Categoria: Cinema

  • Crítica | Samba

    Crítica | Samba

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    O segundo filme da parceria entre Omar Sy e os diretores Eric ToledanoOlivier Nakache, do drama Intocáveis, e que foi exibido durante o festival de Toronto de 2014, não poderia ter saído em melhor sincronia com a discussão de seu pano de fundo: imigração. Recentemente, autoridades europeias foram questionadas em relação ao tratamento dado a imigrantes, principalmente aos refugiados de guerra, sendo essas indagações envoltas em polêmicas que beiram o higienismo cultural por parte de autoridades.

    Dentre os países com histórico de lutas étnicas, a França se destaca por ser lar de diversos grupos africanos, em especial os argelinos, por depender destes grupos para execução de trabalhos de menor reconhecimento e, na medida dessa dependência, desprezar essas pessoas. País onde imigrantes são renegados a guetos, sem possibilidade de constituir cidadania, e sofrendo preconceitos diversos com índices de desemprego de jovens na faixa dos 40%, a terra do Iluminismo e lugar que outrora gritou “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” lança um olhar blasé sobre os conflitos que ocorrem nestes bairros argelinos — com uma última grande onda de revoltas ocorrida em 2007. Ainda hoje, movimentos da direita conservadora francesa, liderada pelo ex-presidente Nicolas Sarkozy, argumentam sobre a necessidade de regulação no livre trânsito pela União Europeia, e atribuem à imigração seus déficits e crises financeiras, atitudes as quais instigam a revolta daqueles que, apesar de franceses, carregam em sua ascendência o estigma do preconceito.

    O filme inicia-se com a câmera passeando em plano sequência pelas áreas de um bonito salão de festas, depois o restaurante, a cozinha, o lavatório, e mostrando como as oportunidades aos imigrantes cresce em proporção direta ao nível de afastamento do público. Nesta cena, somos apresentados ao lavador de pratos Samba (Omar Sy). Como a dança, um imigrante senegalês que se encontra já há 10 anos na França, e nestes 10 anos pôde ver suas oportunidades de crescimento sendo retiradas uma a uma. Pessoas invisíveis vão se criando, de modo a tornarem-se irrelevantes. Quando em situação ilegal, devem evitar trens e locais de grande circulação de pessoas para fugir de prováveis batidas policiais. Seus traços étnicos são vistos com maus olhos, inclusive entre seus pares, e o conselho básico é tentar renegar suas origens até perder-se em uma caricatura europeia.

    Neste contexto, devido um problema de documentação, Samba é detido e aguarda julgamento sobre sua situação no país, tendo como único auxílio a ajuda de voluntárias de uma ONG de atendimentos a imigrantes, entre elas Alice (Charlotte Gainsbourg, de Ninfomaníaca) em seu primeiro dia de atuação. Para ela, o conselho dado é não se envolver, porém a atração imediata entre Alice e Samba origina o romance que dá o tom a mudanças de perspectiva dos personagens. A relação entre o casal protagonista é delicada, pois Alice atua sob licença de seu antigo emprego, no qual sofreu uma espécie de burn out em uma crise nervosa, e desta forma tornou-se incapaz de sentir. Já Samba desde sempre percebeu que o envolvimento implica em perdas, com amigos e romances perdendo-se entre deportações e prisões.

    O romance é construído sutilmente, de modo a torná-lo consequência da quebra de expectativa que a vida provê a esses dois personagens, e de modo a considerar uma interdependência emocional entre ambos. Esta dependência é construída por meio de um carinho desajeitado, o que se espera de pessoas que em situações habituais de vida nunca se encontrariam. Charlotte é uma escolha excelente para o papel, pois é capaz de apresentar uma cotidiana meiguice a sua personagem, exaltada principalmente pela atenção que a câmera dá ao seu olhar. É possível perceber sua quebra interna a partir dos gestos, hoje desajustados, e da indicação de uma pressão interna insustentável em seu semblante de decepção diante de qualquer interação. Evoluindo ao longo da projeção, Alice torna-se uma pessoa leve e capaz de rir do mundo e de si mesma, em especial quando em contato com Samba, que em sua honestidade e simplicidade reluta em compreender os rumos desse romance.

    Com uma edição ágil, excelente elenco e bons toques de humor, a imigração e a solidão da vida são tratados de maneira leve, sem perder de vista a seriedade de seus temas centrais, usando o casal protagonista para traduzir a confusa e profunda relação entre seus representantes sociais. O Brasil encontra-se também representado, mesmo que de maneira indireta, no papel de Wilson (Tahar Rahim). Sedutor e alegre, torna-se amigo de Samba na busca por um emprego digno, incorporando o estereótipo do bom brasileiro em seu trato com as pessoas. É interessante este depoimento espontâneo sobre a nacionalidade brasileira na França, considerada como um lubrificante social em uma atmosfera tão segregadora. O país é também homenageado ao bom som de Palco de Gilberto Gil, e pela bem pontuada Take it Easy, My Brother Charles, de Jorge Ben.

    É inevitável pensar como a criação de fronteiras, estas linhas imaginárias visíveis apenas em papel, torna acidentes geográficos tão maiores do que relações humanas, e conduz pessoas a condições determinísticas de subclasse mantendo-se pela esperança. Esperança, cantada por Jorge na visão que o primeiro homem pisando na lua se sentiu com direitos, princípios e dignidade. Exatamente como deveria ser.

    Texto de autoria de Marcos Paulo Oliveira.

  • Crítica | Neruda: Fugitivo

    Crítica | Neruda: Fugitivo

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    Manuel Basoalto dá luz à cinebiografia do ativista Pablo Neruda, indo desde a Estocolmo, onde o escritor recebeu o Nobel de Literatura, passando pelos passos do chileno nos andes latino-americanos. Neruda: Fugitivo começa trôpego, com uma narração que resume os ideais e atitudes do personagem-título, mas que também emburrecem o roteiro, igualando-o a uma fotografia do filme, que por sua vez se assemelha a produtos da televisão.

    Os fotogramas seguem o sensacionalismo tipicamente folhetinesco, especialmente em relação à tomada de poder de Gonzalez Videla. Sempre que José Secall (intérprete do protagonista) toma a palavra, uma cafona trilha edificante toma a fita para fortificar a ideia de paladino e justiceiro. O que deveria ser um sóbrio discurso do político acaba por se tornar uma risível abordagem parcial, que serve mais para deboche, por parte dos que secularmente seriam opositores de Neruda, do que como glorificação, a qual é toscamente almejada por Basoalto.

    As personagens são maniqueístas e passam longe de ter duplicidade, bidimensionalidade ou com nuances em suas falas. O detalhamento da caçada que Neruda sofre, depois de ter seus direitos como senador suspensos, é consagrado por uma obviedade não condizente com a complexidade da história original. O maior equívoco do argumento final é tratar os escritos de Neruda sob um viés de autoajuda, de simples edificação através de palavras e conceitos fáceis. Mesmo a melancolia do autor é mal apontada, pasteurizada para alcançar um público que naturalmente seria pouco afeito ao seu pensamento.

    O complexo e complicado cenário geopolítico da Guerra Fria é reduzido a uma luta do bem contra o mal. A utilização desta tônica revela um anacronismo por parte dos realizadores, e significa quase uma troca de lado, dada a complexidade tanto da obra quando da luta do personagem principal, em nada afeito a divagações moralistas e simplistas.

    As melhores cenas, as mais sensíveis e tocantes, são as que não se utilizam de sons, remetendo à infância e à juventude de Pablo. Tempos mais simples, mais fáceis de registrar visualmente, e que, por isso, não irritam tanto quanto os momentos que abordam a política. Possivelmente, ao público que não conhece a obra de Pablo Neruda, o filme fará uma espécie de desserviço, já que transforma toda a jornada do poeta em uma trajetória enfadonha e modorrenta, sem direito sequer a momentos leves de excitação.

  • Crítica | Renascida do Inferno

    Crítica | Renascida do Inferno

    Renascida do Inferno - Poster

    Raras são as produções de terror que não somente fazem uso dos clichês naturais de um repertório como são capazes de potencializar seu fracasso em uma mistura de argumentos diferentes entre si mal vendidos pelo material de divulgação.

    Em Renascida do Inferno, o roteiro de Luke Dawson (Imagens do Além) e Jeremy Slater (Quarteto Fantástico – 2015) parece unir dois argumentos distintos em uma mesma narrativa. A divulgação promocional vendeu a produção como um terror de possessão, a qual uma entidade, após a morte acidental da pesquisadora Zoe  (Olivia Wilde, atriz de maior calibre da produção) e uma fórmula experimental que a traz de volta a vida, de alguma maneira, modifica sua personalidade. Na realidade, porém, a história justifica as transformações do soro por uma reconstrução cerebral que ampliaria a percepção do paciente e, com isso, lhe daria poderes sobrenaturais como telecinésia e outras capacidades limitadas ao humano comum.

    O Lázaro do título original, refere-se ao personagem bíblico ressuscitado por Jesus Cristo. Além da personagem central católica e de um pesadelo recorrente com um incêndio devido a um trauma da infância, não há nenhuma outra inferência que permitira o inferno no título brasileiro, se não a demonstração de como a produção foi vendida equivocadamente para distribuição mundial.

    O cruzamento de signos sem significado tentam explorar vertentes distintas do terror sem nenhuma eficiência. Não há nenhuma possessão na trama, mas muitas cenas são compostas a semelhança de outras possessões vistas no cinema: olhos que se tornam enegrecidos, modulações de voz, contorções comporais. Efeitos que não produzem sentido direto com o que a própria narrativa postulou anteriormente. Como se ao unificar dois conceitos dispares o elemento amedrontador seria exponencialmente ampliado. Porém, falha em dobro.

    Mais assustador que a história em si é observarmos como um argumento mal delineado conseguiu se tornar um lançamento cinematográfico. Mesmo que o terror seja a manipulação direta de uma emoção primitiva, a execução destes sustos devem ser apoiadas em uma trama, mesmo que mínima. Não só a qualidade das produções contemporâneas dá margem para reflexão sobre o mercado atual como a qualidade de seus roteiristas, afinal, como Slater foi convocado para colaborar no roteiro do novo Quarteto Fantástico se parece desconhecer propriedade básicas e fundamentais para o desenvolvido de uma história? Nem mesmo a duração de 1h23 faz esta experiência mais agradável.

  • Crítica | Meu Verão na Provença

    Crítica | Meu Verão na Provença

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    Nada é feito apenas de boas intenções. Ao término de Meu Verão na Provença, nada ainda se torna claro, também. Uma família nos é apresentada como desculpa a um embate de gerações que não acontece pra valer, onde, nesse conflito, surgem emoções e reflexos de um passado familiar resultado de outros conflitos de outrora, tampouco apresentados, mas miseravelmente debatidos entre os personagens, figuras mais ralas que uma colher. Por já ter visto esse mesmo filme cem vezes, e creio que o leitor também, inclusive, no meu ponto de vista, Era Uma Vez em Tóquio de Ozu continua como a melhor versão desses dramas hereditários, posto que torna dispensável qualquer outra tentativa que não venha a nutrir algo de novo, numa mesa onde avô e netos, pai e mãe, irmão e irmã, venham a esquentar os nervos à flor da pele sobre “erros do passado”. Filmes que não carregam uma nova proposta a uma ideia já tão reciclada, se ao menos pudessem sair do roteiro que os origina para serem esquecidos, como certamente será a obra em questão, já bastaria.

    Mas sacanagem é definição inegável por chamar o pobre Jean Reno, ator de primeira linha, veterano consagrado, para (salvar) dividir o mico e fazer as pessoas lembrarem do filme por estar no seu currículo. Afinal, por qual outra razão seria? Traduzir emoções através da trilha sonora, com músicas de Cat Power e Bob Dylan, e não pela missão de buscar envolver o público com a história, não apenas é subestimar o potencial da mesma, mas é a mensagem de  pleonasmo de um diretor tão 100% inútil quanto seu filme é 100% emocional e deficiente de um Kiarostami para torná-lo uma experiência inesquecível, termo que todo filme, sétima-arte, merece impôr: Inesquecível, que aqui encontra seu oposto. Um feel-good movie pra causar náuseas nos parentes do sofá, exceto naquela tia que chorou com Benjamin Button e debulhou o amazonas com Toy Story 3. Essa já encomendou o blu-ray! Tem gosto pra tudo.

    Uma terceira fonte de incômodo acerca de Provença, embrião de Cinema que repousa graça e poesia de bar na atuação de Reno (e na fotografia ampla, estilo Malick, cheia de panorâmicas a céu aberto), irrompe feito um soco de como a leveza emocional de uma história de redenção familiar, basicamente afirmando, não procura jamais cativar por buscar uma profundidade na trama, e sim por sua aparência, como se fosse o bastante ter duas camadas de interpretação aparente. Então tá, né? Enquanto isso, Uma História Real, o filme mais doce de David Lynch (acreditem, o mestre do bizarro sabe ser suave), parece ser antídoto a um filme que orgulhosamente extrai sua essência e alma apenas do visual, sendo tal preferência sempre desmistificada a cada vez que olhamos o relógio para a sessão terminar, se apoia nas músicas que embalam suas cenas (A caminhada do avô e neto sob o sol, num campo francês de oliveiras vale a projeção), e ainda por cima, mancha a carreira de Reno. A balança da crítica pende ao lado negro da opinião, quando revolta e faz pensar que, não, um filme não sobrevive só a base de uma boa intenção.

  • Crítica | O Exterminador do Futuro 3: A Rebelião das Máquinas

    Crítica | O Exterminador do Futuro 3: A Rebelião das Máquinas

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    O Exterminador do Futuro 3: A Rebelião das Máquinas procura repetir os projetos anteriores ao iniciar-se com uma narração de um novo John Connor, vivido pelo feio ator Nick Stahl, andando pelas estradas em uma moto, ao modo de Edward Furlong. Sua desolação é notada tanto pela ausência de sua mãe quanto pela desconfiança em todo o cenário, que aparenta tranquilidade. Para o ex-futuro salvador do mundo, as histórias que o fizeram crescer ainda servem como premonição, e não são mais pesadelo indiscriminados.

    O nomadismo de John serve também como referência ao posto da cadeira de diretor da franquia, executada por Jonathan Mostow, bem como a péssima construção vilanesca da personagem de Kristanna Loken, T-X, que mostra-se primeiro com sensualidade extrema e, depois, desdenha de figuras estereotípicas femininas, tanto do arquétipo da moda, quanto da mulher preocupada com a outra. A análise abarca essa terrível problemática, que pode ser encarada como misógina, mas que é aplacada pelo fato de ser este um vilão. Além disso, um foco importante é dado na figura de Kate Brewster (Claire Danes), uma misteriosa mulher que teria uma parte importante na trama de O Exterminador do Futuro 3.

    As duas figuras heroicas do filmes são expostas de modo confuso. John Connor é um sujeito maltrapilho, que não inspira confiança e que se medica com medicamentos veterinários; já o Exterminador age de modo diferente, se aproximando nu de um clube das mulheres.

    É engraçado o modo como o roteiro trata John: um homem adulto, assustado, enjaulado diante da paranoia herdada de sua mãe, que destruiu por completo sua autoestima e o deixou à mercê da bondade de uma mulher pseudo desconhecida. Qualquer boa intenção em retratar o stress pós-trauma vai por água abaixo diante das cenas repetidas que sequer se aproximam do impacto dos primeiros filmes, bem como a construção  fraca tanto das cenas de ação quanto da figura do vilão.

    Mesmo o action hero parece cansado. Arnold Schwarzenegger aparenta fadiga física e psicológica, enfadado com o gênero de filmes que o tornaria famoso o suficiente para candidatar-se ao cargo de governador da Califórnia. O primeiro momento de leve inspiração de sua personagem se dá aproximadamente aos 40 minutos de filme, quando ele revela que o Dia do Julgamento Final só foi adiado, e não evitado.

    O caixão que o Exterminador usa para conter seu protegido é simbólico ao extremo, por homenagear o fim temporário que teria a franquia, relegada ao esquecimento graças ao fracasso do filme. A partir de 2003, a saga se bifurcaria, sendo levada para um seriado ruim, um spin off e uma continuação tosca, ambos de cabeças pensantes completamente diferentes. Uma esquizofrenia gigante por parte dos produtores, mais confusa que a formação poli mimética do vilão da fita.

    O final dos dois exterminadores é completamente anticlimático, com a corrupção do ethos do herói que antes se redimiu. A brincadeira envolve a necessidade de T-800 em variar de lado, não se esquecendo de suas origens enquanto ativista pró-máquinas, um conceito válido e interessante, mal executado ao extremo.

    Apesar de todos os tropeços ocorridos durante os  quase 105 minutos de filme, o final, fundamentado nos fracos personagens, serve de alento, já que é a prova cabal de que não importa o quanto tente se mudar o destino; o mesmo segue inexorável. A inevitabilidade da destruição humana viria através de sua própria arrogância, mesmo que o argumento usado seja fundamentado no complexo de  Frankenstein. Ainda assim, entrega-se muito pouco do que foi prometido para esta continuação, resultando em um filme pífio, que não provoca entusiasmo em qualquer fã da franquia.

  • Crítica | Meu Passado Me Condena 2

    Crítica | Meu Passado Me Condena 2

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    Como era de se esperar, a nova aventura de Miá e Fábio ocorre no exterior, como aconteceu com as sequências de Até Que A Sorte nos Separe, Qualquer Gato Vira Lata e De Pernas Por Ar, instaurando a tradição de Roberto Santucci para os produtos da Globo Filmes. O filme de Julia Rezende apresenta uma sobriedade maior que citados anteriormente, mas nada tão distante em termos de qualidade. Em Meu Passado me Condena 2, Miá Mello e Fábio Porchat convivem em crise conjugal, vivendo o cotidiano na mesmice com as típicas reclamações de quem está em um relacionamento fracassado, à beira de um iminente divórcio.

    A aventura começa na morte da avó de Fábio, obrigando o inquieto par a ir para Portugal para se despedir da falecida, além de reunir a possibilidade de um recomeço para ambos. As coincidências  da história anterior prosseguem ao encontrarem Wilson e Suzana, interpretados novamente por Marcelo Valle e Inez Viana, agora donos da funerária. Enquanto tais reencontros são naturais, o excessivo tempo em que o casal central está junto se agrava ainda mais pelo conflito entre cariocas e paulistanos. Somado as brigas corriqueiras, é notável a paixão menor do casal.

    Em cena, Porchat tem uma presença cômica muito marcante, explorando essencialmente seus próprios erros e dificuldades em se enquadrar no mundo dos adultos, quase sempre deslocado nos cenários urbanos e também rurais. O velho conflito de interesses esbarra no passado do rapaz, piorando com o flerte com Ritinha (Mafalda Pinto), antiga namorada e moradora da região, prometida a Álvaro (Ricardo Pereira). O conjunto de entreveros causa mais problemas matrimoniais.

    Os dois se entregam ao inevitável estigma do fracasso na relação, aceitando de bom grado as tentações que lhe parecem óbvias. Existe um estranho louvor as relações fracassadas, variando estre essa paradigma e alívio cômico com piadas físicas, com Porchat fazendo as vezes de Jerry Lewis, ao tentar esconder suas indiscrições sexuais e desventuras de infidelidade.

    A cafonice típica das comédias românticas está presente no desenrolar destas aventuras amorosas, produzindo diversas redenções e desculpas para traições e casos amorosos que escondem um machismo velado, apesar de algumas reviravoltas contradizerem esta posição. De qualquer maneira, há uma forte carga de culpa designada a mulher, como se o inferno da rotina fosse exclusivamente ligado ao comportamento feminino. O papel do homem acomodado na relação é levado como algo natural, temperado com fracas desculpas e argumentos piores, justificando a ideia de que não as relações não devem se modificar e que os pares devem prosseguir mesmo com defeitos.

    Apesar de toda essa vertente frívola, Meu Passado Me Condena 2 é mais engraçado que a história anterior e muito disso se deve ao esforço descomunal de Porchat em entregar um bom personagem nesta produção que também se destaca pela boa fotografia de Dante Belluti.

  • Crítica | Dois Casamentos

    Crítica | Dois Casamentos

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    Após uma carreira vasta e um hiato de quase 20 anos, Luiz Rosemberg Filho vai retomando sua carreira de realizador, após três filmes de temática interessante – Desertos, Trabalho e Linguagem. Sua tônica de cinema remete ao expressionismo ligado à produção teatral em Dois Casamentos, protagonizado pelas atrizes Ana Abbott, que faz Jandira, e Patricia Niedermeier, intérprete de Carminha. Ambas são mulheres à espera de subir ao altar, e passam a discutir as vicissitudes da humanidade e, claro, das obrigações do matrimônio.

    O texto de Rosemberg resgata a fina ironia de seu antigo América e o Sexo, atualizando-o para uma nova plateia e para os inerentes acontecimentos ligados à rotina: o tédio, a hipocrisia social e, claro, a falta de interesse e tesão. Carminha acaba por tornar-se uma figura semelhante a mentora, para Jandira, graças à compleição de mulher madura e sua experiência.

    Temas como homossexualidade feminina são debatidas de modo franco por personagens que, a priori, têm na base de sua moral o conservadorismo – talvez até com um bocado de machismo – em cada palavra presa na garganta, especialmente da moça de cabelos ruivos cujo maior sonho é construir uma família, ainda que pobre, fortalecendo um argumento arcaico, tradicional e envelhecido.

    A câmera transita pelo cenário escurecido, focando as duas figuras femininas, que usam seus diálogos para desconstruir uma quantidade exorbitante de aspectos do status quo, sob um modo dramatúrgico que vai na contramão da mesmice típica das telenovelas mencionada nas falas de Niedermeier, em um misto de opinião forte com comentário metalinguístico, especialmente por causa do background da prolífica atriz.

    O diretor consegue imprimir um lirismo visual ímpar, graças à ótima performance da dupla de atrizes, que exalam qualidade e química mútua, fruto de um intenso trabalho de corpo e ensaio. O intimismo e as falas francas compensam o quase silêncio da trilha, que só aparece quando não há diálogos ou monólogos. Ao contrário do que o estereótipo possa sugerir, a métrica do filme é excitante, especialmente por se tratar de uma crônica sobre o abandono, contrapondo a falsidade do discurso belo e irreal programado em nome do bem estar social inalcançável, ao menos em vias sentimentais normativas.

    Os gemidos no escuro da tela remetem a uma liberdade que não é vista atualmente, especialmente no cenário cada vez mais reacionário protagonizado no Brasil, contraponto com a crescente necessidade de assumirem-se os direitos dos secularmente excluídos. O aspecto mais interessante de Dois Casamentos é que seu texto faz eco com tantas situações, mas não panfleta em nome de nenhuma das desigualdades mostradas no argumento, pelo contrário, apresenta tudo sob uma ótica emocional e repleta de simbolismo, dando margem para essas e outras tantas interpretações sensitivas.

  • Crítica | Os Olhos Amarelos dos Crocodilos

    Crítica | Os Olhos Amarelos dos Crocodilos

    Os Olhos Amarelos do Crocodilos

    Com lançamento para o dia 2 de julho, o drama Os Olhos Amarelos dos Crocodilos é o terceiro longa de Cécile Telerman, e conta no elenco com Emanuelle Béart e Julie Depardieu como as protagonistas Josephine e Iris.

    O filme abre com uma bela e colorida cena na praia. Nela, vemos duas meninas (Josephine e Iris) planejando seu castelo de areia enquanto conversam e planejam coisas juntas, mas, de repente, seu pai aparece com uma filmadora registrando suas filhas brincarem na praia. Nesse exato momento você tem um registro claro da personalidade das duas irmãs; enquanto Josephine esconde o rosto quando seu pai pede para que elas sorriam, Iris logo faz poses e se exibe para a câmera. E durante as próximas duas horas Cécile Tellerman irá fazer um estudo dessas personagens a partir dessa cena.

    Na trama, Jo (Julie Depardieu) acaba de se divorciar do marido, Antoine, que era a única fonte de renda da casa para ela e suas duas filhas. Logo, a mãe sem recursos volta a trabalhar como tradutora no escritório do genro Philippe. Enquanto isso, sua irmã Iris (Emanuelle Beart) passeia e vai a encontros sociais nos mais diversos lugares, onde num deles acaba inventando que está trabalhando num projeto de livro sobre um comerciante na Idade Média, tema essa roubado da pesquisa de mestrado de sua irmã Jo.

    A produção constrói toda a narrativa principalmente acompanhando a vida de Josephine e de Iris, fazendo algumas raras e rápidas exceções durante o trajeto para acompanhar isoladamente o que aconteceu com alguns dos personagens, e isso traz uma dinâmica interessante porque em alguns momentos os dois núcleos se unem e depois voltam a se entrelaçar. Apesar de ser um drama, ele ainda possui alguns momentos divertidos interpretados por Julie Depardieu, que sempre parece estar abobalhada em muitas das cenas, mas que não fazem contrapeso nenhum com a seriedade do longa. Apesar disso, Depardieu entrega uma performance muito humana como a mãe que possui o objetivo de cuidar de sua família. Os bons diálogos ficam na verdade na boca da filha de Jo, Hortense (Alice Isaaz), que tem as sacadas mais irônicas e provocativas, e que realmente parece uma adolescente de saco cheio de tudo.

    O único personagem que aparenta não estar confortável em seu papel é Philippe (Patrick Buel), o marido de Iris que aparece em quase todo o filme com o mesmo semblante cansado e desencantado. Mas, pensando melhor é plausível a partir do momento que percebemos a condição desgastante em que seu personagem vive, tendo como única alegria a presença de seu filho. O ponto que realmente incomoda é talvez a trilha sonora que aparece em intervalos muito grandes e que não tem de fato papel diferencial na obra, deixando espaço para boas interpretações.

    Os Olhos Amarelos dos Crocodilos possui um cuidado em sempre fazer todas as cores parecerem muito vivas, mesmo em cenas escuras podemos ver ondulações e tons quentes em alguns pontos em que cada cena é fotografada. É um drama simples que fecha um ciclo (não a história), e que fala sobre comportamento e sobre você aceitar suas atitudes e tomar outras. É o tipo de experiência que, apesar dos defeitos, só funciona numa bela tela de cinema.

    Texto de autoria de Halan Everson.

  • Crítica | O Exterminador do Futuro: Gênesis

    Crítica | O Exterminador do Futuro: Gênesis

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    Reiniciando a saga, pensada após o abandono de James Cameron a sua obra mais notória, O Exterminador do Futuro: Gênesis se baseia no que deu certo antes, resgatando nostalgicamente o futuro negro onde habitavam John Connor e Kyle Reese, claro, repaginando absolutamente tudo. Os novos intérpretes da dupla são Jason Clarke, como o pretenso salvador do lado humano da guerra, contracenando Jai Courtney, que faz Michael Bien, ainda que não seja tão deslocado quanto o primeiro Reese.

    A narração feita por Courtney serve de alerta para qualquer desavisado: o universo da franquia foi de novo modificado. Um longo tempo é gasto mostrando o modo de operar da resistência, nos anos de escravidão dos humanos. A tomada de poder por parte dos homens é apresentada em detalhes, incrivelmente bem realizados, em termos de cenas de ação, por Alan Taylor, que consegue não reprisar de modo tão tosco os erros de seu Thor: O Mundo Sombrio.

    A problemática do roteiro de Laeta Kalogridis e Patrick Lussier se nota essencialmente quando a trama passa a ocorrer pelos idos de 1984, época do primeiro O Exterminador do Futuro. A ação frenética invade a tela, inclusive fazendo referência ao vilão de O Exterminador do Futuro: O Julgamento Final, mostrando que as linhas temporais estão todas misturadas, fazendo mais uma bagunça com os personagens pensados por Cameron e Gale Anne Hurd.

    A miscelânea de citações inclui desde o terceiro episódio da franquia até os ditos do malfadado seriado The Sarah Connor Chronicles, inclusive com uma cena idêntica a do piloto do seriado, envolvendo uma das muitas viagens temporais do filme, artigo este que se torna banal, de tão comum.

    A apresentação de Arnold Schwarzenegger é interessante, mesmo com a quantidade de clichês que ele profere, repetindo inúmeras vezes a frase de que é apenas “velho, não obsoleto”. Pelo fato de ser um filme de ação, as frases de efeito não são um incômodo, se tornando irrelevantes graças à premissa empolgante, com outras tantas cenas de ação bem orquestradas.

    Há certo subtexto inteligente, além da discussão sobre a necessidade do homem em estar conectado o tempo inteiro – especialmente pela evolução que a Ciberdyne e o método de controle Genesys, um conceito novo na franquia, mas antigo desde os cyberpunks de Gibson. Outro aspecto positivo é a tentativa de multifacetar o Exterminador de Arnold, chamado por Sarah carinhosamente de “Papi”. Mas o entorno não corrobora na mesma qualidade, nem por parte da famosa Emilia Clarke, que exala sensualidade mas carece de talento dramatúrgico.

    O aspecto mais digno de críticas é o fato das viagens no tempo se tornarem comuns, defeito copiado do seriado. Ao final, o reboot se assemelha a um retcon tosco, especialmente na virada que sofre o personagem de Jason Clarke, já tratado como vilão nos trailers, pôsteres e materiais promocionais do filme. Qualquer efeito surpresa e expectativa positiva são encerrados neste ponto. A quantidade exorbitante de coincidências faz inclusive Arnold parecer deslocado em pedaços da trama.

    Apesar do belo grafismo apresentado na fita, há sérios problemas de lógica no argumento final, como o lançamento de T800 com máquinas tão melhores disponíveis, curiosamente reprisando os erros de O Exterminador do Futuro: A Salvação. No final da epopeia, fica o lamento pelas recaídas nos mesmos clichês, além da enfadonha questão de repetir o gancho para novas continuações – previstas até então para se ter mais dois filmes. A direção de Taylor não compromete o produto final, mas também pouco acrescenta, graças a um roteiro atrapalhado. Ao menos, no quesito diversão, a franquia retorna aos bons tempos. Ainda que não seja nada semelhante ao brilhantismo da fase de James Cameron como diretor.

  • Crítica | Poltergeist: O Fenômeno (2015)

    Crítica | Poltergeist: O Fenômeno (2015)

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    O game jogado pelo pequeno Griffin Bowen (Kyle Catlett) precede a mensagem que seria o mote da nova versão do clássico dos anos oitenta de Steven Spielberg e Tobe Hooper, Poltergeist: O Fenômeno. O incômodo principal começa pela enorme duração desta versão, além de artifício que resulta em uma fita que banaliza por completo o gênero de terror.

    A cena citada logo no início desvela não intencionalmente o quão contraditória é a covardia do filho do meio, sendo o rapaz peça-chave de uma engrenagem familiar mal construída e repleta de clichês. Ao invés de situar o público em arquétipos universais, o roteiro de David Lindsay-Abaire se mostra confuso, com dificuldade em dar importância aos dramas alheios. A experiência do escritor em filmes como A Lenda dos Guardiões e Robôs ajuda a explicar a extrema infantilidade, os sustos e a inocência das cenas de ação.

    Sam Rockwell faz Eric Bowen, um patriarca deprimido, resignado e desempregado, que pilota a nave familiar rumo a uma casa suburbana, em um bairro mal quisto pelos moradores da cidade, se isolando de praticamente todos os familiares, amigos e possíveis colegas de trabalho. Mais estranho do que esse background é a quantidade de cor saturada que predomina nos cenários, além do excessivo humor nos trejeitos de Rockwell, como no contexto da obra em geral, que reduz o espectro do medo a quase zero.

    A parte assustadora se concentra na desenfreada gritaria do menino, um personagem irritante, chato e escandaloso, ainda mais covarde e fraco que o rapaz do filme original. Seu discurso gera tanto enfado que todos os seus reclames são prontamente ignorados, mesmo quando os espíritos formam equivalentes a castelo de cartas com revistas em quadrinhos.

    Sam Rockwell e Jared Harris falham ao tentar dar credibilidade ao remake, especialmente pela pouca inspiração de ambos e pela total displicência com o argumento final. Ambos se mostram apáticos em relação ao drama das personagens, e o elenco parece coadjuvante diante dos muitos aparatos tecnológicos, que fazem lembrar um comercial publicitário bem pobre.

    O abusivo uso de CGI, em cenas sem o menor impacto visual aumenta a sensação de que o filme é uma paródia mal feita, orquestrada pelos irmãos Wayans. Gil Kenan já havia feito uma animação de tema semelhante, até mesmo em A Casa Monstro ele consegue emular mais elementos de terror do que neste. Sequer o argumento antigo, unindo a possibilidade dos pais lançarem mão de alucinógenos, é inserido nesta versão, resultando em um filme de horror para toda a família, por mais contraditório que isso seja.

    Falta alma e substância. Mesmo os péssimos filmes de Marcus Nispel, e mesmo o novo Carrie: A Estranha conseguem trazer mais novidades que essa versão. O desfecho mostra uma explicação sobre o modo de operar dos espíritos, evocando novas diretrizes, jamais vistas e nunca provadas. Poltergeist: O Fenômeno mais parece um pastiche do original, já que até sua cena pós-crédito remete à comédia, resultando em um dos espécimes mais patéticos do cenário de filmes de terror.

  • Crítica | A Centopeia Humana 3

    Crítica | A Centopeia Humana 3

    The Human Centipide - Final Sequence

    Em seu terceiro e último ato, o diretor Tom Six – a mente doentia por trás da criação da centopeia humana -, leva sua trama de horror grotesco para outro patamar. Se o primeiro filme era uma história simples de um médico louco vivendo em local distante para realizar experiências, e A Centopeia Humana 2 caracterizava uma leitura desta trama com um sádico tentando recriá-la, A Centopeia Humana 3 novamente corrompe as percepções entre realidade e ficção, espelhando-se nas histórias anteriores.

    Os atores Dieter Laser e Laurence R. Harvey novamente estrelam a produção retornando em outros papéis. Demonstrando que a série garantiu prestígio, novos atores participam da história, como Eric Roberts e outros coadjuvantes que, eventualmente, podem ser conhecidos pelo público. Além de uma participação do próprio Six interpretando uma versão de si mesmo. A grande diferença dessa produção para a outras é fazer uma narrativa que vai além do enfoque estrito da grotesca centopeia humana. Ao criar uma breve história para justificar seu objeto mais conhecido, a trama ganha em qualidade e não perde a vertente bizarra.

    Não há espaço para personagens normais neste contexto. Todos são propositadamente estereotipados ou representando tipos sociais exagerados. Em destaque, o delegado da prisão, Bill Boss, dono de uma gama quase infinita de qualidades negativas: vil, agressivo, preconceituoso, chauvinista, racista, estuprador, canibal, e assim segue a lista. Laser amplia a interpretação do médico do primeiro filme em uma interpretação ainda mais afetada, que transforma o overacting em um símbolo cômico. Com evidentes sinais de stress e problemas cardíacos, tudo é motivo para gritos exagerados e contínuos que, propositadamente, vão destruindo a linha do grotesco acrescentando humor à  história. A esta altura, após duas obras, o público sabe do exagero de uma centopeia humana, e a trama ri do bizarro focando a raiva desta personagem, um feito eficaz que justificava por que o diretor não respeitado pelos prisioneiros decide puni-los de uma maneira radical.

    Quebrando mais uma vez a linha entre realidade e ficção, Six se insere na história como o diretor dos dois filmes anteriores e um consultor informal, curioso para ver a composição da centopeia humana. Ao mesmo tempo que deseja comprovar a veracidade de seus filmes, a personagem Six se incomoda com a criação do bicho grotesco, como se estabelecesse um diálogo representando seu público. Mesmo sabendo que a história é absurda, ninguém desvia os olhos da escatológica história que criou.

    Afinal, é necessário assistir a esta trilogia ciente de que o bizarro é uma de suas linhas gerais e que, nesta parte, se transformou em um misto de sequência e paródia. As vítimas continuam sofrendo mas não se trata de um drama sobre o sofrimento humano ou as condições prisionais: o mundo real foi deixado de lado, fora da exibição, para a incursão de um universo bizarro e sádico que desenvolve um final mais coeso do que o início, e meio de sua aventura de construir um animal costurando humanos uns aos outros.

    Após brindar o público com muitas cenas escatológicas em sua segunda parte, Centopeia Humana 3 tem maior apoio narrativo, resultando em um filme de terror cômico que mantém sua essência – afinal, a centopeia humana estará presente, não se preocupem, com direito a uma evolução deste animal – e ainda faz a história fluir para focar personagens bizarros que provocam um riso nervoso no expectador. Um final, realizado com eficiência de uma das trilogias mais estranhas e sádicas do terror contemporâneo.

  • Crítica | Sem Dentes: Banguela Records e a Turma de 94

    Crítica | Sem Dentes: Banguela Records e a Turma de 94

    sem-dentes-banguela-records-doc

    Você se lembra de que, quando numa conversa, o assunto caía em música brasileira dos anos 90? Provavelmente vai pensar em Tchakabum, É o Tchan, Leandro e Leonardo, Daniela Mercury, Mamonas Assassinas, entre tantos outros grandes hits que passavam na TV e tocavam no rádio.

    Sou de 92. E isso não ia dizer nada, a não ser pelo fato de que sou uma toupeira quando o assunto é música nacional. Do pouquíssimo que conheço, não está nem longe de ser relacionado a rock. Então, qual foi o aproveitamento em ver algo como Sem Dentes: Banguela Records e a Turma de 94? É difícil dizer que não foi 100%.

    O documentário, dirigido e roteirizado pelo jornalista Ricardo Alexandre e por Alexadre Petillo, inicia sua primeira tomada trazendo exatamente os grandes chavões que fizeram a década de 90: axé, sertanejo, o presidente Collor e a banheira do Gugu. Tudo isso para nos dizer, ao longo das próximas duas horas, que o todo realmente é muito maior que o buraco musical que muitas vezes é vendido pelos principais veículos de comunicação do Brasil, como a TV e o rádio, principalmente com o rock, que é o protagonista dessa história. Sem Dentes na verdade vem para comemorar e registrar 20 anos da Banguela Records, selo independente da Warner Music do Brasil, chefiado pela banda Os Titãs e com direção artística do jornalista e produtor musical Carlos Eduardo Miranda. Esse último especialmente fornece muitos depoimentos, não só muito bem humorados, mas ricos em detalhes, e que nos ajudam a construir uma linha do tempo clara que contextualiza a sua participação evidente no cenário musical da época.

    Não somente Miranda mas como o próprio Charles Gavin e Nando Reis dão seus depoimentos inúmeras vezes. Temos muitos comentários e considerações das próprias bandas que foram representadas pelo selo, como Raimundos, Little Quail and The MadBirds, Maskavo Roots, Mundo Livre S/A, além de trazer declarações de jornalistas como André Forastieri, a banda Pato Fu, o vocalista Samuel Rosa (Skank), entre muitos outros. É muito visível, pela quantidade de depoimentos, recortes musicais e a naturalidade com que são feitos, a intenção que o diretor Ricardo Alexandre tem em contar um episódio muito importante da história da música brasileira. Mas mais importante, antes de tudo, é reunir um leque de lembranças que traçam um capítulo da vida de uma geração que está presente até hoje e que precisava registrar dessa maneira o que passou, deixando de lado qualquer possível sentimento saudosista ou certa maneira didática de contar aquela história.

    A importância de criar uma produção cultural independente é um ponto essencial que é passado durante o filme. É de certa forma simples dizer que hoje isso é mais do que óbvio, porém não faz muito tempo que essa dependência de um intermediário em todo tipo de mercado cultural era existente – e não somente aqui no Brasil, como é rapidamente exemplificado na iniciativa da Image Comics nos EUA (também fruto dos anos 90).

    Eu poderia fazer vários comentários sobre todos os detalhes exibidos nas duas horas de vídeo do documentário. Mas, como dito anteriormente, sou uma toupeira nesse assunto. A real importância de Sem Dentes, antes de tudo, foi abrir minha mente para conhecer um pouco mais sobre todo esse universo musical nacional, que é muito rico e para o qual eu nunca olhei realmente. O documentário é fluido, divertido e principalmente instigante sobre os assuntos que ele aborda, e fecha com uma bela homenagem à música Tempestade da banda Maskavo Roots. Espero que seja a porta de entrada de muitas pessoas que, como eu, não fizeram parte de nada disso. Não é difícil encontrar nada hoje em dia.

    Texto de autoria de Halan Everson.

  • Crítica | Mad Dog: Inside the Secret World of Muammar Gaddafi

    Crítica | Mad Dog: Inside the Secret World of Muammar Gaddafi

    Mad Dog 1

    Apesar de iniciar-se exibindo os pontos altos e positivos da história do antigo soberano libanês Muammar Gaddafi, o documentário televisivo Mad Dog: Inside the Secret World of Muammar Gaddafi exerce basicamente a função de crítica nada velada a um constante inimigo do Estado americano, tomando por base a opinião pública geral, que praticamente exclui as controvérsias que garantiriam ao “Cachorro Louco” aspectos tipicamente humanos.

    Gaddafi é tratado basicamente como um terrorista. Seu desígnio seria indicar quem passaria pela lâmina estatal, quem tombaria ante sua sabedoria e sapiência. Os relatos dos que foram aprisionados e fugiram para contar suas histórias são simplesmente aterradores, sob uma trilha sonora incidental que martela uma culpa maniqueísta sobre a persona vilanesca de Muammar, reprisando o arquétipo de mal governante persa propagada pelo ocidente, desconsiderando qualquer nuance em seu comportamento ou modus operandi, modo idêntico ao que tantos outros líderes  do Oriente Médio foram retratados.

    O roteiro analisa a quantidade exorbitante de mortes ordenadas pelo líder político, com discursos inflamados da parte dos que sofreram nas suas mãos do cruel regime. O viés de desdém prossegue cada vez maior. O crescimento do nível de críticas ao modo de lidar com seus cidadãos é desmedido e foca na “obsessão” do ditador em providenciar a sua bomba atômica, dita no documentário como uma prática comum e quase obrigatória por parte dos países islâmicos, discurso que associa a estes países a única causa para os conflitos bélicos das últimas duas décadas.

    O panfletarismo não é nada velado: o discurso parece propagandista. Um depoimento totalmente parcial que piora ainda mais ao analisar o desejo de expandir que fez Gaddafi viajar pela África, unindo um sem número de falas pejorativas, dessa vez de seus primos continentais.

    Morte e tortura não são práticas banalizáveis. O discurso político dentro de qualquer contexto interfere demais no ideal, visto que, para que qualquer sistema político e econômico funcione, são necessárias ações e atividades humanas, mesmo nos regimes que exploram trabalho escravo. No entanto, a intenção de Mad Dog: Inside the Secret World of Muammar Gaddafi em invalidar cada um desses comportamentos nefastos acaba se assemelhando mais a uma novela de cunho sensacionalista do que o retrato de um homem cruel. Algo que, em outras palavras, serve para confortar o cada vez mais presente pensamento do americano médio, que apóia a todo custo as ações expansionistas de seus mandatários, ação que na prática pouco diferencia-se do modo de operar do “Cachorro Louco”.

    Um dos poucos adjetivos positivos lançados em tela é a capacidade que o biografado tinha em manter os cidadãos do seu país pensando junto a ele, e que apoiavam até as ordens mais esdrúxulas e fascistas. Tudo graças ao carisma que ele exalava, o que trouxe uma boa razão para Gaddafi ter chegado tão alto e permanecido no poder por tanto tempo.

    Dedica-se muito tempo para fazer um retrato amargo de uma figura controversa, não mostrando qualquer momento de sua humanidade. O intuito do documentário é pintar uma figura maniqueísta de alguém indigno de pena, compaixão ou remorso alheio. Um sujeito de olhos negros, cuja janela da alma só exprime a maldade infinita. Na prática, é o grito popular desmedido e violento; o mesmo discurso de uma multidão ensandecida que busca espancar os que a oprimiam; dos mesmo hipócritas que, até então, não percebiam os próprios erros e que louvavam a figura do Estado maior.

  • Crítica | O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final

    Crítica | O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final

    O Exterminador do Futuro 2 - O Julgamento Final

    Em geral, as sequências de grandes filmes de ação ou ficção tentam ser maiores e mais espetaculares que o original. Normalmente, isso acaba gerando filmes que, se não são completos desastres, em nenhum momento conseguem se aproximar do original. O espetacular O Exterminador do Futuro 2 é uma das exceções à regra. Orçada em estimados 105 milhões de dólares (filme mais caro da história até True Lies, coincidentemente também dirigido por James Cameron e estrelado por Arnold Schwarzenegger), contra o orçamento de 6,5 milhões de Exterminador do Futuro, a fita consegue unir perfeitamente uma boa história, interpretações inspiradas e efeitos especiais que, mesmo após 24 anos de seu lançamento, mantêm-se atuais e críveis.

    Na trama do filme, a Skynet envia o T-1000, um modelo avançado de exterminador ao ano de 1995 para eliminar John Connor, o líder da resistência humana contra as máquinas no ano de 2029, então com 10 anos. Porém, os humanos conseguem enviar um T-800 reprogramado para protegê-lo. Ainda que pareça simples, a trama vai se desdobrando à medida que o T-800, John Connor e Sarah Connor vão tentando desesperadamente fugir do assassino de metal líquido ao mesmo tempo que partem para impedir o “Dia do Julgamento” e reescrever o futuro.

    O diretor James Cameron mostra sua melhor forma, filmando grandes sequências de ação ao mesmo tempo que vai desenvolvendo bem a trama e as relações entre o trio de protagonistas. É interessante perceber como o filme é montado em pequenos arcos, com cada cena de ação sendo bem preparada antes de ocorrer. O ritmo inicial é alucinante e vai em um crescendo até que o diretor pisa bruscamente no freio para depois ir acelerando até o final da película. O trabalho técnico é irrepreensível. Com o orçamento turbinado pela Pepsi, que em troca do dinheiro investido teve uma exposição monstruosa de seus produtos ao longo do filme, a produção contratou a Industrial Light and Magic para cuidar dos efeitos visuais, o que resultou em um trabalho que não envelheceu nada desde 1991. Ainda que faça grande uso dos efeitos gerados por computador, os efeitos práticos não foram abolidos e foram idealizados por Stan Winston e sua empresa. O falecido mago da maquiagem e sua equipe possivelmente entregaram seu melhor trabalho de todos os tempos, trabalho esse que foi devidamente reconhecido com um Oscar, assim como os efeitos visuais.

    Há também uma mudança de tom em relação ao original. Enquanto o primeiro filme é praticamente todo passado à noite e possui uma fotografia bem escura, provavelmente para esconder as limitações referentes ao orçamento e a outras eventuais falhas, O Exterminador do Futuro 2 é um filme bastante “iluminado”, com grandes sequências ocorrendo durante o dia, principalmente no início da fita, e mesmo quando passa para locais fechados, em nenhum momento assume um tom dark. Podemos inclusive associar essa mudança de tom ao fato da diferença de objetivos de cada filme. Se no primeiro o futuro se pronunciava implacável e imutável, só restando a Sarah Connor sobreviver, nesse segundo surge a possibilidade de alterar e reescrever o futuro, aniquilando a existência da Skynet ainda nos primórdios de seu desenvolvimento.

    O roteiro de William Wisher e do próprio Cameron é bem escrito e acaba por estabelecer algumas discussões profundas, como a relação paterna que acaba surgindo entre o T-800 e John Connor. Nesse âmbito, cabe ressaltar as atuações de Arnold Schwarzenegger e Edward Furlong. O primeiro, ciente das suas limitações dramáticas, usa isso a seu favor e acaba entregando uma excelente interpretação para o papel que nasceu para fazer, pois o ator literalmente se torna uma máquina que vai evoluindo aos poucos para se tornar mais humano. Já o segundo consegue cativar a plateia com sua interpretação para um garoto longe de ser prodígio, mas que é muito inteligente e safo. Linda Hamilton cria com competência uma Sarah Connor amargurada e paranoica que passou anos preparando seu filho para se tornar o líder da resistência. Uma mãe superprotetora, mas que acaba se tornando muito mais um general do que uma figura materna, ainda que preserve resquícios de ternura.  Já Robert Patrick, o T-1000, se estabelece como uma presença constante e um perseguidor implacável, ainda que não tenha o carisma de Arnold quando interpretou a máquina assassina do primeiro filme.

    Clássico instantâneo, assim como a primeira parte, O Exterminador do Futuro 2 é um filme que, apesar de ter sido lançado há quase 25 anos, mantém-se atemporal e eletrizante, mesmo que seja visto pela milésima vez.

  • Crítica | Deus Branco

    Crítica | Deus Branco

    deus branco

    Esse é um “filme de cachorro” que não vai passar na Sessão da Tarde; tampouco despercebido. Deus Branco é o clássico moderno que não encontra espaço na TV aberta brasileira (e em boa parte da mundial) para ser reconhecido por tudo o que pode ser. Um manifesto positivo, cheio de conflitos enquanto Cinema, em prol da força que uma amizade sem interesses ou segundas intenções carrega em si, no desenrolar de uma trama de estrutura clássica e soluções surpreendentes para todos os tipos de público. Mas se o perfil da plateia é tão amplo, por que a televisão atual não alcança a mínima propriedade de exibir um dos melhores filmes da década, até agora? Porque a programação hoje em dia não dialoga, em qualquer nível de reflexão, ou combina a frente do grande feito de Kornél Mundruczó, cultuado em Cannes 2014 junto de Mapa para as Estrelas, Leviatã, Timbuktu, entre outros, mas sendo de longe o melhor exemplar de Cinema em estado bruto no festival, contando uma história da forma mais competente e ainda divertida possível, porém com ambições maiores do que apaziguar nossos corações com a graça e a tragédia que habita este mundo, apesar de facilmente conseguir esse objetivo conosco. É impossível ficar indiferente e não se admirar com a escala que tudo vai tomando, ao longo da exibição.

    Desde as primeiras cenas, percebe-se que no universo da história a crueldade do ser humano não possui limites, também. A partir das discussões sobre o lugar que um cão de raça toma na rotina de uma família, o bicho é separado a força de sua dona, a menina Lili, de treze anos, que o considerava um irmão. Indo atrás dele, se dá conta do mundo implacável que em alguns anos terá que enfrentar como mulher, mas não poderia nem sonhar (assim como nós, o público) com o que aconteceria do simples ato de revolta da dona, e principalmente, do seu cão, que em certo momento, já não é mais dela: É do mundo, tornando-se fruto da necessidade de sobreviver. Deus Branco é uma fábula bruta e sensível, ao mesmo tempo, na qual O Flautista de Hamelin encontra O Planeta dos Macacos, aonde, se a ruindade do animal humano é infinita, cabe ao cachorro expressar aspectos de “humanidade”, como companheirismo e benevolência, cada vez menos ligados às pessoas e mais voltados ao comportamento de cães e gatos. O filme não quer provocar vergonha, ainda que possa, mas a nossa reflexão, ainda que inconsciente.

    O excluído quer se tornar o opressor, porque sim. Porque quer ter vingança, quer sentar do outro lado da mesa e jogar com as cartas que o excluíram, se sente no merecimento disso, pois provavelmente passou por muito para chegar ali. O que move as sociedades é o sexo, e o sexo, bendito seja Oscar Wilde, é poder, afinal. No fenômeno (esquecido) dos rolezinhos, em 2013, dos jovens de favelas em São Paulo que queriam ser notados em shoppings de luxo, atraindo a repulsa provocada na mídia que defendeu passivamente, é claro, a volta daquela “gente diferenciada” ao portões da favela, canil humano por razões muito mais cruéis do que se pensa, estava pulsante uma revolta ancestral de exclusão, ostentando agora o tênis Nike que os playboys usam, sem se importar com isso. Quem não tem liberdade se importa, e vê até o valor do conceito. É normal, e constitui-se em todos os cantos do mundo, até mesmo em Budapeste, na Hungria, sendo “a volta dos que não foram”, a volta dos que não sumiram na carrocinha que apaga tantos sonhos do mundo, o clímax sócio e antropológico de uma fábula que de ingênua, orgulhosamente não ostenta nada.

    Também foi Wilde quem aponta: “O descontentamento é o primeiro passo na evolução de um homem ou nação”, e nesse caso, de um cão. Vários, centenas de indigentes, desde pitbulls a beagles, que como milhares de homens e mulheres (não registrados no filme) obrigados a pertencer a uma condição inglória, se apoiam no soberbo caráter metafórico da obra alemã (revestida por um tratamento ímpar na importância de cada arco na história, e na manipulação do impacto que cada um pode ter) e andam os vira-latas pelas cidades, rumo ao fim do arco-íris nunca prometido, mas sonhado, à procura de um bem-estar que foge deles, fadado ao alcance da mão que circo e pão nos dá.

    A natureza do ser que caça recusa-se ser caçada, ser vítima, e nesse inconformismo que faz o animal mostrar dentes e garras, constitui-se um filme poderoso e à flor da pele, onde João e Maria escapam da casa da Bruxa, e só não a liquidam se forem contidos pela descoberta que só a música e o amor, essa redenção brega que ainda funciona, salvam o mundo e concebem às raças em conflito o sentar, o equilíbrio de forças, e o tempo para repensar se a paz ainda é possível no convívio entre as diferenças. Deus Branco é uma fábula retumbante, e que usa da selvageria das espécies para discursar sobre a humanidade – e a volta dos rolezinhos, por favor. Grande filme.

  • Crítica | Rainha e País

    Crítica | Rainha e País

    Rainhas e Pais - poster - Paris Filmes

    A indústria cinematográfica britânica possuí características bem peculiares que a fazem distintas de outros países quando há coproduções, por exemplo. O lado cômico mais leve e mais crítico; as ponderações e retratações de épocas que remetem ao patriotismo e amor à realeza e à nação, no entanto, sempre deixando em evidência o comportamento das pessoas e suas funcionalidades perante o ambiente destacado no tempo, historicamente ou não.

    Em Rainha e País, filme de John Boorman (Excalibur e Esperança e Glória), vemos a história do jovem Bill Rohan, que cresceu em uma pequena ilha, afastada das grandes cidades mas sem, consequentemente, ficar livre das interferências que o mundo em plena eferverscência de guerra poderia causar. Com sede em entrar para o exército e alimentar a linhagem bélica de sua família, ao completar 18 anos, Bill é convocado para o exército para a guerra das coreias, no qual E.U.A e Reino Unido apoiaram o país do sul enquanto o lado norte da divisão recebia o suporte de países socialistas/comunistas – isso ainda era bem aplicável na época – como União Soviética e China.

    O filme faz algumas mesclas e não deixa transparecer exatamente sua proposta. Se é um romance que tem como pano de fundo a guerra, no qual o soldado se apaixona, vai para a guerra e assim mostra os melindres clichês que a história continuará acerca; se é uma sátira às guerras e ao patriotismo exagerado e como esses ambientes podem desviar e alterar as mentalidades e os comportamentos de quem está vivenciando tudo isto ou se, no final das contas, é só mais um drama sobre amizades, confiança e identificação. Essa contínua troca de gêneros durante as quase duas horas poderiam confundir o telespectador, mas creio que o filme não sofre este impacto e fica até um pouco fácil de ser absorvido na mudança do segundo para o terceiro ato.

    A identificação e o carisma com o personagem esquisito e inescrupuloso (Percy) acontece bem e toda as cenas e o lado cômico giram em torno dele e do soldado Redmood (Pat Shortt). Mesmo que estereotipando o humor cínico e desajeitado, como um Mr. Bean, isso não aparenta um exagero ou excesso de carisma pelo personagem. A história tem um enredo bem simples, mesmo com um leve criticismo às visões do nacionalismo/patriotismo e também à rigidez do alto comando. Fizeram bem ao não dosar demais o romance e as cenas sentimentais, uma via não muito utilizada na obra.

    A adesão à amizade, às traições e à convivência com ambientações hostis são um norte sucinto e trabalhado de maneira honesta, com esses escapes mais cômicos e descontraídos que permeiam a história e os personagens. A relação entre eles são a base e com isso o filme caminha bem. Há deslizes, exageros e um pouco de desleixo em quesitos mais técnicos, como a fotografia e uso de trilha sonora. Às vezes os personagens ficaram abobados em demasia, mas nada que não saia da caracterização do cinema inglês. É interessante como o filme parece entregar algo e surpreende quando não faz. Poderia ser duramente criticado, mas soube usar outros braços e referências a outros gêneros e estilos de condução do enredo. Porém, ainda assim não conseguiu ousar o bastante para sair da categoria de lugar-comum e da padronização linguística.

    Texto de autoria de  Adolfo Molina Neto.

  • Crítica | Os Últimos Cangaceiros

    Crítica | Os Últimos Cangaceiros

    cartaz

    Em 1973, Orson Welles, de Cidadão Kane e Tudo é Brasil, lançou Verdades e Mentiras, filme-documentário onde o real e a ficção se confundem, culminando numa linguagem famosa no Cinema, a metalinguagem, que é quando a arte fala consiga mesma. Brinca, abraça e repudia seus próprios traços. Um exemplo explicado disso está num dos depoimentos de Peões, clássico de Eduardo Coutinho, onde um dos funcionários da Volkswagen, discursando sobre a empresa, aponta que quanto mais antiga a história é, mais fácil é pra convencer o outro, podendo até projetar contornos épicos, afinal, quem conta um conto aumenta um ponto. Se é malandragem ou esquizofrenia, esse papo de misturar mentira com verdade, quem garantia até 2011 que o bando de Lampião ainda tem descendentes vivos? É isso que foram investigar – e filmar.

    Hoje, falar de Lampião é falar de um mito, de Caipora e Boitatá. Sua história virou símbolo e hoje não passa disso, ícone imortal do nordeste brasileiro, lenda nessa e noutras bandas. A saber que quem fazia as estrelas de seu mítico chapéu, em forma de pastel de flango, era o próprio, e que o perfume que cheirava vinha de sua parceira, unida ao cabra por opção e fiel até a morte, Maria Bonita, são duas das curiosidades divertidas de Os Últimos Cangaceiros, a versão documentada e não encenada do clássico O Cangaceiro, filme-fantasia do mesmo cangaço lendário e aventureiro, palco de amores e horrores, cuja essência e registros reais do grupo de Lampião, sempre com sua protegida, o filme de Wolney Oliveira impõe com orgulho e satisfação, tratando quem a fama é reconhecida do Oiapoque ao Chuí, como grande figura nacional. O que acaba sendo, deveras.

    Assistir as reinações da “geração Lampião”, hoje um bando de idosos, é como ouvir no tapete da sala os contos da avó sobre uma vida inteira, vida regada a bala, correria e triunfo para poucos sortudos. Naquela aridez toda, somos convidados a andar com os filhos daquela miséria de Ariano Suassuna, Graciliano Ramos e letra de cordel, carência combatida a ferro e revolta no sangue quente da região. Nas graças do comentário é que Lampião e seus seguidores são reconstruídos, em forma e atitude, com base nos relatos que não encontram contradição, construindo um mural sobre um passado representado, que fez e faz parte de um Brasil ainda recente, de Rocha, Candeias e Nelson Pereira dos Santos, sendo jamais esquecido ou posto de lado. Difícil mesmo é não se emocionar com certas cenas, como o reencontro na velhice de duas sortudas, sobreviventes do sertão, com o tempo marcado na pele de algodão, de rugas. “Tô tão magrinha… cadê aquele bração que eu tinha? Acabou.”

    Lampião era cheiroso, sim sinhô, tanto quanto descendente. Filho do país das hipocrisias, fez da sua história rastro dos fins que justificam os meios. Ainda de acordo com um pesquisador, presente em seu discurso na obra, não há grupo social cujo traje rivaliza com o do cangaceiro, dono das veredas que inspiram seu bem-viver, mas cuja vilania não condiz com a fama, e sim sua resistência. Cangaceiro era resistente, vaso que trinca mas não quebra, enfim suportado, em especial, pelo instinto de sobreviver e o olho do urubu que à maioria fez comida, e os que não fez, se reúnem na tela e tornam Os Últimos Cangaceiros um dos manifestos sobre um período do estado brasileiro (a lenda tem contexto histórico) e sobre o mito. Símbolos do Brasil, mais que heróis e mais que vilões, e tão reais quanto a seca, seus feitos, no pesar das verdades trazidas à tona com grande consciência, sem antônimos, afinal, para atingir a essência da realidade que não mudou tanto, de lá para cá.

  • Crítica | Enquanto Somos Jovens

    Crítica | Enquanto Somos Jovens

    Enquanto Somos Jovens 1

    Citando a peça de Henrik Ibsen, a comédia errática de Noah Baumbach tem sua sutileza notada já no início, que brinca com o paradigma da paternidade sob os olhos atentos de Josh e Cornelia, que assim como seus intérpretes, Ben Stiller e Naomi Watts, já estão bastante distantes da beleza jovial, a qual predominou na carreira de ambos os atores. Enquanto Somos Jovens faz alusão ao receio de ter a vida modificada pelo padrão de vida adulto, com o gradativo aumento da distância dos seres de meia-idade da juventude presente nas ações dos intemperados e juvenis personagens, analisados mais adiante.

    O estudo humano, típico da filmografia do realizador, se dá de modo metalinguístico. Aludindo ao gênero cinematográfico de documentários e ao formato em exibir dramas reais, com um escopo de extrema verossimilhança, uma de suas bases caracteriza-se pelo extremo desapego emocional da própria geração.

    O chamado à aventura ocorre com Josh e Cornelia, quando estes conhecem a dupla de namorados – e inspirados – Jamie (Adam Driver) e Darby (Amanda Seyfried), que, do alto de sua tranquilidade jovial, pratica um estilo de vida completamente diferente do praticado pela dupla de entediados e rotineiros membros da classe criativa nova-iorquina. Aos poucos, a cobiça ao casal mais moço dá lugar à necessidade de transformar-se no ideal de vida sem maiores preocupações.

    Após experimentar as sensações típicas da nova geração, todo o cotidiano de meia-idade passa a ser enfadonho para os protagonistas. O conflito entre a amálgama de rugas e tecnologia tem um entrave enorme com a espontaneidade vintage de Jamie e Darby, seres muito mais antenados com as manifestações humanas artísticas. As diferenças da vida real da velhice ficam mais evidentes com a alegria forçada de músicas infantis, que causam claustrofobia na personagem de Cornelia. A personagem cada vez menos fica à vontade com o costumeiro status quo dos homens e mulheres de quarenta e poucos anos. Ainda que os corpos dos seres mais velhos respondam de modo diferente, e poético, os muitos defeitos da idade.

    Como Baumbach fez em Frances Ha e O Solteirão, Enquanto Somos Jovens investiga a identidade humana através da falta de espontaneidade, tanto de Josh, que não consegue escolher a quem abraçar e a quem ignorar, como também dos frutos da virada espiritual que ocorre da metade para o final. O roteiro se vale de elementos sonoros extremos para contar as experiências do frustrado homem, seja pelo silêncio no escritório de um possível colaborador financeiro, seja através do nervosismo e ansiedade metaforizados no barulho da chaleira apitando na casa do mentor e personificados por  Leslie Breitbart, vivido pelo veterano Charles Grodin.

    O enlace exibe twists interessantes que fazem discutir quais são os maiores méritos do cinema de Baumbach. Uma juventude que não enxerga seus próprios erros e manias, com discussões sobre éticas que denunciam a pieguice presente na exacerbação do ethos. O maior embate de Enquanto Somos Jovens não é a guerra entre gerações, e sim o conflito entre a honestidade e a malícia necessária para se fazer sucesso em um meio tão complicado quanto do cinema documental.

    Em análises mais frias, o gênero mostra a dissimulação como fator principal dentro do meio. Revela-se, portanto, que quase tudo é vaidade. Continua incompleto o exame se ignorássemos a clara crítica do diretor, tanto à indústria quanto aos seus membros, os quais validam mais a forma ao conteúdo, tanto em relação ao diagnósticos das obras quanto dos artistas.

  • Crítica | I Shot JFK: The Shocking Truth

    Crítica | I Shot JFK: The Shocking Truth

    Movido por dois sentimentos, I Shot JFK é um documentário que se inicia de forma bifurcada: primeiro pela comoção geral da nação dos Estados Unidos da América ao ver seu político de marca maior ser brutalmente assassinado no alvorecer de seu mandato; e, claro, pela paranoia a respeito da autoria de sua execução. Robert Kiviat foi até a prisão para entrevistar James Earl Files, o acusado de lançar o tiro ao ar. Uma movimentação repleta de mistérios, mesmo na época da produção do filme.

    O sotaque “White trash”, típico do Alabama, dá à narração dos fatos um cinismo atroz, involuntário ante a vontade do personagem investigado. James, de cabelos longos, apesar da notável calvície anunciada em sua fronte, permanece lúcido na prisão, falando de modo enérgico e prolixo, não temendo as câmeras ou seu inquiridos. A coleção de fatos que discursa é incrivelmente rica em detalhes, desde a estranha declaração sobre sua certidão de nascimento, que declarava que ele era morto ao nascer – em seu entender, uma represália do governo –, até o envolvimento do detetive Joe West.

    As declarações de que Files já tinha total fundamento sobre a rotina e trajeto de John Kennedy vem de encontro à óbvia sensação do povo de que tudo foi orquestrado e planejado há tempos, por um grupo maior do que apenas um atirador. Logo, Files declara a participação de Lee Harvey Oswald, negando que o conhecia anteriormente, mas declarando que a rotina pré-assassinato tinha sido tratada por ele, inclusive, em conjunto com Oswald, visitando as locações e medindo as possibilidades de sucesso no tiro que viria de tão longe.

    O envolvimento da máfia com as personas do mandatário Jack Ruby e do operador de campo Johnny Roselli, é dito sem qualquer reprimenda ou receio por parte do assassino confesso. O homem encarcerado conta tudo com uma riqueza de detalhes atroz, sem expressar qualquer arrependimento, já notado à época e agravado em frieza com o tempo. A única nuance é, ao declarar os seus próprios erros, pisar em restos de cigarros quando saiu dos locais suspeitos, fazendo dele um alvo fácil para a investigação.

    O mérito principal de Kiviat não é como cineasta, uma vez que sua câmera pouco se move. Porém, seu talento como entrevistador e sua humildade em deixar seu personagem conduzir a fita possuem méritos, já que I Shot JFK só é digno de nota graças à visceralidade dos contos de James Files. A escolha das cenas de arquivo, que pontuariam cada um dos eventos históricos, oferece essência ao relato, que normalmente seria enfadonho, mas que, na realidade, prende completamente a atenção do espectador  nos noventa minutos de duração.

    A lucidez e certeza de que estava certo fazem de Files um personagem ainda mais intrigante, já que seu forte código moral não o impediu de cometer a atrocidade que fez, e seu conservadorismo exacerbado também não o fez se arrepender, em seu relato. Na mentalidade do acusado, fazia o que era certo, levado – supostamente – por ordens superiores, sendo apenas um peão dentro do jogo que lhe foi proposto, tendo a si a única incumbência de cumprir uma difícil missão, que não poderia ser feita por mais ninguém. No seu entender, ele e Lee Oswald eram patriotas, servindo a sua nação do melhor modo que poderiam.

    Ao comentar suas breves saídas da prisão, o entrevistado destaca a perseguição e algumas tentativas de assassinato que sofria dos policiais, até que uma delas o fez voltar a prisão, em sua opinião, só tendo a culpa amputada a si pelo fracasso da operação. James lamenta não poder conviver com seus filhos, e esse é o único remorso que sente por ter apertado o gatilho em JFK, já que a partir dali sua vida mudaria para sempre. A noção de que John era um mau homem não pertence ao seu pensamento, mas a dúvida não o atrapalha em nada no prosseguimento de sua vida prisional. O resultado final da fita exibe uma persona que se sente injustiçada e não gratificada pelos serviços que prestou. Files é parte da história estadunidense inegavelmente, e uma faceta pouquíssima explorada diante de toda a controvérsia que gerou. O formato do filme permite uma análise aprofundada e mais um capítulo da estranha relação entre forças armadas e governo dos EUA.

  • Crítica | Brüno

    Crítica | Brüno

    Bruno - poster

    A potência do humor depende da surpresa. De uma quebra de expectativa que conduz o público ao riso após conduzi-lo a um caminho não previsto. Contar uma piada pela segunda vez para um mesmo grupo requer habilidade de seu narrador. Sem um elemento surpresa, parte do impacto é absorvido e os risos não são tão efusivos como na primeira vez.

    Brüno é a piada contada pela segunda vez por Sacha Baron Cohen. Tentando evocar o mesmo humor do excelente Borat: O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América, o comediante apresenta outro personagem excêntrico em um humor limítrofe entre o absurdo e o exagero, utilizando situações aparentemente reais como constrangimento para fazer rir.

    A produção segue o mesmo estilo da história anterior, uma espécie de documentário sobre um personagem exagerado que busca ascensão na vida. Bruno, um repórter de moda, reconhecido em seu país natal, a Áustria, inicia uma jornada rumo ao estrelado nos Estados Unidos. Conforme fracassa em sua intenção, o jornalista procura alguma maneira de alcançar a fama. Espaço em que se desenvolvem as esquetes encenadas – ou não –, que funcionam como uma fraca linha narrativa.

    Reconhecido por seu papel em Borat, Cohen teve dificuldades em gravar cenas dessa produção devido à falta de anonimato, sendo obrigado a se equilibrar entre o material que colocava o personagem fictício em situações reais e em outras encenações com atores (Borat teve somente um ato articulado e previamente combinado). Mais episódica do que a história do repórter do Cazaquistão, a trama carece de uma linha narrativa mínima e, por consequência, parece ainda mais superficial.

    Impossível negar que Cohen se dedica aos papéis que cria. Entrega-se de corpo e espírito, e em entrevistas afirmou sobre o desgaste em interpretar uma outra pessoa diariamente. Isso sem contar o fato de que, como comediante, é sempre necessário superar-se devido à expectativa do público. Como personagem, o repórter gay representa a tradicional tipificação dada aos homossexuais na ficção. Um estereótipo afetado entre frases e roupas chamativas, como se esses elementos fossem taxativos. Por outro lado, o mesmo exagero poderia ser uma representação do quanto tudo que é diferente é visto com maus olhos pela sociedade. Uma reflexão que pode surgir no debate desta obra, desde que se saiba que a intenção primordial é o humor agressivo.

    A sátira do comediante não é velada nem sutil, mas aguda e agressiva. Escancarando os preconceitos enraizados nos Estados Unidos como também ridicularizando aqueles que, a todo custo, buscam a fama sem nenhum talento de fato. Sua maneira cáustica de mostrar tais problemas é através do riso, do absurdo que deve ser alvo do riso. Mas o humor peculiar doura tanto a pílula do disparate que mais constrange do que faz rir.

    A repetição de um mesmo estilo cômico provou falta de eficiência como material de riso. Tanto que, três anos depois, Cohen desenvolveu O Ditador como uma obra de ficção, tentando focar em uma história além da excentricidade e qualidade de suas interpretações. Com distanciamento, é perceptível que Borat foi uma espécie de experimento funcional que não pôde ser repetido pela falta de ineditismo, nem mesmo duplicado por conta de sua qualidade como mockumentary/comédia. Infelizmente, o comediante precisou reforçar a dose pela segunda vez nesta produção para compreender que a reiteração de uma piada é quase fatal para o humor.

  • Crítica | O Exterminador do Futuro

    Crítica | O Exterminador do Futuro

    Lançado no longínquo ano de 1984, O Exterminador do Futuro utiliza uma fórmula simples, mas muito bem executada, para fazer transcorrer a narrativa: um assassino está caçando sua vítima. Na trama, Sarah Connor (Linda Hammilton), uma garçonete comum, é duplamente perseguida por um homem (Michael Biehn) e um ciborgue assassino do futuro (Arnold Schwarzenegger).

    A abertura deixa mais ganchos do que respostas sobre o que estamos vendo naquela Los Angeles do futuro. O filme já começa apresentando o vilão, e logo em seguida o herói. Há pouquíssimos espaços vazios entre uma cena ou outra, e sequer vemos passar as quase duas horas de duração com alguma cena monótona.

    O trunfo do roteiro do diretor James Cameron ao aplicar nessa mesma fórmula de assassino à solta e um escopo de viagem no tempo é dar poucas explicações sobre que ocorre no futuro, mostrando migalhas em boas elipses entre algumas cenas. Tudo para exatamente manter o foco de que manter Sarah viva no passado é muito mais importante do que saber o que aquele futuro traz.

    Acompanhamos no início do filme três núcleos de personagens que vão se encontrar futuramente. Existem detalhes narrativos para contextualizar onde cada peça se encaixa no roteiro. A sensação de terror que o Ciborgue poderia nos trazer é em parte arranhada pelo sotaque carregado do Schwarzenegger, mas que compensa muito bem intimidando fisicamente, com a câmera fazendo questão de mostrar que o vilão é infinitamente superior ao herói, como deve ser.  Talvez o elemento que mais tire a tensão a todo o momento é a trilha sonora sintetizada, que parece ter sido feita toda em MIDI.

    Sarah se passa por vítima, como qualquer pessoa comum se sentiria ao ser caçada, mas conforme Kyle vai contando sobre o futuro, e dando seu parecer sobre o que ela representa, existe um crescimento na construção da personagem, que passa a lutar pela própria sobrevivência e a do seu filho prometido, que algum dia irá salvar a humanidade. Linda Hammilton consegue encarnar as duas facetas naturalmente, fazendo de fato parecer que houve ali uma tomada de decisão para a mudança quando tudo parece já estar acabado.

    É realmente intimidadora a forma como o ciborgue, já sem sua carapaça humana, é apresentado. O alto número de cenas de ação também serve para justificar a degradação do seu corpo, para finalmente, na cena final, ressurgir das chamas para matar. E, a despeito de o vermos muito pouco, é o suficiente pelo filme inteiro.

    Apesar de já ter visto mais de uma vez o segundo filme da franquia, nunca havia assistido o primeiro. Tal qual um Exterminador, voltei no tempo hoje e vi pela primeira vez o início de uma das franquias mais populares de ficção científica que pouco envelheceu em qualidade, e ainda nos traz um belo registro visual do que eram as roupas e penteados nos EUA dos anos 1980, que certamente deixam saudade.

    Texto de autoria de Halan Everson.