Raimi teria a mesma vitalidade de antes e vem como um dos principais filmes de terror de 2009, não deixando de lado sua mescla de cenas assustadores e beirando ao gore, para logo depois dar uma aliviada com algo engraçado. Que Sam Raimi nos surpreenda dessa forma sempre.

  • Crítica | Os Garotos Perdidos

    Crítica | Os Garotos Perdidos

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    Se tem algo que sinto falta são os filmes dos anos 80, que apesar de serem taxados de bobos e “vagos” pelos críticos, se tornaram cultuados por toda a molecada da época, e nos dias atuais ainda são lembrados com carinho por quem os viu. Além do que, a cada dia conquista mais adeptos entre os jovens de hoje, indo contra as previsões dos críticos que diziam que ninguém lembraria desses filmes futuramente. Não poderia deixar de lado um dos meus filmes preferidos dessa época: Os Garotos Perdidos.

    A indústria do cinema dos anos 80 apostou em filmes “teen”, claro que estes filmes eram bem diferentes dos que são lançados nos dias atuais. Graças ao saudoso politicamente incorreto, não era raro assistirmos filmes com sequências de sexo, violência e muito humor escrachado, mas acima de tudo, esses filmes enalteciam a amizade, o que não tenho visto hoje em dia, ou talvez seja apenas nostalgia da minha parte. Os Garotos Perdidos não foi uma exceção, tinha de tudo um pouco do que já citei, mas vamos a história em questão.

    Os irmãos Michael (Jason Patric) e Sam (Corey Haim), se mudam com a mãe Lucy (Dianne Wiest) que tinha acabado de se divorciar e buscava novos ares, para casa de seu avô em Santa Carla, uma cidade litorânea, aparentemente pacífica. Ao chegar na cidade, eles percebem que tem algo de errado ali, o lugar é repleto de panfletos de desaparecidos, além de ser conhecida como a “a capital mundial do crime”, como denuncia a pichação na placa de boas-vindas.

    Os dois irmãos logo dão um jeito de se enturmar no novo “lar”, Michael se envolve com uma gangue de motoqueiros aventureiros que são liderados por David (ninguém menos que Kieffer Sutherland, ou Jack Bauer se preferirem). Seu irmão mais novo, Sam, conhece os irmãos Edgar  e Alan Frog (Corey Feldman e Jamison Newlander), em uma loja de quadrinhos, eles se apresentam como caçadores de vampiros e alerta Sam sobre a cidade estar infestada por vampiros.

    Michael se envolve com Star, uma garota que faz parte da gangue liderada por David e com o tempo descobre que os assassinatos e desaparecimentos da cidade são de responsabilidade dessa mesma gangue, e mais do que isso, são todos vampiros. Sam passa a estranhar as novas atitudes do irmão, que passa a trocar a noite pelo dia, e a mudança de temperamento. O resto fica por conta de vocês.

    A direção de Joel Schumacher é competente, e apesar do péssimo Batman Eternamente e sua sequência, a filmografia dele não se resume a isso. Schumacher cria planos abusando das cores vivas, típicas de cidades litorâneas, e da escuridão típica de filmes clássicos de vampiros, criando um meio termo muito bacana.

    É importante lembrar que até o lançamento de Garotos Perdidos, os vampiros estavam em baixa, após o filme, foram consolidados como ícones da cultura pop, só isso já seria motivo suficiente para conferi-lo, mas o filme tem muito mais a oferecer. Com um elenco entrosadíssimo, ainda conta com Corey Feldman e Corey Haim esbanjando carisma e talento. É claro que o roteiro colabora muito na construção dos personagens com uma boa história e diálogos interessantes, consegue ainda retratar a alienação juvenil por meio de metáforas, além de demonstrar o cenário da época retratando a onda punk, tão comum nos anos 80. A trilha sonora é uma das melhores que já ouvi, e inseridas em momentos perfeitos, dando uma imersão incrível a cada cena. Impossível esquecê-las.

    Apesar do tempo, o filme continua sendo uma ótima pedida para aquela sessãozinha de filmes de terror com os amigos. Diferente dos péssimos filmes de terror que tem surgido por ai, Garotos Perdidos vem bem a calhar. Sem falar nos romances vampirescos que invadiram os cinemas nos últimos tempos… Esqueça divagações sobre o quão cruel e triste é ser um vampiro e viver eternamente, aqui temos é vontade de se juntar a eles. Se até agora não consegui convencer ninguém à conferir este clássico dos anos 80, é melhor parar por aqui.

    Enquanto a geração oitentista tinha Garotos Perdidos, os jovens de hoje têm Edward, Bela e cia. E depois ainda me pedem para não ser saudosista…

  • Crítica | Machete

    Crítica | Machete

    machete

    E Robert Rodriguez está de volta com seu cinema mexicano e trash. Após muito medo por parte das distribuidoras, que adiou a data de estréia umas 3 vezes, FINALMENTE Machete chega aos cinemas brasileiros. Com El Gigante Danny Trejo como Machete, policial federal mexicano incorruptível que prefere usar facas (machete) e grande elenco, entre eles, Robert De Niro interpretando um político corrupto e Steven Seagal como um traficante de drogas de cartel que usa espadas… Nada poderia ter uma premissa tão épica.

    O filme começa em estilo impactante mostrando a que veio em sua primeira grande cena. Machete e seu parceiro estão em seu carro indo resgatar uma jovem que foi presa por traficantes, enquanto isso, seu chefe os manda não fazerem nada, e é claro, é completamente ignorado. Machete entra com carro e tudo na casa do traficante e seu parceiro já morre aí. Os próximos minutos são recheados de facadas e cabeças voando até o momento em que o protagonista é pego na armadilha e sua família é morta.

    Não é um roteiro original, passa longe de ser um dos melhores roteiros que você verá por aí, mas não se vai ao cinema ver um filme do Rodriguez, principalmente se tratando de Machete, esperando algo grandioso. Machete é um filme trash e se assume como tal, não poupa esforços para fazer com que o expectador não se esqueça disso. Os clichês estão inseridos nas cenas, diálogos, personagens; TUDO vai às raízes do trash e torna o filme extremamente divertido. Jéssica Alba como policial latina da imigração e Lindsay Lohan como a filha drogada de um traficante são provas das piadas que esse filme pode contar.

    Bom, as atuações não são excelentes, não há nada de incomum ali, exceto alguns poucos exemplos, como do De Niro fora do piloto automático, por exemplo. Já Michele Rodriguez faz a machona de sempre, Danny Trejo não sai muito de suas caras e bocas tradicionais, Jeffrey Frahey (a.k.a Frank Lapidus) também não sai de seu personagem.

    Porém, o filme exagera em determinados momentos. Certas cenas perdem o propósito e soam forçadas até para os filmes do Rodriguez, parecem ter sido postas ali apenas por parecerem legais e acabam não sendo. Além dos efeitos parecerem MUITO falsos em determinados momentos, o que pode ter sido feito propositalmente para que não esqueçamos de quão trash o filme quer mostrar ser.

    No final Machete é um filme de Robert Rodriguez, que vem repetindo a fórmula filme após filme. O que não o torna menos divertido, ele paga cada centavo que você gasta com nossos caros cinemas em diversão. E se você sair do filme reclamando dele, você não é um macho de verdade. No mais Machete don’t text.

    Texto de autoria de André Kirano.

  • Crítica | Na Natureza Selvagem

    Crítica | Na Natureza Selvagem

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    Na Natureza Selvagem conta a história de um rapaz que ao concluir sua faculdade, decide cruzar os Estados Unidos para descobrir os limites do ser humano. A história baseado no livro de Jon Krakauer, relata a vida de Christopher McCandless, que se prepara para a jornada de sua vida, deixando para trás seus estudos, dinheiro, família.

    O filme inicia-se com Chris já no Alaska, e no decorrer dele, vamos descobrindo seu passo-a-passo para chegar até lá. A história é narrada por Chris e sua irmã Carine, através de lembranças ou poesias do próprio Chris. Podemos observar na personagem uma pessoa que não tem apego pelas coisas materiais e sim com coisas que ele julga mais importantes, como a verdade, amor e a fé. Em seu caminho Christopher adota o nome de Alexander Supertramp (Supervagabundo) e acaba conhecendo diversos tipos de pessoas que vão deixando um pouco de cada um na personalidade de Alex.

    A Direção de Sean Penn é extremamente competente, e traz uma fotografia belíssima do Alasca, Grand Canyon, e outros lugares não contaminados pelo homem. A atuação de Emile Hirsch é fantástica e emocionante, em determinado ponto das filmagens, o ator teve que emagrecer 18 kgs para vivenciar a personagem. Quanto aos coadjuvantes? Eles só tem a somar no resultado final, seus personagens são todos muito bem construídos, e em cada cena em tela, você torce para que eles fiquem mais um pouco por ali. A trilha sonora composta pelo Eddie Vedder é lindíssima, uma das melhores que já ouvi.

    O filme toca por ser tão singelo, a trama é basicamente a viagem do protagonista em busca de seu sonho e através da personagem, desocbrimos nossa capacidade de sobreviver a nossa conta sem os supérfluos que nos rodeiam, em contrapartida vemos que é impossível ser feliz sem poder compartilhar nossa felicidade e o que vivenciamos com os outros. Durante toda projeção sentimos que o filme busca um outro rumo que a maioria dos demais abandona, há todo momento ele vai contra a maré e conta uma história com simplicidade mas de maneira magistral, e acredito ser esse um dos grandes méritos do filme.

    Na Natureza Selvagem tem uma força enigmática e libertadora inexplicável, nos faz refletir sobre o nosso cotidiano, sobre a loucura que a sociedade consumista impõe, a filosofia de crescer a qualquer custo, não importando o como. Isso é bastante demonstrado pelo pai de Chris em sua busca incessante pelo “american way“, passando por cima de tudo para conseguir o que quer e criando uma enorme distância entre ele e os filhos.

    Certos filmes ficam na memória, esse é um deles. Sua grande mensagem é a de “encontrarmos” a nós mesmos, a busca pelo auto-conhecimento e sobre as pequenas coisas que não nos damos conta e nos fazem feliz, a partilhar felicidade(pode parecer clichê, e pode até ser, mas o filme trabalha muito bem isso). Nosso protagonista descobre quem realmente é ao realizar sua jornada e vivenciar um mundo diferente de onde cresceu, mas que nem por isso o moldou. Sua descoberta foi atráves de sua jornada e pelas pessoas que encontrou em seu caminho, cabe a cada um de nós descobrir qual é o nosso.

    … Mais que amor, dinheiro,  fé,  fama, equidade… dê-me a verdade. – Alexander Supertramp

  • Crítica | Invictus

    Crítica | Invictus

    invictus

    Clint Eastwood retrata o período da vida de Nelson Mandela logo após assumir a presidência da África do Sul e se vê diante do drama em que a sociedade sul-africana se transformou após o regime do Apartheid.

    Na primeira cena do filme, é definido muito bem o regime racial que o país vivia. Eastwood com um plano de cena rápido mostra de um lado um grupo de crianças negras, magras e com roupas sujas e rasgadas jogando futebol em um campo paupérrimo. Logo após a câmera está do outro lado da avenida e vemos um time de rugby composto apenas por brancos, bem vestidos em um campo bem construído. Mesmo local, outra realidade. Apenas alguns metros separam negros dos brancos do outro lado da rua, mas anos de injustiça e preconceito racial os distanciam.

    Logo após a cena inicial, uma comitiva passa por essa avenida festejando a libertação de Nelson Mandela, um dos mais ativos e ferrenhos opositores do apartheid, e que por sua posição ficou preso durante 26 anos. Se de um lado, vemos os garotos negros que jogavam futebol festejar sua libertação, do outro, temos o time de rugby criticando a soltura de Mandela. Novamente, realidades opostas, mas que através daquele homem, passariam a conviver sem tamanha disparidade como outrora.

    O velho Clint mostra que tem muita história pra contar e em Invictus, reforça mais uma vez seu excelente trabalho de direção, pois consegue tirar muito de uma história simples. O filme é focado em um mundial de rugby, que Mandela aproveitou como um pretexto para unir toda uma nação, é claro que toda a mudança da África do Sul não foi apenas fruto de um esporte, mas de diversos outros aspectos, mas é no esporte que a película se foca.

    Mandela tem uma história riquíssima, que acaba tendo sempre um enfoque maior em sua resistência ao apartheid e seus anos na prisão. Clint sabiamente deixou isso um pouco de lado e mostrou os primeiros anos do líder africano na presidência e sua preocupação em reconciliar brancos e negros. Neste filme vemos a aposta de Mandela em despertar em um povo a paixão por um esporte e que através dele, seria o primeiro passo para unir a todos.

    Morgan Freeman interpreta Nelson Mandela e faz jus a sua indicação de melhor ator no Oscar com discursos memoráveis e demonstrando muito bem a personalidade de Mandela com a obstinação de suas decisões e escolhas. Matt Damon, faz um excelente trabalho de construção de personagem interpretando o capitão da seleção sul-africana de rugby, François Pienaar, um homem que vê depositado nele uma grande responsabilidade, no entanto, quando em tela com Freeman, acaba sendo completamente ofuscado pelo atuação do outro.

    Se engana quem pensa que Invictus é uma biografia de Nelson Mandela. O protagonista de Invictus é o povo sul-africano demonstrado através do rugby, e claro, uma pequena parcela da trajetória de vida do Grande Homem que foi Nelson Mandela. Uma pena não ter tido um impacto tão grande como merecia.

    Do fundo da noite que me cobre,
    Preta como o Breu de lado a lado
    Agradeço a todos deuses pelo nobre
    Inconquistável espírito a mim dado.

    No acaso todo das circunstâncias
    Não me deixei cair nem gritar
    Apesar de um estouro de ânsias
    Minha cabeça sangra sem curvar

    Além desse lugar de tristezas e insanos
    Nada se vê, só o Horror desde cedo
    E ainda assim a ameaça dos anos
    encontra-me e encontrar-me-á sem medo

    Não importa quantas vezes desatino
    nem quantas vezes a vida me espalma
    Sou o mestre e senhor do meu destino:
    Sou o capitão de minha alma.

    – William Henley

  • Crítica | Zumbilândia

    Crítica | Zumbilândia

    zumbilandia

    George Romero, considerado o pai do gênero, imortalizou o que conhecemos como filmes de zumbis. Desde então, não temos nos deparado com grandes novidades depois de toda a invasão de zumbis na cultura pop, salvo raras exceções. Apesar da ideia velha, Ruben Fleischer dá uma nova roupagem e tenta mesclar terror com muito bom humor. OK, isso não é novidade, vide o ótimo Todo Mundo Quase morto, mas Zumbilândia vem com a proposta de um humor mais escrachado, mais ‘americano’.

    A história é simples, Columbus (Jesse Eisenberg), personagem central da história nos apresenta o mundo de Zumbilândia, revelando algumas regras que ele diz ser fundamental para sobreviver nesse mundo, tudo isso de maneira hilária. Apesar de ser um jovem medroso, Columbus decide cruzar os EUA para encontrar seus pais, mas no meio do caminho encontra Tallahassee (Woody Harrelson), um caçador de zumbi, e decide acompanhá-lo para chegar em segurança no seu destino mais facilmente.

    Durante a jornada dos dois, duas irmãs se juntam à eles, a mais jovem Little Rock (Abigail Breslin) e Wichitta (Emma Stone), o que acaba colaborando ainda mais na construção da história e trazendo ótimas risadas ao telespectador, como em dado momento onde decidem se esconder na mansão do um ator conhecido de Hollywood e o encontram se passando por um zumbi para se misturar a multidão de mortos-vivos.

    Não tenho o que falar do elenco, apesar de ser um filme que não exige grandes atuações, todos estão muito bem. Woody Harrelson está incrível bancando o maluco depressivo, Jesse Eisenberg interpreta o nerd loser magistralmente, Emma Stone continua lindíssima e esbanjando talento, o mesmo vale para Abigail Breslin. O ponto forte é a participação especial do tal ator hollywoodiano, o que só vem a enriquecer ainda mais o filme.

    Enfim, se ainda não tiveram a oportunidade de conferir, assistam sem medo. Apesar de não ter grandes novidades para o universo dos mortos-vivos, com certeza te fará rir bastante.

  • Crítica | Solomon Kane: O Caçador de Demônios

    Crítica | Solomon Kane: O Caçador de Demônios

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    O personagem criado pelo escritor Robert E. Howard, conhecido por ser o criador de Conan, escreveu antes disso histórias de Solomon Kane, personagem ambientado na Europa medieval, entre os séculos XVI XVII e que combatia demônios e outras aberrações.

    Solomon Kane nunca foi muito conhecido por aqui, apesar de ter algumas de suas histórias publicadas na revista Espada Selvagem de Conan e mais tarde em alguns encadernados da Editora Darkhorse, infelizmente o personagem nunca teve uma grande legião de seguidores pelo mundo, contudo, isso não impediu de trazê-lo as telas do cinema.

    Para isso, foi convidado o britânico Michael J. Basset para a direção do longa, que apesar da filmografia pequena, fez um trabalho competente na direção, no entanto, problemas no roteiro acabam comprometendo o resultado final. Isso influi principalmente no terceiro ato do longa e diminui o trabalho Basset, já que é ele quem assina o roteiro do filme.

    Na trama, não temos muitas informações sobre o passado do personagem e sua origem, o que sabemos é que Kane era um nobre mas que decide abandonar essa vida após um trágico acidente e parte ainda jovem. Kane acaba se tornando um grande capitão, conhecido pela sua força e coragem em batalhas como também pela sua ganância por riqueza e desprezo por Deus. Até encontrar com um demônio que lhe diz que não descansará até tomar sua alma. Após esse encontro, Kane passa a buscar uma redenção pelos seus feitos.

    Com um roteiro bastante confuso, como o motivo pelo qual Solomon Kane está sendo perseguido por alguns demônios, suas motivações, a origem de suas cicatrizes/tatuagens, acaba deixando o filme menor, mas há de se levar em conta outros fatores, como o elenco bastante interessante, inclusive do protagonista que é interpretado por James Purefoy (conhecido pelo seu papel no seriado Roma, interpretando Marco Antônio), Jason Flemyng e Max Von Sydow. Outro ponto interessante é a fotografia do filme que a todo momento consegue emular uma Europa do século 16 muito bem, usando cores acinzentadas dando um clima sombrio como das histórias de Kane. O figurino e os efeitos estão muito verossímeis, mas as cenas de luta são o ponto forte, tudo isso aliado a excelente trilha sonora de Klaus Badelt dão um tom mais sério a obra.

    Muito tem se comparado com Van Helsing, o que acaba sendo injusto, já que diferente de Helsing, Kane vem com um projeto muito menos pretensioso, um orçamento menor e não tem um direcionamento voltado a filmes “arrasa-quarteirões”, como era proposto com Van Helsing, além do que, a história de Kane é mais redonda e plausível –dentro desse universo– do que a megalomania proposta no longa de Hugh Jackman.

    Solomon Kane – O Caçador de Demônios está longe de ser um grande filme, mas certamente vai divertir àqueles que assistirem.

  • Crítica | Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora É Outro

    Crítica | Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora É Outro

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    Demorei cinco “longos dias” para juntar coragem em entrar numa sala de cinema que tivesse o cartaz do novo filme de José Padilha. Tentar anestesiar o monstro da ansiedade sobre o que esse diretor traria talvez tenha sido o motivo dessa minha letargia inicial.

    Vacinado com o modismo que se apropriou, no primeiro filme do BOPE e de seu fictício capitão, não me permitia acreditar nos (até o momento deste post) mais de 2 milhões de espectadores que foram, antes de mim, dar os olhos à surpresa das novas agressões que Padilha nos traria dessa vez.

    Mais que números e toda sorte de merchandising pós-filme-febre, minha reserva em ser levado pelas massas estava direcionada à dúvida sobre como os responsáveis pelo longa desenvolveriam ainda mais uma história que, desde o documentário Ônibus 174 já estava lustrada o suficiente para mostrar outros personagens que não apenas a díade de mocinhos e bandidos: nós próprios, “cidadãos de bem”, em nossa cativa passividade. Como, nessa sequência, o BOPE poderia ser mais “dissecado” do que fora anteriormente? Haveria um novo banho de sangue? Conheceríamos um novo repertório de palavrões e frases de efeito, entre fanfarrões e pedidos para sair? O que Padilha, agora associado a Mantovani (um dos nomes por trás de Cidade de Deus) teriam preparado para nós?!

    Quando a tela do cinema focou no filme, deixando para trás toda propaganda barata e efêmera, essa que pinta uma realidade rósea, bombardeando nossos sentidos dia a dia, foi projetada uma frase, que além de contrastar com o cenário habitual e comercial descrito neste parágrafo, colocava em transe não só o que as milhões de pessoas veriam a seguir, mas o próprio contexto social e político-eleitoral latente, porta do cinema afora:

    “Qualquer semelhança com a realidade é apenas uma coincidência. Essa é uma obra de ficção.”

    Pois, a “ficção” que ali se desenrolava trazia um problema de coordenação à dinâmica de quem a assistia: pensar sem respirar.

    Refletir sobre um Estado que, ao invés de coibir a violência e todos os seus derivados, está engendrado a estimulá-la por suas próprias instituições, no filme representadas pelo Poder Judiciário, na “idônea” polícia militar fluminense (tal qual aconteceu no primeiro filme), já era mote esperado nesta sequência. Contudo, Padilha fez mais: desdobrou a corrupção aos quinhões dos Poderes Executivo (representados na figura de um Governador inexistente e de um Prefeito estético e estático) e Legislativo (capaz de acomodar as mais caricatas figuras ao corpo dirigente, de um apresentador televisivo sensacionalista a um palhaço iletrado. Opa, perdão, não há palhaço iletrado na “ficção” de Padilha).

    A trama que o roteirista e diretor fez questão de mapear como irreal mostra um período posterior à saga do primeiro filme, mas que corresponde à nossa atualidade, onde o crime na “Cidade Maravilhosa” teria sido desorganizado pelo BOPE, agora mais estruturado e com maior campo de ação no combate à criminalidade carioca. Contudo, no vácuo desse poder paralelo, então supostamente erradicado, outra fonte de poder se apossou dessas fronteiras periféricas: as milícias. Constituídas e aparelhadas por policiais e políticos, fazendo com que a elite da tropa, representada na figura do, ainda, arrogante, inflexível, bad-ass-motherfucker e, acima de todas as demais características, determinado Nascimento. Esse que, de Comandante Geral do Bope à Sub Secretário de Inteligência, percebe a complexidade do sistema corrupto que assola nosso País e sua incapacidade de modificá-lo pelas vias “legais e pacíficas”.

    Os atores que dão personalidade aos personagens “cumprem a missão dada”. Enquanto Wagner Moura ratifica o principal personagem de sua talentosa carreira, Milhem Cortaz e André Ramiro mantém a maturidade de suas interpretações e reavivam a nostalgia dicotômica de seus personagens: a volta do malandro (tipicamente brasileiro) Capitão Fábio, contrastando com a severidade e disciplina militar de André Mathias. Somando esses altos patamares, outros personagens menores recebem nomes e interpretações muito além do que se esperaria desses na trama. Destaques que faço às representações de Antré Mattos, como o típico político que temos escolhido, Seu Jorge, num “Zé Pequeno” amadurecido e Irandhir Santos, que de figura secundária conseguiu elevar seu personagem a um embate paralelo na trama com Wagner Moura: as duas facetas (ou as “Duas-Caras”) da justiça.

    O desafio de respirar (asfixiado por um saco, parágrafos atrás) foi a acrobacia que todo espectador teve de realizar para refletir enquanto era esbofeteado por uma produção cara, importada e refinada, com direito a tomadas aéreas ausentes no primeiro filme, câmera dinâmica nas cenas de ação, roteiro truncado entre quem morria, como falecia e os porquês de cada “baixa”, uma fotografia propositalmente crua, oscilando entre cores fortes nas dependências abastadas, oficiais e, claro, no sangue jorrado, contrapondo com a opacidade desbotada da miserabilidade e condição rudimentar das comunidades.

    A edição, ainda que sem ineditismo algum em relação ao primeiro filme (iniciando um pouti-porri de cenas do primeiro e sucedido por uma apresentação que, tal qual em Cidade de Deus ou no primeiro Tropa, estampava uma cena-chave complementada e explicada ao longo da história), dá ritmo aos nossos fôlegos, de forma inteligente a cada salto da atividade profissional de Nascimento, assim como a cada tropeço na relação desse com seus entes: filho, ex-esposa e Mathias.

    A trilha sonora não se mostrou impactante como no primeiro. Fixar o grupo Tihuana na música tema, ainda que em nova versão, foi um voto pela preservação de uma imagem que já fora construída, assim como optar por um repertório bem conhecido entre faixas e artistas, caso de Paralamas, Marcelo D2 etc. Ademais, os efeitos sonoros ficaram bem alinhados com as cenas de ação.

    Extasiado, vi as cenas aéreas e audaciosas (não tecnicamente) finais desse filme cru, cruel e NADA fictício, com certo otimismo. Não se tratava de esperança nos dirigentes de nosso País que, ao meu ver, já estão de “pomba-gírice” há muito tempo, mas sobre o futuro da mensagem de Padilha que, tal qual fazia Sérgio Bianchi em seus filmes, mas sem arrebatar milhões de expectadores, novamente nos coloca em xeque:

    Se nada acontecer para mudar o cenário cancerígeno de nossos sistemas político e social, fodeu para todos nós. E, parafraseando Capitão Fábio (o modelo de nossa brasilidade), se “quer me foder? Então me beija!”

    Texto de autoria de Luciano Francisco.

  • Crítica | Tudo Pode Dar Certo

    Crítica | Tudo Pode Dar Certo

    Tudo Pode Dar Certo

    Woody Allen é um workaholic inveterado. Atualmente aos 74 anos, Allen não demonstra sinais de cansaço e retorna às telonas com sua mais nova sequência: Tudo Pode Dar Certo.

    O Cineasta despontou na indústria em 1965 ao ser convidado para escrever o roteiro de O que é que há, gatinha?, comédia dirigida por Clive Donner, e que além de tudo contou com a atuação de Allen. Em 1969 dirigiu seu primeiro filme, mas somente em 1977 com Noivo Neurótico, Noiva Nervosa é que teve seu devido reconhecimento. O fato é que Allen desde os anos 60 não parou mais, seja como roteirista, diretor ou ator, mantendo uma incrível média de lançamento de um filme por ano, boa parte deles de extremo bom gosto. E dessa vez não foi diferente.

    Tudo Pode Dar Certo é um retorno às origens, Allen reúne tudo aquilo que o consagrou nos anos 70 e faz uma excelente comédia. Não estou de maneira alguma menosprezando seus últimos trabalhos, longe disso, são todos belíssimos, mas Tudo Pode Dar Certo nos remete  aos seus filmes daquela década que estabeleciam elementos como pessimismo, neuroses e excentricidades como sua veia cômica mais pungente. Uma boa razão para isso, talvez seja pelo fato do roteiro ter sido escrito nessa mesma década, com adaptações para os dias de hoje.

    Para o protagonista do longa, Allen convidou ninguém menos que Larry David para interpretar Boris (alter-ego de Allen), conhecido pela seu sarcasmo habitual, David deixa sua assinatura escancarada no personagem, o que pode agradar alguns e afastar outros. O personagem de David é um físico arrogante e excêntrico, repleto de neuras e ceticismo, além de ser profundamente pessimista ao mundo e aos que nele habitam. Boris já é um senhor, separou-se da mulher e passou a morar sozinho, tendo como amigos um pequeno e seleto grupo de estudiosos onde eventualmente ele se reúne.

    Sua vida rotineira termina na noite em que encontra Melody (Evan Rachel Wood), que foge de casa para tentar a carreira de atriz em NY, sem ter onde morar, Boris aceita que ela passe a morar com ele (Após muita relutância). A partir daí a vida dos dois muda bruscamente, Boris, passa a provocar transformações na vida da garota, antes uma menina fútil, agora passa a enxergar o mundo de outra maneira, discutindo questões existencialistas, se tornando outro “Woody Allen”, mas sem perder um pouco da inocência e até mesmo do otimismo, característica inata de quase todos os jovens.

    Rachel Wood mostra um refinamento artístico por não tornar o seu personagem caricatural, pelo contrário, apesar de todas as mudanças e o espelhamento e admiração que sua personagem tem por Boris, ela ainda consegue deixar sua marca e não emular outro ator, mas também, convenhamos que ter Allen como Diretor ajuda e muito. O elenco de apoio é todo muito bom e são peças fundamentais para o tema abordado no filme.

    Boris traz com ele uma quebra da quarta parede, ao se dirigir ao público e dialogar sobre seu ponto-de-vista e manifestando mais uma vez toda sua excentricidade, tornando a narrativa extremamente direta e fluída. Durante todo o longa, somos martelados com a ideia central do longa, da auto-descoberta, da não-repressão e da liberação de uma sociedade fundada por dogmas e convenções.

    Allen retorna mais uma vez para dizer a quem queira ouvir para abrir sua visão de mundo a novas ideias, experiências, descobertas e relações. Whatever Works (título original) mescla um roteiro repleto de questões existenciais com bom humor. Diversão garantida e uma ótima deixa para refletir sobre sua vida.

  • Crítica | Era Uma Vez no Oeste

    Crítica | Era Uma Vez no Oeste

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    Sergio Leone já era considerado um dos maiores gênios do gênero ao resgatar os faroestes como grandes filmes e não mero entretenimento, tudo isso graças aos excelentes Por um Punhado de Dólares e suas continuações, ele agora queria trilhar novos horizontes, mas por uma imposição da Paramount, que só arcaria com os custos de seu novo filme caso ele fizesse mais um Western e graças a essa imposição, Leone traz ao público um faroeste muito diferente de tudo o que já havia feito até então e se reinventa com Era uma Vez no Oeste.

    Cheio de conceitos e cenas brilhantes como o próprio início do filme, onde em plena tarde, sob um sol escaldante, três homens armados chegam a estação de trem, aparentemente, não querem viajar, apenas aguardam algo. E como aguardam. Com enquadramentos belíssimos, que remetem ao mais puro tédio, Leone amplifica o som de uma goteira onde estava um dos homens que esperava, enquanto o outro é incomodado por uma mosca persistente e irritante. Todo o som é voltado para essas pequenas coisas, tornando-as mais irritantes do que já são, tudo isso somado ao excelente trabalho de câmeras de Leone, transforma a cena uma das mais antológicas do cinema.

    Finalmente surge o que esperavam, o trem, mas o que querem ali? Os três homens procuram por alguém, de arma em punho, pistolas engatilhadas, mas nada encontram. O apito do trem soa novamente, sinalizando sua saída e começa a andar. Os três homens não encontram o que queriam e dão as costas, eis que ouve-se o som de uma gaita e todos viram bruscamente em direção ao trilho e se deparam com um homem com uma gaita em suas mãos. Corte.

    Toda a cena inicial descrita acima, não tem um diálogo sequer, apenas o poder da imagem, e Leone usa isso como ninguém durante todo o filme. Mostrando um estilo muito diferente da clássica trilogia dos dólares que o havia consagrado, o Diretor se reúne com Sergio Donati, Bernardo Bertolucci e Dario Argento para escrever o roteiro de um Western diferente de tudo que já havia sido feito. Se engana aquele que julga Era uma Vez no Oeste como um mero “bang bang”, pois ele está muito mais para um drama ambientado no velho oeste. O Roteiro é profundo, não deixa espaço para canastrices, como era comum nos filmes com o Clint Eastwood, talvez por isso, a escolha de Charles Bronson é tão acertada, o personagem dele é frio, calado e impõe sua vontade à força quando se faz necessário.

    A motivação de seu personagem é um mistério até o final da sequência, vamos apenas nos deliciando com seu desejo de vingança cena-a-cena. O antagonista interpretado por ninguém menos que Henry Fonda é mais um entre tantos pontos acertados. Fonda foi imortalizado pela suas interpretações de bom moço, e aqui temos ele como o vilão sujo e implacável da história. Há de se ressaltar as brilhantes interpretações de Claudia Cardinale, faz o papel de uma ex-prostituta que acaba de chegar na cidade para se casar com um fazendeiro víuvo e pai de três crianças, álias, o que é a primeira cena dela, onde temos a personagem descendo do trem e Leone com o plano fechado nela, seguindo seus passos para de repente se afastar e abrir o plano bem ao alto, para vermos toda a grandiosidade do cenário. A personagem de Cardinale, Jill, tem papel fundamental na trama e isso é muito importante para entender a evolução do Cinema de Leone, que nunca havia dado nenhum papel importante para mulheres. O outro personagem que merece ser comentado é Cheyenne, interpretado por Jason Robards, este é o personagem que faz contraponto ao jeitão sisudo de Bronson, e consegue tirar um pouco o peso dramático, remetendo ao velho estilo de faroeste que todos estavam acostumados. O fato é que Cheyenne é um dos melhores personagens do filme.

    O filme cria tensão a cada cena, tudo em ritmo bem calculado. Leone buscou um sentido para cada cena que captava, o close nos olhos de Bronson e Fonda no duelo final é um bom exemplo disso. Outro ponto que merece ser comentado é a trilha sonora composto por Ennio Morricone, ou mesmo a ausência desta e a maximização dos sons naturais, como o vento, ou mesmo a goteira e a mosca, já comentados anteriormente, e é claro, a gaita de Charles Bronson, que se tornou até o nome do personagem “O Gaita”. Sem dúvida, o melhor trabalho de Morricone até então.

    Era uma Vez no Oeste é uma obra de arte dos cinemas. Obrigatório não só para os apaixonados por western, Sergio Leone ou os atores citados, mas sim para todos os amantes de cinema.

  • Crítica | Os Intocáveis

    Crítica | Os Intocáveis

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    Filmado em 1987, Os Intocáveis conta com um elenco fabuloso, trilha belíssima, ótima fotografia e uma direção primorosa. Um dos maiores filmes de máfia que retrata o período da lei seca em Chicago.

    Apesar de ser um diretor odiado por muitos, é inconteste a preciosidade de Brian De Palma nesse trabalho. A cidade de Chicago é reconstruída maravilhosamente, a fotografia é embasbacante. E o que falar sobre seu trabalho com as câmeras? De Palma transmite sensações de alegria e tensão em instantes, e conseguiu atuações fantásticas de todo o elenco.

    A história se passa em Chicago nos anos 30, epóca da lei seca. Eliot Ness (Kevin Costner) é um agente federal encarregado de capturar o gângster Al Capone (Robert De Niro), mas suas tentativas são sempre pífias, graças também a corrupção existente dentro da polícia. Após ser humilhado pelos jornais por suas frustradas apreensões, Ness reúne um pequeno grupo de homens confiáveis e incorruptíveis para realizar a tarefa.

    Jim Malone (Sean Connery) é o mentor de Ness, um experiente policial que se junta ao grupo disposto à ajudá-lo. George Stone (Andy Garcia) é um italiano que acaba de ingressar na Academia e por último, Oscar Wallace (Charles Smith), um contador responsável por analisar se Al Capone vinha omitindo informações financeiras em seu imposto de renda.

    As atuações são fantásticas. De Niro rouba a cena, interpretando Al Capone cheio de sarcasmo e crueldade, ele e Sean Connery dão um show todas as vezes que aparecem em cena. Kevin Costner fez um ótimo papel, demonstrando as fragilidades e humanidade do seu personagem, isso em um tempo onde ainda tinha uma grande carreira. Charles Smith serve como peça cômica na históra e finalizando com Andy Garcia ainda no início de carreira, mas mostrando a que veio.

    Ennio Morricone imortalizou o filme com sua belíssima trilha, conseguindo transpor o que cada imagem exigia de maneira impecável. De Palma abusa de seu trabalho com as câmeras, conseguindo enquadramentos e ângulos inovadores, como na sequência inicial, com uma tomada panorâmica da sala onde está Al Capone se barbeando, e a câmera vai se aproximando lentamento até focar no rosto de De Niro, ou mesmo, na clássica cena da escadaria da estação, onde um carrinho de bebê desce escada abaixo durante o tiroteio, tudo isso filmado em câmera lenta e fazendo homenagem ao “O Encouraçado Potenkim”.

    Até hoje não entendo como Brian De Palma não foi condecorado pela Academia por essa obra-prima, o que é uma pena, o filme é extremamente bem dirigido, o roteiro de David Mamet é muito bom, além de contar com um grande elenco, todos trabalhando muito bem. Para quem ainda não conhece, alugue, compre, roube, só não deixe de conferir.

  • Crítica | As Virgens Suicidas

    Crítica | As Virgens Suicidas

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    Sofia, aquela menina tímida que interpretou (terrivelmente) a Mary Corleone de O Poderoso Chefão III, carrega consigo um dos nomes mais pesados da Indústria Cinematográfica do século XX: Coppola.

    Tendo isso em mente, pode-se imaginar que uma pressão enorme, tanto por parte dos profissionais desse meio quanto da expectativa dos fãs de seu pai, deve ter caído sobre ela quando foi anunciada em 1999 que dirigiria e escreveria seu primeiro longa-metragem: As Virgens Suicidas. Hoje em dia Sofia Coppola tem em seu currículo quatro longas, mas não deixa de ser válido mencionar o primeiro deles, já que para uma obra de estreia, um filme desse porte não pode nunca ser deixado em segundo plano.

    Produzido por Francis Ford Coppola e baseado em um romance homônimo de Jeffrey Eugenides, As Virgens Suicidas mostra a fase final da vida de cinco irmãs do ponto de vista de um grupo de garotos que cultivam grande fascinação por elas. É importante mencionar a diferença de idade entre elas que é de apenas um ano, o que significa que o cenário consiste em uma casa onde vivem simultaneamente cinco garotas na adolescência. Mantidas pelos pais autoritários e religiosos em isolamento domiciliar, as irmãs Lisbon tornam-se ídolos inalcançáveis para os meninos que, sendo seus vizinhos e frequentando a mesma escola, analisam e especulam sobre cada aspecto da vida delas que são capazes de observar. Da perspectiva da narração (feita por Giovani Ribisi, ator que também está presente na obra posterior da diretora, Encontros e Desencontros), um desses garotos tenta, a partir dessa obsessão, entender os motivos que as levaram a cometer suicídio (quem disser que é spoiler, leia o título do filme) de uma maneira no mínimo bizarra.

    Com uma direção inspirada e controversa, Sofia conta em um turbilhão de cores, gestos e expressões uma história poderosa e comovente. A fotografia do filme é delicada, feminina e incitante, exibindo em muitos momentos um brilho ofuscante e uma aura sonhadora. A trilha sonora é impecável, contando com a introspecção eletrônica da maravilhosa banda francesa “Air” e algumas faixas da banda de rock “Sloan”.

    O pontapé inicial do enredo é a tentativa de suicídio da irmã mais nova Cecilia, logo de cara deixando claro que a melancolia dessa história não será manipulada pelos recursos clássicos de suspense e drama que normalmente vemos em filmes que focam a natureza feminina – os girl flicks. Em vez disso, a diretora carrega sutilmente ao longo do filme a tristeza de uma vida limitada por dogmas culturais no contexto da juventude dos subúrbios americanos. Geralmente ao assistir a filmes que relatam “dramas adolescentes”, o que se vê é uma verborragia um tanto novelesca, além de conflitos banais que acabam por serem resolvidos magicamente por fórmulas igualmente banais.

    O diferencial dessa obra é que para entender o que se passa com as irmãs Lisbon, é preciso acima de tudo observar atentamente aos detalhes, que são o ponto forte desse filme. Um bom exemplo é a cena do cinema, em que o talento de Sofia consegue de uma belíssima maneira transmitir as emoções implícitas na situação proposta, e com apenas uma frase, culminar no grande clímax da história do carismático casal que lidera o elenco das personagens, Kirsten Dunst e Josh Hartnett. Alguns críticos atiraram tomates dizendo que as personagens são superficiais e mal construídas, quando na verdade, para um observador externo, é impossível definir os sentimentos e anseios que ditam o comportamento de pessoas reais e, consequentemente, o que se vê pode não fazer perfeito sentido dentro dos parâmetros de uma história linear simplesmente por não conhecer o contexto das vidas delas por completo.

    Para enxergar a realidade da (des)motivação dessas garotas é preciso imaginar o que não se vê, através de gestos e detalhes, justamente como fazem os garotos que espionam as vizinhas com binóculos para satisfazer sua curiosidade. Compreender plenamente o que se passa com elas é uma tarefa impossível, afinal sabemos que muitos pais passam a vida toda sem ter a menor pista de quem seus filhos realmente são. No final o espectador ainda se encontra sem saber exatamente o que concluir, deparando-se com um desfecho ambíguo e aberto a diversas interpretações diferentes, o que faz jus ao peso dessa história e ao realismo das circunstâncias em que ela toma forma.

    Com atuações sensíveis de Kathleen Turner e James Woods, As Virgens Suicidas é um filme que pode comover ambos os gêneros, especialmente para o cinéfilo que gosta de analisar as personagens sem que sua caracterização seja mastigada e entregue de bandeja pelo autor. Não é um filme fácil, mas não pelos motivos óbvios. É perfeitamente inteligível mesmo para o espectador mais leigo, porém exige um total envolvimento com a trama e as personagens para que se compreenda o que ele realmente tem de melhor. A princípio, na história pode parecer que existe uma falta de propósito, mas pra quem gosta do Cinema que expressa através da linguagem visual, é um prato cheio e uma deliciosa viagem de sutileza e melancolia.

    Texto de autoria de Thiago Debiazi.

  • Crítica | O Planeta dos Macacos

    Crítica | O Planeta dos Macacos

    planeta dos macacos 1968

    Falar do clássico O Planeta dos Macacos não é uma tarefa fácil, afinal o filme já está consolidado como um dos grandes clássicos do cinema há anos. Serei breve e objetivo nessa resenha, e espero que consiga convencer quem ainda não assistiu essa obra, que confira o quanto antes este clássico do cinema cult e de ficção-científica.

    Baseado no livro de Pierre Boulle, o filme conta a história de quatro astronautas que viajam para o espaço, rumo a uma estrela na constelação de Orion, e caem em um sono profundo de dois mil anos. Ao acordarem, no então ano de 3978, descobrem que aterrissaram em um planeta desconhecido, e partem em busca de algum sinal de vida naquele local. Após uma longa jornada pelo deserto, os astronautas encontram um povo bárbaro e tentam estabelecer contato, o que é dificultado pois eles não conseguem articular palavras e apenas emitem grunhidos e gritos animalescos. Enquanto tentam os primeiros contatos, algo surge e aterroriza esses raça de humanos bárbaros, fazendo todos partirem em uma corrida frenética. Quando se dão conta, os astronautas se veem perseguidos por macacos vestidos com trajes humanos, montados em seus cavalos e disparando seus fuzis contra aquele povo, para transformá-los em escravos, animais de estimação e cobaias de laboratório.

    Nos dias atuais a cena pode não causar o mesmo impacto que causou em 1968, e até mesmo poder soar um pouco bizarro e tosco, mas no ano do lançamento causou um frisson inacreditável, sendo responsável por uma das maiores bilheterias do cinema na epóca. E pudera, com um roteiro desses não poderia ser diferente, tendo o já astro, Charlton Heston no papel principal do astronauta que após um sono artificial, aterrissa em um planeta desconhecido, parecido com a Terra, se depara com uma realidade chocante onde homens agem como macacos e os macacos são seres dotados de inteligência e usam estes como experimentos e escravos.

    O Diretor norte-americano Franklin J. Schaffner, um dos responsáveis pelo sucesso que o filme tem até hoje, mostrou um excelente trabalho de câmera, com grandes tomadas e conseguindo extrair boas atuações, inclusive dos atores que utilizavam a maquiagem para viver seus personagens símios, o que acabava dificultando em suas interpretações. Schaffner fez o que Tim Burton não conseguiu, expor a inversão de papéis entre homem e macaco de uma maneira excepcional, e sobretudo ser crível com essa história. O roteiro do filme é grande responsável por isso, ao mostrar essa realidade aterradora entre dominador e dominado, porém, sem um trabalho competente de direção teria sido esquecido à muito tempo.

    E por falar dos aspectos técnicos, o que dizer da maquiagem dos macacos? Simplesmente perfeita e por incrível que pareça, ainda hoje consegue convencer quem a vê, além de ser mais expressiva que muitas animações feitas nos últimos anos. O responsável técnico John Chambers recebeu um Oscar honorário anos depois pela Academia, muito merecidamente, mas um bocado atrasado, pois na premiação de 1969 foi totalmente ignorado por ela. O filme havia sido indicado apenas para o Oscar roteiro original e figurino.

    O estilo narrativo é um pouco lento em comparação aos filmes hollwoodianos atuais, isso se dá ao estilo típico do cinema até o início dos 70. O que torna uma ótima oportunidade para quem não conhece o estilo cinematográfico da epóca e não quer começar com filmes mais “pesados”, O Planeta dos Macacos é uma ótima pedida, pois pode ser considerado um dos blockbuster’s da epóca.

    Schaffner conseguiu mesclar aventura, suspense e ficção-científica como poucos. Charlton Heston emplaca mais um grande papel depois do clássico Ben-Hur. Enfim, um filme que merece ser visto e revisto por todos nós, não só por ser um grande clássico do gênero sci-fi, mas também por todo seu contexto histórico e político da época de seu lançamento.

    Ouça: Planeta dos Macacos.

  • Crítica | A Estrada

    Crítica | A Estrada

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    O que a estrada nos oferece? Aonde ela nos leva? Há sequer um destino?

    Essas questões permeiam a jornada de um pai (Viggo Mortensen) e seu filho (Kodi Smit-McPhee) na brutal, crua e também simples realidade em que se encontram.

    Sobrevivência (ou a luta por ela) é o que mantém a relação quase simbiótica dos personagens principais. Em um mundo exaurido de recursos, percebemos que de nada adianta lutar para manter a integridade física se a sanidade mental se esvai, ponto bem representado pela personagem de Charlize Theron. O filho, por sua simples existência provê essa sanidade ao pai, o mantém em foco, dá a este homem um final objetivo de vida: preparar o filho para sobreviver neste mundo, quando ele não mais fizer parte dele.

    Após um evento cataclísmico que pouco nos é explicado, percebemos que o mundo vive agora um cenário de pós-guerra nuclear, onde a luz do sol se tornou uma vaga lembrança, e nos resta apenas paisagens áridas e desoladas a serem contempladas. Pai e filho partem em uma jornada determinados a chegar à costa americana, com uma vaga e ingênua esperança de que as coisas simplesmente serão melhores por lá. O destino da jornada no entanto, se mostra apenas um detalhe, quase um subterfúgio mental quando analisamos a obra de uma forma mais profunda.

    Baseado no livro homônimo de Cormac McCarthy (autor de Onde os Fracos Não Têm Vez), a direção de John Hillcoat e o roteiro de Joe Penhall mantêm o teor sombrio da obra. A fotografia do filme proporciona exatamente o tom que A Estrada quer nos passar. Um mundo sem vida, cinza, com o inverno nuclear sempre presente.

    Neste cenário não há espaço para sutilezas ou eufemismos. Sobra sim o grotesco, o visceral, o medo generalizado de qualquer outro ser que possa cruzar o seu caminho. Qualquer um que possa querer tomar o pouco alimento que lhe resta, seu abrigo, ou simplesmente seu precioso sapato.

    A resposta deste medo é representada ao extremo no personagem de Viggo, com uma atuação tocante e verdadeira, conseguimos ver e compreender em seu olhar, em seu corpo corrompido, o que este homem sofreu e o que ele é capaz para manter imaculada (outro esperança ingênua) sua prole.

    Poucos filmes pós-apocalípticos tratam o tema com tamanha crueza e subjetividade. Muitos enveredam por caminhos onde a ação desenfreada ou o escapismo ficcional acabam se sobressaindo, deixando pouco espaço para uma reflexão sobre questões humanas primordiais dentro do cenário escolhido. Sejam elas de sobrevivência, relação interpessoal ou até mesmo de confiança. Esta última, vale notar, ainda presente no garoto e quase que completamente esgotada no pai. Mais um ponto interessante na relação pai/filho do filme.Pode-se questionar a verossimilhança do modos operandi de alguns grupos retratados no filme na luta pela sobrevivência. Mas basta um pouco de reflexão histórica para percebermos que os atos que nos causam mais asco no filme, não seriam assim tão difíceis de serem concretizados pela nossa natureza animalesca.

    A jornada empreendida aqui é análoga a caminhos tortuosos trilhados por todos nós. Viggo não sabe o que vai encontrar na costa, nem exatamente por que decidiu ir para lá. Mas sabe sim que não pode ficar estático, inerte ao destino reservado para ele e seu filho. Sabe que não pode parar, em certo momento abre mão até de certos recursos que ele sabe serem indispensáveis para ele e para o garoto. Este, não compreende a obsessão do pai, a importância de terem um objetivo final traçado, a sua (sempre presente) desconfiança para com o mundo deixado para eles. Um mundo destruído, sem cor, morto… e ao mesmo tempo, real.

    Texto de autoria de Amilton Brandão.

  • Crítica | 12 Homens e uma Sentença

    Crítica | 12 Homens e uma Sentença

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    Doze Homens e uma Sentença é um desses filmes que ficará marcado e dificilmente esquecido por quem o viu.

    Repleto de diálogos brilhantes, belas interpretações e um excelente trabalho de direção e fotografia, Sete Homens e uma Sentença é certamente um dos maiores filmes de tribunais já feito, e que apesar de ter sido filmado em 1957, continua com uma popularidade até os dias atuais.

    Dirigido por um mestre do cinema, Sidney Lumet nos apresenta uma história simples, focado quase inteiramente na decisão de um júri composto por 12 pessoas responsáveis pelo julgamento de um garoto, acusado de matar o próprio pai. O filme não tem rodeios, é direto, com personagens extremamente realistas e fortes, os diálogos durante a sequência são de deixar qualquer um embasbacado.

    O elenco conta com ninguém menos que Henry Fonda no papel do único homem entre os doze que duvida da culpa do garoto pela morte do pai, e se vê diante da tarefa hercúlea de provar para os demais que as coisas não são tão óbvias quanto todos pensam e a cada sequência, Fonda desenvolve uma resistência muito bem fundamentada que aos poucos vai convencendo os demais jurados. Álias, Henry Fonda foi o responsável pela produção do filme, ao assistir a peça para TV, exibida pela CBS em 1954. Percebendo o potencial do roteiro e um papel que o atraiu imediatamente, Fonda arcou com a produção do filme do próprio bolso.

    Fonda contratou Sidney Lumet, um diretor veterano de TV, mas que até então não tinha trabalhado com cinema, e Boris Kaufmann, diretor de fotografia, um especialista em trabalhar com espaços pequenos e claustrofóbicos. Toda história é filmada dentro da sala de júri, com exceção da primeira e última cena, ao chamar Lumet e Kaufmann, Fonda conseguiu o que queria, rodar o filme todo em uma pequena sala, criando assim a tensão que precisava, e sem deixar o ritmo cair em nenhum momento. Lumet vai descontruindo toda cena do crime com maestria e qualquer desatenção pode perder o brilho que o filme merece, claro que sem o roteiro de Reginald Rose, nada disso seria possível.

    Já no início da sequência, após todas as provas serem apresentadas durante o julgamento – provas essas quase irrefutáveis da culpabilidade do réu – O presidente do júri se volta aos demais, indagando-os quem considerava o réu culpado. Todo o júri prontamente ergue as mãos, exceto um deles, personagem esse interpretado por Henry Fonda, conforme já falado. Durante toda a sequência é visível a todos o peso que este homem tem nas costas, ao decidir pela vida de um garoto. E o filme consegue retratar essa guerra psicológica com grande esmero. Todo o decorrer do filme trabalha o modo como o personagem argumenta e todas as recomposições de cenas do crime vão sendo montadas com tamanha inteligência e perspicácia que só nos resta bater palmas.

    Cada ator deixa sua marca no filme, e todos ali trabalham muito acima da média do que vemos por aí, criando uma dinâmica incrível entre todos os 12 atores em tela, e tudo isso dentro de uma sala fechada em uma calorenta tarde da semana. As personalidades de cada um dos jurados vêm a tona, preconceitos raciais, entre outras coisas. Uma humanização dos personagens que provém de um julgamento que seja sensato e justo, de acordo a cada um deles. Uma verdadeira obra-prima cinematográfica.