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  • Resenha | Jonah Hex: Marcado pela Violência

    Resenha | Jonah Hex: Marcado pela Violência

    Johan Hex - Marcado Pela Violência

    Jonah Hex está de volta em um novo encadernado publicado pela Panini Comics, e nós brasileiros, só temos a agradecer por esse material, já que está cada vez mais difícil encontrar publicações do mercenário mais mal encarado do Oeste selvagem.

    A única coisa boa que temos a agradecer pela bomba cinematográfica, Jonah Hex, estrelado por Josh Brolin, John Malkovich e a sempre bem-vinda Megan Fox, foi ter colocado os holofotes da mídia em cima de um personagem tão bacana quanto este. A Panini aproveitou a deixa e decidiu publicar novos materiais do personagem, coisa que não era feita há quase 4 anos.

    O encadernado faz um compilado das seis primeiras edições da revista mensal do Jonah Hex publicada lá fora, e conta com um time de craques de primeira linha: Jimmy Palmiotti, Justin Gray, Luke Ross, Tony DeZuniga, além de contar com outros excelentes desenhistas fazendo o trabalho de capistas.

    Todas as histórias são fechadas, terminando na mesma edição, seguindo bastante o formato das historietas de personagens clássicos do western como Tex, Zagor, entre outros, que em quase todas as edições nos deparavámos com uma história com início, meio e fim, não sendo necessário comprar outras edições para saber o desenrolar da história, o que acaba trazendo um dinamismo e uma variedade de contos bastante interessante.

    Os roteiros de Palmiotti e Justin Gray são como os bons “bangue-bangues” devem ser: Simples, eficiente e preciso. Em cada uma das seis histórias, temos Hex se deparando com um problema e tendo que resolve-lo até o cabo da edição, ao melhor clima de Western Spaghetti. Aliás, é importante frisar que essas edições do Hex que têm sido publicadas, são focadas apenas no western, tirando qualquer outra temática da personagem abordada anteriormente, motivo para agradecermos.

    A arte de Luke Ross é excelente, dono de um traço realista e eficiente ao criar sequências sem diálogos que relembram a filmografia do Leone. DeZuniga dá as caras em um das seis histórias do encadernado com seu traço característico.

    Marcado Pela Violência chega as bancas em um preço bastante convidativo, devido a qualidade do material. Recomendo para todo àquele que gosta de uma história clássica de western.

  • Resenha | O Imperador: Os Portões de Roma – Conn Iggulden

    Resenha | O Imperador: Os Portões de Roma – Conn Iggulden

    Primeiro livro de uma série de quatro. Livro que colocou Conn Iggulden no mapa de escritores de romances históricos ao lado de nomes como o de . Depois de décadas tentando publicar algo, Conn estava prestes a desistir de ganhar a vida no ramo literário e pretendia manter até a aposentadoria a sua profissão na época: professor. Felizmente isto não aconteceu e hoje temos a oportunidade de apreciar seus livros.

    Parte da aceitação deste livro pelos editores (e futuramente pelos leitores) se deu ao hype do filme Gladiador (lançado no ano 2000). Muitas pessoas queriam entender melhor o Império Romano, e Conn foi inteligente em usar este momento a seu favor. Portões de Roma é então publicado em 2003 e logo se torna um sucesso. O próprio Conn diz que deve muito ao filme pelo seu sucesso inicial.

    Inicia-se então a série que contaria a vida do governante mais famoso e importante do Império Romano. Caio Júlio César. Seu nome se tornaria mais do que uma referência, seria usado como título de governante em nações vindouras (Kaiser na Alemanha, Csar na Rússia, Tsar para os eslavos). Por 2000 mil anos depois do assassinato de Júlio César, houve pelo menos um governante usando seu nome. O herói grego Aquiles, que tinha como maior ambição ter seu nome imortalizado na história, com certeza ficaria impressionado com estes dados.

    Iggulden começa narrando a infância de um garoto chamado Caio e de seu amigo Marco. Ambos vivem em uma das muitas áreas rurais que circundavam Roma na época. Seu pai Júlio César é um cidadão romano com voz ativa no senado e por conta das responsabilidades para com a república, quase não acompanha o crescimento de seu filho.

    A primeira visita de Caio e Marco a Roma para acompanhar as lutas dos gladiadores é descrita com detalhes, o que nos dá uma visão do avanço tecnológico dos romanos comparados com outras culturas da época. Afinal é difícil conceber uma cidade de tempos longínquos com água encanada por exemplo. Mas também fornece dados para entendermos os principais problemas de Roma como uma grande metrópole. Sua sujeira, sua densidade populacional, sua violência transbordando pelos becos estreitos. Com a descrição de Iggulden, cheiramos esse fedor, nos sentimos espremidos pelos cidadãos romanos, e vivemos o medo que se esvanece, ou se concretiza a cada esquina. Mesmo assim, Caio fica embasbacado com tamanho esplendor e vivacidade. Mercadores, mendigos, legionários, políticos, todos dentro do mesmo cenário, fazendo parte do majestoso império.

    É nesta visita que tomamos conhecimento de um grande gladiador de Roma, que traçará um importante papel na vida dos garotos. Ele será responsável pelo treinamento de Caio e Marco na arte do combate, Rênio é seu nome.

    Seguimos o aprendizado dos garotos até que o destino os catapulta para uma série de eventos que resultarão em aventuras emocionantes para um, escolhas difíceis para outro. Em terras estrangeiras temos os perigos de emboscadas, rebelião de povos já conquistados por Roma e como não podia deixar de faltar, embate entre os legionários e os famigerados bárbaros. Dentro de Roma temos os perigos e sutilezas do mundo político. Suborno, conspirações e brigas pelo poder são os protagonistas da cidade das sete colinas.

    Conn alterna entre estes dois mundos com habilidade, convergindo os dois na medida em que a trama se intensifica. Essa alternância mantém o leitor preso aos acontecimentos seguintes, sempre ávido pelo desfecho.

    Apesar de tudo isso, este primeiro livro é bem introdutório se comparado ao primeiro livro da série O Conquistador. Talvez por ser mais curto (pouco mais de 370 páginas), ou talvez por ser o primeiro livro publicado pelo autor, muito do que vemos aqui é de certa forma contido se comparado ao volume O Lobo Das Planícies. As batalhas são descritas de modo menos detalhado, poucos personagens são realmente aprofundados no decorrer da narrativa e algumas viradas na trama não são tão surpreendentes como esperaríamos. Lendo sua série seguinte, nota-se a evolução de Conn como escritor ao tratar essas questões com uma abordagem diferente. Apesar disso, pelo que conhecemos da história de Júlio César, tenho certeza que os próximos livros da série trarão ainda mais emoção à estória. A tendência é que as batalhas épicas e as tramas políticas se intensifiquem, com a adição de personagens conhecidos por todos nós, como Cleópatra, Pompeu e Marco Antônio por exemplo.

    Recomendo o romance sem grandes ressalvas para o fã do gênero, e irei com certeza seguir a diante com a narrativa da magnífica vida de Gaius Iulios Caesar

    Texto de autoria de Amilton Brandão.

  • Resenha | Batman: Gotham City 1889

    Resenha | Batman: Gotham City 1889

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    Gotham City 1889 foi lançada pela editora Abril em 1990, se tornando a primeira história publicada pelo selo Elseworlds (Túnel do Tempo), conhecido por colocar seus personagens clássicos em outras realidades. E que personagem melhor do que Batman para inaugurar essas histórias? Ainda mais se tratando de uma trama ambientada na Inglaterra Vitoriana que trouxe como vilão ninguém menos que o maior serial-killer que o mundo já teve: Jack, o Estripador. Por que não colocar o maior detetive do mundo para enfrentá-lo?

    Essa foi a ideia de Brian Augustyn, roteirista de 1889, ao desenvolver essa história. Apesar do argumentoter potencial para se tornar extraordinário, o roteiro poderia ter se utilizado melhor de fontes do universo policial literário como Conan Doyle, Allan Poe, Simenon ou Agatha Christie para melhor compô-la, ainda assim Augustyn consegue escrever uma plot “redonda”, com um ótimo argumento e colocando o Homem-Morcego em um ambiente propício para suas histórias investigativas, ainda que não a desenvolva com todo o potencial que merecia.

    A trama relata um período logo após os assassinatos cometidos por “Jack”, o serial killer assombrou Londres em 1988 com seus assassinatos, e que após sair impune de todos eles decide buscar outro local para cometer suas atrocidades cruzando o Atlântico, onde encontra Gotham City. Uma cidade decadente, o cenário perfeito para sua sede por sangue e vísceras.

    No mesmo ano, 1889, conhecemos uma figura mítica que se veste como um morcego e se torna o alvo dos noticiários junto com o assassino. A grande sacada do roteiro é justamente essa, traçar uma analogia entre essas figuras e como os habitantes de Gotham e a imprensa os vê, já que ambos são confundidos como uma única figura. Não demora muito para que inocentes sejam colocados no meio deste embate.

    Temos um roteiro simples mas muito bem amarrado por Brian Augustyn, que além de tudo inunda o roteiro de influências steampunk, da própria mitologia do morcegão e da época em que foi ambientada, o que só ajuda a enriquecer a obra.

    E o que falar da arte?

    Mike Mignola, ainda um iniciante no mercado de quadrinhos mas já mostrando a que veio, faz um trabalho gráfico de elevar esta HQ a um novo patamar, que sem dúvida seria muito inferior sem a narrativa visual dele. Para os leitores de comics, não tem quem não conheça o traço de Mignola hoje em dia, mas na época o único grande trabalho dele era Odisséia Cósmica, mas com Gotham 1889 foi onde o devido reconhecimento chegou. A ambientação da história colabora e muito para Mignola deixar sua assinatura soturna com seus traços firmes e composição sóbria de seus personagens e da arquitetura gótica de Gotham. É claro que seu trabalho não seria o mesmo sem a arte-final de Craig Russel e as cores de David Hornung, que deixam aquela “cereja no bolo”, abusando de tons frios em toda HQ, casando perfeitamente com o estilo do desenhista.

    Batman parece estar em seu habitat natural, e ao ler a HQ chegamos a pensar se ele não deveria continuar no século 19 em vez dos tempos atuais. A combinação do personagem, tempo em que vive e a própria cidade é tão forte, que as suas histórias atuais simplesmente deixam de fazer sentido se comparadas (essa é a hora em que as pedras são jogadas) com a ambientação de 1889.

    Um ponto que deve ser comentado é a tradução da história, já que enquanto lá fora a obra foi lançada como Gaslight, traduzindo seria ”à luz de gás”, e por aqui chegou como Gotham City 1889. A tradução não é ruim, mas perde outra sutileza que a obra teria, Gaslight é como são conhecidos alguns romances do gênero Steampunk, e apesar de não ser uma história que faz referência direta a essa vertente (pois não temos uma tecnologia típica do gênero na obra), toda a ambientação típica está lá, e não podemos esquecer que sua continuação Batman: Mestre do Futuro já bebe 100% nessa fonte, mas isto é outra estória.

    Se toda série Elseworlds tivesse acertado como aqui, estaríamos repletos de boas histórias, uma pena que nem sempre temos artistas talentosos como é o caso de 1889.

  • Resenha | Justiceiro: Nascido para Matar

    Resenha | Justiceiro: Nascido para Matar

    Justiceiro - Nascido Para Matar- Garth Ennis

    Desde que o irlandês maluco (leia-se Garth Ennis) assumiu o título do Justiceiro, o personagem foi ganhando espaço cada vez maior e fãs mundo a fora. Ao perceber um grande potencial nas histórias do personagem, a Marvel decidiu mudar a casa do Justiceiro para um selo adulto, onde teria toda sua história recontada por Ennis, tendo total liberdade para fazer o que quisesse com o personagem, sem ter de se importar com o “fantasioso” universo Marvel cheio de “maravilhas” que Frank Castle tanto odeia.

    É claro que a Marvel também se preocupou com a ridicularização de seus personagens, já que a cada edição Ennis sacaneava um deles (o ponto forte foi o que ele aprontou com Wolverine e Homem-Aranha) e certos fanboys se incomodavam com esse tipo de atitude com seus queridos personagens. Para isso, ficou decidido criar histórias do Justiceiro que não tivessem ligação com o universo habitual dos heróis Marvel, e passamos a ter dois justiceiros, aquele que vive no universo Marvel habitua e o Justiceiro do Ennis que seria publicado na série Max, selo adulto da Marvel.

    Nascido para Matar, ou Born (título original), foi publicada neste selo Max e conta um pouco sobre a campanha de Castle na Guerra do Vietnã, trazendo um ângulo muito pouco explorado, já que pouco se falou de sua fase da vida em que passou no Vietnã, o pouco que se sabia é que ele tinha sido um herói condecorado e não muito mais que isso. Com base nessa origem, Ennis traça um perfil psicológico do personagem nunca antes abordado.

    Ennis desconstrói o personagem e coloca de lado a tão batida origem do Justiceiro de lado, já que com a morte de sua família, ele teria enlouquecido e se tornado o Justiceiro. Aqui Ennis traz algo novo na história do personagem, seria mesmo a morte de sua família o gatilho que o levou a se tornar quem era, ou sua faceta psicótica sempre existiu, e estavam apenas esperando o momento certo para vir à tona?

    A história da HQ se passa já no final da guerra, os EUA estavam sofrendo uma grande pressão popular para trazer seus jovens de volta. Nixon passa a reduzir as tropas americanas a numeros cada vez menores e os vietnamitas do sul passam a reassumir suas responsabilidades militares no confronto. É Nesse cenário que conhecemos o Capitão Frank Castle.

    Temos duas principais narrativas, a primeira do soldado Godwin, que demonstra um grande respeito por Castle, mas ao mesmo tempo medo pela paixão que ele passou a ter com a guerra e toda àquela situação, mas acima de tudo, confia nele, pois acredita que apenas Castle tiraria todos daquele inferno. Em contrapartida, temos o ponto de vista de Castle, com todos os seus tormentos e suas dúvidas, e quadro-a-quadro vamos presenciando um personagem se moldando.

    O roteiro de Ennis é visceral, detalhando seus personagens, a relação de medo e respeito entre Godwin para Castle, os conceitos deturpados de justiça aplicados pela mente doentia de seu protagonista, além de todo um esmero em escrever um retrato de uma época. Além disso, Ennis não faz vista grossa para todas as atrocidades que o exército americano cometia, monstrando estupros, a dependência de drogas pelos soldados e os assassinatos a sangue frio que eram cometidos. Claro que nada disso seria a mesma coisa sem o competente desenhista Darick Robertson, que com traços minimalistas cria sequências fantásticas de ação, onde a morte está presente em cada quadro, mas ainda assim, consegue colocar um ar poético em meio a tanto sangue.

    Nascido para Matar traz uma premissa interessante sobre a psique do Justiceiro, deixando claro que ele era um psicopata há muito tempo e a morte de sua família serviu apenas como gatilho para esse lado se tornar quem ele é. Outro ponto interessante são alguns diálogos entre Castle e um ser que não se identifica, mas que faz um pacto com ele. Afinal, seria ele o alter-ego de Castle já se manifestando? Uma força sobrenatural com quem Castle joga dados ou apenas reflexos de sua mente doentia?

  • Crítica | Solomon Kane: O Caçador de Demônios

    Crítica | Solomon Kane: O Caçador de Demônios

    solomon_kane

    O personagem criado pelo escritor Robert E. Howard, conhecido por ser o criador de Conan, escreveu antes disso histórias de Solomon Kane, personagem ambientado na Europa medieval, entre os séculos XVI XVII e que combatia demônios e outras aberrações.

    Solomon Kane nunca foi muito conhecido por aqui, apesar de ter algumas de suas histórias publicadas na revista Espada Selvagem de Conan e mais tarde em alguns encadernados da Editora Darkhorse, infelizmente o personagem nunca teve uma grande legião de seguidores pelo mundo, contudo, isso não impediu de trazê-lo as telas do cinema.

    Para isso, foi convidado o britânico Michael J. Basset para a direção do longa, que apesar da filmografia pequena, fez um trabalho competente na direção, no entanto, problemas no roteiro acabam comprometendo o resultado final. Isso influi principalmente no terceiro ato do longa e diminui o trabalho Basset, já que é ele quem assina o roteiro do filme.

    Na trama, não temos muitas informações sobre o passado do personagem e sua origem, o que sabemos é que Kane era um nobre mas que decide abandonar essa vida após um trágico acidente e parte ainda jovem. Kane acaba se tornando um grande capitão, conhecido pela sua força e coragem em batalhas como também pela sua ganância por riqueza e desprezo por Deus. Até encontrar com um demônio que lhe diz que não descansará até tomar sua alma. Após esse encontro, Kane passa a buscar uma redenção pelos seus feitos.

    Com um roteiro bastante confuso, como o motivo pelo qual Solomon Kane está sendo perseguido por alguns demônios, suas motivações, a origem de suas cicatrizes/tatuagens, acaba deixando o filme menor, mas há de se levar em conta outros fatores, como o elenco bastante interessante, inclusive do protagonista que é interpretado por James Purefoy (conhecido pelo seu papel no seriado Roma, interpretando Marco Antônio), Jason Flemyng e Max Von Sydow. Outro ponto interessante é a fotografia do filme que a todo momento consegue emular uma Europa do século 16 muito bem, usando cores acinzentadas dando um clima sombrio como das histórias de Kane. O figurino e os efeitos estão muito verossímeis, mas as cenas de luta são o ponto forte, tudo isso aliado a excelente trilha sonora de Klaus Badelt dão um tom mais sério a obra.

    Muito tem se comparado com Van Helsing, o que acaba sendo injusto, já que diferente de Helsing, Kane vem com um projeto muito menos pretensioso, um orçamento menor e não tem um direcionamento voltado a filmes “arrasa-quarteirões”, como era proposto com Van Helsing, além do que, a história de Kane é mais redonda e plausível –dentro desse universo– do que a megalomania proposta no longa de Hugh Jackman.

    Solomon Kane – O Caçador de Demônios está longe de ser um grande filme, mas certamente vai divertir àqueles que assistirem.

  • Crítica | Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora É Outro

    Crítica | Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora É Outro

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    Demorei cinco “longos dias” para juntar coragem em entrar numa sala de cinema que tivesse o cartaz do novo filme de José Padilha. Tentar anestesiar o monstro da ansiedade sobre o que esse diretor traria talvez tenha sido o motivo dessa minha letargia inicial.

    Vacinado com o modismo que se apropriou, no primeiro filme do BOPE e de seu fictício capitão, não me permitia acreditar nos (até o momento deste post) mais de 2 milhões de espectadores que foram, antes de mim, dar os olhos à surpresa das novas agressões que Padilha nos traria dessa vez.

    Mais que números e toda sorte de merchandising pós-filme-febre, minha reserva em ser levado pelas massas estava direcionada à dúvida sobre como os responsáveis pelo longa desenvolveriam ainda mais uma história que, desde o documentário Ônibus 174 já estava lustrada o suficiente para mostrar outros personagens que não apenas a díade de mocinhos e bandidos: nós próprios, “cidadãos de bem”, em nossa cativa passividade. Como, nessa sequência, o BOPE poderia ser mais “dissecado” do que fora anteriormente? Haveria um novo banho de sangue? Conheceríamos um novo repertório de palavrões e frases de efeito, entre fanfarrões e pedidos para sair? O que Padilha, agora associado a Mantovani (um dos nomes por trás de Cidade de Deus) teriam preparado para nós?!

    Quando a tela do cinema focou no filme, deixando para trás toda propaganda barata e efêmera, essa que pinta uma realidade rósea, bombardeando nossos sentidos dia a dia, foi projetada uma frase, que além de contrastar com o cenário habitual e comercial descrito neste parágrafo, colocava em transe não só o que as milhões de pessoas veriam a seguir, mas o próprio contexto social e político-eleitoral latente, porta do cinema afora:

    “Qualquer semelhança com a realidade é apenas uma coincidência. Essa é uma obra de ficção.”

    Pois, a “ficção” que ali se desenrolava trazia um problema de coordenação à dinâmica de quem a assistia: pensar sem respirar.

    Refletir sobre um Estado que, ao invés de coibir a violência e todos os seus derivados, está engendrado a estimulá-la por suas próprias instituições, no filme representadas pelo Poder Judiciário, na “idônea” polícia militar fluminense (tal qual aconteceu no primeiro filme), já era mote esperado nesta sequência. Contudo, Padilha fez mais: desdobrou a corrupção aos quinhões dos Poderes Executivo (representados na figura de um Governador inexistente e de um Prefeito estético e estático) e Legislativo (capaz de acomodar as mais caricatas figuras ao corpo dirigente, de um apresentador televisivo sensacionalista a um palhaço iletrado. Opa, perdão, não há palhaço iletrado na “ficção” de Padilha).

    A trama que o roteirista e diretor fez questão de mapear como irreal mostra um período posterior à saga do primeiro filme, mas que corresponde à nossa atualidade, onde o crime na “Cidade Maravilhosa” teria sido desorganizado pelo BOPE, agora mais estruturado e com maior campo de ação no combate à criminalidade carioca. Contudo, no vácuo desse poder paralelo, então supostamente erradicado, outra fonte de poder se apossou dessas fronteiras periféricas: as milícias. Constituídas e aparelhadas por policiais e políticos, fazendo com que a elite da tropa, representada na figura do, ainda, arrogante, inflexível, bad-ass-motherfucker e, acima de todas as demais características, determinado Nascimento. Esse que, de Comandante Geral do Bope à Sub Secretário de Inteligência, percebe a complexidade do sistema corrupto que assola nosso País e sua incapacidade de modificá-lo pelas vias “legais e pacíficas”.

    Os atores que dão personalidade aos personagens “cumprem a missão dada”. Enquanto Wagner Moura ratifica o principal personagem de sua talentosa carreira, Milhem Cortaz e André Ramiro mantém a maturidade de suas interpretações e reavivam a nostalgia dicotômica de seus personagens: a volta do malandro (tipicamente brasileiro) Capitão Fábio, contrastando com a severidade e disciplina militar de André Mathias. Somando esses altos patamares, outros personagens menores recebem nomes e interpretações muito além do que se esperaria desses na trama. Destaques que faço às representações de Antré Mattos, como o típico político que temos escolhido, Seu Jorge, num “Zé Pequeno” amadurecido e Irandhir Santos, que de figura secundária conseguiu elevar seu personagem a um embate paralelo na trama com Wagner Moura: as duas facetas (ou as “Duas-Caras”) da justiça.

    O desafio de respirar (asfixiado por um saco, parágrafos atrás) foi a acrobacia que todo espectador teve de realizar para refletir enquanto era esbofeteado por uma produção cara, importada e refinada, com direito a tomadas aéreas ausentes no primeiro filme, câmera dinâmica nas cenas de ação, roteiro truncado entre quem morria, como falecia e os porquês de cada “baixa”, uma fotografia propositalmente crua, oscilando entre cores fortes nas dependências abastadas, oficiais e, claro, no sangue jorrado, contrapondo com a opacidade desbotada da miserabilidade e condição rudimentar das comunidades.

    A edição, ainda que sem ineditismo algum em relação ao primeiro filme (iniciando um pouti-porri de cenas do primeiro e sucedido por uma apresentação que, tal qual em Cidade de Deus ou no primeiro Tropa, estampava uma cena-chave complementada e explicada ao longo da história), dá ritmo aos nossos fôlegos, de forma inteligente a cada salto da atividade profissional de Nascimento, assim como a cada tropeço na relação desse com seus entes: filho, ex-esposa e Mathias.

    A trilha sonora não se mostrou impactante como no primeiro. Fixar o grupo Tihuana na música tema, ainda que em nova versão, foi um voto pela preservação de uma imagem que já fora construída, assim como optar por um repertório bem conhecido entre faixas e artistas, caso de Paralamas, Marcelo D2 etc. Ademais, os efeitos sonoros ficaram bem alinhados com as cenas de ação.

    Extasiado, vi as cenas aéreas e audaciosas (não tecnicamente) finais desse filme cru, cruel e NADA fictício, com certo otimismo. Não se tratava de esperança nos dirigentes de nosso País que, ao meu ver, já estão de “pomba-gírice” há muito tempo, mas sobre o futuro da mensagem de Padilha que, tal qual fazia Sérgio Bianchi em seus filmes, mas sem arrebatar milhões de expectadores, novamente nos coloca em xeque:

    Se nada acontecer para mudar o cenário cancerígeno de nossos sistemas político e social, fodeu para todos nós. E, parafraseando Capitão Fábio (o modelo de nossa brasilidade), se “quer me foder? Então me beija!”

    Texto de autoria de Luciano Francisco.

  • Resenha | O Clube do Filme – David Gilmour

    Resenha | O Clube do Filme – David Gilmour

    O Clube do Filme – David Gilmour

    Clube do Filme foi um dos primeiros livros que li em 2009, e que surpresa agradável. Uma história verídica sobre a amizade entre pai e filho, respeito, amor e o poder que um filme pode exercer em uma pessoa.

    David Gilmour, escritor e crítico de cinema traça um relato sensível sobre um período de sua vida onde estava sem trabalho, com pouco dinheiro e tendo problemas com seu filho de 15 anos.

    Sem saber como lidar com a situação delicada do filho que só tirava péssimas notas e vinha decaindo nos estudos cada dia mais e mais, David faz uma faz uma das escolhas mais dificeis de sua vida.

    Apesar de ser um rapaz esperto, popular e simpático, Jesse era totalmente incapaz de progredir na escola, seu pai se vê sem saber o que fazer diante do derrota do filho e fica com medo de perdê-lo. David propõe ao filho que ele poderia abandonar os estudos desde que assistisse toda semana três filmes. Os filmes são escolhidos a dedo por David, de acordo com cada situação vivenciada, buscando um diálogo após cada sessão visando o desenvolvimento do filho.

    Pode parecer absurdo para um pai a escolha feita por David e de fato é, mas um ponto deve ser analisado. No momento narrado pelo autor, o que notamos era o medo que ele sentia de perder seu filho e através das sessões de filmes, ele visava uma maneira de se aproximar do filho e ensiná-lo algo.

    O problema é que Jesse é um maluco apaixonado, e em dado momento do livro, se vê abandonado por sua amada e começa a se afundar nas drogas e depressão, o que torna a escolha de Gilmour um problema e o deixa confuso se fez a escolha certa.

    A leitura não é romantizada, mas sim muito sincera e por vezes dolorosa. Os filmes não são o objetivo do livro mas sim a relação entre pais e filhos, a amizade que nasceu e a troca que existe entre eles. Apesar disso tudo, eles tem papel importantissímo no livro, através deles, David faz metáforas da vida do garoto, traça paralelos e o ensina através de clássicos como Os Incompreendidos de Truffaut, Sindicato de Ladrões de Kazan, entre outros grandes clássicos ou não.

    David cria uma ligação com seu filho que muitos pais invejariam, tudo isso em meio à aulas de cinema. Um lindo relato sobre o poder do cinema e o amor entre um pai e um filho.

  • Agenda Cultural 20 | Nostalgia, Possessões e muita Polêmica

    Agenda Cultural 20 | Nostalgia, Possessões e muita Polêmica

    Sincronizem suas agendas. Flávio Vieira, Felipe Morcelli, Mário Abbade e a estréia do nosso mais novo colaborador: Levi Pedroso (Johnny Depp). Zumbis e vampiros galhofeiros, uma volta do Oeste Selvagem à Fronteira Final e uma pitada de possessão demoníaca nesta edição. Have fun!

    Duração: 78 min.
    Edição: Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira

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    Comentados na edição

    Quadrinhos

    Vampiro Americano – Vertigo Edição 10
    Jonah Hex – Marcado pela Violência

    Games

    Trine

    Música

    Iron Maiden – The Final Frontier

    Série

    Boardwalk Empire

    Cinema

    Comer, Rezar e Amar
    Os Vampiros Que Se Mordam
    Os Outros Caras
    The Runaways – Garotas do Rock
    Crítica O Último Exorcismo
    Wall Street 2 – O Dinheiro Nunca Dorme
    Resident Evil 4: Recomeço
    Viral do O Último Exorcismo no Chatroulett

    Produto da Semana

    Oi Girl

  • Resenha | A Cor da Magia – Terry Pratchett

    Resenha | A Cor da Magia – Terry Pratchett

    A Cor da Magia - Pratchett

    São poucos os autores que conseguem soltar as amarras e fugir do óbvio, principalmente quando se trata de literatura fantástica, onde frequentemente nos deparamos com uma história repetitiva, com a formúla básica desse genêro, grupos de aventureiros partem com o objetivo de um bem maior, tudo isso somado à criação de um novo mundo, uma nova língua para alguns habitantes desse mundo (tentativa frustrada muitas vezes) e os personagens de sempre com suas personalidades batidas.

    Não precisa ser grande conhecedor de leitura para notar as semelhanças das histórias de hoje com o que foi criado pelo Professor Tolkien. A velha forma de contar uma história vem sendo repetida inúmeras e inúmeras vezes, achar algo original no meio de tantos autores que têm medo de arriscar não é fácil, mas tem quem se arrisque, e Terry Pratchet é um desses.

    A série Discworld já tem mais de 30 títulos lançados, e foi escrita pelo britânico Terry Pratchett. Infelizmente, apenas alguns desses títulos chegaram por aqui, e boa parte deles já estão esgotados e sem previsão de relançamento pela Editora Conrad, responsável pela série no Brasil. A Cor da Magia, primeiro volume da série, foi publicada em 1983 e traduzido e publicado no Brasil apenas em 2001.

    A originalidade e o bom humor do autor é um colírio para os olhos, logo nas primeiras páginas ele descreve o mundo dos personagens da série mais ou menos assim: “Tente imaginar o mundo plano, no formato de um disco, esse disco é sustentado por quatro elefantes gigantes(!), e esses quatro elefantes são sustentados por uma tartaruga gigantesca(!!!) que fica vagando pelo universo”. Achou muita maluquice? Você não viu nada.

    A Cor da Magia foca na ambientalização do leitor ao mundo apresentado pelo escritor, além de contar a história do mago Rincewind, que sabe apenas um feitiço, mas que nunca o utilizou, pois não se lembra, ou quando lembra tem medo das consequências que ele pode causar e DuasFlor, um viajante maluco e ingênuo que só arruma confusão e é acompanhado por sua bagagem que tem vida própria, com direito a dezenas de perninhas para correr e dentes para proteger quem tentar ameaçar seu dono.

    O livro tem personagens fantásticos, como o Morte (sim, aqui ele é um homem), que para mim é o melhor de todos. Morte sempre aparece nos piores momentos, tentando levar a alma de um personagem e, sempre com tiradas de humor negro e sarcasmo. Temos também a espada mágica que não pára de falar nunca e tem poder sobre aquele que a empunha ou ainda um grupo de cientistas que estão desenvolvendo uma pesquisa para descobrir qual o sexo da tartaruga gigante e se ela pode ter relações sexuais com outra tartaruga gigante(?!).

    Pratchett abusa das referências mitológicas e lendárias para criar sua história, mas usa tudo isso com extrema originalidade, dando toques de humor e até mesmo críticas a sociedade moderna, não deixando passar nada. Seu roteiro não é pré-delineado, e com isso ele vai brincando com os personagens sem se sentir obrigado a seguir o caminho habitual de boa parte das histórias que vemos por aí.

    A Cor da Magia é extremamente recomendado, uma pena ter esgotado e a Conrad não ter planos de republicá-lo tão cedo, aproveito a oportunidade para fazer um apelo a Conrad que republique os volumes que estão esgotados ou que outra editora compre os direitos da série, porque eu quero garantir os meus.

  • Crítica | Tudo Pode Dar Certo

    Crítica | Tudo Pode Dar Certo

    Tudo Pode Dar Certo

    Woody Allen é um workaholic inveterado. Atualmente aos 74 anos, Allen não demonstra sinais de cansaço e retorna às telonas com sua mais nova sequência: Tudo Pode Dar Certo.

    O Cineasta despontou na indústria em 1965 ao ser convidado para escrever o roteiro de O que é que há, gatinha?, comédia dirigida por Clive Donner, e que além de tudo contou com a atuação de Allen. Em 1969 dirigiu seu primeiro filme, mas somente em 1977 com Noivo Neurótico, Noiva Nervosa é que teve seu devido reconhecimento. O fato é que Allen desde os anos 60 não parou mais, seja como roteirista, diretor ou ator, mantendo uma incrível média de lançamento de um filme por ano, boa parte deles de extremo bom gosto. E dessa vez não foi diferente.

    Tudo Pode Dar Certo é um retorno às origens, Allen reúne tudo aquilo que o consagrou nos anos 70 e faz uma excelente comédia. Não estou de maneira alguma menosprezando seus últimos trabalhos, longe disso, são todos belíssimos, mas Tudo Pode Dar Certo nos remete  aos seus filmes daquela década que estabeleciam elementos como pessimismo, neuroses e excentricidades como sua veia cômica mais pungente. Uma boa razão para isso, talvez seja pelo fato do roteiro ter sido escrito nessa mesma década, com adaptações para os dias de hoje.

    Para o protagonista do longa, Allen convidou ninguém menos que Larry David para interpretar Boris (alter-ego de Allen), conhecido pela seu sarcasmo habitual, David deixa sua assinatura escancarada no personagem, o que pode agradar alguns e afastar outros. O personagem de David é um físico arrogante e excêntrico, repleto de neuras e ceticismo, além de ser profundamente pessimista ao mundo e aos que nele habitam. Boris já é um senhor, separou-se da mulher e passou a morar sozinho, tendo como amigos um pequeno e seleto grupo de estudiosos onde eventualmente ele se reúne.

    Sua vida rotineira termina na noite em que encontra Melody (Evan Rachel Wood), que foge de casa para tentar a carreira de atriz em NY, sem ter onde morar, Boris aceita que ela passe a morar com ele (Após muita relutância). A partir daí a vida dos dois muda bruscamente, Boris, passa a provocar transformações na vida da garota, antes uma menina fútil, agora passa a enxergar o mundo de outra maneira, discutindo questões existencialistas, se tornando outro “Woody Allen”, mas sem perder um pouco da inocência e até mesmo do otimismo, característica inata de quase todos os jovens.

    Rachel Wood mostra um refinamento artístico por não tornar o seu personagem caricatural, pelo contrário, apesar de todas as mudanças e o espelhamento e admiração que sua personagem tem por Boris, ela ainda consegue deixar sua marca e não emular outro ator, mas também, convenhamos que ter Allen como Diretor ajuda e muito. O elenco de apoio é todo muito bom e são peças fundamentais para o tema abordado no filme.

    Boris traz com ele uma quebra da quarta parede, ao se dirigir ao público e dialogar sobre seu ponto-de-vista e manifestando mais uma vez toda sua excentricidade, tornando a narrativa extremamente direta e fluída. Durante todo o longa, somos martelados com a ideia central do longa, da auto-descoberta, da não-repressão e da liberação de uma sociedade fundada por dogmas e convenções.

    Allen retorna mais uma vez para dizer a quem queira ouvir para abrir sua visão de mundo a novas ideias, experiências, descobertas e relações. Whatever Works (título original) mescla um roteiro repleto de questões existenciais com bom humor. Diversão garantida e uma ótima deixa para refletir sobre sua vida.

  • Resenha | Retalhos

    Resenha | Retalhos

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    Confesso que peguei (emprestada) esta obra para ler sem grandes expectativas. Simplesmente pelo fato de nunca ter tido contato com nenhuma obra do quadrinista. Em tempos onde sempre sabemos de antemão o que iremos consumir, é realmente muito gratificante absorver algo totalmente novo e estranho para você.

    Retalhos é uma obra autobiográfica, repleta de alegorias gráficas e literárias. Craig Thompson utiliza sua história de vida para nos inserir na mente de um garoto criado em Wisconsin por uma família protestante, juntamente com seu irmão Phil.

    A graphic novel é composta por capítulos não necessariamente cronológicos, onde o autor mostra ao mesmo tempo a simplicidade da vida de um garoto comum, e a complexidade psicológica que resulta dessa vida “simples”. A infância de Craig é repleta de dificuldades e traumas. A imposição da religião junto com a inocência inerente em uma criança causou nele uma temeridade ao divino que guiou e influenciou seu comportamento enquanto ele crescia.

    Descrevendo-a assim, parece que a obra é extremamente séria, mas isso não é totalmente verdadeiro. Retalhos está também repleta de momentos suaves, de sentimentos verdadeiros e que apelam ao que de mais humano temos. O relacionamento dele com seu irmão, por exemplo, é um desses momentos engraçados, contrastando com o teor mais pesado da obra. Mas o ápice na descrição de sentimentos belos fica realmente evidente quando Craig conhece Raina, seu primeiro grande amor. E que se tornaria sua musa inspiradora.

    Craig deixa isso bem claro, desenhar se torna uma constante homenagem à Raina. E neste ponto vale a pena mencionar os desenhos de Retalhos. Eles casam com o texto e o sentimento descrito de forma singular. Ele utiliza muitas alegorias fantásticas para expressar determinadas cenas e acerta em todas!

    De modo sutil, Retalhos também critica o “pensamento religioso em massa”. Sempre cercado de pessoas (pais, professores, pastores, etc.) dizendo como ele deveria pensar e agir. É interessante notar que mesmo no auge de sua ingenuidade, mesmo fazendo exatamente o que diziam para ele fazer, Craig sempre se sentia amargurado pelo seu modo de pensar/agir. Sempre com uma ponta de culpa, remorso. É como se internamente, em alguma caverna profunda dentro de si, ele soubesse que aquilo não estava realmente certo. Que todos os temores e receios eram usados como ferramentas de controle por gerações e gerações. E que fazendo o que era “certo” para os outros, não correspondia com o seu verdadeiro ser.

    Com Raina, Craig expressa as dúvidas e aflições de um primeiro relacionamento amoroso entre adolescentes. Expressa também seus prazeres. Novamente de modo simples, sutil e verdadeiro. Não há como não se encantar com a sua narração somada aos belíssimos desenhos. Você se sente parte do mundo no qual eles mesmos estão profundamente mergulhados e perdidos. Não deixem de notar os desenhos que formam o blanket de retalhos e os fundos dos cenários em diversos momentos da obra.

    Outro “personagem” que tem um grande papel na vida de Craig é certamente o inverno de Wisconsin. As brincadeiras na neve com seu irmão Phil. As carícias trocadas com Raina sob a neve e a própria e lógica passagem de tempo que as estações representam. A forma cíclica de mudanças, sempre pontuando momentos importantes de sua vida. O modo como Craig percebe o inverno gera diversas interpretações sobre Retalhos, e o autor é feliz em deixar que as tiremos por conta própria. O gelo duro, resistente, e até certo ponto constante pode ser encarado como os dogmas aos quais Craig é exposto. Na chegada do verão, o calor do Sol derrete e transforma em água toda essa dureza. A maturidade de Craig e seus questionamentos podem facilmente representar esta mudança. Mas Craig nunca deixará de olhar para o inverno com ternura, pois quer queira ele ou não, quer ela tenha sofrido com a sua dureza ou não, ele fez parte de momentos inesquecíveis para ele.

    O autor disse que ao produzir Retalhos, tinha como objetivo atingir algo “simples”. Descrever sentimentos comuns a muita gente, queria fugir da cena comum de HQs de ação e super-heróis. Desnecessário dizer que ele não somente atingiu como transcendeu este objetivo, pois Retalhos definitivamente está longe de ser uma história “simples”.

    Gostaria de ressaltar mais uma passagem que me emocionou profundamente. Craig caminha pela neve, sem deixar de notar as marcas que suas pegadas produzem. Ele diz o quão bom é deixar uma marca sua no mundo, mesmo que ela seja temporária. Com Retalhos ele consegue isso. Fica para a gente a chance de olhar mais de perto essa marca deixada por Craig Thompson.

    Texto de autoria de Amilton Brandão.

  • Review | Call of Juarez: Bound in Blood

    Review | Call of Juarez: Bound in Blood

    Call of Juarez: Bound in Blood é um jogo desenvolvido pela Techland, publicado pela Ubisoft em 2009 para PC, Xbox 360 e PlayStation 3. O game é um FPS (First Person Shooter) ambientado no velho-oeste e com todas as características possíveis de um bom western e vem como um prequel ao Call of Juarez, lançado em 2007.

    O enredo do jogo se inicia no meio da Guerra de Recessão com os personagens lutando a favor da Confederação (o Norte), tendo como protagonistas os irmãos Ray Mccall e Thomas Mccall, dois militares nortistas que se veem obrigados a desertar o exército em prol de sua família que estava ameaçada de morte, já que os Sulistas se aproximam de onde eles moram, e por onde passam, deixam um rastro de pilhagem e sangue. Com o decorrer da história, um terceiro irmão se junta a aventura, William Mccall (o narrador da história), um jovem pastor que fica te seguindo o restante do jogo, propondo uma visão completamente oposta dos dois irmãos, principalmente a de Ray, que tem um temperamento selvagem e forte.

    Um dos pontos mais fortes do jogo é a história, senão o mais forte. Um enredo original, que te deixa intrigado para passar fases atrás de fases para ver o destino que terá cada um dos personagens apresentados. Digno de um western de Clint Eastwood, e falando nele, algumas falas no meio do jogo são citadas de alguns de seus filmes, além de tantas outras referências do cinema western.

    Quanto a jogabilidade, a Techland acertou em cheio nesse quesito, praticamente perfeita. Por exemplo, para se proteger dos projéteis que não param de serem disparados você pode se encostar em qualquer coisa que a cobertura vai funcionar perfeitamente, não é preciso ficar em uma posição exata ou apertar qualquer botão para isso acontecer. A única coisa que peca é a repetição das mesmas tarefas. E o principal deles, sem dúvida são os duelos.

    Talvez o que mais me incomodou no jogo foram os gráficos, não que sejam ruins, a Chrome Engine 4 faz seu papel, só que alguns erros incomodam bastante, como as feições dos personagens terciários que não se mexem e as sombras que em certos momentos deixam a desejar.

    A sonoridade é um dos melhores quesitos do jogo, com uma trilha sonora muito boa. As músicas fazem com que você entre no mundo western de fato. A dublagem muito bem feita é de ser elogiada e causar inveja em muitos outros jogos. Além de todos os efeitos sonoros que te deixam ambientados no que está sendo mostrado em tela.

    Infelizmente o Story Mode é curto, cerca de 6/7 horas de gameplay te  dá a possibilidade de concluir o jogo com tranquilidade, e a Inteligência Artificial é fraca praticamente o jogo inteiro, os inimigos nunca vão atrás de você, se você tomou um tiro, se esconda e pode fazer um cafézinho esperando a life ser recuperada que ninguém virá em seu encalço. Ainda assim, para quem curte um bom FPS com uma boa história, Call of Juarez não pode faltar na sua lista de jogos zerados.

    Texto de autoria de Felipe Vieira.

  • Agenda Cultural 19 | Um Morto que caminha, Hurley e Larissa Riquelme

    Agenda Cultural 19 | Um Morto que caminha, Hurley e Larissa Riquelme

    Sincronizem suas agendas. Nesta edição convidamos os integrantes do podcast mais famoso da internet para participar da Agenda Cultural! Estou falando de Mallandrox e Rodney Buchemi do site Melhores do Mundo! Nao deixe de conferir as maiores besteiras sobre zumbis, fim do mundo, Larissa Riquelme e…Hurley?!

    Duração: 70 min.
    Edição: Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira

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    Quadrinhos

    Fase Elektra – Universo Marvel
    Macanudo
    Larissa Riquelme
    Deviantart – Buchemi
    Blog do Buchemi

    Literatura

    A Batalha do Apocalipse
    Orgulho e Preconceito e Zumbis

    Música

    Weezer – Hurley
    Danko Jones

    Série

    The Walking Dead

    Cinema

    Amor à Distância
    O Refúgio
    A Ressaca
    Solomon Kane
    Karatê Kid
    Rec 2
    O Último Mestre do Ar

  • Review | Fullmetal Alchemist

    Review | Fullmetal Alchemist

    fullmetal_alchemistFoi-se a época dos cartoons que prendiam crianças na frente das televisões nos programas matinais, nada de cartoons engraçados e divertidos, hoje eles exigem mais: guerras, lutas, sangue (ou não! depende da censura). Não são feitos para simples crianças, as informações chegam rápido e fácil até eles. Quem se lembra de animes como Akira, considerado um dos melhores e primeiros animes, Evangelion, Cavaleiros dos Zodíacos, Samurai Warriors entre outros, da extinta TV Manchete?

    Neste mundo onde as pessoas maduras e crianças passaram a gostar mais de animes do que cartoons, que preferem ter em suas casas episódios em DVD do que esperar a boa vontade das emissoras. É nessa leva de animações que se destaca o anime Full Metal Alchemist, que não foi feito para crianças comuns, mas sim para crianças crescidas como nós.

    Full Metal Alchemist conta a historia de dois irmãos alquimistas, Edward e Alphonse Elric, em procura de recuperar seus corpos que perderam quando crianças ao tentar reviver sua mãe. Alphonse perdeu seu corpo no processo para ressuscitá-la, Edward perdeu sua perna direita e deu seu braço direito em troca de fixar a alma do irmão em uma armadura vazia, hoje utiliza próteses de metal que substituem perfeitamente braços e pernas, chamado Automail. Após o incidente, ambos decidem tornar-se alquimistas do estado, um título como general ou capitão do exército e recuperar seus corpos, custe o que custar. A história ainda conta com homúnculos, humanos criados com o poder da pedra filosofal, tal pedra, tem o poder de fazer tudo que o usuário desejar sem ter que pagar nenhum preço.

    Full Metal Alchemist teve uma primeira temporada de 51 episódios, porém não oficiais, grande parte não existiu no mangá, alguns ovas e um filme, com a continuação depois do final do anime. Sua “segunda temporada” (Full Metal Alchemist Brotherhood) foi diferente, o anime veio renovado tanto em questão de qualidade quanto na fidelidade ao mangá. Diferente de Naruto, Bleach ou One Piece, que hoje são os animes que tem mais destaque entre os espectadores, FMAB tem sua história parcialmente baseada em fatos e lugares reais, como a II Guerra Mundial , Europa e no Fuhrer (Hitler), um inimigo da justiça e que usa o exército para seus próprios interesses.

    FMAB é um anime cheio de suspense, reviravoltas, guerras, lutas, surpresas e também, porque não, humor e sarcasmo!

    O mangá está previsto para terminar dentro dos próximos meses e o anime está previsto até o episódio 100 aproximadamente, o que deixa muito mais interessante, pois teremos um final para toda a história, veremos sim um desfecho e o melhor de tudo, não teremos filler!

    Como de costume nos animes, FMAB conta com aberturas fantásticas e trilhas incríveis, não deixa nada a desejar!

    Se você assistiu a primeira temporada na RedeTV ou no Animax e não quer ver de novo a nova temporada, pode ter certeza, nova história, novos personagens, novas lutas, tudo novo! Confira! Vale muito à pena!

    Compre: Fullmetal Alchemist.

    Texto de autoria de Henrique Romera.

  • Anotações na Agenda 01 | Feedback Aos Ouvintes

    Anotações na Agenda 01 | Feedback Aos Ouvintes

    Sincronizem suas Agendas. Flávio Vieira, Amilton Brandão, Deusa Bruno Gaspar e Levi Pedroso se reúnem para ler os comentários e emails de edições passadas enviados pelos ouvintes, tudo isso com a baixaria de sempre, claro.

    Duração: 30 min.
    Edição: Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira

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    Comentados na edição

    Farrazine 17 – No Ar!
    Deviantart – Bruno Gaspar (Deusa Hecates)
    Galeria Hentai – Bruno Gaspar (Deusa Hecates)
    Promoção Conn Iggulden – Ganhadores:

    Playlist da Edição

    Castlevania – Abbandoned
    Chrono Trigger – Main Theme
    Mario RPG – The End
    Zelda – Kakariko Village
    Rosana – O Amor e o Poder
    Assassin’s Creed 2 – The Animus 2.0
    Zelda Wind Waker – Dragon Island
    Shinobi – Kau Buatku Gila
    MegaDriver – Metal Beast – Rise From Your Grave
    Poets Of The Fall – Late Goodbye

  • Resenha | Fell: Cidade Selvagem

    Resenha | Fell: Cidade Selvagem

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    Fell é uma daquelas HQs com uma premissa simples mas muito bem desenvolvida. Também pudera, os responsáveis por ela são ninguém menos que Warren Ellis e Ben Templesmith, dois talentos incontestáveis em suas respectivas áreas.

    Ellis se tornou um dos grandes escritores e hoje em dia figura ao lado de grandes nomes do gênero como Alan Moore Neil Gaiman. Sua engenhosidade emparelha-se as suas bizarrices. Independente do trabalho que seja responsável, o autor sempre tende a revolucionar o universo que escreve, e por onde passou, deixa uma série de fãs, amantes de seu trabalho.

    Em Cidade Selvagem (Fell, no original), Ellis cria um misto de trama noir com terror psicológico  bem desenvolvido. Os desenhos de Templesmith, habituado a desenhar história de Terror como 30 Dias de Noite, têm papel fundamental na obra casando perfeitamente com o objetivo final da história.

    Após um incidente que envolve seu parceiro, Richard Fell é transferido para Snowtown, uma cidade sombria, suja e violenta, onde até mesmo seus habitantes aceitam resignados sua decadência. A trama foca o dia a dia do policial indo fundo na putrefação da cidade, confrontando seus receios e compreendendo melhor seus habitantes, uma escória variada como psicopatas, suicidas e pedófilos. A cada dia observamos sua paranoia crescer mais e mais.  A cidade corrompe a todos como uma droga, porém, Sem nenhum estase. Sugando os habitantes com sua opressão e subtraindo deles a sanidade.

    As histórias de Cidade Selvagem são fechadas, trazendo em cada volume uma trama distinta com início, meio e fim. Também merece destaque o fato de que cada história tem menos de 20 páginas. O autor quis lançá-las dessa forma para vender cada edição por um preço menor (lá fora cada edição foi vendida por $1,99). Mesmo com poucas páginas, o material tem boa qualidade e a narrativa de Ellis e a arte de Ben são sensacionais.

    Recomendado para aqueles que gostam de uma boa história policial que vai na contramão dos clichês das grandes editoras e também pela grande iniciativa dos autores de colocar um material com essa proposta disponível por um preço tão baixo no exterior.

    Compre: Fell.

  • Agenda Cultural 18 | Os Dispensáveis

    Agenda Cultural 18 | Os Dispensáveis

    Sincronizem suas Agendas. Flávio Vieira, Amilton Brandão, Carlos Voltor e Mario Abbade (diretos de Kosovo), além da participação de Jackson (1000Combos) no bloco de quadrinhos, retornam (com o atraso habitual – again?!) para comentar sobre Mitos, cores mágicas e comemorar a volta dos tiozinhos brucutus!

    Duração: 66 min.
    Edição: Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira

    Feed do Podcast

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    Comentados na edição

    Quadrinhos

    Mitos Marvel
    Marvels II – Por Trás das Câmeras
    Panorama do Inferno – roteiro/arte: Hideshi Hino

    Literatura

    Resenha A Cor da Magia – Terry Pratchett

    Teatro

    Alucinadas

    Séries

    Entourage

    Cinema

    O Aprendiz de Feiticeiro
    Destinos Ligados
    Aquarela – As Cores de Uma Paixão
    Almas À Venda
    Vencer
    Crítica Os Mercenários

    Produto da Semana

    Masturbador Vagina e Ânus Realístico Katie Morgan

  • Crítica | Era Uma Vez no Oeste

    Crítica | Era Uma Vez no Oeste

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    Sergio Leone já era considerado um dos maiores gênios do gênero ao resgatar os faroestes como grandes filmes e não mero entretenimento, tudo isso graças aos excelentes Por um Punhado de Dólares e suas continuações, ele agora queria trilhar novos horizontes, mas por uma imposição da Paramount, que só arcaria com os custos de seu novo filme caso ele fizesse mais um Western e graças a essa imposição, Leone traz ao público um faroeste muito diferente de tudo o que já havia feito até então e se reinventa com Era uma Vez no Oeste.

    Cheio de conceitos e cenas brilhantes como o próprio início do filme, onde em plena tarde, sob um sol escaldante, três homens armados chegam a estação de trem, aparentemente, não querem viajar, apenas aguardam algo. E como aguardam. Com enquadramentos belíssimos, que remetem ao mais puro tédio, Leone amplifica o som de uma goteira onde estava um dos homens que esperava, enquanto o outro é incomodado por uma mosca persistente e irritante. Todo o som é voltado para essas pequenas coisas, tornando-as mais irritantes do que já são, tudo isso somado ao excelente trabalho de câmeras de Leone, transforma a cena uma das mais antológicas do cinema.

    Finalmente surge o que esperavam, o trem, mas o que querem ali? Os três homens procuram por alguém, de arma em punho, pistolas engatilhadas, mas nada encontram. O apito do trem soa novamente, sinalizando sua saída e começa a andar. Os três homens não encontram o que queriam e dão as costas, eis que ouve-se o som de uma gaita e todos viram bruscamente em direção ao trilho e se deparam com um homem com uma gaita em suas mãos. Corte.

    Toda a cena inicial descrita acima, não tem um diálogo sequer, apenas o poder da imagem, e Leone usa isso como ninguém durante todo o filme. Mostrando um estilo muito diferente da clássica trilogia dos dólares que o havia consagrado, o Diretor se reúne com Sergio Donati, Bernardo Bertolucci e Dario Argento para escrever o roteiro de um Western diferente de tudo que já havia sido feito. Se engana aquele que julga Era uma Vez no Oeste como um mero “bang bang”, pois ele está muito mais para um drama ambientado no velho oeste. O Roteiro é profundo, não deixa espaço para canastrices, como era comum nos filmes com o Clint Eastwood, talvez por isso, a escolha de Charles Bronson é tão acertada, o personagem dele é frio, calado e impõe sua vontade à força quando se faz necessário.

    A motivação de seu personagem é um mistério até o final da sequência, vamos apenas nos deliciando com seu desejo de vingança cena-a-cena. O antagonista interpretado por ninguém menos que Henry Fonda é mais um entre tantos pontos acertados. Fonda foi imortalizado pela suas interpretações de bom moço, e aqui temos ele como o vilão sujo e implacável da história. Há de se ressaltar as brilhantes interpretações de Claudia Cardinale, faz o papel de uma ex-prostituta que acaba de chegar na cidade para se casar com um fazendeiro víuvo e pai de três crianças, álias, o que é a primeira cena dela, onde temos a personagem descendo do trem e Leone com o plano fechado nela, seguindo seus passos para de repente se afastar e abrir o plano bem ao alto, para vermos toda a grandiosidade do cenário. A personagem de Cardinale, Jill, tem papel fundamental na trama e isso é muito importante para entender a evolução do Cinema de Leone, que nunca havia dado nenhum papel importante para mulheres. O outro personagem que merece ser comentado é Cheyenne, interpretado por Jason Robards, este é o personagem que faz contraponto ao jeitão sisudo de Bronson, e consegue tirar um pouco o peso dramático, remetendo ao velho estilo de faroeste que todos estavam acostumados. O fato é que Cheyenne é um dos melhores personagens do filme.

    O filme cria tensão a cada cena, tudo em ritmo bem calculado. Leone buscou um sentido para cada cena que captava, o close nos olhos de Bronson e Fonda no duelo final é um bom exemplo disso. Outro ponto que merece ser comentado é a trilha sonora composto por Ennio Morricone, ou mesmo a ausência desta e a maximização dos sons naturais, como o vento, ou mesmo a goteira e a mosca, já comentados anteriormente, e é claro, a gaita de Charles Bronson, que se tornou até o nome do personagem “O Gaita”. Sem dúvida, o melhor trabalho de Morricone até então.

    Era uma Vez no Oeste é uma obra de arte dos cinemas. Obrigatório não só para os apaixonados por western, Sergio Leone ou os atores citados, mas sim para todos os amantes de cinema.

  • Resenha | Os Senhores do Arco – Conn Iggulden

    Resenha | Os Senhores do Arco – Conn Iggulden

    Os Senhores do Arco Conn Iggulden

    No primeiro livro da série, O Lobo das Planícies, vimos Temujin nascer, crescer e se tornar um grande guerreiro. Líder nato. Passamos por suas maiores dificuldades, desde muito pequeno, com a morte sempre à espreita, seja ela ‘vestida’ de fome, frio ou simplesmente um guerreiro de uma tribo inimiga. Nos habituamos ao clima feroz da Mongólia, as batalhas lideradas por Gêngis na sua busca por unificação das tribos mongóis. Esta unificação, enfim se torna realidade no início do segundo volume da série O Conquistador.

    No inicio do livro, Gêngis está prestes a derrotar a ultima tribo mongol que ainda não havia se unido ao seu exército. Com mais esta vitória, seu objetivo primário está então completo. A Mongólia agora é uma nação de um só ‘Cã’, como ele sempre sonhou. Gêngis tem agora a seu dispor um incrível poder militar. E o pretende usar para livrar a Mongólia de seus inimigos, que para Gêngis são os Tártaros, povo responsável pela morte de seu pai e que desde muitas gerações guerreavam com os mongóis. Gêngis ainda desconhecia seus verdadeiros inimigos: o grande Império Chinês.

    O Império Chinês se dividia em três grandes reinos na época. Os Xixia, os Song e os da dinastia Jin. O que Gêngis desconhecia era que a China e suas dinastias financiavam a guerra entre as tribos mongóis e os Tártaros. Tudo para manter os ‘bárbaros’ guerreando entre si, sem nunca se importarem com as grandes riquezas dos verdadeiros senhores daquela terra.

    Toda a ambientação que Conn Iggulden nos introduziu no primeiro livro, se mostra muitíssimo relevante para entendermos a mente de Gêngis e de seus fieis discípulos nos desafios que encontrarão daqui para frente.

    A inicial ignorância de Gêngis perante a tecnologia chinesa e seus hábitos civilizatórios são mostrados de forma muito interessante neste volume. Mas conseguimos ver também a sagacidade da mente do Khan, ao se adaptar rapidamente e surpreender a todos na luta contra estes “novos” inimigos.

    Parece difícil de acreditar, mas este segundo volume é ainda mais dinâmico e envolvente que o primeiro. Com o pano de fundo definido logo no início, sobra espaço para as batalhas épicas que Conn narra tão bem.

    Gêngis usa da arrogância sempre inerente em um grande império para atacar a China com uma brutalidade e engenhosidade militar que ninguém esperava. Isso somado à adaptação que ele implantou nas armaduras de seu exército, e fica fácil compreender como um grupo inicialmente de desgarrados conseguiu enfrentar tal potência.

    A cada vitória obtida pelo exército do grande Khan, ele incorpora ao seu povo a tecnologia e habilidade do império milenar. Armaduras em placas, onde antes só tinha couro curtido. Seda por baixo da armadura, que não se rompe quando atingida por uma flecha inimiga. Até culminar nas grandes armas de cerco. A mente de Gêngis trabalha de forma lógica e simples. Quando deparado com a primeira muralha que protegia os Xixia, um dos seus generais o aconselha a desistir, pois seria impossível para eles conseguir derrubar tamanha construção. E Gêngis responde que algo que foi construído por homens, pode também ser destruído por homens!

    A saga de Gêngis Khan e seus irmãos continua tão interessante quanto antes e nos incita a continuar nesta aventura, guiada pela escrita perspicaz de Iggulden. Com um cliffhanger no ato final que vai deixar qualquer um sedento pelo próximo livro da série.

    Se no primeiro livro vimos o início da trajetória deste magnífico homem que se tornaria senhor da Mongólia. O segundo demonstra o quão impressionante foram as conquistas em sua vida adulta.

    O Conquistador. Série esta que já se tornou imperdível para qualquer amante de um bom romance histórico.

    Texto de autoria de Amilton Brandão.

  • Agenda Cultural 17 | Viagens Oníricas, Conceitos Morais e Muita Psicanálise

    Agenda Cultural 17 | Viagens Oníricas, Conceitos Morais e Muita Psicanálise

    Sincronizem suas Agendas. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Amilton Brandão (@amiltonsena), Carlos Voltor (@carlosvoltor) e Mario Abbade (@fanaticc) retornam (com o atraso habitual) para comentar sobre Moralismo e Vingança nos Quadrinhos, Viagens Oníricas no Cinema e na Música e uma viagem literária até a Europa durante a Guerra dos Cem Anos.

    Duração: 63 min.
    Edição: Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira

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    Quadrinhos

    100 Balas

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    Série Os Reis Malditos – Maurice Druon

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    Absorvente para Axilas

  • Agenda Cultural 16 | Religião, Política e… Hello Kitty?

    Agenda Cultural 16 | Religião, Política e… Hello Kitty?

    Cinema em alta esta semana na sua Agenda Cultural. Me refiro aos convidados Marcos Noriega e Angélica Hellish do site Masmorra Erótica. Teatro está de volta neste edição, que também conta com blues, cinema francês e uma dica literária do fim do mundo!

    Duração: 69 min.
    Edição: Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira

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    Quadrinhos

    Bórgia Vol. 3
    Testamento: Magneto

    Literatura

    A Estrada – Cormac Mccarthy

    Teatro

    Exculaxados

    Música

    Stevie Ray Vaughan – Couldnt Stand The Weather (legacy edition)

    Cinema

    Todo poderoso: O filme – 100 anos de Timão
    Um Novo Caminho
    Uma noite em 67
    Salt
    Ponyo – Uma Amizade Que Veio do Mar

    Produto da Semana

    Vibrador Hello Kitty