Categoria: Críticas

  • Crítica | Dragon Ball Super: Broly

    Crítica | Dragon Ball Super: Broly

    Depois que terminou Dragon Ball Z, Akira Toriyama claramente não queria continuar a historia de sua obra mais famosa. Dragon Ball GT foi produzido por outras pessoas, com pouca ou nenhuma participação do mangaká e dois filmes foram produzidos, até a estréia de Dragon Ball Super, que acabou de ser exibido no ano de 2018. Ao anunciar que a historia continuaria em Dragon Ball Super: Broly, muitas expectativas foram ativadas pelos fãs, em especial por se tratar de um personagem não oficial e erroneamente chamado de filler (essa sentença só serve tecnicamente para encheção de historias para que a serie não alcance o mangá, e os filmes não fazem sequer parte da cronologia do anime) que era bastante popular.

    O inicio do longa reúne elementos de muito material extra serie, do especial Bardock: o pai de Goku, Episódio de Bardock e principalmente, o mangá Dragon Ball Minus, que mostra Goku sendo enviado a Terra por seu pai tal qual Superman voou de Krypton a Terra. No entanto a parte mais rica do roteiro de Toriyama, pois retorna mais de 40 anos no tempo e mostra Freeza assumindo o império de seu pai, em cenas lindíssimas visualmente e onde ele já se demonstra o ser cruel que destruiria basicamente toda namek.

    Na época em que Dragon Ball Z :Batalha dos Deuses e Dragon Ball Z :O Renascimento de F foram lançados, muito se falou da ótima animação que eles abarcavam, e de fato é indiscutível que isso acontecia quase a perfeição. Ao serem adaptados para o anime de Dragon Ball Super essa mesma qualidade em alguns pontos se mostrava inconstante. Personagens minimalistas, com movimentos quebrados e designs poucos inspirados aconteciam principalmente nas primeiras sagas, e aparentemente, este novo filme sofre do mesmo mal. Ao mesmo tempo em que há gráficos muito bonitos e psicodélicos nas lutas, há outros que os personagens mais parecem bonecos de palitos, o que é péssimo e simplesmente tira toda a atenção do espectador do bom drama que há em cena.

    O roteiro é surpreendentemente bom, ainda mais se comparado as ultimas obras de Goku e seus amigos. A mitologia em volta não só do expansionismo de Freeza como da casta dos Saiyajins é muito bem pensado e conduzido. O drama de Broly e Paragas reúne elementos do filme original Broly: O Lendário Super Saiyajin, mas os erros hiper infantis de motivação dos personagens são reescritos e ressignificados de um modo mais inteligente e condizente com a toda a lenda em volta de Broly.

    Mais do que simplesmente uma adaptação de mangá e anime, o longa que Tatsuya Nagamine conduz tem alma, e um personagem principal forte. Os coadjuvante que cercam Broly são simples, mas bastante carismáticos, e o personagem que nomeia o filme também é bem trabalhado, é um personagem trágico, um homem incompreendido e com um poder gigante, cercado desde seu nascimento por pessoas gananciosas. Quando nasce, ele é expulso pelo Rei Vegeta de seu planeta natal e seu pai vai atrás dele, preocupado consigo, mas Paragas também demonstra ser falho e ganancioso. O modo como ele cria o garoto e o homem é agressivo e severo, e dá para notar que sua persona tem camadas e complexidade, e que ele só se tornou tirano como é por conta das circunstâncias.

    Infelizmente, da metade para o final o filme não consegue manter o bom ritmo. Na parte do presente é onde ocorrem os maiores equívocos de animação, mas isso é compensado por dois  fatores importantes, o primeiro, a construção de vilão de Freeza, que é claramente o nêmesis de Goku e Vegeta, como o Coringa era de Batman e Robin. Seu segundo retorno canônico a vida mostra que ele nada aprendeu e ele continua sendo o vilão formidável e malandro de sempre, a forma como ele encontra de fazer Broly evoluir é engraçadíssima e debochada. O segundo são obviamente as lutas, muito bem feitas, com uso extensivo de CGI, de cores gritantes e cenas em primeira pessoa onde se enxerga tudo pelos olhos de Broly, que claramente é o protagonista do filme, embora Goku e Vegeta tenham momentos épicos também, e outros engraçados, onde se valem das muitas transformações que tem direito a fazer.

    A dublagem brasileira está excelente, Wendel Bezerra que faz Goku é o diretor de dublagem, e ele conseguiu captar muito bem todo o espírito do cast, sejam dos novos como também dos velhos. Outra preocupação de alguns fãs que não conseguiram assistir Super inteiro é se o filme é compreensível para quem não viu tudo. Tirando alguns aspectos como o retorno de Freeza a vida, fruto de sua participação no Torneio do Poder e algumas menções visuais a outros personagens e que sequer são nominados, não há grandes mistérios, ao contrario, até as transformações são comedidas e todas já foram exploradas em filmes de Dragon Ball Z.

    Broly é elevado a um nível de complexidade que nunca antes havia se visto em si, e tem um passado que o credencia a ser talvez o opositor mais bem construído de toda a saga que Toriyama escreveu pós Dragon Ball Clássico, e seria um desperdício que não fosse reutilizado após esse filme. Ainda não se tem garantias de que o seriado Drgon Ball Super voltará, apesar dos rumores apontarem para um retorno, mas mesmo que só  hajam filmes seria algo natural retomar ele como personagem regular, dado não só seu poder e capacidade de aprendizado, mas também a relação breve mas muito bem construída entre ele e Kakaroto. Dragon Ball Super Broly consegue resgatar um clima aventuresco e jovial, tal qual os momentos mais marcantes de DBZ, sem deixar de lado as novas escalas de poder estabelecidas em Super e apelando para um lado massa veio bem divertido e escapista.

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  • Crítica | Ponto Cego

    Crítica | Ponto Cego

    O roteiro de Ponto Cego, assinado por Rafael Casal e Daveed Diggs — que também atuam nos papéis principais, Miles e Collin, respectivamente —, nos apresenta o momento recente e dramático da vida de Collin, cidadão negro, subempregado, que vive na periferia, de um bairro negro de Oklahoma. A história se inicia no antepenúltimo dia da probation (espécie de condicional) de Collin. Por estar nesse período, para poder se ver livre de sua pena, ele precisa andar na linha, tendo horários estabelecidos, trabalhar, ficar abrigado e dormir em casa de reabilitação, proibido de sair do condado de Alabama e não se envolver em nenhuma atividade ilícita.

    É facilmente percebido que o foco do filme é a tensão racial que os Estados Unidos ainda vivem, mesmo depois de tantos anos de história de lutas contra o racismo no país. Essa tensão é especialmente sentida nos estados do sul, os que mais demoraram a abolir a escravidão, culminando no provavelmente mais conhecido e estudado episódio da história americana, sua Guerra Civil (conflito armado entre os estados do norte e os do sul que se estendeu de 1861 a 1865). O interesse dos roteiristas e do diretor Carlos López Estrada é nitidamente demonstrar os contrastes sociais e econômicos entre as populações negra e caucasiana no país. Ao ir contando o caso da condenação, da probation e dos acontecimentos recentes na vida Collin, eles vão inserindo esse contexto que querem deixar claro. As cenas de abertura do filme, ainda nos créditos iniciais, servem não para outro objetivo, mas exatamente para isso.

    Embora trate-se de drama, há tentativa de inserir certa comicidade na história. A hipérbole figurada pela quantidade de armas na cena em que Collin e Miles estão no carro de Dezz ilustra essa tentativa, bastante frustrada, na minha avaliação. Há muito pouco de cômico no longa. Aliás, há muito pouco de entrega de qualquer coisa nele. Embora cumpra seu papel como meio para entregar a mensagem “Olhem, ainda há muita diferença de vida entre negros e brancos por aqui”, o filme tem um roteiro fraco, com trama bastante previsível, atuações se não ruins, ao menos limitadas e se pode dizer o mesmo da direção. Algumas poucas cenas salvam a composição, destacando-se nesse sentido aquelas em que há maior tensão trágica (como as de brigas e discussões).

    Tendo em conta que esse é o motivo de ser do longa, é interessante uma observação mais atenciosa à cena em que Collin está voltando para casa de reabilitação, um pouco à frente da anterior. Já no limite do seu horário de recolhimento, dirigindo o caminhão da empresa de mudanças em que está trabalhando, ele se encontra parado em um semáforo na rua Martin Luther King Jr – obviamente uma tentativa piegas de ironia inserida no roteiro. Nesse momento irá presenciar um fato que ficará reverberando em sua cabeça pelo resto da trama. Um negro andando na rua no meio da noite é sempre um suspeito, um negro correndo na rua no meio da noite é sempre culpado (?!).

    Ao tempo em que presencia diversas mudanças sociais e culturais, a personagem central da história está tentando se afastar do que é negativo e construir melhores perspectivas para sua vida (o que inclui sua vida amorosa). Seu sucesso nesse intento é bastante limitado, contudo. Esse parece ser um dos argumentos centrais da obra, a dificuldade que pessoas inseridas em tal contexto de limitação social têm em construir uma vida diferente. Pontos menores e diálogos breves, que podem parecer sem propósito, tentam demonstrar aquelas mudanças. Nesse sentido, atentar para os exemplos: da reinauguração da lanchonete Kwik Way; da festa de CEOs em que há fala mostrando que negros estão ocupando função nesse nível, mas que são extrema minoria; e, no mesmo sentido anterior, como também estão passando a morar em lugares economicamente melhores.

    Outro breve momento que pode parecer sem propósito, mas é na verdade de certa profundidade,  é a cena em que os dois amigos estão recolhendo quadros para uma mudança. Aqui se apresenta a questão de que indivíduos crescidos em tais condições de restrição econômica e educacional terão dificuldades de apreciar artes mais sofisticadas e de se dedicarem emocionalmente acima do superficial. Veja-se a dificuldade em apreciar quadros e fotografias que esses indivíduos apresentam. Na mesma cena que apresenta essa questão, é interessante olhar com afinco como eles não se permitem realizar o exercício de observar um ao outro. Parece que, de fato, pessoas em tais condições sócio-econômicas se comportam de tal maneira. Fica a interrogação: porque é assim?

    “Agora você é um criminoso condenado. Agora você é isso até provar o contrário. Prove o contrário o tempo todo”. Esse é o argumento central do roteiro. Juntando ao já colocado anteriormente: um negro andando na rua no meio da noite é sempre um suspeito, um negro correndo na rua no meio da noite é sempre culpado, um negro condenando por um crime (por menor que seja) será sempre um criminoso condenado e terá de provar o contrário o tempo inteiro. É no mínimo muito difícil fazer um contraponto a isso, para quem já viveu na periferia (e aqui dá para deixar de lado a questão racial), a realidade se demonstra mesmo de tal forma. Sob essa perspectiva nos EUA, a mídia sempre vai tender a mostrar um policial com seu uniforme de trabalho e um negro culpado (correndo no meio da noite) com uniforme de presidiário, caso já tenha passagem pelo sistema judiciário.

    A tensão social entre classes (e ambientes) pobres e classes (e ambiente) econômica e socialmente melhor estabelecidos é intensa e constante. A vida, assim, se apresenta como a arena em que indivíduos em um dos lados são incapazes de se colocar no lugar do outro, há medo mútuo, fortes esteriótipos e seus impactos negativos, a convivência no limite de sua possibilidade, por fim. A vida em ponto cego (blindspotting), a incapacidade de enxergar algo diferente do que seu cérebro quer ver primeiro. Numa figura dupla, seu cérebro vai enxergar apenas uma das figuras. Você olha mas não consegue ver a outra imagem que está lá. Mesmo que outra pessoa mostre para você a outra figura, é praticamente impossível ver as duas figuras ao mesmo tempo (e mesmo não ver sempre primeiro a figura que seu cérebro identificou sozinho inicialmente), a não ser com reeducação do cérebro (o que é extremamente difícil). Você não pode ir contra o que seu cérebro quer ver primeiro, se torna instintivamente cego. Uma vez tendo visto um negro espancando outro cara, você sempre vai ver primeiro o negro que espanca pessoas antes de ver qualquer outra coisa nele.

    Texto de autoria de Marcos Pena Júnior.

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  • Crítica | Batguano

    Crítica | Batguano

    Da Paraíba, estado nordestino que normalmente não é tão lembrado pelo culto ao cinema brasileiro, vem o filme Batguano, do diretor Tavinho Teixeira, o longa começa com uma linguagem bem lírica, através da narração de Everaldo Pontes, que fala sobre a rotina e a vida, antes de mergulhar claramente no seu exercício poético.

    A trama que Tavinho propõe envolve os dois heróis da DC Comics, Batman e Robin, em uma personificação que lembra visualmente (ao menos nos trajes e trejeitos) a versão de 66 com Adam West como Morcego e Burt Ward como garoto prodígio, inclusive referenciando a questão do relacionamento homossexual que A Sedução do Inocente pregava a respeito do vigilante e seu sidekick. Os interpretes são Pontes como o herói de Gotham e o próprio Teixeira como seu antigo ajudante.

    Batguano segundo um dos jornais assistidos pelos personagens, é uma doença que se dá pelo contato com as fezes de morcego, e isso é bem simbólico, pois o filme gira em torno de como Batman e Robin vivem em uma sociedade que ainda insiste em ser retrograda, com ambos, basicamente por que suas mentes e gênios transcendem a temporalidade em que estão, avançadas demais para uma sociedade acostumada a colocar as pessoas em caixinhas e em pré julgamentos, daí uma doença transmitida por conta de um morcego não soa tão agressiva quanto o meio social corrompido pelo reacionarismo e pelo pensamento tacanho.

    O filme não reinventa nada ou reconfigura qualquer situação social, ele simplesmente retrata o status quo e mesmo as pessoas doentes que compõem o mundo são muito condizentes com a realidade atual, ainda que o homem de pensamento médio aqui sejaligeiramente exagerado e mais sincero, até para causar choque e atalhar a discussão. Tavinho filma algumas cenas de sexo leve, que só chocariam realmente o público menos acostumado com o cinema underground e o mais conservador, mas claramente seu objetivo é só o de mostrar a naturalidade da vida, em uma visão meio sonhadora e utópica do que poderia ser a nossa realidade. Batguano ousa por sonhar e por extremamente humano, driblando o cinismo moderno do nosso país para apresentar uma historia experimental e simples.

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  • Crítica | Com o Terceiro Olho na Terra da Profanação

    Crítica | Com o Terceiro Olho na Terra da Profanação

    De Catu Rizo, o filme começa com uma mulher se banhando em um cano , que faz cair a água sobre si, enquanto esta canta uma musica popular. Com o Terceiro Olho na Terra da Profanação é uma obra em longa metragem, filmada no estado do Rio de Janeiro, próximo de Jericinó e da estação de trem de Nilópolis, lugar esse que abriga a quadra e a comunidade da escola de samba da Beija-Flor, mas que não tem em seu drama qualquer semelhança com isso.

    O filme tem uma narração que vai e volta dentro da trama, e descreve alguns dos lugares e situações que os personagens, mas ao menos, não é expositiva ao ponto de ditar o que sentem as pessoas ali. As meninas que interpretam as personagens principais andam pela floresta a dentro, e se reúnem em círculo ao redor de uma oferenda de umbanda, referenciando a um possível flerte com feitiçaria.

    A abordagem escolhida por Rizo é de contemplação, expondo normalmente as duvidas sobre os rumos das vidas daquelas pessoas através de situações cotidianas, misturadas a tímidos elementos de misticismo. Há até uma brincadeira com os clichês do que o publico mais conservador considera como demonstração de afeição por magia negra ou satanismo, se for utilizar uma adjetivação mais direta e conservadora, mas o filme se perde um pouco nas suas próprias referencias, dando a impressão de indecisão por parte do seu roteiro.

    Um aspecto técnico primoroso é o som do filme. Se algo dentro das divagações propostas dentro desse longa funciona é a música que o percorre inteira, dando uma sensação de desolação que em alguns pontos casa muito bem com o que aparece em tela, e em outros nem tanto. Com O Terceiro Olho na Terra da Profanação soa pretensioso em boa parte, em especial por não chegar a lugar algum, ainda que essas indefinições também não sejam isentas de carisma, há algo de muito belo e profundo dentro do seu drama e que é difícil de identificar vendo uma vez só, mas é fato que há algo especial em sua feitoria.

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  • Crítica | Ele Está de Volta

    Crítica | Ele Está de Volta

    David Wnendt conduz o filme que começa com uma conversa informal, entre homem que lembra muito o fuhrer e Thomas Koppl, um professor e membro de um clube de etiqueta, gravado o encontro entre eles semelhante aos mockumentários que Sacha Baron Cohen protagonizava. O professor não sabe muito bem como lidar com a pessoa que conversa consigo, e o tempo todo segura o riso, sem ter muito por onde estravasar a graça que sente ao ter uma conversa tão direta com essa estranha figura. Ele Está de Volta adapta o livro homônimo e de Titus Vermes e por mais que brinque com uma situação impossível, carrega muita verdade em si.

    Oliver Masucci desperta como Adolf Hitler próximo do bunker onde teria perecido, há sete décadas e seu estranhamento com o povo persiste, porque eles não o tratam com o mesmo cumprimento de antes. Aos poucos ele se ambienta aos novos tempos, descobrindo pessoas que simpatizam com seu discurso, apesar de isso ser claramente reprovável.

    Um dos lamentos de Adolf é que lideranças de esquerda tomaram o poder na Alemanha, entre elas, Angela Merkel que em contraponto a sua postura é praticamente de extrema esquerda dado o autoritarismo direitista que impôs quando foi soberano. Uma das suas posturas mais engraçadas acontece quando vai ao campo tentar falar com um homem comum e se estressa com um cachorro, acertando ele com um revolver, de maneira brutal e impulsiva, demonstrando sua crueldade e falta de tato de maneira cômica, mas ainda assim tangível.

    Hitler é tratado pela maioria das pessoas como um humorista que quer provar um ponto, e boa parte do público acha cômico o que ele fala, de tão absurdo que soa e algumas parecem anestesiadas mesmo. Há um momento curioso dentro do longa, onde são mostrados reviews de youtubers sobre ele, mostrando quais eram os reais formadores de opinião em 2015 que repercutiam o que se falava em veículo de comunicação em massa, e alguns achavam que essas posturas eram inofensivas e outros eram taxativos, falando que a situação dos imigrantes deveria tornar proibitivo uma imitação dessa forma. Certamente esse filme só teria o impacto que tem graças a época em que foi lançado, já que ele chegou aos cinemas em 2015 e após o Brexit e outras atitudes reacionárias que permearam a política global.

    Tal qual ocorre na realidade tangível e política atual, quando o sujeito ganha popularidade, pessoas gananciosas tentam retirar daquela situação o máximo de dinheiro possível, vendendo direitos para um filme ser feito, estrelando a figura histórica que deveria ser somente execrada e retirada a possibilidade de discursar para muitas pessoas e esse tipo de comércio provoca o ódio de grupos neo nazistas, que resolvem ser violentos com ele, primeiro por conta de acharem que ele é um impostor, segundo por acreditarem que ele teria responsabilidade com o país e deveria trabalhar para implementar novamente o nazi-fascismo.

    A recepção da parte da população declaradamente liberal e pequeno burguesa ao suposto comediante é muito amistosa, e o apoio ocorre porque lhes é conveniente, o governo autoritário, extremista e segregador pode ser um campo bom para os negócios, uma forma fácil de lucrar e esse oportunismo é bem explorado por Wnendt, especialmente em seu final, que mostra a espetacularização da violência e a valorização do discurso fascista, que resulta no retorno de uma figura que aparentemente muitos odeiam, mas que representa boa parte dos princípio e preceitos defendidos por uma parcela considerável da população e ignorado por tantas outras, que subestimam a capacidade. Até a questão de tratar toda a trama como humorística é quebrada nas cenas pós crédito, mostrando como seria se o fuhrer realmente tivesse voltado, utilizando os fatos reais recentes como pano de fundo para mostrar o avanço do personagem fictício para a nossa realidade, mas que encontra ecos inclusive na política do Brasil. Ele Está de Volta hoje ganha ares proféticos e obviamente faz preocupar com o futuro que a humanidade reserva a si ao idolatrar figuras de ódio.

    https://www.youtube.com/watch?v=CTWtbIzlaM8

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  • Crítica | Calypso

    Crítica | Calypso

    De Rodrigo Lima, sujeito que costuma editar os filmes de Julio Bressane como Cleopatra e que recentemente lançou Espelho, e Lucas Parente, Calypso é mais um dos filmes experimentais que correm os festivais de cinema do Brasil entre eles a 10ª Semana de Cinema. A historia do filme se passa em uma época pós apocalíptica quase, em que dois personagens, Ulysses e Calypso vivem em um exílio.

    Walter Reis e Julia Gorman atuam bem em momentos distintos, quase sempre, estão separados, habitando sozinhos seus dias na ilha em que ficam, a espera de um encontro que provavelmente não virá. Tal qual os projetos da Tela Brilhadora e Operação Sonia Silk, esse é um filme experimento, sem uma linha narrativa muito estabelecida, e que se dedica a falar da existência com cenas quase sem diálogos, com falas soltas que não explicam ou explicitam qualquer coisa a respeito do universo implantado ali.

    Há muita tentativa de poetizar entre as cenas, e algumas são filmadas com ângulos muito bonitos, que destacam cenários internos e externos como belíssimos, mas a maior parte deles o drama soa presunçoso, hermético de um jeito que não se justifica. Se tivesse a duração de um curta-metragem certamente seria mais palatável soaria menos pretensioso. A ideia do filme não é ruim, mas soa genérica diante de tantas outras obras envolvendo o grupo de artistas que normalmente produz esses filmes, a saber Moa Baldoni Badsow, Bruno Safaedi, Julio Bressane etc.

    Ao final, há um momento mais emocionante e épico, com uma musica clássica posta em volumes nas alturas com uma paisagem da praia onde  ao fundo se assiste o trabalho de uma fábrica, com chamas sendo expelidas para fora, fazendo o espectador se indagar se a expectativa de vida e civilização era aquilo, era a chegada do trabalho. Calypso é um filme de belas intenções, mas que se perde nelas na maioria das vezes.

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  • Crítica | Temporada

    Crítica | Temporada

    O cinema de André Novais Oliveira, diretor mineiro que também fez o recente Ela Volta na Quinta mistura uma estética naturalista com um elenco normalmente formado por amadores, registrando um Brasil comum, formado por gente de verdade e que reflete sobre o cotidiano desses. Temporada também reúne esses elementos, e seu inicio é acompanhado de uma musica instrumental ao estilo fanfarra, como boa parte dos filmes norte americanos de comédia antigos.

    Em uma escola de Minas, é apresentada a nova funcionária Juliana, vivida por Grace Passó, uma mulher que vem de Itaúna para o interior de Contagem, trabalhar com o controle de endemias na região. A moça tem problemas de labirintite, e sempre corre o risco de desmaiar e isso agrava o serviço que prestará, pois parte do seu trabalho é fiscalizar as casas e terrenos, tendo que tomar cuidado para não se ferir com cobras e escorpiões que podem estar nos canos ou no quintal repleto de mata.

    A rotina de Juliana é basicamente formada por trabalho e poucos momentos de lazer, normalmente envolvendo os colegas do trabalho, seja tomando cerveja em um churrasco improvisado no quintal do centro de coleta, discutindo as dificuldades financeiras que envolvem o trabalho ou interagindo nas redes sociais com as pessoas de sua antiga cidade, tendo conversas que envolvem todo o lugar comum do que posta no facebook, além é claro de ligações mais íntimas, com o seu marido que ainda mora na sua antiga cidade.

    O filme se dedica a mostrar o incomodo que Juliana tem com qualquer aproximação mais incisiva. Ela até se deixa relacionar com as pessoas, mas só com uma intimidade mínima, quando as perguntas ou indagações tocam a sua vida pessoal, ela rateia, sai pela tangente e não permite nem a ela mesma extravasar e nem aos terceiros conhecerem ela de verdade.

    Entre abandonos e novas fases de sua vida, Juliana passa por essa fase esquisita de sua vida, conseguindo superar seus causos e enfim voltando a sorrir de maneira sincera, atingindo enfim seu estado de espírito alegre graças ao seu próprio esforço. Há muitas semelhanças entre esse e Ela Volta na Quinta, em especial por esse também não ter um drama pesado e específico para explorar, sendo apenas um pretexto natural para os atores desenvolverem seus papéis, e esse filme claramente é feito para Grace Passô, que brilha de maneira estupenda, e o restante, é bem comum, mais uma vez como é tradicional no cinema de Novais.

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  • Crítica | Bacanal do Diabo e Outras Fitas Proibidas de Ivan Cardoso

    Crítica | Bacanal do Diabo e Outras Fitas Proibidas de Ivan Cardoso

    Bacanal do Diabo e Outras Fitas Proibidas de Ivan Cardoso começa com uma filmagem em preto e branco, com a câmera descendo junto ao carrinho, basicamente para emular um movimento de descida semelhante ao que o órgão sexual masculino faz ao penetrar no ato sexual. Não demora para, sem qualquer introdução, vir um número sobre o Draculas Club, onde mulheres semi nuas ou nuas fazem mil peripécias ligadas a vampiros, com slogans sensacionais – como Vampiras infernais, Taras Diabólicas, Rebolando com Drácula – onde as moças fazem até golden shower nas fotos de Bela Lugosi.

    O filme, de pouco mais de uma hora de duração se dedica a passear pela filmografia de Ivan Cardoso, de maneira regressiva, a principio. Essa postura metalinguística não é novidade, Cardoso já se auto referenciou antes em suas obras, inclusive em alguns títulos de seus filmes mais antigos, mas a maneira com que ele monta esse filme é demasiado inteligente e moderna, pois reúne boa parte de suas influências com a sua obra e de uma maneira que até hoje é imitada, como é visto nos recentes Humberto Mauro e Cinema Novo, por exemplo, ainda que o objeto de analise desses seja muito mais catedrático.

    Para quem conhece a obra do cineasta o filme é um belo rememorar, além de conter elementos novos, e claro, e para quem não é especialista da obra é uma boa iniciação, pois os curtas e fitas compiladas aqui não tem uma ordem definida e não necessitam de qualquer visualização prévia nem para serem apreciadas e nem para seu entendimento.

    Em comum, em todos os segmentos, há uma ode ao rock’n roll e a exibição de belos corpos femininos, desde momentos mais tímidos das moças até detalhes ginecológicos, sejam cenas onde os órgãos sexuais das mulheres estejam em foco só por estar, bem como momentos de  masturbação ou depilação. A ideia de Ivan é de normalizar o nu, e ele acerta em cheio no quesito, pois mesmo que a principio uma intimidade dessa choque é completamente natural o estado e essas imagens, e Bacanal do Diabo está muito bem dentro estigma que propõe para si, de ser apenas  um retrato da obra de seu criador, acertado e certeiro, um ensaio que gera muita curiosidade pelas outras obras.

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  • Crítica | White Boy Rick

    Crítica | White Boy Rick

    A historia de White Boy Rick começa de um modo frenético, incluindo aí um plano sequência muito bem construído por seu diretor Yann Demange. Nesses primeiros momentos se assiste Richard Wershe Senior (Matthew McConaughey) e Richard Wershe Jr. (Richie Merritt) indo a uma feira de armas, com o pai utilizando o filho para mendigar a compra de uma arma uma a uma mulher, dizendo que ele é necessitado, escondendo na verdade o simples fato dos dois  não terem dinheiro para comprar o artefato. Essa compra ilegal pode gerar no espectador a sensação de que aquela relação entre pai e filho é mesquinha e cruel, mas a realidade durante o decorrer do longa vai se mostrando diferente, embora obviamente hajam fracassos ali.

    Toda a trama presente no roteiro de Logan Miller, Noah Miller e Andy Weiss é baseado numa historia de verdade, e o filme pontua capitularmente as passagens de tempo, começando por 1984. Ainda com catorze anos, Rick vê sua casa em colapso, com sua irmã Dawn (Bel Poley) preferindo sair de casa para casar-se com um viciado (que inclusive a ajuda a se tornar uma adicta também). O motivo dela sair são os maus tratos de seu pai e o presente que o filme assume mostra que Richard não pratica esse tipo de violência, ainda que pontua que obviamente ele fez muito isso no passado.

    Com a configuração familiar falida, ele se aproxima dos gangsters locais, rapidamente ganha a confiança dos bandidos e é interceptado pelo FBI, para se tornar informante dos mesmos. Esse pedaço em especifico da historia é tão surreal que fica difícil acreditar realmente esses fatos ocorreram. A realidade é que a marginalidade sempre esteve muito próxima do clãs dos Wershe, Richard mesmo negociava armas, mas tinha um código moral serio demais para se deixar vender drogas, ou isso, ou tinha receio das severas penas que eram impostos a quem traficava entorpecentes.

    Em determinado ponto o filme deixa de lado seu caráter policial e abraça completamente seu lado melancólico, com a família abandonada pelas autoridades, Rick decide incursar no mundo do crime por conta própria e as razões que contribuem para essas escolhas são dúbias, não sabe-se se ele é ingênuo ao ponto de achar que seu passado de colaboração com a policia o livraria de penas de encarceramento, ou se ele se achava onipotente como boa parte dos adolescentes se servem, claro, aqui essa sensação é elevada a enésima potência.

    O quadro que Demange monta é curioso demais, pois ao mesmo tempo que apresenta uma trama agridoce, ele apela para momentos bem engraçados, como quando Rick tem de lidar com o irmão de uma menina que ele engravidou. Todas as questões envolvendo dramas familiares são mostrados de forma muito sentimental, enquanto a derrocada moral que Rick sofre é mostrada de modo visceral. As traições que sofre, das autoridades e de seus antigos parceiros de crime também são mostradas de maneira muito crua e a atmosfera visual que é apresentada prima por cores muito claras, contrastando com os tons acinzentados do caráter dos personagens adultos, e consequentemente, fazendo um contraponto ao caráter do personagem principal, que ainda forma seu caráter mas já comete crimes graves no processos.

    Um dos momentos mais tristes é perceber que Richard passa quase todos os 111 minutos de filme sonhando em abrir uma franquia de locadoras, achando que tendo um emprego fixo poderia expiar os pecados de sua família. Este sonho persiste mesmo quando Rick decide traficar drogas e ele finalmente ganha vida, ainda que em um momento tardio, distante demais da utopia que o pai pensou. Ao fazer um homem que falhou a vida inteira e tenta  se redimir McConaughey acerta demais, é impossível não afeiçoar por sua miséria existencial e não torcer para que ele consiga acertar os ponteiros não só com Rick, mas também com Dawn, que eventualmente, volta para casa, mas não sem um ter um momento de extrema emoção. A cena em que ela é carregada de um ponto de uso de drogas para a casa dos seus é forte e emotiva.

    Próximo ao final, Richard Junior decide fazer a barba, em mais um dos muitos simbolismos do filme sobre a transição a vida adulta, e ao brincar com Dawn, em um dos únicos momentos de verdadeira ternura dentro da historia, ele recebe a noticia de que será preso, em uma ação truculenta da policia. Toda a sequencia do final, a tentativa de redenção juntos ao FBI e o abandono das autoridades mostra o quão mesquinho e falso podem ser as atitudes das autoridades mediante o cidadão de pequeno porte, diante do marginal que foi construído graças também a influencia desse mesmo FBI. Mesmo com o tom de denúncia, a sensação mais forte flagrada em White Boy Rick é a dificuldade que os familiares de criminosos tem em lidar com situações onde seus herdeiros são  acusados ou injustiçados. Richard se sente mais impotente do que nunca e o fato de ter morrido sem conseguir ver seu filho livre é triste, e registra uma realidade crua demais para ser aplacada pela ficção. Demange faz um filme emocional e conflituoso, que causa sentimentos extremos em sua platéia e que não se permite em momento nenhum deixar de ser hiper realista, mesmo em seus devaneios e fantasias.

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  • Crítica | Hal Ashby

    Crítica | Hal Ashby

    Hal Ashby era um diretor muito recluso, tímido e que não tinha muita afeição por exposição midiática e o filme homonimo, de Amy Scott consegue capturar muito bem isso, a começar pela trilha de música country, que remete as origens de Ashby, focando também no olhar para fora de Hollywood que o cineasta tinha.

    O filme entrevista pessoas famosas, como Norman Jewson, Alexander Payne, Judy Apatow, Pablo ferro , Louis Gossett Jr, Jeff Bridges, John Voight, Robert Tiene, Caleb Deschanel, Adam McKay, Rosana Arquette, pessoas que trabalharam com o biografado e outras que só tinham admiração pela forma delicada que ele conduzia seus filmes. O documentário frisa que a melhor escola para um diretor é a sala de edição e demarca a fase que Hal era montador.

    Amor Sem Barreiras e Ensima-me A Viver são bem enfocados, o primeiro por ser o filme que fez Ashby sentir vontade de dirigir e o outro por brincar com um estilo de vida que seria mal vistos pela sociedade em geral, em especial o segundo que falava de um rapaz que se relacionava com uma senhora de 80 anos. Sequer havia foto dos protagonistas no pôster. A ideia do cineasta era fazer arte e falar de historias alternativas, que normalmente não seriam encaradas por outros realizadores, sua ideia era fazer arte e a questionar, enquanto os estúdios só queriam fazer dinheiro.

    Alguns de seus editores se recusavam a trabalhar, porque era comum ele fazer um trabalho ininterrupto de  24 horas, tal qual fazia quando montava filmes dos outros. Apesar de tímido era namorador e ele costumava perseguir as pessoas para trabalhar em seus filmes, e essas versões de sua identidade de fato não eram conhecidas do público geral, o retrato montado  sobre si é rico e vai muito além de um simples rememorar sua filmografia.

    O documentário passa muito rápido a diretora tem total domínio sobre a obra e dramaticidade de Hal presente nos áudios das fitas cassetes dão um grande tom a exploração de suas memórias e do que se fala sobre seus filmes, desde os pontos altos, como Shampoo com Warren Beattie, até o abuso de cocaína enquanto realizada Esta Terra é Minha Terra. Outro ponto alto é quando Jane Fonda dá o depoimento sobre Ron Kovic, o mesmo que escreveu e inspirou Nascido em 4 de Julho e que foi uma das inspirações para a feitoria de Amargo Regresso, que tinha John Voight no elenco e que no set, só andava com cadeira de rodas.

    Para Muito Além do Jardim, se destacam os problemas com roteiro e a facilidade que Ashby tinha em convencer os atores, incluindo ai Peter Sellers, que se comportou exemplarmente, ao contrário do que se esperava. Ashby tinha um tato com os atores enorme, todos os que trabalhavam consigo acreditavam serem o seu preferido ou preferida, e ele retirava deles o melhor. É triste notar o final de carreira, por não se adaptar como realizador comercial, não alcançando o sucesso de qualquer blockbusters. Mesmo sua filha, que teve uma criação a distância o admira, exatamente por notar que ele era um sujeito muito isolado, e com dificuldade de se relacionar com qualquer pessoa, aliás, o uso das cenas de seus filmes para ilustrar a infeliz descoberta de seu câncer não poderia ser um epitáfio melhor. Hal Ashby é um documentário que contem um pouco de jornalismo e muito de emoção.

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  • Crítica | Domingo

    Crítica | Domingo

    Domingo é um filme de Clara Linhart e Fellipe Barbosa que segue uma linha narrativa e de estilo muito semelhante a de alguns filmes sobre dramas familiares produzidos na Itália, França e outras praças europeias. Seu começo mostra seu Zé (Clementino Viscaíno), o caseiro da família escolhendo uma ovelha para matar e servir aos parentes, que formam uma família grande, que já morou naquela fazenda mas que está dispersa, quase toda morando na capital gaúcha Porto Alegre. O reencontro naquele sábado, que parece domingo é bucólico e claro, regado de dissabores e desavenças.

    Os núcleos do filme se mesclam em alguns pontos, o casal Bete (Camila Morgado) e Nestor (Augusto Madeira) vivem com os filhos do homem na casa velha e lidam com os empregados de maneira íntima, ainda que aconteça ali as tratativas comuns entre patrões e criados. O elemento de fora que mais traz problemas é a matriarca, Laura (Itala Nandi), uma senhora rancorosa, dominadora e que acha que ainda tem algum poder sobre os filhos. De pano de fundo há a posse em 2003 do presidente operário Lula, e um misto de apreensão por parte de alguns membros da família abastada, e de esperança por parte dos criados em especial de Inês (Silvania Silvia) e sua filha, que mesmo sendo silenciosas, vão alimentando a vontade de largar aquela casa e aquele grupo familiar.

    O filme e conversa muito com Entre Nós, de Paulo Morelli, embora a discussão claramente seja sobre pessoas mais velhas, maduras e resilientes que no filme de 2013. As semelhanças estão na forma delicada com que o roteiro trata os personagens desse sub gênero dentro do chamado filme coral, em que não há um personagem principal e sim um protagonismo multi compartilhado. Evidente que algumas subtramas são mais divertidas e engraçadas que as outras – se destacando normalmente o papel de Morgado, que faz uma dona de casa mimada e porra louca – mas praticamente todos os membros da família tem ao menos um momento em que são o maior foco.

    O filme tenta forçar uma trilha sonora de rock gaúcho, utilizando os Engenheiros do Hawaii como referência e isso por mais forçado que seja, chega a ser engraçado. Até essa artificialidade serve a trama, pois evidencia que a paz instaurada naquele grupo de pessoas é bastante frágil e falsa, tão fake e anti natural quanto uma menina de 15 anos em anos do novo milênio encantada por Humberto Gessinger e sua banda.

    O pai agressivo com o filho, a sextape da madrasta, o patrão mimado e metido a abusador, o flerte entre primos, as indiscrições do professor de tênis, o amor proibida entre patroa e o antigo funcionário fazem parte de um universo que pode parecer fantasioso mas que reúne algumas particularidades com situações que já ocorreram na realidade, tendo esse conjunto de eventos  reunidos no mesmo grupo de convivência e conveniência, melhor aproveitadas evidentemente por ter  uma história engraçada e extremamente carismática embalando essas situações.

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  • Crítica | Vox Lux

    Crítica | Vox Lux

    Vox Lux é um filme dividido basicamente em dois pedaços, um primeiro mais introspectivo e ligado ao passado da personagem principal, Celeste, e outro histérico e engraçado, sobre a fase adulta da mesma. Entre essas duas partes, há em comum a narração de Willem Dafoe, afirmando que aquela historia começou no ano de 1986, que se referiria ao nascimento da personagem, mas o chamado a aventura começa de fato em 1999, com o prelúdio.

    Celeste, vivida aqui por Raffey Cassidy, é chamada alegremente pela professora para que faça uma intervenção em discurso. A oração que a menina faria é interrompida por uma invasão, de um rapaz que Celeste conhecia e que era fã de heavy metal. O mesmo abre fogo na sala de aula, deixando a todos desesperados, alveja a professora depois, ele conversa com a protagonista e atira nela, para logo depois se matar. O projétil acerta a espinha da menina e ela milagrosamente sobrevive, apesar de quase ficar paralitica.

    Os créditos iniciais são mostrados de maneira bem criativa, e de certa forma emulam o modo como o restante da historia. Os rumos que a vida de Celeste e de sua Irmã Eleanor (Stacy Martin) toma é completamente imprevisível. Para celebrar a vida e a sobrevivência elas gravam uma música, composta pela irmã que não sofreu o agouro mais cantada pela que levou o tiro. Aos poucos, o hobby se torna um trabalho, ao ponto delas precisarem de sessões profissionais de gravação. É disposto a elas um produtor pessoal, um manager que é interpretado por Jude Law e ele permanece junto as duas o filme inteiro, e tal qual boa parte das pessoas que não estão no epicentro da egotrip em que o filme se torna, ele simplesmente não tem nome.

    Quando o incidente toca Celeste ela só tem 14 anos, e uma das pessoas que a assessora junto a gravadora, a publicitária Josie, interpretada por Jennifer Ehls, diz que futuras músicas não serão necessariamente sucessos. Essa questão é minimizada por Law, mas se nota um ressentimento por parte da garota, ainda nesta fase. Um fato ocorre, em meio a uma das turnês, Celeste se envolve com um roqueiro, que faz lembrar o repertorio musical do jovem que protagonizou o atentado contra si e desse encontro vem um fruto, talvez ai more o fator de virada na vida dela, o fato que consumou sua fama para alem de uma cantora mirim de um sucesso só.

    Vox Lux conversa muito com o filme anterior de Brian Corbet. Em comum com Infância de Um Líder, há a exploração psicológica da criança protagonista – aqui no caso, adolescente, mas vá lá – mostrando esses dois personagens infantis como algo além da simples presença fofa e inocente que é comum a esse tipo de abordagem. Nem Celeste e nem o protagonista do outro filme Prescott são ingênuos e há em ambos a sensação de que se está explorando a gênese de um mal, sendo na outra as raízes do fascismo governamental e neste a origem de uma artista mesquinha e egocêntrica, capaz de humilhar todos que a cercam.

    Quando Natalie Portman entra no filme como a versão diva pop de Celeste o caráter muda e esse é o tomo dois da historia. A base construída até então serve para mostrar o declínio moral que a personagem teve, se rendendo completamente egotrip provinda da fama repentina, além de julgar que os exageros e excessos típicos da fama fazem prejudicar principalmente o desempenho artístico e a criatividade da, agora, musa. No entanto o insucesso emocional da personagem é muito bem utilizado no filme, e seus devaneios causam muito riso.

    Não se sabe os motivos para a transformação que Celeste tem, se todo o conjunto de defeitos que  ela demonstra estava adormecido e a perda da inocência tão jovem fez isso aflorar sem freio ou se ela ganhou esses predicados com o tempo. O filme não se preocupa em dar uma origem a isso, e tal qual A Infância de Um Líder, não há qualquer receio em se dar uma origem certeira para o egoísmo, e nesse ponto, é um acerto enorme de Vox Lux, pois o texto julga a personagem mesquinha, assim como trata os seus seguidores como uma horda de idiotas sem critério e que consomem qualquer lixo que venha com uma embalagem colorida e atrativa, tal qual seria com Prescott.

    Ainda no começo do segundo ato, chamado de Regência, acontece outro atentado, com pessoas vestidas com máscaras do clipe Hologram, que era um dos trabalhos anteriores de Celeste antes desse que dá nome ao filme. Por mais que não assuma, Celeste sofre um baque por ter os símbolos da sua carreira ligados ao terrorismo, e essa retro alimentação do terror faz ela reagir emocionalmente de maneira imatura, se deixando levar pela raiva ao responder os impropérios da imprensa, mas sem perder a pose de inabalável. Seu derramar de alma e espírito acontece para poucos, para os seus.

    Apesar de nessa fase adulta ela ser vaidosa, vazia e egocêntrica, dramática e odiável, em especial com sua irmã que sempre esteve consigo e com sua filha Albertine, que também é feita Cassidy, é impossível não se sentir seduzido pela face de Celeste que Portman emprega, não só pela beleza da estrela de Cisne Negro e outros produtos, mas sim por seu carisma. O histrionismo e over acting são muito bem empregados e há alguns climaces seguidos, e por incrível que pareça eles não enfraquecem uns aos outros, só fortificam, transformando a bad trip da personagem em um mini número de opera, grandiosamente filmado aliás, com toda insegurança, ansiedade e catastrofismo que uma estrela pode exercer e ter.

    O finale, com a chegada do show Vox Lux, acontece com uma apresentação praticamente perfeita, que surpreende por funcionar apesar de toda fogueira de vaidades que permeia as quase duas horas do filme. Incrivelmente, as duas horas passam extremamente rápido, dada a gangorra emocional que se agrava nos momentos finais do filme. A camada superficial é extremamente divertida, mas suas outras camadas são profundas e reflete sobre o que faz sucesso e porque faz sucesso, através de um personagem cujo ego é grande e que conta com uma mente destruída e um espírito falido e que faz perguntar se há ali um pacto satânico.

    https://www.youtube.com/watch?v=dolxUIZzb3w

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  • Crítica | A Festa

    Crítica | A Festa

    E no começo, tudo é festa. Eles e elas chegam em casa com flores, sorrisos, comida no forno, drinks pra lá e pra cá na iniciação de uma tarde amistosa que tem tudo pra dar certo, afinal, entre amigos está tudo bem. A gente já viu esse filme, essa estória um milhão de vezes (ou mais), principalmente em belas casas inglesas onde quase tudo rola por trás da serenidade aparente. Mesmo assim, A Festa não parece ter vontade alguma de reciclar conceitos narrativos e de aproveitamento da mise-en-scène criativa tão antigos quanto o próprio Cinema, quanto a própria arte de reunir meia dúzia de pessoas naturalmente diferentes em uma mesa sala, sob o mesmo teto, e ver o circo pegar fogo devido a própria natureza conflituosa que surge entre um, e outro.

    Para comemorar a nomeação como Ministra da Saúde, Janet chama os amigos mais próximos a sua casa, afinal é uma data especial que não rola todo dia, só que a cineasta Sally Potter não tem O roteiro em mãos para ao menos conseguir brincar, decentemente, de Mike Nichols e Roman Polanksi. Até mesmo a escolha da imagem gratinada em preto e branco, nos dando o deleite de ver todas as matizes de prata que surgem dessa escolha estética, nos remetem ao desejo de recriar parte do clima, do charme e da força acachapante de um Quem Tem Medo da Virgínia Woolf?, conseguindo, no máximo, comparações honestas e mais humildes com Deus da Carnificina, o bom e “contido” filme esquecido de Polanski.

    Duas características que francamente tem muito a ver com A Festa, uma vez que revelações começam a surgir entre suas personagens que parecem pertencer com suas raízes aos cômodos e aquela mobília, por onde dançam suas paranoias, seus vícios e o cansaço que começa a tomar conta dessa tarde coletiva, tal um demônio sorrateiro embaixo da cama fazendo um casal brigar ao invés de transar a noite. O filme é um verdadeiro show de atuações, da calmaria a flor-da-pele, e merece a alcunha de ser um palco dramático para um grande elenco, em especial o velho mestre Timothy Spall, impressionantemente magro, em fascinante e silenciosa presença em cena.

    Ele é o velho sol no qual todos gravitam em volta, e quando anuncia ter prazo de vida, o filme de Potter, um elegante turista pela terra do banal e do lugar-comum, vira uma catarse semi esquizofrênica onde ninguém sabe o que fazer, e muito menos o que há para se perder. Assistir a adultos e idosos convidados por Janet agindo de forma cada vez mais inconsequente, voltando a essência da adolescência que cabe em suas ações, é divertido por demais, e apenas por isso a sessão aqui vale a pena – Potter tem um ótimo ritmo narrativo. A ironia e o absurdo de certas situações casa-se perfeitamente bem com o julgamento do personagem de Spall, sempre em sua poltrona e que começa a ser interrogado por suas ações que começa a confessar; um Dionísio arrependido a caminho da cova, fazendo sua esposa se revirar e se morder no túmulo antes dele.

    Contudo, com os préstimos devidos, porque o banal A Festa não decola a ponto de extravasar o ótimo filme que existe, em todo o seu potencial embrionário? Talvez haja uma categoria cinematográfica (e que certamente pode se estender para outras formas de arte) de certas obras que não precisam ser monumentais; nascem e veem a luz de um projeto para serem miniaturas, não grandes estátuas. Não há erro algum nisso, numa bela catarse simplista e produzida para ser assim, por mais que aqui fique na boca um gosto forte de quero mais, e uma sensação suspeita que Potter não soube extrair do seu projeto, sucesso no Festival de Berlim de 2017, nada de fato marcante para se destacar entre tantos outros murais sobre as relações humanas que nos guiam, rumo ao céu, rumo ao inferno que está nos outros. Não só nos outros.

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  • Crítica | A Madeline de Madeline

    Crítica | A Madeline de Madeline

    A Madeline de Madeline (Madeline’s Madeline) é um longa que vem saindo despercebido nessa temporada de premiações, mas se destacando pela singularidade ganhou espaço nas maiores listas americanas de melhores do ano. Escrito e dirigido por Josephine Decker, o filme acompanha a jovem estudante de teatro Madeline que precisa lidar com os cuidados excessivos de uma mãe ansiosa e de sua professora de teatro extremamente exigente enquanto experimenta novas experiências e sensações. E de sentir que Madeline’s Madeline é.

    A câmera de Decker viaja vezes fluida vezes nervosa entre corpos de uma maneira muito particular, de fato a protagonista que dá nome a essa história é feita de camadas claramente complexas e a câmera funciona com excelência ao comunicar isso a nós. Proporciona sensações nebulosas e muito bem-vindas em nosso processo de imersão durante o filme, mesmo que seja tão fácil se comprometer com a narrativa.

    E se o efeito quase íntimo da fotografia é um grande mérito, as performances do elenco não são tão diferentes. Helena Howard é hipnotizante, enquanto se vê ela imitando animais para a peça ou reagindo aos acontecimentos rotineiros de sua vida real, a atriz nunca revela de mão beijada quem Madeline realmente é, sua performance deixa a crer que se nó espectadores não compreendemos por completo nossa personagem principal, podemos ter certeza que Helena também busca entender quem ela encarna em tela, e isso ressoa positivamente no grau de realidade que o material final entrega.

    Os papéis das duas mulheres que orbitam a vida de Madeline felizmente também se desconstroem e se constroem em tela de uma forma muito bela, há cenas tão fortes que é possível sentir eletricidade. O roteiro, de certa maneira, vai por caminhos mais lineares e sutis, sem grandes altos e baixos o engajamento poderia se esvaziar em certo ponto do longa, mas a narrativa não se alonga a ponto de isso acontecer tão cedo.

    Decker entrega uma das experiências mais imersivas e diferentes do ano, A Madeline de Madeline não merece ser tratado como algo que “não é pra todo mundo” – assim como qualquer obra – , mas pode abrir boas e novas perspectivas para quem o tem a oportunidade de assistir.

    Texto de autoria de Felipe Freitas.

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  • Crítica | Culpa

    Crítica | Culpa

    Culpa é um filme Gustav Möller, se passa na Dinamarca e começa com um telefone fixo tocando, e sendo atendido por Asger Holm (Jakob Cedergren), atendente da polícia local responsável pelo disque-emergência local. Ele recebe uma estranha ligação, de Iben Oskegard (Dessica Dinnage) em meio a tantas dessas que ocorrem no dia, ele gasta sua energia e atenção, pois parece se tratar de uma situação calamitosa, de sequestro, e raramente esse tipo de interação acaba bem, dada inclusive a dificuldade em a condição em que uma pessoa está em ligar quando está raptada.

    O filme tem uma duração curta, de apenas 85 minutos e isso facilita o interesse do grande público nele, visto que ele passa quase todo no mesmo cenário e é bem parado,muito dependente do desempenho dramático de Cedergren, que evidentemente, não decepciona. Quase a totalidade do roteiro ele está sozinho e a câmera varia os planos em cima de si, mais até do que a quantidade de variações de angulações das lentes são as camadas de angustia que o ator imprime, acertando demais em sua performance, capturando bem a atenção de quem o assiste.

    Quando o caso vai se agravando, Holm apela para um modo mais simples de comunicação, onde a vitima só responde sim ou não. A tática é inteligente na teoria, mas na prática se mostra um artifício não tão eficaz, e ali começa a sensação do personagem de que o insucesso pode chegar. Ele guia uma equipe que persegue o carro que leva a moça, fala com a filha da raptada, consegue descobrir o veículo onde a mulher está e um possível motivo para tal. Toda a investigação é muito bem encaminhada apesar de limitação física imposta a si.

    Faz lembrar bastante dois filmes não tão antigos e de produção americana, Wheelman, com Frank Grillo, da Netflix, e Locke, com Tom Hardy, a diferença é que o senso de urgência que ocorre com Culpa é muito maior, afinal uma pessoa está prestes a morrer e o personagem enfocado está impotente, de mãos atadas e longe dela, sem conseguir de fato defende-la do destino cruel que outro ser humano abusador a causa. Essa sensação de desespero é muito facilmente passada ao espectador, e apesar de não ser um produto extraordinário em matéria de cinema, a obra de Möller acerta demais ao apelar para um caráter universal como faz.

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  • Crítica | Noite de Lobos

    Crítica | Noite de Lobos

    Não é de hoje que a Netflix se importa muito mais com as premissas de suas séries e filmes, ou com a quantidade industrial dos lançamentos mensais (mantendo e atraindo novos assinantes para quase sempre assistirem “mais do mesmo”), do que com a longevidade e a excelência da maioria dos seus produtos finais. Noite de Lobos, além de ser o exemplo perfeito disso, pode ser apenas mais um filme de suspense aos usuários da plataforma de conteúdo que não se decidem o que assistir, diante de tantas opções tão banais quanto essa, mas também foi pura expectativa baseada no que de bom o seu cineasta, o jovem Jeremy Saulnier, já provou saber fazer com uma câmera na mão, e uma ideia na cabeça, praticamente sendo, cedo demais, um frescor para a produção genérica hollywoodiana de jumpscares, e outros vícios de linguagem.

    Contudo, em 2018, além de não conseguir repetir nem de longe, ou sequer encontrar novas versões de boa parte dos méritos que fizeram o seu ótimo Sala Verde (péssimo título em português), de 2015, ser um dos suspenses mais aclamados e freneticamente macabros dos últimos anos – e com total razão –, Saulnier constrói um projeto de filme, sisudo e incoerente quase que ao extremo, e que tenta nos seduzir com doses cavalares de tédio e surrealismo pessimamente construído, revestindo o desabrochar de uma trama sem pé nem cabeça impossível de engolir, quanto mais de refletir-se sobre. Fato é que o que começa sendo A, termina sendo Z, num alfabeto desconhecido e que nem ao menos consegue manter o nosso interesse para desejarmos decifrá-lo.

    Em Noite de Lobos, somos apresentados rapidamente ao drama inconsolável de uma mãe que perdeu seu filho na imensidão do Alasca. Nisso, crente de ter sido levado pelos lobos da região inóspita, ela contrata um caçador para recuperar pelo menos o cadáver do garoto e dar fim na matilha que o raptou, as vésperas do retorno do seu marido direto da guerra no Iraque, profundamente afetado pelo o que passou. Tal dilema certamente provoca um choque de animosidade entre os dois, potencializado pelas duras experiências de vida de ambos os homens, ambos à procura da mesma coisa, e em especial pela situação desumana e gélida na qual eles se encontram naquele fim de mundo – local esse mostrado com muito mais habilidade, beleza e perspicácia no subestimado A Perseguição, de 2012.

    Logo, percebemos que o verdadeiro perigo não está nos lobos, criaturas sanguinárias e onipresentes que encaram esse recantos da Terra como o quintal de sua casa, e sim neles mesmos, graças a condição desoladora tanto do rapto do menino, quanto da vastidão sem leis que o Alasca proporciona aos seus exploradores. A verdadeira frieza, portanto, está nos homens e na suas relações entre seus semelhantes e com o ambiente ao redor, frieza essa pobremente metaforizada nos próprios animais selvagens que apenas seguem os seus instintos primitivos, sozinhos ou em bando, tal qual o bicho homem em determinadas ocasiões. Ideias batidas mas que sob a execução certa fariam vir à tona uma boa obra de sobrevivência local, uma vez que a sensação de mediocridade aqui nos assombra do começo ao fim, tal uma irritante constante narrativa.

    Como numa legítima produção com o selo Netflix, a premissa carrega em si as melhores intenções do mundo, tendo na sua longa e mórbida realização o verdadeiro oposto qualitativo que esperamos de um bom filme. Sisudo e amplamente incoerente (como já foi taxado aqui, sendo este o seu principal aspecto), o filme de Saulnier se mostra sério, quase um cult mas que se esforça para ser sombrio e instigante, e que por não se decidir entre o que é, e o que poderia ser, falha miseravelmente. O roteiro e sua direção transformam tudo numa salada irracional de subtramas estapafúrdias, e logo perdemos o interesse em cada uma das personagens, assim como suas motivações mais básicas. Eis um dos filmes mais insossos de 2018. Uma pena.

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  • Crítica | Gremlins

    Crítica | Gremlins

    Historia contada e narrada pelo inventor Rand Peltzer (Hoyt Axton),  Gremlins começa fantasioso, apelando para o misticismo asiático presente no dono de uma loja de artigos estranhos. Peltzer, de chapéu e terno, como os detetives dos filmes noir, adentra a estranha loja para tentar vender um de seus produtos picaretas, mas mesmo sofrendo de egoísmo e egocentrismo, ele nota que a loja tem elementos diferenciados, e ele se depara com uma criaturinha dentro de uma caixa, chamada Mogwai. Ele tenta compra-la do velho, mas o mesmo recusa e o neto do lojista vende por duzentos dólares e dá instruções básicas de : não deixar ele ter contato com água, manter ele longe da luz forte e não alimentar ele após a meia noite-não importa o quanto ele suplique.

    Logo o foco narrativo muda para a outra parte do núcleo familiar, Billy Peltzer (Zach Galligan) é mostrado trabalhando, e lidando com Kate (Phoebe Cates), a menina por quem ele nutre uma admiração meio secreta. A atmosfera que Joe Dante cria nesse início é bem parecida com a dos filmes de Steven Spielberg, não à toa o realizador de Jurassic Park e ET-  O Extraterrestre é um dos produtores. A realidade dos dois personagens centrais apresentados é tão distante que eles parecem nem fazer parte do mesmo micro cosmo, mas o presente do novo pet, aparentemente os uniria, como um bom milagre de natal.

    O bichinho em questão é bem fofo, e causa ciúmes no outro animal de estimação, o cachorro Barney. Batizado de Gizmo, o personagem feito por um boneco se mostra bem sensível a luzes fortes, e ele fala de vez em quando, reclama quando há luz forte. Quando o pequeno Pete (Corey Feldman) chega na casa, Billy acidentalmente molha Gizmo, e ele se reproduz, nascendo outros cinco Mogways, e é nesse momento que o nome do filme Gremlins se justifica, apesar de ainda não ter ocorrido uma transformação completa na praga  que eles seriam.

    Nesse ponto, os Mogwais lembram os pingos – ou trubbles no original– de Jornada nas Estrelas, as criaturas fofinhas e peludas que se reproduzem de maneira desenfreada, mas que tem aparência do futuro brinquedo Furby, lançado 14 anos depois (em 1998). A proximidade do natal parece que atiça ainda mais a mentalidade travessa das criaturinhas, que passam sabotar Billy, para que ele quebre as regras estabelecidas para os bichinhos, desativando por exemplo os fios do relógio para confundir quanto aos horários.

    Mesmo pela metade da historia ainda permanece uma aura de fantasia suburbana que também existia nos filmes de Robert Zemeckis como De Volta Para o Futuro e em Os Goonies de Richard Donner, embora perto dos quarenta minutos já haja uma exposição de gore maior, com os casulos ao estilo Alien O Oitavo Passageiro que os Mogwais começam a fazer, após serem alimentados depois das 00 horas. O aspecto deles é feio e nojento, parecem bolhas de carne prestes a estourar e a surpresa que sai desse casulo causa espanto. Luzes verdes e vapor criam uma sensação de calafrio na platéia mais impressionável, estabelecendo um receio maior sobre como seriam as tais criaturas.

    Por mais fofa que tenha sido a introdução, a recepção a essa fase dos mogwai – os gremlins – é nem um pouco amistosa da parte de Lynn (Frances Lee McCain), mãe de Billy. Ao ver sua cozinha repleta de doces natalinos invadida por três monstrinhos ela os mata, triturando um, esfaqueando outro e estourando o terceiro no micro-ondas. A mesma mulher que parecia inofensiva se torna selvagem ao ver seu território invadido, e como boa matriarca reage, e sua ação não é exagerada, pois o quarto monstro quase a mata, sendo ela salva por seu filho.

    O gremlin listrado retorna a casa onde nasceu, basicamente para lamentar a morte dos irmãos, e para demonstrar que ainda está vivo e pronto para a ação. É incrível como o roteiro de Chris Columbus consegue misturar de maneira harmoniosa um terror e apreensão típica dos filmes de atomic horror mas com proporções pequenas (afinal os monstros são menores que galinhas, mas ainda muito destrutivos) com a mágica natalina típica dos filmes de fim de ano.

    Os bonecos animados também são muito bem feitos e a mistura com efeitos em stop motion soa extremamente fluída. Sobretudo as cenas no escuro funcionam, pois as cordas podem melhor manipuladas. Dante consegue orquestrar e expandir o mito estabelecido no episodio de Twilight Zone, Nightmare at 20,000 Feet que Richard Donner dirigiu, não só pela movimentação deles, que soa natural, mas pelo humor negro implícito. Depois que o listrado se multiplica, suas cópias imitam personagens famosos, como mafiosos, coros de natal, e até de travestem. De alguma forma, eles copiaram as perversões humanas, usando seu longo tempo livre para dar vazão a vícios como bebidas e cigarros basicamente porque podem, criticando assim o consumismo desenfreado que é típico do natal, ainda que de maneira um pouco velada. Os gremlins são os seres mais instituais possíveis.

    A cena do cinema conversa demais com o clássico Demons de Lamberto Bava, e a solução que Gizmo encontra para assassinar seu irmão é tão icônica que foi copiada por Tarantino e Rodriguez em Um Drink  no Inferno, embora seja dúbia, e muito mais impactante visualmente, violento, sem medo de mostrar o esqueleto da criatura antes fofinha. Gizmo e Billy são separados em clima natalino, para que não aconteçam mais pragas ali e para que o perigo seja contido. Toda a breguice e cafonice do cinema de horror atômico e catástrofe é muito bem exemplificado e parodiado em Gremlins, e Joe Dante consegue reunir elementos de muitos filme em pouco menos de duas horas, lembrando de épocas festivas, adulando a infância e nostalgia e pondo elementos amedrontadores ao estilo A Pequena Loja de Horrores.

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  • Crítica | Papai Noel às Avessas

    Crítica | Papai Noel às Avessas

    No ano de 2003, chegava aos cinemas um filme de natal que fugia completamente dos tradicionalismos. Produzido pelos irmãos Bob e Harvey Weinstein e por Joel e Ethan Coen, Papai Noel as Avessas começa mostrando Willie, personagem de Billy Bob Thornton em um pub no final do ano, bebendo com sua roupa de trabalho, o tradicional manto vermelho, fumando e enchendo a cara, para logo depois vomitar na sarjeta. Seu olhar melancólico demonstra o total desânimo com a vida e completa não vocação para trabalhar com crianças.

    O filme de Terry Zwigoff tem duas versões, uma mais curta, de menos de 90 minutos e outra que tem quase cem e que possui uma explicativa narração, que vez por outra explicita demais sobre a origem do personagem e quebra um pouco da magia em volta de si. A rotina de Willie inclui ele atender as crianças de maneira impaciente e irônica, enquanto fica bêbado, sendo capaz até de se urinar. Com auxilio do anão Marcus (Tony Cox) que faz um duende com ele, ele espera o shopping fechar para saquear o mesmo.

    Ser um saqueador é apenas um dos defeitos do personagem, ele também é anti social, alcoólatra e tem fixação em bundas, não se permitindo ser educado nem um pouco com as mulheres que o rodeiam, incluindo aí as mães que fazem compras no shopping. As cenas extras da versão do diretor são fracas, mostram Willie de férias, ou confraternizando, e isso fere a essência do personagem, que é apenas um personagem ranzinza sem amigos, e o conflito que passa a ter com o pequeno garoto gordinho, que sofre bullying e é interpretado por Brett Kelly.

    O menino, que no filme não tem nome – e é chamado só de The Kid – parece ser o único que realmente se importa com ele, ainda que o faça por acreditar que Willie é o verdadeiro Papai Noel, e apesar de no começo a relação dois tenha sido de aproveitamento da parte do adulto, aos poucos o menino faz afeiçoar o beberrão, ao ponto até dele cometer atos graves como ameaçar crianças que maltratavam o rapazinho, chegando a ponto dele até treinar o menino com boxe, para que supere de certa forma o claro atraso mental que tem.

    O final do filme é conciliador, e mostra Willie evoluindo de certa forma, não ao ponto de se tornar alguém bom, mas ao menos ele é mostrado como um sujeito que consegue se afeiçoar a alguém que demonstra inocência, basicamente por conta da ingenuidade alheia e conseqüente incapacidade dessa pessoa de não passar-lhe a perna. Papai Noel as Avessas é sacana, mas ainda é comedido no politicamente incorreto, poderia ser mais transgressor, mas especialmente sua versão estendida faz perder boa parte da malandragem e dificuldade de socializar que Willie tem.

    https://www.youtube.com/watch?v=cEtRnuQcdys

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  • Crítica | O Grinch (2018)

    Crítica | O Grinch (2018)

    A clássica história do Dr. Seuss sobre como um ser desprezível tentou roubar o natal da Quemlândia ganhou em 2018 um remake dos estúdios da Ilumination – mesma empresa responsável por Meu Malvado Favorito e Minions: O filme. O conto de natal, que já havia sido adaptado para televisão em 1966 e para o cinema no ano 2000, é apresentado nessa nova versão de uma forma mais fofinha e colorida. O Grinch segue a linha de outros filmes animados do estúdio, com um roteiro pouco imaginativo e com mudanças cruciais nos personagens do livro.

    Claro que certas mudanças e adições ao roteiro são necessárias, pois o livro original é bem curto – afinal, é feito para crianças – e o filme deixa muito espaço para se preencher em seus 90 minutos além da história básica. No entanto, muito do que foi acrescentado está lá apenas para fazer volume ao longa, como a rena Fred, que não faria falta alguma se fosse retirada do filme. O personagem título é bastante diferente de sua concepção original. No livro e nas duas outras adaptações, Grinch é um ser cruel e detestável, que odeia o natal com todas as suas forças. No novo filme, nem tanto. Grinch não parece odiar o feriado, mas sim guardar um ressentimento devido a um trauma de infância, o que faz com que desde o começo o público possa se identificar melhor com o personagem. Não odiamos o Grinch nesse filme, temos empatia por ele. Ele demonstra o tempo todo querer participar do natal, e isso se reflete em suas expressões faciais, seu olhar e seu esforço para odiar algo que claramente ele deseja. O Grinch do estúdio dos minions é menos rabugento e mais “recalcado”.

    A história começa no dia 20 de novembro, quando toda a Quemlândia está animada se preparando para o natal, enfeitando as casas e ensaiando corais. O tempo de cinco dias para o natal acaba sendo desnecessariamente longo e faz com que tenhamos várias cenas de café da manhã, que servem basicamente para mostrar a subserviência do cãozinho Max – muito mais jovem e ativo do que suas outras versões. Nesse meio tempo, Grinch visita a vila dos Quem e, ao invés da aversão odiosa aos elementos natalinos, ele parece ter algum tipo de fobia, fugindo de um grupo de coristas. Suas “maldades” não passam de pequenas traquinagens pueris – talvez com uma dose bem pequena de sadismo – mas ainda assim insignificantes. Quando Grinch finalmente resolve “roubar o natal”, ainda temos um bom tempo de tela sendo preenchido com os planos e um arco sobre a rena Fred que, como já citado, não leva a nada.

    Talvez o roubo do natal seja a parte mais interessante do filme, pois é seu momento mais criativo. O Grinch dessa película é uma espécie de “engenhoqueiro”, e utiliza todos os tipos possíveis de gadgets para realizar a façanha. Em paralelo, acompanhamos a história da família da pequena Cindy-Lou Quem e seu plano para prender o Papai Noel – a quem ela tem um pedido importante a fazer que acaba sendo o motivo da redenção final do personagem título.

    O ritmo alucinante deixa pouco tempo para introspecção e dá a impressão de que a história não pareça tão esticada. A trilha sonora assinada por Danny Elfman acerta poucas vezes, na maioria ao emular as faixas apresentadas na versão de 1966 – embora a versão de You’re a mean one, Mr. Grinch, do rapper Tyler, tenha ficado bastante dissonante com o restante. Quanto às vozes, nada que justificasse o alarde em torno de Benedict Cumberbatch ou do brasileiro Lázaro Ramos na versão dublada. Embora ambos tenham realizado um bom trabalho, essa versão não apresenta uma voz tão marcante e com tantos trejeitos quanto a do filme de 2000.

    Claramente, a Illumination criou sua própria estética visual baseada nos livros do Dr. Seuss, mais alegre e fofinha. Nisso, o filme se aproxima muito de outras obras do estúdio baseadas no autor, como Horton e o Mundo dos Quem e O Lorax: Em Busca da Trúfula Perdida. Temos então uma versão fofinha, limpinha e sanitizada do personagem que deveria ser asqueroso e rabugento. O Grinch da Illumination é um cara legal que está um pouquinho confuso, demonstra afeto e carinho ao seu fiel companheiro Max e respeita uma rena caçada nas montanhas. Adultos devem facilmente se cansar do filme, mas para o público infantil, O Grinch pode se tornar um novo Meu Malvado Favorito.

  • Crítica | O Ritual

    Crítica | O Ritual

    O Ritual é uma surpresa – mediana – em quase todos os sentidos, principalmente se o filme (descoberto e admirado primeiro pela crítica, depois pelo grande público) for encarado pelo fator contido e bem-sucedido, aqui, em promover a reciclagem de elementos clássicos do horror que não brincam com o explícito, e sim com a sedução em mostrá-los pouco a pouco, inserindo-os numa trama tão convidativa aos mais horripilantes eventos que podem acontecer com um grupo de seres humanos, perdidos numa floresta europeia de infinitas coníferas antes do seu lobo dar o ar da graça – seja lá qual for a sua forma. Mas é claro que, num time de quatro marmanjos mochileiros, amigos de faculdade e sedentos por uma aventura descompromissada, um cara que chama o próprio períneo de “ponte” merece ficar perdido, ou melhor, ser caçado impiedosamente, inclusive por aquelas criaturas de Um Lugar Silencioso uma vez que ele não calava a boca, mesmo.

    O jovem cineasta David Bruckner sabe que a história aqui, bastante batida, é bem menos importante que a maneira certa na qual ela deve ser narrada e desdobrada na tela, em especial hoje em dia com uma centena de filmes que, anualmente, repetem seus clichês e suas abordagens semelhantes, num verdadeiro panteão cíclico de filmes do gênero que nada acrescentam ao seus espectadores. Bruckner encara a desculpa de ter um quarteto de marmanjos caminhando numa floresta como um cenário perfeito de ruptura da realidade, e como todos os outros que já vieram antes, incluindo Lars Von Trier e seu bom O Anticristo, sugere uma espécie de microcosmo para todas as possibilidades horripilantes que uma situação dessa oferece, porém, com algo raro a mais chamado “dane-se o que veio antes, eu vou fazer minha própria versão de A Bruxa de Blair”. E, por mais inesperado que seja, essa autoconfiança funciona bem até demais.

    O filme é denso, com um drama convidativo a uma grande densidade. O pouco senso de humor é garantido para ridicularizar as escolhas de personagens que sentem a aproximação do maligno, e tentam se safar com alguma dignidade. Esmiuçando um exercício de gênero e deixando o suspense entrar com pompa pela porta de trás, o cineasta monta uma inteligente espiral de imprevisibilidades que podem habitar um bosque sem fim, casa do inexplicável e do macabro mesmo sob a forte luz do sol. Para isso, os quatro personagens apenas seguem seu destino em direção a uma estalagem para viajantes, e encontram um atalho até lá se embrenhando numa floresta para chegar mais rápido ao seu destino, no meio de algum lugar isolado da Suécia onde sua trilha os levou. Após passarem uma noite numa cabana cheia de magia negra, descobrem-se ser moscas presas numa teia invisível de pavores que, quando começa a tomar forma e revelar-se, debater-se diante de uma morte inevitável é a única escolha. Quando, em pleno 2018, podemos nos gabar de assistir a um horror recente que se vale pela força e a elegância de sua abordagem?

    Sem apelar para sustos fáceis (os poucos jumpscares presentes aqui são oportunos ao ponto de não ofender e garantir o susto até dos mais acostumados a esse efeito), Bruckner parece reconhecer o potencial do seu filme e cerca-se das melhores referências possíveis, sendo a maior de todas o fantástico O Iluminado, clássico de Stanley Kubrick no qual todas as veias do seu horror psicológico são estudadas e remodeladas para acessarmos os recantos mais sombrios da psicologia de quatro homens atormentados num purgatório feito de galhos, lama e neblina onde o racional dá lugar facilmente ao lado primitivo (e por vezes sobrenatural) das coisas. Assim, O Ritual se mostra ambicioso com um ótimo propósito pra isso, no seu terceiro ato, e extrai as trevas de seres condenados ao fatalismo de uma situação dessas projetando-as com calma e serenidade na atmosfera pesada e obscura que rodeia toda a produção, do seu início violento ao seu fim perturbador, no mínimo, passando por toda uma vibração desesperada, intrigante e muito bem encenada que o filme nos reserva. Uma grata surpresa, de fato.

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  • Crítica | Ana e Vitória

    Crítica | Ana e Vitória

    Clint Eastwood fez em 15h17: Trem Para Paris um longa sobre uma historia inspiradora, e decidiu para tal colocar as pessoas que participaram do feito que salvou algumas pessoas na França de um ataque terrorista, os próprios americanos para interpretar a si mesmos. Matheus Souza comanda o longa Ana e Vitória, que de certa forma, segue na esteira do filme de Clint ao contar como o dueto de cantoras formada por Ana Clara Caetano Costa e Vitória Fernandes Falcão se juntou, protagonizado pelas próprias.

    O início da historia se passa em um número musical bem terno, envolvendo todas as pessoas que estão numa casa durante uma festa repleta de jovens e adolescentes. A realidade é que essa sequência é muito bem feita, e quase engana, pois quando Ana e Vitoria se encontram e começam a conversar a qualidade do longa desce a ladeira.

    As duas cantoras não conseguem passar qualquer dramaticidade, e isso piora demais quando ela interagem com atores mais experimentados. Incrivelmente quando elas estão caladas a capacidade de expressar alguns sentimentos aumenta, as duas não tem muito carisma ou dicção para representar os fatos que aconteceram em suas vidas e que são dramatizados de uma maneira um pouco mais fantasiosa. Vitória em especial precisava tomar aulas de atuação, visto que mal consegue se entender o que ela fala.

    Ana quando canta consegue melhorar muito seu desempenho, ela claramente tem uma performance bem melhor que a de sua parceira de banda. É gritante a diferença, ainda que em ambas as encarnações do filme tudo soe artificial demais. As meninas não transmitem quase nenhum carisma e as conversas são engessadas demais, forçadas em um nível incomensurável.

    Apesar de alguns aspectos técnicos funcionarem, o todo de Ana e Vitoria é risível, parece um teatro de horrores, tão equivocado quanto 15h17, se assemelhando demais as fitas antigas feitas com artistas de outras áreas que não o cinema e o audiovisual feitas só para promover esses artistas, há claramente um filme com os atores e outro com as duas e são poucos os momentos em que há interseção entre essas histórias, são poucos os momentos que Matheus Souza consegue acertar como condutor, semelhante a pífia condução que empregou em Tamo Junto.

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