Crítica | Taego Ãwa

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Documentário expositivo misturado com arquétipo de filme denúncia, Taego Ãwa é um longa dirigido por Marcela e Henrique Borela, que até se fazem presentes no início do filme, como participantes da trama elaborada, mas que logo se distanciam dos holofotes, driblando a questão estilística de alguns documentais recentes como Divinas Divas, Em Busca de Iara etc. As primeiras cenas mostram parte dos jovens biografados estudando imagens antigas, de álbum fotográfico, que contém algumas questões pontuais sobre os fato terríveis do genocídio indígena brasileiro.

O principal objeto de analise do longa é o patriarca da tribo que dá nome ao filme, Tutawa Ãwa, um sujeito que viveu muito tempo e que tem sérias brigas com a FUNAI e demais órgãos governamentais, centralizadas na localidade onde a aldeia antiga existia, atualmente enquadrada no interior de Tocantins.

O filme trata de imposições sociais externas, como o uso de roupas, que em suma, ajudam a negar a identificação básico dos Taego Ãwa. As cenas em que a família usa tintas mostra bem a diferença entre as gerações, com os avós se desnudando sem qualquer pudor e os mais moços todos envergonhados até em tirar a camisa, na caso do homens, enquanto as mulheres usam vestidos ou roupas que os cubram. Apesar de aparentar um caráter inofensivo, há de se destacar até as mais leves obrigações sociais dos mesmos.

O desejo em realizar um filme começou quando os diretores encontraram nos porões da Universidade Federal de Goiás algumas fitas VHS que contavam a interação de camponeses com Tutawa e com os seus, variando entre a exploração e enganação dos nativos, até cenas mais lúdicas, registrando a caça a um cervo, que é posta em um momento do filme que proporciona um comentário metalinguístico pontual, resgatando a ideia de identidade presente no caráter do filme.

As fitas mostram armadilhas montadas pelos brancos poderosos, que distribuíam facas e arapucas pela floresta, a fim de ferir ou matar os mesmos índios que esses deveriam proteger ou conviver pacificamente ao menos. O trabalho de som é hercúleo, mostrando uma abordagem interessante de Belém de Oliveira, que se misturam a música executada pelos membros da aldeia.

O resultado final soa naturalista, tanto quando a câmera divaga sobre o que restou de espaço da aldeia, flagrando uma vida bucólica e simples, quanto no momento em que há uma manifestação dos índios, entrando a caráter no plenário da Câmara Federal, onde imagens amadoras são resgatadas, se assemelhando a gravações de guerra. A busca por uma justiça que é infelizmente tardia faz do longa uma espécie de filme demarcação de território, tornando esse espírito em algo palpável nos últimos momentos, pouco antes de anunciar o destino dos personagens retratados. A trabalho árduo e contínuo de Marcelo e Henrique é recompensado, com um registro que mistura informação e emoção de maneira bastante prodigiosa e atuante politicamente.

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