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  • Crítica | O Cavaleiro Solitário

    Crítica | O Cavaleiro Solitário

    pale rider

    Em 1985, Clint Eastwood dirige seu terceiro western, O Cavaleiro Solitário, àquele que é considerado por muitos como o irmão gêmeo de O Estranho Sem Nome, com suas devidas ressalvas. Afinal, ambos os protagonistas são seres “sobrenaturais” que retornam dos mortos por um plano maior, enquanto um parece saído do inferno, o outro parece enviado do céu.

    Dois filmes que possuem personagens movidos por um mesmo ideal, por um objetivo em comum, enquanto um deles busca somente a vingança, o outro a está evitando, buscando uma forma de redenção que parece não vir nunca. Os personagens têm suas similaridades mas suas motivações são completamente opostas, assim como os dois lados de uma mesma moeda.

    Na trama, conhecemos Coy LaHood (Richard Dysart), um empresário de uma corporação que explora minas a procura de ouro no Norte da Califórnia. Em defesa dos seus interesses, ele quer a todo custo expulsar os mineiros da região em busca do domínio absoluto. Quando tudo parecia perdido, surge um Cavaleiro Solitário (Eastwood) que se denomina apenas como O Pregador e parece pronto para ajudar essa comunidade de mineiros, custe o que custar.

    Clint Eastwood interpreta esta figura solitária de poucas palavras, que surge em seu seu cavalo não se sabe bem de onde, trajando uma batina. Suas emoções são transmitidas através de seus gestos, cada cena em tela é preenchida com seus olhos, rosto na sobra e canto de boca. A figura do cavaleiro solitário dos westerns clássicos que Eastwood fez questão de homenagear aqui. Apesar do que já foi falado acima, o filme é sutil e não escancara nada, apenas deixa a possibilidade de que o personagem seja um ser sobrenatural que volta do túmulo para confrontar quem o assassinou, um cavaleiro pálido (Pale Rider) que representa a morte.

    A fotografia do filme remete diretamente aos westerns tradicionais, algo que Clint fez questão de trazer à tona em pleno anos 80. O personagem de Eastwood quase sempre é fotografado com uma iluminação forte, que exige um esforço para vê-lo, sugerindo todo ar misterioso que o personagem tem. O roteiro e a narrativa do diretor vão preenchendo cada plano com perfeição sem soar gratuito ou desnecessário, seja as cenas que contribuem para a construção de uma comunidade ou da própria figura mítica do cavaleiro solitário.

    O filme erra em mostrar momentos chave em que colocam em xeque a figura desse cavaleiro, cenas que poderiam ter sido cortadas, pois atrapalham na abordagem quase lúdica que o filme tem em vários momentos. Além disso, na época de seu lançamento, muitos críticos argumentavam que esse tipo de história já tinha sido contada diversas vezes (Os Brutos Também Amam e tantos outros). O fato é que são poucos os diretores que souberam colocar suas assinaturas da maneira que Clint fez, ao expor todas as sutilezas que esse tipo de história deveria ter. O Pregador é um personagem ambíguo e distante dos maniqueísmos dos filmes do gênero. Está aí a grande sacada do filme.

  • Crítica | Josey Wales, O Fora-da-Lei

    Crítica | Josey Wales, O Fora-da-Lei

    Josey Wales

    Em 1976, Clint Eastwood dirigiu um dos grandes clássicos do western revisionista, mas que infelizmente não teve tanto alarde como deveria. Josey Wales, o Fora-da-Lei consolidou o nome de Eastwood como um cineasta talentoso, porém, seu devido reconhecimento surgiu apenas anos depois, já que até então Clint carregava o estigma de ser apenas um ator de filmes policiais e westerns, que brincava de dirigir. A história começou a mudar após este clássico.

    Na abertura do longa, conhecemos a história do personagem e o que irá ser sua motivação durante toda ela, a vingança de sua família. A história é ambientada durante o fim da Guerra Civil Americana, e nesse período conhecemos Josey Wales (Clint Eastwood), um pacífico fazendeiro que vê sua  família ser assassinada brutalmente por um grupo de soldados que apoiam a União. A única coisa que restou em Wales foi uma cicatriz em seu rosto, como lembrança do acontecido e simboliza sua dor interior que ele passaria a carregar. Ao se ver sem família e sem lar, Wales parte em busca de vingança e se junta a um bando de soldados confederados esperando a oportunidade de encontrar aqueles que destruíram sua vida. Em pouco tempo, Wales se torna uma lenda entre as tropas do Norte e do Sul, conhecido como um grande pistoleiro de poucas palavras,  porém, quando a guerra acaba, ele se recusa a se render à União e se torna um Fora-da-Lei com cabeça à prêmio.

    Até então temos um típico personagem de western que já vimos Clint interpretar durante muito tempo, inclusive nos filmes do Leone, um sujeito solitário, de poucas palavras, quase invulnerável e que vive por seu próprio código de conduta. Mas Clint consegue demonstrar nuances deste personagem com poucos minutos em tela, deixando claro que ele não é apenas um retrato já conhecido, Wales é um homem íntegro e melancólico e não aquela figura quase sobrenatural do cavaleiro solitário.

    Essas mudanças ficam ainda mais claras quando Wales passa a se tornar responsável por um grupo de marginalizados que vagam pelo deserto em busca de algo para se apoiar, entre eles uma família do Kansas que é salva por ele, uma jovem índia e claro, o Chefe Dan George que interpreta um velho índio, que de longe têm os melhores diálogos do filme. O velho índio e Wales têm muito em comum, enquanto o índio perdeu todo seu laço com suas raízes e sente humilhado, Wales perdeu sua família e seu lar, mas ambos estampam toda sua humanidade, um de modo mais aberto, não deixando de falar por um minuto e Wales fechado, com poucas palavras, deixando seus gestos e olhares falarem por si. Aliás, as relações do grupo em geral ocorrem dessa forma, não há muito o que se falar, todos entendem um ao outro.

    Eastwood não deixa de fazer uma crítica em relação as tribos indígenas  pois assim como o protagonista, todo aquele povo é impedido à viver de modo pacífico como gostariam e são retirados de seus lares, além de serem confinados em reservas cada vez menores e abandonar suas raízes para se tornarem “civilizados”. Este tipo de crítica pode ser aplicada hoje em dia para qualquer grupo de minorias sem ser necessário pensarmos muito a respeito.

    Josey Wales conta ainda com uma fotografia melancolicamente belíssima, retratando muito bem toda a jornada do protagonista e seu bando. A trilha sonora mescla marchas militares com orquestrações de forma único, o que lhe rendeu uma indicação ao Oscar. Indispensável aos amantes de cinema.

  • Crítica | Batman Contra o Capuz Vermelho

    Crítica | Batman Contra o Capuz Vermelho

    Batman Contra o Capuz Vermelho

    DC Universe merece aplausos pela qualidade de suas animações, e Batman Contra o Capuz Vermelho não é uma exceção. O novo longa metragem é adaptado da saga escrita em 2004 por Judd Winick de mesmo nome, que pra ser bem sincero, era bem mais ou menos. Ainda bem que não é o caso desta animação. Enquanto a Marvel acerta com seus longas e falha bisonhamente com suas animações, a DC faz exatamente o contrário, exceto pelos filmes do Nolan, esses são hors concours, mas os demais…

    Mas deixando os longas e falando sobre a animação em questão. Sua história é baseada na HQ “Sobre o Capuz”, como já dito anteriormente, mas também traz elementos de um clássico das histórias do Homem-Morcego, “Morte em Família”, acredito que essa fale por si só e que não seja necessária nenhuma referência sobre sua importância neste review.

    A trama se passa no submundo de Gotham, onde um vigilante passa a exterminar toda a escória de criminosos da cidade usando métodos nada ortodoxos, seu nome é Capuz Vermelho e pouco se sabe de sua origem ou identidade. Batman não pode ser conivente com esses tipos em sua cidade e o em embate entre os dois se torna inevitável, porém, nem tudo sai como planejado, já que o Capuz parece estar sempre um passo a frente.

    O que tanto intriga o Homem-Morcego são os métodos de combate e estilo de atuação do vigilante, que faz páreo com o próprio morcego, utilizando inclusive de técnicas muito conhecidas por ele, o que ele causa tanto espanto. Para isso, Batman terá de descobrir de onde surgiu esse misterioso vigilante e o quê o motivou a vir até Gotham. No meio disso tudo, surge o chefão do crime da cidade, Máscara Negra, que tem seus negócios impedidos pelo Capuz Vermelho e arruma um jeito de tentar eliminá-lo, além de contarmos com a presença do Coringa, que ajuda a colocar um pouco mais de anarquia nessa história toda.

    A animação é produzida por Bruce Timm, responsável pela famosa série de TV do morcego dos anos 90 e é fácil notar o primor que deixa em seus trabalhos. É fácil notar um apelo bastante adulto, se comparado a série dos anos 90, o que talvez tenha sido motivado pelos filmes do Nolan, mas não podemos mencionar que essa mesma série tinha uma temática já bem acima dos desenhos da época, com um visual dark e histórias envolvendo drogas em sua trama, o que foi uma revolução e tanto para as animações da época.

    Batman Contra o Capuz Vermelho traz uma narrativa bem fluída e sem furos, personagens pouco mostrados em animações, além de um trabalho técnico já conhecido por quem acompanha as animações da DC.

  • Crítica | Mistério Da Rua 7

    Crítica | Mistério Da Rua 7

    Vanishing on 7th Street

    Imagine você acordar em uma grande cidade, completamente sozinho, o sol nasce cada dia mais tarde e se põe mais cedo, as ruas estão desertas e inabitadas, os únicos sons são sussurros ininteligíveis e a única coisa que se movimenta além de você são as sombras, sombras sem formas. Com esta trama, Brad Anderson (O Maquinista) retorna às telas, trazendo um filme de terror muito longe dos habituais. Talvez por isso tenha dividido opiniões.

    A história é situada em Detroit, onde em uma noite habitual ocorre um súbito apagão que dura poucos segundos, porém, quando a energia retorna novamente, descobrimos que todas as pessoas desapareceram, deixando como único vestígio suas vestes. Misteriosamente a energia da cidade se esvai, deixando-a em uma escuridão completa e toda forma de comunicação deixa de funcionar, aparelhos eletrônicos em geral, carros, etc.

    Neste cenário conhecemos algumas poucas pessoas que inexplicavelmente não sumiram como os demais, entre eles Luke (Hayden Christensen – nosso odiado Anakin Skywalker), um repórter de TV que acabou de se mudar para a cidade; Paul (John Leguizamo), um projecionista de cinema; Rosemary (Thandie Newton), uma terapeuta e James (Jacob Latimore), um garoto de 12 anos. O desenvolvimento da história e dos personagens se dá em um bar da rua 7 da cidade de Detroit, o único lugar que ainda tem luzes acesas, graças a um gerador existente no local, onde é abastecido sempre que necessário.

    Mistério da Rua 7 é um conto apocalíptico ao melhor estilo Twilight Zone, deixando as respostas do que ocorreu para o espectador, sejam elas de cunho espiritual, filosófico ou até mesmo sobrenatural. A direção de Anderson faz um ótimo trabalho, sempre mesclando a escuridão com algumas poucas luzes vacilantes. O roteiro de Anthony Jaswinski ajuda na imersão do que está ocorrendo, usando de flashbacks bem cronometrados para dar um certo respiro aos espectadores. O elenco embora pequeno, está muito bem, Christensen por incrível que pareça demonstra evolução ao interpretar um personagem ambíguo e abalado emocionalmente pelas suas escolhas do passado, Thandie Newton se destaca dos demais ao interpretar uma mãe que perdeu seu filho e teria tudo para ser uma personagem histérica, o que não acontece. Enfim, o entrosamento entre os quatro ocorre de forma crível e a angústia de cada um é perfeitamente plausível.

    Anderson optou por não apresentar uma solução para a trama, e os mais preguiçosos podem se incomodar com isso, pois a interpretação pode variar de cada um, já que o filme sugere várias possibilidades, incluindo entre elas a lenda envolvendo Roanoke. Mistério da Rua 7 funciona como um bom terror psicológico, utilizando um clima inquietante e sustos inteligentes. No final das contas, o filme aborda o mais antigo de todos os medos, a escuridão, seja ela no sentido literal da palavra ou não.

    Imagine você acordar em uma grande cidade, completamente

    sozinho, o sol nasce cada dia mais tarde e se põe mais cedo,

    a cidade está inabitada, os únicos sons são sussuros

    ininteligíveis e a única coisa que se movimenta além de você

    são as sombras, sombras sem formas. Com esta trama, Brad

    Anderson (diretor de “The Machinist”) retorna às telas,

    trazendo um filme de terror muito longe dos habituais.

    Talvez por isso tenha dividido opniões.

    A história é situada em Detroit, onde em uma noite habitual

    ocorre um apagão súbito que dura poucos segundos, porém,

    quando a energia retorna novamente, todas as pessoas

    desaparecem, deixando como único vestígio suas vestes.

    Aparentemente, toda a população some de imediato, se

    desmaterializando. Além disso, misteriosamente

    Neste cenário conhecemos algumas poucas pessoas que

    inexplicavelmente não sumiram como os demais, entre eles

    Luke (Hayden Christensen – nosso odiado Anakin Skywalker),

    um repórter de TV que acabou de se mudar; Paul (John

    Leguizamo), um projecionista de cinema; Rosemary (Thandie

    Newton), uma fisioterapeuta e Jacob Latimore, um garoto de

    12 anos. O desenvolvimento da história e dos personagens

    se dá em um bar da rua 7 da cidade de Detroit, o único lugar

    que ainda tem luzes acesas, graças a um gerador existente

    no local, onde é abastecido sempre que necessário.

    Brad Anderson apresenta um conto apocaliptíco ao melhor

    estilo “Twilight Zone”, deixando as respostas do que ocorreu

    para o espectador, seja ela religiosa, filosófica ou até mesmo sobrenatural. A direção de Anderson faz um ótimo trabalho, sempre mesclando a escuridão com algumas poucas luzes vacilantes e o roteiro de Anthony Jaswinski ajuda na imersão do que está ocorrendo, usando de flashbacks bem cronometrados para dar um certo respiro aos espectadores. O elenco embora pequeno, está muito bem, Christensen por incrível que pareça demonstra evolução ao interpretar um personagem ambíguo e abalado emocionalmente pelas suas escolhas do passado, Thandie Newton se destaca dos demais ao interpretar uma mãe que perdeu seu filho e teria tudo para ser uma personagem histérica, o que não acontece. Enfim, o entrosamento entre os quatro ocorre de forma crível e a angústia de cada um é perfeitamente plausível.

    Anderson optou por não apresentar uma solução para a trama, e os mais preguiçosos podem se incomodar com isso, pois a interpretação pode variar para cada pessoa, já que o filme sugere várias possibilidades, incluindo a lenda envolvendo Roanoke. Mistério da Rua 7 funciona como um bom terror psicológico, utilizando um clima inquietante e sustos inteligentes. No final das contas, o filme aborda o mais antigo de todos os medos, a escuridão, seja ela no sentido literal da palavra, ou não.

  • Anotações na Agenda 03 | Feedback e o Carnaval de Floripa

    Anotações na Agenda 03 | Feedback e o Carnaval de Floripa

    Sincronizem suas Agendas. Amilton Brandão (@amiltonsena), Flávio Vieira (@flaviopvieira), Levi Pedroso (@levipedroso) e Rafael Moreira (@_rmc) retornam para mais um feedback do nosso podcast. Histórias de carnaval e muitos debates sobre os assuntos que permearam os ultimos casts, não deixem de ouvir…e comentar!

    Duração: 66 min.
    Edição: Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira

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    Comentados na edição

    Agenda Cultural 22 – A Elite dos Nerds Aposentados
    Agenda Cultural 23 – Maluquices, Mulheres e um Kit de Maquiagem
    Agenda Cultural 24 – Ano Novo. Tudo Igual.
    Agenda Cultural 25 – Caça às Bruxas, Livros do Mal e um Pouco de Havana
    Agenda Cultural 26 – O Proibidão
    Visão Histórica
    JCast
    Vídeo: Nicolas Cage escolhendo seus próximos filmes
    MySpace RagToY
    Foto: Levi e o Cisne Negro no Carnaval de Floripa
    Gambiarra Blog (sobre o mercado editorial nacional de HQs)

    Playlist da Edição

    Peter Tosh and Mick Jagger – (You Gotta Walk) Don’t Look Back
    Bob Marley and The Wailers – Rock It Baby
    Third World – Always Around
    Eric Clapton – I Shot The Sheriff
    Wingless Angels – Write My Name/Good Morning
    Bob Marley and The Wailers – Exodus
    Third World – Rhythm Of Life
    Steel Pulse – Ku Klux Klan
    Peter Tosh – Johnny B. Goode
    Ziggy Marley – Love Is My Religion
    Sublime – Santeria
    Steel Pulse – Steppin’ Out
    S.O.J.A. – True Love
    Burning Spear – Freedom
    Mc. Catra – Adultério
    Bob Marley and The Wailers – Stop That Train
    Ziggy Marley – True To Myself

  • Review | Community

    Review | Community

    communityAntes de qualquer coisa, é fato indiscutível que existem muitos problemas nas produções audiovisuais feitas para a televisão. O principal deles claramente é o uso constante das mesmas fórmulas, subestimando a inteligência do espectador. O meu argumento é o seguinte: esse problema não pode ser associado exclusivamente ao formato ou as fórmulas em si, e sim a maneira como são utilizadas. Quando se coloca o assunto em análise, podemos ver que as fórmulas são produto da observação dos padrões de comportamento dentro de uma determinada classe de pessoas, ou seja, do que existe de comum na interação delas com o ambiente em que vivem.

    Dessa forma as séries de TV contam histórias com as quais muitas pessoas podem se identificar, por incluirem personagens e situações análogas aos que ela vêem, vivenciam ou idealizam em suas próprias vidas. O poder delas está concentrado nesse ponto, como no caso das novelas, pois praticamente todas as pessoas sentem fascínio em ver pedaços de si mesmas dentro de contextos estrangeiros. Mas as novelas são um caso particular. O assunto TV Aberta brasileira está em um patamar diferente, um tanto mais profundo do que uma simples questão de qualidade. Nesse argumento, quero falar sobre o conteúdo da TV Paga.

    O cenário é lastimável: Reality Shows se proliferaram e as séries de ficção estão em baixa. Os formatos mais batidos e aparentemente mais lucrativos, como os policiais, adolescente-conservadores e comédias de situação absolutamente ultrapassadas e repetitivas inundam toda a grade, produzindo um entretenimento vazio e condicionando o público a ter um senso crítico pobre. Não precisa ser assim, e nem sempre é assim. Em uma comédia de TV, as situações podem ser apresentadas de maneira inteligente e analisadas racionalmente, levando o espectador a reflexões construtivas sobre si mesmo e a sociedade em que vive. Tudo depende da construção dos personagens e da qualidade do roteiro. Um dos pontos mais importantes é o bom humor, e acima de tudo, saber fazer comédia com qualidade. O que a maioria das pessoas procura em programas da TV geralmente é o escape, algo que as faça relaxar e se libertar da tensão da rotina. Isso não quer dizer que elas procurem por entretenimento vazio, estúpido e sem significado. Eu pessoalmente só vejo qualidade no humor que desafia, quebra parâmetros e/ou distorce valores morais em prol da liberdade do pensamento. Temos muitos exemplos de grandes mentes no stand-up comedy, como George Carlin, Bill Hicks e o próprio Woody Allen, que conseguiu expressar mesmo na linguagem do Cinema o seu peculiar senso de humor cotidiano. É dentro dessa vertente que chego à recomendação que quero fazer ao meu caro leitor.

    Community – A Salvação

    Metalinguagem. Metahumor. Algo como “piadas sobre piadas”, ou o sarro tirado às próprias custas. Essa é a estratégia principal de Community, uma proposta honesta baseada no princípio de que nós não precisamos ser anestesiados, e sim incitados. Eu não vou fazer sinopse ou resenha sobre a série, porque considero bem melhor a forma como ela própria se apresenta ao espectador. Eu não preciso dizer que envolve um grupo de pessoas muito diferentes entre si que interagem em um contexto comum. Clássico. O seu principal diferencial está em um dos personagens: Abed Nadir. Abed é um excêntrico palestino-americano viciado em cultura pop que serve como uma conexão entre o público e os personagens. Em vez de “derrubar a quarta parede”, ele simplesmente abre uma “janela” para o espectador ao fazer constantes análises dos acontecimentos ao seu redor como se a sua “realidade” de fato fizesse parte de um seriado da TV, permitindo assim que possamos estar perfeitamente cientes das mensagens e ideias que serão transmitidas em cada episódio. Em referência a Platão, pode-se comparar o universo da série ao conceito do Mundo das Ideias: uma análise idealizada da realidade em contextos sociais e das características recorrentes de um mundo concreto.

    A série também evita cair na mesmice experimentando continuamente com diversos formatos através de paródias em investidas ousadas e inusitadas. A rapidez, acidez e sofisticação do humor no roteiro permitem que o politicamente incorreto e o contra-cultural tenham o seu devido espaço, promovendo o desvirtuamento de conceitos conservadores, uma das mais valiosas ferramentas para se exercitar a consciência de mundo e fugir do condicionamento geral por parte da propaganda que reina em toda a grande mídia. Não se deixe enganar: é sim possível rir e refletir ao mesmo tempo. Community está aí para quem quiser experimentar, e mesmo aqueles que não costumam assistir seriados podem abrir essa exceção.

    Texto de autoria de Thiago Debiazi.

  • Agenda Cultural 26 | O Proibidão

    Agenda Cultural 26 | O Proibidão

    Bem Vindos à bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Rafael Moreira (@_rmc), Mario Abbade (@fanaticc) e Bruno Gaspar se reúnem com os convidados Darkonix (@darkonix) e Laivindil (@laivindil) do JCast em uma conversa muito louca sobre musicais, vampiros transsexuais, cultura japonesa e outras maluquices. Ouça por sua conta à risco.
    OBS: Se você é menor de idade, não tem senso de humor e não sabe o que é sarcarmo passe longe deste episódio.

    Duração: 102 mins.
    Edição: Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira

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    Comentados na edição

    JCast
    FreeTalk Pro 01 – Bate-papo com Flávio
    Estragacast – Participações de Mario, Rafael e Flávio
    Farrazine #20
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    Quadrinhos

    Coleção DC 75 Anos
    Who Fighter

    Literatura

    Hollywoood Musicals
    Let The Right One In – John Ajvide Lindqvist

    Teatro

    A Inevitável História de Letícia Diniz

    Música

    Eric Clapton – Clapton

    Séries

    Lights Out
    Community
    Episodes
    Madoka Magica

    Cinema

    Bravura Indômita
    Discurso do Rei
    Desconhecido
    Tetro

    Produto da Semana

    Bomba Peniana Manual

  • Crítica | All-Star Superman

    Crítica | All-Star Superman

    All-Star Superman

    É isso aí, pessoal, a cultuada minissérie escrita por Grant Morrison e desenhada por Frank Quitely, All-Star Superman, acaba de ser lançada em mais uma animação da DC Universe e tem tudo para ser uma das maiores histórias de super-heróis de 2011 ou vocês estão mesmo contando com os filmes do Lanterna Verde, Thor e Capitão América? C’mon.

    Falar sobre o Morrison é complicado, já que seus trabalhos estão entre os mais originais e bem escritos das últimas décadas, sempre revolucionando as personagens em que trabalha, e com o Superman não foi diferente. All-Star Superman é uma história fora da cronologia do personagem e visava dar um novo olhar para o maior herói da editora DC. Sendo publicada em 2005 em 12 edições mensais e se tornando sucesso absoluto, All-Star já é considerada por muitos como a melhor história do Homem de Aço.

    Contudo, a DC Universe ficou conhecida por adaptações de algumas histórias não tão boas e transformá-las em algo muito mais interessante do que o material original, com isso sempre pairou a dúvida dos fãs sobre o que eles fariam se trabalhassem com um ótima material e não o regular como de costume, sairia algo à altura ou simplesmente deixaria a desejar, deixando claro que o forte do estúdio são histórias mais simples?

    Ao anunciar que adaptariam All-Star, a expectativa foi grande, já que se trata de uma grande história e que seria adaptada para um público de todas as idades com pouco mais de 1 hora em tela. O responsável pela animação seria Dwayne McDuffie, roteirista da série animada da Liga, Jovens Titãs e o longa Crise nas Duas Terras, além de outras animações. Bem, a boa notícia é que eles não nos decepcionaram e apresentaram um ótimo material, claro que com seus devidos cortes, mas sem esquecer a essência do herói apresentado nesta história, como uma animação deve ser feita.

    Na trama, Lex Luthor elabora um plano para eliminar o Homem de Aço, deixando-o exposto à uma grande quantidade de radiação solar, com essa exposição seus poderes se tornaram maiores ainda, porém, suas células não reagem bem a essa transformação e entram em um processo de saturação deixando nosso herói com pouco tempo de vida. Após saber de seu destino, Superman parte em uma jornada para realizar seus sonhos e preparar a humanidade para sua partida.

    Como dito anteriormente, não espere uma adaptação literal, McDuffie absorveu momentos chave e transpôs para tela da forma que julgou melhor, e caiu muito bem, pois conseguiu transmitir exatamente o significado todo desta história, transformando-a em uma uma jornanda emocionante sobre superação, amor e entrega. O que é ser um verdadeiro herói e seu real legado.

    A qualidade da animação está excelente, e é fácil notar semelhanças com o traço do Quitely com suas devidas ressalvas, não deixando de respeitar o trabalho do desenhista dos quadrinhos, assim como do próprio Morrison ao adaptar o roteiro, mudando apenas o que fosse mais necessário para esta nova mídia. Este foi o último trabalho de McDuffie, já que nos deixou precocemente em 21 de fevereiro desse ano, o que chega a ser quase poético All-Star ser sua última animação. Assim como o Superman do Morrison deixou seu legado, McDuffie deixa o seu.

  • Review | The Office – 1ª Temporada

    Review | The Office – 1ª Temporada

    TheOfficePara quem nunca trabalhou em um escritório, pare de ler e saia do post, este seriado não é para você. Para todos aqueles que já tiveram chefes inconstantes e que não podemos imaginar qual será sua próxima ação, vemos dia a dia aquele puxa-saco da chefia e para aqueles que tem seus amigos ou suas “panelas” para rir de todos os outros, continue lendo, este seriado nos pertence!

    The Office é um seriado de comédia sobre o dia a dia de um decadente escritório fornecedor de papéis, a Dunder Mifflin. Criado em 2005 pela dupla Ben Silverman (The Restaurant) e Greg Daniels (O Rei do Pedaço). Tem no elenco Steve Carell (O Virgem de 40 Anos e Todo Poderoso), Rainn Wilson (Six Feet Under), Jenna Fischer, (Miss Match), John Krasinski e B.J. Novak (Punk’d), além de muitos figurantes que cumprem o papel de funcionário que todo escritório tem.

    Sua primeira temporada é curtinha, 6 episódios apenas, aborda o tema Downsizing, que nada mais é que redução de custos e cortes de funcionários, onde o engraçadíssimo Gerente Regional Michael Scott (Steve Carell), tem de tomar as melhores ou não decisões para todos de sua equipe. Com a ajuda da bela e doce recepcionista Pam Beesly (Jenna Fischer), Jim Halpert (John Krasinski) o representante de vendas, faz de tudo para tirar do sério seu co-worker e incrívelmente puxa-saco bajulador Dwight (Rainn Wilson), o insuportável assistente DO Gerente Regional, assim ele mesmo diz. Temas como homossexualismo, racismo e relacionamentos no trabalho são muito abordados também.

    Com uma certeza inabalável, Michael acredita que é o cara mais engraçado do escritório e é a fonte da sabedoria dos negócios. Sem saber como ele é visto por seus funcionários, Michael acaba sempre alternando decisões absurdas ou patéticas, mas sempre muito hilárias.

    O diferencial de The Office é que quase não tem cenas externas e toda a série é feita como um documentário, com câmeras de mão e que os funcionários interagem e a usam como confessionário em muitas vezes. Seriado extremamente recomendado para quem gosta de comédia que não tenha conteúdo apelativo e que goste de dar boas risadas com piadas inteligentes.

    Texto de autoria de Henrique Romera.

  • Crítica | Bravura Indômita

    Crítica | Bravura Indômita

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    No final de 2010, Joel e Ethan Coen apresentaram ao público Bravura Indômita, remake do clássico homônimo de Henry Hathaway de 1969 adaptado da obra de Charles Portis. Os Coen surpreenderam principalmente pela forma da narrativa, deixando um pouco de lado o sarcasmo e o cinismo que o tornaram conhecidos, sendo contestada por muitos a abordagem dada por eles.

    Se assumindo como um Western em pleno 2010, Bravura Indômita traz novo gás ao gênero, e como já feito por Sergio Leone e outros diretores, as personagens aqui apresentados não são maniqueístas como costumava acontecer em muitos faroestes, nesta adaptação, mesmo os “mocinhos” da história não se definem tão facilmente entre o “bem” e o “mal”. Foi se o tempo onde os westerns apresentavam a imagem de heróis irretocáveis e incontestáveis.

    Na trama, temos Mattie (Hailee Steinfeld), uma jovem de 14 anos que parte em busca de vingar a morte de seu pai, buscando seu assassino, Tom Chaney (Josh Brolin). Para isso, contrata o federal Rooster Cogburn (Jeff Bridges), nesse meio tempo, os interesses do Texas Ranger LaBoeuf (Matt Damon) vai de encontro com o da garota e os três se juntam com o mesmo objetivo e partem em sua jornada. O roteiro tem mudanças acertadas em relação a primeira adaptação, assim como preferiu adotar um pouco mais do humor usado no livro de Portis, o que ao meu ver foi uma escolha mais do que acertada.

    Não que o filme de 1969 seja ruim, muito pelo contrário, Hathaway dirigiu diversos clássicos desde os anos 30, e na adaptação em questão contou com John Wayne como Rooster Cogburn, que lhe rendeu um Oscar, e ainda Dennis Hopper interpretando LaBoeuf e a ótima atuação de Kim Darby como Mattie Ross, porém, se comparado com seu remake,  verdade seja dita, ele é inferior, assim como é inferior ao livro de Portis. A abordagem de Hathaway era de um western clássico, quando o livro pedia uma visão revisionista. E foi o que os Coen fizeram.

    É interessante notar, como a versão do Hathaway preferiu retirar trechos do livro que são fundamentais para uma abordagem mais cínica e revisionista, tornando o filme um western clássico, diferente da proposta do livro. As interpretações do elenco desta nova adaptação ajuda a entender o objetivo de Portis e a assinatura dos Coen. Bridges retrata toda a ambiguidade de seu personagem interpretando um bêbado com sotaque forte e embolado. Impressionante como em certas cenas ele mostra toda sua crueza e violência para logo em seguida ir até o seu limite em demonstrações de honra e carinho. Sempre subestimado, seja pela sua idade ou condição, Cogburn surpreende os que estão ao seu redor. No final das contas, Rooster representa tudo o que os westerns revisionistas são, tendo o protagonista repleto de falhas, mas que ainda assim é o herói da história.

    Na realidade, a verdadeira protagonista da história é Mattie, uma garota endurecida pela morte do pai. Hailee expõe toda a personalidade da garota em uma interpretação intensa. Sua dinâmica com Damon e Bridges é perfeita, cada um deles representando lados da garota. Matt Damon faz uma interpretação concisa e assim como Bridges e Hailee, a química entre eles é ótima de se ver. Brolin por sua vez foge do estereótipo dos vilões de faroeste, já que interpreta um sujeito inseguro e deprimido, algo que não me lembro de ter visto em nenhum filme do gênero.

    O trabalho de direção dos Coen é soberbo como de costume, seus enquadramentos e planos são belíssimos e poéticos, como durante o duelo já no final do filme, a travessia ao rio de Mattie ou a aparição de Rooster no tribunal, mostrando sempre sua figura a meia luz. É claro que a fotografia ambientada ao estilo clássico dos westerns colabora para isso, as cenas ao luar, com neve e cavalgadas são lindas, impossível não se sensibilizar com os quadros de Roger Deakins. A trilha sonora de Carter Burnwell ajuda a te colocar dentro da narrativa, quase sempre usando variações em cima de um mesmo tema de forma magistral. Me admira ter sido completamente ignorada no Oscar, se bem que seria apenas mais uma indicação sem Oscar para receber, assim como aconteceu com as demais, infelizmente.

    No fim das contas, toda a assinatura dos Coen está estampado em Bravura Indômita, de forma sutil, mas está ali. Seja com o sarcasmo característico dos diretores, como na primeira cena onde conhecemos o personagem de Bridges ou durante a execução do índio, trechos que não existem no livro ou foram adaptados para servir melhor ao estilo deles, isso apenas para citar duas delas. A explosão de violência está presente no filme, assim como o estilo de direção, fotografia e até mesmo atores que são conhecidos pela parceria com os diretores. O mais surpreendente é ver que muitas pessoas não conseguem enxergar nada disso.

    Bravura Indômita vai além de um simples western, assim como fez Clint Eastwood com Os Imperdoáveis, não só para os amantes do gênero como para os amantes de cinema, seja por seu roteiro, direção ou elenco. Nesta nova adaptação, os Coen surgem para provar que o Velho Oeste está mais vivo do que nunca e longe de ser decadente.

  • Crítica | O Guerreiro Silencioso

    Crítica | O Guerreiro Silencioso

    O Guerreiro Silencioso

    Como todos pudemos perceber, nesses últimos anos a temática da História Antiga está em alta na literatura. Autores como Bernard Cornwell e Conn Iggulden entraram para o gosto do público, e com muita justiça. A principal razão para a popularidade desses romances sem dúvidas é a perspectiva dos autores na criação dos enredos, que descrevem em nosso passado distante uma realidade que, apesar de fantástica, é surpreendentemente verossímil. Seguindo a linha da fascinante história medieval da Europa, Nicolas Refn deu forma a uma verdadeira pérola meio-dinamarquesa, meio-britânica, sob o misterioso título de Valhalla Rising (“O Guerreiro Silencioso”, na tradução brasileira). O filme ganhou muito hype em 2010, devido a sua participação nos Festivais de Veneza e Toronto, e merece a atenção daqueles que prezam o Cinema bem executado.

    Mads Mikkelsen, o ator de perfil macabro que interpretou o vilão do reboot da franquia 007, Cassino Royale, em 2006, protagoniza os 90 minutos congelantes desse tapa-na-cara visual. One-eye, como ele é chamado por ter um dos olhos costurados, é apresentado sujo, acorrentado e enjaulado. Apesar de sua percepção de profundidade defeituosa, One-eye é um guerreiro intrépido e praticamente invencível em sua frieza psicótica. “Sangue no olho” é uma ótima expressão para descreve-lo. Os eventos mostrados no início do filme representam uma espécie de “briga de galo” com seres humanos, em que prisioneiros cobertos de pinturas corporais célticas lutam até a morte pelas apostas de seus senhores. Nessas circunstâncias podemos conferir a força derradeira de One-eye, que mesmo amarrado pelo pescoço consegue vencer o duelo em favor do seu senhor.

    Frequentemente trocado entre diferentes senhores, pois ninguém é capaz de mante-lo por muito tempo, One-eye é passado pra frente. Sua natureza brutal garante a alta rotatividade de seus “serviços”. Durante a passagem, ele consegue se libertar com a ajuda do garoto Are, que no grupo de seu antigo dono era encarregado de alimenta-lo. Os dois se tornam livres e formam um pacto silencioso. Pouco depois, eles encontram um grupo de cristãos em Cruzada (peregrinos viajando rumo ao que hoje é a Palestina, em busca de terra e tesouros). Para sobreviverem, juntam-se ao grupo e partem com eles em um barco. A Terra Santa, a terra prometida os aguardava. Jerusalém  o reino de Deus, que é deles por direito, direito adquirido por serem cristãos, por seguirem a cruz. Mas o desígnio do acaso discorda e não apoia a sua jornada. Uma forte neblina os engole durante a viagem, e eles acabam em uma terra sombria desconhecida, onde encontram o seu inexorável destino.

    Em nenhum momento vemos sinais claros da nacionalidade de nenhum dos personagens. Só se pode especular. O sangue é brilhante e jorra bruscamente. Não há slow motion. Não há trilha sonora: o silêncio acompanha a carnificina. O ponto mais forte do filme é, de longe, a estética. Cenários maravilhosos, figurino impecável e uma direção fria de Nicolas Refn. Pode-se dizer que o roteiro é limitado, mas somente para aqueles que estão acostumados ao cinema excessivamente comercial. Há pouquíssimos diálogos, e apenas alguns deles são esclarecedores em relação ao enredo. É possível que para aqueles que desconhecem o contexto histórico da Europa em 1000 dC o filme não faça o menor sentido. É preciso ter em mente a realidade da Idade das Trevas, o embate entre os cristãos e os pagãos, e também os constantes conflitos entre as diversas tribos e etnias que habitavam a região naquela época. O enredo precisa ser deduzido pelo que se vê, pensa e sabe. Ele não será explicado, mastigado e dado de bandeja por um narrador. Não há uma introdução que situe o espectador no contexto da história. O filme está lá, os acontecimentos são exibidos magistralmente, mas as conclusões finais ficam a cargo exclusivo do espectador. Os detalhes são importantes e o que é dito, embora seja pouco, tem muito significado. O filme é introspectivo e foge completamente do padrão do mainstream. Vale a pena ser conferido por sua indiscutível beleza estética e, acima de tudo, por sua riqueza em simbolismos misteriosos.

    Texto de autoria de Thiago Debiazi.

  • Crítica | Ilha do Medo

    Crítica | Ilha do Medo

    ilha do medo

    Ilha do Medo é diferente de tudo que Martin Scorsese já fez, talvez por isso tenha sido alvo de tanta polêmica e divergência quando a questão é o resultado final do filme para os expectadores. O diretor é conhecido por grandes obras do universo da máfia, mas aqui ele traz um suspense que flerta bastante com o cinema de Hitchcock, um universo relativamente novo para ele.

    Scorsese reafirma sua parceria com Leonardo DiCaprio, filmando o quarto filme protagonizado pelo ator. Essa parceria tem feito muito bem para o ator, haja visto sua filmografia, é notável sua evolução. Vivendo o federal Teddy Daniels, que é enviado até a suposta “Ilha do Medo” (Shutter Island), um hospital psiquiátrico que funciona como prisão para pacientes que representam alta periculosidade à sociedade. Sendo designado a investigar o desaparecimento de uma assassina acusada de matar os próprios filhos. Já em sua primeira cena, logo após avistarmos a embarcação envolta em névoa que está se aproximando da misteriosa ilha, é possível notar a fragilidade do personagem interpretado por DiCaprio e premonizar a grande tempestade (até mesmo literal) que ele viria enfrentar.

    O diretor consegue mesclar suas belíssimas tomadas com o uso da trilha sonora para criar clímax em cenas, ao melhor estilo Hitchcock, aliás, esse é um ponto que merece ser citado, pois em todos os seus filmes a trilha sonora parece ter sido escolhida a dedo para cada cena, o mesmo ocorre aqui. O trabalho de figurino retrata os anos 50 perfeitamente com seus chapéus, sobretudos e demais vestuário. Os personagens de DiCaprio e Mark Ruffalo fazem o típico personagem de filme noir. Scorsese faz uma grande homenagem aos filmes B, em um estilo que ainda não tinha experimentado, e sua excitação é notável em seus cortes e enquadramentos, ao brincar com a câmera em cada ângulo aplicado, utilizando tudo que aprendeu em todos esses anos e colocando nesse suspense, aliás, as referências a grandes diretores são inúmeras.

    A história em si talvez não impressione nos dias atuais, inclusive com seu final que tenta ser algo revelador mas que hoje em dia já está batido, porém, essa não é a proposta de Scorsese. O filme se passa em 1954, em pleno auge da Guerra Fria, pós Segunda Guerra, o horror causado pelos campos de extermínio ainda estava na mente de todos, inclusive tem de se ressaltar as poucas cenas onde o personagem central de DiCaprio tem flashback’s de sua passagem por um desses campos, que consegue ser uma cena mais forte do que muitos filmes tentaram fazer com foco apenas nisso e não conseguiram.

    Todas essas memórias estavam na cabeça de cada um e tudo isso foi muito bem retratado no cinema da época, a impotência da humanidade frente ao horror causado por essa própria humanidade, tudo isso nada mais que a impotência de Teddy Daniels à realidade, onde a única coisa que pode fazer é carregar a culpa e o trauma ocorridos em seu passado. Isso fica claro até mesmo no figurino do personagem, que se veste com cores neutras, exceto pela sua gravata verde, que era um presente de sua mulher, seu único elo com o passado e que até mesmo isso ele perde com o decorrer do tempo.

    Ilha do Medo é um longa genial e uma grande homenagem a tudo que  já o influenciou. Scorsese mescla um thriller noir com todos típicos personagens clássicos dos anos 50, e reinventa tudo isso transformando-o em um terror psicológico sensacional.

    O roteiro foi adaptado do livro de Dennis Lehane (Shutter Island), que foi lançado inicialmente com o nome de Paciente 67, mas com o lançamento do filme, tiveram o bom senso de alterar o título para Ilha do Medo em seu relançamento. Tive a oportunidade de ler o livro, e realmente a adaptação foi extremamente bem feita, inclusive com a parte visual, que foi muito bem resolvida em momentos em que se tornava complicado, devido a forte narrativa do personagem. Mais um ponto para Scorsese.

  • Crítica | O Vencedor

    Crítica | O Vencedor

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    David O. Russel transporta para as telas a história do peso-leve Micky Ward, boxeador conhecido pela sua resistência nos ringues onde com frequência costumava suportar vários rounds de castigo até seu adversário apresentar cansaço e ele dar a volta por cima, bastante parecido com o nosso lutador de Jiu-Jitsu e MMA, Antonio Rodrigo Nogueira, o “Minotauro”.

    Com sete indicações ao Oscar, sendo ganhador de dois deles com Christian Bale e Melissa Leo como atores coadjuvantes, O Vencedor traz um relato sincero de Micky Ward (Mark Wahlberg). Na trama sabemos um pouco do passado do seu irmão, Dicky Eklund (Bale), através de entrevistas para um documentário da HBO. Dicky ficou conhecido por ser o pugilista que derrubou Sugar Ray Leonard durante os anos 70, mas que acabou sendo derrotado, de acordo com ele, injustamente.

    Micky sempre coloca sua família em primeiro plano, mesmo que isso signifique estragar sua carreira como pugilista, já que Dicky e sua mãe só  o colocam em lutas que acabam denigrindo sua imagem e promovendo seus adversários. Sua carreira de boxeador é um fracasso e o tempo está passando para ele, seu irmão e exemplo, Dicky, está completamente afundado no crack. Micky passa sua vida sem perspectivas de um futuro de sucesso, mas tudo isso muda quando ele se envolve com um garota local e decide fazer uma mudança brusca em sua vida.

    Com uma trama que teria tudo para se tornar uma convenção de estereótipos e clichês, O Vencedor consegue ir muito além de um filme de boxe e superação como a grande maioria. Seja pelas excelentes atuações mostrando o quão reais e complexos são os personagens apresentados em tela, seja pelo roteiro convencional, mas que acrescenta verossimilhança a história ou mesmo pela direção com caráter bastante documental em todo o longa.

    E por falar em atuações, Bale rouba a cena com seu personagem, que apesar de todos os seus problemas e defeitos é impossível não se cativar, seja pela sua esperança em retornar aos ringues ou com sua relação com seu irmão, demonstrando o carinho que tem com o irmão mais novo e a experiência nos ringues ao dar dicas fundamentais para vitória do Micky.  Alice, mãe de Micky, Dicky e mais sete filhas é interpretada por Melissa Leo, uma mulher que se mostra motivada por interesses financeiros e deixa visível sua preferência por Dicky, invés do irmão mais novo. É difícil não odiá-la por suas decisões.

    Não menos importantes que os supra-citados acima, temos Amy Adams interpretando a namorada de Micky, uma jovem forte e decidida, com um passado difícil que vê uma oportunidade de redenção ao ajudar Micky e ela própria. E por falar em Micky, Mark Wahlberg se mostra humilde, pois apesar de ser o produtor e protagonista do filme, em nenhum momento ele tenta se tornar maior que o restante do elenco. Seu personagem por exemplo, apesar de discreto é notável toda a angústia guardada dentro dele. Micky mostra que apesar de ser um lutador é uma pessoa extremamente pacífica e demonstra seu desconforto até mesmo ao confrontar seus familiares. O relacionamento de Micky e Dick é o ponto alto do longa, pois mesmo com os maiores problemas e mágoas entre os dois, ambos se mostram unidos.

    Russel se mostra extremamente competente em levar o filme de forma documental, utilizando até mesmo as câmeras da HBO nas filmagens. A fotografia dá o tom decadente, deprimente e realista ao retratar seus personagens e a cidade de Lowell, o mesmo vale para a escolha do elenco, onde todos se mostram em perfeita sintonia. Impossível não se sensibilizar com a cena onde Dicky canta os versos de “I Started a Joke” dos Bee Gees para sua mãe, o dilema de Micky em aceitar seu irmão novamente como treinador ou mesmo quando é exibido o documentário sobre o crack, mostrando os efeitos devastadores sobre Dicky, uma realidade nua e crua do crack onde vemos um homem completamente devastado e o choque de sua família ao ver onde ele chegou.

    O Vencedor não é um filme sobre boxe e sim sobre adversidades e família. Seus personagens são repletos de dúvidas e problemas. Assim como a vida.

    Ouça nosso podcast sobre a filmografia de David O. Russel.

  • Review | Mafia II

    Review | Mafia II

    Após muita espera, oito anos para ser mais preciso, chegou às lojas no final de 2010 a continuação de Mafia. E como tudo que é muito aguardado, as chances de você se decepcionar são grandes. Infelizmente, Mafia II é um desses casos.

    Nosso protagonista é Vito Scalleta, um imigrante italiano que chegou nos Estados Unidos ainda criança com seus pais durante os anos 30, período em que foi marcado pela forte imigração italiana no país em busca de uma nova perspectiva de vida, devido a crise que abateu o país desde sua unificação. O deslumbramento pela cidade acaba assim que chegam em seu bairro, um cortiço repleto de famílias italianas, todos a margem da sociedade americana, servindo apenas como força braçal.

    Com o passar do tempo Vito percebe que sua família não prosperou, continuam na miséria, seu pai se tornou um bêbado e ele não vê perspectiva em sua vida, até conhecer Joe Barbaro, um ítalo-americano bonachão e simpático que faz pequenos roubos na cidade. Com o passar do tempo, Vito se junta a ele, até ser pego em um roubo de uma loja de joias. Invés de ser preso, Vito recebe a proposta de ser juntar ao exército americano na Itália, para derrubar as forças de Mussolini durante a Segunda Guerra Mundial. E assim, o jogo se inicia.

    A primeira missão é curta, mas interessante, por ambientar o jogo durante a Segunda Grande Guerra. Vito acaba ferido em combate e retorna aos EUA para se recuperar do ferimento, mas tem previsão de volta. Ao chegar em sua cidade, Vito percebe que muita coisa mudou. Seu pai está morto, sua família endividada e Joe Barbaro se torna um homem de alguma influência, pois com algumas ligações, dá um jeito de fazer Vito não voltar para a Guerra.

    Tudo isso ocorre no primeiro capítulo do jogo e a coisa vai bem até o meio dele, daí pro final se torna uma sucessão de acontecimentos sem muito embasamento. Em um momento apresentam um personagem, no outro matam, ou àqueles que você conheceu no início, simplesmente somem sem maiores explicações. As revelações não tem muito embasamento e falham enormemente onde deveriam ser fatos importantes para o desenrolar da história. As missões se tornam repetitivas e não acrescentam muito, quanto ao final? Melhor deixar pra lá.

    Mas deixando a história de lado e falando da parte técnica, a começar pelos gráficos, esses sim são de encher os olhos. A cidade transpira vida, com suas luzes, carros e pessoas, seja durante as animações ou com o jogo rolando. A ambientação é extremamente bem feita com o clima da época, seja na cidade, nos carros e roupas de época, como até mesmo na linguagem das personagens. E isso vai se moldando com a mudança de década que ocorre no jogo.

    O som é muito bem trabalhado, como já disse anteriormente, seja nas pessoas conversando na rua, como detalhes mínimos entre seus passos em dias de chuva, neve ou normais. A dublagem não peca e ajuda no carisma das personagens. Diferente do que foi falado por muitos, não gostei do rádio, apesar de ser todas músicas de época, achei que a seleção foi pequena e durante o jogo você ouve a mesma música milhões de vezes, porém, temos os comentaristas de rádio, que esses sim valem a pena, seja comentando sobre acontecimentos jornalísticos ou fatos engraçados. Se for para comentar do ponto forte do jogo, certamente são os gráficos e o som, os demais é ladeira abaixo.

    A jogabilidade se mostra uma repetição das mesmas coisas. Mafia II é um sandbox que não tem nada para fazer no mundo além das missões propostas, é linear do início ao fim, o que não é ruim, mas porque fazer um mapa enorme com dezenas de pessoas se não há interação com elas? Veja bem, o único fator que pode motivá-lo a ir de um ponto a outro, sem ser cumprindo missões, é para comprar armas novas, roupas ou roubar algum outro carro, mas aí está outro problema do jogo, durante a história você fica pobre e perde sua casa e seus acessórios várias vezes, então porque você iria atrás disso tudo se perderia tudo alguns momentos depois?

    As missões se resumem a você ir de um ponto ao outro no mapa, combate corpo-a-corpo, roubo de carros e trocas de tiros. Tem uma ou outra missão furtiva, a inteligência artificial dos inimigos é péssima, basta ficar atrás de alguma proteção que você não terá dificuldade em terminar o jogo. O ponto forte são umas poucas missões onde você deve se infiltrar sem ser notado, sendo que uma delas você precisa explodir um hotel. Bem interessante, mas são poucas, o restante se resume a dirigir seu carro (outro ponto frustrante) até a próxima missão, trocar tiros e repetir tudo novamente.

    O fator replay não existe, como já disse, missões secundárias não existem, o único item colecionável são algumas revistas da Playboy que aparecem pelo caminho, mas só isso não basta. Um sandbox sem essa interação e com uma história ruim perde completamente o motivo de sua existência, principalmente depois de jogarmos Red Dead Redemption.

  • Review | White Collar – 1ª Temporada

    Review | White Collar – 1ª Temporada

    white-collarEu estive um pouco longe de séries ultimamente. Acompanho duas via torrent e duas via TV a Cabo (quando dá), fora isso estava longe de pensar em acompanhar outra série, então certo dia me vi em frente a TV sem nada mais para fazer, liguei na Fox e vi um episódio de White Collar, e definitivamente minha curiosidade se ligou.

    Fiquei realmente instigado com a série, eu vi de cara o sexto episódio da primeira temporada, All In, e a fórmula do seriado me prendeu em frente a TV durante uma hora, mesmo com péssimos e repetitivos comerciais. White Collar conta como o ladrão de arte, falsificador, golpista e outras coisas, Neal Caffrey vai trabalhar como consultor para FBI sob tutela do Agente Peter Burk. É possível também explicar a premissa da série com: “Sabe o filme Prenda-me se for capaz? Então, imagina a continuação dele? É a série.”

    A premissa em si promete muito e foi feita de maneira incrível. Temos um misto de detetive, o caso a ser resolvido e prender o criminoso, e comédia, a relação Cafrrey-Burke é cheia de sarcasmo e ironia, e a série leva isso a frente em todos os episódios sem ser cansativo. Não estou falando que você dirá que a trama detetive é extraordinária ou que cairá na gargalhada a cada 10 minutos de um episódio, mas é possível que em muitos capítulos você fique com um sorriso na cara pelas piadas e ainda fique surpreso com o fim que tudo terá.

    Cada episódio é um caso e fechado em si, a primeira temporada inteira não teve um tão odiado To Be Continue ou o conhecido Previously on, o que faz também que seja possível assistir a série sem pretensão, vendo episódios soltos. Porém, ao contrário de outras séries que fazem isso, White Collar segue uma trama maior, não vital para seu entendimento, mas necessária para que se tire total proveito de jogadas e o entendimento dos personagens e suas motivações.

    Por falar em personagens, aqui eles são distintos, bem trabalhados e clichês, mas não pejorativamente. Geralmente quando se cita que algo é clichê, logo todos ficam achando que é ruim, não é. O clichê é um artifício, que deve ser bem utilizado (aprenda James Cameron e seu Pocahontas com Smurfs). O Agente Peter Burke é incorruptível, Neal Caffrey é O Cara e galanteador, Elizabeth Burke, esposa do agente, é a mulher-por-trás-de-todo-grande-homem. A cada episódio eles constroem isso em frente a câmeras para rotular os personagens e mesmo assim ainda tudo é aproveitado pela história, para torná-la divertida.

    E finalmente o Season Finalle, o último episódio consegue te prender na cadeira/poltrona/sofá inquieto e ansioso  e termina com o gancho do início da próxima temporada, é a primeira vez que se vê um episódio na série que termina com algo que “necessita mais para se entender”, porém não seria um season finale americano se não tivesse isso.

    Por fim, White Collar é uma série divertida, não tente ver achando que será uma série de detetive sério ou esperando que haja certo rigor com o que é possível e impossível alguém fazer. É uma recomendação para quem quer uma série a qual possa ver sem pretensão, sem a necessidade de a cada semana estar lá e ver, é um passatempo extremamente bom e recompensador. E que venha a próxima temporada.

    Texto de autoria de André Kirano.

  • Oscar 2011 | Indicados e Ganhadores da Premiação

    Oscar 2011 | Indicados e Ganhadores da Premiação

    Melhor Filme

    O Discurso do Rei (vencedor)
    Cisne Negro
    O Vencedor
    A Origem
    A Rede Social
    Minhas Mães e meu Pai
    Toy Story 3
    127 Horas
    Bravura Indômita
    Inverno da Alma

    Melhor Atriz

    Natalie Portman, Cisne Negro (vencedora)
    Nicole Kidman, Reencontrando a Felicidade
    Jennifer Lawrence, Inverno da Alma
    Michelle Williams, Blue Valentine
    Annette Bening, Minhas Mães e meu Pai

    Melhor Ator

    Colin Firth, O Discurso do Rei (vencedor)
    Jesse Eisenberg, A Rede Social
    James Franco, 127 Horas
    Jeff Bridges, Bravura Indômita
    Javier Bardem, Biutiful

    Melhor Diretor

    Tom Hooper, O Discurso do Rei (vencedor)
    Darren Aronovsky, Cisne Negro
    David Fincher, A Rede Social
    David O. Russell, O Vencedor
    Joel e Ethan Coen, Bravura Indômita

    Melhor Atriz Coadjuvante

    Melissa Leo, O Vencedor (vencedora)
    Amy Adams, O Vencedor
    Helena Bonham Carter, O Discurso do Rei
    Jacki Weaver, Reino Animal
    Hailee Steinfeld, Bravura Indômita

    Melhor Ator Coadjuvante

    Christian Bale, O Vencedor (vencedor)
    Jeremy Renner, Atração Perigosa
    Geoffrey Rush, O Discurso do Rei
    John Hawkes, Inverno da Alma
    Mark Ruffalo, Minhas Mães e meu Pai

    Melhor Roteiro Adaptado

    A Rede Social, Aaron Sorkin (vencedor)
    127 Horas, Danny Boyle e Simon Beaufoy
    Toy Story 3, Michael Arndt, John LasseterAndrew Stanton e Lee Unkrich
    Bravura Indômita, Joel e Ethan Coen
    Inverno da Alma, Debra Granik e Anne Rosellini

    Melhor Roteiro Original

    O Discurso do Rei, David Seidler (vencedor)
    Minhas Mães e meu Pai, Lisa Cholodenko e Stuart Blumberg
    A Origem, Christopher Nolan
    O Vencedor, Scott SilverPaul TamasyEric Johnson e Keith Dorrington
    Mais Um Ano, Mike Leigh

    Melhor Filme Estrangeiro

    Em um Mundo Melhor (Dinamarca – vencedor)
    Biutiful (México)
    Fora-da-Lei (Argélia)
    Dente Canino (Grécia)
    Incêndios (Canadá)

    Melhor Documentário

    Trabalho Interno (vencedor)
    Lixo Extraordinário
    Saída pela Loja de Presentes
    Gasland
    Restrepo

    Melhor Edição

    A Rede Social (vencedor)
    Cisne Negro
    O Vencedor
    O Discurso do Rei
    127 Horas

    Melhor Fotografia

    A Origem, Wally Pfister (vencedor)
    Cisne Negro, Matthew Libatique
    O Discurso do Rei, Danny Cohen
    A Rede Social, Jeff Cronenweth
    Bravura Indômita, Roger Deakins

    Melhor Maquiagem e Cabelo

    O Lobisomem (vencedor)
    Caminho da Liberdade
    Minha Versão para o Amor

    Melhor Mixagem de Som

    A Origem (vencedor)
    Bravura Indômita
    O Discurso do Rei
    A Rede Social
    Salt

    Melhor Edição de Som

    A Origem (vencedor)
    Toy Story 3
    Tron: O Legado
    Bravura Indômita
    Incontrolável

    Melhor Figurino

    Alice no País das Maravilhas (vencedor)
    Um Sonho de Amor
    A Tempestade
    Bravura Indômita

    Melhor Canção Original

    We Belong Together, Toy Story 3 (vencedor)
    Coming Home
    , Country Strong
    I See the Light, Enrolados
    If I Rise, 127 Horas

    Melhor Trilha Original

    A Rede Social, Trent Reznor e Atticus Ross (vencedor)
    O Discurso do Rei, Alexandre Desplat
    Como Treinar o seu Dragão, John Powell
    127 Horas, A.R. Rahman
    A Origem, Hans Zimmer

    Melhor Design de Produção

    Alice no País das Maravilhas (vencedor)
    Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte I
    A Origem
    O Discurso do Rei
    Bravura Indômita

    Melhor Efeitos Visuais

    A Origem (vencedor)
    Alice no País das Maravilhas
    Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte I
    Além da Vida
    Homem de Ferro 2

    Melhor Animação

    Melhor Curta de Animação

    The Lost Thing (vencedor)
    Day & Night
    The Gruffalo
    Let’s Pollute
    Madagascar, Carnet de Voyage

    Melhor Curta-Metragem

    God of Love (vencedor)
    The Confession
    The Crush
    Na Wewe
    Wish 143

    Melhor Curta-Documentário

    Strangers no More (vencedor)
    Killing in the Name
    Poster Girl
    Sun Come Up
    The Warriors of Qiugang

  • VortCast 03 | Oscar 2011

    VortCast 03 | Oscar 2011

    Bem Vindos à bordo. Em nossa terceira edição, comentamos sobre a maior festa do cinema mundial. E nesse bate-papo contamos com Flávio Vieira (@flaviopvieira), Bruno Hecates, Levi Pedroso (@levipedroso), Mario Abbade (@fanaticc), Rafael Moreira (@_rmc) e Érika Ribeiro(@erika_ribeiro) para comentar sobre este grande evento da indústria cinematográfica. Saibam as curiosidades por trás do evento, os grandes favoritos e acima de tudo, como não levá-lo nem um pouco a sério (assim como está edição) neste podcast. And The Oscar Goes to…

     

    Duração: 67 mins.
    Edição: Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira

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    • A Rede Social
    • O Discurso do Rei
    • Cisne Negro
    • O Vencedor
    • A Origem
    • Toy Story 3
    • Bravura Indômita
    • Minhas Mães e Meu Pai
    • 127 Horas
    • Inverno da Alma

    Melhor diretor

    • David Fincher – A Rede Social
    • Tom Hooper – O Discurso do Rei
    • Darren Aronofsky – Cisne Negro
    • Joel e Ethan Coen – Bravura Indômita
    • David O. Russell – O Vencedor

    Melhor ator

    • Jesse Eisenberg – A Rede Social
    • Colin Firth – O Discurso do Rei
    • James Franco – 127 Horas
    • Jeff Bridges – Bravura Indômita
    • Javier Bardem – Biutiful

    Melhor atriz

    • Annette Bening – Minhas Mães e Meu Pai
    • Natalie Portman – Cisne Negro
    • Nicole Kidman – Rabbit Hole
    • Michelle Williams – Blue Valentine
    • Jennifer Lawrence – Inverno da Alma

    Melhor ator coadjuvante

    • Mark Ruffalo – Minhas mães e meu Pai
    • Geoffrey Rush – O Discurso do Rei
    • Christian Bale – O Vencedor
    • Jeremy Renner – Atração Perigosa
    • John Hawkes – Inverno da Alma

    Melhor atriz coadjuvante

    • Helena Bonham Carter – O Discurso do Rei
    • Melissa Leo – O Vencedor
    • Amy Adams – O Vencedor
    • Hailee Steinfeld – Bravura Indômita
    • Jacki Weaver – Reino Animal

    Melhor roteiro original

    • Minhas Mães e Meu Pai
    • O Vencedor
    • A Origem
    • O Discurso do Rei
    • Another Year

    Melhor roteiro adaptado

    • A Rede Social
    • 127 Horas
    • Bravura Indômita
    • Toy Story 3
    • Inverno da Alma

    Melhor longa-metragem de animação

    • Como Treinar o Seu Dragão
    • O Mágico
    • Toy Story 3

    Melhor direção de arte

    • Alice no País das Maravilhas
    • Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 1
    • A Origem
    • O Discurso do Rei
    • Bravura Indômita

    Melhor fotografia

    • Cisne Negro
    • A Origem
    • O Discurso do Rei
    • A Rede Social
    • Bravura Indômita

    Melhor figurino

    • Alice no País das Maravilhas
    • I am Love
    • O Discurso do Rei
    • Bravura Indômita
    • The Tempest

    Melhor documentário (longa-metragem)

    • Exit Through the Gift Shop
    • Gasland
    • Inside Job
    • Restrepo
    • Lixo Extraordinário

    Melhor documentário (curta-metragem)

    • Killing in the Name
    • Poster girl
    • Strangers no More
    • Sun Come Up
    • The Warriors of Qiugang

    Melhor edição

    • Cisne Negro
    • O Vencedor
    • O Discurso do Rei
    • 127 Horas
    • A rede social

    Melhor filme de língua estrangeira

    • Biutiful (México)
    • Dogtooth (Grécia)
    • In a Better World (Dinamarca)
    • Incendies (Canadá)
    • Outside the Law (Argélia)

    Melhor trilha sonora original

    • Como Treinar seu Dragão –  John Powell
    • A Origem – Hans Zimmer
    • O Discurso do Rei – Alexandre Desplat
    • 127 Horas – A.R. Rahman
    • A Rede Social – Trent Reznor e Atticus Ross

    Melhor canção original

    • “Coming home”, de “Country Strong”
    • “I see the light”, de “Enrolados”
    • “If I rise”, de “127 horas”
    • “We belong together”, de “Toy Story 3”

    Melhor curta-metragem

    • The Confession
    • The Crush
    • God of Love
    • Na Wewe
    • Wish 143

    Melhor curta-metragem de animação

    • Day & Night
    • The Gruffalo
    • Let’s Pollute
    • The Lost Thing
    • Madagascar, carnet de voyage

    Melhor edição de som

    • A Origem
    • Toy Story 3
    • Tron: O Legado
    • Bravura Indômita
    • Incontrolável

    Melhor mixagem de som

    • A Origem
    • O Discurso do Rei
    • Salt
    • A rede Social
    • Bravura Indômita

    Melhores efeitos visuais

    • Alice no País das Maravilhas
    • Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 1
    • Além da Vida
    • A Origem
    • O Homem de Ferro 2

    Melhor maquiagem

    • Minha Versão Para o Amor
    • Caminho da Liberdade
    • O Lobisomem
  • Crítica | Inverno da Alma

    Crítica | Inverno da Alma

    inverno da alma

    Inverno da Alma chegou sem muito alarde e com o tempo foi ganhando o respeito devido, seja pelas indicações e premiações que já recebeu, como pelas críticas positivas que vem recebendo pelo mundo. Só por isso, já seria o suficiente para perdermos um pouco de nosso tempo e conferi-lo, mas nada disso é necessário, pois o filme fala por si só.

    Adaptado do romance de Daniel Woodrell, escritor americano de grande renome e conhecido por escrever sobre um gênero que remete a um thriller ambientado no interior dos EUA, o próprio autor criou um termo para seus livros, “Country Noir”, o que faz um certo sentido ao assistirmos Inverno da Alma.

    Nesta adaptação do romance de Woodrell, temos a adolescente de 17 anos, Ree (Jennifer Lawrence), responsável por seus dois irmãos menores e sua mãe doente, que vive em um estado de catatonia, e se vê em uma situação difícil, já que é procurada pela polícia para entregar seu pai, um traficante que vem cumprindo pena em liberdade condicional. A grande problemática é que seu pai usou sua casa como garantia pela fiança e desapareceu, tornando-se assim um procurado. Com o risco de não ter onde morar, Ree, não vê outra saída se não encontrar seu pai.

    Ao iniciar sua busca junto aos familiares próximos e por toda vizinhança a procura do paradeiro de seu pai, Ree passa a ter problemas em sua comunidade, que passam a condenar suas atitudes, já que vivem uma bastante comum “lei do silêncio”. Mesmo seu tio, Teardrop (John Hawkes) a proíbe de continuar suas buscas. O único apoio de Ree são alguns trocados, alimentos, baseados e outras drogas.

    As personagens de Inverno da Alma, estão distantes de serem unidimensionais, pelo contrário, escancaram suas imperfeições sem estereótipos. Ree é uma adolescente apenas na idade, já sente a responsabilidade de cuidar da família e sabe que o destino deles depende dela, isso fica claro em momentos onde está com a mãe, e ela simplesmente desaba em lágrimas em busca de um auxílio que sabe que não virá, ou mesmo quando desafia a autoridade local e sua comunidade, mostrando quão dura pode ser. A atuação de Lawrence é intensa e repleta de nuances, demonstrando que apesar do rosto angelical e ainda jovem, tem talento de sobra para interpretar personagens fortes.

    O mesmo ocorre com o coadjuvante em tela interpretado por John Hawkes, o tio de Ree e irmão de seu pai, Teardrop. Um personagem que a princípio se mostra duro e desinteressado pelo problema de sua sobrinha, aos poucos se mostra imprevisível quando decide fazer uma série de concessões para ajudá-la não importando onde isso o levará. O restante do elenco é impecável e em perfeita sincronia, demonstrando a dureza de um Estados Unidos bem distante do que estamos habituados a ver.

    A fotografia de Michael McDonough é impecável, com uma paleta de cores frias que dão o clima melancólico e angustiante do local. Tudo isso demonstrado através das caminhadas da protagonista pelas locações, mostrando o relato de toda a miséria local e a sensação de não ter com quem contar ou o que esperar. O trabalho de direção da ainda novata (Inverno da Alma é seu segundo longa) Debra Granik é lindo de ser ver, criando uma narrativa extremamente densa e cheia de tensão ao longo do filme. A trilha sonora é a cereja do bolo, repleto de canções folk’s e country’s de encher os olhos.

    A realidade de Ree é a realidade de pequenos grupos da sociedade, nos quais vêem como alternativa a produção de drogas como sustento, onde a lei está distante, e a violência e a miséria são um ciclo sem fim. O final do filme é duro e bastante pessimista. Difícil acreditar num futuro promissor para qualquer daquelas personagens.

  • Resenha | Batman: Absolvição

    Resenha | Batman: Absolvição

    Batman - Absolvição

    Trago até vocês um pouco mais de Batman, dessa vez em uma história pouco conhecida e bastante interessante, apesar de seus altos e baixos. Batman: Absolvição, lançada originalmente pela DC Comics e publicada em terreno tupiniquim pela Panini em junho de 2005.  J. M. DeMatteis traz um roteiro cheio de grandes diálogos e arte de Brian Ashmore, tem um traço bastante peculiar e bonito.

    A história retrata um acontecimento que ocorreu há dez anos atrás. Um grupo de terroristas, comete um atentado contra um edifício das empresas Wayne, causando a morte de dezenas de pessoas. O ataque é liderado por Jennifer Blake, uma fanática que julga estar abrindo os olhos do povo, contra a classe alta de Gotham através do caos.

    Batman se vê amargurado por não ter impedido o crime e não ter pego Jennifer Blake. Uma década mais tarde, após uma frustrante investigação, ele encontra pistas sobre o paradeiro da responsável pela operação criminosa e parte em seu encalço. O decorrer da história se torna monótono em alguns momentos, justamente pela caçada em busca da vilã, que acaba não acrescentando muito na história, mas o ponto forte fica por conta dos conflitos do personagem e suas definições do que é justiça.

    A história é toda narrada em primeira pessoa, nos moldes dos antigos filmes noir policiais. Nela nos deparamos com a visão pessimista de Batman em relação a sociedade em que vivemos e sobre ele mesmo, como quando ele fala sobre o fanatismo cego e obsessivo de Jennifer, que tem tamanha devoção ao que acredita, que não aceita nenhum outro ponto de vista, assim como ele.

    Absolvição é uma história densa, repleta de reflexões sobre justiça, vingança, crença e redenção. Uma pessoa pode realmente mudar? Um passado cruel pode justificar atos desumanos e desprezíveis? Quando a justiça torna-se vingança? E até que ponto um ser humano pode chegar por fanatismo ou vingança.

    Creio que deve haver uma inteligência criadora do universo. Mas um criador de barbas, sentado em seu trono, julgando almas e distribuindo justiça? Não. Não em Gotham.
    Se alguma vez existiu um Deus em seu Céu, ele perdeu interesse nesta cidade há muito tempo. Deu Corda no relógio e se foi. E o relógio está girando desde então… – Batman.

  • Resenha | 1933 Foi Um Ano Ruim – John Fante

    Resenha | 1933 Foi Um Ano Ruim – John Fante

    1933_foi_um_ano_ruimAlguns livros são gratas surpresas, nos prendem, tem um tom especial que nos chama a atenção e nos fazem por alguns momentos suspender nossa realidade e mergulhar em outra, não necessariamente melhor, mas certamente diferente. Cada vez mais procuro fugir da expectativa (embora goste de ouvir opiniões acerca do livro, desde que devidamente livres de spoilers), pois ela costuma deixar a leitura condicionada, esperando algo que não costuma corresponder ao que você pensou ou imaginou.

    Foi com esse pensamento que iniciei 1933 foi um ano ruim, de John Fante, procurei entrar o mais desprovido possível de pretensões pré-concebidas. Posso dizer que o resultado foi muito bom, encontrei uma literatura leve e espirituosa, simples mas não simplista, cuja narrativa e não-complacência lembraram-me o Holden Caufield, de O Apanhador no Campo de Centeio.

    John Fante nos conta a história de Dominic Molise através dos olhos dele próprio, filho de pais pobres e uma família estadunidense (descendente de imigrantes) desprovida de luxos, cheia de dívidas, com um futuro incerto em um ano nada auspicioso, já que haviam se passado apenas quatro anos da chamada “Grande Depressão”, ou seja, ainda se viviam os desdobramentos da profunda crise econômica.
    Dominic Molise não se destaca no colégio, se irrita com o fanatismo religioso de sua mãe, discute aos berros com sua avó (uma ranzinza conservadora saudosista, para quem nada nem ninguém que existe é bom), troca bravatas com seus irmãos e oscila entre compadecimento e raiva de seu pai, que passa as noites em bares, jogando sinuca e envolvendo-se com sirigaitas.

    As perspectivas que se apresentam a Dominic são: 1. aprender o ofício de pedreiro e trabalhar com seu pai até que eles tenham dinheiro suficiente para que eles iniciem uma construtora própria (o que é altamente improvável); e 2. usar sua habilidade de lançador para se tornar um jogador de beisebol profissional. Ele não tem dinheiro o suficiente para apresentar-se a qualquer time para um teste, nem quer trabalhar com seu pai, correndo o risco de estragar O Braço (quase uma entidade, a passagem de Dominic e sua família para fora de sua vida miserável) que com tanto zelo cuidou desde a mais tenra idade para dedicar-se ao beisebol.

    Nesse dilema, vivenciado junto com seu colega Kenny, de uma família mais abastada, é que John Fante cria uma trama fluida e aprazível, que descortina um drama particular que tem como pano de fundo o cenário de desolação econômica que se sucedeu a crise de 29. O chamado “american way of life”, que começou a dar as caras na bonança dos anos 20 (mas que se tornou mais amplamente conhecido e delimitado pós-Grande Depressão e Segunda Guerra Mundial), entrava em crise juntamente com a economia e impregnava a literatura da descrença nesse modelo que se mostrava tão frágil.

    A situação de Dominic tem um apelo gigantesco, já que se vê refletida nas vidas de muitas pessoas, tanto daquela época como de hoje em dia, como um espelho despedaçado. Molise enfrenta sua dura realidade com sarcasmo e bom humor, tomando decisões drásticas como meio de sobrevivência, perturbando sua consciência com tantos dilemas. Fante consegue fazer-nos compadecer do pobre Dominic, abandonado a sua azarada sorte, evocando a emotividade em diversos momentos, já que o jovem tem raiva e pena de sua mãe, seu pai e sua avó, afinal, eles são tão vítimas quanto ele de toda essa realidade acabrunhante. Só que a emotividade somente vem para lembrar-nos de que somos humanos, para situar-nos no lugar de Dominic e fazer-nos sentir o karma que paira sobre sua cabeça, sem que, por esse recurso, o autor entre na seara da auto-
    complacência ou pieguice.

    Junto a esse turbilhão de etéreos sonhos e árida realidade, Dominic ainda enfrenta o rito de passagem da infância a vida adulta, dividido entre dois mundos, enfrentado a dualidade transitória ao mesmo tempo em que se vê jogado na cisão social que o separa dos “outros”, como o abastado Kenny. Fante, que ficou conhecido principalmente com Pergunte ao Pó e foi tido por Bukowski como o “precursor dos beats”, nos brinda com uma história que embora não transcenda grandemente em mergulhos profundos sobre a natureza humana e questões existenciais, metafísicas etc., consegue manter-se como um bom livro que versa sobre a persistência em condições nada favoráveis sem cair nas tentações enganadoras da auto-ajuda.

    Texto de autoria de Lucas Deschain.

  • Agenda Cultural 25 | Caça às Bruxas, Livros do Mal e um Pouco de Havana

    Agenda Cultural 25 | Caça às Bruxas, Livros do Mal e um Pouco de Havana

    Bem Vindos à bordo. Mais uma edição do Podcast Agenda Cultural e neste episódio contamos com a presença de Flávio Vieira (@flaviopvieira), Rafael Moreira (@_rmc) e Mario Abbade (@fanaticc), além da participação de Carlos Voltor (@carlosvoltor) durante metade do programa. Neste podcast entenda tudo sobre o mundo da moda, porque você nunca deve fazer um pacto com o capeta e uma crítica especial ao mais novo filme do grande astro Nicolas Cage.

    Duração: 94 mins.
    Edição: Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira

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    Marvel Terror
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    Visite: Nostalgia do Terror

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    Fashionnisto – A Century of Style icons
    Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil – Leandro Narloch
    Entrevista com Leandro Narloch – Podcast Visão Histórica

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    Todd and the Book of Pure Evil

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