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  • Review | Copper – 1ª Temporada

    Review | Copper – 1ª Temporada

    Primeira produção original da BBC America, Copper é um seriado policial ambientado na cidade de New York em 1864. A trama gira em torno do detetive de origem irlandesa Kevin “Corky” Corcoran (Tom Weston-Jones), ex-boxeador e ex-soldado, que luta para fazer cumprir a Lei no violento e miserável bairro Five Points. Paralelamente, ele busca de maneira incansável esclarecer o mistério do desaparecimento de sua esposa e do assassinato de sua filha.

    Além desses dois plots centrais, outros temas foram explorados ao longo da recém-concluída primeira temporada. Em especial, o contexto da Guerra Civil Norte-Americana e seus desdobramentos políticos (com espiões sulistas e suas conspirações) e sócio-econômicos: milhares de negros libertados da escravidão chegando à cidade, se instalando nas áreas mais pobres, já ocupadas pelos imigrantes irlandeses, gerando uma tensão cada vez mais explosiva.

    Ainda que pareça ambiciosa (e de fato é) ao abordar tantos assuntos, a série tem um resultado positivo nessa proposta. O roteiro peca em alguns momentos pela indecisão em escolher um foco, mas ao longo dos episódios conseguiu se equilibrar entre todos os assuntos, e contar uma boa história de época. Ironicamente, caracterização da metrópole do século XIX foi um dos aspectos mais complicados. Ainda que os figurinos estejam ok, os cenários são tão claramente digitais que chegam a incomodar, ao menos quando não há como apelar pra tradicional fotografia escura como “disfarce” para os poucos recursos. Como exemplo, se for comparada a Hell On Wheels (série exibida atualmente e que se passa na mesma época, mas no Oeste), Copper perde feio.

    O diferencial acaba sendo mesmo a história e seus personagens bem trabalhados. Nesse cenário tão opressivo, ambiguidade moral acaba sendo a característica comum a todos. Nem o protagonista escapa de algumas ações questionáveis, como buscar “conforto” nos braços da cafetina Eva (interpretada por Franka Potente) enquanto procura sua amada esposa.

    Outro exemplo é a menina Annie (Kiara Glasco), vítima de exploração sexual que é salva por Corky. Porém, a garotinha não é uma simples coitadinha, se revela uma viborazinha problemática. Outros personagens que se destacam são Robert Morehouse (Kyle Schmid), amigo de Kevin, filho de um poderoso magnata e que mescla uma enorme simpatia com interesses pouco nobres; Matthew Freeman (Ato Essandoh), um médico negro que conheceu Kevin e Robert na Guerra e hoje atua como quebra galho científico do detetive; Elizabeth Haverford (Anastasia Griffith), uma dama da alta sociedade que se encanta por Corky; e Francis Maguire (Kevin Ryan), o atormentado detetive que é parceiro e melhor amigo do herói.

    Conseguindo aliar um argumento rico em conteúdo a um roteiro competente, além de boas atuações, Copper mostra que é possível para uma série policial não ficar apenas no engessado formato de “caso de semana” e se dedicar a construir uma história maior. Com a renovação já confirmada, surge mais uma opção para quem deseja fugir da mesmice televisiva.

    Texto de autoria de Jackson Good.

  • Crítica | Magic Mike

    Crítica | Magic Mike

    Magic Mike

    Steven Soderbergh tem utilizado a crise econômica dos EUA para abordar algumas de suas histórias, e dessa vez não é diferente. Assim como abordado anteriormente em Confissões de uma Garota de Programa, Soderbergh utiliza o submundo de um dos ramos do entretenimento adulto para sua análise da recessão econômica. Magic Mike transita por esse universo de maneira débil e nada subversivo, como poderia ter sido.

    Assim como em 2009, onde Soderbergh traz Sasha Grey, famosa atriz de filmes pornôs para ambientar sua história, agora em 2012 o diretor utiliza a mesma ideia, já que o protagonista do longa-metragem é Channing Tatum, ator em evidência no momento, mas que já teve de trabalhar como um stripper. Ambos os filmes acabam sendo, de certa forma, experiências reais desses atores, seja Grey ou Tatum.

    Na trama, acompanhamos a vida de Mike (Tatum), um sujeito perto dos seus trinta anos, que ganha a vida consertando telhados durante o dia, e a noite é uma das atrações de uma casa de stripper dirigida por Dallas (Matthew McConaughey). Em um de seus dias de trabalho como consertador de telhados ele conhece Adam (Alex Pettyfer), um jovem sem perspectivas que abandonou a faculdade e vive de favores com sua irmã enfermeira, Brooke (Cody Horn). Adam acaba descobrindo o trabalho noturno de Mike e logo ganha um lugar no show.

    O roteiro de Reid Carolin acerta em alguns momentos e erra em muitos. O filme segue uma estrutura digna de comédia romântica, diálogos terríveis e uma trama que se move do ponto A ao B sem nenhuma reviravolta e com uma previsibilidade que não deveria ser o caso de um material como esse. No entanto, no meio de soluções previsíveis, bobas e mal elaborados, o longa por nenhum momento soa enfadonho.

    No meio de personagens estereotipados, Channing Tatum revela uma maturidade interpretativa, principalmente quando está distante do seu trabalho como stripper, mantendo o controle do seu personagem sem se tornar um clichê. McConaughey também merece destaque entre o elenco, entregando um personagem egocêntrico, desconfiado e extremamente intenso em sua interpretação, muito longe de seus papéis nas dezenas de comédias românticas que tem feito, sendo provavelmente o ponto alto do longa metragem. O restante do elenco é bastante inexpressivo, beirando atuações sofríveis.

    A direção de Soderbergh utiliza uma montagem preguiçosa, intercalando sequências de atores em shows, dignas de videoclipes sem nenhuma originalidade, para cenas que não vão a lugar algum. Se mantendo dessa forma até o seu aguardado fim.

    O tema ousado de Magic Mike é extremamente mal aproveitado, e fica mais difícil de defendê-lo depois de obras como Boogie Nights, de Paul Thomas Anderson, por exemplo. Se isso ainda não fosse o bastante, o discurso do diretor sobre a recessão fica cada vez mais moralista e conservador à medida que o filme avança, o que não deixa de ser frustrante para alguém como o Soderbergh.

  • Crítica | Procura-se Um Amigo Para o Fim do Mundo

    Crítica | Procura-se Um Amigo Para o Fim do Mundo

    Procura-se Um Amigo Para o Fim do Mundo

    A destruição como o fim em potencial sempre causa certa comoção. Seja pelo lado sensível, por uma liberdade anárquica ou o alívio de um fardo. Como nossa civilização ainda não chegou a um fim, o exercício especulativo está sempre presente em diferentes artes que sempre dão vazão ao sentimento de finitude das personagem acomodando-as em padrões. Alguns se sentindo confortáveis em realizar os trabalhos até o último minuto, outros que compreendem o fim como um espaço para mudar tudo, e seguem as variáveis.

    Em Procura-se Um Amigo Para o Fim do Mundo um meteoro colidirá com a Terra. Todas as tentativas de salvar o planeta falharam e resta apenas se conformar. Dodge é um homem solitário que representa bem sua tristeza pelo semblante. Foi largado pela mulher após o aviso do armaggedon e vive com a sensação de morrer sozinho sem ninguém para uma última despedida.

    Não há nenhum motivo evidente para que a trama utilize o argumento do fim, exceto por tentar trazer um contorno diferenciado a esta produção. Como até mesmo um estilo alternativo de narrativa se transformou em fórmula na indústria cinematográfica, a maneira que a diretora Lorene Scafaria encontrou para sua história de amor foi configura-la em um espaço finito de tempo. Elemento fatalista não muito inédito e presente, só para citarmos um exemplo bobo, em diversos romances do escritor Nicholas Sparks (todos devem se lembrar da açucarada história de Amor Para Recordar).

    No meio de seu desolamento, Dodge encontra-se com Linda, outra personagem deslocada dentro de seu mundo e que vê no fim uma oportunidade, mesmo que limitada, de recomeçar. Juntos começam uma jornada atravessando o pais para, respectivamente, procurar um grande amor e reencontrar a família. Evidente que os caminhos se transformarão em um laço amoroso.

    A necessidade de sempre se promover uma história de amor retira da trama um possível potencial positivo de apenas situar duas personagens solitários no contexto apocalíptico sem a necessidade de uma relação. Mas movidos apenas pela vontade de não permanecerem solitárias no final, com o toque de melancolia necessário.

    Curiosamente, o cineasta Lars Von Trier também realizou um exercício de destruição final em Melancolia, gerando até mesmo comparações entre sua produção e este filme. Porém, colocado de maneira tão desimportante a trama não funciona nem para gerar reflexão, se tornando mais uma história de amor que tem um leve valor pela competência de Steve Carell em fazer um perdedor, personagem que, alias, foi bem melhor executada pelo ator em Pequena Miss Sunshine.

  • Top 10 – Filmes de Stalkers

    Top 10 – Filmes de Stalkers

    TOP10_Stalkers

    Recentemente li esse artigo que fala sobre 10 stalkers assustadores e rapidamente não pude deixar de fazer a ligação com os filmes que abordam essa temática, recorrente no cinema. Eis alguns interessantes abaixo:

    10. Retratos de uma obsessão

    Robin Williams interpreta Sy, um solitário empregado de uma loja de revelação de fotos instantâneas que fica fascinado com uma família média americana.

    09. A mão que balança o berço

    Uma viúva grávida decide se candidatar a vaga de emprego de uma babá e entra na vida de um casal. Tudo vai bem, até que a viúva, interpretada por Rebecca de Mornay, decide começar aos poucos a substituir a esposa do casal.

    08. Estranha Obsessão

    Robert De Niro e Wesley Snipes estrelam um filme que discute os limites da relação entre um fã de baseball por seu ídolo, o atleta Bobby Rayburn.

    07. Copycat

    Algumas pessoas podem até argumentar que este thriller de serial killer sai um pouco da proposta do tópico, mas ele não deixa de ter relação com o tema. No filme, encontramos uma psiquiatra criminal atormentada por seu passado onde foi atacada por um deles.

    06. Notas sobre um escândalo

    Nos últimos anos de sua carreira, poucos papéis foram tão interessantes a Judi Dench como este, onde ela interpreta uma professora veterana do ensino médio e, por uma estranha amizade à nova professora de arte da escola, Cate Blanchett, decide ajudá-la a encobrir um caso extra-conjugal com seu aluno de 15 anos.

    05. O Invasor

    Em 2001, Beto Brant adaptou o romance homônimo de Marçal Aquino sobre um matador de aluguel, contratado por dois sócios de uma construtora para eliminar o terceiro. O problema é quando o matador tem seus próprios interesses para cima dos outros dois.

    04. Medo

    Nesse filme de 1996, o rapper Marky Mark Mark Whalberg interpreta o interesse romântico de uma jovem, vivida por Reese Whiterespoon. As coisas vão bem, até que o CSI master pai da moça pede para que o namoro termine quando o rapaz começa a exibir suas faces violentas.

    03. Atração Fatal

    Um dos poucos filmes memoráveis do Adrien Lyne. Michael Douglas tem um caso de uma noite com Glenn Close, uma executiva desequilibrada que irá atormentá-lo por um bom tempo.

    02. Círculo do Medo e Cabo do Medo

    Dispensável a apresentação das duas versões do romance de John D. MacDonald. Apesar da versão do Scorsese ter ficado mais famosa e virado referência pop (o episódio dos Simpsons onde o Sideshow Bob ameaça o Bart que o diga), vale a pena dar uma conferida também na primeira adaptação de 1962, estrelando Gregory PeckRobert Mitchum, e dirigido por J. Lee Thompson.


    01. Louca Obsessão

    Baseado na obra de Stephen King, o filme rendeu a Kathy Bates o Oscar de melhor atriz, no papel de uma fã que faz tudo por sua personagem, inclusive ameaçar seu criador, o próprio autor.

    Texto de autoria de Pablo Grilo.

  • Crítica | 007: Operação Skyfall

    Crítica | 007: Operação Skyfall

    007-Operação-Skyfall

    Oficialmente interpretado por seis atores, James Bond mantém-se durante décadas a serviço da Inglaterra, assistindo à derrocada de grandes nações e a crises e revoluções em escala global. Criado há cinquenta anos, parte de sua força como personagem vem da capacidade de compreender o mundo que o cerca, sincronizando e refletindo o contexto global em cada uma de suas histórias. Sendo atemporal.

    Foi preciso que seus produtores retornassem à história primordial de Bond para alinhá-lo ao arquétipo do herói atual: sem vestígios de inocência, com capacidade física apurada e um escopo psicológico que aprofunda a conduta de suas ações. Neste vigésimo terceiro filme da franquia de 007, a mítica deste regresso é destruída para um retorno ainda mais profundo.

    Dirigido por Sam Mendes, a narrativa tem ingredientes bem diferentes daqueles vistos em Cassino Royale. A ação frenética cede espaço para uma história linear de espionagem. O vilão perde o tradicional bizarro físico para se tornar um cidadão normal, camuflado na multidão. A antítese plana entre bem e mal se rompe e, com isso, a história se concentra no próprio James Bond e na sua relação com o MI6 e com a mentora M.

    A queda da personagem, que é tida como morta, é o ponto de início para evidenciar a figura do defensor e da importância de se manter a ordem em um mundo caótico, não mais polarizado pela eficiência de bem ou mal. A trama se desenvolve de maneira dupla em muitas camadas: explora o avanço tecnológico tanto como progresso quanto como uma arma, equipara o novo e o velho, elevando a premissa de que, sem um elemento negativo, não existira o positivo em contraste.

    É uma produção que vai além da personagem autorizada para matar. Deixando as grandiosas cenas de ação de lado, Mendes demonstra competência em criar tensão e silêncio pelos diálogos, no embate entre a figura que deseja destruir aquilo em que o agente secreto acredita. Esqueçam qualquer plano de destruição mundial ou um monólogo que explica o que acontecerá para a reviravolta. Admirando seu passado, a história se molda com nossa atualidade, que almeja por deter significados para compreender o mundo. Justifica a importância da ordem, a origem do caos, a necessidade de saber quem se é, meneado pelo embate do famoso agente e do vilão.

    O vilão de Javier Bardem é um caso à parte. O ator pediu para que todo o roteiro fosse traduzido para o espanhol para que compreendesse suas motivações e psicologia. Mergulhado em uma personalidade afetada, que esconde um interior destruído, ele se transforma em um dos vilões mais carismáticos da franquia, sendo bizarro e assustador pela estranheza de alguém que não tem nada a perder.

    A direção de Mendes mantém a trama sem perder as rédeas. O escopo reflexivo se projeta no público, não no argumento que fundamenta este embate. Suas tomadas são precisas e mostram apenas o necessário, sem deixar de lado o elemento artístico, valendo-se de sombras, luzes e reflexos para gerar atmosfera. A cena de luta entre Bond e um atirador no interior de um prédio em Xangai com um letreiro luminoso de fundo é um destes exemplos de eficiência e beleza, além do desenlace da trama, que ecoa nos duelos de tradição western.

    007 – Operação Skyfall consegue, na queda e no retorno às origens, alinhar a personagem por inteiro, fazendo-a clássica sem se tornar anacrônica. A personagem que, mesmo seduzindo mulheres e preferindo o Martini batido, nunca foge de tempo, seja ele qual for.

  • Crítica | Atividade Paranormal 4

    Crítica | Atividade Paranormal 4

    Atividade Paranormal 4

    Minha experiência cinematográfica vai desde filmes paspalhões como Loucademia de Polícia até filmes primorosos como Casablanca. Já assisti muito filme ruim, e não acho perda de tempo… me divirto muito até. O problema para mim é quando um filme ruim vira uma franquia de 4 filmes ou mais. É o caso da franquia Atividade Paranormal.

    Inspirando-se no sucesso de baixo orçamento A Bruxa de Blair, o primeiro Atividade Paranormal foi até bacana. Um susto aqui, um ali, e o uso da câmera até que compensava. Compensou muito para Oren Peli, roteirista e diretor que gastou 11 mil e ganhou milhões. Veio o Atividade Paranormal 2 e o negócio começou a degringolar… Enredo fraco, soluções que assumem o expectador como um semi-idiota, sustos nem tão bons assim…

    O Atividade Paranormal 3 deu uma pequena revigorada na franquia, com Henry Joost e Ariel Schulman (diretores de Catfish). Com a boa recepção do filme 3, os diretores se repetem no quarto filme.

    Atividade Paranormal 4 pega o gancho do filme número 2 da franquia. Não só o gancho aparentemente. Os pontos fracos também.

    O novo filme da franquia mostra a teenager Alex (Kathryn Newton), que é como todos os adolescentes atuais: meio rebelde, viciada em internet, facebook, chat roulette e afins. Mora em uma casa confortável com os pais e um irmão mais novo Wyatt (Aiden Lovekamp). Também tem um peguete/namorado chamado Ben (Matt Shivley) igualmente adolescente, viciado em internet… enfim, neste filme os personagens não precisam ser detalhados, já que o único propósito dele é dar sustinhos.

    Uma vizinha desta adolescente adoece e deixa o filho pequeno, Robbie (Brady Allen), com a família de Alex. Acontece que o garoto introvertido tem uma ligação com os personagens remanescentes do filme 2 (Katie, interpretada por Katie Featherston e Hunter interpretado por William Juan Prieto, respectivamente a tia maluca/endemoniada da maldição e o sobrinho raptado no segundo filme). Coisas estranhas começam a acontecer por conta da presença do garotinho, o que leva Alex a gravar tudo através de celular, webcam e etc. As ações de merchandising neste filme são gritantes e acharam uso até para um Kinect, com função de assustar os espectadores.

    Daí é o mesmo de sempre… movimentos bruscos, sombras, barulhos, levitação. Alguns sustos inesperados e numerosos esperados. Atuações sofríveis, mas agora com o recurso do “falso documentário” desgastado pelos 3 filmes anteriores e outros filmes fora da franquia.

    O final é aberto, o que possibilita um filme 5, 6, 7… até onde o orçamento (geralmente baixo) empatar ou perder para a bilheteria.

    Tem gente que vai curtir. Existe mercado para tudo nesse mundão, mas acho que não compensa pegar carro, pagar estacionamento, pegar fila na bilheteria, pagar ingresso e perder tempo assistindo a uma produção de roteiro horroroso e pretensão de fazer pessoas pularem na cadeira de medo. Quase ninguém pula. Pra mim a pipoca foi mais interessante.

    Nada contra a diversão de um filme ruim, um filme B… o que pega é querer ser uma franquia de inúmeros filmes ruins. Isso já é masoquismo, não dos envolvidos no filme (que estão ganhando a graninha esperta), mas dos espectadores que não se cansam de gastar um dinheiro pra levar uns sustinhos.

    Acho que terror tem de ser mais que o pulo do gato que está escondido que assusta ou ficar procurando sombra nos cantos da tela. O mal nos filmes de terror são maléficos é com os espectadores, que são cozinhados em banho-maria durante 2 horas e dorme tranquilo quando chega em casa. Aonde estão aqueles filmes que as namoradas ficam com medo de dormir sozinhas? Pois é…

    Texto de autoria de Robson Rossi.

  • GIBICON | A Gibiteca e o paraíso das HQs

    GIBICON | A Gibiteca e o paraíso das HQs

    Sabe-se que a Convenção Internacional de Quadrinhos – Gibicon #01, realizada neste ano, foi uma homenagem ao aniversário de 30 anos da Gibiteca de Curitiba. Agora, já no fim do evento, vale contar um pouco sobre um dos espaços mais incríveis da cidade de Curitiba.

    A primeira coisa a se dizer da Gibiteca de Curitiba é que se trata de um espaço cultural contagiante. Não é apenas um mero acervo de mais de 25 mil títulos dos mais variados gêneros das histórias em quadrinhos. Antes de tudo, a Gibiteca representa um ponto de encontro entre as mais diversas pessoas, as quais estão unidas por um elo que são as HQs. Ilustradores, designers, estudantes, artistas plásticos, professores…isso são apenas alguns tipos de pessoa que podemos encontrar no local. Mais do que um ponto de networking, a Gibiteca exece um papel fundamental oferecendo cursos de desenho em quadrinhos, mangá, além de promover oficinas variadas e exposições. Vários artistas curitibanos se destacaram no mercado nacional e internacional começando na Gibiteca. Só para citar alguns exemplos: José Aguiar e André Caliman.

    Esse espaço foi criado em 1982 e funciona desde então, oferecendo um acervo para consulta gigantesco e que faz brilhar os olhos de todos os fãs de quadrinhos que adentram o local. As primeiras edições de Tico-Tico, Batman e Capitão América (publicações nacionais) são apenas algumas das raridades que podem ser encontradas nas prateleiras.

    É claro que cuidar de tantas obras não é um trabalho fácil. Se você for até o local vai encontrar Maristela Garcia, curadora responsável pela Gibiteca, que diariamente se dedica ao cuidado de todo aquele acervo. Menos de 10 minutos de conversa com a mesma é tempo suficiente para ficar contagiado com o amor e carinho que sente por cada centímetro das estantes da Gibiteca. Os frequentadores (e esse que vos fala se inclui neste ponto) também corroboram esta ideia, pois mesmo que só estejam de passagem, disputam espaço para conversar um pouco com Maristela, a qual é dotada de uma personalidade acolhedora e amável. Maristela representa bem o espírito da Gibiteca.

    O Vortex Cultural conseguiu roubar a Maristela por alguns minutos para falar um pouco sobre suas opiniões e sobre a Gibiteca:

    Vortex Cultural: Maristela, o que você está achando da Gibicon?

    Maristela Garcia: A Gibicon #01 é uma homenagem para os 30 anos da gibiteca. Eu, pessoalmente, achei isso tudo muito fantástico! Eu estou adorando isso! Estava falando hoje para o Fabrizio Andriani (um dos coordenadores do evento) que eu odiei essa Gibicon…porque foi muito curta! (risos) Tem que ser maior! A Gibicon do ano passado teve um público fantástico. Em três dias conseguir reunir 10 mil pessoas foi surpreendente. Nós também não tínhamos tantas exposições, – apesar de mesmo assim serem excelentes-, mas a desse ano está ainda mais fantástica. As exposições estão impecáveis, a programação está redondinha e tudo está indo nos seus conformes.  Tá muito legal. É uma pena só que acaba rápido!

    VC: O que você espera da próxima Gibicon?

    MG: A partir desse ano a Gibicon será bienal. A próxima será só em 2014. Se o mundo não acabar esse ano, faremos a próxima (risos). Eu espero que ela seja maior!

    VC: Agora, falando da gibiteca em si: você acha que histórias em quadrinhos tem um espaço significativo nas bibliotecas públicas? Acha que existe acesso a esse tipo de conteúdo?

    MG: Sim. Cada vez mais isso cresce. Agora está começando a ter espaço também nas escolas. Hoje, por lei federal, quadrinho é uma linguagem que deve ser estudada. Para você ver, nós recebemos toda a rede de ensino de Curitiba no evento. Só ontem tivemos um total de 120 crianças visitando a exposição. Tivemos até que ir revezando as crianças nos blocos do local pra poder dar conta (risos).  O acesso tende a melhorar sempre.

    VC: Qual que é, para você,  a maior importância de existir uma gibiteca no espaço e contexto cultural de Curitiba?

    MG: Antes de mais nada, a gibiteca é um marco. A gibiteca é uma loucura que deu certo. Esses 30 anos por si só representam um marco maravilhoso. Ela é pioneira não só como centro de leitura, mas como centro de formação. Por causa dela, há muitas pessoas que hoje estão nas áreas de design, artes gráficas, ilustração e até mesmo quadrinhos. Alguns, inclusive, estão desenhando até para a Europa.

    Fica claro que a Gibiteca é um espaço muito importante para o contexto de Curitiba e do Brasil como um todo. O que se percebe a partir desse ano, analisando todos os dias em que estivemos presentes na Gibicon #01, é que o evento em si também está tomando uma proporção de grande importância no contexto nacional. Amantes de quadrinhos se reúnem para encontrar com alguns de seus ídolos, conversar sobre HQs e, ainda mais importante, conhecer uma série de novos artistas que nascem em nosso país. A Gibicon #01 pode ter acabado, mas os sentimentos que ela trouxe e as pessoas que conhecemos vão durar para sempre.

    Agradecimentos especiais a José Aguiar, Fabrizio Andriani, Maristela Garcia, Marialda Pereira, Andre Caliman, Leonardo Melo, Daniel Esteves, Danilo Beyruth, Renato Guedes, Joe Bennet, Rod Reis, o grupo Lobo Limão (Yoshi Itice, Marcel Keiichi, Kenji Saito e Gouji Saito), Gustavo Ravaglio, Gus Morais, e todas as pessoas que fizeram esse evento acontecer e ficar marcado na história da nossa cidade e do país.

    Texto de  autoria Pedro Lobato.

    Crédito das Imagens: Bruno Tomasoni

  • Crítica | Busca Implacável 2

    Crítica | Busca Implacável 2

    Liam Neeson não é um ator novato. Há mais de 30 anos ele dá vida a personagens em Hollywood e o faz com bastante propriedade, diga-se de passagem. Desde 2000, entretanto, podemos dizer que os holofotes tem se virado muito mais brilhantes para ele. No curriculum, o inglês tem o orgulho de ostentar nomes muito poderosos. Nas telonas, nesses últimos 12 anos, o cara já viveu Qui-Gon Jinn, Ra’s Al Ghul e até o soberano do Olimpo, Zeus.

    O papel mais importante de sua carreira recente, entretanto, foi o não tão renomado Bryan Mills, protagonista do filme Busca Implacável (“Taken”, no título original). O fodalhão agente da CIA aposentado foi o personagem central de um filme que chegou bem quietinho aos cinemas mas causou um frisson em sua desesperada busca pela filha, sequestrada por uma rede internacional de prostituição e tráfico humano. Até 2008, ano em que o filme foi lançado, Neeson nunca havia demonstrado tamanha aptidão para representar um astro de um thriller de ação como fez naquele filme. Foi uma grata surpresa.

    Protagonista de uma das frases mais empolgantes do cinema deste século, o ator chegou a ilustrar, também, um meme relativamente espalhado através da comunidade 9gagger do planeta (você talvez não saiba o que é o 9gag, mas certamente já viu alguma pérola de lá traduzida na sua timeline do facebook). A célebre citação figura entre uma das minhas preferidas do cinema dos últimos anos (dos últimos anos!):

    “I don’t know who you are. I don’t know what you want. If you are looking for ransom, I can tell you I don’t have money. But what I do have are a very particular set of skills; skills I have acquired over a very long career. Skills that make me a nightmare for people like you. If you let my daughter go now, that’ll be the end of it. I will not look for you, I will not pursue you. But if you don’t, I will look for you, I will find you, and I will kill you.”

    O filme foi um sucesso tão grande e inesperado ao redor do mundo, que obviamente não passaria sem uma continuação. Em 2012, chegou as salas de cinemas Busca Implacável 2.

    Na sequência do thriller de ação de 2008, Bryan Mills precisa enfrentar o pai de um dos homens que ele executou no primeiro filme e que trama uma vingança contra ele. Em busca de retaliação pela trilha de cadáveres que o ex-agente havia deixado no primeiro filme, o pai de Marko sequestra ele e a esposa. Enfrentando uma grande quantidade dos homens do albanês Murad, Mills precisa evitar que a filha seja também sequestrada e salvar a ex-esposa das garras do inescrupuloso pai colérico.

    O personagem de Neeson continua brilhante, sereno e estrategista, três das características que garantiram o sucesso do primeiro filme. Todo o restante do elenco, entretanto, começa mal e decai fortemente no decorrer da trama. A bela Maggie Grace (Emili Warnock no “horrível/terrível/não veja” Sequestro no Espaço) vive novamente a filha de Mills, que foi sequestrada no primeiro filme e que parece ter superado bem o trauma gerado pelos efeitos de seu violento sequestro. Famke Janssen (a Jean Grey da trilogia X-men) interpreta a ex-exposa do agente Mills mas não convence, como não havia convencido na primeira vez que interpretou a personagem.

    O ritmo do filme segue mais ou menos a pegada do primeiro, mas desta vez ele demora um pouquinho mais para acelerar. Dividindo um pouco genericamente, eu diria que enquanto Taken demora uns 20% do tempo para acelerar, Taken 2 leva 50% do tempo na tela para ganhar ritmo e tornar-se propriamente um filme de ação. Mesmo quando entramos na parte mais porradeira do filme, ainda, ele perde em adrenalina para a primeira obra, o que prejudica um pouco a avaliação geral do filme.

    O roteiro das duas produções é, também, bastante distinto. Enquanto a primeira filmagem ocupa-se unicamente em mostrar o personagem principal em sua “Busca Implacável”  (sacou, sacou?!) pela filha, o segundo mostra um Bryan Mills não tão infalível e que envolve, vejam só, a própria filha em sua escapada do cativeiro. Há, sim, alguns momentos muito interessantes que mostram o quanto o agente é um gênio e como consegue reagir inacreditavelmente diante situações de crise, mas a trama se sairia muito melhor com o personagem salvando o dia sozinho novamente.

    Existem situações pontuais da trama que mostram uma certa incoerência com a construção do personagem principal feita no primeiro filme, e estas questões fazem deste um filme muito abaixo do primeiro. Isso sem falar das falhas grosseiras como, por exemplo, o agente disparar sua pistola uma quantidade impossível de vezes com o mesmo cartucho de projéteis. Há uma ceninha de luta desarmada no final que também é totalmente desnecessária e fora do comportamento padrão deste que foi um dos personagens originais mais impressionantes que vi nos últimos anos.

    A sequência de Busca Implacável só está nas salas hoje graças ao sucesso inesperado do primeiro filme e por isso não acho descabida a óbvia comparação com o primeiro título. Maggie Grace trabalha melhor no primeiro filme, quando é apenas uma vítima dos acontecimentos que precisa ser salva pelo personagem principal. Em alguns momentos da trama, ela chega a trabalhar como uma parceira do pai em sequências que, apesar de serem até bem filmadas pelo diretor Olivier Megaton, desviam-se bastante do que emplacou o sucesso do primeiro filme.

    Não é a primeira vez que Megaton (que tem o pseudônimo mais sem sentido que eu já vi na vida, seu nome de batismo é Olivier Fontana) recebe uma continuação forçada pela indústria para dirigir. Ele é o diretor do fraco Carga Explosiva 3, e já deveria ter aprendido a lição. Hollywood precisa aprender a deixar seus sucessos em paz. Infelizmente, ao que tudo indica, a continuação de Busca Implacável virá até as telonas, mas já não posso mais afirmar com tanta certeza que irei conferi-la no cinema.

  • Agenda Cultural 46 | Ted, Cosmópolis e Looper

    Agenda Cultural 46 | Ted, Cosmópolis e Looper

    Bem vindos à bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Rafael Moreira (@_rmc), Mario Abbade (@fanaticc) e Jackson Good (@jacksgood) retornam para mais uma edição da Agenda Cultural, e dessa vez com um especial comentando os últimos lançamentos de cinema. (mais…)

  • GIBICON | Astronautas e criação de HQ

    GIBICON | Astronautas e criação de HQ

    O sábado chegou e o dia prometia ser o mais lotado de todo o evento. Toda a correria e animação dos primeiros dias não seria nada frente ao clímax do evento. As previsões estavam certas.

    O Vortex Cultural foi conferir de perto a palestra de criação de histórias em quadrinhos com ninguém menos do que Danilo Beyruth, quadrinista brasileiro responsável pela premiada HQ Bando de Dois e Necronauta. Como era de se esperar, tendo em vista todas as outras pessoas que vimos no evento, Danilo foi extremamente simpático e deixou todas as pessoas que estavam presentes na sala lotada bastante à vontade.

    Em sua palestra, Danilo contou um pouco da forma como ele enxerga as histórias em quadrinhos e qual a lógica básica para a criação de uma. “A história em quadrinhos é uma forma de linguagem, assim como o cinema e a literatura. Linguagem nada mais é do que comunicação”, disse Beyruth. Assim como havíamos ouvido de Daniel Esteves no dia anterior, o público também pode ouvir de Danilo que através da HQ se transmite uma história. Explicou várias partes técnicas do processo criativo e deu várias dicas para as pessoas que se interessam em criar HQs. Uma delas, muito importante, e que vale dizer aqui é “sempre leve caderno e caneta com você, para todos os lugares onde você vá. Assim você sempre anotará suas boas ideias”.

    Mais perto do final da palestra, Danilo teve a oportunidade de falar um pouco de seu mais novo trabalho: Astronauta – Magnetar, álbum em HQ cujo personagem principal é ninguém menos do que o velho e conhecido Astronauta da Turma da Mônica (Maurício de Souza), porém participando de uma história com um viés um pouco diferente daquele infantil e humorístico que estamos acostumados com o personagem. Danilo explicou a experiência com o Astronauta, de iniciar um processo criativo com um personagem de outra pessoa, tentar entender o mesmo e partir para uma narrativa com o mesmo sendo o motor principal que move a história. “A primeira coisa foi descobrir que o Astronauta não era um mero astronauta, mas um navegador. Ele está fadado a navegar pelo espaço, enfrentando a solidão e a saudade. Tive que me aproximar de exemplos do tipo, como Amyr Klink, para assim poder me aproximar ao personagem”.

    Após a brilhante palestra de Danilo Beyruth, fomos novamente interagir com o resto do público e outros autores de quadrinhos. Uma das principais novidades do dia mais cheio de todo o evento com certeza foram os cosplayers. No local encontramos Stormtroopers, Mulher Gavião, Canário Negro, Arlequina e até mesmo um Freddie Krueger.

    Após enfrentarmos uma hora de fila para conseguir autógrafos com alguns expoentes dos quadrinhos como Renato Guedes, Joe Bennet, Rod Reis e Carlos Magno, encontramos com mais um artista independente que estava lançando um trabalho no evento. Dessa vez, conversamos com Gustavo Ravaglio, um dos autores da primeira edição da HQ Capa Preta, juntamente com seu colega Her Ming Hsu Yen. A primeira impressão que se tem do material é a de que ela não é feita por artistas independentes, pois chama atenção e esbanja beleza. Gustavo ofereceu um pouco do seu tempo para falar um pouco conosco:

    Vortex Cultural: Gustavo, você poderia nos falar um pouco de como está sendo a experiência da Gibicon para você e seu trabalho?

    Gustavo Ravaglio: Eu tenho o meu estúdio e trabalho com quadrinhos, animação e ilustração. Aqui na Gibicon eu estou lançando a minha primeira HQ, o Capa Preta n. 01, então basicamente tem sido uma experiência nova. Nós estamos com uma tiragem boa e está saindo bastante. O público tem gostado bastante e elogiado principalmente nosso acabamento gráfico da revista e tudo o mais. Acaba que dá pra experimentar diversas coisas e vemos o que cai bem para o público e o que não cai. Em todos os sentidos a Gibicon está sendo muito boa para mim.

    VC: De onde surgiu a vontade de fazer quadrinhos?

    GR: Pode parecer puxação de saco, mas acredite, não é.  Na Gibicon passada, quando eu vim no evento, decidi que no ano seguinte eu lançaria um quadrinho e hoje estou aqui. A Gibicon n. 0 significou isso para mim, minha motivação. Foi imediato. O Capa preta é um livro de quadrinhos independentes que pretende ser um novo meio pra divulgar novos artistas, novas histórias e sempre com caráter experimental. O Capa Preta tenta cumprir essa função e por isso pretendemos aumentar o número de artistas conosco, além de continuar com nosso trabalho.

    Chegamos finalmente ao fim de mais um dia agitado no evento, que tem se mostrado um verdadeiro sucesso com o público e com os próprios artistas que mostram seus novos trabalhos. O domingo nem passou e o evento já começa a deixar resquícios de que vai fazer falta.

    Texto de  autoria Pedro Lobato.

  • 007: As Canções da Franquia – Parte 2

    007: As Canções da Franquia – Parte 2

    Após comentarmos sobre as primeiras canções da franquia da série do James Bond com o fechamento da lista com Live and Let Die, do Paul McCartney, hoje daremos continuidade à lista de canções, dessa vez dando sequência aos filmes estrelados por Roger Moore e Timothy Dalton.

    The Man with the Golden Gun (007: O Homem da Pistola Dourada, 1974) – Lulu

    Após sua ausência no filme anterior, John Barry retorna para 007: O Homem da Pistola Dourada e além de compor a trilha sonora do longa, também fica responsável pela canção-tema, que contém letras de Don Black. A artista escolhida para interpretá-la foi a cantora escocesa Lulu, que não teve uma carreira próspera na música, sendo mais conhecida pelo seu papel no filme Ao Mestre com Carinho, com Sidney Poitier e pelo seu casamento e divórcio relâmpago com Maurice Gibb, dos Bee Gees. A canção-tema e a trilha sonora são considerados os mais fracos de toda série, opinião compartilhada também pelo compositor John Barry, que disse ser um o trabalho que ele mais odiou.

    Alice Cooper chegou a compor uma música para o longa, mas os produtores optaram pelo tema de Lulu. A canção de Cooper intitulada The Man With The Golden Gun e pode ser ouvida no álbum Muscle of Love.

    The Spy Who Loved Me (007: O Espião que me Amava, 1977) – Carly Simon

    John Barry dá lugar ao jovem músico Marvin Hamlisch, ganhador de três prêmios Oscar, dois pelo filme Nosso Amor de Ontem (melhor canção original e melhor trilha sonora) e o terceiro pelo filme Golpe de Mestre (melhor trilha sonora). Para canção-tema, Hamlisch se juntou com Carole B. Sayer e compôs Nobody Does It Better, que foi interpretada por Carly Simon. A canção é um marco na série, pois esta foi a primeira vez em que o tema de James Bond tem um título diferente do filme.

    Nobody Does it Better é uma clara alegoria erótica as façanhas amorosas realizadas pelo espião britânico, além de marcar o retorno da balada à série, algo que se repetiria nos três filmes seguintes.

    Moonraker (007 Contra o Foguete da Morte, 1979) – Shirley Bassey

    Após o resultado irregular da trilha incidental de Marvin Hamlisch no filme anterior, John Barry é novamente convocado para compor a trilha do próximo James Bond, e dessa vez é o controverso 007 Contra o Foguete da Morte. Barry convida Al David, coautor da canção We Have All The Time in The World para juntos comporem a belíssima Moonraker, uma balada extremamente melódica e suave, que marcou o retorno de Shirley Bassey em sua terceira e última interpretação de uma canção do James Bond.

    For Your Eyes Only (007: Somente para seus Olhos, 1981) – Sheena Easton

    John Barry mais uma vez não estava disponível para compor a trilha do próximo 007, e ele mesmo sugeriu como seu possível substituto, Bill Conti, compositor norte-americano responsável pela trilha do filme Rocky, Os Eleitos, Karate Kid, entre outros. Apesar da trilha sonora de 007: Somente Para Seus Olhos ser considerada irregular, a canção-tema For Your Eyes Only é um grande destaque no trabalho de Bill Conti. Escrita em parceria com Michael Leeson e interpretada por Sheena Easton, a canção se tornou um sucesso instantâneo, sendo uma das mais lembradas de toda a série. For Your Eyes Only rendeu indicações ao Oscar e ao Globo de Ouro para Conti.

    Octopussy (007 Contra Octopussy, 1983) – Rita Coolidge

    O ano de 1983 foi marcante para a série 007, pois naquele mesmo ano estreou Nunca Mais Outra Vez, filme não-oficial que marca o retorno de Sean Connery para o papel principal. Neste cenário, Roger Moore contra-ataca com seu sexto filme, 007 Contra Octopussy, filme que mais uma vez traz de volta John Barry.

    A trilha de Barry é extremamente marcante, utilizando o tema de James Bond em abundância e ainda assim colocando uma assinatura forte do compositor. A canção-tema, All Time High, pela segunda vez não coincide com o nome do filme, e trouxe Rita Coolidge para interpretá-la. A música transcendeu à barreira do tempo e ainda hoje muitos lembram dessa linda canção de Barry interpretada por Coolidge.

    A View To A Kill (007 Na Mira Dos Assassinos, 1985) – Duran Duran

    Em 1985, John Barry retorna para mais um filme da série 007, e traz Roger Moore interpretando James Bond pela última vez, mas acima de tudo é um marco para as músicas da série, já que a canção-tema ficou em primeiro lugar nas paradas de sucesso dos Estados Unidos e Inglaterra. A View To A Kill, composta por Barry e o grupo britânico Duran Duran, se tornou um dos temas de maiores sucessos da série.

    A escolha da banda se deu após uma festa, onde o baixista John Taylor (grande fã da série) ainda bêbado se aproximou do produtor Cubby Brocoli perguntando: “Quando é que você vai arrumar alguém decente para fazer uma das canções da série?”.

    The Living Daylights (007: Marcado Para a Morte, 1987) – A-Ha

    007: Marcado Para a Morte marca o último trabalho de John Barry frente à série de James Bond, e é considerado por muitos o seu melhor trabalho. Além disso, o filme também traz a estreia de Timothy Dalton no papel do agente secreto, mudança esta que trouxe áreas mais sombrios e realistas à série, algo que seria refletido na trilha sonora de Barry.

    Com o sucesso da canção anterior, os produtores optaram pela escolha de outra banda pop, dessa vez os escolhidos foram o grupo norueguês A-ha. The Living Daylights foi composto por Barry e Paul Waaktaar (guitarrista da banda). Originalmente, os Pet Shop Boys foram convidados para compor o tema, mas recusaram quando souberam que seria apenas a canção-tema e não a trilha sonora completa.

    Licence to Kill (007: Permissão Para Matar, 1989) – Gladys Knight

    A ausência de Barry, que na época estava indisponível devido a problemas médicos, os produtos contrataram Michael Kamen (Máquina Mortífera) responsável pela composição apenas da trilha incidental. Houve rumores de que o tema seria uma composição instrumental de Eric Clapton e Vic Flick (guitarrista original do tema da série), mas os produtores desistiram da ideia.

    A canção-tema Licence To Kill foi composta por Narada Michael Walden, Jeffrey Cohen e Walter Afanasieff, e teve a interpretação de Gladys Knight. Apesar de uma bela interpretação de Knight, Licence To Kill não teve nenhum destaque nas rádios ou entre o público, sendo uma das canções mais ignoradas da série.

    Parte 1.

  • GIBICON | Roteiros e Quadrinhos independentes

    GIBICON | Roteiros e Quadrinhos independentes

    O segundo dia da Gibicon começou cedo para o Vortex Cultural. Fomos conferir uma das oficinas do evento. Se o primeiro dia foi o dia dos coloristas, o segundo seria o dia dos roteiristas, um dos principais autores da equipe criativa de uma história em quadrinhos, portanto, escolhemos assistir à oficina de Roteiro ministrada por Daniel Esteves, ganhador de diversos prêmios HQMIX como roteirista, pela sua série Nanquim Descartável, além da HQ em que é co-autor: O Louco, a Caixa e o Homem.

    Em duas horas de oficina, que foi realizada na Aliança Francesa de Curitiba, o público foi levado a compreender o processo de um roteiro. Esteves evidenciou que um roteirista, antes de tudo, deve ser um contador de histórias. Ele é um dos principais responsáveis por criar uma ligação emotiva com o leitor (criando um elo sentimental) e, portanto, encoraja o processo criativo de um roteiro que seja natural, em detrimento da artificialidade das histórias megalomaníacas (principalmente ao considerar os iniciantes). Um roteirista, antes de mais nada, é leitor e também um vivente. Essas foram, resumidamente, apenas alguns dos pontos que Daniel compartilhou com o público presente e não escondeu que leva uma carreira ao mesmo tempo “caótica”, mas divertida.

    Novamente, corremos de volta para o Memorial de Curitiba, ponto de encontro principal da convenção de todas as pessoas e artistas. José Aguiar, um dos idealizadores da Gibicon e curador do evento, esbanjando simpatia e animação, veio nos contar mais um pouco sobre o evento. Perguntado sobre as mudanças que ocorreram da edição zero (2011) para a desse ano, Aguiar respondeu:

    José Aguiar: A Gibicon deu uma mudada para poder crescer. Quando fizemos a edição de número 0, que foi experimental, a equipe era muito diminuta e o orçamento também era menor (apesar de ainda ser  limitado, melhorou), mas aprendemos muito com aquele. Aprendemos a nos organizar melhor, principalmente.  Esse ano eu saí da coordenação do evento e fui para a curadoria, pois eu tenho mais capacidade de estar mais presente e render melhor. Tudo isso foi pensado com o intuito de oferecer um evento melhor. Acho que isso tudo foi positivo tanto para o evento quanto para mim. Continuo dando o sangue e acreditando no projeto igualmente. A Gibicon é um evento sem fins lucrativos e o que estamos fazendo é exatamente porque acreditamos em investir no mercado brasileiro de quadrinhos. É claro que eu ganho com isso, pois também sou autor de quadrinhos. Se eu fomento novos leitores eu estou fazendo bem não só para mim, mas para todos os autores brasileiros em especial. Esse é um dos grandes objetivos da Gibicon: mostrar para a mídia e o grande público que quadrinho brasileiro tem espaço. Estamos aproveitando os 30 anos da Gibiteca de Curitiba como mote pra trazer exposições, autores internacionais e nacionais de renome e os que ainda são desconhecidos no Brasil, mas que são muito bons. Estamos com uma lista grande de lançamentos esse ano. Até eu estou lançando quadrinhos independente (risos). A intenção é só melhorar.

    O crescimento descrito por José Aguiar do evento é facilmente visualizado ao correr os olhos por todos os espaços da convenção, não apenas no Memorial de Curitiba. Esse em especial, onde se localizavam os estandes, era o local em que encontramos vários artistas independentes. Tentamos conversar com a maior quantidade de artistas possível e todos muito animados com toda a atmosfera da Gibicon, não se importaram em trocar uma ideia conosco e falar um pouco do trabalho deles.

    Perguntados sobre o que estavam achando do evento como um todo e o que mais agradava a eles, pudemos ver relatos de entusiasmo semelhantes. André Caliman (um dos responsáveis pelas HQs Quadrinhópole, Avenida e desenhista da HQ ELF) disse: “estou gostando bastante dessa área de estandes. Ano passado tinha, mas era pouco e mais informal. Não tinha tanta coisa independente, mas esse ano tem vários. A Gibicon tem servido com um propósito relevante para nós autores independentes. Não apenas curitibanos, mas tem muita gente de São Paulo e Rio de Janeiro mostrando seus trabalhos, por exemplo. Pode-se ver claramente que a Gibicon tem ganhado uma visualização nacional, pois não só nós costumamos ir para São Paulo e Belo Horizonte para mostrar nossos trabalhos, como eles estão vindo para cá”.

    Falando um pouco da HQ Revolta, que estava lançando no evento, Caliman explica que ele está distribuindo o primeiro capítulo da referida HQ no evento para os interessados, e a mesma terá um capítulo novo sendo publicado todos os meses no site oficial (www.revoltahq.blogspot.com). Revolta conta a história de um grupo de amigos que estão revoltados com o que acontece com o cenário político nacional. Caliman conta “até achei legal lançar agora em outubro, tendo em vista as eleições nesse final de semana. É um quadrinho que faz uma série de críticas, mas não quero contar o fato principal da história para não estragar a surpresa dos leitores (risos)”.

    Yoshi Itice e Marcel Keiichi, membros do grupo Lobo Limão e dois dos três autores do lançamento independente Last RPG Fantasy (o terceiro autor é Kendy Saito), reiteraram as impressões da evolução do evento: “Ano passado não tinha tantos estandes. Era um evento mais focado em palestras e oficinas, tanto que era o que mais eu fui ver, porém esse ano é diferente e estamos aqui participando mais ativamente”.

    Perguntamos sobre o lançamento deles – o qual foi lançado oficialmente na Gibicon #01 e está a venda não apenas no evento como também no site oficial www.lobolimao.com.br)-  e como foi a inspiração para estarem ali naquele dia lançando um trabalho próprio:

    Marcel Keiichi: Tudo começou quando fomos na FIQ (Feira Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte/MG) do ano passado. Lá levamos nossos primeiros fanzines e vimos que tinha muitas pessoas fazendo livros bonitos e completos. Foi um tapa na nossa cara…

    Yoshi Itice: A gente tem que correr atrás, foi o que dissemos para nós mesmos naquele momento.

    MK: Temos que fazer uma coisa nessa qualidade também, foi o que pensamos! Pensamos em produzir um livro legal e estabelecemos como meta a produção da nossa HQ “Last RPG Fantasy” esse ano na Gibicon em Curitiba.

    YI: O Last RPG Fantasy é um livro jogo interativo.

    Vortex Cultural: Tipo aqueles do Steve Jackson que jogávamos na nossa infância? (risos)

    YI: Exatamente! Você vai escolhendo os rumos do herói e tem vários finais. Seu personagem pode morrer, vencer, ou não. A diferença é que ao invés do texto corrido como era com os livros do Steve Jackson, fazemos isso com a linguagem dos quadrinhos.

    Tivemos a oportunidade de conversar também com  Leonardo Melo,  roteirista de quadrinhos, cinema e um dos responsáveis pela revista Quadrinhópole. Queríamos saber a opinião do autor sobre o evento como um todo e sobre seu trabalho e fomos bem atendidos:

    Leonardo Melo: Sou roteirista, edito a Quadrinhópole desde 2006. Ao meu ver, a Gibicon é um espaço mega importante para os artistas independentes com o intuito de abrir espaço para mostrarmos nosso trabalho. No caso aqui, hoje, estou lançando o encadernado do Undeadman, que é meu personagem. Não apenas eu, mas todos nós precisamos desse espaço, que é imprescindível para nossa divulgação.

    Vortex Cultural: E o que você tem a dizer sobre a recepção do público no evento?

    LM: A recepção do público está bacana. Ontem, no primeiro dia, esperávamos um movimento menor e mesmo assim rendeu várias pessoas. Ontem choveu bastante ainda e curitibano não é muito chegado em sair de casa pra ir em evento (risos), mas mesmo assim teve bastante gente e a expectativa pro final da semana é que venha mais ainda.

    Leonardo está lançando o encadernado de seu personagem, intitulado Undeadman, que é um personagem de uma história de aventura. Um imortal, cuja história se inicia na Idade Média. “A ideia principal é que ele vá passando por momentos históricos da humanidade. Esse primeiro volume reúne todas as histórias da Idade Média, o próximo será da idade moderna e assim por diante”, conta Leonardo.

    Por fim, antes de nos aventurarmos nas filas quilométricas de autógrafos com grandes nomes das HQs como Renato Guedes, Carlos Magno, Rod ReisJoe Bennet, encontramos com o paulistano Gus Morais, mais um artista independente que estava lançando em Curitiba sua coletânea de tirinhas intitulada Privilégios. Gus esbanjou carisma e animação e prestou um pouco da sua experiência pessoal

    Gus Morais: É a primeira vez que venho visitar a Gibicon. A parte mais interessante, para mim, é que aqui é um ponto de encontro. Você observa o que os outros artistas estão produzindo e os modelos que eles estão seguindo. Pra quem produz para a internet como eu, é um ponto onde a gente cruza com as pessoas que estão experimentando coisas parecidas. Tem o espaço da venda, de encontrar novos leitores e isso é muito legal, mas acho que o principal (pra mim, sempre que vou em alguma feira do tipo) é o meu ponto de mutação que acontece na feira. Vejo o que os outros estão fazendo, outros trabalhos e o meu trabalho acaba mudando qualitativamente após o evento. Você tem uma proposta com uma história de um jeito específico, daí você vê uma pessoa com o trabalho diferente e isso acaba influenciando você. Tu acha aquele trabalho diferente, legal e tenta se arriscar em caminhos diferentes também. A HQ é um processo. Não é estática. Mesmo o Mauricio de Souza, que tem uma linha bem definida, ainda está experimentando maneiras diferentes de contar suas histórias. Sempre que eu vou na feira eu repenso caminhos e quase sempre as histórias acabam mudando um pouco de perfil e acho isso super positivo. Vem da convivência com o meio. Eu tenho um site (www.gusmorais.com) desde 2010 e ele concentra quadrinhos que eu faço pensado para o formato do blog (formato pergaminho que você baixa o scroll para fazer a leitura) e, depois de acumular diversas histórias de um ano e meio de produção, cerca de 30 histórias, que resolvi compilar em um trabalho de livro. Era o projeto desde o começo quando comecei a fazer webcomics. Sempre pensei em um trabalho que pudesse funcionar tanto para a web quanto para o papel. O livro está a venda no site e na Gibicon. A intenção é continuar publicando meus quadrinhos na rede e a cada um ano e meio, dois anos, fazer novas compilações de tirinhas, trazendo material novo. Esse é o plano por ora. Estou experimentando ainda (risos).

    E chegamos ao fim do segundo dia da Convenção Internacional de Quadrinhos de Curitiba. A atmosfera empolgante composta pelos artistas independentes, interessados em incentivar uma produção nacional, é um dos principais pontos de destaque do evento, com toda a certeza. O espaço de abertura que a Gibicon tem dado para essas pessoas é extremamente valioso, como ficou bem claro nos relatos acima, e deve continuar sendo incentivado incessantemente. Cada vez abrindo mais portas para mais autores de quadrinhos.

    Texto de  autoria Pedro Lobato.

  • GIBICON | Cor e Paixão pelas Histórias em Quadrinhos

    GIBICON | Cor e Paixão pelas Histórias em Quadrinhos

    E eis que finalmente se iniciou a tão aguardada Convenção Internacional de Quadrinhos de Curitiba, a Gibicon. Em sua primeira edição neste ano – considerando que a edição de 2011 foi chamada de edição 0 -, o evento conta com diversos debates, palestras, oficinas, exposições e sessões de autógrafo simultaneamente até o domingo (dia 28 de outubro).  Muito conteúdo para os fãs das histórias em quadrinhos, sem a menor sombra de dúvidas.

    Chegamos no Paço da Liberdade para conferir um dos debates e pudemos conversar um pouco com Juliano Lamb, um dos membros da organização do evento, que não escondeu seu entusiasmo com a edição deste ano. Evidenciou as grandes melhorias e o aumento exponencial da equipe, organização e dimensão do evento desde o ano passado para cá e ainda é otimista quanto ao futuro do evento. “A Gibicon é um evento de extrema importância para fazer com que quadrinhos sejam acessíveis a um público diversificado e não somente àqueles que estão acostumados com essa cultura. O evento tende a crescer cada vez mais, permitindo uma expansão cultural na cidade e atraindo cada vez mais pessoas”, diz Lamb.

    O entusiasmo de Juliano não era para menos, após seguir adiante para dar uma volta e conhecer a exposição “O Quadrinho Russo”, é facilmente perceptível o interesse de vários tipos de pessoas que se envolvem com essa forma tão peculiar de fazer arte.  Esta exposição é um ponto alto do evento, pois a Rússia passou por um período de estagnação da pesquisa estética das HQs, devido as proibições do governo comunista. Mesmo assim, ao observar obras de Askold Akishin, Egoroff, Lumbricus, Komardin e Surzenzo, visualizamos que por mais que tenha existido um hiato na história das HQs no país, os artistas fizeram e ainda fazem um excelente trabalho.

    Posteriormente a isso, nos dirigimos para o debate “Cor nas HQs”, contando com a presença de Rod Reis, colorista da DC Comics (tendo trabalhado nas revistas do Superman, Supergirl, Teen Titans e atual colorista do Aquaman e do Asa Noturna), Renato Faccini, colorista da BOOM! Studios (G.I. Joe, Farscape e Planeta dos Macacos), Marcio Menyz, coordenador e professor de colorização digital na Impacto Quadrinhos, além da presença do mediador Érico Assis, jornalista e tradutor de histórias em quadrinhos. Uma conversa completamente descontraída e animada se desenrolou por toda a extensão do debate. Cada um dos participantes contou um pouco de sua carreira pessoal, como fizeram para virar coloristas e não se conteram em contar histórias engraçadas da profissão. As histórias em quadrinhos são narrativas e os coloristas, enquanto parte da equipe criativa, ajudam a desenvolver a mesma. O colorista é aquele responsável em provocar uma imersão psicológica do leitor através da cor. Assim como o desenhista, aqueles também dão um toque interpretativo para as artes que conferimos nas HQs. Compararam inclusive com a fotografia e a sensibilidade que deve ter um colorista em observar uma paleta de cores e conseguir criar as melhores composições para os desenhos. Perguntados se gostariam de colorir os desenhos de Rob Liefeld, não exitaram em dizer que não o fariam em tom de gargalhada, com a exceção de Renato que disse que acharia uma experiência interessante. Todos do salão estavam completamente a vontade com os convidados e todos se divertiram bastante.

    Ao fim do debate, percebia-se o contentamento por parte das pessoas que ali estavam quanto ao conteúdo precioso de informações que ali foi divido. Logo após, corremos para o Memorial de Curitiba, com o intuito de verificar como andava o evento por lá. Vários estandes estavam montados, de várias editoras e revistarias. Tínhamos a presença da Itiban Comic Shop (loja especializada em HQ de Curitiba) e da Comix Book Shop (de São Paulo), representando os grandes comerciantes de quadrinhos, mas o destaque maior fica a cargo dos vários artistas independentes que estavam por lá divulgando e vendendo seus trabalhos. Pausa para algumas compras e trocar algumas ideias com os artistas antes da solenidade de abertura oficial da Gibicon no Solar do Barão.

    Isso é o que podemos dizer por ora do primeiro dia do evento. A atmosfera extremamente empolgante do local evidencia que o evento tem tudo para ser um grande sucesso novamente. Os fãs de quadrinhos com certeza vão estar muito agradecidos até o final dessa semana pela presença de um evento de tamanho porte na cidade de Curitiba.

    E o Vortex Cultural continua a jornada pela Gibicon!

    Texto de autoria de Pedro Lobato.

  • Crítica | Ted

    Crítica | Ted

    Ted

    Ted é um ursinho de pelúcia que encantaria qualquer criança, exceto pelo fato de xingar, ser arrogante e meio louco. Resultante de um daqueles desejos infantis que se tornam realidade nos filmes, Ted definitivamente é um brinquedo de adultos.

    Filme de estreia de Seth MacFarlane (criador dos aclamados desenhos adultos Family Guy, Uma família da pesada e American Dad!), Ted trata de John, um menino solitário que ganha um urso e faz um pedido para que ele fale. Seu desejo é atendido e os dois acabam passando para a fase adulta.

    O interessante é que o urso falante se torna comparável a uma pessoa. As pessoas de verdade se relacionam com Ted quase como se ele fosse um humano – inclusive, ele é uma ex-celebridade, já que fez muito sucesso na mídia quando “ganhou vida”.

    MacFarlane coloca neste filme a linguagem e as características de seus desenhos. Ted é machista, rude, preguiçoso, que vive xingando, bebendo e fumando maconha (Ted tem uma alma meio Charlie Sheen) e é o melhor amigo de John, que compartilha quase todas as características de Ted. O interessante é que o próprio MacFarlane faz a voz de Ted, e com muito brilhantismo.

    John (Mark Wahlberg) tem um trabalho entediante em uma empresa de aluguel de carros e namora Lori (Mila Kunis), que, ao contrário de John, é uma mulher bem sucedida que vive sendo assediada pelo próprio chefe e que se incomoda pelo fato de que John está estacionado mentalmente na adolescência. Ela deseja que seu namorado seja mais independente de Ted e que a acompanhe em seus objetivos.

    O filme se presta a piadas dos tipos mais variados, ligadas ao relacionamento cômico entre John e Ted. Mark Wahlberg está muito bem no papel de um homem que tem uma adolescência prorrogada por sua relação com Ted, o que é o ponto alto do filme.

    Durante o filme há a introdução de uma sub-trama que trata de um fã maníaco de Ted (Giovanni Ribisi), com um filho adolescente obeso (Aedin Mincks), que Ted comicamente trata como Susan Boyle. Pai e filho tentam sequestrar Ted. Esta sub-trama é a parte mais sem graça do filme. Sua existência serve unicamente para criar ação, o que reforça a suspeita de que o roteiro ficou sem ideias, já que o filme tem algumas outras partes pedantes, em que o roteiro perde o ritmo (principalmente nas partes em que mostra a tradicional crise de casal de comédias românticas).

    Um grande destaque é o fato de o personagem Ted ser inteiramente desenvolvido em computação gráfica – de forma primorosa, diga-se de passagem. Em entrevistas, MacFarlane falou sobre o processo caro e trabalhoso com que o urso foi digitalmente inserido no filme: “O meu conselho seria usar um fantoche, que teria sido mais barato, mais fácil e mais engraçado”. De certa forma, MacFarlane faz alusão ao filme Um Novo Despertar, não só nesta declaração mas também em algumas passagens do filme, em que John se vê em meio a uma crise de idade e dá vazão às suas angústias através de Ted.

    Ted pode ser considerado um filme de piadas, mas as piadas são engraçadas, e os efeitos especiais são tão críveis que até nos esquecemos de que não existem ursos de pelúcia tagarelas e debochados.

    Texto de autoria de Robson Rossi.

  • Resenha | Fade Out: Suicídio Sem Dor

    Resenha | Fade Out: Suicídio Sem Dor

    Certos temas precisam de uma certa sutileza na abordagem, tamanho o impacto que podem causar em algumas pessoas. Talvez um dos principais seja o suícidio, afinal, tirar a própria vida – por qualquer que seja o motivo – é algo assustador, que deixa qualquer pessoa próxima do suicida traumatizada e perplexa. Sem entrar em méritos de julgamentos de certo ou errado, Beto Skubs, Rafael de Latorre e Marcelo Maiolo criaram seu álbum de estreia para falar um pouco sobre tudo isso.

    Fade Out: Suícidio sem Dor nos apresenta Kurt, um jovem cheio de conflitos internos sobre sua vida e que queria colocar um fim em tudo se suicidando. Como Kurt (Cobain??) mesmo diz “…Eu queria terminar tudo. Sei lá por quê. Mas era isso. Acho que eu só não tinha mais vontade de estar vivo.”

    Kurt nunca se sentiu como um excluído da sociedade, não sofria de bullying e nem tinha uma mãe problemática. O ponto forte de Fade Out é justamente esse: mesmo utilizando um tema tão pouco abordado, os autores não se rendem a clichês do “jovem abandonado” pela família e pela sociedade, pelo contrário. Kurt é um cara sociável, tem namoradas, um ótimo relacionamento com a mãe, algo que por si só já não se enquadraria nos padrões de justificativas de algumas pessoas.

    Outro ponto interessante de Fade Out é sua narrativa. Logo na primeira página sabemos que o protagonista está chegando ao seu funesto momento, só não sabemos o que ocorreu para culminar naquilo, e isso é a parte mais interessante da história: acompanhar a trajetória do personagem até seu fatídico momento – mas, é claro, com ótimas surpresas pelo caminho.

    É importante ressaltar que o álbum não traz uma história depressiva sobre suicídio. Ele passa pelo tema e vai mais longe, sem falar que a narrativa é extremamente dinâmica, funcionando muitíssimo bem em uma adaptação para o cinema – aliás, Fade Out nasceu como um roteiro de cinema de Beto Skubs, que mais tarde foi transposto para os quadrinhos com a ajuda de Rafael De Latorre e Marcelo Maiolo.

    Os traços de De Latorre são de uma sutileza que se harmoniza com o roteiro de Skubs. Ao tratar de um tema “cabeludo” com esse, De Latorre tem um trabalho gráfico extremamente suave, que, por sua vez, combina perfeitamente com a paleta de cores de Maiolo: ele tinha tudo para utilizar cores que remetem a algo depressivo e triste, mas, pelo contrário, as cores dão um tom alegre e onírico à obra. Um trabalho de coesão perfeito entre os três artistas.

    Minha única crítica à hq é quanto ao uso de nomes de personagens em inglês. Não tenho nada contra isso, para mim ficaram claras as inúmeras influências à cultura pop que os autores colocam na história, mas isso acabou me tirando do foco em alguns momentos; talvez saber que a HQ era nacional tenha sido um fator primordial para me desambientar. Mas enfim, apenas encheção de saco de quem vos escreve.

    Fade Out – Suicídio sem Dor é um trabalho independente desses três autores que, acima de tudo, diz muito com pouco, sem precisar cair em dramalhões, já que a principal discussão levantada é a importância da vida, o desejo de ser útil e o valor da vida.

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  • Resenha | Lugar Nenhum – Neil Gaiman (1)

    Resenha | Lugar Nenhum – Neil Gaiman (1)

    Lugar-Nenhum

    No começo da carreira que o tornaria famoso – quando a obra Sandman ainda estava sendo publicada, mas ele ainda não era conhecido por suas outras obras fora dos quadrinhos -, o promissor Neil Gaiman seria contratado pela produtora britânica de TV BBC para ser roteirizar uma serie chamada Lugar nenhum, que estreou em 1996. Mas não é sobre essa obra que falaremos hoje.

    A série contou com restrições de orçamento e alguns enganos na produção, que podem ser notados principalmente pela qualidade da direção de fotografia, que não tem uma iluminação boa. A qualidade da filmagem também não é boa e os efeitos são feitos com carinho, mas sem dinheiro. Por causa disso, Neil Gaiman não gostou do resultado da série e sempre achou que poderia fazer algo melhor. E ele de fato fez, recriando a mesma obra em outras mídias, como HQs, e lançando também um livro, em 1996 (que chegou ao Brasil em 2005).

    O fato de querer criar uma história digna do que ele imaginou e bem melhor do que o modo como a série foi feita fez com que Neil Gaiman escrevesse o seu primeiro livro, incrivelmente adaptado do roteiro que ele tinha desenvolvido na série, que pouco tempo depois foi publicado com o nome também de Lugar nenhum.

    O livro demostra o estilo literário de Neil Gaiman, muito parecido com o que ele usa em Deuses americanos e em outras obras. Podemos ver a falta de informação sobre alguns elementos da história, como em muitos contos de fantasia clássicos. Pelo fato de não ser explicado o porquê e o como, em muitos momentos a história abre para o próprio leitor imaginar o passado de lugares e personagens, o que acaba tornando bem mais fácil de criar cenários interessantes para o livro. Esse recurso é muito bem utilizado no livro porque normalmente essa é a realidade de quem vive em uma cidade (porque, por exemplo, não sabemos quem é a pessoa que tem um nome em uma placa ou local da cidade), mas ele extrapola esse desconhecimento para conceitos de historias fantásticas. Por exemplo, existe um distrito em Londres chamado Angel Islington (Anjo Islington), então Neil Gaiman extrapola o nome do lugar e diz que realmente existe um anjo chamado Islington, e depois revela pela metade detalhes sobre o passado dele em pequenas conversas entre os personagens. Isso é bem usado para passar o clima de uma sociedade dentro de outra sociedade.

    O livro também conta com um o clima bem punk inglês, porque Neil Gaiman descreve tudo de forma bem suja, com um visual sempre em farrapos e um clima bem “do it yourself“. A obra adquire uma identidade única (uma fantasia punk), além do leitor sempre ficar imaginando o visual da protagonista de forma especial, já que ela é uma gracinha.

    Outra coisa a se destacar é o trabalho de usar o próprio ambiente de Londres, que tem milhares de referências locais muito legais – até porque Neil Gaiman é inglês. Além de já estar acostumado com o ambiente por ser natural da Inglaterra, ele faz um ótimo trabalho criando ainda mais conteúdo com esses ambientes, fazendo brincadeiras e trocadilhos com nomes de lugares e personagens da cidade, e dando um background que eu não sei se são contos malucos e lendas urbanas londrinas, ou se ele tirou tudo da cabeça dele mesmo. Isso tudo para transformar todos os lugares (isso mesmo, os lugares) em personagens interessantes, imagine os personagens normais…

    São legais as mensagens que o livro passa também: a existência de uma sociedade dentro de um sociedade, de pessoas esquecidas, porque simplesmente é mais conveniente esquecer essas pessoas. Mas, apesar de tudo, por eles serem esquecidos, eles acabam sendo mais livres do que as pessoas que vivem na Londres de cima, onde todos são presos aos seus itens de consumismo, ou a vidas que eles não conseguem largar ou se adaptar, como era o personagem principal. A história chama o leitor a refletir mais sobre o mundo à sua volta, mais localmente, e sobre suas histórias de certa forma esquecidas ou que fazemos questão de não saber.

    Quanto aos personagens, temos que o principal é o que representa o personagem que guia o leitor da melhor forma possível nesse universo. O personagem principal carece de uma personalidade mais forte, mas ele foi feito para representar o londrino médio, o leitor do livro, então não podia ser alguém muito diferente do normal. Ele tem algumas características que o tornam diferente das pessoas comuns, mas só dando a ideia de que algo o diferencia e que por isso ele vai entrar na história. Os personagens restantes são personificações de lugares ou de ideias, e eles são tão marcantes quanto pensamos que eles sejam, já que Neil Gaiman deixa muito da personalidade deles para que o leitor imagine.

    Esse livro tem uma história muito bem desenvolvida, e tudo se acerta de uma forma bem mais natural do que em outras obras de Neil Gaiman, como Deuses americanos. Como este é o primeiro livro de Neil Gaiman, em resumo, Lugar Nenhum é mais obrigatório do que outras obras do autor – em minha opinião, claro.

    Compre aqui.

    Texto de autoria de Psycho Mantys.

  • Crítica | Polissia

    Crítica | Polissia

    polissia

    Polissia (Polisse), filme francês de 2011, dirigido por Maïwenn Le Besco, roteiro também de Maïwenn em parceria com Emmanuelle Bercot, traz uma série de histórias baseadas na observação da própria diretora, ao departamento de crimes contra a criança, da polícia francesa.

    O filme tem um tom documental. Com a câmera sempre na mão e sem uma linha narrativa principal, Polissia alterna entre casos policiais, infelizmente tão comuns – basta ligar qualquer noticiário pinga sangue, para constatar isso. E cenas cotidianas da vida daqueles agentes de polícia, tanto com suas famílias, quanto entre eles próprios.

    Um dos grandes méritos do longa é o seu distanciamento daqueles casos escabrosos a que somos apresentados. Uma investigação de abuso sexual infantil, abordada de forma relativamente fria, sem tomar posição, apenas colocando os fatos, deixando com que o espectador forme sua opinião sobre aquilo que vê, apenas pelo fato em si. Sem forçar o tom. Sem um pré julgamento moral sobre quem está certo ou quem está errado. Isso é reforçado, por uma das vitimas de abuso, ao ser informada que o criminoso será preso. Faz uma pergunta simples: mas se ele é doente, porque vai para a cadeia e não para um hospital? Com isso, além de reforçar sua proposta de levantar questões ao público, o filme traz também um novo questionamento: quem realmente precisa ser salvo?

    As ações policiais são intercaladas quase sempre com cenas descontraídas das pessoas por trás da farda, seja dançando, contando piadas, ou em algum momento com a família. O objetivo com isso talvez seja mostrar como a exposição àquele tipo de violência, que gera revolta em qualquer pessoa, pode também nos tornar indiferente a ela. Indiferente, não no sentido de estar imune a ela, e não aflorar sentimentos com aquilo que acontece. Pois os policiais sentem, se envolvem. Mas sim, no sentido, de que para conseguir levar as suas próprias vidas adiante. Eles não podem se deixar envolver. Eles precisam esquecer daquilo que faz parte de suas rotinas, caso contrário não conseguirão ter uma vida realmente digna.

    Outro ponto a se ressaltar do longa, é quanto ao sentimento de injustiça, dentro da própria força policial. Algo tão importante como é a proteção à criança, muitas vezes é negligenciado, tratado como um departamento de menor importância. Um exemplo é quando precisam de um carro para salvar uma criança, mas este foi cedido para a divisão antidrogas. Ou até mesmo quando um abusador confesso, que tem conexões, contatos, faz pouco caso do seu crime, pois sabe que será absolvido. Isso nos traz um novo questionamento: tal negligência a esse departamento, seria apenas um reflexo da nossa sociedade? Ou também, seria esse pouco caso com os menores, um dos motivos de tanta violência futura? Afinal, sem uma proteção adequada a eles, quais os traumas que eles sofrerão e os impactos disso na sociedade como um todo? Mas novamente, o filme não toma uma posição, cabe a você refletir sobre o assunto. E sobre essa crítica aos valores da nossa sociedade.

    Além de seus temas, os personagens são outro ponto muito positivo de Polissia. Todos com uma personalidade desenvolvida, apesar do pouco tempo dedicado a cada um deles individualmente. Méritos para os atores, tanto os infantes quanto os adultos, com ótimas atuações. E méritos também para o roteiro, quase todo baseado em diálogos rápidos, que com pouco dito, conferem grande profundidade sobre os personagens.

    Outro ponto a se destacar, é a presença da própria diretora, atuando em Polissia. Ela interpreta uma fotógrafa, que está acompanhando aquele departamento de polícia. A personagem inicialmente tem distanciamento da equipe de policiais e de tudo aquilo que acompanha. Mas com o decorrer do filme, ela não consegue sair ilesa de tudo aquilo, e também acaba por se envolver. Isso claramente serve a dois propósitos, um deles é uma autorreferência de sua observação dos casos na polícia de verdade. E também de levantar como essa violência afeta àquelas pessoas que lidam com isso diariamente, e dizer que não há como não tomar posição sobre isso. Isso no contexto do filme, porém, não me pareceu uma escolha acertada. É uma das personagens menos desenvolvidas na trama, e com um pano de fundo que pouco acrescenta a tudo que é discutido e aos temas do próprio filme. Nada que torne o resultado final ruim, mas é um ponto a ser ressaltado.

    Polissia é um ótimo filme, humano, crítico. Tocante por seus temas, e não pela sua forma, que deixa que aquele que assiste desenvolva suas próprias emoções pelo que pensa da situação, e não por apenas exagerar no tom e levar o público para a direção que quer. E tratando ainda de temas tão delicados e de certa forma, revoltantes, como ele trata, é um mérito maior ainda, não cair pelo caminho fácil e barato de conquistar o espectador através do drama exagerado que não se faz necessário.

  • Review | 666 Park Avenue

    Review | 666 Park Avenue

    666 Park Avenue

    Eu tinha visto os teasers e trailers desta série e ela não conseguia me chamar muito a atenção. Um dia, de bobeira em casa, decidi baixar os dois primeiros episódios e conto aqui o que achei.

    Trata-se se um drama de terror concebido para aproveitar-se um pouco do sucesso de American Horror History. Então 666 Park Avenue tenta emular aquele clima de filme de terror da grande tela. Trata de um casal do interior (Jane e Henry) que vai a Nova Iorque para tentar a vida e consegue o emprego de zeladores do edifício residencial de luxo Drake (localizado no 666 Park Avenue), onde não sabem, mas o mal espreita e cada morador do prédio tem seus desejos realizados graças a um pacto feito com o Diabo, através do proprietário rico, elegante e ocultamente maligno Gavin Doran, que parece ter planos nada legais para o casal. Qualquer semelhança com o começo de Advogado do Diabo é mero aproveitamento da mesma ideia.

    No primeiro episódio, fiquei incomodado com os clichês de sempre, vistos em vários filmes e seriados: o casal do interior que se deslumbra com o local onde vão morar, com a cidade grande, com o glamour… e vão parar no covil de forças sobrenaturais. São tão perfeitos, tão inocentes, éticos, se amam tanto. Não sei porque o mal não se interessa por pessoas reais, com vícios e defeitos reais.

    Ainda no episódio piloto, somos introduzidos no edifício homônimo da série e a alguns de seus moradores. Logo fica claro que a série seguirá 3 arcos distintos: o arco do tipo “caso da semana”, onde algum morador bizarro é apresentado; o arco de “médio prazo”, onde algum mistério ou história é contado e seu desfecho será em mais de um capítulo; e o arco de “longo prazo”, que lida com a relação entre o casal bonzinho de zeladores, o edifício e seu maléfico proprietário (e sua mulher, igualmente misteriosa).

    Os efeitos especiais são bacaninhas, o roteiro e o desenrolar da história dão um pouco de sonolência. Nada é impactante, nada é novo, nada é maravilhoso nessa série. Seria uma série ótima para tapar buracos da grade de programação de alguma emissora, como a série do Cris tapa na Record.

    Não há nada amedrontador e, embora sejam apresentados alguns mistérios no segundo episódio, eles não são suficientes para prender a atenção de alguém.

    Acredito que 666 Park Avenue não passe da primeira temporada, não por ser muito ruim, mas por não passar a ser imperdível para ninguém.

    Texto de autoria de Robson Rossi.

    ERIK PALLADINO, SAMANTHA LOGAN, TERRY O'QUINN, RACHAEL TAYLOR, VANESSA WILLIAMS, DAVE ANNABLE, MERCEDES MASOHN, ROBERT BUCKLEY, HELENA MATTSSON

  • Filosofando o Pulp | Sobre o gostar

    Filosofando o Pulp | Sobre o gostar

    O objetivo desta coluna é escrutinar alguns pontos da cultura popular que adentramos, discutimos e vivemos. Alguns tão perceptíveis quanto seria um Olifante a alguns metros de distância, outros sorrateiros e quase intangíveis como um neutrino perpassando seus neurônios sem deixar marca. Almeja-se nunca apontar uma certeza, e se algum sucesso obtiver, será pelo turbilhão causado dentro deste sempre transcendente vórtice cultural…

    Filmes, livros, séries, música etc. Entre as diversas discussões que permeiam o mundo da cultura pop e todas as suas mídias, uma talvez seja a maior fonte de discórdia, debate e deliberações.

    O que a princípio soa como uma pergunta boba e inocente em uma conversa casual com amigos (e aquele filme, é bom mesmo?), esconde um complexo mecanismo humano de absorção cultural. Afinal, quão subjetiva ou objetiva é a nossa avaliação de uma obra artística? O que aquilo nos diz sobre a nossa personalidade, ou o que para alguns é ainda mais sério: O que aquilo nos diz sobre a nossa intelectualidade?!

    O filósofo escocês David Hume (1711-1776), em uma de suas obras mais importantes e conhecidas (Enquiry Concerning Human Understanding) discorre no ensaio Do Padrão do Gosto sobre essa busca mais do que natural do ser humano de tentar compreender e justificar qualitativamente o gosto humano e suas variações. Entre os diversos pontos levantados por ele, um interessante é acerca do sentimento ao experienciarmos uma obra, e do nosso juízo ao tentarmos explaná-la para outros. Basicamente Hume pensava que, antes de qualquer análise mais cuidadosa, a priori temos apenas o sentimento como parâmetro do gosto e, baseado nesse sentimento, prosseguimos com as explicações e o porquê de termos gostado de algo ou não.

    Muitas vezes travamos uma verdadeira guerra verborrágica (com amigos ou aqui no Vortex) em acaloradas discussões ao tentarmos fazer a conexão entre o que sentimos (apreciando uma obra artística) e o que racionalizamos sobre ela. Muitas vezes tentando decodificar a si próprio. Achar um sentido para ter tido aquele tipo de reação.

    O curioso é que muitas vezes somos incapazes de relacionar estes dois estados. Quantas vezes você não já se pegou dizendo algo como: “Não sei por que exatamente, mas não gostei desse filme”. Mesmo após explicações perfeitamente plausíveis sobre a técnica do filme como um todo, sobre a qualidade da direção etc. Mesmo depois de demonstrado em detalhes que você deveria SIM gostar daquele filme, caso tenha um mínimo de bom senso, você não consegue ” perceber ” isso, sentir isso de fato. Claro que, se apreciássemos uma obra através da razão apenas, bastaria isso para nos convencer, ou seja, uma boa explicação. Felizmente para a longevidade dos debates acalorados aqui no site, isso não é verdade. O mesmo acontece na direção contrária: me refiro ao que chamamos em inglês de guilty pleasure. Quando se gosta de algo que mesmo você consegue perceber que é de extremo mau gosto, ou pelo menos de qualidade duvidosa. Mesmo sabendo de inúmeras razões para que qualquer ser humano inteligente ache aquele filme uma porcaria, você aprecia aquela obra, se diverte com ela e por aí vai…

    Listamos os pontos negativos e positivos, detalhes técnicos, padrões encontrados etc. Mas será que é por causa desses pontos que realmente consideramos algo “bom”? Ou estamos apenas justificando um sentimento com opinião já formada?

    Os adjetivos observáveis são realmente a causa do que gostamos, ou é o gosto já decidido que nos faz notar algumas qualidades e deixar de enxergar os defeitos daquela obra?

    Faça este exercício e tente analisar o que você realmente prioriza na sua avaliação. Garanto que algumas surpresas surgirão em ambas as direções: “análises detalhadas” VS “sentimentos primordiais”.

    Texto de autoria de Amilton Brandão.

  • Review | BIT.TRIP.RUNNER

    Review | BIT.TRIP.RUNNER

    BIT.TRIP.RUNNER fará você chorar sangue, ou lágrimas de unicórnio. Tudo vai depender se você conseguiu ou não passar da fase. O quarto jogo da saga BIT.TRIP é o primeiro em que você controla o Commander Video. Num jogo em que a dificuldade e a repetição serão levados a níveis extremos, mas que no final renderá aquela felicidade e sensação de dever cumprido, por bater uma fase depois de 150 tentativas.

    BIT.TRIP.RUNNER é um jogo de plataforma, side scroller, on-rails, rítmico (esses gêneros estão cada vez mais complexos). Com a jogabilidade parecida com Canabalt, de iOS e a com a versão gratuita em flash (http://www.adamatomic.com/canabalt/). O funcionamento é basicamente um cenário que vai passando em uma velocidade rápida com alguns obstáculos, dependendo de qual for esse obstáculo, você tem que pular, agachar, chutar ou, ser arremessado por uma mola. Além dos obstáculos, você tem barras de ouro espalhadas e, para fazer 100% da fase, deve pegar todas. A velocidade da passagem da fase (sidescrolling) é bem rápida, porém constante. E exige do jogador reflexos e raciocínio muito rápido.

    Se em BIT.TRIP.BEAT a referência e a releitura era total de Pong, nesse aqui os jogos de plataforma clássicos até a era 8-bits são a bola da vez. Com destaque maior para Pitfall, e não por acaso, ao completar uma fase pegando todas as barras de ouro, você joga um bônus round retrô. O cenário moderno, 2.5D pixelado dá lugar a floresta com gráfico 2D total, do clássico de Atari. Até uma barra inferior idêntica às telas de apresentação dos jogos de Atari eles incluíram.

    Os três jogos anteriores da série BIT.TRIP tinham uma estrutura de fases parecida, apenas três mapas, mas com duração bem extensa em cada um deles. Para não tornar um jogo praticamente impossível de ser batido por um ser humano com vida além do video-game, RUNNER tem três cenários cada um com 11 fases e um chefe final.

    A trilha sonora, como de praxe na série, é ótima, desenvolvida pela própria produtora mas com algumas inclusões da banda especializada em chiptune Anamanaguchi, ela funciona perfeitamente pra dar todo o tema retrô moderno que o jogo se propõe, com a combinação de 8-bits com eletrônico contemporâneo. Além disso, o ritmo é fundamental, não diretamente no gameplay, mas está muito mais ligado ao acompanhamento do que você faz. Um salto sobre um obstáculo tocará uma nota, uma barra de ouro, outra nota e assim por diante. Além disso, as músicas começam bem simples no início de cada fase, e vão ganhando complexidade conforme você pega algo que parece uma peça de tetris que ficam espalhadas pela fase. Esse power-up também tem influencia na pontuação do level.

    Sobre os gráficos, com elementos 2.5D todo em pixel art, são absurdamente belos, e tal como a trilha e efeitos sonoros, combinam perfeitamente para criar essa atmosfera new retrô que o jogo quer nos passar. Um fã de Pixel Art e jogos vintage, com certeza irá gostar só por esse apelo. Porém, o visual pode trazer um problema. Com o ritmo rápido da rolagem da tela, e dependendo do monitor em que você está jogando, você pode ficar com aquele tipo de sombra na vista, e que irá causar tonturas ou até náusea. Portanto se você já teve algum desses problemas, fique ligado.

    exemplo dos gráficos e cenários belos de bit trip runnerPixel art moderna, de primeira.

    Agora o que pode ser o ponto mais alto ou mais baixo de BIT.TRIP RUNNER, dependendo do ponto de vista, é a jogabilidade e a dificuldade. Eu disse anteriormente que as fases não eram tão longas. Mas ainda assim, para um jogo sem nenhum checkpoint, algumas delas são muito longas. Sem checkpoint significa que você deve ser perfeito ou algo próximo disso, e o tempo todo vai ser exigido de você essa perfeição. Errou no último momento da fase, ou do chefe (que também seguem a mesma estrutura), começo da fase, tudo de novo.

    Eu dei o exemplo de Canabalt para especificar o tipo de jogo, porém aqui as fases não são randômicas, ou seja, dependendo da dificuldade da fase, é bem provável que você tenha que tentar tantas vezes, chegando a decorar cada movimento, e ação a ser feita. Alguns defendem que um jogo desse deveria ter algum tipo de jogo desses deveria ter checkpoints em pontos chaves da fase. Eu discordo e muito, acredito que isso quebraria toda a proposta de RUNNER.

    É claro que todo esse desafio tem seu lado bom e seu lado ruim. O ruim, obviamente é a frustração, e acredite, esse jogo vai te dar. Vontade de jogar o controle na parede, raiva, crise de choro, é exatamente isso que ele quer fazer com você, lembrando e muito os próprios jogos que ele faz referencia, em que facilidade não era a proposta. O lado bom de tudo isso, é que depois de 1297 tentativas, 314 delas que você tinha prometido que era a última se não passasse. Vem junto aquela felicidade de desafio cumprido, uma sensação de derrotar o game designer, que sinto falta em muitos jogos atuais. Ainda relacionado a dificuldade do jogo, por mais alta que ela seja, existe uma curva de aprendizado muito bem desenvolvida, que faz com o que jogador aprenda todas as habilidades que o jogo requer naturalmente. E que mesmo assim não o torna fácil.

    Commander VideoCommander Video o tempo todo na tela

    Considerando tudo isso, se o que você quer é apenas diversão com um jogo, BIT.TRIP RUNNER não é pra você. Porém, se o que você procura é um jogo desafiante, com diversos elementos clássicos, com uma parte visual e sonora incrível, com certeza é um jogo mais do que indicado.

    BIT.TRIP RUNNER é desenvolvido pela Gaijin Games, distribuído pela Aksys Games. Foi lançado em 14 de Maio de 2010 para Wii via WiiWare. E está disponível para Nintendo 3DS, Windows, Mac e Linux, por compra direta ou Steam.

  • Review | The Tiny Bang Story

    Review | The Tiny Bang Story

    The Tiny Bang Story é um jogo casual, independente, curto, simples e despretensioso. Ao mesmo tempo é bonito, bem trabalhado, fazendo um jogo de quebra-cabeças, que usam realmente quebra-cabeças (daqueles de peças que montávamos com a família), além de elementos visuais para compor os desafios do jogo.

    O jogo não tem algo que podemos chamar de história, apenas o chamado Tiny Planet é atingido por um “meteoro”, e você vai tem que salvar os habitantes, resolver os puzzles, e assim, consertar máquinas e mecanismos para que a vida volte ao normal. Ele é divididos em 5 capítulos e perto de 30 mini-games, que variam desde coletar bolas, que ficam muito bem escondidas no cenário, até jogar um tipo de mini-game retrô, a lá River Raid, para que um avião chegue até você.

    Todos os cenários e personagens são desenhados a mão, numa arte que remete inspirações claras de Braid. Tudo muito bonito, bem feito e detalhado, que dá vontade de parar por algum tempo e apenas observar a arte do cenário. O cenário inclusive, é parte quase sempre dos próprios quebra-cabeças, que são baseados na maioria das vezes em coletar itens escondidos, ou espalhados pelo mundo, e com os itens, um mini-game final para consertar as máquinas.

    A trilha sonora é composta por 10 músicas instrumentais, calmas, que fazem um bom trabalho ao compor a atmosfera do jogo, ajudando na concentração para resolver os desafios. Não é uma trilha grandiosa, mas cumpre bem a proposta do jogo, e pode ser baixada de graça, no site oficial.

    O nível do desafio é bem “casual”. Em sua maioria, simples, mas que não tira o interesse do jogador, por ser fácil demais. Claramente aqui o objetivo é fazer um jogo para todas as idades, muito mais focado nesse aspecto de atmosfera e visual que o jogo cria, do que fazer o último dos jogos de puzzle. Pensando por esse lado, é satisfatório. Mas para quem procura algo mais difícil, com brain teasers de verdade, não é a melhor opção.

    Sem um personagem fixo em tela que você controle, talvez por uma escolha buscando a simplicidade de controles, em que apenas clica no que vê. Ou também, para deixar o foco todo para os belos cenários. Mesmo assim, o jogo se torna um pouco genérico, com pouco para se identificar a não ser a arte. E com isso o fator replay beira a 0, afinal o jogo não traz nenhum apelo para que retome os puzzles já completados anteriormente.

    Para concluir, The Tiny Bang Story é um jogo que cumpre sua proposta: um jogo adventure, de puzzles e casual. Com algum desafio, mas nada que marcará época. Quase nenhum incentivo para que o jogador retorne depois de finalizar a história, a não ser pela bela arte do jogo. E um gameplay entre 3 a 4 horas. Tudo isso me faz pensar que o preço do jogo para PC é exagerado (10 dólares, via Steam no momento da publicação), talvez um preço de 3 dólares (preço do jogo na App Store), me fariam recomendá-lo. Outro ponto, é que enxergo Tiny Bang Story como um jogo que se enquadra melhor, jogado a partir de um tablet, do que no PC, até pelo seu tom mais casual.

    The Tiny Bang Story é desenvolvido pela Colibri Games. Foi lançado em Abril de 2011. Está disponível para as plataformas: PC (Steam), Mac (Mac App Store), e iPad.