Categoria: Cinema

  • Crítica | Monstros

    Crítica | Monstros

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    Chegando sem muito alarde, Monstros (Monsters) tem tudo para se tornar um filme cult de gênero, seja por seu baixo orçamento, as questões levantadas durante o longa e até mesmo pelo clima despretensioso, o que o torna mais crível para o espectador, diferente dos seus irmãos ricos de Hollywood.

    Monstros traz uma trama bastante batida, um misto de Distrito 9 e Cloverfield, porém, com o decorrer do filme ele acaba funcionando muito mais como um filme pós-apocalíptico. Tendo como plano de fundo nosso mundo, onde humanos e alienígenas convivem de forma nada amigável. Já se passaram 20 anos desde a chegada desses seres e até o momento não conseguimos exterminá-los.

    A principal zona de infecção fica entre os Estados Unidos e o México e ao se ver sem alternativa, as duas nações criam uma campo de controle na fronteira entre os dois. Obviamente, os Estados Unidos dão um jeito de conseguir conter esses seres, criando um muro de contensão, tornando o México a área mais afetada. No meio desse cenário temos um jornalista responsável por cobrir o que está ocorrendo no México, mas seus objetivos são mudados quando seu chefe o obriga a levar sua filha de volta para os EUA, já que ela acaba se ferindo durante um ataque enquanto estava no México.

    O diretor estreante Gareth Edwards faz uma mescla de documentário, trazendo o olhar crítico e político sob as questões levantadas, a adaptação do povo mexicano aos ataques, o descaso do governo americano em ajudar seus vizinhos, a crítica está em metáforas sobre os preconceitos vividos pelos imigrantes em território americano e toda a xenofobia por parte deles. Tudo isso seria ótimo se já não tivesse sido apresentado em Distrito 9.

    Apesar do orçamento pequeno, apenas 500 mil dólares, o diretor utilizou muito bem. A estética do filme nos faz acreditar que tudo aquilo seria possível. Os efeitos especiais em nenhum momento soam artificiais. Os protagonistas são carismáticos, mas o romance entre eles força um pouco a barra, nada que atrapalhe ou prejudique a trama.

    Monstros está longe de ser um grande filme ou que ficará marcado em alguém, mas diverte, traz críticas interessantes e mostra que é possível fazer um filme de catástrofe/ficção científica com um orçamento pequenininho. Uma pena o roteiro ser didático demais.

  • Crítica | Thor

    Crítica | Thor

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    Amantes do cinema pipocão, regozijem-se! Começou a temporada do verão norte-americano, época em que os blockbusters dominam o circuito. E abrindo esse ano temos Thor, adaptação dos quadrinhos da Marvel, que estreou no Brasil no dia 29 de abril, uma semana antes do lançamento nos EUA. Desde que a tradicional editora decidiu levar por conta própria seus personagens para o cinema, ao invés de somente vender os direitos, esse já é o quarto filme. Pra quem não lembra, os outros foram os dois Homem de Ferro e O Incrível Hulk. Teremos ainda esse ano Capitão América, e em 2012 toda essa cambada se reúne naquele que promete ser o filme mais massa veio de todos os tempos da história do cinema mundial, Os Vingadores.

    Mas voltemos ao Deus do Trovão, que afinal de contas é o assunto desse review. O personagem foi criado em 1963 por (adivinhem) Stan Lee, Jack Kirby e Larry Lieber, tendo inspiração nas lendas da mitologia nórdica. Como todo super-herói, teve várias interpretações e reformulações ao longo dos anos, mas mantendo-se sempre como um dos mais poderosos e respeitados do Universo Marvel. A exceção, talvez, fique por conta do Universo Ultimate, que deu uma visão mais realista a todos os heróis (e justamente por isso tem sido fonte de muitos dos conceitos do universo cinematográfico da Marvel). Nele, a princípio Thor é visto somente como um maluco superpoderoso.

    Um super-herói que é um deus, enfrenta divindades e outras criaturas mágicas, mas que também atua num cenário, digamos, mundano? E convive com o Homem de Ferro, por exemplo, um herói inteiramente baseado em ciência? Não precisa ser nenhum gênio pra perceber que esse era umas das adaptações mais difíceis de serem feitas, sem cair no ridículo ou descaracterizar demais o personagem. E o resultado é digno de aplausos, pois o filme conseguiu ser bastante consistente, mantendo a essência dos quadrinhos e atualizando com bastante simplicidade aquilo que precisava ser modificado, pra dar um ar mais crível e, principalmente, permitir que a história se encaixe no universo que vem sendo desenvolvido nos filmes anteriores.

    A história é a praticamente a mesma da origem clássica das hq’s: Thor é filho de Odin, rei de Asgard, um mundo de seres poderosos que ajudaram à humanidade em eras remotas e foram vistos como deuses, dando assim início ás lendas. Jovem, arrogante e amante das batalhas, Thor acaba reacendendo uma antiga guerra contra os Gigantes do Gelo (criaturas de outro mundo, Jotunheim), e acaba sendo punido por seu pai. Destituído de seus poderes e sua arma hyper motherfucker, o martelo Mjölnir, ele é jogado em Midgard, a Terra, pra aprender a ser humilde, paciente, sábio e todas as qualidades de um bom rei, afinal o loirão é o herdeiro do trono. Aqui, ele tromba com a equipe de físicos liderada pela doutora Jane Foster, que investiga fenômenos cuja explicação parece esta ligada a Thor e seu povo. Enquanto isso, em Asgard, o irmão do herói, Loki, se mostra muito ardiloso e… bem, continuar seria entregar a trama toda, então fiquemos por aqui.

    Como dito acima, o filme é bastante coerente em todos os seus aspectos. Ação, humor, drama, romance (o pacote tradicional, enfim) se equilibram muito bem durante toda a história. O diretor Kenneth Branagh fez um trabalho impecável, inclusive nas cenas de pancadaria, com as quais não tinha muita experiência, visto que sua fama é “shakespeareana” e teatral. Fato que é percebido na sua excelente direção de atores, todos muito bem em seus papéis. Chris Hemsworth, protagonista e praticamente desconhecido, surpreende ao dominar com total segurança todas as suas cenas. Ele conseguiu passar muito bem a confiança e arrogância do Thor inicial, e sua posterior evolução. O intérprete de Loki, Tom Hiddleston, era outro desconhecido, pelo menos pra mim. E também se sai muito bem, sendo dissimulado em alguns momentos e louco surtado em outros, ou seja, um Loki perfeito. Sendo ele mesmo, ou seja, FODA PRA CARALHO, Anthony Hopkins É Odin e ponto final. Fechando o elenco principal, temos a oscarizada, badalada, e coisinha linda Natalie Portman no papel de “interesse romântico”. No espaço que tem, ela faz o básico e não compromete. Os demais atores têm participações menores e cumprem muito bem seus papéis na trama.

    E a questão das mudanças, o tormento dos fãs dos quadrinhos? A mais sensível delas é o conceito de o que SÃO Asgard e seu povo. Enquanto nas hq’s eles são os deuses nórdicos e pronto, o filme partiu pra linha do “magia é ciência que não entendemos”, colocando-os como simplesmente seres superiores de outra dimensão. Confesso que fiquei um pouco desgostoso com isso antes de assistir, mas acaba que tudo flui naturalmente e não afeta em nada os elementos clássicos do personagem. Sobre o visual, amplamente criticado durante a divulgação, também funciona a contento. Saíram o metal e couro tipicamente viking e entraram armaduras estilosas tipo Cavaleiros do Zodíaco. O que era necessário, por conta da mudança conceitual. Há um estranhamento no início, preciso admitir, mas com um pouco de boa vontade tudo fica bem.

    Mais algumas mudanças vieram nessa mesma linha: já que não são exatamente deuses, os asgardianos não são imortais, Odin está envelhecendo e já planeja passar o trono para Thor, coisa que nos quadrinhos nunca existiu. Também muda a forma como o Pai de Todos fica caolho, nas hq’s ele mesmo arranca um dos olhos, num sacrifício pra ter a sabedoria divina, enquanto no filme ele o perde em batalha. Outras mudanças muito questionadas referem-se aos personagens Heimdal e Hogun, interpretados por um negro e um oriental, respectivamente. Politicamente correto? Com certeza, mas não chega a ser uma afronta, já que no filme eles NÃO são deuses nórdicos (aliás, muito boa essa desculpa). E estão muito bem representados, principalmente o primeiro, que é o Guardião da Ponte do Arco-Íris, e tem a visão além do alcance (mas não usa a Espada Justiceira), sendo tratado como um ser mais místico e enigmático que os demais asgardianos. Ficou bastante fiel aos quadrinhos. Por outro lado, a total ausência de Balder foi meio triste, visto que ele é o melhor amigo de Thor e um dos personagens mais importantes de suas histórias. Mas não vejo como ele poderia ser encaixado no filme, visto que os Três Guerreiros e a Lady Sif já tiveram um papel bem pequeno, apesar de muito bom.

    Obviamente não faltam a cena pós créditos e easter eggs para os fãs (destaque pra aparição de um certo arqueiro), típicos dos filmes da Marvel. No fim, Thor consegue ser bastante próximo do tom de Homem de Ferro, no sentido de aliar a ação com uma dose de drama/seriedade com os momentos de descontração, sem cair na galhofa de um Quarteto Fantástico, por exemplo. O maior defeito do filme também é bem típico: o tempo. A jornada do herói, ou melhor, a jornada moral do herói, acaba sendo meio abrupta, com Thor passando muito rápido de imaturo a altruísta. É algo que se sente, que faz o filme perder alguns pontos e não chegar ao nível ÉPICO, mas nem de longe chega a comprometer. Agora é aguardar o Capitão América em julho e depois achar uma máquina do tempo pra já pular pro meio do ano que vem e assistir Os Vingadores!

    Texto de autoria de Jackson Good.

  • Crítica | Mother: A Busca Pela Verdade

    Crítica | Mother: A Busca Pela Verdade

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    “O amor de mãe por seu filho é diferente de qualquer outra coisa no mundo. Ele não obedece lei ou piedade, ele ousa todas as coisas e extermina sem remorso tudo o que ficar em seu caminho”. Essa frase da renomada romancista policial britânica Agatha Christie, estabelece o baluarte na proposta do diretor sul-coreano Bong Joon-ho em Mother – A busca pela verdade. Um thriller psicológico recheado de humor negro inspirado em um dos elementos da obra de Alfred Hitchcock: a figura do “homem errado”, definido pelo mestre do suspense como “o cidadão comum  quando pego em situações extraordinárias é capaz de atos extraordinários”.

    Em Madeo (título original), Joon-ho amplia esse conceito mesclando ao mistério um lirismo ímpar. Através desse tratamento poético pouco convencional ao gênero, ele subverte as convenções estilísticas, abusando de diversas fórmulas, mas sempre sendo original em sua abordagem. Joon-ho insere pistas falsas na trajetória detetivesca desse noir salpicado de enlaces surrealistas, com o objetivo de aguçar a curiosidade do público, mas sempre amparado na  cartilha narrativa de Hitchcock, como a utilização do MacGuffinin. Segundo o cineasta britânico um termo usado para inserir um objeto que serve de pretexto para avançar na história sem que ele tenha muita importância no conteúdo da mesma. Todos esses fatores a serviço de uma trama singela sobre uma mãe (a ótima atriz veterana Hye-ja Kim) extremamente protetora e carinhosa, determinada em descobrir o verdadeiro assassino de uma jovem, quando seu filho mentalmente incapacitado é o acusado.

    Joon-ho já tinha demonstrado essa desenvoltura no terror O Hospedeiro, seu filme anterior. Se antes o monstro era explícito, dessa vez ele vem disfarçado de mãe afetuosa propondo um debate sobre os limites desse amor fraterno. Esse proposital contraste entre inocência e monstruosidade, temperado com um ligeiro comentário social.

    Não é uma surpresa Mother ter atingido quase que uma unanimidade entre a crítica especializada ao redor do planeta. Através dos anos o cinema sul-coreano comprovou ter a mesma representação metafórica da bandeira de seu país: um círculo dividido em partes iguais e delineado em perfeito equilíbrio. Lá convivem artífices de uma linguagem contemplativa como Kim Ki-duk de A Casa Vazia com a brutalidade pop, meio mangá, meio Hollywood de Park Chan-wook e seu Oldboy. Os filmes oxigenam os neurônios com arte, ao mesmo tempo em que o coração é massageado através de uma prazerosa carga de adrenalina do cinema popular.

    Texto de autoria de Mario Abbade.

  • Crítica | Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos

    Crítica | Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos

    You Will Meet a Tall Dark Stranger

    O incansável Woody Allen retorna com mais um longa, mantendo sua média de lançar um novo filme por ano, dessa vez com Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos e infelizmente mostra apenas algumas fagulhas de relevância e originalidade em seu novo filme. Diferente de seu anterior (Tudo Pode Dar Certo), que apesar de seus elementos de comédia romântica, trazia um bom roteiro, cheio de boas ideias e diálogos afiados, o que não é o caso de seu último longa que acaba se perdendo e o resultado final não é tão satisfatório.

    Os filmes de Allen continuam seguindo como crônicas de nosso dia-a-dia, abordando problemas comuns que enfrentamos em nossas vidas. Na trama, temos uma série de histórias paralelas interligadas e acompanhamos a vida de Sally (Naomi Watts), que se vê infeliz em seu casamento com Roy (Josh Brolin), já que ele não está preparado para lhe dar um filho, além dos problemas financeiros que enfrentam, com isso ela passa a procurar atributos em seu chefe Greg (Antonio Banderas), e passa a admirá-lo. Roy por sua vez é um escritor de um único sucesso que nunca mais escreveu nada que o superasse, com a pressão de escrever um novo best-seller e os problemas no casamento, Roy se apaixona por sua vizinha, Dia, uma jovem musicista.

    Os pais de Sally também estão sofrendo problemas em seu casamento e se divorciam, pois Alfie (Anthony Hopkins) se torna um obsessivo para recuperar sua juventude já tão distante e parte em busca de um novo amor, e este se concretiza na figura de um prostituta. Sua exposa Helena (Gemma Jones) tenta preencher o vazio de sua vida entre sessões com uma vidente, alimentando-a de esperanças quanto ao seu futuro.

    O filme nem de longe é ruim, mas te traz uma sensação de um trabalho no piloto automático do Allen, sem se doar para o que está fazendo. Apesar disso, o filme tem ótimas sacadas, trazendo uma série de situações interessantes para o espectador, mas falta uma profundidade maior aos personagens, o que me dói dizer, já que os personagens do diretor sempre foram seu ponto forte.

    Quanto a trilha sonora, outra marca registrada do cineasta e um dos pontos fortes da trama, repleta de clássicos. As atuações são redondas, Hopkins, Adams, Brolin e Jones estão muito bem em seus pápeis. Tecnicamente o filme é competente, como todos os trabalhos do diretor, tendo uma fotografia belíssima, como de costume. O ponto fraco fica por conta do roteiro que não traz originalidade, já que o assunto em questão não é novidade para o diretor.

    Em Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos, Allen nos mostra outra faceta do ser humano, a insatisfação. Não importando quem você tem ao seu lado e o que tem em sua vida, sempre tendemos a desejar coisas novas. Muitas vezes isso é idealizado na forma de uma pessoa, de um novo negócio, um novo objetivo de vida. Enfim, a felicidade inalcançável. Apesar de longe de seus trabalhos anteriores, Allen apresenta um filme acima da média com bons temas à ser discutidos. Talvez seja apenas nossa insatisfação se mostrando presente, assim como em seus personagens.

  • Crítica | O Cavaleiro Solitário

    Crítica | O Cavaleiro Solitário

    pale rider

    Em 1985, Clint Eastwood dirige seu terceiro western, O Cavaleiro Solitário, àquele que é considerado por muitos como o irmão gêmeo de O Estranho Sem Nome, com suas devidas ressalvas. Afinal, ambos os protagonistas são seres “sobrenaturais” que retornam dos mortos por um plano maior, enquanto um parece saído do inferno, o outro parece enviado do céu.

    Dois filmes que possuem personagens movidos por um mesmo ideal, por um objetivo em comum, enquanto um deles busca somente a vingança, o outro a está evitando, buscando uma forma de redenção que parece não vir nunca. Os personagens têm suas similaridades mas suas motivações são completamente opostas, assim como os dois lados de uma mesma moeda.

    Na trama, conhecemos Coy LaHood (Richard Dysart), um empresário de uma corporação que explora minas a procura de ouro no Norte da Califórnia. Em defesa dos seus interesses, ele quer a todo custo expulsar os mineiros da região em busca do domínio absoluto. Quando tudo parecia perdido, surge um Cavaleiro Solitário (Eastwood) que se denomina apenas como O Pregador e parece pronto para ajudar essa comunidade de mineiros, custe o que custar.

    Clint Eastwood interpreta esta figura solitária de poucas palavras, que surge em seu seu cavalo não se sabe bem de onde, trajando uma batina. Suas emoções são transmitidas através de seus gestos, cada cena em tela é preenchida com seus olhos, rosto na sobra e canto de boca. A figura do cavaleiro solitário dos westerns clássicos que Eastwood fez questão de homenagear aqui. Apesar do que já foi falado acima, o filme é sutil e não escancara nada, apenas deixa a possibilidade de que o personagem seja um ser sobrenatural que volta do túmulo para confrontar quem o assassinou, um cavaleiro pálido (Pale Rider) que representa a morte.

    A fotografia do filme remete diretamente aos westerns tradicionais, algo que Clint fez questão de trazer à tona em pleno anos 80. O personagem de Eastwood quase sempre é fotografado com uma iluminação forte, que exige um esforço para vê-lo, sugerindo todo ar misterioso que o personagem tem. O roteiro e a narrativa do diretor vão preenchendo cada plano com perfeição sem soar gratuito ou desnecessário, seja as cenas que contribuem para a construção de uma comunidade ou da própria figura mítica do cavaleiro solitário.

    O filme erra em mostrar momentos chave em que colocam em xeque a figura desse cavaleiro, cenas que poderiam ter sido cortadas, pois atrapalham na abordagem quase lúdica que o filme tem em vários momentos. Além disso, na época de seu lançamento, muitos críticos argumentavam que esse tipo de história já tinha sido contada diversas vezes (Os Brutos Também Amam e tantos outros). O fato é que são poucos os diretores que souberam colocar suas assinaturas da maneira que Clint fez, ao expor todas as sutilezas que esse tipo de história deveria ter. O Pregador é um personagem ambíguo e distante dos maniqueísmos dos filmes do gênero. Está aí a grande sacada do filme.

  • Crítica | Josey Wales, O Fora-da-Lei

    Crítica | Josey Wales, O Fora-da-Lei

    Josey Wales

    Em 1976, Clint Eastwood dirigiu um dos grandes clássicos do western revisionista, mas que infelizmente não teve tanto alarde como deveria. Josey Wales, o Fora-da-Lei consolidou o nome de Eastwood como um cineasta talentoso, porém, seu devido reconhecimento surgiu apenas anos depois, já que até então Clint carregava o estigma de ser apenas um ator de filmes policiais e westerns, que brincava de dirigir. A história começou a mudar após este clássico.

    Na abertura do longa, conhecemos a história do personagem e o que irá ser sua motivação durante toda ela, a vingança de sua família. A história é ambientada durante o fim da Guerra Civil Americana, e nesse período conhecemos Josey Wales (Clint Eastwood), um pacífico fazendeiro que vê sua  família ser assassinada brutalmente por um grupo de soldados que apoiam a União. A única coisa que restou em Wales foi uma cicatriz em seu rosto, como lembrança do acontecido e simboliza sua dor interior que ele passaria a carregar. Ao se ver sem família e sem lar, Wales parte em busca de vingança e se junta a um bando de soldados confederados esperando a oportunidade de encontrar aqueles que destruíram sua vida. Em pouco tempo, Wales se torna uma lenda entre as tropas do Norte e do Sul, conhecido como um grande pistoleiro de poucas palavras,  porém, quando a guerra acaba, ele se recusa a se render à União e se torna um Fora-da-Lei com cabeça à prêmio.

    Até então temos um típico personagem de western que já vimos Clint interpretar durante muito tempo, inclusive nos filmes do Leone, um sujeito solitário, de poucas palavras, quase invulnerável e que vive por seu próprio código de conduta. Mas Clint consegue demonstrar nuances deste personagem com poucos minutos em tela, deixando claro que ele não é apenas um retrato já conhecido, Wales é um homem íntegro e melancólico e não aquela figura quase sobrenatural do cavaleiro solitário.

    Essas mudanças ficam ainda mais claras quando Wales passa a se tornar responsável por um grupo de marginalizados que vagam pelo deserto em busca de algo para se apoiar, entre eles uma família do Kansas que é salva por ele, uma jovem índia e claro, o Chefe Dan George que interpreta um velho índio, que de longe têm os melhores diálogos do filme. O velho índio e Wales têm muito em comum, enquanto o índio perdeu todo seu laço com suas raízes e sente humilhado, Wales perdeu sua família e seu lar, mas ambos estampam toda sua humanidade, um de modo mais aberto, não deixando de falar por um minuto e Wales fechado, com poucas palavras, deixando seus gestos e olhares falarem por si. Aliás, as relações do grupo em geral ocorrem dessa forma, não há muito o que se falar, todos entendem um ao outro.

    Eastwood não deixa de fazer uma crítica em relação as tribos indígenas  pois assim como o protagonista, todo aquele povo é impedido à viver de modo pacífico como gostariam e são retirados de seus lares, além de serem confinados em reservas cada vez menores e abandonar suas raízes para se tornarem “civilizados”. Este tipo de crítica pode ser aplicada hoje em dia para qualquer grupo de minorias sem ser necessário pensarmos muito a respeito.

    Josey Wales conta ainda com uma fotografia melancolicamente belíssima, retratando muito bem toda a jornada do protagonista e seu bando. A trilha sonora mescla marchas militares com orquestrações de forma único, o que lhe rendeu uma indicação ao Oscar. Indispensável aos amantes de cinema.

  • Crítica | Batman Contra o Capuz Vermelho

    Crítica | Batman Contra o Capuz Vermelho

    Batman Contra o Capuz Vermelho

    DC Universe merece aplausos pela qualidade de suas animações, e Batman Contra o Capuz Vermelho não é uma exceção. O novo longa metragem é adaptado da saga escrita em 2004 por Judd Winick de mesmo nome, que pra ser bem sincero, era bem mais ou menos. Ainda bem que não é o caso desta animação. Enquanto a Marvel acerta com seus longas e falha bisonhamente com suas animações, a DC faz exatamente o contrário, exceto pelos filmes do Nolan, esses são hors concours, mas os demais…

    Mas deixando os longas e falando sobre a animação em questão. Sua história é baseada na HQ “Sobre o Capuz”, como já dito anteriormente, mas também traz elementos de um clássico das histórias do Homem-Morcego, “Morte em Família”, acredito que essa fale por si só e que não seja necessária nenhuma referência sobre sua importância neste review.

    A trama se passa no submundo de Gotham, onde um vigilante passa a exterminar toda a escória de criminosos da cidade usando métodos nada ortodoxos, seu nome é Capuz Vermelho e pouco se sabe de sua origem ou identidade. Batman não pode ser conivente com esses tipos em sua cidade e o em embate entre os dois se torna inevitável, porém, nem tudo sai como planejado, já que o Capuz parece estar sempre um passo a frente.

    O que tanto intriga o Homem-Morcego são os métodos de combate e estilo de atuação do vigilante, que faz páreo com o próprio morcego, utilizando inclusive de técnicas muito conhecidas por ele, o que ele causa tanto espanto. Para isso, Batman terá de descobrir de onde surgiu esse misterioso vigilante e o quê o motivou a vir até Gotham. No meio disso tudo, surge o chefão do crime da cidade, Máscara Negra, que tem seus negócios impedidos pelo Capuz Vermelho e arruma um jeito de tentar eliminá-lo, além de contarmos com a presença do Coringa, que ajuda a colocar um pouco mais de anarquia nessa história toda.

    A animação é produzida por Bruce Timm, responsável pela famosa série de TV do morcego dos anos 90 e é fácil notar o primor que deixa em seus trabalhos. É fácil notar um apelo bastante adulto, se comparado a série dos anos 90, o que talvez tenha sido motivado pelos filmes do Nolan, mas não podemos mencionar que essa mesma série tinha uma temática já bem acima dos desenhos da época, com um visual dark e histórias envolvendo drogas em sua trama, o que foi uma revolução e tanto para as animações da época.

    Batman Contra o Capuz Vermelho traz uma narrativa bem fluída e sem furos, personagens pouco mostrados em animações, além de um trabalho técnico já conhecido por quem acompanha as animações da DC.

  • Crítica | Mistério Da Rua 7

    Crítica | Mistério Da Rua 7

    Vanishing on 7th Street

    Imagine você acordar em uma grande cidade, completamente sozinho, o sol nasce cada dia mais tarde e se põe mais cedo, as ruas estão desertas e inabitadas, os únicos sons são sussurros ininteligíveis e a única coisa que se movimenta além de você são as sombras, sombras sem formas. Com esta trama, Brad Anderson (O Maquinista) retorna às telas, trazendo um filme de terror muito longe dos habituais. Talvez por isso tenha dividido opiniões.

    A história é situada em Detroit, onde em uma noite habitual ocorre um súbito apagão que dura poucos segundos, porém, quando a energia retorna novamente, descobrimos que todas as pessoas desapareceram, deixando como único vestígio suas vestes. Misteriosamente a energia da cidade se esvai, deixando-a em uma escuridão completa e toda forma de comunicação deixa de funcionar, aparelhos eletrônicos em geral, carros, etc.

    Neste cenário conhecemos algumas poucas pessoas que inexplicavelmente não sumiram como os demais, entre eles Luke (Hayden Christensen – nosso odiado Anakin Skywalker), um repórter de TV que acabou de se mudar para a cidade; Paul (John Leguizamo), um projecionista de cinema; Rosemary (Thandie Newton), uma terapeuta e James (Jacob Latimore), um garoto de 12 anos. O desenvolvimento da história e dos personagens se dá em um bar da rua 7 da cidade de Detroit, o único lugar que ainda tem luzes acesas, graças a um gerador existente no local, onde é abastecido sempre que necessário.

    Mistério da Rua 7 é um conto apocalíptico ao melhor estilo Twilight Zone, deixando as respostas do que ocorreu para o espectador, sejam elas de cunho espiritual, filosófico ou até mesmo sobrenatural. A direção de Anderson faz um ótimo trabalho, sempre mesclando a escuridão com algumas poucas luzes vacilantes. O roteiro de Anthony Jaswinski ajuda na imersão do que está ocorrendo, usando de flashbacks bem cronometrados para dar um certo respiro aos espectadores. O elenco embora pequeno, está muito bem, Christensen por incrível que pareça demonstra evolução ao interpretar um personagem ambíguo e abalado emocionalmente pelas suas escolhas do passado, Thandie Newton se destaca dos demais ao interpretar uma mãe que perdeu seu filho e teria tudo para ser uma personagem histérica, o que não acontece. Enfim, o entrosamento entre os quatro ocorre de forma crível e a angústia de cada um é perfeitamente plausível.

    Anderson optou por não apresentar uma solução para a trama, e os mais preguiçosos podem se incomodar com isso, pois a interpretação pode variar de cada um, já que o filme sugere várias possibilidades, incluindo entre elas a lenda envolvendo Roanoke. Mistério da Rua 7 funciona como um bom terror psicológico, utilizando um clima inquietante e sustos inteligentes. No final das contas, o filme aborda o mais antigo de todos os medos, a escuridão, seja ela no sentido literal da palavra ou não.

    Imagine você acordar em uma grande cidade, completamente

    sozinho, o sol nasce cada dia mais tarde e se põe mais cedo,

    a cidade está inabitada, os únicos sons são sussuros

    ininteligíveis e a única coisa que se movimenta além de você

    são as sombras, sombras sem formas. Com esta trama, Brad

    Anderson (diretor de “The Machinist”) retorna às telas,

    trazendo um filme de terror muito longe dos habituais.

    Talvez por isso tenha dividido opniões.

    A história é situada em Detroit, onde em uma noite habitual

    ocorre um apagão súbito que dura poucos segundos, porém,

    quando a energia retorna novamente, todas as pessoas

    desaparecem, deixando como único vestígio suas vestes.

    Aparentemente, toda a população some de imediato, se

    desmaterializando. Além disso, misteriosamente

    Neste cenário conhecemos algumas poucas pessoas que

    inexplicavelmente não sumiram como os demais, entre eles

    Luke (Hayden Christensen – nosso odiado Anakin Skywalker),

    um repórter de TV que acabou de se mudar; Paul (John

    Leguizamo), um projecionista de cinema; Rosemary (Thandie

    Newton), uma fisioterapeuta e Jacob Latimore, um garoto de

    12 anos. O desenvolvimento da história e dos personagens

    se dá em um bar da rua 7 da cidade de Detroit, o único lugar

    que ainda tem luzes acesas, graças a um gerador existente

    no local, onde é abastecido sempre que necessário.

    Brad Anderson apresenta um conto apocaliptíco ao melhor

    estilo “Twilight Zone”, deixando as respostas do que ocorreu

    para o espectador, seja ela religiosa, filosófica ou até mesmo sobrenatural. A direção de Anderson faz um ótimo trabalho, sempre mesclando a escuridão com algumas poucas luzes vacilantes e o roteiro de Anthony Jaswinski ajuda na imersão do que está ocorrendo, usando de flashbacks bem cronometrados para dar um certo respiro aos espectadores. O elenco embora pequeno, está muito bem, Christensen por incrível que pareça demonstra evolução ao interpretar um personagem ambíguo e abalado emocionalmente pelas suas escolhas do passado, Thandie Newton se destaca dos demais ao interpretar uma mãe que perdeu seu filho e teria tudo para ser uma personagem histérica, o que não acontece. Enfim, o entrosamento entre os quatro ocorre de forma crível e a angústia de cada um é perfeitamente plausível.

    Anderson optou por não apresentar uma solução para a trama, e os mais preguiçosos podem se incomodar com isso, pois a interpretação pode variar para cada pessoa, já que o filme sugere várias possibilidades, incluindo a lenda envolvendo Roanoke. Mistério da Rua 7 funciona como um bom terror psicológico, utilizando um clima inquietante e sustos inteligentes. No final das contas, o filme aborda o mais antigo de todos os medos, a escuridão, seja ela no sentido literal da palavra, ou não.

  • Crítica | All-Star Superman

    Crítica | All-Star Superman

    All-Star Superman

    É isso aí, pessoal, a cultuada minissérie escrita por Grant Morrison e desenhada por Frank Quitely, All-Star Superman, acaba de ser lançada em mais uma animação da DC Universe e tem tudo para ser uma das maiores histórias de super-heróis de 2011 ou vocês estão mesmo contando com os filmes do Lanterna Verde, Thor e Capitão América? C’mon.

    Falar sobre o Morrison é complicado, já que seus trabalhos estão entre os mais originais e bem escritos das últimas décadas, sempre revolucionando as personagens em que trabalha, e com o Superman não foi diferente. All-Star Superman é uma história fora da cronologia do personagem e visava dar um novo olhar para o maior herói da editora DC. Sendo publicada em 2005 em 12 edições mensais e se tornando sucesso absoluto, All-Star já é considerada por muitos como a melhor história do Homem de Aço.

    Contudo, a DC Universe ficou conhecida por adaptações de algumas histórias não tão boas e transformá-las em algo muito mais interessante do que o material original, com isso sempre pairou a dúvida dos fãs sobre o que eles fariam se trabalhassem com um ótima material e não o regular como de costume, sairia algo à altura ou simplesmente deixaria a desejar, deixando claro que o forte do estúdio são histórias mais simples?

    Ao anunciar que adaptariam All-Star, a expectativa foi grande, já que se trata de uma grande história e que seria adaptada para um público de todas as idades com pouco mais de 1 hora em tela. O responsável pela animação seria Dwayne McDuffie, roteirista da série animada da Liga, Jovens Titãs e o longa Crise nas Duas Terras, além de outras animações. Bem, a boa notícia é que eles não nos decepcionaram e apresentaram um ótimo material, claro que com seus devidos cortes, mas sem esquecer a essência do herói apresentado nesta história, como uma animação deve ser feita.

    Na trama, Lex Luthor elabora um plano para eliminar o Homem de Aço, deixando-o exposto à uma grande quantidade de radiação solar, com essa exposição seus poderes se tornaram maiores ainda, porém, suas células não reagem bem a essa transformação e entram em um processo de saturação deixando nosso herói com pouco tempo de vida. Após saber de seu destino, Superman parte em uma jornada para realizar seus sonhos e preparar a humanidade para sua partida.

    Como dito anteriormente, não espere uma adaptação literal, McDuffie absorveu momentos chave e transpôs para tela da forma que julgou melhor, e caiu muito bem, pois conseguiu transmitir exatamente o significado todo desta história, transformando-a em uma uma jornanda emocionante sobre superação, amor e entrega. O que é ser um verdadeiro herói e seu real legado.

    A qualidade da animação está excelente, e é fácil notar semelhanças com o traço do Quitely com suas devidas ressalvas, não deixando de respeitar o trabalho do desenhista dos quadrinhos, assim como do próprio Morrison ao adaptar o roteiro, mudando apenas o que fosse mais necessário para esta nova mídia. Este foi o último trabalho de McDuffie, já que nos deixou precocemente em 21 de fevereiro desse ano, o que chega a ser quase poético All-Star ser sua última animação. Assim como o Superman do Morrison deixou seu legado, McDuffie deixa o seu.

  • Crítica | Bravura Indômita

    Crítica | Bravura Indômita

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    No final de 2010, Joel e Ethan Coen apresentaram ao público Bravura Indômita, remake do clássico homônimo de Henry Hathaway de 1969 adaptado da obra de Charles Portis. Os Coen surpreenderam principalmente pela forma da narrativa, deixando um pouco de lado o sarcasmo e o cinismo que o tornaram conhecidos, sendo contestada por muitos a abordagem dada por eles.

    Se assumindo como um Western em pleno 2010, Bravura Indômita traz novo gás ao gênero, e como já feito por Sergio Leone e outros diretores, as personagens aqui apresentados não são maniqueístas como costumava acontecer em muitos faroestes, nesta adaptação, mesmo os “mocinhos” da história não se definem tão facilmente entre o “bem” e o “mal”. Foi se o tempo onde os westerns apresentavam a imagem de heróis irretocáveis e incontestáveis.

    Na trama, temos Mattie (Hailee Steinfeld), uma jovem de 14 anos que parte em busca de vingar a morte de seu pai, buscando seu assassino, Tom Chaney (Josh Brolin). Para isso, contrata o federal Rooster Cogburn (Jeff Bridges), nesse meio tempo, os interesses do Texas Ranger LaBoeuf (Matt Damon) vai de encontro com o da garota e os três se juntam com o mesmo objetivo e partem em sua jornada. O roteiro tem mudanças acertadas em relação a primeira adaptação, assim como preferiu adotar um pouco mais do humor usado no livro de Portis, o que ao meu ver foi uma escolha mais do que acertada.

    Não que o filme de 1969 seja ruim, muito pelo contrário, Hathaway dirigiu diversos clássicos desde os anos 30, e na adaptação em questão contou com John Wayne como Rooster Cogburn, que lhe rendeu um Oscar, e ainda Dennis Hopper interpretando LaBoeuf e a ótima atuação de Kim Darby como Mattie Ross, porém, se comparado com seu remake,  verdade seja dita, ele é inferior, assim como é inferior ao livro de Portis. A abordagem de Hathaway era de um western clássico, quando o livro pedia uma visão revisionista. E foi o que os Coen fizeram.

    É interessante notar, como a versão do Hathaway preferiu retirar trechos do livro que são fundamentais para uma abordagem mais cínica e revisionista, tornando o filme um western clássico, diferente da proposta do livro. As interpretações do elenco desta nova adaptação ajuda a entender o objetivo de Portis e a assinatura dos Coen. Bridges retrata toda a ambiguidade de seu personagem interpretando um bêbado com sotaque forte e embolado. Impressionante como em certas cenas ele mostra toda sua crueza e violência para logo em seguida ir até o seu limite em demonstrações de honra e carinho. Sempre subestimado, seja pela sua idade ou condição, Cogburn surpreende os que estão ao seu redor. No final das contas, Rooster representa tudo o que os westerns revisionistas são, tendo o protagonista repleto de falhas, mas que ainda assim é o herói da história.

    Na realidade, a verdadeira protagonista da história é Mattie, uma garota endurecida pela morte do pai. Hailee expõe toda a personalidade da garota em uma interpretação intensa. Sua dinâmica com Damon e Bridges é perfeita, cada um deles representando lados da garota. Matt Damon faz uma interpretação concisa e assim como Bridges e Hailee, a química entre eles é ótima de se ver. Brolin por sua vez foge do estereótipo dos vilões de faroeste, já que interpreta um sujeito inseguro e deprimido, algo que não me lembro de ter visto em nenhum filme do gênero.

    O trabalho de direção dos Coen é soberbo como de costume, seus enquadramentos e planos são belíssimos e poéticos, como durante o duelo já no final do filme, a travessia ao rio de Mattie ou a aparição de Rooster no tribunal, mostrando sempre sua figura a meia luz. É claro que a fotografia ambientada ao estilo clássico dos westerns colabora para isso, as cenas ao luar, com neve e cavalgadas são lindas, impossível não se sensibilizar com os quadros de Roger Deakins. A trilha sonora de Carter Burnwell ajuda a te colocar dentro da narrativa, quase sempre usando variações em cima de um mesmo tema de forma magistral. Me admira ter sido completamente ignorada no Oscar, se bem que seria apenas mais uma indicação sem Oscar para receber, assim como aconteceu com as demais, infelizmente.

    No fim das contas, toda a assinatura dos Coen está estampado em Bravura Indômita, de forma sutil, mas está ali. Seja com o sarcasmo característico dos diretores, como na primeira cena onde conhecemos o personagem de Bridges ou durante a execução do índio, trechos que não existem no livro ou foram adaptados para servir melhor ao estilo deles, isso apenas para citar duas delas. A explosão de violência está presente no filme, assim como o estilo de direção, fotografia e até mesmo atores que são conhecidos pela parceria com os diretores. O mais surpreendente é ver que muitas pessoas não conseguem enxergar nada disso.

    Bravura Indômita vai além de um simples western, assim como fez Clint Eastwood com Os Imperdoáveis, não só para os amantes do gênero como para os amantes de cinema, seja por seu roteiro, direção ou elenco. Nesta nova adaptação, os Coen surgem para provar que o Velho Oeste está mais vivo do que nunca e longe de ser decadente.

  • Crítica | O Guerreiro Silencioso

    Crítica | O Guerreiro Silencioso

    O Guerreiro Silencioso

    Como todos pudemos perceber, nesses últimos anos a temática da História Antiga está em alta na literatura. Autores como Bernard Cornwell e Conn Iggulden entraram para o gosto do público, e com muita justiça. A principal razão para a popularidade desses romances sem dúvidas é a perspectiva dos autores na criação dos enredos, que descrevem em nosso passado distante uma realidade que, apesar de fantástica, é surpreendentemente verossímil. Seguindo a linha da fascinante história medieval da Europa, Nicolas Refn deu forma a uma verdadeira pérola meio-dinamarquesa, meio-britânica, sob o misterioso título de Valhalla Rising (“O Guerreiro Silencioso”, na tradução brasileira). O filme ganhou muito hype em 2010, devido a sua participação nos Festivais de Veneza e Toronto, e merece a atenção daqueles que prezam o Cinema bem executado.

    Mads Mikkelsen, o ator de perfil macabro que interpretou o vilão do reboot da franquia 007, Cassino Royale, em 2006, protagoniza os 90 minutos congelantes desse tapa-na-cara visual. One-eye, como ele é chamado por ter um dos olhos costurados, é apresentado sujo, acorrentado e enjaulado. Apesar de sua percepção de profundidade defeituosa, One-eye é um guerreiro intrépido e praticamente invencível em sua frieza psicótica. “Sangue no olho” é uma ótima expressão para descreve-lo. Os eventos mostrados no início do filme representam uma espécie de “briga de galo” com seres humanos, em que prisioneiros cobertos de pinturas corporais célticas lutam até a morte pelas apostas de seus senhores. Nessas circunstâncias podemos conferir a força derradeira de One-eye, que mesmo amarrado pelo pescoço consegue vencer o duelo em favor do seu senhor.

    Frequentemente trocado entre diferentes senhores, pois ninguém é capaz de mante-lo por muito tempo, One-eye é passado pra frente. Sua natureza brutal garante a alta rotatividade de seus “serviços”. Durante a passagem, ele consegue se libertar com a ajuda do garoto Are, que no grupo de seu antigo dono era encarregado de alimenta-lo. Os dois se tornam livres e formam um pacto silencioso. Pouco depois, eles encontram um grupo de cristãos em Cruzada (peregrinos viajando rumo ao que hoje é a Palestina, em busca de terra e tesouros). Para sobreviverem, juntam-se ao grupo e partem com eles em um barco. A Terra Santa, a terra prometida os aguardava. Jerusalém  o reino de Deus, que é deles por direito, direito adquirido por serem cristãos, por seguirem a cruz. Mas o desígnio do acaso discorda e não apoia a sua jornada. Uma forte neblina os engole durante a viagem, e eles acabam em uma terra sombria desconhecida, onde encontram o seu inexorável destino.

    Em nenhum momento vemos sinais claros da nacionalidade de nenhum dos personagens. Só se pode especular. O sangue é brilhante e jorra bruscamente. Não há slow motion. Não há trilha sonora: o silêncio acompanha a carnificina. O ponto mais forte do filme é, de longe, a estética. Cenários maravilhosos, figurino impecável e uma direção fria de Nicolas Refn. Pode-se dizer que o roteiro é limitado, mas somente para aqueles que estão acostumados ao cinema excessivamente comercial. Há pouquíssimos diálogos, e apenas alguns deles são esclarecedores em relação ao enredo. É possível que para aqueles que desconhecem o contexto histórico da Europa em 1000 dC o filme não faça o menor sentido. É preciso ter em mente a realidade da Idade das Trevas, o embate entre os cristãos e os pagãos, e também os constantes conflitos entre as diversas tribos e etnias que habitavam a região naquela época. O enredo precisa ser deduzido pelo que se vê, pensa e sabe. Ele não será explicado, mastigado e dado de bandeja por um narrador. Não há uma introdução que situe o espectador no contexto da história. O filme está lá, os acontecimentos são exibidos magistralmente, mas as conclusões finais ficam a cargo exclusivo do espectador. Os detalhes são importantes e o que é dito, embora seja pouco, tem muito significado. O filme é introspectivo e foge completamente do padrão do mainstream. Vale a pena ser conferido por sua indiscutível beleza estética e, acima de tudo, por sua riqueza em simbolismos misteriosos.

    Texto de autoria de Thiago Debiazi.

  • Crítica | Ilha do Medo

    Crítica | Ilha do Medo

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    Ilha do Medo é diferente de tudo que Martin Scorsese já fez, talvez por isso tenha sido alvo de tanta polêmica e divergência quando a questão é o resultado final do filme para os expectadores. O diretor é conhecido por grandes obras do universo da máfia, mas aqui ele traz um suspense que flerta bastante com o cinema de Hitchcock, um universo relativamente novo para ele.

    Scorsese reafirma sua parceria com Leonardo DiCaprio, filmando o quarto filme protagonizado pelo ator. Essa parceria tem feito muito bem para o ator, haja visto sua filmografia, é notável sua evolução. Vivendo o federal Teddy Daniels, que é enviado até a suposta “Ilha do Medo” (Shutter Island), um hospital psiquiátrico que funciona como prisão para pacientes que representam alta periculosidade à sociedade. Sendo designado a investigar o desaparecimento de uma assassina acusada de matar os próprios filhos. Já em sua primeira cena, logo após avistarmos a embarcação envolta em névoa que está se aproximando da misteriosa ilha, é possível notar a fragilidade do personagem interpretado por DiCaprio e premonizar a grande tempestade (até mesmo literal) que ele viria enfrentar.

    O diretor consegue mesclar suas belíssimas tomadas com o uso da trilha sonora para criar clímax em cenas, ao melhor estilo Hitchcock, aliás, esse é um ponto que merece ser citado, pois em todos os seus filmes a trilha sonora parece ter sido escolhida a dedo para cada cena, o mesmo ocorre aqui. O trabalho de figurino retrata os anos 50 perfeitamente com seus chapéus, sobretudos e demais vestuário. Os personagens de DiCaprio e Mark Ruffalo fazem o típico personagem de filme noir. Scorsese faz uma grande homenagem aos filmes B, em um estilo que ainda não tinha experimentado, e sua excitação é notável em seus cortes e enquadramentos, ao brincar com a câmera em cada ângulo aplicado, utilizando tudo que aprendeu em todos esses anos e colocando nesse suspense, aliás, as referências a grandes diretores são inúmeras.

    A história em si talvez não impressione nos dias atuais, inclusive com seu final que tenta ser algo revelador mas que hoje em dia já está batido, porém, essa não é a proposta de Scorsese. O filme se passa em 1954, em pleno auge da Guerra Fria, pós Segunda Guerra, o horror causado pelos campos de extermínio ainda estava na mente de todos, inclusive tem de se ressaltar as poucas cenas onde o personagem central de DiCaprio tem flashback’s de sua passagem por um desses campos, que consegue ser uma cena mais forte do que muitos filmes tentaram fazer com foco apenas nisso e não conseguiram.

    Todas essas memórias estavam na cabeça de cada um e tudo isso foi muito bem retratado no cinema da época, a impotência da humanidade frente ao horror causado por essa própria humanidade, tudo isso nada mais que a impotência de Teddy Daniels à realidade, onde a única coisa que pode fazer é carregar a culpa e o trauma ocorridos em seu passado. Isso fica claro até mesmo no figurino do personagem, que se veste com cores neutras, exceto pela sua gravata verde, que era um presente de sua mulher, seu único elo com o passado e que até mesmo isso ele perde com o decorrer do tempo.

    Ilha do Medo é um longa genial e uma grande homenagem a tudo que  já o influenciou. Scorsese mescla um thriller noir com todos típicos personagens clássicos dos anos 50, e reinventa tudo isso transformando-o em um terror psicológico sensacional.

    O roteiro foi adaptado do livro de Dennis Lehane (Shutter Island), que foi lançado inicialmente com o nome de Paciente 67, mas com o lançamento do filme, tiveram o bom senso de alterar o título para Ilha do Medo em seu relançamento. Tive a oportunidade de ler o livro, e realmente a adaptação foi extremamente bem feita, inclusive com a parte visual, que foi muito bem resolvida em momentos em que se tornava complicado, devido a forte narrativa do personagem. Mais um ponto para Scorsese.

  • Crítica | O Vencedor

    Crítica | O Vencedor

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    David O. Russel transporta para as telas a história do peso-leve Micky Ward, boxeador conhecido pela sua resistência nos ringues onde com frequência costumava suportar vários rounds de castigo até seu adversário apresentar cansaço e ele dar a volta por cima, bastante parecido com o nosso lutador de Jiu-Jitsu e MMA, Antonio Rodrigo Nogueira, o “Minotauro”.

    Com sete indicações ao Oscar, sendo ganhador de dois deles com Christian Bale e Melissa Leo como atores coadjuvantes, O Vencedor traz um relato sincero de Micky Ward (Mark Wahlberg). Na trama sabemos um pouco do passado do seu irmão, Dicky Eklund (Bale), através de entrevistas para um documentário da HBO. Dicky ficou conhecido por ser o pugilista que derrubou Sugar Ray Leonard durante os anos 70, mas que acabou sendo derrotado, de acordo com ele, injustamente.

    Micky sempre coloca sua família em primeiro plano, mesmo que isso signifique estragar sua carreira como pugilista, já que Dicky e sua mãe só  o colocam em lutas que acabam denigrindo sua imagem e promovendo seus adversários. Sua carreira de boxeador é um fracasso e o tempo está passando para ele, seu irmão e exemplo, Dicky, está completamente afundado no crack. Micky passa sua vida sem perspectivas de um futuro de sucesso, mas tudo isso muda quando ele se envolve com um garota local e decide fazer uma mudança brusca em sua vida.

    Com uma trama que teria tudo para se tornar uma convenção de estereótipos e clichês, O Vencedor consegue ir muito além de um filme de boxe e superação como a grande maioria. Seja pelas excelentes atuações mostrando o quão reais e complexos são os personagens apresentados em tela, seja pelo roteiro convencional, mas que acrescenta verossimilhança a história ou mesmo pela direção com caráter bastante documental em todo o longa.

    E por falar em atuações, Bale rouba a cena com seu personagem, que apesar de todos os seus problemas e defeitos é impossível não se cativar, seja pela sua esperança em retornar aos ringues ou com sua relação com seu irmão, demonstrando o carinho que tem com o irmão mais novo e a experiência nos ringues ao dar dicas fundamentais para vitória do Micky.  Alice, mãe de Micky, Dicky e mais sete filhas é interpretada por Melissa Leo, uma mulher que se mostra motivada por interesses financeiros e deixa visível sua preferência por Dicky, invés do irmão mais novo. É difícil não odiá-la por suas decisões.

    Não menos importantes que os supra-citados acima, temos Amy Adams interpretando a namorada de Micky, uma jovem forte e decidida, com um passado difícil que vê uma oportunidade de redenção ao ajudar Micky e ela própria. E por falar em Micky, Mark Wahlberg se mostra humilde, pois apesar de ser o produtor e protagonista do filme, em nenhum momento ele tenta se tornar maior que o restante do elenco. Seu personagem por exemplo, apesar de discreto é notável toda a angústia guardada dentro dele. Micky mostra que apesar de ser um lutador é uma pessoa extremamente pacífica e demonstra seu desconforto até mesmo ao confrontar seus familiares. O relacionamento de Micky e Dick é o ponto alto do longa, pois mesmo com os maiores problemas e mágoas entre os dois, ambos se mostram unidos.

    Russel se mostra extremamente competente em levar o filme de forma documental, utilizando até mesmo as câmeras da HBO nas filmagens. A fotografia dá o tom decadente, deprimente e realista ao retratar seus personagens e a cidade de Lowell, o mesmo vale para a escolha do elenco, onde todos se mostram em perfeita sintonia. Impossível não se sensibilizar com a cena onde Dicky canta os versos de “I Started a Joke” dos Bee Gees para sua mãe, o dilema de Micky em aceitar seu irmão novamente como treinador ou mesmo quando é exibido o documentário sobre o crack, mostrando os efeitos devastadores sobre Dicky, uma realidade nua e crua do crack onde vemos um homem completamente devastado e o choque de sua família ao ver onde ele chegou.

    O Vencedor não é um filme sobre boxe e sim sobre adversidades e família. Seus personagens são repletos de dúvidas e problemas. Assim como a vida.

    Ouça nosso podcast sobre a filmografia de David O. Russel.

  • Oscar 2011 | Indicados e Ganhadores da Premiação

    Oscar 2011 | Indicados e Ganhadores da Premiação

    Melhor Filme

    O Discurso do Rei (vencedor)
    Cisne Negro
    O Vencedor
    A Origem
    A Rede Social
    Minhas Mães e meu Pai
    Toy Story 3
    127 Horas
    Bravura Indômita
    Inverno da Alma

    Melhor Atriz

    Natalie Portman, Cisne Negro (vencedora)
    Nicole Kidman, Reencontrando a Felicidade
    Jennifer Lawrence, Inverno da Alma
    Michelle Williams, Blue Valentine
    Annette Bening, Minhas Mães e meu Pai

    Melhor Ator

    Colin Firth, O Discurso do Rei (vencedor)
    Jesse Eisenberg, A Rede Social
    James Franco, 127 Horas
    Jeff Bridges, Bravura Indômita
    Javier Bardem, Biutiful

    Melhor Diretor

    Tom Hooper, O Discurso do Rei (vencedor)
    Darren Aronovsky, Cisne Negro
    David Fincher, A Rede Social
    David O. Russell, O Vencedor
    Joel e Ethan Coen, Bravura Indômita

    Melhor Atriz Coadjuvante

    Melissa Leo, O Vencedor (vencedora)
    Amy Adams, O Vencedor
    Helena Bonham Carter, O Discurso do Rei
    Jacki Weaver, Reino Animal
    Hailee Steinfeld, Bravura Indômita

    Melhor Ator Coadjuvante

    Christian Bale, O Vencedor (vencedor)
    Jeremy Renner, Atração Perigosa
    Geoffrey Rush, O Discurso do Rei
    John Hawkes, Inverno da Alma
    Mark Ruffalo, Minhas Mães e meu Pai

    Melhor Roteiro Adaptado

    A Rede Social, Aaron Sorkin (vencedor)
    127 Horas, Danny Boyle e Simon Beaufoy
    Toy Story 3, Michael Arndt, John LasseterAndrew Stanton e Lee Unkrich
    Bravura Indômita, Joel e Ethan Coen
    Inverno da Alma, Debra Granik e Anne Rosellini

    Melhor Roteiro Original

    O Discurso do Rei, David Seidler (vencedor)
    Minhas Mães e meu Pai, Lisa Cholodenko e Stuart Blumberg
    A Origem, Christopher Nolan
    O Vencedor, Scott SilverPaul TamasyEric Johnson e Keith Dorrington
    Mais Um Ano, Mike Leigh

    Melhor Filme Estrangeiro

    Em um Mundo Melhor (Dinamarca – vencedor)
    Biutiful (México)
    Fora-da-Lei (Argélia)
    Dente Canino (Grécia)
    Incêndios (Canadá)

    Melhor Documentário

    Trabalho Interno (vencedor)
    Lixo Extraordinário
    Saída pela Loja de Presentes
    Gasland
    Restrepo

    Melhor Edição

    A Rede Social (vencedor)
    Cisne Negro
    O Vencedor
    O Discurso do Rei
    127 Horas

    Melhor Fotografia

    A Origem, Wally Pfister (vencedor)
    Cisne Negro, Matthew Libatique
    O Discurso do Rei, Danny Cohen
    A Rede Social, Jeff Cronenweth
    Bravura Indômita, Roger Deakins

    Melhor Maquiagem e Cabelo

    O Lobisomem (vencedor)
    Caminho da Liberdade
    Minha Versão para o Amor

    Melhor Mixagem de Som

    A Origem (vencedor)
    Bravura Indômita
    O Discurso do Rei
    A Rede Social
    Salt

    Melhor Edição de Som

    A Origem (vencedor)
    Toy Story 3
    Tron: O Legado
    Bravura Indômita
    Incontrolável

    Melhor Figurino

    Alice no País das Maravilhas (vencedor)
    Um Sonho de Amor
    A Tempestade
    Bravura Indômita

    Melhor Canção Original

    We Belong Together, Toy Story 3 (vencedor)
    Coming Home
    , Country Strong
    I See the Light, Enrolados
    If I Rise, 127 Horas

    Melhor Trilha Original

    A Rede Social, Trent Reznor e Atticus Ross (vencedor)
    O Discurso do Rei, Alexandre Desplat
    Como Treinar o seu Dragão, John Powell
    127 Horas, A.R. Rahman
    A Origem, Hans Zimmer

    Melhor Design de Produção

    Alice no País das Maravilhas (vencedor)
    Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte I
    A Origem
    O Discurso do Rei
    Bravura Indômita

    Melhor Efeitos Visuais

    A Origem (vencedor)
    Alice no País das Maravilhas
    Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte I
    Além da Vida
    Homem de Ferro 2

    Melhor Animação

    Melhor Curta de Animação

    The Lost Thing (vencedor)
    Day & Night
    The Gruffalo
    Let’s Pollute
    Madagascar, Carnet de Voyage

    Melhor Curta-Metragem

    God of Love (vencedor)
    The Confession
    The Crush
    Na Wewe
    Wish 143

    Melhor Curta-Documentário

    Strangers no More (vencedor)
    Killing in the Name
    Poster Girl
    Sun Come Up
    The Warriors of Qiugang

  • Crítica | Inverno da Alma

    Crítica | Inverno da Alma

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    Inverno da Alma chegou sem muito alarde e com o tempo foi ganhando o respeito devido, seja pelas indicações e premiações que já recebeu, como pelas críticas positivas que vem recebendo pelo mundo. Só por isso, já seria o suficiente para perdermos um pouco de nosso tempo e conferi-lo, mas nada disso é necessário, pois o filme fala por si só.

    Adaptado do romance de Daniel Woodrell, escritor americano de grande renome e conhecido por escrever sobre um gênero que remete a um thriller ambientado no interior dos EUA, o próprio autor criou um termo para seus livros, “Country Noir”, o que faz um certo sentido ao assistirmos Inverno da Alma.

    Nesta adaptação do romance de Woodrell, temos a adolescente de 17 anos, Ree (Jennifer Lawrence), responsável por seus dois irmãos menores e sua mãe doente, que vive em um estado de catatonia, e se vê em uma situação difícil, já que é procurada pela polícia para entregar seu pai, um traficante que vem cumprindo pena em liberdade condicional. A grande problemática é que seu pai usou sua casa como garantia pela fiança e desapareceu, tornando-se assim um procurado. Com o risco de não ter onde morar, Ree, não vê outra saída se não encontrar seu pai.

    Ao iniciar sua busca junto aos familiares próximos e por toda vizinhança a procura do paradeiro de seu pai, Ree passa a ter problemas em sua comunidade, que passam a condenar suas atitudes, já que vivem uma bastante comum “lei do silêncio”. Mesmo seu tio, Teardrop (John Hawkes) a proíbe de continuar suas buscas. O único apoio de Ree são alguns trocados, alimentos, baseados e outras drogas.

    As personagens de Inverno da Alma, estão distantes de serem unidimensionais, pelo contrário, escancaram suas imperfeições sem estereótipos. Ree é uma adolescente apenas na idade, já sente a responsabilidade de cuidar da família e sabe que o destino deles depende dela, isso fica claro em momentos onde está com a mãe, e ela simplesmente desaba em lágrimas em busca de um auxílio que sabe que não virá, ou mesmo quando desafia a autoridade local e sua comunidade, mostrando quão dura pode ser. A atuação de Lawrence é intensa e repleta de nuances, demonstrando que apesar do rosto angelical e ainda jovem, tem talento de sobra para interpretar personagens fortes.

    O mesmo ocorre com o coadjuvante em tela interpretado por John Hawkes, o tio de Ree e irmão de seu pai, Teardrop. Um personagem que a princípio se mostra duro e desinteressado pelo problema de sua sobrinha, aos poucos se mostra imprevisível quando decide fazer uma série de concessões para ajudá-la não importando onde isso o levará. O restante do elenco é impecável e em perfeita sincronia, demonstrando a dureza de um Estados Unidos bem distante do que estamos habituados a ver.

    A fotografia de Michael McDonough é impecável, com uma paleta de cores frias que dão o clima melancólico e angustiante do local. Tudo isso demonstrado através das caminhadas da protagonista pelas locações, mostrando o relato de toda a miséria local e a sensação de não ter com quem contar ou o que esperar. O trabalho de direção da ainda novata (Inverno da Alma é seu segundo longa) Debra Granik é lindo de ser ver, criando uma narrativa extremamente densa e cheia de tensão ao longo do filme. A trilha sonora é a cereja do bolo, repleto de canções folk’s e country’s de encher os olhos.

    A realidade de Ree é a realidade de pequenos grupos da sociedade, nos quais vêem como alternativa a produção de drogas como sustento, onde a lei está distante, e a violência e a miséria são um ciclo sem fim. O final do filme é duro e bastante pessimista. Difícil acreditar num futuro promissor para qualquer daquelas personagens.

  • Crítica | Amor à Queima-Roupa

    Crítica | Amor à Queima-Roupa

    Amor à Queima-Roupa

    Em 1993, Tony Scott assinou seu nome na indústria do cinema ao dirigir Amor à Queima-Roupa, uma história de amor pra lá de distorcida, que contava com um elenco impecável e um roteiro original em mãos. O dono desse roteiro era um certo atendente de locadora, fascinado por cinema e aspirante a diretor. Quentin Tarantino.

    Tarantino já havia dirigido Cães de Aluguel em 1992, que não foi tão bem de bilheteria, mas muito bem aceito pela crítica e pelos astros de Hollywood, que ficaram impressionados com o trabalho do diretor e estavam ávidos para trabalhar com ele, deixando de lado até mesmo os cachês exorbitantes que recebiam, apenas para trabalhar com o homem.

    Porquê estou dizendo tudo isso? Porque o roteiro de “Amor à Queima-Roupa” proporcionou ao Tarantino filmar seus “Cães de Aluguel” e como dizem, o resto é história. O fato é que na época em que o roteiro foi vendido, ninguém deu muita importância para ele, até que acabou nas mãos do diretor de Top Gun.

    O filme conta a história de Clarence (Christian Slater), um vendedor solitário que mora em uma loja de quadrinhos e que sua rotina se resume a assistir filmes de artes marciais e passar a noite em lanchonetes. Em uma dessas noites, ele encontra Alabama – interpretada por Patricia Arquette (simplesmente linda) – em uma sessão de filme de Kung-Fu. Alabama é recém chegada na cidade, partiu do interior para conseguir um lugar ao sol na cidade grande.

    A intensidade do amor dos dois é tamanha que ambos decidem se casar no dia seguinte. Porém, Clarence fica incomodado com o passado da garota, que tinha se tornado prostituta a mando de Drexl (Gary Oldman), e Clarence seria seu primeiro cliente. O recém-noivo decide dar às caras ao antigo “patrão” de Alabama, e a coisa termina em massacre e uma mala cheia de cocaína para Clarence, que decide partir rumo a Hollywood para vender toda essa droga para algum grande astro do cinema. Só que essa cocaína tem dono, e são ninguém menos que a máfia italiana.

    Após esse pequeno resumo da trama do filme, é fácil notar o porque ele tem a assinatura de Tarantino. Amor à Queima-Roupa tem todos os elementos que veríamos em seus filmes futuros: Sua paixão por filmes asiáticos e western spaghetti, referências aos quadrinhos de super-heróis, violência desenfreada, diálogos marcantes e sua paixão quase adolescente pelo cinema. A princípio, o roteiro era fragmentado, outra característica típica do Tarantino, mas Tony Scott preferiu deixá-lo linear, o que funciona muito bem. As referências que Tarantino visitaria novamente são inúmeras.

    No longa ainda temos as participações de James Gandolfini, Dennis Hopper, Samuel L. Jackson, Val Kilmer, Brad Pitt, Christopher Walken, apenas para citar alguns. É fácil notar que todos estavam se doando para suas personagens e se divertindo muito com isso. As sequências de diálogos são memoráveis, entre o ponto forte está uma cena onde o pai de Clarence (Hopper) se encontra com o mafioso siciliano (Walken). Brilhante.

    É interessante notar que sempre que comentado sobre Amor à Queima-Roupa, muito se é falado sobre o roteiro de Tarantino e pouco sobre a direção de Tony Scott, porém, isso acaba desmerecendo o trabalho de Scott, que faz uma direção com grandes tomadas e um ótimo trabalho do elenco, é claro, que o roteiro ajuda muito, mas outro diretor poderia destruí-lo, o que não é o caso de Tony Scott.

    Obrigatório para quem quiser entender um pouco do Tarantino antes de ser aclamado pelo mundo como diretor e confirmar que a genialidade do cara, já estava ali desde sempre, repleto de referências que só ele mesmo saberia utilizar por muito tempo.

  • Crítica | Massacre no Bairro Chinês

    Crítica | Massacre no Bairro Chinês

    Massacre no Bairro ChinêsHá muito que me cansei de boa parte dos filmes do Jackie Chan, principalmente os mais recentes realizados em Hollywood, onde tínhamos contato apenas com suas cenas acrobáticas e uma dose de comédia já um tanto repetitiva. Este filme vem para resgatar um lado mais sóbrio e realista dos seus filmes, algo que já estava esquecido. Massacre no Bairro Chinês (2009) foi lançado no Brasil diretamente para DVD, o que realmente é uma pena, pois merecia sua passagem nas telonas, o que acabou não ocorrendo.

    O longa conta a história de chineses que no início dos anos 90, imigraram para o Japão ilegalmente, na esperança de uma vida melhor. Chan interpreta um mecânico chinês que entra no país clandestinamente a procura de sua namorada, que foi para Tóquio em busca de uma vida melhor. Ao ficar sem notícias dela por anos, decide ir buscá-la, mas descobre que ela está casada com um dos líderes da Yakuza. Sem ter como voltar para a China por ter perdido todos os seus documentos ao chegar no Japão, o personagem de Jackie Chan passa a sobreviver de subempregos, até que se vê obrigado a tomar atitudes que mudam completamente sua vida.

    O diretor Yee Tung-Shing demonstra experiência ao deixar de lado as lutas pirotécnicas costumeiras da filmografia de Jackie Chan e  focar no trabalho de construção de personagem de Chan, envolvendo todo o sacrifício feito pelo ator em retratar o drama de abandonar sua nação, amigos e familiares e demonstrar seus conflitos internos, problemas com a criminalidade japonesa, além de ver seus próprios ideais e familiares imergirem em areia movediça. Um excelente trabalho de parceria entre ator e diretor.

    Massacre no Bairro Chinês é competente ao mostrar o choque de culturas entre chineses e japoneses, a adaptação aos novos costumes e a dificuldade da vida dos imigrantes ilegais naquele local. O problema é que esse não é o objetivo principal do filme.

    Do meio para o final o filme começa a se perder, e bruscamente, deixa de ser um drama para se tornar um filme de ação. Algumas coisas poderiam ser evitados, como a mudança cretina no visual de um dos personagens, tudo isso para demonstrar que ele havia mudado de personalidade, o que acabou deixando a interpretação do ator totalmente caricata.

    O filme foi proibido na China devido a sua violência excessiva, que as vezes beirava o trash, e também, imagino eu, por pôr o dedo na ferida e mostrar a quantidade de chineses que saíam de seu país de origem para buscar um lugar sem um regime opressivo e que tivessem uma qualidade de vida melhor.

    Um filme que merece ser visto, principalmente pelo trabalho de atuação de Jackie Chan e o drama vivenciado pelos imigrantes chineses no Japão. Ainda assim, fica um gosto estranho ao saber que poderia ter sido muito melhor abordado.

  • Crítica | Réquiem Para um Sonho

    Crítica | Réquiem Para um Sonho

    Réquiem Para um Sonho

    Em seu segundo longa, Darren Aronofsky retorna com um filme realista onde retrata a vida de quatro dependentes de drogas, desde seu início e o que motivou essa atitude, os sonhos até seu total declínio, retratando como ela é usada como um instrumento do agora, de uma busca de seus objetivos, porém, da forma mais rápida e fácil possível.

    Trazendo um elenco pequeno, mas com grande enfoque e profundidade em todos as personagens, Réquiem Para um Sonho é uma daquelas obras-primas ao retratar o declínio do ser humano em decorrência do vício, seja ele qual for.

    A trama conta a história de quatro viciados cheios sonhos, três deles são jovens, Harry (Jared Leto), Tyrone (Marlon Wayans) e Marion (Jennifer Connelly). Todos os três são viciados em drogas e buscam nela uma perspectiva para mudança em suas vidas passando a traficar, cada um com seu objetivo. Harry quer montar uma loja de grife para sua namorada Marion, ela por sua vez só queria não depender dos seus pais ricos para isso. Tyrone almejava ser alguém, não sofrer discriminação pela sua cor e provar para sua mãe que seria bem-sucedido.

    Em paralelo temos a personagem mais profunda, Sara Goldfarb (Ellen Burstyn), a mãe de Harry. Sara é uma senhora onde sua única distração é a televisão, onde passa boa parte de sua vida vendo programas de auditório. Sua vida muda quando recebe uma possível proposta para participar desse programa, com isso resolve se consultar com um médico para lhe receitar algo que a ajudasse a emagrecer. Sara passa a administrar comprimidos de anfetamina e calmantes que com o passar do tempo passam a lhe propiciar alucinações, com isso Sara passa a aumentar a dosagem dos comprimidos.

    A narrativa é contada por meio das estações do ano. O filme inicia no Verão, onde temos o ponto alto das personagens, e com a mudança de estações, esses mesmos personagens caminham para um final trágico. Os cortes rápidos do Diretor e a trilha de Clint Mansell ajudam a ambientar a ruína das personagens.

    Réquiem Para Um Sonho definitivamente não é um filme feliz. Não existe redenção alguma. A cada sequência em tela, nos sentimos incomodados com a forma cruel que os efeitos das drogas causam aos seus dependentes. Só resta desespero e dor. Ademais, fica claro a bandeira contra às drogas que o filme levanta, no entanto, em nenhum momento soa panfletário, nem tenta forçá-lo a tomar partido ou servir como lição de moral para alguém, ele apenas “vomita” a ruína causada pelas drogas ao longo de toda sua projeção. Cabe a cada um refletir se tudo o que viu é o suficiente ou não.

    Ouça nosso podcast sobre Darren Aronofsky.

  • Crítica | Cisne Negro

    Crítica | Cisne Negro

    Cisne Negro

    Darren Aronofsky nos apresenta um thriller psicológico intenso, desafiante, até mesmo aflitivo… Mas ao mesmo tempo imperdível.

    Em uma primeira leitura da sinopse do Cisne Negro, dificilmente alguém se surpreenderia com a sua história. O mais atento, porém notaria que a obra é assinada por um diretor autoral que já nos trouxe filmes de qualidade dificilmente questionáveis, para se dizer o mínimo.

    A obra acompanha a história de Nina Sayers (Natalie Portman), uma dançarina de balé clássico que  almeja o papel principal no mais do que famoso espetáculo ‘O Lago dos Cisnes’. A Rainha Cisne é este papel, e para interpretá-lo Nina terá que mostrar não somente o seu lado doce e frágil do cisne branco, mas também deixar aflorar seu alter ego, o cisne negro. Metáfora clássica maniqueísta que por sí só já diz muito sobre a personagem e os diversos obstáculos que ela vivenciará.

    E é aí que o filme arrebata o espectador mostrando o que Aronofsky tem de melhor. Sua edição singular unida a uma interpretação por parte de Natalie Portman sem igual, merecidamente indicada ao Oscar de melhor atriz. Como tantos outros personagens do diretor, Nina se vê cercada de ameaças aos seus maiores objetivos de vida, sejam estas reais ou não. Sua obsessão culmina na personagem de Mila Kunis (Lyli). Lyli em teoria teria as qualidades faltantes em Nina para interpretar o lado mais sombrio da Rainha Cisne. A interação entre as duas é cercada de mistério e desconfiança por parte de Nina. Mila Kunis também não deixa a desejar, atuando com uma sensualidade e sedução que atinge perfeitamente o que o cisne negro representa na história.

    Conseguimos ver em Nina diversas características de trabalhos anteriores de Darren. A sua busca por perfeição, superação e até mesmo sua autodestruição são recorrentes. Max em π (PI), Randy em O Lutador e Tomas em A Fonte da Vida, todos têm em si um pouco dessas características. Isso dá uma identidade aos personagens de Darren, e que quase que invariavelmente resulta em ótimas atuações, seguido de um terror psicológico até mesmo incômodo. Com isso Darren consegue atrair e (algo ainda de maior mérito) manter a nossa atenção em seu núcleo esquizofrênico, bestial, frenético.

    Não poderia deixar de comentar também a magnífica trilha sonora, sempre bem dosada com as aflições de Nina. Quem assina a trilha é Clint Mansell, que já havia trabalhado com Aronofsky em seus quatro filmes anteriores. Ele usa da trilha original de Tchaikovsky para o Lago dos Cisnes com algumas nuances. Tornando algumas cenas simplesmente épicas e que valem a pena serem conferidas no cinema.

    A fotografia é outro espetáculo neste filme. Os poucos, mas muitíssimo bem executados efeitos especiais adicionam o terror, ou a beleza necessária em diversas cenas. Estes efeitos são importantes para marcar o contraste dos fantasmas internos de Nina, como também para acentuar sua integração, principalmente quando esta não pode mais ser negada ou escondida.

    Com tudo isso, Darren Aronofsky nos delicia com mais um grande filme. Um real espetáculo em diversos quesitos técnicos e ainda com uma substância psicológica que não pode ser desconsiderada e vale como uma síntese da obstinação do ser humano na busca pela perfeição.

    Texto de autoria de Amilton Brandão.

    Ouça nosso podcast sobre Darren Aronofsky.

  • Crítica | O Lutador

    Crítica | O Lutador

    O Lutador

    Darren Aronofsky traz de volta aos holofotes Mickey Rourke, em um filme quase autobiográfico do próprio ator. O Lutador utiliza uma abordagem com um caráter bastante documental, Aronofsky passa a seguir Rourke com sua câmera durante boa parte da filmagem, sendo bem comum, olharmos as costas do ator durante o longa, o que remete não apenas a um documentário, como a algo bastante pessoal, registrando os  acontecimentos da vida do protagonista.

    O filme conta a história de Randy “The Ram” Robinson, um astro de luta livre que foi muito conhecido durante os anos 80, mas que hoje em dia vive das glórias do passado, já que foi esquecido pela maioria, não só pelo desinteresse pela atração nos dias atuais, como também por sua personalidade autodestrutiva. A partir daí, se faz necessário um comparativo com a carreira do próprio Mickey Rourke, que como um dos grandes astros do cinema, caiu no esquecimento devido a sua vida repleta de excessos, e com isso passou a ganhar a vida fazendo filmes baratos, sem nenhum apelo do grande público.

    Randy tinha um futuro promissor, mas devido a uma série de escolhas equivocadas e da forma destrutiva que levou sua vida pessoal, chegou em um situação difícil financeiramente e familiarmente, já que nem sua filha o quer por perto. Na sequência inicial vemos uma série de montagens de sua época áurea, para logo depois o reencontrarmos vinte anos após, sozinho, com uma saúde já debilitada e se preparando para uma luta em uma escola infantil. A câmera demora a mostrar o rosto de Rourke, o que torna um triste reencontro, pois vemos que de galã de uma época, ele se tornou um homem de meia-idade completamentamente destruído pelo tempo e seu modo de vida.

    Stallone já havia ajudado o amigo em O Implacável (Get Carter), dando um papel de destaque para o astro em 2000, porém, o próprio Stallone estava tentando se reinventar na época e assim como o próprio Rourke, vivia de glórias do passado e filmes menores até se reencontrar com Rocky Balboa, de 2006. O reconhecimento merecido de Rourke, só viria anos depois com “O Lutador”, graças ao roteiro de Robert Siegel e a direção de Aronofsky.

    Os anos foram cruéis com Randy, que apesar de demonstrar um bom físico, notamos que  isso é devido ao uso exarcebado de anabolizantes, o que acabou lhe rendendo um problema no coração. Seu personagem sofre grandes dificuldades financeiras e com isso, se sujeita a trabalhar em um supermercado enquanto continua com suas lutas nos finais de semana. O contraste entre seus dois empregos é brutal, enquanto como lutador, recebe o carinho dos fãs e vê seus companheiros de luta como uma verdadeira família, o oposto ocorre no supermercado, onde recebe um tratamento degradante através do seu patrão.

    Rourke se doa por inteiro, transmitindo uma onda de emoções a cada momento em tela, deixando exposto a enorme sensibilidade da personagem, como quando recebe a notícia de quem não poderia mais subir aos ringues, ou mesmo nos diálogos com a stripper Cassidy, personagem de Marisa Tomei, que se identifica com Randy. Cassidy passa o mesmo que Randy, o pesadelo da idade, pois mesmo continuando linda, seus clientes já acham ela velha demais, e sente que em breve, terá que abandonar o palco. A troca do velho pelo novo.

    Entre os personagens centrais da trama, temos tambem Evan Rachel Wood interpretando a filha de Randy, Stephanie, e conhecemos um pouco mais do lado autodestrutivo de Randy e sua capacidade de magoar todos à sua volta, já que ela hesita em permitir uma reaproximação com o pai, devido ao passado onde foi magoada por ele. Rachel Wood traz uma grande atuação, mesmo com poucos momentos em tela. É impossível não sensibilizar com a vulnerabilidade da garota e as trocas de olhares que tem com o pai, muitas vezes sem necessitar de diálogo algum entre eles.

    Aronofsky adota um estilo narrativo completamente diferente de seus filmes anteriores, exibindo uma direção mais realista, quase documental, linear e pessoal, trazendo o expectador para a trama e apesar de não cair no lugar comum usando um tom melodramático, O Lutador emociona por esse pé na realidade, e claro, as atuações, bom roteiro e excelente direção, tudo sem soar clichê ou mesmo forçar uma identificação com o protagonista, como ocorre com tantos dramalhões por aí, pelo contrário, Randy é uma pessoa que vive cometendo os mesmos erros, autodestrutivo e trágico, mas que nem por isso, não se torna inesquecível.

    O Lutador é um filme sobre envelhecer, o que nos define como pessoas e o quanto podemos seguir adiante sem perder nossa identidade.

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  • Crítica | Os Goonies

    Crítica | Os Goonies

    Os Goonies

    Pois é, bateu uma nostalgia nesses últimos dias e decidi assistir novamente o clássico da Sessão da Tarde, Os Goonies. Me pergunto, qual jovem nascido no final entre os anos 70/80 não se divertiu com este filme?

    O filme tinha a receita exata para a geração daquela época, afinal, era bastante comum inventar brincadeiras na rua e sair desbravando rua-a-rua, arrumar confusões com o pessoal do bairro vizinho, inventar brincadeiras novas ou mesmo as velhas, tudo isso até a hora do sol se pôr, sinal dado para a molecada voltar para casa antes que tomassem uns “petelecos” dos pais. Mas o melhor de tudo eram as tão esperadas férias, onde tínhamos quase 2 meses de diversão, sem se preocupar com lições de casa e provas. Enfim, um retrato de uma geração há muito esquecida, onde as travessuras de rua foram trocadas por horas em frente ao computador ou videogame (bons tempos de fliperama), tudo isso talvez seja motivado pela violência crescente e pelos pais super protetores de hoje, ou talvez, a violência continue a mesma, os pais também e eu esteja bancando o nostálgico aqui… Talvez, seja isso mesmo.

    No meio disso tudo, tínhamos os famosos filmes “juvenis” dos anos 80, entre eles estão clássicos como Conta Comigo, Clube dos Cinco, Curtindo a Vida Adoidado, entre tantos outros. Dentre essa invasão, Os Goonies reunia tudo aquilo que as crianças daquela época viviam: aventuras, confusões, trapalhada (parece até uma chamada da sessão da tarde, não é mesmo?), talvez por isso, o filme seja tão querido por tantos, por tudo que representou em sua infância, um retrato de suas aventuras, em menor potencial, é claro. Mas ele tem o ar infantil que toda criança tem, a vontade de sair por aí, conhecer novos lugares, fazer novos amigos, saber seus limites, Goonies transpira tudo isso.

    Richard Donner consegue transpor todos esses sentimentos em tela, o filme “cheira” a aventura juvenil, seja no roteiro, nas interpretações ou mesmo na trilha. A produção é assinada por ninguém menos que Steven Spielberg e o roteiro é do próprio, com a adaptação feita por Chris Columbus. Com um time desses, é difícil acreditar que não poderia dar certo.

    Falar da história de Goonies não é novidade pra ninguém, porém, se existe alguém que ainda não viu (corrija essa falha de caráter agora!), vamos lá. A cidade onde um grupo de garotos moram, será demolida para a criação de um campo de golfe, com isso, esse grupo de amigos terão de se mudar para lugares distantes uns dos outros, colocando ao fim nas aventuras vivenciadas por eles. No último dia deles em sua cidade, Mikey (Sean Astin ainda criança), encontra um mapa que supostamente levaria a um tesouro pirata.

    Como uma última aventura do grupo, eles decidem sair em busca desse tesouro e quem sabe quitar a dívida que os possibilitava de continuar com suas casas e impedir a construção do campo de golfe e a separação deles. Contudo, um dos pontos de partida fica dentro de uma casa na colina (por sinal, que fotografia excelente durante este trecho do filme), que está habitada pelos Fratelli, bandidos foragidos que estão usando o local como esconderijo. Uma trama relativamente simples, porém, divertidíssima.

    A produção de Spielberg não poupou verba durante o filme. Quem não se lembra do navio pirata construído em tamanho real para as filmagens? Quanto ao elenco, os personagens são carismáticos e muitos se tornaram ícones da cultura pop. Cenas como a do Gordo se confessando para os Fratelli, Sloth e seus chocolates, Bocão falando espanhol com a empregada da mãe de Mikey e as invenções que nunca davam certo do Data são inesquecíveis.

    Direção impecável e elenco cativante em uma história aventuresca e repleta de magia torna Goonies um filme que sempre será lembrado com carinho por quem já o assistiu, e acima de tudo, Goonies é um retrato de uma geração que quem viveu, sente saudades.