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  • Review | The Newsroom – 1ª Temporada

    Review | The Newsroom – 1ª Temporada

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    The Newsroom estreou em junho desse ano na HBO americana e trouxe Aaron Sorkin de volta à televisão. O premiado roteirista de A Rede Social e O Homem que Mudou o Jogo tornou-se conhecido por seu trabalho em The West Wing e agora traz para uma série boa parte dos elementos que se tornaram sua marca.

    The Newsroom foca em Will McAvoy, um âncora de televisão tido como absolutamente inofensivo, que se vê afastado por conta de uma crise nervosa, e ao retornar ao estúdio, descobre que toda a sua equipe foi reformulada. Como chefe da nova equipe está Mackenzie MacHale, ex-namorada do protagonista, que o convence a iniciar o que ela chama de jornalismo 2.0.

    Mackenzie quer trazer os fatos, a relevância e a coragem de volta ao jornalismo. McAvoy passa a cobrir política com uma mão de ferro, e torna-se de repente o âncora mais incômodo da televisão americana.

    Os conflitos gerados por essa mudança são o motor principal da série, mas é a construção de personagens que realmente chama a atenção: eles são complexos, falhos e consideravelmente reais. Ao longo dos episódios, a personalidade de Will vai sendo construída nos mínimos detalhes, assim como sua relação com Mackenzie. O talento de Sorkin para diálogos proporciona carisma ao grupo de jovens empregados do jornal.

    São os diálogos e o realismo dos personagens que equilibram os momentos em que The Newsroom soa utópica ou piegas. Sorkin parece ter consciência de que esse jornalismo é praticamente impossível e de que sua série pode soar como uma palestra motivacional: é dito várias vezes que o projeto não vai dar certo e Mackenzie convence Will a tentar citando Don Quixote, o maior símbolo de utopia patética da literatura mundial.

    The Newsroom é uma série de Aaron Sorkin em diversos aspectos, sendo o mais gritante deles a capacidade de construir grandes momentos a partir de trivialidades, e equilibrar esses momentos com bons diálogos e personagens. A tensão e os conflitos foram bem administrados e o fim da primeira temporada inevitavelmente deixa o espectador ansioso para a segunda.

    Texto de autoria de Isadora Sinay.

  • Resenha | One-Piece

    Resenha | One-Piece

    One-pieceEm um mundo em que praticamente 90% dele é água, navios se tornam muito importantes, e onde a maior parte dos transportes é feita de navio, é claro que haveriam piratas, e é neste mundo que se passa One-Piece.

    Mangá e Anime criado por Eichiro Oda, mangaká já premiado antes por Wanted, conta a história de Luffy, O Pirata de Chapéu de Palha, começando sua vida como pirata, sonhando ser o rei dos piratas. A motivação é bem simples, houve um homem que recebeu o titulo de “Rei dos Piratas”, chamado Gol D. Roger, quando finalmente capturado pela marinha, esta achando que isso poria um fim na era dos piratas, ele sorri embaixo da guilhotina e diz: “No final da Grand Line eu escondi o maior tesouro do mundo, o One-Piece, ele está lá e será de quem chegar primeiro”, e isso dá inicio a uma nova era de piratas.

    O estilo da narrativa muda um pouco ao longo da história, começa um tanto quanto infantil e tende a evoluir para mais juvenil, e embora às vezes pareça que vai caminhar para um lado mais sombrio, acaba não indo muito.

    Antes de falar de personagens é necessário falar das Akuma no Mi, as frutas do demônio. Frutas que ao serem comidas dão poderes específicos, porém o custo desses incríveis poderes é o fato de que você não pode ficar com água acima do joelho ou entrará em estado de choque. Alguns dizem que não é um poder muito útil para um pirata, mas tem gente que corre atrás desses poderes. Luffy foi um que comeu uma dessas, a Gomu Gomu no Mi, a fruta da borracha e se tornou um homem feito de borracha. Entre outros usuários de Akuma no Mi famosos temos Smoker, cujo nome é seu poder, um homem fumaça, “FireFist” Ace, homem fogo, e por aí vai. Não há limite para o que pode surgir, já apareceram poderes loucos e alguns comuns, a única coisa igual é a fraqueza a água e a “seastone”, que é uma pedra que desativa os poderes.

    E agora podemos falar dos personagens, a tripulação do Chapéu-de-Palha são os personagens principais do mangá: Luffy, Zoro, Nami, Usopp, Sanji e outros que vão aparecendo ao longo da jornada são personagens simples e caricatos. Não são personagens “reais”, porém tem suas motivações bem trabalhadas, até porque geralmente cada adesão a tripulação é acompanhada de um arco ligado ao passado do membro e assim sua motivação para se juntar ao Luffy. Porém vale citar, durante muito tempo eu achei que Luffy ia ser um personagem que sofreria do efeito Goku, não importa quanto tempo passasse ele não teria evolução, seria sempre o mesmo psicologicamente. Felizmente isso não ocorreu, embora pareça que não houve mudança, nos últimos capítulos dá pra notar a diferença de suas ações e pensamento, embora não muito.

    O traço é infantil, redondo e o que é comumente ligado a arte de Anime, mas não chega a incomodar e com o tempo ele melhora, nas ultimas edições do mangá ele tem saído limpo, sem rabiscos e com bastante detalhes.

    Como disse antes, o tom da narrativa muda depois de certo tempo, mais precisamente depois do arco de Skypeia, no arco chamado Water Seven que tem uma das cenas mais emblemáticas do mangá/anime. Então se vai ver/ler recomendo que leia pelo menos até aí, embora até ai já seja bastante coisa.

    One-Piece é uma história aclamada por fãs e crítica, situada há muito tempo no top 5 de vendas e audiência no Japão, tanto sucesso não vem por nada. Uma excelente história de aventura, não tenha medo de embarcar nessa (essa não podia faltar).

    Texto de autoria de André Kirano.

    One-Piece

  • Resenha | Whiteout: Morte no Gelo

    Resenha | Whiteout: Morte no Gelo

    Quando saiu o filme Whiteout (2009, Dominic Sena), traduzido aqui (e não menos problemático por isso) como Terror na Antártida, o filme me conquistou simplesmente pelo local onde se desenvolvia a premissa: a Antártida. Isso mesmo, você não leu errado, o filme se passa na Antártida. Eu nunca tinha visto nenhum filme policial se passar por lá e explorar tudo de inóspito que o ambiente em particular tem a oferecer.

    Infelizmente, o roteiro do filme é falho, e a direção insegura aliada à atuação fraca dos atores contribuiu para que o filme fosse fraco. Felizmente acabei descobrindo tempo depois que o filme era baseado na Graphic Novel de Greg Rucka (história) e Steve Lieber (arte). Acabei conseguindo ler o material que saiu por aqui pela Devir sob o nome (menos problemático, mas ainda correto) de Morte no Gelo (tradução: Kleber de Souza), que me surpreendeu bastante. Vamos a ela.

    Curta sinopse: vivendo na Antártida, na base americana de Amundsen-Scott, a agente americana Carrie Stetko começa a investigar uma série de assassinatos junto da agente inglesa Lily Sharpe.

    O roteiro de Greg Rucka consegue ambientar e dar credibilidade ao seu enredo policial fora dos centros urbanos, tão comuns em enredos do gênero, e seu ponto forte é explorar toda a peculiaridade que existe na Antártida e que tanto atrapalha a protagonista, incluindo aí o “whiteout” que dá nome à obra (espécie de nevasca absurda provocada por ventos de mais de 300 km/h, que levanta o gelo acabando com qualquer tipo de visibilidade).

    Outra grande sacada é a protagonista: Carrie Stekto não é uma agente comum, atormentada pelo seu passado e com as suas idiossincrasias que a tornam tão real quanto qualquer um de nós. Rucka também não teve medo de fazer sua heroína sofrer, e isto, em época de publicações como Guerra dos Tronos por aqui, é admirável.

    Steve Lieber consegue retratar os interiores, principalmente das instalações militares, com boa composição de imagens: seu traço se torna mais descritivo, porém usando sempre as sombras a seu favor. Quando retrata os exteriores, a descrição dá um pouco de espaço ao contraste entre o céu e a neve. Já quando retrata exclusivamente o gelo, ele é livre, dando ênfase a tudo que não for branco, creio eu para dar a sensação de se estar perdido, de “falta de chão”. Seu ponto alto é a composição nos “whiteouts” e também durante as lutas, conseguindo dar personalidade a cada cena com seu traço.

    Por fim, a sábia escolha do preto e branco em um ambiente como a Antártida retrata com competência toda a premissa da obra: como sair de um labirinto sem enxergar direito?

    O único ponto negativo que eu destacaria é que a trama de inovadora tem pouco, principalmente em relação aos enredos policiais, chegando a ser previsível em alguns momentos. Mas nada que impeça uma boa apreciação aos amantes do gênero.

    Louvável o esforço da Devir em trazer para o Brasil uma Graphic Novel de alta qualidade, tanto de impressão quanto de material artístico.

    Vale a leitura? Sim, principalmente se você quiser fugir um pouco dos quadrinhos de super heróis e ler algo diferenciado e bem retratado em um ambiente natural que estamos tão pouco acostumados a ver em qualquer mídia, ainda menos nos quadrinhos.

    Texto de autoria de Pablo Grilo.

  • Anotações na Agenda 11 | Uma questão de estofo

    Anotações na Agenda 11 | Uma questão de estofo

    Sincronizem suas agendas. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Rafael Moreira (@_rmc), Jackson Good (@jacksgood), Pedro Lobato (@PedroLobato), Amilton Brandão (@amiltonsena) e Bruno Gaspar se reúnem para comentar do feedback dos ouvintes dos dos últimos podcasts. (mais…)

  • Resenha | Morte no Bronx (Vertigo Crime)

    Resenha | Morte no Bronx (Vertigo Crime)

    Morte No Bronx

    Criado em 2009 como extensão do selo com mesmo nome, Vertigo Crime é direcionado ao universo das histórias policiais de crimes e investigações. Publicadas em preto e branco, em histórias completas e fechadas, o selo reúne talentosos escritores e desenhistas, lhes dando maior possibilidade de produzir um enredo inédito sem amarras de cronologia.

    O selo é uma evidente homenagem as histórias pulp americanas. Surgido em meados de 1930, o novo gênero da literatura policial conhecido como noir – negro, em francês – encontrou na América decadente de Tio Sam o espaço necessário para se desenvolver e se popularizar. Foi a época em que detetives famosos surgiram nas mãos de grandes escritores, entre eles Dashiel Hammett e Raymond Chandler, compostos de maneira diferentes daqueles vistos em história de enigma. Eram homens marginalizados, presos a moral por um fio cambiante que nunca deixavam os vícios de lado: bebida, cigarro ou mulheres.

    A New Pop Editora coloca no mercado brasileiro duas dessas histórias, além de confirmar mais quatro – das treze existentes – para lançamento futuro. Escrito por Peter Milligan (“Alvo Humano” e “Greek Street”), presente na Vertigo desde sua criação, e desenhado por James Romberger (“Seven Miles a Second”), o escolhido para estrear o selo no país foi Morte no Bronx.

    A trama gira em torno de gerações da família Keane, compostas por policiais e marcada pela morte de um deles e o desaparecimento de um membro da família. Decepcionando as gerações anteriores, Martin Keane é um escritor que vive em crise com seu trabalho, devido a má recepção de seu segundo romance. Quando sua esposa, Erin, desaparece, Martin desmorona e se volta ao passado descobrindo que os segredos da família podem ser responsáveis pelo desaparecimento de sua mulher.

    Durante a leitura acompanhamos duas jornadas distintas. A investigação de Martin sobre seu passado e a reconstrução de sua força como escritor. Alternando entre a investigação própria e o romance que desenvolve a partir dela. O diferencial deste enredo é que a graphic novel é entrecortada por capítulos narrativos do livro que escreve. Promovendo um diálogo explícito com a própria narrativa policial.

    A divisão entre prosa e quadrinhos é composta para criar a tensão necessária entre cada foco de visão, alternando-as em momentos chaves da história, conduzindo com talento o elemento oculto da história que se revela somente no final.

    A edição brasileira tem bom acabamento e tamanho, remetendo-se também no elemento físico aos livros de bolso do gênero que, nos Estados Unidos, foram fonte de muitos autores policiais. Há raros erros que passaram pelo revisor e o preço é convidativo, sendo uma boa opção para quem gosta de quadrinhos, mas não acompanha séries mensais, e admira a literatura policial.

    Além de Morte no Bronx, a editora lançou Cidade da Neblina, de Andersen Gabrych e Brad Rader.

  • Crítica | Os Mercenários

    Crítica | Os Mercenários

    expendables

    Stallone está de volta e, com ele, toda a truculência dos brucutus dos anos 80, que tanto nos proporcionaram entretenimento. Após alguns anos de ostracismo, Sylvester Stallone conseguiu se renovar ao retornar às telas dos cinemas com Rocky Balboa, reinventando não apenas seu personagem mais conhecido – tachado por muitos como ultrapassado e parte de uma lembrança já esquecida -, como também ele próprio.

    Em 2010, Sly abandonou completamente o aspecto intimista contido em Rocky Balboa ou até mesmo Rambo IV, que mesmo com seu roteiro raso ainda proporcionava reflexões acerca da temática política abordada e uma interessante conclusão na construção de um personagem criado ao longo do tempo. Em Os Mercenários temos um retorno aos filmes de ação que o consolidaram como um ícone anos atrás e, acima de tudo, uma grande homenagem ao gênero que o consagrou.

    E para esse retorno aos “velhos tempos”, Stallone convidou um time de peso para participar do elenco. Entre eles temos Dolph Lundgren (o eterno Ivan Drago), Mickey Rourke, Jason Statham, Jet Li, Terry Crews, os lutadores Steve Austin e Randy Couture, Eric Roberts e a brasileira Gisele Itié. Além dos já citados, muitos outros nomes foram cogitados, mas sem dúvida o ponto alto do longa são as aparições de Arnold Schwarzenegger e Bruce Willis em uma reunião com Stallone, em que todos eles se auto-satirizam em um diálogo cheio de tiradas sarcásticas.

    É bom deixar claro que o roteiro de Os Mercenários está repleto de clichês dos filmes do gênero, mas a proposta é justamente essa: ser um bom filme de ação e, acima de tudo, não se levar a sério; afinal, o próprio título original já deixa isso claro (The Expendables = Os Descartáveis). Os Mercenários nada mais são do que um grupo de especialistas contratados pelo governo, ou quem quer que pague, para realizar trabalhos que ninguém mais quer fazer.

    O grupo é liderado por Barney (Stallone), que é contratado para derrubar um governo ditatorial na América do Sul. Ao chegar no país, o grupo percebe que a missão não seria tão fácil quanto o esperado e decidem não aceitá-la, mas o personagem de Barney se apaixona pelo seu contato no país, Sandra, personagem vivida pela Gisele Itié, e decide levar a missão até as últimas consequências.

    Como já falado, a trama é simples, girando em torno da remoção do Ditador Garza (David Zayas), da lealdade dos companheiros de Barney e de seu amor por Sandra. Apesar de uma motivação um tanto medíocre, Stallone traça uma linha entre os filmes de ação dos anos 80 e seu novo longa: se antes a motivação desses personagens estava apenas em suas convicções políticas, aqui temos o amor repentino e o companheirismo de seus parceiros, deixando de lado o discurso panfletário para ser apenas um grande blockbuster.

    O ponto forte do elenco fica por conta de Statham, Rourke e Jet Li, que se mostram carismáticos, além do próprio Stallone, que, apesar de toda sua deficiência, convence com toda sua canastrice. Os demais personagens são bastante inexpressivos, inclusive Gisele, que tem função única de servir como exaltação à beleza feminina e nada mais.

    A direção tem algumas tomadas aéreas e de explosões muito competentes, além de um um close-up durante um momento bastante interessante do personagem do Mickey Rourke, mas para por aí. No geral, ela peca pelo excesso ao tentar filmar cenas de ação desenfreada. Convenhamos, Stallone não é um Paul Greengrass, e as tomadas soam confusas, dificultando o acompanhamento dos movimentos em certos momentos.

    Os Mercenários não veio para reinventar a roda do cinema de ação, mas é ótimo rever um time desse calibre não se levando a sério, rindo deles próprios e, diferente do seu título original, ele não é descartável.

  • Crítica | 360

    Crítica | 360

    360

    Fernando Meirelles ganhou projeção mundial em 2002, quando Cidade de Deus tornou-se um relativo sucesso de bilheteria na França e foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Depois disso, o diretor se focou em co-produções entre sua produtora brasileira e estúdios de Hollywood; 360 é resultado de um desses esforços conjuntos.

    O filme apresenta vários núcleos localizados em diferentes partes do mundo, que se entrelaçam formando uma espécie de ciclo de relações humanas. Há a moça eslovaca que se prostitui, o casal inglês em que a mulher tem um caso com um fotógrafo brasileiro, a namorada do fotógrafo que o abandona e volta para o Brasil e o senhor em busca da filha desaparecida.

    À primeira vista o filme se parece incomodamente com Babel, mas Meirelles, ao ser menos pretensioso, acerta mais do que Iñárritu. As histórias contadas aqui não falam de grandes eventos ou questões mundiais, mas são o retrato de pessoas comuns, narrativas íntimas e delicadas que se entrelaçam de forma natural. A estrutura do filme, que apresenta cada núcleo como um episódio ao invés de ir e voltar várias vezes entre eles, também funciona melhor.

    O cinema de Meirelles sempre olhou para o cinema marginal brasileiro e a nouvelle vague francesa, e essas referências se manifestam aqui na simpatia por alguns personagens do “submundo”, na fotografia granulada e no ambiente cru que abrem o filme e, principalmente, em alguns recursos de câmera e montagem. Mas, para um diretor que vem de movimentos que romperam de forma tão forte com o cinema clássico, falta ousadia em 360. Desde a beleza da fotografia até a resolução das histórias, tudo parece correto demais, higiênico e bem resolvido demais; falta no próprio filme o caos que ele busca retratar.

    360 fala de pessoas quebradas, angustiadas, de partes que faltam, e de busca. Cada um dos personagens tem o sentimento de algo perdido e os encontros raramente acontecem como esperado. No entanto, essa sensação de um mundo desencontrado e um pouco fora do eixo não se traduz no filme – nem esteticamente, nem no tratamento da narrativa. Falta o encontro entre tema e forma que Meirelles alcançou em Cidade de Deus e mesmo em O Jardineiro Fiel.

    Além disso, as histórias são irregulares: a das moças eslovacas é consideravelmente melhor explorada e desenvolvida que as outras. Algumas ficam soltas, outras um pouco sem sentido porque falta profundidade e sutileza. No caso do núcleo protagonizado por Anthony Hopkins e Maria Flor, a atuação fraca dela prejudica o que poderia ser o melhor momento do filme.

    360 não é um filme ruim: é um filme bom nos seus melhores momentos e regular quando erra, mas é um filme esquecível. O conceito é interessante e funciona, a fotografia é excelente e a direção de Meirelles é eficiente, mas falta algo que impressione e marque o espectador.

    Texto de autoria de Isadora Sinay.

  • Crítica | Os Mercenários 2

    Crítica | Os Mercenários 2

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    Quando Sylvester Stallone decidiu não dirigir a sequência de seu sucesso de 2010 (ele passou o cargo para Simon West e apenas co-assina o roteiro), deve ter pensado em ter menos trabalho e mais diversão. Isso já entrega o tom de Os Mercenários 2: muito mais do que o primeiro filme, esse mergulha com gosto na auto-ironia e se assume de vez uma comédia, na qual a ação é apenas uma desculpa pra toda a galera se divertir fazendo o que mais gosta.

    A história é o mais simples e clichê possível. Após uma missão aparentemente fácil acabar muito mal, o bando de Barney Ross sai em busca de vingança, aproveitando o embalo pra salvar um inocente vilarejo do Leste Europeu – afinal, eles são os mocinhos: matam geral, mas só quem merece. O plot envolve qualquer coisa relacionada a armas nucleares soviéticas, só pra ajudar na cara de anos 80 do filme, mas a verdade é que o roteiro parece algo escrito às pressas durante as filmagens das cenas de ação, só porque alguém ali lembrou que precisavam de uma “liga” entre elas.

    E, para desespero da ala hipster, isso não tem importância diante do que o filme se propõe a fazer, não se levando a sério em (quase) nenhum momento. Diversão honesta, regada a tiroteios nos quais a contagem de corpos chega a níveis astronômicos e piadinhas e mais piadinhas sobre as carreiras e as idades dos envolvidos. Ainda que visualmente este fique aquém do antecessor, em termos de impacto massa véio, a pegada humorística e as participações mais especiais acabam compensando.

    Falando sobre o elenco (até porque não há muito mais o que dizer sobre o filme), nosso herói Sly não seria ele se não jogasse uma carga dramática em seu personagem, basicamente por conta do novato sniper vivido pelo irmão do Thor (que não é o Loki), o que resulta num problema, nem tanto pela execução mas pelo fato de isso destoar de todo o resto no filme.

    Jason Statham mais uma vez co-protagoniza e garante os bons momentos de porradaria ninja, já que os outros se dedicam mais a atirar. E também porque Jet Li apareceu só pra constar, imagino que estava obrigado por contrato. Dolph Lundgren é o símbolo maior do novo direcionamento, pois deixa completamente de lado o tom sombrio do filme anterior e se torna o alívio cômico dentro da comédia. Randy Couture (quem?) e Terry Crews já tinham pouco espaço e agora têm menos ainda – no caso do segundo, uma pena. Fechando o time, uma mercenária, a chinesa feiosa que teve até mais destaque do que merecia.

    Em relação aos astros convidados, Schwarzenegger tem um papel maior (surgindo de qualquer jeito na trama, mas enfim) e cumpre o que se esperava dele: metralha igualmente inimigos e piadas com “exterminar” e “eu voltarei”. Bruce Willis é intimado pelo Sly e também vai pra linha de frente, porém tudo meio burocrático. Faltou alguém falar que ele é “duro de matar”.

    Van Damme faz o vilão (chamado Vilain, é sério) e, apesar da cara derretida e dos braços de Popeye, parece à vontade, convence como um cara mauzão. E finalizando com o melhor, a lenda, o mito, o… eu ia dizer Deus, mas isso seria rebaixá-lo: Chuck Norris. Vale o ingresso, só isso. E daí que sua aparição não tem a menor lógica na história? Se sua entrada em cena com trilha sonora de western já não fosse digna de aplausos, o filme ainda brinca da forma mais gratuita possível com os Chuck Norris Facts!

    Depois dessa, pode-se dizer que um terceiro Os Mercenários seria desnecessário. Mas, enquanto houverem medalhões a serem chamados para brincar com si mesmos, há “conteúdo” a se explorar. Sly pode continuar reunindo a turma pra se divertir, e nós pegamos carona com eles.

    Texto de autoria de Jackson Good.

  • Crítica | O Dia em que Eu não nasci

    Crítica | O Dia em que Eu não nasci

    O Dia em que Eu não nasci

    Logo no início do filme somos apresentados a Maria Falkenmayer (Jessica Schwarz), uma garota alemã que, em escala no aeroporto de Buenos Aires em sua viagem pela América do Sul, ao ouvir uma canção de ninar desaba em lágrimas sem sequer saber o motivo. Compelida a descobrir o que significava aquele sentimento misterioso que havia surgido dentro de si, Maria resolve se aventurar na capital argentina sem nem ao menos perceber que está entrando em uma jornada perturbadora de autoconhecimento.

    O inexplicável leva a protagonista a descobrir que seus pais biológicos na realidade são argentinos e que eles foram vítimas da ditadura no país, ocorrida em meados dos anos 80. Anton Falkenmayer (Michael Gwisdek) tenta convencê-la a aceitar a realidade e desistir de sua busca pelo seu passado, mas não encontra êxito, pois Maria está obstinada em saber a verdade.

    Um filme que explora a obscuridade da verdade do começo ao fim. O espectador está tão perdido quanto a protagonista do filme, que também se atrai em querer saber a verdade. Jessica Schwarz ganha destaque em sua atuação, cujo expressivo semblante consegue carregar as emoções que estão contidas por toda a extensão da projeção. As filmagens sempre feitas próximas ao corpo da atriz ajudam a fazer com que o espectador se apegue cada vez mais aos sentimentos e à forma que Maria age.

    Não é possível falar de O dia em que eu não nasci sem dar grandioso destaque para a ambientação de suas filmagens, mescladas com uma trilha sonora melancólica que ,por mais clichê que seja em filmes do gênero, se encaixa perfeitamente na atmosfera do filme dirigido por Florian Micoud Cossen.

    É perceptível uma certa crítica à falta de informações que muitos países possuem (inclusive o próprio Brasil) em períodos de autoritarismo por que passam. Fantasmas desses tempos obscuros que são carregados por várias pessoas no mundo todo, incluindo Maria.

    O dia em que eu não nasci é um filme encantador que faz com que nos percamos nas ruas da Argentina junto com a protagonista do filme. Uma verdadeira imersão ao desconhecido.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.

  • Crítica | Os Imperdoáveis

    Crítica | Os Imperdoáveis

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    Clint Eastwood é, por si só, uma instituição do cinema americano: seus personagens e sua pessoa se misturam e como diretor ele é responsável por grandes clássicos. Em 1992, Eastwood retorna ao Western, gênero que o deixou famoso, mas que vinha esquecido há um tempo considerável.

    Os Imperdoáveis gira em torno de William Munny, um antigo assassino que adota uma vida reclusa com seus filhos e vive assombrado por seu passado violento e pela morte da mulher. Munny é encontrado por Kid, um jovem interessado em ganhar uma recompensa de 1000 dólares oferecida por um grupo de prostitutas que buscam vingança. Interessado no dinheiro para os filhos, Munny encontra seu antigo parceiro Ned Logan e segue para a missão.

    O oeste, nos filmes clássicos do gênero, sempre representou a ameaça da natureza sobre o homem e o herói é aquele capaz de colocá-la sob controle. O cowboy americano é o homem capaz de, por sua própria força (física e mental), civilizar forças perigosas e desconhecidas. Munny não é esse homem.

    O personagem é apresentado pela primeira vez já com algum tempo de filme. Vemos então um Clint Eastwood de cabelos brancos, enrugado, e é impossível não contrastar essa imagem com sua imponência nos filmes de Sergio Leone. O envelhecimento e a passagem do tempo rondam os personagens principais: eles já não atiram ou montam da mesma forma, dormir ao relento os deixa doentes. No final a passagem do tempo, o envelhecimento, a natureza enfim, parece estar ganhando deles.

    Em diversos momentos, Munny é jogado no chão por animais: ele não consegue controlar seus porcos ou seu cavalo. O personagem também não pode controlar a si mesmo. A vida regrada, o afastamento das mulheres e do álcool são a tentativa desesperada de encontrar do lado de fora aquilo que ele parece saber que está dentro. Munny teme que a crueldade esteja em sua própria natureza, teme que a crueldade anterior não seja mais do que parte dele mesmo.

    O código moral em uma terra sem lei é mais um elemento onipresente nos Westerns e é outro ponto que Eastwood coloca em discussão nesse filme. Em um dos diálogos finais, Beauchamp afirma que não merece morrer daquela forma; Munny lhe responde que merecer tem pouco a ver com aquilo. O personagem de Eastwood, ainda que atormentado, sai ileso enquanto Ned, o “melhor” dos dois, incapaz de matar a sangue frio, morre espancado. A moral e a virtude de um atirador são objeto da longa sequência em que Little Bill e Beauchamp conversam na prisão e o motivo pelo qual o biógrafo se desencanta com English Bob.

    Ao contrário de um faroeste clássico, aqui o destino dos personagens tem pouco a ver com seu comprometimento moral e a morte raramente vem acompanhada de nobreza. O universo de Os Imperdoáveis não tem lei, nem aquela certeza de sentido que acompanha boa parte do cinema americano.

    O filme é construído em grandes planos abertos, como esperado do gênero, mas aqui eles não servem para mostrar a terra a ser conquistada, e sim aquela que destrói e endurece os personagens. As cenas internas são sempre escuras, os planos fechados, cada personagem limitado por si mesmo e a moça mais bonita do filme tem seu rosto marcado por cicatrizes.

    Eastwood não chega exatamente a desconstruir o gênero, mas o elemento de tragédia e o pessimismo que insere em seus filmes subvertem os clichês. É um esforço notável e prova de sua excelência como diretor que os elementos mais fortes em Os Imperdoáveis não sejam os pertencentes ao faroeste, mas as características marcantes do cinema de Eastwood.

    Texto de autoria de Isadora Sinay.

  • Resenha | A Companhia Negra – Glen Cook

    Resenha | A Companhia Negra – Glen Cook

    a companhia negra

    Tolkien encontra Bernard Cornwell – estampa a quarta capa do livro.

    Estratégias publicitárias desse tipo são um tanto duvidosas, pois os fãs costumam ficar irritados com um novato comparando-se aos seus monstros sagrados. Neste caso, porém, vale a pena ignorar qualquer preconceito inicial, pois A Companhia Negra rapidamente define uma identidade própria no gênero da fantasia medieval, inclusive passando longe dos autores citados.

    No primeiro de uma série de dez livros, iniciada nos anos 1980 e que finalmente chega ao Brasil através da editora Record, o autor Glen Cook nos joga em seu universo sem qualquer aviso ou preparação. A Companhia Negra é um grupo de mercenários, cujos tempos de glória há muito passaram. Reduzidos a um pequeno contingente, eles se veem envolvidos num grandioso conflito entre a Dama, a mais poderosa feiticeira que já existiu, e um numeroso exército rebelde. Recrutados por um dos dez Tomados, principais servos da Dama (outrora ferrenhos adversários dela, corrompidos por uma espécie de lavagem cerebral mágica), os membros da Companhia logo se destacam por sua destreza, ao mesmo tempo em que passam a questionar se estão do lado certo dessa luta.

    O estilo do autor já de início surpreende os leitores experientes no gênero. Como citado anteriormente, Cook começa a contar sua história como se o cenário e os personagens já tivessem sido apresentados. Sua preocupação em situar o leitor na geografia, história e política daquele universo é mínima, pra não dizer nula.

    Sabemos o que precisamos saber, e QUANDO precisamos saber. Pra alguém habituado a Tolkien, ou mesmo George R. R. Martin, é um choque e tanto. Mas, passada a estranheza inicial, é fácil e prazeroso embarcar na história, também porque a escrita em si é a mais direta e objetiva possível. O livro é narrado em primeira pessoa pelo médico Chagas, o responsável por registrar os anais da Companhia. Um detalhe divertido é que ele mesmo censura-se quando começa a ter alguma divagação mais filosófica, dizendo algo como “Ei, diabos, eu sou um mercenário, não um poeta”. Dessa forma, a linguagem dos personagens nada tem do lirismo tipicamente medieval, soando incrivelmente contemporânea. Também no quesito desenvolvimento dos personagens não há nada muito aprofundado. Eles são definidos por suas características mais marcantes, virando estereótipos. Isso e a forma como se relacionam entre si torna a Companhia Negra comparável, muito mais do que a qualquer obra literária, a filmes de ação com militares, em especial os oitentistas. O que faz muito sentido, sabendo que Glen Cook foi fuzileiro da Marinha norte-americana.

    O resultado de toda essa simplicidade (que passa longe de mediocridade, porém) é uma obra que se pode chamar de única no gênero. Com pouco mais de 300 páginas, A Companhia Negra é uma leitura rápida e agradável, uma grata surpresa e uma novidade muito bem-vinda no campo da fantasia medieval. Recomendável até para os não-apreciadores desse estilo, que não suportam longas descrições e enrolações. Fica a expectativa pelo lançamento dos demais livros da saga o mais breve possível.

    Texto de autoria de Jackson Good.

  • Review | Samurai X

    Review | Samurai X

    samurai-x

    Nos anos de 92 e 93, a Shueisha (editora japonesa de maior sucesso na terra do sol nascente) publicou um par de contos escritos por um jovem mangaká chamado Nobuhiro Watsuki. O despretensioso Crônicas de um espadachim da era Meiji impressionou tanto os editores da Shonen Jump que eles resolveram dar uma segunda oportunidade ao jovem rapaz. Com Rurouni Kenshin, a Shueisha teve a felicidade de colocar em cena uma das estórias mais famosas de todos os tempos no gênero samurai/espadachim. O mangá fez tanto sucesso que teve sua publicação estendida e virou anime pelo estúdio Gallop (o mesmo de Initial D e Yu-gi-oh, por exemplo). E que anime!!

    “Há 140 anos, durante o período turbulento da era Tokugawa, um Samurai-Real viveu em Kyoto e se chamava ‘Battousai, O Retalhador’. Battousai, o espadachim mais poderoso, retalhava as pessoas numa cena de carnificina e limpava o caminho para um nova era: A Era Meiji. Mas ele desapareceu após o término dos tumultos.

    Enquanto seu desaparecimento continua um mistério, o nome ‘Battousai, O Retalhador’ se tornou uma lenda.”

    Esta é a mensagem de abertura que aparece no primeiro capítulo da animação feita a partir da obra de Watsuki e resume muito bem todo o prólogo do anime. Durante os episódios, o espectador acompanha as aventuras de Kenshin Himura, o famosíssimo e temível Hitokiri Battousai.

    Durante a revolução Meiji, o retalhador trabalhou em prol da ofensiva que ocorreu contra o governo monárquico do Shogun Tokugawa. Munido apenas de suas duas katanas, Battousai matou e protegeu importantes governantes em reuniões secretas daquele que viria a ser o regime vigente no Japão após sua vitória sobre o regime totalitarista de Tokugawa. Muitos acreditam que, sem a lâmina do retalhador lendário a serviço do Isshin Shishi, Tokugawa jamais teria sido retirado do poder.

    Ao fim dos conflitos, entretanto, o jovem espadachim desistiu de sua vida violenta e, por remorso, tornou-se um andarilho (no japonês: Ronin ou Rurouni). Decidido a nunca mais matar alguém, Kenshin troca suas katanas por uma sakabatou. Durante sua jornada errante pelo Japão, o ruivo se envolve com a adorável Kaoru Kamiya, herdeira de um dojo para praticantes de kendô, e ajuda-a com uma questão que envolvia o nome de sua família. Decidido a permanecer ao lado da jovem Kamiya e ajudá-la com o dojo, Kenshin envolve-se com outros personagens da região e procura livrar-se de vez da vida violenta de outrora, mas os fantasmas de seu passado irão retornar para assombrá-lo.

    O anime é muito bem dividido em 95 episódios que contam as histórias de Kenshin em sua luta constante para manter a promessa de não matar, enquanto busca proteger todos ao alcance de sua inofensiva espada de fio invertido. Poucos fillers engordam o anime em relação ao mangá e a animação é estonteante. Não há, durante o decorrer das sagas, nenhuma animação de combate que seja escura demais ou muito confusa. O traço de Watsuki facilita esta compreensão simples dos movimentos e deixa a série com um aspecto mais real, pois não cai no estilo caricato comum dos Shonens.

    O roteiro do anime conta com personagens extremamente bem elaborados e a interação entre eles é um dos atributos mais interessantes na série. Ao longo do anime, todos os novos personagens seguem com o ‘Kenshingumi’ até o final da saga e possuem uma participação importante no enredo.

    Samurai X recebeu este nome quando a Sony traduziu o título para o inglês. O X no título faz referência a uma cicatriz em forma de cruz que o personagem principal carrega no rosto. Como a cicatriz possui uma explicação na trama (que é retratada nos OVAs que já foram resenhados aqui no Vortex) e este título tem muito mais apelo comercial que o original, optou-se por utilizá-lo também no Brasil. O autor original, em entrevista, afirmou ter gostado do título ocidental da obra e acredita até que este tenha sido ainda melhor elaborado que o oriental.

    Samurai X é meu anime preferido de todos os tempos! É dele que eu copiei o apelido que utilizo. Aoshi Shinomori é um dos principais personagens da série, maior rival de Kenshin e um exemplo enorme de dedicação e foco em um objetivo, e por isso sou fã do personagem.

    Não existiu (e nunca vai existir) um anime tão interessante e bem feito quanto Samurai X, na minha opinião. É realmente uma pena que a edição brasileira do anime tenha sido uma das mais criminosas da história, com cenas e até episódios inteiros retirados da animação. O mesmo não pode ser falado da dublagem, que é muito boa e feita com vozes extremamente bem escolhidas.

    Quando assisti ao desenho pela primeira vez na Globo, me apaixonei pela trama, personagens e pela animação. Anos mais tarde, quando pude assistir ao anime sem os cortes brasileiros, pude perceber o quanto ele é fantástico. É um dos animes que comprovam minha opinião de que as animações japonesas não são exclusividade das crianças.

    Samurai X é um dos poucos animes que vale a pena ver e rever, em ambos os idiomas.

    SamuraiX

  • Agenda Cultural 44 | Vingadores, CS e o Vingador do Futuro

    Agenda Cultural 44 | Vingadores, CS e o Vingador do Futuro

    Bem vindos à bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Pedro Lobato (@pedrolobato), Rafael Moreira (@_rmc), Jackson Good (@jacksgood) se reúnem para dar ótimas dicas de lançamentos de quadrinhos, cinema e literatura.

    Duração: 86 minutos
    Edição: Rafael Moreira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira

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    Comentados na Edição

    Comicpod #101 – Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge
    MarmitaCast #07 – Grandes Personagens do Cinema
    VortCast 13: Os Supremos (Vingadores)
    FASTBURGER #07 – É um…CTHULHU?!

    Promoção concorra a dois exemplares do livro “A Companhia Negra”, de Glen Cook, cedidos pela editora Record.

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    Quadrinhos

    Os Supremos – Vol. 2
    Wolverine Noir
    Chico Bento: 50 Anos
    Batman: O Cavaleiro das Trevas – Especial
    Batman – Arkham City
    Ouro da Casa
    As Tiras Clássicas do Pelezinho
    Boule & Bill – Ao Ataque
    Vinte Mil Léguas Submarinas
    Estórias Gerais
    Toda Rê Bordosa

    Literatura

    A Companhia Negra – Glen Cook (Resenha)
    Como Ver um Filme – Ana Maria Bahiana

    Games

    Counter Strike: Global Offensive

    Cinema

    Cleanskin
    Crítica A Vida dos Peixes
    Além da Liberdade
    A Tentação
    Crítica Movimento Browniano
    Aqui é o meu Lugar
    Crítica Valente
    Crítica O Vingador do Futuro

  • Crítica | Movimento Browniano

    Crítica | Movimento Browniano

    Movimento Browniano

    Um quarto vazio, ordenado e silencioso. Os primeiros minutos de filme já indicam perfeitamente o ritmo da narrativa que vai se suceder a partir de então em Movimento Browniano, da diretora holandesa Nanouk Leopold: lento e inexpressivo.

    Charlotte (Sandra Hüller) é uma médica que vive em Bruxelas com seu marido Max (Dragan Bakema) e seu filho pequeno. Divide sua vida familiar e de trabalho com os encontros íntimos que tem com os pacientes que atende no hospital. Quando Max descobre as traições de sua esposa, passa a levá-la a consultas psiquiátricas, além de ter que lidar com a perda da confiança de sua mulher.

    Ausência de expressão, frieza e distanciamento são palavras que ilustram bem a atmosfera do filme. Os poucos diálogos da obra dão lugar à escolha estética narrativa de suspensão de informação. Não há trilha sonora alguma no filme, apenas sons ambientes. Olhares, sorrisos e respirações. Os sons dão lugar às sensações na maior parte do tempo. Assim como Max, somos levados a tentar entender as motivações misteriosas de Charlotte, porém o filme nos faz acreditar que tudo aquilo é mais profundo do que podemos imaginar. Não há nada certo. Tudo permanece em suspeição.

    Os planos abertos, de longa duração, a direção distante e a utilização da câmera de maneira imparcial são todos usados com o intuito de dar uma entonação reflexiva ao filme. Movimento Browniano arrisca em escolhas que poucos filmes possuem coragem de fazer. Leopold é corajosa e abstrai as aparências externas para causar reflexão nos espectadores, quase como se estivesse invadindo a mente destes mesmo sem perceberem.

    Existe muito mais no vazio do que aparentemente acreditamos. No vazio existem pensamentos e estes são tão grandiosos quanto qualquer outra forma de expressão do ser.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.

  • Review | The Elder Scrolls V: Skyrim – Dawnguard

    Review | The Elder Scrolls V: Skyrim – Dawnguard

    Todos nós jogamos Skyrim. Uns menos, outros mais: é raro encontrar um jogador que não tenha dado seu jeito de conhecer as terras congeladas dos Nords, interpretando do melhor modo possível o gritalhão Dovahkiin e fugindo de dentes-de-sabre até pelo menos o trigésimo nível. Mesmo com a requentada engine Gamebryo dando os últimos sinais de vida, a opinião geral é que estávamos jogando o maior jogo de 2011.

    Há mais ou menos um mês, os usuários de Xbox 360 recebiam a primeira expansão, Dawnguard – DLC não é um termo exato, já que a quantidade de conteúdo e o preço são muito mais próximos da cultura antiga de lançar jogos sobre jogos, e não vender armaduras de cavalo e pequenas aventuras. Donos de PC já exterminam vampiros nas novas quests desde a semana passada, enquanto quem escolheu o PS3 vai continuar esperando a Bethesda aprender a escrever código feito gente. Tenho amigos que não conseguiram passar de 10 horas de jogo no console da Sony, tamanha a inaptidão dos programadores com o excessivamente complicado sistema dos japoneses.

    Quem já jogou um título da série Elder Scrolls, sabe que a história principal é feita com algum carinho, mas que roteiro passa longe de ser a maior paixão dos caras. Do começo ao fim, o plot principal de Skyrim dura cerca de oito horas; sem problemas, já que só de andar pelas cidades e estradas seu log de missões acaba tão cheio que qualquer mãe com mania de organização teria uma síncope e viraria notícia de canal conservador americano. Para quem não se encaixa nessa categoria, as sidequests ficam muito mais interessantes e garantem, aos mais aplicados, centenas de horas de diversão bem longe da luz do sol.

    Depois de abandonar o jogo por meses, reinstalei os cinco giga e uns quebrados, descolei a expansão e procurei por mods – que fazem o serviço de polimento do jogo melhor que qualquer patch oficial jamais sonhou -, e tive belas e agradáveis surpresas. O que vi foi um jogo muito mais redondo do que o aquele entregue no dia 11/11/11. Mais quests, melhor uso de NPCs, locações melhor desenhadas e uma proposta bem melhor executada com os Dawnguards e Vampiros do que com os Stormcloaks, e o Império: Skyrim variou a própria essência de maneira conservadora, mas bem-feita. Talvez não seja suficiente para aqueles que gastaram preciosos momentos de vida consciente fazendo as tais “quests infinitas” que anunciaram – se for matar javali e levar carne para NPC eu jogo WoW, porque pelo menos lá eu interajo com bonecos digitais numa tentativa patética de emular vida social -, mas foi mais do que suficiente para mim.

    TL;DR: Skyrim recebeu uma expansão e um monte de patches que deixaram o jogo menos vagabundo do que quando foi lançado, colocaram vampiros e caçadores na roda, garantiram uma boa razão pra você continuar não tendo namorada por pelo menos mais uns dois meses.

    Texto de autoria de Pedro Souza.

  • Crítica | O Vingador Do Futuro

    Crítica | O Vingador Do Futuro

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    Na onda interminável dos remakes hollywoodianos, chegou a vez de uma das maiores pérolas das traduções brasileiras, O Vingador do Futuro (tudo a ver com o nome original, Total Recall). Não vou entrar em comparações com o clássico de 1990 dirigido por Paul Verhoeven, pelo simples motivo de que não o vi, shame on me. Mas não precisa ser nenhum gênio pra deduzir que a nova versão já sai perdendo ao colocar Colin Farrell no papel que foi de Arnold Schwarzenegger.

    Num futuro não tão distante, uma guerra química tornou inabitável a maior parte do planeta. Os dois únicos locais povoados são a Federação Unida da Bretanha e a Colônia (Oceania). Superpopulação é apelido, e na segunda área há um movimento de resistência contra o Estado opressor da primeira, exigindo direitos iguais para os explorados trabalhadores. Nesse cenário, Quaid é um operário atormentado por uma rotina maçante e sonhos recorrentes nos quais é alguém importante. Buscando um escape, ele vai até um local chamado Total Recall, que implantará em sua mente memórias falsas a título de “férias”. Porém, antes que o procedimento comece, ele é atacado por agentes do governo e a correria começa.

    Correria, aliás, é a definição do filme. Apesar de bem executadas, as cenas de ação são inúmeras, permeadas por breves momentos de respiro. Meio na linha Michael Bay de ser, o que inevitavelmente acaba cansando lá pelo meio da história. O diretor aqui é Len Wiseman (da franquia Anjos da Noite e Duro de Matar 4.0), na melhor das hipóteses apenas competente na parte visual, mas sem qualquer brilho. E isso se reflete nesse novo O Vingador do Futuro, que sugere potencial para ter um algo a mais, algum conteúdo, mas de cara já opta por se dedicar inteiramente à ação desenfreada.

    A crítica social é de um capitalismo tão agressivo que evolui pra um novo imperialismo, mas isso fica apenas como um raso pano de fundo. Os aspectos de sci fi são mais dignos de nota, apesar de estarem presentes somente na ambientação. Os cenários urbanos são muito interessantes, uma extrapolação da nossa própria realidade em termos de moradia, trânsito e cidades cosmopolitas. Nada original, porém: é fácil encontrar elementos de Blade Runner Minority Report. Não por acaso, todos inspirados em contos de Philip K. Dick. Outra possibilidade do filme seria uma discussão sobre identidade, realidade e ilusão, subconsciente e o diabo a quatro nesse viés psicológico. Os próprios trailers e pôsteres sugerem isso – que é incrivelmente mal trabalhado! Em momento algum surgem dúvidas sobre a veracidade da situação do protagonista, e tudo se resume a algumas frases soltas dignas de filosofia de biscoitos da sorte.

    Dentre os atores, Farrell se esforça, mas a seriedade do papel o impediu de usar sua melhor faceta, a de canalha irônico canastrão. Jessica Biel está apagadíssima, Bill Nighy faz pouco mais que figuração, e o vilão vivido por Bryan Cranston ficou muito abaixo do potencial do ator. O destaque vai mesmo para a esposa do diretor, a linda e maravilhosa Kate Beckinsale. Como uma vilã incansável, cachorrona e determinada a ferrar o herói, ela rouba a cena ao definir o que é uma “ex-mulher”. Antes que me acusem de machista ou coisa parecida, é o filme que sugere isso, gerando um humor que não decidi se foi ou não involuntário.

    No fim das contas, O Vingador do Futuro versão 2012 serve apenas como uma boa distração entre Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge e Os Mercenários 2, e dificilmente será lembrado como um destaque dos gêneros ação ou ficção científica.

    Texto de autoria de Jackson Good.

  • Review | Humble Bundle Para Android 3

    Review | Humble Bundle Para Android 3

    Humble Bundle é um sucesso inegável. Explicando por alto, é um pacote de jogos, que você paga exatamente o que quiser por ele, e recebe seus jogos, totalmente livres de DRM e multi plataforma. Caso queira mais informações, no post Humble Bundle para Android 2, eu dou mais explicações sobre como funciona melhor todo o projeto.

    Aqui o objetivo é fazer um mini review de cada um dos jogos para esse Humble Bundle para Android 3. O Bundle é voltado para os dispositivos mobile, porém, dessa vez, todos os jogos tem boa jogabilidade em nada prejudicada estando num computador, ao invés de um tablet ou celular, isso é uma diferença boa para o anterior, em que alguns dos jogos, só faziam sentido realmente, sendo jogados em dispositivos móveis.

    Fieldrunners

    Fieldrunners é um tower defense clássico, em que o objetivo é impedir, com as suas torres de tiro, que o inimigo alcance a sua base. Cada modo de jogo dispõe de uma variedade de torres de ataque diferente. O básico, tem a torre de tiro normal, a torre que deixa os inimigos mais lentos, mísseis, e a Tesla Tower, que é a torre de raios elétricos. Nada de novo por aqui, certo? A quantidade de torres diferentes de ataque, que são 12 ao total, são um atrativo. Além de 7 modos de jogos: Clássico, 100 rounds; Extended, a mesma coisa do clássico, mas ao invés de 4 variedades de torre, são 6; Endless, sem fim. Até acabar suas 20 vidas, ou 20 inimigos que infiltram a base. Além disso, temos Sudden Death, ou morte súbita, o primeiro inimigo que passar a barreira, é game over. Time Trial, Tower Combo 1 e 2, que são basicamente o modo clássico com mais torres.

    Outro aspecto interessante do jogo, são os tipos de mapas disponíveis. O padrão, como todo bom tower defense, é uma entrada e a saída do lado oposto. Existem mapas, com 2, 3 e até 4 entradas de inimigos e a sua base no centro. Enfim, é bem versátil, com vários estilos do mesmo tipo de jogo.

    Os gráficos do jogo, são interessantes, com um visual cell shading, cartunesco, com claras inspirações em Team Fortress 2.

    No mais, se você gosta de tower defense, com certeza é uma boa pedida, e vai render várias horas de diversão, e nos níveis mais difíceis, um desafio e tanto também. Se eu tenho alguma crítica ao jogo, é a quantidade de rounds por partida, que são 100 nos primeiros níveis, e 50 nos posteriores. 100 rounds torna o jogo muito mais longo do que eu gostaria e até um pouco cansativo, já que nos últimos, com a estratégia montada, pouco você têm a fazer a não ser observar o jogo terminar. O melhor dos mundos nesse aspecto, seria que o jogador pudesse escolher a quantidade que mais lhe agrada.

    BIT.TRIP BEAT

    BIT.TRIP BEAT não é nenhuma novidade no cenário indie game, que veio na onda de jogos de ritmo. Ele nada mais é que uma releitura do antigo Pong, com elementos modernos. Variando os alvos que você tem que defender, de acordo com o ritmo da batida do tom principal que está tocando.

    O grande problema desse tipo de jogo, é que os considero repetitivos e enjoativos. Depois de meia hora, nada de novo é apresentado, ficando apenas numa mesmice, de rebater o pixel de algumas maneiras diferentes. Sem ter uma história, objetivo ou algum desafio final por trás – que na verdade, até existe, se você considerar que habilitar todos as músicas é um desafio, que irão repetir o seu gameplay anterior – o jogo se mostra sem nenhuma força para que seja retomado para um replay.

    Outro ponto, pra mim negativo, para BIT.TRIP BEAT, é a poluição visual presente na tela. Se você tiver algum problema com “Motion Sickness”, passe longe. Como todo bom jogo Old School, o nível de dificuldade é bem grande, chegando em alguns momentos a ser até desanimador, e pra realmente “fechar” o jogo, você vai ter que repetir dezenas de vezes o level, pra conseguir memorizar e atingir um bom desempenho, e isso leva a um outro problema na minha opinião. O jogo é composto por três músicas, todas são excessivamente longas. Somando isso aos excessos visuais da tela, e a própria música, que apesar de boa, tem um aspecto repetitivo, o jogo se torna maçante em pouco tempo.

    Spirits

    Se em BIT.TRIP BEAT tivemos uma releitura de Pong, aqui temos uma releitura de um outro clássico: Lemmings. Só que ao invés dos pigmeus de cabelinho verde, temos espíritos ou fantasmas. Com uma mecânica simples, mas extremamente desafiador, caso queira completar todos os níveis com pontuação perfeita. Spirits é absolutamente competente no que se propõe. No controle dos fantasmas, você tem opções, como cavar em várias direções, transformar o fantasma numa nuvem que sopra vento e carrega os outros espíritos, uma plantinha pra formar plataformas, enfim, elementos para que você vença os obstáculos do nível e atinja o objetivo.

    Dois pontos super positivos do game são: Estética e Som. O cuidado e a atenção a cada um dos detalhes nesses dois quesitos são tão marcantes, que após terminar todas as missões, você tem vontade de passar tudo de novo, não só pra conseguir um score melhor, mas para apreciar a beleza artística que o jogo proporciona. Esses cuidados me lembraram muito Flower e Braid, apesar de objetivos e jogabilidades totalmente diferentes, tudo funciona numa sinergia quase perfeita, que são marcos nesse quesito.

    Uplink

    Uplink é um jogo antigo, foi lançado em 2001. Portado para todas as plataformas, e que gerou diversos descendentes pelo mundo, como Hacker Evolution, o jogo é um simulador Hacker, em que você é contratado por uma empresa chamada Uplink, e recebe missões, para invadir servidores, roubar dados, etc, etc. Tudo que um hacker de Hollywood deve fazer.

    O jogo é interessante, no momento em que ele pega o estereótipo de “serviço” Hacker muito explorado por filmes, e pela mídia em geral, e constrói uma mecânica de simulação diferente e inovadora, pra época em que foi lançado. Além disso, é um jogo bem cru, que não faz questão de deixar o jogador confortável, com tutorais extensivos e explicando cada detalhe do jogo. Ao contrário, você tem uma pequena introdução da missão inicial, que é facílima, e o tutorial termina com a frase: Agora é por sua conta.

    Uplink é um clássico, que foi ultrapassado por seus sucessores, mas ainda assim, rende alguma diversão. E isso num dispositivo mobile, me parece ficar ainda mais interessante.

    SpaceChem

    SpaceChem é um puzzle de movimentação, ou puzzle de trilhos. Um estilo clássico, em que muda-se a temática, o modo de atingir ao objetivo, mas o cerne é mantido, em que deve se traçar uma rota para que algo atinja um objetivo.

    E nesse caso, você é um cientista, trabalhando para a SpaceChem, combinando átomos e moléculas num reator. E o objetivo é o padrão, traçar a rota que atinja o fim, no mínimo de tempo possível. Nos estágios iniciais parece fácil, mas os puzzles ganham um nível de dificuldade bastante elevado com o passar da história, fazendo com que você realmente ponha a cabeça pra pensar pra passar de certos níveis.

    Além disso o jogo conta com um pano de fundo, pra localizar esse reator em que você trabalha dentro da história. Apesar de não passar de algumas telas com texto escrito, engraçado até, achei interessante essa inserção de mais informações num jogo que definitivamente não exigiria isso.

    Enfim SpacheChem é um bom passatempo, e que vai agradar bastante àqueles que gostam de jogos de quebra-cabeças.

  • Crítica | Mary e Max

    Crítica | Mary e Max

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    O que aconteceria se você recebesse uma carta de um completo estranho que mora do outro lado do mundo? É com essa premissa que o filme Mary e Max se desenrola. Trata-se de uma animação em stop motion em estilo massinha (como em O Estranho Mundo de Jack e Fuga das Galinhas), baseada em fatos reais. Dirigido e roteirizado por Adam Elliot, o filme conta com a participação das vozes de Toni CollettePhilip Seymour HoffmanBarry Humphries entre outros.

    A história se inicia a partir do momento em que Mary, uma garotinha de oito anos, que mora na Austrália, resolve enviar uma carta a uma pessoa aleatória nos Estados Unidos da América ao ver uma lista telefônica do local. Em Nova York, Max, um senhor de quarenta e quatro anos e vítima da síndrome de Asperger, recebe a carta da garota e resolve respondê-la. A partir desse momento, inicia-se uma amizade por correspondência entre duas pessoas diferentes e que vivem em contextos de vida completamente diferentes.

    A narrativa do filme é precisa e envolvente e com certeza fará com que muitas pessoas se identifiquem com situações, sentimentos e pensamentos, os quais são muito bem explorados já que a todo instante o filme abre espaço para definir características dos personagens apresentados. Mesmo apresentando requintes de humor durante a história, é com certeza uma animação voltada para o público adulto, pois apresenta temas como suicídio e uso de drogas. Os cenários combinam com a trama melancólica do filme, sendo apresentada uma contraposição em tons de marrom (na Austrália) e cinza (em Nova York). Essa contraposição de cores é interessante, pois explicita as diferenças entre as personalidades dos personagens, já que de um lado encontramos uma garota curiosa por descobrir o mundo, e do outro lado temos um homem que tem medo de explorar o mesmo.

    Mary e Max é uma história sobre solidão e amizades. Em um mundo imperfeito, temos que aprender a viver com nossos defeitos e conviver com os outros. Por mais que as pessoas sejam diferentes entre si, Mary e Max nos mostram um belo exemplo de que no fundo temos mais em comum do que realmente imaginamos.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.

  • Crítica | Da Vida das Marionetes

    Crítica | Da Vida das Marionetes

    Da Vida das Marionetes

    Ingmar Bergman é um cineasta conhecido por seus temas densos e complexos, mas apesar da melancolia seus filmes normalmente apresentam lirismo e beleza. Não é o caso de Da Vida das Marionetes, realização sua para a televisão alemã em 1980.

    O filme começa com Peter Egerman assassinando brutalmente uma prostituta e em seguida fazendo sexo com seu cadáver, evento a que o diretor se refere como “a catástrofe”. A partir daí o filme investiga os dias anteriores ao crime e acompanha os depoimentos no processo contra Egerman.

    Peter e Katarina Egerman já haviam aparecido em Cenas de um Casamento, minissérie de 1973, como um casal histérico e em crise que briga violentamente na frente de Johan e Marianne, os protagonistas, e faz com que esses se sintam gratos pela estabilidade e sucesso de seu casamento. Aqui nós somos levados para a intimidade do casal e as coisas se tornam mais sutis e complicadas.

    Em público Peter e Katarina se detestam, atacam e traem sem pudores, ainda assim ela afirma para um de seus amantes (e psiquiatra de Peter) que ama o marido. A cena em que ambos conversam na cozinha durante a madrugada mostra que existe carinho e cumplicidade ali, talvez mesmo amor, mas ao mesmo tempo se coloca um abismo intransponível.

    O filme é todo construído em cima desse paradoxo: o desejo de proximidade e afeto e a vulnerabilidade e dor que isso pode causar. Tim, um amigo homossexual de Catarina, explica em um brilhante monólogo (filmado, não por acaso, com o personagem se olhando em um espelho, sua imagem duplicada) como se sente quebrado em dois, uma parte ansiando por contato e a outra reprimida frente a possibilidade de horror e violência.  Esse sentimento é comum a todos os personagens do diretor, mas aqui isso se expressa claramente. Bergman sempre utilizou muito close-ups de seus atores, se aproximar tanto dos rostos permite que os sentimentos sejam expressos em toda sua sutileza e dimensão, mas em Da Vida das Marionetes quase sempre esses rostos estão divididos, metade visível, metade na sombra.

    A fotografia em preto e branco aliás reforça esses sentimentos contrastantes: o escritório de Peter, lugar da burocracia e do distanciamento,  é quase todo preto, enquanto seu sonho com Katarina inteiro branco. Além disso, filmar em preto e branco evoca os primeiros filmes do diretor e coloca Egerman como uma releitura, mais moderna e pessimista, dos personagens anteriores, especialmente Antonius Block, protagonista de O Sétimo Selo.

    Ambos se perguntam sobre a possibilidade de paz e sentido, mas ao contrário de Block, que afirma várias vezes nunca cansar de perguntar, Egerman desistiu. Ele conta para Katarina que seu desejo é morrer, ou ao menos não sentir mais nada, uma espécie de morte em vida tão criticada por Bergman em seus primeiros filmes.

    No fim, o diretor reforça o paralelo ao colocar Peter, em uma clínica psiquiátrica, jogando xadrez com um computador, um eco de sua cena mais famosa em que Antonius Block joga com a morte. No entanto a enfermeira afirma que o paciente sempre joga no modo mais difícil, Egerman, de novo ao contrário de Block, não faz questão de ganhar.

    Da Vida das Marionetes talvez seja um filme menor de um grande diretor e com certeza é um dos filmes mais atípicos da obra de Ingmar Bergman,  mas é citado como influência por cineastas como Lars Von Trier e David Cronenberg. Nele Bergman revisita seus temas e personagens recorrentes e constrói seu filme mais pessimista, mas também o mais claro deles, em que todas as questões que antes se instalavam na narrativa ou em longos diálogos metafóricos aqui são destrinchadas. A presença da figura do psiquiatra e os testemunhos em julgamento ajudam nisso, é um filme quase didático para se entender as questões que norteiam o cinema de Ingmar Bergman.

    Texto de autoria de Isadora Sinay.

  • Review | Alphas

    Review | Alphas

    alphas

    O tema “pessoas com superpoderes” hoje sem dúvida afasta muita gente. O trauma de Heroes foi brutal. Uma pena, pois essa produção do canal SyFy deveria receber mais atenção. Atualmente em sua segunda temporada, a série conta a história de um grupo de pessoas com habilidades sobre-humanas, identificados como Alphas, atuando numa força-tarefa do governo americano que investiga crimes cometidos por outros Alphas. A equipe é liderada pelo psiquiatra Lee Rosen (vivido pelo ótimo David Strathairn), descobridor desse fenômeno ao tratar de seus pacientes.

    O mérito de Alphas é combinar simplicidade com seriedade. O formato é de um típico seriado policial, com o inevitável caso da semana, ao mesmo tempo em que os personagens e a trama maior são aos poucos desenvolvidos. Se não existem mistérios grandiosos e explosões de cabeça, por outro lado o roteiro é sempre coerente ao trabalhar as questões apresentadas. A maior delas é o preconceito e o temor dos agentes do governo em relação aos Alphas, sempre querendo aprisiona-los sem qualquer preocupação com direitos civis. Rosen, por outro lado, é um pacifista convicto, e os enxerga como seres humanos, muitas vezes com problemas psicológicos. A dinâmica é sempre conturbada, e entre aquilo que o doutor gostaria de fazer e aquilo que ele consegue fazer, cada vitória da equipe traz um gosto amargo.

    Outro aspecto interessante é a postura pés no chão em relação aos poderes, mantendo uma visão (pseudo) científica, e limitando-os, evitando assim um dos erros de Heroes: criar personagens nível DEUS e ficar sem história pra contar sobre eles. Além de estabelecer que o uso das habilidades traz consequências. Bill, ex-agente do FBI e líder de campo da equipe, tem superforça temporária graças a elevadas descargas de adrenalina. Porém, seu corpo e principalmente seu coração sofrem desgaste com o processo. Rachel consegue ampliar seus sentidos a níveis impressionantes, mas apenas um por vez, a custo de muita concentração, e prejuízo dos outros quatro. Nina tem algo entre hipnose e controle mental, mas depende de contato visual pra poder “influenciar” alguém. E o vício em conseguir tudo o que quer através desse poder a impede de ter qualquer relacionamento verdadeiro. Gary, de longe o mais carismático da série, é um jovem autista que enxerga ondas eletromagnéticas, conseguindo interceptar e filtrar emails, ligações telefônicas, etc. Não raro, ele mergulha nesse “mundo” só dele e se isola ainda mais. Completando a equipe, Hicks possui hipercinese, em essência uma pontaria absurda e reflexos dignos de um THE NINDJA. Sua habilidade é afetada por stress e autoconfiança, e o personagem surge como o clássico talentoso porém fracassado.

    As comparações com quadrinhos também estão lá e são bastante óbvias. Lee Rosen é Charles Xavier com outro nome. Toda a discussão sobre preconceito e perseguição levando ao inevitável “nós contra eles”, não dá pra negar, é X-Men puro. E quando o vilão se revela, o negócio fica tão explicito que uma acusação de plágio não seria exagero. A série peca por falta de originalidade, então? Seria ingênuo dizer o contrário. O que vale, porém, é a forma como as coisas são apresentadas, com um “realismo” que consegue ser inédito. Alphas é uma série competente que merece ser vista e levada a sério.

    Texto de autoria de Jackson Good.

  • Crítica | O Corvo

    Crítica | O Corvo

    raven

    Explorando a mente singular do famoso romancista do século XIX, Edgard Allan PoeO Corvo, do diretor James McTeigue (V de Vingança), mostra muito potencial nos 30 primeiros minutos de filme, o qual, infelizmente, é totalmente exaurido no decorrer do filme.

    No último ano de sua vida, Allan Poe está afundado em dívidas em bares e fracassos na sua carreira literária, porém acaba sendo obrigado a ajudar o Inspetor Fields a desvendar os crimes de um Serial Killer, que aparentemente se inspira nas obras do autor para cometer seus crimes. Poe se vê obrigado a participar das investigações quando sua amada Emily é sequestrada pelo assassino.

    Nos 30 minutos iniciais do filme, quando nos é apresentado um Allan Poe beberrão, arrogante e um tanto quanto genial (não que isso não seja um retrato da realidade), a trama parece se mostrar sólida. Poe com toda sua genialidade passa por dificuldades financeiras e por um lapso de criatividade – a versatilidade do personagem é um ponto forte que chama bastante a atenção -, mas sua versatilidade acaba lhe causando problemas. Em certos momentos o personagem se passa por bobo da corte, o que acaba tirando um ar de seriedade que seria muito mais interessante a ser atribuída ao personagem. Ora temos um Poe totalmente profundo e lírico, ora temos o oposto se sujeitando até a situações cômicas. Por todas essas questões, acaba restando prejudicado o desenvolvimento do personagem na trama, pois começa com um tom misterioso – com aquele contraste de facetas – e conclui na mesmice dos filmes de suspense que envolvem serial killers.

    O roteiro tem vários problemas. O suspense que não te deixa tenso a nenhum momento é realmente o elemento principal para deixar essa obra tão pobre. Pistas são deixadas em todas as cenas do crime, porém a resolução das charadas deixadas nas pistas são instantâneas (com a desculpa de que é o autor reavaliando suas obras), o que tira totalmente a tensão exercida pelo momento. Cenas desnecessárias são usadas como via de escape para pontas soltas deixadas do desenvolvimento da história.

    Os personagens parecem perder sua motivações a partir da metade do filme. Um exemplo disso é o pai de Emily que a todo momento culpa Poe pelo sequestro de sua filha, porém em um determinado momento esquece totalmente a raiva que sentia por ele, colidindo assim com o que foi apresentado anteriormente e com um desenvolvimento fraco. Outro ponto é que as características que marcavam Allan Poe desde o início do filme somem, deixando no lugar um personagem desesperado e sem rumo na trama.

    A atuação de John Cusak como o protagonista não é ruim, pois consegue personificar um personagem histórico de uma forma muito interessante, porém acaba sendo prejudicado pelo mal desenvolvimento do personagem no roteiro. Outro ator que deve ser destacado, porém negativamente, é Luke Evans, que interpreta um inspetor com um semblante estático e inexpressivo.

    Em algum lugar desse filme desmotivador há um filme lírico que pincela muito bem a imaginação poética de Poe. Infelizmente o roteiro de Ben Livingston e Hannah Shakespeare não foi feliz tentando fazer isso. A direção de James McTeigue  não chama muita atenção mas é competente na parte técnica, principalmente pela sua fotografia (ambiente sombrio e uso frequente de neblina). O Corvo é um filme que tinha algum potencial escondido, mas que preferiu beber da fonte dos filmes de Serial Killer que evidentemente não expressam mais nenhuma surpresa no público.

    Texto de autoria de Raphael Wisnesky.