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  • VortCast 17 | Christopher Nolan

    VortCast 17 | Christopher Nolan

    Bem vindos à bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Rafael Moreira (@_rmc), Amilton Brandão (@amiltonsena), Isadora Sinay (@isasinay), Mario Abbade (@fanaticc), Levi Pedroso (@levipedroso) e Carlos Brito se reúnem para comentar a filmografia de um dos grandes diretores da atualidade, Christopher Nolan. (mais…)

  • Crítica | Onde Vivem Os Monstros

    Crítica | Onde Vivem Os Monstros

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    Onde Vivem os Monstros é o último filme de Spike Jonze, diretor de Adaptação e Quero ser John Malkovich.  Trata-se de uma adaptação de um clássico da literatura infantil americana e conta a história de Max, um menino endiabrado que foge de casa e vai parar em uma ilha fantástica onde vivem “coisas selvagens”.

    Jonze toma uma história muito curta e adiciona elementos conhecidos de seu cinema, uma certa estranheza e uma tendência para o obscuro, e confere profundidade e melancolia a fábula infantil, tornando-a um filme sobre amadurecimento e solidão.

    Desde o início  Max é apresentado como uma pequena coisa selvagem: quando os amigos da irmã destroem seu iglu, a raiva que ele sente só pode ser extravasada destruindo o quarto dessa; quando ele vê a mãe com o novo namorado sua reação é vestir uma fantasia de lobo, correr pela casa e mordê-la. A mãe de Max está certa quando diz ao menino que ele está fora de controle, as coisas começaram a mudar e ele é só uma criança que ainda não sabe lidar com fato de que o mundo nem sempre responde as expectativas.

    A ideia de um abrigo percorre todo o filme: Max constrói um iglu e uma tenda em casa, já na ilha ele desenha um forte (que é na verdade um enorme casulo) e dorme com os monstros em um bolinho. Os próprios monstros são fofos, peludos e aconchegantes. O que o menino busca é a sensação de proteção e cuidado, a certeza de que estará seguro não importa o que aconteça.

    É isso que ele acredita achar na ilha, os monstros o acolhem, selvagem como ele é, e o amam e elegem rei apenas por ele ter prometido um “escudo anti-tristeza”. Jonze contrasta muito bem o mundo real ao de fantasia: a primeira parte do filme tem cores frias e uma textura quase de vídeo caseiro, enquanto na ilha a luz é dourada e a fotografia tem uma beleza notável.

    No entanto esses monstros são bastante humanos e Carol se parece demais com o próprio Max, principalmente na violência com que reage ao abandono. Ao nomear Max como rei o que essas criaturas buscam é exatamente o que o menino também quer, alguém que os projeta e evite que machuquem uns aos outros, alguém que nunca se decepcione ou fique bravo, mesmo quando eles são terríveis.

    Ao cuidar de seres tão vulneráveis quanto ele mesmo Max percebe a fragilidade e a solidão da própria mãe e começa a entender que não tem nada que ela possa fazer para evitar que sua vida mude, ou para que ele lide melhor com os próprios sentimentos. Ele então volta para casa, consideravelmente mais velho.

    Jonze contrasta a violência das coisas selvagens com a organização exigida pela vida adulta e cria um filme repleto de nuances, símbolos e sutilezas, mas que ao mesmo tempo é engraçado e divertido. Onde Vivem os Monstros talvez seja seu filme mais complexo e um dos mais subestimados dos últimos tempos.

    Texto de autoria de Isadora Sinay.

  • Crítica | Valente

    Crítica | Valente

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    Após a união dos estúdios da Pixar com a Disney, muitas foram as reclamações e críticas por parte de uma parcela do público, sob o argumento de que esta união traria a ruína às grandes obras da Pixar. Com o fracasso de Carros 2, os ânimos abaixaram ainda mais, porém Valente , dirigido por Mark Andrews e Brenda Chapman, chega aos cinemas para renovar o conceito e o valor da união destes dois grandes estúdios.

    O filme conta a história de Merida, filha do Rei Fergus e da Rainha Elinor, a qual está para atingir a maioridade e, por isso, com o intuito de seguir os costumes da época, ela terá sua mão disputada pelos príncipes de outras famílias. Merida não hesita em mostrar descontentamento com os costumes de seu povo e acaba causando tensão entre as famílias. Após encontrar-se com uma bruxa e realizar um pedido que acaba causando mais problemas do que soluções, Merida deve correr contra o tempo com o intuito de evitar os conflitos entre os reinos e salvar a vida de sua mãe.

    O primeiro aspecto a ser levantado do filme é que Merida é a primeira princesa da Pixar. Muitos irão falar que isso é influência direta da Disney, porém a personagem deste filme tem uma personalidade muito diferente daquelas personagens clássicas como Bela Adormecida ou Branca de Neve. Merida é guerreira, astuta, rebelde e independente. Por outro lado é uma representação muito mais firme e contextualizada de uma mulher que possui seus próprios valores e os defende, em contraposição a uma princesa que apenas está aguardando para ser salva por um príncipe encantado.

    Merida é uma jovem com pensamentos e valores contemporâneos, por isso a todo momento bate de frente diretamente com os valores conservadores de sua mãe. Os personagens são carismáticos, possuem profundidade, possuem desejos e anseios humanos. Juntos ilustram uma belíssima história que indaga sobre os significados de liberdade (e a forma como a buscamos em nossas vidas) e de família.

    Os aspectos técnicos obtiveram um resultado muito positivo. A tecnologia 3D utilizada na animação ficou bem encaixada com os cenários da Escócia, em que foi baseado, e suas vastas florestas, as quais dão uma profundidade envolvente à atmosfera do filme. A animação por si só já é o suficiente para criar uma beleza estética muito proveitosa. Isso é facilmente visualizado ao observar a sutileza de detalhes na modelagem dos cabelos da protagonista: rebeldes, soltos e vermelhos como fogo (inclusive tendo relação com a própria personalidade da mesma), que se compõe juntamente com a beleza gráfica de todos os demais detalhes.

    Valente é um bom filme e divertido. Possui uma qualidade estética muito grande e uma narrativa redonda. Não foi dessa vez que a Pixar superou outros de seus sucessos (como Wall-E, por exemplo), porém é uma obra respeitável para abrir os olhos dos mais céticos em relação ao futuro da empresa.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.

    OBS: Para os céticos que estão reclamando das cópias dubladas, a dublagem desse filme ficou muito bem feita e não diminuiu nenhum pouco a beleza da obra. Podem conferir sem medo.

  • Resenha | Death Note: Another Note – O Caso dos Assassinatos em Los Angeles

    Resenha | Death Note: Another Note – O Caso dos Assassinatos em Los Angeles

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    Um aspecto interessante da vertente virtual do atual mercado de entretenimento é a aproximação entre produtores e consumidores, sobretudo por meio das redes sociais. Os comentários lançado no Twitter de um autor de nosso agrado, por exemplo, tende a revelar traços desconhecidos de sua personalidade. Em especial, é interessante descobrir que, como nós, esses realizadores são também consumidores que admiram determinadas pessoas e se inspiram em determinadas obras. No mundo dos animes e mangás, é bastante comum que autores citem e comentem obras de terceiros, seja na mídia impressa, “oficialmente”, ou no meio digital, de modo mais pessoal.

    O aclamado novelista Ryohgo Narita, autor dos sucessos Baccano! e Durarara!! é um exemplo apropriado, não apenas por comentar regularmente séries que acompanha, como Fate/Zero e Bleach, em seu Twitter (@ryohgo_narita), mas principalmente por ir um pouco além em sua apreciação, deixando de ser um mero consumidor para tornar-se criador. Em suma, Narita, além de idealizador de seus próprios títulos, é também um autor de fanfics (fan fiction, ficção de fãs), ou seja, alguém que escreve estórias se apropriando de outro universo ficcional, podendo ou não usar personagens já estabelecidos. Entretanto, por ser um autor de renome – embora a qualidade de seus contos, poucas vezes encontrada nesse tipo de escrito, não deva ser ignorada –, Narita consegue o que para a maioria dos fãs é um mero sonho: publicar oficialmente essas estórias. Suas light novels Toaru Jihanki no Fanfare, que se passa no amplo cenário da franquia To Aru Majutsu No Index, e Spirits Are Forever With You, uma side-story do sucesso mundial Bleach, receberam elogios, apoio e colaboração dos criadores originais, Kazuma Kamachi e Kubo Tite, respectivamente, e alcançaram o feito de serem canonizadas, ou seja, tornarem-se parte oficial desses universos. E este é apenas um entre inúmeros casos. O notório novelista Nisio Isin (NisiOisiN) foi igualmente feliz ao publicar, em 2006, Death Note – Another Note: O Caso dos Assassinatos em Los Angeles, intrigante história ambientada no realístico mundo de um dos mais populares mangás da década passada, Death Note, de Tsugumi Ohba e Takeshi Obata.

    Narrado em forma de notas por Mihael Keehl, o Mello, um dos mais importantes personagens da por muitos odiada segunda fase da história original, o livro consiste num relato informal sobre um evento citado uma única vez pelos idealizadores de Death Note. Embasado na afirmação feita no segundo volume do mangá por Naomi Misora, agente reformada do FBI que protagoniza uma das mais interessantes passagens do roteiro de Ohba, que diz já ter trabalhado com o misterioso L, o maior detetive do mundo, anos antes do maníaco Kira começar a agir (informação aparentemente irrelevante, esquecida ou simplesmente relevado por muitos leitores), o autor criar um thriller policial nos moldes clássicos, desafiador e imprevisível, destrinchando o caso em que L e Misora trabalharam juntos para deter o metódico serial killer conhecido como Beyond Birthday, o Caso dos Assassinatos em Los Angeles.

    A premissa, extraída de uma minúscula brecha deixada no material original, já demonstra a criatividade e habilidade textual de Nisio Isin, atestada a cada frase e parágrafo de (quase) todo o livro. Deixando de lado os ostensivos diálogos de muitas camadas, que perduram por páginas a fio e caracterizam seus maiores sucessos, com destaque para a série Monogatari (da qual já forma adaptados televisivamente os volumes de Bakemonogatari e Nisemonogatari, tendo Kizumonogatari sido anunciado como longa-metragem com previsão de estreia ainda para 2012), nesta obra temos um Isin bastante descritivo, que se certifica de expor em detalhes os cenários e ocorridos, soltando pistas para que, como em qualquer bom livro detetivesco, o leitor reúna em sua mente as peças do quebra-cabeça e, caso capaz, desvende-o antes do término das 173 páginas que compõem o romance.

    Engenhoso nos assassinatos e cenas de crimes, o autor desenvolve um sagaz e obscuro jogo intelectual entre o assassino e os detetives, esporadicamente aliviado por pitadas de humor negro e sarcasmo do onisciente narrador, e diálogos afiadíssimos, quase embates verbais entre dupla, ou melhor, trio de personagens que preenche a narração. Deixando-nos cientes das regras e perto das respostas (mas nunca perto o bastante) o romance se mantém interessante até a conclusão. Mas, infelizmente, apenas até a conclusão do caso em si, sucedida por um verborrágico e desnecessário epílogo, que destoa por completo do restante deste belo suspense.

    Embora não seja impecável, Death Note: Another Note – O Caso dos Assassinatos em Los Angeles é, em meio a tantas iniciativas infelizes que infestam os mundos do cinema e dos quadrinhos, um excelente prelúdio do mangá, recomendado a todos os seus fãs. Com um preço nada amigável (R$ 29,90), o livro foi lançado em nossas terras pela Editora JBC. E mesmo que a edição não faça valer o valor exibido na capa, o conteúdo certamente o faz.

    Texto de autoria de Alexandre “Noots” Oliveira.

  • Review | The IT Crowd

    Review | The IT Crowd

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    Muito se fala da série The Big Bang Theory. Alguns até mesmo acreditam que a série americana seja o supra sumo do humor nerd. Se TBBT faz muito sucesso, parte dele pode ser creditado à série The IT Crowd, série sitcon britânica que durou 4 temporadas (2006 – 2010) que também trás luz ao mundo dos garotos inteligentes com nenhum traquejo social.

    A série gira em torno dos personagens Roy (Chris O’Dowd), Moss (Richard Ayoade) e Jen (Katherine Parkinson). Os dois primeiros trabalham no imundo e entulhado porão do prédio reluzente das fictícias industrias Reynholm, na área de TI (em inglês IT de information technology). A personagem Jen meio que cai de paraquedas na empresa e acaba como chefe deste departamento.

    Roy e Moss são nerds da informática. Ambos são extremamente requisitados na empresa mas são muito menosprezados. Roy sempre usa camisetas com piadas nerds (principalmente relacionado a informática) e é extremamente egoísta e avarento. Moss é um almofadinha sem qualquer capacidade de relação social, infantil e muito inteligente em questões de tecnologia e muito burro em questões cotidianas.

    Jen, tecno-analfabeta solteirona, sempre está  metida em problemas por não saber lidar com seus dois únicos subordinados e com o megalomaníaco, mulherengo e insano dono da corporação londrina, Denholm Reynholm (Christopher Morris), outro total ignorante em relação a computadores.

    Nesta série vemos o motivo pelo qual nunca conseguimos obter suporte para nossa internet defeituosa ou para nosso computador travado, vemos em imagens o que muita gente pensa que é a internet, vemos pitadas de The Office em meio a piadas nerds e sempre nos deparamos com situações embaraçosas que são a base do humor inglês.

    Esta é uma série politicamente incorreta que já vicia a partir da abertura, que é bem diferente.

    Em suas 4 temporadas foram produzidos 24 episódios, no formato de 20 minutos. Uma quinta temporada chegou a ser anunciada pelo canal inglês E4 mas ainda não foi produzida.

    Texto de autoria de Robson Rossi.

  • Agenda Cultural 43 | Sandman, Clint Eastwood e Homem-Aranha

    Agenda Cultural 43 | Sandman, Clint Eastwood e Homem-Aranha

    Bem vindos à bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Rafael Moreira (@_rmc), Pedro Lobato (@pedrolobato), Amilton Brandão (@amiltonsena), Carlos Brito e Isadora Sinay (@isasinay) comentam do que rolou no circuito cultural nas últimas semanas. (mais…)

  • Crítica | Following

    Crítica | Following

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    Following, filme de 1998, primeiro longa de Chistopher Nolan, trata de um jovem desempregado, creditado apenas como the young man (Jeremy Theobald), apesar de se apresentar como Bill, em dado momento da história. Este deseja se tornar escritor, mas nunca fez nada relevante. Tem uma vida solitária e sem grandes perspectivas para nada. Para suprir o seu vazio e solidão, passa a seguir pessoas aleatórias pela rua. Com um pretexto inicial de encontrar inspiração para suas histórias, porém isso passa a ser motivado por um desejo de se sentir parte de algo, conhecer pessoas, nem que seja por uma via única, preenchendo seu vazio interior.

    Entre suas “perseguições”, ele conhece, Cobb (Alex Haw), veja você. Um habilidoso ladrão de residências. E também uma mulher (Lucy Russel), creditada apenas como, the blond. No caso de Cobb, é impossível não fazer um paralelo com A Origem, e assim notar, que mesmo utilizando de outros meios, a idéia central abordada, sobre o consciente e inconsciente, o que é realidade o que não é para aqueles personagens, dentro de seu espectro limitado de conhecimento sobre o todo.

    Outro tema que também viria a se tornar recorrente, na obra de Christopher Nolan, que são as amarguras dos seus personagens, buscando uma resolução, um recomeço, e que acabam por se afundar ainda em seus próprios problemas e fraquezas nessa busca. Tudo isso já está presente em Following, talvez de uma maneira mais leve, e implicita. Mas que já faziam parte da assinatura, desse que viria a se tornar um dos maiores diretores, dessa nova geração de Hollywood.

    Além disso, o filme é um neo-noir passado em Londres, com elementos clássicos do gênero, como a loira fatal. Ambientes escuros e “sujos”. As roupas usadas pelos personagens. Ser filmado todo em preto e branco, contribui ainda mais.

    A edição não linear, que veríamos ser usada com maestria em Memento. Também marca presença aqui, sendo inclusive artifício para que o espectador se sinta perdido, dentro de um mundo complexo e que não se pode compreender sem antes saber do todo, justamente como se sente o jovem escritor.

    No mais, um último ponto a se ressaltar, não tem uma ligação direta com o filme por si só. Mas sim, como é semelhante o início de carreira do Nolan, e de Daren Aronofsky. Following e Pi, são de 1998. Os dois filmados em preto e branco. Obviamente por uma questão de custo, mas que os diretores, brilhantes diga-se de passagem, viram essa dificuldade em seu favor. No caso de following, optando por um filme noir. Pi, com aspectos de sonho e pesadelo. Os dois lidam com temas, apesar de diferentes que tem ligação entre si. Aronofsky com sua obsessão pela obsessão, já bastante marcada. Nolan, aqui um pouco mais contido em comparação com o outro, mas já impondo suas assinaturas, traçando a linha entre realidade e imaginação. A trilha sonora dos dois filmes, também tem uma boa semelhança.

  • Crítica | Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge

    Crítica | Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge

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    Inestimável é a primeira palavra que se pode ter em mente ao falar de Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge. O terceiro filme da trilogia dirigida por Christopher Nolan dá fim a um projeto que mudou a forma como as pessoas enxergam e lidam com filmes de super heróis. Uma forma mais realista e sombria foi apresentada a um público que estava acostumado a um Batman mais “super-herói” e menos próximo à realidade. Nesta conclusão temos o melhor filme da trilogia e provavelmente um dos melhores – se não o melhor – filme de super herói já feito.

    Dark Knight Rises se passa 8 anos após os acontecimentos do filme que o antecede. Somos apresentados à uma Gotham City em paz, com um índice de criminalidade baixo, uma polícia acomodada à tranquilidade e um Batman aposentado (além de um Bruce Wayne recluso). Porém, surge Bane (Tom Hardy), um mercenário que resolve aproveitar esse momento de aparente tranquilidade e fragilidade para colocar em ação seu plano sombrio de destruir Gotham City.

    Primeiramente, é importante ressaltar que a escolha da palavra “Rise” no título – aqui sendo pensada no sentido de “ascender”, ao invés de “ressurgir” como na tradução realizada no Brasil – é muito importante pelas várias formas que ela assume ao longo do filme em diversos momentos. Isso é só um pequeno exemplo com o intuito de dizer que trata-se de uma obra com detalhes muito importantes e que se unem a um todo sem pontas soltas. O roteiro é sólido e extremamente meticuloso, fruto de um trabalho excepcional por parte de Christopher Nolan, Jonathan Nolan e David S. Goyer.

     A trama é forte, tensa e envolvente. Dessa vez, temos um Batman que passa por piores dificuldades, tem seu corpo e sua alma destroçados, mas que ressurge como o verdadeiro herói. Ao mesmo tempo, temos um Batman que se ausenta das cenas pra dar lugar a um personagem também muito importante: a cidade de Gotham. Não somente o protagonista é abalado, como também a cidade se vê obrigada a reagir a um ditador extremista que quer fazer com que o povo conquiste a liberdade através da violência. Em contraposição, temos Batman se tornando um símbolo para que a cidade busque sua própria liberdade e justiça.

    Nolan não só acertou em um bom roteiro como, novamente, acertou em todas suas escolhas de elenco. Christian Bale continua com sua excelente atuação do herói principal, que cativou pessoas do mundo inteiro ao longo dessa franquia. Anne Hathaway, interpretando a Mulher Gato, demonstrou profundidade na atuação de uma personagem que estava em conflito sobre os valores que deveria defender. Tom Hardy interpreta um vilão amedrontador e de personalidade forte e cativante. Seu olhar penetrante ajuda a construir um ar de poder ao personagem que o carrega e sustenta durante toda sua participação no filme. Joseph Gordon-Levitt, por sua vez,  faz o papel do braço direito do Comissário Gordon e esbanja uma impressionante atuação em um personagem de excelente desenvolvimento e de grande importância na trama.

    Toda a trilogia se completa com este final. Todas as pontas se unem e formam uma obra completa e fantástica. Christopher Nolan eternamente será lembrado como o homem que eternizou o Batman nos cinemas. Um verdadeiro presente para todos os fãs.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.

  • Crítica | Batman: O Cavaleiro das Trevas

    Crítica | Batman: O Cavaleiro das Trevas

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    Depois do impressionante primeiro ato, Christopher Nolan retorna à franquia de Batman para realizar uma produção épica. A consagração que romperia o gênero filme de super-herói para tornar-se um grande filme por excelência.

    Introduzido como gancho na produção anterior, entra em cena a personagem antagônica do Cavaleiro das Trevas, o Coringa. Sua figura é representação máxima da potência de Batman e se popularizou até nas frases que se tornaram seculares entre os fãs.

    A trama se aproxima novamente de histórias conhecidas do herói sem deixar de lado elementos inéditos.  Trabalhando com diversos níveis narrativos, a composição de suas camadas é exemplar. Injusto afirmar que Coringa é a personagem central, sendo claro três polos distintos na narrativa: Harvey Dent como a manutenção da paz perante a lei, Batman como o vigilante que age no limiar desta, e a figura do palhaço como a não-regra, o caos.

    Os enredos se apresentam de maneiras distintas e paralelas, culminando no ápice sem volta em Gotham City. Sob esse aspecto, o diálogo entre Batman e Gordon em Begins já inferia que o surgimento de um super-herói implicaria em uma escalada criminosa. E o que assistimos é justamente uma força impossível de ser sobrepujada.

    Heath Ledger incorpora um Coringa crível e conveniente também com os quadrinhos. O espaço para a piada só se realiza por meio do grotesco, da figura abominável sem limites. Embora a personagem se encontre pouco com o seu rival, definitivas são as cenas em que estão juntos.

    O interrogatório no quartel de Gordon é a chave central do significado entre herói e vilão, uma cena brilhante que, além de seu impacto, tem significado como análise do bem que necessita do mal para existir.  A moeda que trafega nessas vias é o promotor Harvey Dent (Aaron Eckhart), que vai de um extremo a outro, conduzido por Coringa.

    A consistência do elenco comprova que é possível realizar um filme com grandes astros sem a sensação de deslocamento, impressão que tenho assistindo aos diversos filmes da Marvel. Sendo possível trabalhar com um bom elenco sem a sensação de ele estar presente só como divulgação do filme.

    Mesmo que o texto apaixonado não abrace todos os expectadores da produção, uma afirmação é correta: Batman – O Cavaleiro das Trevas tornou-se exemplo a ser copiado. Produziu um marco grandioso nas histórias em quadrinhos que tanto será comparado como tentará ser copiado. Exemplo parecido com o que aconteceu com Matrix, em 1999.

    Mais do que o filme em si, sua força é medida quando, além de uma simples história, uma produção transforma-se em método a ser seguido. Some a isso o fato de que o elemento dramático fez milhões de nerds chorarem no final da trama, que você encontra um épico moderno com a elementar jornada de um herói.

  • Crítica | O Grande Truque

    Crítica | O Grande Truque

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    A obsessão humana transcendendo os limites do agente que a gerou.

    Quando Christopher Priest foi abordado por produtores interessados em transformar o seu romance em filme através da visão de Chrisptopher Nolan, ele ficou bastante impressionado, pois o autor apreciava os filmes anteriores do diretor (The Following e Amnésia). Em meados dos anos 2000 Nolan terminou de ler o romance e envolveu o seu irmão na produção de um roteiro. Nascia assim O Grande Truque (The Prestige).

    Nolan pretendia terminar este filme antes mesmo de Batman Begins, mas a pressão do seu projeto do morcego era maior e o diretor teve que esperar um pouco para poder finalizar o seu “projeto paralelo”. O que se pensarmos bem, fez muito bem à produção de O Grande Truque (mais grana liberada pelo estúdio), além de facilitar o casting do mesmo, muito graças ao sucesso de Batman.

    O plot inicial soa quase despretensioso: Dois ilusionistas, após terem sido afastados por um trauma em um truque do passado se sucedem em uma obsessão dantesca na busca pelo truque de mágica máximo, gerando tragédias para ambos assim como para as pessoas próximas a eles. Mas dentro deste enredo Nolan explora diversos conceitos interessantíssimos da natureza humana, e extrapola para a ficção gerando inclusive dilemas filosóficos da representação do ‘’Eu’’ e sua natureza transcendental, ou não.

    Robert Angier (Hugh Jackman) e Alfred Borden (Christian Bale) são algumas das peças que Nolan tem para revisitar temas que marcariam toda a sua carreira. Um indivíduo obcecado e que está disposto a ir além do que muitos iriam, para alcançar de alguma forma a sua realização, o sentimento de ter cumprido a sua função existencial. Se aqui temos a busca pela fama e o reconhecimento como melhor ilusionista de Londres como foco, em Amnésia esta busca seria a vingança do assassinato de sua mulher, ou mesmo a obsessão de um vigilante mascarado em querer “limpar” uma cidade (e com isso amenizar as dores que o afligem desde criança). Todos eles em diversos momentos transitam em uma linha muito tênue do que consideram moral. Angier e Borden são constantemente questionados pelas pessoas ao seu redor sobre as suas ações, sobre a obsessão que os corrói, mas eles seguem sempre em frente, sempre na busca por algo que os libertará disso tudo. Ingênuos, eles se esquecem de que o caminho espinhoso percorrido deixará cicatrizes permanentes, não importa o quão gratificante seja ter atingido o seu propósito inicial.

    Outro tema recorrente em Nolan é o seu modo de brincar ou questionar a realidade. Seja através de uma lesão cerebral na qual as memórias não se fixam mais, seja através da insônia e um estado mental perturbado ou simplesmente com um truque de mágica. Aqui a metáfora do que é ou não real nunca foi mais clara. Nolan brinca em várias cenas com os truques de ambos, isso somado as reviravoltas do roteiro justificam assistir a obra mais de uma vez.

    Integram o cast de peso Michael Caine, Scarlett Johansson, Andy Serkis e a mais que curiosa participação de David Bowie como o cientista e inventor Nicola Tesla. A fotografia e a produção de arte são fidedignas a Londres do final do século IXX (o que rendeu 2 indicações ao Oscar), cores frias permeiam quase toda a película, representando em grande parte a racionalidade de nossos protagonistas, seus maquinários para os truques e sua amoralidade quando levado em conta seus objetivos. Essa frieza é contrastada em pequenos momentos que clamam mais do emocional humano, principalmente nas cenas de Michael Caine e a linda filha de Borden (Samantha Mahurin), um misto de ingenuidade e deslumbramento ao se deparar com os truques mais simples do mundo ilusionista.

    Vemos aqui que há um preço enorme a se pagar caso não haja limites para a sua obsessão. Seja ele pequeno (um pássaro que morre para o sucesso dos truques de desaparição) ou até mesmo os que podem comprometer de forma irreversível a sua vida. Direta ou indiretamente, Angier e Borden sofrem e muito com isso. Mas dentro deles há impulsos fortes demais para serem ignorados. Fica fácil perceber que não importa se eles serão alcançados ou não, o impulso sempre estará lá, forte e ainda devastador. Os sacrifícios decorrentes de tal perseverança são impactantes e é difícil se manter indiferente. A reflexão resultante de tais atos por si só já valem o filme. Pena que ele muitas vezes acaba passando ao largo da filmografia do diretor como algo menor. Ao meu ver, ele consta entre os melhores filmes de Christopher Nolan.

    Texto de autoria de Amilton Brandão.

  • Crítica | Batman Begins

    Crítica | Batman Begins

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    Demorou certo tempo para a Warner trazer o Cavaleiro das Trevas novamente às telas, após a destruição causada por Schumacher com Batman & Robin. Ao descobrir sobre o interesse da produtora, Christopher Nolan demonstrou sua vontade em realizar um longa-metragem e esboçou breves ideias iniciais a respeito do projeto.

    Antes mesmo de realizar longas reuniões com executivos, Nolan convidou o roteirista David S. Goyer para juntos trabalharem em uma versão do roteiro, ao mesmo tempo em que seu desenhista de produção concebia visualmente as ideias criadas por ambos.

    Quando os executivos puderam conhecer a história de Nolan / Goyer, também tinham em mãos diversos protótipos desenvolvidos a respeito do uniforme e carro da personagem, e também da cidade de Gotham City. Elementos que começaram como testes na garagem de Nolan e tornaram-se presentes no filme.

    Batman Begins não só narra a origem do herói como também é o primeiro marco da narrativa de Nolan. O filme explora a lacuna de sete anos em que Bruce Wayne ficou fora da cidade. Lacuna que, diz o diretor, nem mesmo foi explorada em gibis.

    A personagem dos quadrinhos aproxima-se daquela vista nas telas: um homem que realizou uma jornada interior e teve maciço treinamento com diversos mestres para tornar-se aquilo que ambicionava. Além da composição como um herói, conhecemos também o pequeno círculo de confiança de Bruce Wayne: Alfred, o paternal mordomo, Lucius Fox, mentor tecnológico do morcego e Jim Gordon, o policial que lhe inspira confiança.

    Antes de o personagem vestir o manto, a história apresenta a jornada de Bruce Wayne. Nela, é desenvolvida a psicologia desde sua infância, com seu medo pelos morcegos, e as maneiras necessárias para explorar o terror interno. Antes mesmo de o público ver o Homem Morcego, há confiança e credibilidade na jornada estabelecida por Wayne.

    As tramas apresentadas são costuradas com perfeição. Inicialmente, Batman desenvolve uma luta contra a máfia da cidade, tentando ajudar a promotora Rachel. Conforme adentra as investigações, descobre que o Dr. Jonathan Crane aproveita-se do contrabando para desenvolver uma droga própria que impele o medo. A jornada do morcego constitui-se em uma luta com elementos ainda desconhecidos por ele.

    Batman foi criado para ser um tanque de guerra em forma de homem. Tem o aparato necessário e conhece as lutas marciais mais definitivas. Nolan não queria transformar a violência em espetáculo, mas sim em um elemento que assustasse o público. Dessa forma, oferece-se credibilidade à composição da personagem.

    A produção foi rodada quase inteiramente em locações ou estúdio, utilizando muito pouco do CG. Boa parte da cidade de Gotham foi levantada em grandes estúdios; a cena da caverna possui, de fato, um lago submerso e até mesmo o batmóvel foi construído como um veículo funcional de verdade, com quatro metros e mais de duas toneladas.

    Os elementos constituem uma realidade crível para o espectador. É retirado da personagem seu conceito colorido dos filmes anteriores, compondo um ambiente sombrio e real. Por conseguinte, estabelece-se com eficiência a composição de Christian Bale entre Bruce Wayne e Batman. Dando vazão e justificativa a um homem que a noite vira um símbolo.

  • Crítica | Insônia

    Crítica | Insônia

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    Depois de um início arrebatador, quando Christopher Nolan lançou ao público, Amnésia em 2000, as expectativas para seu próximo filme se tornaram grandes, talvez por conta disso, Insônia seja a grande decepção para os entusiastas da carreira do cineasta.

    Amnésia se tornou uma das grandes surpresas do mercado cinematográfico, um filme pequeno, com um roteiro instigante e original. Ganhar o público e a crítica em seu primeiro filme (Se desconsiderarmos seu primeiro longa mais independente, The Following) é tarefa para poucos, no entanto, manter esse público é ainda mais difícil (M. Night Shyamalan é um ótimo exemplo). A verdade é que Insônia se mostra como um filme mediano, onde seus méritos maiores estão na ambientação de sua história e o elenco poderoso com que Nolan trabalhou (três ganhadores do Oscar), demonstrando o quanto o diretor já era respeitado, mesmo em início de carreira.

    O roteiro de Insônia narra a história de um detetive que parte para uma cidadezinha isolada do Alasca para investigar o misterioso assassinato de uma jovem. As coisas saem do controle durante uma perseguição ao assassino (Robin Williams) da jovem, o personagem de Al Pacino acaba matando acidentalmente seu parceiro, e a única testemunha do crime é justamente o próprio assassino que estava perseguindo. A trama se desenvolve como uma grande caçada de gato e rato, repleto de chantagens, do tipo em que os fins justificam os meios. Vale ressaltar que Insônia é um remake de um filme norueguês de 1997, dirigido por Erik Skjoldbærg, sendo assim, o primeiro (e único até o momento) onde não houve colaboração alguma de Nolan no roteiro.

    Insônia retoma temas utilizados em Amnésia, seus personagens são anti-heróis que buscam uma redenção em suas vidas. Se em Amnésia, a perda de memória do personagem de Guy Pearce é a escolha utilizada para o desenvolvimento narrativo, em Insônia é o clima do Alasca que acaba tendo um papel fundamental no desenvolvimento do roteiro, funcionando quase como um personagem à parte, aliás, esse cenário remete ao meu trabalho favorito dos irmãos Coen, Fargo: Uma Comédia de Erros, um filme policial, com traços neo-noir que se passa em um ambiente desolado e gélido.

    Os personagens do longa desencadeiam uma série de eventos onde caberá somente ao espectador determinar o caráter de cada um. Insônia desenvolve bem os seus personagens, muito parecido com o que já havia sido feito em Amnésia, transformando um filme policial com pontos de vista interessantes no que remonta a índole dos seus personagens, algo muito além da linha que tange o bem e o mal. Como um noir moderno, onde a escuridão é substituída pela claridade do Alasca, mas as trevas de verdade estão imbuídas dentro daqueles que participam da trama e não em seu ambiente.

    Al Pacino entrega um trabalho retumbante ao interpretar um detetive pragmático e amoral, completamente desgastado mentalmente, quanto fisicamente. Robin Williams demonstra um dos seus poucos papéis como antagonista, conseguindo assustar o espectador com seu olhar vazio e perturbador. Hillary Swank, ainda que discreta, se mostra fundamental como uma possível “balança” na trama.

    Apesar de ser considerado como um filme menor na filmografia de Nolan, Insônia se mostra como uma grande análise de comportamentos e nuances da mente humana travestida de thriller policial. Nolan faz tudo isso com uma direção mais clássica, não precisando retomar um estilo de narrativa não-linear para se firmar como um grande diretor.

  • Crítica | Amnésia

    Crítica | Amnésia

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    Em 2000, Cristopher Nolan, então um diretor estreante, movimentou os festivais, surpreendeu a crítica e foi indicado a dois Oscars com um filme contado ao contrário.

    O primeiro plano de Amnésia nos mostra uma polaroid que desaparece gradualmente e a primeira cena estabelece toda a estrutura do filme: essa é uma história contada de trás para frente, em que o diretor nos apresenta as consequências antes das causas.

    O protagonista de “Amnésia” é Leonard, um homem incapaz de armazenar novas memórias após ser agredido pelo mesmo homem que estuprou e matou sua mulher. Em busca de vingança ele desenvolveu um sistema de notas, fotos e tatuagens para se lembrar do que é importante e do último propósito que ainda o mantém funcionando.

    Em determinado momento Leonard diz que sua condição é como estar sempre acordando, sempre naqueles poucos minutos em que o mundo ainda não entrou em foco e você não sabe exatamente quem é ou onde está. E a estrutura do filme simula exatamente essa sensação: cada vez que um novo fragmento começa o espectador não tem ideia de como chegou ali.

    No entanto, mesmo ao contrário, a informação se acumula e conforme o filme avança nós passamos a interpretar a origem dos atos de Leonard sob a ótica de suas consequências. Nolan domina muito bem esse efeito ao inserir reviravoltas e tornar duvidosas as origens de atos que até então julgávamos certos. Ao final do filme o lugar do espectador é de novo muito parecido com o de Leonard: ele viu a conclusão de uma história, mas não pode confiar plenamente nela.

    Dessa forma “Amnésia” usa as possibilidades do cinema para reforçar e construir a historia que conta, e Nolan se prova desde o início um diretor particularmente consciente de seu ofício. No fundo, o filme fala sobre as diversas possibilidades de uma narrativa e, principalmente, da forma como alguém constrói sua identidade a partir das histórias que conta a si mesmo.

    Nolan voltará nesses temas em seus filmes posteriores. Ainda que ele nunca revisite a mesma ousadia de forma, seu cinema se constrói em reflexões sobre identidade, manipulação e as histórias que escolhemos contar para nós mesmos.

    “Amnésia” é ao mesmo tempo um filme não-convencional e um noir, um dos gêneros mais clássicos do cinema, sua estrutura aparentemente difícil é dosada com cenas intermediárias que a tornam mais fácil de absorver. É um excelente filme de estreia e marca Nolan como um grande herdeiro de Hitchcock, tanto nas escolhas narrativas e formais, como na capacidade de andar na linha entre o autoral e o comercial.

    Texto de autoria de Isadora Sinay.

  • VortCast 16 | Desenhos da nossa Infância

    VortCast 16 | Desenhos da nossa Infância

    Bem vindos à bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), André “falooowww” Kirano (@kiranomutsu), Rafael Moreira (@_rmc), Aoshi (@aoshi_senpai) e Pedro Lobato (@pedrolobato) não tinham nada melhor pra fazer se reúnem para comentar dos desenhos animados que assistiam na infância. (mais…)

  • VortCast 15 | Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge

    VortCast 15 | Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge

    Obs: Este podcast não contém spoilers do filme.

    Bem vindos à bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira) e Rafael Moreira (@_rmc) se reúnem com Mario Abbade (@fanaticc), recém-saído da cabine de imprensa de Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge, para dar sua primeira impressão crítica sobre o final da trilogia de Christopher Nolan sobre o Homem-Morcego. Aproveitem o drops desta sexta-feira que ainda neste domingo retornamos à nossa programação normal com um novo podcast. (mais…)

  • Crítica | Na Estrada

    Crítica | Na Estrada

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    Walter Salles é um diretor que gosta de road movies: Central do Brasil e Diários de Motocicleta, seus dois filmes mais conhecidos, se passam quase inteiros na estrada. Foi provavelmente o sucesso na biografia de Che Guevara que fez com que Francis Ford Coppola (detentor dos direitos do romance e produtor executivo de Na Estrada) desse a Salles a direção de um filme que parecia impossível de ser feito (Gus Van Sant e Joel Schumacher já haviam desistido da adaptação).

    Salles prova que sim, Na Estrada era um livro adaptável e inclusive bastante cinematográfico, mas talvez sua vontade de ser fiel ao romance impeça o filme de ser extraordinário.

    Na Estrada é um bom filme e, principalmente, uma boa adaptação: é fiel ao espírito do livro e a maior parte de sua trama, bem atuado, com fotografia impecável, edição eficiente e bons planos na maior parte. Mas é um filme que poderia ser excelente.

    Salles constrói bons contrastes: entre Sal e Dean; Marylou e Camille; Nova Iorque e a Califórnia; entre planos fechados, cheios, quase claustrofóbicos e enormes paisagens abertas; a linguagem direta, simples e apressada de Jack Kerouac e as frases longas e pomposas de Proust (Sal carrega No Caminho de Swann por quase todo o filme). Mas tudo isso não parece se achar no filme que não explora a fundo as contradições e os personagens que tem na mão. Da mesma forma a beleza da fotografia acaba servindo apenas pra isso, não tem função narrativa, não ajuda na construção de uma ideia, o que é uma pena vindo do diretor de Abril Despedaçado.

    Em diversos momentos o diretor faz mais literatura do que cinema, se apoia mais em diálogos e na narração em off do que nas imagens que possui e na boa atuação dos protagonistas. Aliás, um dos grandes méritos do filme é o trabalho dos atores, com um destaque surpreendente para Kristen Stewart, que  equilibra bem o apelo e a fragilidade de Marylou e consegue não ficar apagada perto do trabalho Kirsten Dunst.

    A impressão final é de um diretor com medo de seu material original: um medo de se distanciar do livro, que faz com que o filme perca em linguagem, e medo de cortar passagens, o que o torna um pouco longo e cansativo. Não é um filme ruim, mas não é o filme que Walter Salles poderia fazer, há um encantamento e um frescor em Diários de Motocicleta que deveriam estar presentes aqui, mas não estão.

    Texto de autoria de Isadora Sinay.

  • Crítica | A Vida em Um Dia

    Crítica | A Vida em Um Dia

    A Vida em Um Dia

    Você consegue imaginar um filme feito com cerca de 80.000 clipes de vídeo e mais de 4.500 horas de material fornecido por milhares de pessoas do mundo inteiro? Acredito que é um pouco difícil para qualquer um imaginar e conceber isso, mas A vida em um dia (Life In A Day) está aí em toda sua grandiosidade para mostrar que a ideia não só é possível como também é preciosa.

    Produzido da parceria entre a Scott Free UK (do aclamado diretor Ridley Scott) e o YouTube, o filme conta o que estava se passando ao redor do mundo no dia 24 de julho de 2010 através dos olhos de pessoas ordinárias. Adentramos o íntimo da vida pessoal de pessoas que talvez jamais venhamos a conhecer, mas que nem por isso deixamos de ter um sentimento de empatia por elas.

    O filme é belo e inspirador. As mais diversas cenas são apresentadas, desde a hora em que todos estão se levantando para mais um novo dia até o momento que a noite cai e as pessoas se despedem dele. Diversas culturas e costumes são reunidos mostrando as mais diversas formas de existir enquanto ser humano neste planeta. Somos todos pessoas diferentes e com pensamentos diferentes, porém unidos pela humanidade.

    O diretor brinca em diversos momentos do filme fazendo perguntas como “O que você ama?” ou “Do que você tem medo?” e o mundo responde em mais sequências de cenas simples, porém intensas. Intensidade essa provocada pela sensação de que existe um mundo gigantesco lá fora muito maior do que aquilo que conhecemos. Um dos personagens mais marcantes do filme é um ciclista coreano, o qual já inicia dizendo que não importa saber se é do norte ou do sul, que está viajando o mundo descobrindo novas culturas e engrandecendo a si mesmo enquanto pessoa.

    A vida em um dia é uma epifania de que ninguém nesse mundo está sozinho e nenhuma vida que nele está presente é dispensável. Através dos fatos mais comuns e simples do dia a dia de várias pessoas do mundo atingiu-se a grandiosidade. Muitas vezes nada de especial precisa acontecer para fazer com que um determinado dia valha a pena. Viver é enxergar a beleza nas pequenas coisas e nos pequenos momentos. É basicamente isso o que A vida em um dia nos mostra: a vida em sua plenitude.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.

  • Anotações na Agenda 10 | Falooowww

    Anotações na Agenda 10 | Falooowww

    Sincronizem suas agendas. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Rafael Moreira (@_rmc), Pedro “Ovomaltine” Lobato (@PedroLobato), Aoshi (@aoshi_senpai), André Kirano (@kiranomutsu) e Bruno “Deusa” Gaspar aproveitam que não tem nada melhor pra fazer e se reúnem para ler os emails e comentários dos últimos podcasts. (mais…)

  • Review | Zelda: Ocarina of Time

    Review | Zelda: Ocarina of Time

    Existem jogos que não só marcam momentos de nossas vidas pacatas, como marcam nossas vidas inteiras. Não estou aqui pra falar de um game qualquer. Estou aqui para falar do jogo que fez uma geração inteira pular da cadeira de empolgação, morder a língua e chorar de emoção. Uma geração inteira uma ova! Até hoje vejo gente catando um Nintendo 64 por aí para poder colocar suas mãos nessa belezinha. Sem mais delongas, vamos falar de Zelda: Ocarina of Time!

    Em 1998, o quinto jogo da franquia The Legend of Zelda (A Lenda de Zelda, em tradução livre), Ocarina of Time, era lançado para o N64. Trazendo uma épica história de fantasia que revolucionaria os rumos da franquia e o modo como todos os gamers passariam a ver jogos de RPG, Ocarina veio a ser possivelmente o game mais aclamado da geração 32/64 bits. Nada do que vou falar aqui já não foi dito anteriormente por algum outro fã maluco desse duende que fica correndo por aí com uma espada e um escudo nas mãos, mas é uma questão de valores. O game nos trouxe novos valores a serem considerados e que, indubitavelmente, até hoje nos fazem comparar com as gerações mais recentes de videogames.

    A premissa do jogo é bem simples: você controla Link, um elfo que reside na Floresta Kokiri, localizada no reino de Hyrule. Certo dia, Link se depara com a missão de salvar o reino de Hyrule das mãos do malévolo Ganondorf, o qual quer obter a todo custo o poder da Triforce, um item poderosíssimo que poderia dar a capacidade de dominar o mundo (para o bem ou para o mal) ao seu possuidor. Tendo sido confiada a responsabilidade de salvar o mundo pela própria princesa Zelda, Link (você) sai em uma jornada em busca das pedras espirituais que vão poder evitar que Ganondorf conquiste a Triforce. Como todo bom RPG, como se não bastasse o herói ter que buscar as pedras espirituais, viajamos para o futuro com a ajuda da fiel companheira Master Sword e nos deparamos com um mundo dominado pela maldade. Salvar o mundo com certeza iria dar um pouco mais de trabalho do que parecia.

    Como disse anteriormente, a premissa do jogo é bem simples – o que não quer dizer que é ruim, desaponta ou perde em originalidade. Muito pelo contrário. Somos apresentados a uma história envolvente e com personagens fantásticos. Você é transportado para um mundo de fantasia que te imerge em mais de 30 horas de jogo e que te faz perceber a infinidade de possibilidades de interação com o cenário e os objetos que o compõem. Shigeru Miyamoto, criador de Zelda, Mario e Donkey Kong, é um gênio e Ocarina of Time está aí para comprovar esse fato. E digo gênio mesmo lembrando das centenas de momentos do game que esse japonês malandro nos faz passar e que são difíceis pra burro – além de muitas vezes extremamente irritantes. De qualquer forma, isso não é desculpa pra nenhum gamer e o jogo não perde nem um pouco em beleza por causa disso. Aproveitando o ensejo e falando de beleza, vale dar um destaque importante à trilha sonora do game, que não é nada menos do que incrível. Composta por Koji Kondo, as músicas do game acompanham nossos sentimentos conforme a história vai se desenvolvendo. Mais um ponto para um jogo que simplesmente se tornou uma obra prima.

    O game é um action RPG, ou seja, você controla seu personagem livremente durante o jogo inteiro, em contraposição ao games da franquia Final Fantasy, por exemplo, no qual as ações são realizadas em turnos, tal qual um RPG convencional (de livro). Esse fato dá um pouco mais de fluidez às batalhas, já que não tem como prever os movimentos dos inimigos. Dessa forma, cada batalha, cada criatura, cada chefão devem ser estudados meticulosamente para que possamos sair vitoriosos.

    Em termos de entretenimento, Ocarina traz muitas boas surpresas. Além de uma quantidade considerável de itens a serem adquiridos ao longo do game (três tipos de roupas, botas, espadas e escudos diferentes, cada um com uma habilidade especial, além de bombas e magias), nosso personagem é detentor da ocarina do tempo, um instrumento musical mágico. Conforme a história vai evoluindo, ganhamos diferentes músicas para serem tocadas nesta ocarina, as quais possuem habilidades únicas e que ajudam nosso herói em momentos diversos do jogo. O game é tão meticuloso com detalhes assim que às vezes é difícil lembrar que temos um certo item (ou uma certa música) que poderá ajudar a resolver determinado puzzle no mapa.

    Ah, os puzzles! Se você é um gamer hardcore e gosta de bons desafios, tenho certeza que irá gostar do que Zelda tem a oferecer. Quem já esta acostumado com a franquia já vai conhecer o estilo de desafios que vão surgindo, mas não dispensa o fato de que devemos ser atentos a detalhes. Um buraco na parede pode ser o indicativo de que ela deve ser explodida, por exemplo. Qualquer coisa pode significar um avanço no jogo e qualquer desatenção pode representar um atraso de 20 minutos circulando em um mesmo cenário.

    Outro ponto que não envolve questões técnicas, mas que vale ser destacado, são as diversas (e inusitadas) possibilidades que o game apresenta. Se você, assíduo, que se empolgou em poder controlar livremente seu cowboy montando o cavalo em Red Dead Redemption, o que você sente ao saber (ou lembrar) de poder fazer a mesma coisa em Ocarina of Time? Isso mesmo. Após controlar nosso personagem crescido podemos montar em Epona e andar livremente pelo cenário, facilitando a locomoção entre as longas distâncias do mapa (lembrando que trata-se de um game de RPG, ou seja, temos que ir pra lá e pra cá incessantemente por centenas de vezes). Outro destaque não tão importante, mas que vale ser apontado só pelo fato de ilustrar tamanha criatividade dos desenvolvedores do game, é a possibilidade de participar de uma espécie de mini-game de pescaria. Sim, meus caros, você pode brincar de pescaria e ganhar prêmios de acordo com o tamanho do peixe que você consegue fisgar. O mais engraçado de tudo isso é que em um momento como o jogo da pescaria ficamos tão descontraídos que, quando percebemos, nos esquecemos de fazer as missões principais e já perdemos um bom tempo brincando de pegar alguns peixes.

    Uma boa notícia para a nova geração de gamers que podem estar lendo esse texto é que Zelda: Ocarina of Time foi relançado para o mais recente console portátil da Nintendo, o 3DS. A história continua a mesma, mas os gráficos foram melhorados e poder ter a experiência desse jogo no portátil deve ser no mínimo interessante.

    Não preciso deixar ainda mais claros os motivos pelos quais sou apaixonado por Zelda: Ocarina of Time, não é mesmo? Relembrar é viver e esse game merece estar vivo por toda a eternidade. Se você aí não teve a oportunidade (ou nunca se sentiu realmente interessado) de jogar, só te digo uma coisa: o que você está esperando? Vá salvar Hyrule!

    Texto de autoria de Pedro Lobato.

  • Resenha | Scott Pilgrim Contra o Mundo

    Resenha | Scott Pilgrim Contra o Mundo

    Scott Pilgrim Contra o Mundo - Bryan Lee O´Malley
    Scott Pilgrim é um jovem roqueiro de Toronto, meio lesado, desempregado por opção e que mora com um amigo gay – os dois dormem na mesma cama, pois só têm uma. Sua rotina consiste em jogar video game, ensaiar com sua banda horrível, namorar uma colegial porque isso é simples (um namoro em que nem pegar na mão rola) e basicamente não fazer nada. Scott está satisfeito com sua preciosa vidinha. As coisas mudam quando ele se apaixona pela misteriosa americana Ramona Flowers: pra ficar com ela, Pilgrim terá que derrotar os sete membros da Liga dos Ex-Namorados do Mal de Ramona.

    A maluquice acima é a sinopse de Scott Pilgrim Contra o Mundo, lançamento da editora Quadrinhos na Cia. para livrarias e comic shops. A edição reúne os dois primeiros volumes da série, de um total de seis. Trata-se de uma criação do cartunista canadense Bryan Lee O’Malley, e de obra independente e underground rapidamente se tornou cult, aclamada e premiada. E como não poderia deixar de ser, virou filme. Dirigido por Edgar Wright (de Todo Mundo Quase Morto e Chumbo Grosso) e estrelado pelo onipresente Michael Cera e a coisinha linda que papai do céu botou na terra, Mary Elizabeth Winstead.

    Mas qual é a dessa hq, afinal? É até meio difícil descrever, pois é algo diferente de tudo. Uma coisa única. Acho que Scott Pilgrim, no fim das contas, é como as cebolas e os ogros: tem camadas. A primeira, mais visível, é uma comédia romântica. Engraçadinha, bonitinha… e completamente viciante, por conta do carisma dos personagens. O traço, aliás, causa um certo choque à primeira vista, por ser MUITO caricato, tosco até. Mas em pouco tempo você se acostuma e percebe que o autor consegue passar uma expressividade absurda com um desenho tão simples.

    A segunda camada é a da diversão non sense. O clima de história realista é quebrado quando chega a hora da pancadaria: superpoderes, elementos de games (os inimigos são derrotados e deixam moedas e itens!), além de um humor insano e incompreensível as vezes… creio seja humor canadense, sei lá. Também há referências mil à cultura pop em geral (quadrinhos, games, música, cinema, etc.) e uma certa metalinguagem, quando alguém pergunta algo do passado e Scott diz “deixa isso pro próximo volume”.

    E por fim, mais uma camada, essa nas entrelinhas: o retrato social de uma geração. Aí reside a genialidade de O’Malley, e é o que diferencia as OBRAS-PRIMAS do resto no mundo do entretenimento, a capacidade ser profundo e simples ao mesmo tempo. Scott e aqueles que o cercam estão na fase da vida que alguns chamam de pós-adolescência, vinte e tantos anos. Quando as pessoas estão começando a enfrentar as responsabilidades (e chatices) da vida adulta, com a síndrome de Peter Pan batendo forte. Medo do que vem pela frente, vontade de mandar um f*da-se pro mundo e só se divertir. Fala sério, quem não se identifica com isso? Nosso herói Scott atravessa essa jornada de crescimento e amadurecimento, seja psicológico, emocional, financeiro… HUMANO.

    Por tudo isso, é uma obra recomendadíssima para todos, sem ressalvas. Esqueça qualquer preconceito e curta essa viagem. Quer você aproveite só uma, duas ou as três camadas, sem dúvida vai valer a pena.

    Texto de autoria de Jackson Good.

  • Resenha | Mixtape

    Resenha | Mixtape

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    Confesso não saber como começar este texto, mas não poderia deixar de indicar este quadrinho independente. Pois bem, tentarei ser direto nesta resenha, assim como Mixtape é em sua leitura (apesar de possuir uma série de nuances).

    Idealizado, escrito e desenhada por Lu Cafaggi, Mixtape possui algumas curiosidades, uma das mais interessantes é a forma de impressão e publicação escolhida pela autora. O design da hq remete diretamente ao formato de uma fita k7, criando um sentimento nostálgico imediato com quem chegou a utilizar essa mídia. O impresso é dividido em quatro livrinhos, no formato de 7×10 cm, onde todos se encaixam numa pequena caixa, representando assim uma fita k7.

    Cada um dos quatro livrinhos narra uma história da relação de um personagem com a música. A sensibilidade de Cafaggi beira o lúdico, tamanha a delicadeza da autora em seu traço leve e suave, o mesmo pode-se dizer das cores, sugerindo um clima convidativo e saudosista, como uma boa balada dedilhada em um violão. O texto apesar de mínimo se mostra sutil e sem soar pretensioso, como alguns trabalhos independentes costumam ser.

    Mixtape é pequeno apenas no tamanho, pois dentro dele possui um grande trabalho que se agiganta a cada página, seja por seu desenho delicado, suas cores suaves ou a sutileza de sua narrativa. Lu Cafaggi entrega uma trilha sonora pessoal de histórias aos seus leitores repletas de simplicidade e elegância, que tinha tudo para ter ares de pretensão, mas que na realidade soa realmente como fita k7 de canções escolhidas a dedo por você mesmo. Não deixem de prestigiar.

    Compre aqui.