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  • Resenha | Batman: Ano Um

    Resenha | Batman: Ano Um

    Batman - Ano Um - Capa

    A Crise Nas Infinitas Terras foi a ousada saga que redefiniu as estruturas dos quadrinhos da DC Comics, centralizando acontecimentos e retirando incongruências produzidas por roteiristas ao longo dos anos. Não há quem não cite esta saga com devoção canônica. Porém, após este acontecimento de grandes proporções, era necessário demonstrar ao público uma nova faceta das personagens e, com este reinício, apresentar novas histórias.

    A trindade de heróis, formada por Superman, Batman e Mulher-Maravilha, precisava de reformulações coerentes, e autores considerados, hoje, grandiosos foram responsáveis pelas modificações estruturais destas personagens. John Byrne assinou a nova origem do Super Homem, uma aventura que modificava diversas bases da concepção original e, durante outras décadas, foi transformada diversas outras vezes, porém, nunca com a potência desta origem que se tornou a mais significativa popularmente. George Pérez, responsável pelos desenhos da Crise, e Marv Wolfman deram imagem e conteúdo a Mulher-Maravilha, uma Diana forte e, ao mesmo tempo, feminina, com um passado apoiado na mitologia greco-romana. Os próprios editores, incluindo Denny O´Neil, reconheciam que Batman era o personagem com origem mais coesa. Desde sua criação, as histórias apoiavam-se em investigações, e não havia incongruências gritantes como as citadas personagens; a essência do Homem Morcego permanecia. No prefácio da edição de luxo da Panini Comics, o editor explica a necessidade de refinar a origem conhecida. Frank Miller foi voluntário e, na época, trazia no currículo a fama de um dos maiores revolucionários dos quadrinhos, com a bem-sucedida passagem na revista de Demolidor, na graphic novel Ronin e em uma das obras supremas do Morcego: O Cavaleiro das Trevas.

    Batman: Ano Um foi uma aventura de quatro partes publicada na revista mensal do Morcego e lançada no país, originalmente em setembro de 1987, em Batman nº 1, sendo republicada quatro vezes, incluindo esta edição de luxo da Panini. As quatro partes da trama são como atos narrativos de uma peça literária, apresentando aspectos diferentes da criação da figura do Morcego. Indo além da origem do herói, a história apresenta a chegada de Gordon a Gotham City, um elemento narrativo que se amarra à fundação da personagem central.

    Situada em um período de um ano, a história é bem dosada temporalmente tanto por cenas-chave da concepção da personagem como por cenas breves de treinamentos e do cotidiano policial por parte de Gordon. Miller leva ao pé da letra a concepção de um ano e apresenta o lento desenvolvimento desta dupla. Batman ainda é um homem em treinamento, à procura dos primeiros contatos para testar suas habilidades, enquanto Gordon, recém transferido, observa como funciona a polícia corrupta do local.

    Miller desenvolve o roteiro com simplicidade sem perder o requinte narrativo. Equilibra-se bem entre Batman e Gordon, demonstrando que ambos são peças fundamentais que representam um mesmo ideal: a manutenção da cidade e da lei. A obra observa o amadurecimento destas personagens: Batman pela rigidez e disciplina da luta após erros e acertos em campo, e Gordon como o único policial incorruptível da corporação, tendo de arcar com a responsabilidade de ser visto como um pária pela equipe. Em comum, ambos possuem a retidão e admiram-se mutuamente, mesmo sem ainda se conhecerem. Não à toa, boa parte deste roteiro foi inspiração para a concepção de Batman Begins de Christopher Nolan. Não só o encontro com Gordon é idêntico como também o são outras cenas chave desta história.

    Se Batman é a figura heroica vista com breve distanciamento por conta da disciplina e do luto que carrega desde a infância, Gordon é concebido como o homem que realiza o possível na medida de suas forças. Batman sempre assemelhou-se com um deus capaz de sobrepujar tudo e todos. Mesmo que o público reconheça-o como humano, seus feitos o elevaram a um olimpo invisível. Enquanto o futuro Comissário é uma figura imperfeita que trai a esposa grávida e sofre violência por parte de seus companheiros, ainda assim demonstra que em seu caldeirão as intenções boas se sobressaem. Não à toa é um dos personagens mais empáticos do universo do Morcego.

    Batman demonstra desde o princípio a engenhosidade tática que hoje é admirada por seus leitores. E mesmo inserido em um universo fictício, a história de Miller apresenta uma vertente realista que transforma a loucura heroica da personagem em um elemento mais crível, sendo a base para a visão que leitores atuais têm do Morcego: um humano capaz de sobrepujar a própria morte e eventuais colunas quebradas.

    Os extras desta edição especial trazem diversos esboços de David Mazzuchelli, além de uma breve biografia em quadrinhos mostrando como surgiu seu interesse por desenhos. É um material rico para observar a criação desta obra-prima. A arte desta edição foi inteiramente repintada por Richmond Lewis em pinturas feitas à mão, que depois foram inseridas nos desenhos de Mazzuchelli. Sem dúvida, as cores são parte da proposta realista da história e produzem o toque final que faz desta obra uma das aventuras primordiais do Morcego. Uma origem fundamental ao mito que Batman se tornou.

    Para ouvir e ler:
    Vortcast 09 – Batman Ano Um
    [Crítica] Batman – Ano Um (Animação)

    Compre aqui: Batman – Ano Um (Panini Comics)

  • Crítica | Sin City 2: A Dama Fatal

    Crítica | Sin City 2: A Dama Fatal

    O começo, repleto de cortes rápidos, é seguido por uma cena em que Frank Miller faz uma aparição típica de Stan Lee nos filmes da Marvel, aproveitando-se das benesses de ser um criador e também realizador do longa. O início, excessivamente escapista, faz mais referência ao último filme de Miller (The Spirit: O Filme) do que ao Machete de Rodriguez, o que faz acreditar que o criador do texto original teria maior ingerência na direção compartilhada, a despeito de toda a boataria que envolveu a produção do primeiro episódio.

    O preâmbulo é feito por Marv, personagem, vivido por Mickey Rourke, que, curiosamente, morreu no episódio anterior. Mais uma vez, uma bela apresentação dos créditos estilizada. Na história paralela de Johnny (Joseph Gordon Levitt), são resgatados plots que envolvem personagens cujo destino já havia sido decidido outrora, envolvendo-os em outros pecados, outros vícios tão torpes quantos os que preconizaram a primeira fita. Sin City parece ser um lugar tão escuso que até mesmo os que não vivem mais no mundo dos vivos costumam visitar a cidade. A pendenga de Johnny com Roark (Powers Boothe) é de cunho pessoal e familiar.

    Os subplots se misturam, compartilhando a mesma linha temporal, variante nos núcleos e nos múltiplos amoralismos. A plataforma plural claramente revela momentos mais interessantes com histórias menos apetecedoras. A trama envolvendo Dwight (Josh Brolin) demonstra isto exemplarmente, mesmo que suas cenas sejam de um grafismo agressivo ímpar tanto nos atos violentos quanto no torpor sexual, que causa no personagem um complexo de submissão quase automática à sua musa, Ava (Eva Mendez). Ao menos é nesse período em que é mostrada a cena mais gore e trash do filme, tão digna de nota quanto de gargalhadas.

    A sedução típica da dama fatal envolve os personagens e, claro, o espectador, não só pela nudez bem fotografada por Rodriguez, mas também pelo trabalho sonoro, praticamente perfeito, seja na montagem, seja na voz rouca de Green. As curvas femininas continuam obviamente sendo um dos pontos altos do filme, no entanto têm de conviver com constrangedoras cenas em que as belas mulheres se submetem a show-offs e exibições toscas de poderio armamentista, enquanto são reapresentadas às mulheres de Old Town. As soluções sensuais, fora as da personagem-título, são demasiadamente fáceis, apresentando uma desnecessária aura de pastiche, não condizente até mesmo com o universo milleriano. O tremor da perigosa relação entre Ava e Dwight finalmente se cumpre, e de um modo até surpreendente se comparado com o que o roteiro apresentou até então.

    A banca continua a aceitar as apostas de Johnny, mesmo após sua quase completa destruição. A designação da disputa quase edipiana termina anticlimática, mas é ramificada, abrindo a chance de Nancy Callahan (Jessica Alba) dar vazão a sua raiva e ao seu desejo de vingança. Em alguns momentos, a atriz até demonstra um pouco mais de dramaticidade se comparada a sua habitual filmografia, mas nada que fuja do ordinário e lugar comum de pautar toda a sua apresentação apenas em sua bela aparência. A cena em que sua personagem chora, à frente da TV, transita entre a empatia do público junto à carismática personagem esbarrando na dificuldade da sua intérprete em passar emoção.

    Por mais que o primeiro filme tenha tido um impacto enorme entre os fãs de quadrinhos e do cinema blockbuster violentíssimo, a sensação deixada por este Sin City 2 é o de um filme datado, que deveria ter sido lançado logo após o episódio um, se valendo do hype, mas que não o foi. Tudo na abordagem da película faz pensar que o projeto não era a prioridade de Robert Rodriguez, dado seus outros produtos autorais para a televisão e cinema, além da óbvia demora na produção deste filme. Tudo piorado pela sensação de A Dama Fatal ser um produto requentado, sem muito alma e substância, coisas que sobraram no filme exibido há nove anos.

  • Resenha | Superdeuses: Era das Trevas – Grant Morrison (Parte 3)

    Resenha | Superdeuses: Era das Trevas – Grant Morrison (Parte 3)

    O alvorecer da nova era começou com duas peças fundamentais: o artista Neal Adams, que em suas gravuras priorizava desenhos bem mais realistas que os dos seus antecessores, e, claro, Dennis O’Neil, que buscava referências ao The New Journalism, como Tom Wolfe, Norman Mailer e Jimmy Breslon, tentando tirar os quadrinhos do mundo cartunesco para aproximá-los ao mundo palpável e urbano. A parceria O’Neil/Adams possibilitou a mescla competente de gêneros tão distintos, como ficção científica e jornalismo. A fase dos dois com o Batman mostra isso de forma clara: o retorno ao soturno, tornando o Morcego algo grandioso novamente, deixando de lado a caracterização espalhafatosa e reaproximando-o da figura dos anos 30; lembrando-se, é claro, da invenção de Ra’s Al Ghull, um misto de Moriarty e Fu Man Chu, que remete a duas referências do personagem de Bob Kane, mas imortal, ainda contemplando característica quadrinística fantasiosa. Adams foi um profundo ativista a favor dos direitos autorais da dupla Jerry Siegel e Joe Shuster.

    Nas histórias, o divisor de águas foram as aventuras do Lanterna e Arqueiro Verde em sua fase Easy Rider, feita por O’Neil e Adams. O caráter de Hal foi regredido ao de um novato piloto de testes — novamente — aliado a um repaginado Oliver Queen, politicamente engajado para a esquerda e cheio de “razão”. Um dos pontos altos é a inversão de papéis, em que sua função de pai é questionada como a de um sujeito ausente, ao ver seu parceiro-mirim injetando heroína nas próprias veias.

    Capítulos mais tarde, um sujeito negro indaga a Lanterna o motivo de ele não ajudar a comunidade negra, e, neste momento, surge nos quadrinhos uma das primeiras demonstrações de um negro falando como um negro, e não de um branco pintado cuspindo gírias — sem contar o diferencial traço de Adams. A resposta do herói poderia ter sido altiva, demonstrando que já salvou o universo diversas vezes, o que inclui o povo marginalizado, mas, ao invés disso, ele abaixou a cabeça, assumindo seu papel de colaborador do conformismo e mantenedor do status quo. A dupla ainda delongaria no assunto, apresentando John Stewart como substituto de Hal Jordan, um arquiteto negro de conjuntos habitacionais que abriu mão de sua máscara afirmando que não havia nada em sua vida para esconder. Depois disso, a Marvel apresentou alguns exemplares de Black Heroes:  Pantera Negra de Wakanda; a dupla do Capitão América em sua própria versão de Lanterna/Arqueiro, o Falcão; e o ideal blaxpoitation de cabelo blackpower e roupa de pimp: Luke Cage.

    Um autor mais cáustico que seus contemporâneos era Steve Gerber, que usava sua criação Howard, o Pato para fazer um contraponto aos quadrinhos heroicos. Howard era irônico e até concorreu à presidência, tamanha sua popularidade em meio aos jovens universitários. Gerber também foi responsável pelo supergrupo Os Defensores, formado pelos heróis isolados Hulk, Surfista Prateado, Doutor Estranho. Enquanto isso, o cinema desconstruía a ambiguidade pós-Vietnã e pós-Watergate com a saga Star Wars.

    O autor declara sua predileção pelo punk, ainda que tenha aderido ao movimento em 1978, após sua decadência. O modo de pensar dessa “geração” o influenciou nos escritos que viriam no futuro, e influenciaram também a forma como ele enxergava os mitos heroicos, usando Ali X Superman como figura simbólica do quanto aquele tipo de história tinha se tornado irrelevante para ele.

    Os heróis tradicionais perdiam cada vez mais espaço. O único resquício que ainda permitia era o gênero Space Opera, com seu Star Wars, misturando trama novelesco com ambientação sci-fi. Os X-men de Chris Claremont beberam muito dessa fonte. Len Wein, editor do título, permitiu liberdade a Claremont que enxergou na causa mutante algo muito popular: o apelo à minoria, ou a quem se achava minoria, em especial os adolescentes revoltadinhos. Em 1979, o traço de John Byrne ajudou a dar contornos definitivos e clássicos aos mutantes multi-étnicos e de bandeiras variadas.

    Morrison começa a narrar suas próprias aventuras das primeiras publicações num tom auto-biográfico. Sua vida vira um dos seus objetos de análise, como no capítulo anterior em que descreve sua predileção ao punk rock. O autor passou a escrever o número Capitão Clyde, que teve vida durante 3 anos e 150 aventuras em tiras de jornal, semanalmente.

    Para apimentar ainda mais a recente questão de Grant Morrison contra Alan Moore, o autor destaca os méritos do barbudo escritor à frente de Miracleman, ao mesmo tempo em que destaca a personalidade do sujeito:

    1) Moore usava a falsa modéstia para se promover, dizendo que não era o Messias, mas sua ostentosa barba e ar blasé diziam o contrário.
    2) Seu Marvelman era maravilhoso, pois invertia o mito de Mick Anglo, fazendo de Mike Moran um velho barrigudo decadente — como os fãs de HQ — tornando-se a figura imponente do herói atômico.
    3) O confronto Micracleman x Kid Miracleman  = demonstração de como seria uma luta real entre dois superseres, com direito à crueldade ultrarrealista por parte do vilão onipotente, com sodomias, empalamento e taxidermia às avessas.
    4) Por trás dos panos havia muita subversão, como a homossexualidade disfarçada de admiração de Miracleman Jr.
    5) Futuro utópico, movido por deuses de carne e osso. Criação do selo Vertigo, histórias adultas, com liberdade criativa e royalties para os autores.

    Após o sucesso de Demolidor e Ronin, em que juntava as influências do mangá com a mitologia super-heroica americana, Frank Miller reformula a lenda do Batman, com o seu Dark Knights Returns. O Batman deixou o perfil criado por Bob Kane para assumir um ar mais anti-herói marginal, aproximando-se de Don Corleone e dos cowboys de Eastwood. Sem deixar de mencionar, é claro, os maneirismos do autor, que resgatou formas de narrar pouco convencionais. Morrison destaca Watchmen como um arroubo de criatividade que se utiliza dos mais geniais recursos narrativos, tão únicos e bem urdidos que fazem de Moore uma divindade que desconstrói cada um dos ideais heroicos, inclusive traçando paralelos com os heróis genéricos da Charlton, mas igualando-os ao panteão do universo DC.

    Os quadrinhos europeus tomavam o rumo das graphic novels, com produtos vendidos diretamente nas livrarias, ao invés de lançados em bancas. Já no universo “enfadonho” dos super-heróis, acontecia a mega-saga Crise nas Infinitas Terras, de Wolfman e Perez, que anexava todo o multiverso numa única realidade. A última história do Superman da Era de Prata era a cargo de Alan Moore, criticado por ter feito o alienígena chorar nesta trama. Já em sua reformulação, executada por John Byrne, Clark era atlético e perfeito, de volta ao status de último filho de Krypton.

    O Justiceiro dos anos 1980 tornara-se o anti-herói da direita, implacável como o Batman de Miller, mas sem o “estofo” intelectual de suas histórias. Morrison fala um pouco de seus trabalhos em Homem Animal e a quebra da realidade ficcional, e de Patrulha do Destino, no qual agrupou muitas das influências pop que tanto adorava, inclusive o dialeto dos marginalizados, gays, negros, punks, muçulmanos, quase todos os grupos que sentiam necessidade de serem representados. E, claro, Asilo Arkham, com seu Coringa de salto alto, prenunciando o travesti de Ledger em O Cavaleiro das Trevas, de Chris Nolan. Watchmen foi um divisor de águas, transformando quase tudo que levava o tema “super-herói” em algo bobo. Uma nova forma de abordar os quadrinhos nascia, com Sandman, de Neil Gaiman, como um desses representantes.

    O selo Vertigo era inaugurado, com uma autonomia muito grande junto aos autores, tanto com royalties como com liberdades criativas. A ascensão de Liefeld e McFarlane veio para estourar a bolha dos roteiristas ingleses, que se sentiam os maiores responsáveis pelo sucesso dos quadrinhos. A fórmula de visual superestiloso em detrimento da história predominaria especialmente com a ascensão da Image Comics. O público da Image era a Geração X, que exigia anti-heróis bombados, amorais, com trabucos a tira colo e zero medo de cometer homicídio. Resumindo, o massavéio pelo massavéio, sem necessidade alguma de conteúdo. Spawn teve Gaiman, Moore e Morrison nos roteiros de suas primeiras edições.

    Moore saiu brevemente de sua aposentadoria para mostrar a Batgirl ser aleijada, enquanto Kyle Hayner, o novo Lanterna Verde, encontrava sua namorada esquartejada na geladeira — os comics tradicionais tentavam chocar pelo grotesco, em resposta à violência descerebrada da Image. O último capítulo é introspectivo, onde o autor conta a sua reinvenção como escritor de quadrinhos, e até fisicamente, já que seus cabelos caíam e ele assumia, finalmente, sua careca.

    Leia aqui: Parte 1 | Parte 2 | Parte Final.

  • Crítica | 300: A Ascensão do Império

    Crítica | 300: A Ascensão do Império

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    Dirigido por Noam Murro, com roteiro escrito por Zack Snyder e Kurt Johnstad, o filme, assim como o anterior, é “baseado” numa graphic novel de Frank Miller, Xerxes. “Baseado” é modo de dizer, já que a HQ sequer tem previsão de lançamento. Miller finalizou apenas as duas primeiras edições, entregues para a Dark Horse Comics no início de 2011. Deve retomar o trabalho assim que terminar sua colaboração com Robert Rodriguez nas filmagens de Sin City 2.

    O filme não é uma sequência de 300, nem uma prequel. A história se passa concomitantemente à Batalha das Termópilas, onde está Leônidas (Gerard Butler) e seus espartanos. A trama se inicia 10 anos antes de 300, na Batalha de Maratona, que foi perdida pelos persas liderados por Dario (Igal Naor), pai de Xerxes (Rodrigo Santoro). Após a morte de Dario, Xerxes quer retaliar os gregos pela humilhação sofrida em Maratona. Auxiliado por Artemísia (Eva Green), rainha de Halicarnasso, investe pelo mar contra os gregos liderados por Temístocles (Sullivan Stapleton), general reconhecido por suas estratégias de guerra. O clímax ocorre na Batalha de Salamina, que ocorreu no estreito que separa Salamina da Ática.

    Está explícito na tela que praticamente toda a ambientação do filme foi feita em computação gráfica. Contudo, diferentemente de 300, a fotografia não é tão estilizada, não é tão semelhante à estética dos quadrinhos. Fica de lado a intenção de reproduzir fielmente os quadros da graphic novel – objetivo plenamente atingido em 300 – e apesar de tantos efeitos em CGI, ganha-se em realismo. Ambas são soluções satisfatórias.

    Não é um documentário, é uma obra de ficção, portanto deve-se relevar as imprecisões históricas e a liberdade criativa do roteiro. Em linhas gerais, o filme não distorce demais os fatos em prol da trama. A mistura entre História e ficção, realidade e fantasia, está bem equilibrada. Mas isso nem tem tanta importância, pois percebe-se que interessa mais a ação do que a trama em si. E, enquanto 300 foca a ação numa luta em terra firme, neste o ponto alto são os embates marítimos. Não apenas os confrontos entre naus persas e gregas, mas as lutas homem a homem nos conveses.

    Para os fãs do gênero, há espadas, escudos, lanças, flechas, sangue e membros decepados de sobra. E muito, muito slow motion. Tanto que chega a enjoar. As lutas são muito bem estruturadas e executadas, disso não há dúvida. Mas o uso excessivo da câmera lenta deixa-as enfadonhas em muitos momentos. O ritmo das cenas seria bastante beneficiado com uma montagem mais “uniforme”. Pois se todos os momentos são destacados com slow motion, nenhum deles efetivamente mereceria destaque.

    Supostamente, Temístocles é o protagonista, mas o personagem é tão insosso que fica difícil de se sustentar. Aliás, mesmo pouco desenvolvida como os demais personagens, é Artemísia quem consegue prender a atenção do espectador. Eva Green a interpreta com “sangue nos olhos”. Qualquer sequência – exceto as de batalha – que não a tenha em cena é extremamente tediosa.

    Se a história é simples, os personagens pouco elaborados, o mesmo não se pode dizer das batalhas marítimas. São todas grandiosas, com manobras navais literalmente de encher os olhos. E quando o confronto parece que será apenas mais do mesmo, algum estratagema incomum surge como elemento surpresa, mantendo a atenção e deixando a ação ainda mais interessante. Alguns expedientes utilizados nos embates parecem inverossímeis, beirando o exagero. Mas quem se importa? O espetáculo é tão bem coreografado que esses pequenos detalhes se perdem no quadro geral e não atrapalham em nada. É divertido, com cenas de ação bem feitas, o 3D não trapalha. Como entretenimento cumpre sua função satisfatoriamente.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

  • Crítica | Wolverine: Imortal

    Crítica | Wolverine: Imortal

    The Wolverine (Wolverine Imortal)

    Após o desastroso X-Men Origens: Wolverine, de 2009, é natural que qualquer fã do mutante mais famoso dos quadrinhos ficasse com um pé atrás a respeito de um novo filme do personagem, mesmo que os primeiros boatos a seu respeito fossem de um projeto com um cineasta de renome, como Darren Aronofsky, que acabou não se concretizando (para alegria de uns e tristeza de outros).

    Porém, as notícias da adaptação do clássico arco de histórias de Chris Claremont e Frank Miller com Wolverine no Japão permitiram novas possibilidades e o diretor James Mangold acabou por entregar uma história que por mais que não envolva totalmente o espectador nem apresente nada de novo em relação ao protagonista, ao menos não ofende o fã dos quadrinhos, de cinema e qualquer pessoa com senso crítico, como a produção anterior.

    Na nova história, Logan (Hugh Jackman) decidiu abandonar de vez a vida de herói e passou a viver sozinho na selva. Deprimido, ele é rastreado pela jovem Yukio (Rila Fukushima), enviada a mando de seu pai adotivo, Yashida (Hal Yamanouchi), que foi salvo por Logan algumas décadas antes, na detonação da bomba atômica em Nagasaki (em uma bela sequência). Yashida a princípio deseja reencontrar Logan para se despedir de seu salvador (já que está em seu leito de morte), mas depois faz uma proposta: transferir seu fator de cura para ele, de forma que Logan possa, enfim, se tornar mortal e levar uma vida como uma pessoa qualquer. Logan recusa o convite, mas acaba infectado por Víbora (Svetlana Khodchenkova), uma mutante especializada em biologia que é também imune a venenos de todo tipo. Fragilizado, Logan precisa encontrar meios para proteger Mariko (Tao Okamoto), a neta de Yashida, que é alvo tanto da máfia japonesa Yakuza quanto de outros oponentes que surgirão no decorrer da história, um tanto quanto cansativa.

    A trama, apesar de simples, é problemática em várias maneiras. Primeiro ao abordar novamente a Yakuza e seus membros tatuados e especialistas em artes marciais. Acredito que esse clichê já foi suficientemente usado em filmes de ação demais nos anos 80 e 90 (aliás, outro clichê é exatamente este: será que todo oriental sabe lutar e manejar armas?). A tentativa de dar ao filme um tom realista ao adotar a máfia como vilã inicial até funcionaria caso isso se sustentasse ao longo da narrativa, mas após sermos apresentados a Víbora e ao Samurai de Prata, toda a sequência com a Yakuza parece perder o sentido. Segundo por adotar corretamente a postura de dar tempo para os personagens se desenvolverem nos dois primeiros atos, mas se esquecer totalmente disso no terceiro, que é inchado com sequências de luta longas demais e, de certa forma, desnecessárias. E terceiro ao transformar radicalmente as relações dos personagens entre si e suas motivações gratuitamente de acordo com cada situação de maneira preguiçosa, a fim de encaixar a trama com um trabalho menor, torcendo para que ninguém perceba a incongruência.

    Exemplos disso não faltam: Shingen é envenenado pela Víbora e sofre alucinadamente, para depois aparecer e lutar de igual para igual com Yukio e vencê-la. Ela que antes havia dito que ele lutava “para o gasto”. Depois de vencê-la, Shingen ainda luta ferozmente contra Wolverine, em uma tentativa de remeter a icônica luta dos quadrinhos, mas extremamente mal-executada, já que, de uma hora para outra, Wolverine solta uma frase de efeito e abandona a luta para, segundos depois, voltar e matar o vilão que nunca deixa nada passar. Harada (Will Yun Lee) também é outro que age em um padrão o filme todo para no final, tomar uma atitude totalmente descabida. Há também a excessiva aparição de Jean Grey (Famke Janssen) nos sonhos de Logan, na função de servir de guia e desnecessariamente explicar a plateia cada momento do filme e o estado psicológico do protagonista.

    Os pontos positivos do filme ficam nas cenas iniciais (como a do urso e o enfrentamento no bar) e nas de ação, durante o enterro de Yashida e, principalmente, no trem, rendendo algumas cenas engraçadas. São cenas que, apesar de faltar violência e sairmos com a impressão de que ninguém foi morto pelas garras de Logan, conseguem transmitir perigo e um senso de urgência, além de serem bem executadas de modo que consigamos acompanhar, passo a passo, onde cada personagem está em determinado momento e o que estão fazendo, o que muitas vezes não é feito por diretores atuais. Porém, a melhor parte do filme ainda é a cena pós-crédito, que liga diretamente o filme ao próximo filme da franquia, chamado “Dias de um Futuro Esquecido”, trazendo personagens e atores conhecidos do público em um momento empolgante.

    Ao final, fica a impressão de que talvez tenha chegado a hora de tanto Marvel quanto Fox (assim como Hugh Jackman) repensarem o que a superexposição do Wolverine pode causar no desgaste do personagem, já que o veremos novamente protagonizado a sequência do ótimo X-Men: Primeira Classe. Encerrar aqui este ciclo do herói a exemplo da trilogia Batman de Nolan/Bale, daria chance a outras pessoas retomarem o herói com outros olhos e revigorar a combalida franquia solo de “Wolverine” nas telonas.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.

  • Resenha | 300

    Resenha | 300

    300 de esparta

    A Graphic Novel 300 foi lançada em 1998. Com roteiro e desenhos de Frank MillerCavaleiros das Trevas e Ronin – a revista dividida em quatro capítulos, retrata a batalha das Termópilas entre o diminuto exército espartano e o portentoso esquete persa. O objetivo dos guerreiros era impedir a invasão do império inimigo ao território grego.

    A arte e o traço de Miller são qualquer coisa, autoral e rabiscada, certamente a história não teria a mesma aura se não fosse desenhada por ele. Os espartanos são retratados de piruzinhos de fora, quando não de fio dental, e muitos personagens têm cabelos rastafári – o estilismo é impresso desde já. O autor tomou a liberdade de empregar ao Rei Leônidas um passado fantástico e legendário, que obviamente colabora muito com umas das mensagens principais da revista: Espartanos não se rendem, a simples menção a palavra causa estragos enormes, até mesmo homicídios.

    “Jamais ouve um homem santo a quem faltasse amor pelo ouro!” – Esta é uma demonstração de como o Rei enxergava os religiosos, a seu ver são seres desprezíveis – o que faz o leitor perguntar se essas convicções são somente dos personagens ou do autor também. Miller capta o espírito belicoso do povo, a guerra corre no sangue dos cidadãos de Esparta. A apologia ao corpo, esforço físico máximo, rejeição de qualquer tipo de deformidade também são pregados – a morte é um bom destino para um espartano!

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    Quanto aos opositores, há muito a se observar. Os soldados persas têm um estilo próprio de lutar e de se paramentar – suas armaduras, mais lembram ninjas do que guerreiros pré-medievais, o que mostra uma preocupação maior do autor em atualizar o conceito do que permanecer fiel aos fatos históricos. Os imortais demonstram falta de clemência e barbarismo, o que em partes justifica a crueldade dos gregos. Xerxes é um rei arrogante e ostentador – se julga um deus, mas não é a figura afetada do filme de Snyder – na verdade o conteúdo homoerótico fica por conta dos helenos, sempre se agasalhando gostoso!

    O deformado Ephialtes se sente injustiçado por ter sido rejeitado e por não ter morrido ao se tacar do penhasco – ele considera isso uma afronta e declara guerra aos deuses por simplesmente existir. Ao se entregar ao rei inimigo, ele ouve – “Ao contrário de Leônidas, que pede para você ficar de pé, eu só exijo que você se ajoelhe!” Sua traição a Esparta, aos seus pais e a toda a Grécia é motivada por uma vida inteira de privações e sonhos frustrados. Seu alento era justificar o erro de seu pai em ter abandonado sua cidade somente para preservar sua vida, sem esta possibilidade, é natural que toda a sua frustração se volte contra quem o “impediu” de cumpri-la. Seus motivos são plausíveis e muito mais críveis do que nas outras encarnações do personagem.

    300 de Esparta mostra de uma forma autoral uma história mitológica, sem muito compromisso com fidelidade ou fidedignidade, e exprime uma mensagem de resistência, anti-derrotista mesmo diante do impossível ou do fracasso iminente. É belicista, sanguinária, faz apologia a violência, e grifa a coragem e bravura como bens acima do bem estar próprio.

  • Crítica | 300

    Crítica | 300

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    Zack Snyder é um diretor tão criticado por suas últimas realizações, que torna-se fácil esquecer-se de suas qualidades. Uma delas é o talento que ele tem em retratar cenas introdutórias. A abordagem da criação do guerreiro espartano e o consequente endeusamento do seu protagonista aliado a trilha sonora retumbante, que eleva os ânimos e torna o clima de 300 em algo naturalmente épico.

    Tudo na película é estilizado: Fotografia, cores em tons sujos que fazem com que o sangue coagulado sobressaia, o excesso da câmera lenta – claramente inspirada por Sam Peckinpah – que já era presente em Madruga dos Mortos, aqui é ainda mais abundante.

    Aspectos comuns a história e um pouco deixados de lado na HQ são abordados por Snyder, como a maior autonomia que a mulher espartana teria em relação às outras helenas. Uma boa demonstração disso é a interrupção que a Rainha Gorgo (Lena Headey), faz a primeira conversa entre os espartanos e o mensageiro persa.

    A principal discussão do filme é a forma como o Rei Leônidas (Gerard Butler, no papel de sua vida) encara a questão religiosa. Para ele, o misticismo deveria dar lugar à razão. Os éforos são retratados como corruptos, que aceitam suborno persa – diferente da Graphic Novel de Frank Miller. Os vilões de Snyder têm um sério problema por serem retratados quase sempre com um estereótipo de homossexual afetado, Xerxes foi o primeiro deles, o tom imponente se torna motivo de piada. Na verdade, quase toda a parte do roteiro que foge da história baseada passa por erros crassos e é lotada de incongruências. O corcunda Ephialtes por exemplo teve grande parte da sua motivação reduzida, graças ao fato dele só trair seu povo por ter sido rejeitado por Leônidas, quando na trama de Miller ele tenta se suicidar sem sucesso – fato que o faria culpar seus pais, os deuses e é claro, o Rei. A sub-trama envolvendo a Rainha e Theron também é muito equivocada. A entrega e pouca resistência de Gorgo, e a cena em que ela desmascara o político na frente do plenário em meio a uma audiência, fazendo cair uma bolsa com um punhado de moedas persas é ridícula, fraca e trata o espectador como um imbecil.

    Mas o foco de 300 é a Ação, sem dúvida nenhuma. As cenas de batalha são magistralmente filmadas, começando pelas “formações em tartaruga”, as execuções e o combate corpo a corpo, até o despencar do despenhadeiro. O céu coberto pelas flechas fazia o dia parecer noite, e os brados de Leônidas eram inspiradores e encorajavam seu exército. O Slow Motion bem utilizado funciona muito bem, ainda mais nas cenas de decapitação, e a vantagem espartana das Termopilas é mostrada visualmente em uma execução muito competente.

    O sacrifício dos guerreiros gregos, aliado ao estilo videoclíptico e ao clima massa veio, garante a 300 ser um sucesso de público, retrata os espartanos como um grupo de sádicos sedentos por sangue e como assassinos profissionais que não temem a própria morte. É uma história de bravura e resistência, além de ser um ótimo trabalho de Zack Snyder.

    Ouça nosso podcast sobre Zack Snyder.

  • VortCast 26 | Zack Snyder

    VortCast 26 | Zack Snyder

    vortcast26

    Bem-vindos à bordo. Nesta edição Flávio Vieira (@flaviopvieira), Jackson Good (@jacksgood), Nicholas Aoshi (@aoshi_senpai), Mario Abbade (@fanaticc) e Carlos Voltor (@carlosvoltor) se reúnem em um bate-papo descontraído sobre a filmografia de Zack Snyder, o “rei” do slow e fast-motion. Divirtam-se.

    Duração: 102 min.
    Edição: Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira
    Arte do Banner: Bruno Gaspar

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    Lista dos filmes comentados

    Crítica Madrugada dos Mortos
    Crítica 300  – DVD | Bluray
    Crítica Watchmen  – DVD | Bluray
    Crítica A Lenda dos Guardiões  – DVD | Bluray
    Crítica Sucker Punch – Mundo Surreal  – DVD | Bluray
    Crítica O Homem de Aço

    Dicas de materiais relacionados

    Livros A Lenda dos Guardiões
    Watchmen – Edição Definitiva
    Antes de Watchmen
    Bastidores de Watchmen
    Watchmen – Contos do Cargueiro Negro
    Os Últimos Dias de Kripton
    Superman – O Que Aconteceu ao Homem de Aço
    Grandes Astros Superman
    Superman – Origem Secreta

  • Crítica | Batman: Ano Um

    Crítica | Batman: Ano Um

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    A DC Animated Universe tem realizado um bom trabalho em animações direcionadas para o home vídeo. Realizam com consciência as adaptações de suas tramas e sempre optam por histórias fechadas que funcionem de maneira a entregar um bom filme sem que o espectador tenha que ser leitor das revistas em quadrinhos.

    Recentemente, a editora tem investido em histórias clássicas, definidoras dentro do universo da personagem. A ideia é positiva, porém um tanto perigosa. Conhecemos tais histórias clássicas pela composição de narrativa e desenho. Uma adaptação pode ser um risco se muda os traços da história ou tenta amenizar o texto original.

    Em Batman: Ano Um os traços de David Mazzucchelli e cores de Richmond Lewis são emulados para que a adaptação tenha semelhanças com a versão original. A composição escura e um tanto assustadora se perde por causa da formatação. Há cenas retiradas com perfeição do gibi, outras estilizadas em exagero, resultando em um pequeno desequilíbrio.

    Mesmo com a pouca metragem, o ritmo não é tão frenético quanto no original, que abrange um longo espaço de tempo em cenas curtas, apresentando a evolução de Batman em sua jornada inicial de herói e Gordon reconhecendo a corrupção de Gotham. A tentativa de não perder o formato criado por Frank Miller retira a pouca liberdade que a animação poderia ter, escondendo tanto o herói que a história mais parece apenas o ano um de Gordon, e não o ínicio da longeva parceria dos amigos.

    A transposição da história para as telas, como aconteceu com o também clássico O Cavaleiro das Trevas, tira parte de sua identidade e não consegue uma nova à altura. Os desenhos bem compostos, com estilo cinematográfico, são bonitos por si, mas parecem destoar do elemento original e não apresentar uma das melhores histórias do morcego à altura.

    Ouça nosso podcast sobre Batman: Ano Um.

  • Crítica | Batman: O Cavaleiro das Trevas – Parte 1

    Crítica | Batman: O Cavaleiro das Trevas – Parte 1

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    Neste mundo injusto, qualidade e sucesso comercial nem sempre coincidem. Após o triste anúncio do fechamento da Warner Premiere, divisão da empresa responsável por animações lançadas direto para o home vídeo, ficou a expectativa em relação à última produção do selo: nada menos do que a adaptação da obra máxima do Homem-Morcego, O Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller, que não só redefiniu o personagem como toda a indústria dos comics (ao lado de Watchmen) após sua publicação em 1986.

    Somente os mais ingênuos esperariam uma transcrição cem por cento fiel de todo o estofo presente no material original, mesmo numa animação voltada a um público mais adulto. Afinal, são 200 páginas de uma narrativa extremamente densa, aprofundada não apenas na psicologia perturbada do herói, como também em ferrenhas críticas ao governo, à mídia e à própria sociedade norte-americana. Mesmo com a acertada decisão de dividir a história em duas partes, é preciso ter isso em mente e fazer certas concessões para poder apreciar este grande trabalho.

    Na trama (que é um futuro alternativo a partir do que o Batman era nos anos 80), Bruce Wayne se aposentou da função de vigilante urbano após a morte do segundo Robin, Jason Todd. Na casa dos 50 anos, ele vive como uma fera enjaulada, esforçando-se pra ignorar seu interior enquanto assiste Gotham se afundar cada vez mais num caos social. A numerosa e sádica gangue dos Mutantes domina as ruas e, com o Comissário Gordon prestes a ser aposentado compulsoriamente, parece não haver esperança, visto a total incapacidade das autoridades. Até que o retorno de um velho inimigo motiva Bruce a vestir mais uma vez a capa e o capuz e voltar à ação mais violento do que nunca, com uma ajuda inesperada.

    Batman: O Cavaleiro das Trevas – Parte 1 não foge da lei suprema de qualquer adaptação de uma obra fechada: parecer, aos olhos de quem conhece o material original, uma versão resumida e simplificada. Ainda assim, grande parte da força da história se mantém, como a construção de todo o cenário levando gradativamente ao retorno do Batman. Alguns elementos são bem datados, como as gangues com visual punk, mas o retrato de uma sociedade em frangalhos, praticamente entregue ao poder paralelo do crime, sem dúvida é atemporal.

    Houve um exagero, porém, na forma por demais explícita como o poder constituído na figura do prefeito é retratado com um imbecil incapaz. Compreensível, pois um cuidado maior nisso levaria mais tempo e arriscaria prejudicar o ótimo ritmo que a animação conseguiu ter. Nessa linha, a opção por reduzir ao mínimo as inserções televisivas na história foi provavelmente a melhor coisa da animação. Parêntese pessoal aqui: por mais que isso sirva pra situar o impacto que o Batman tem sobre a cidade (e criticar o tendenciosismo e desinformação da mídia), preciso dizer que na graphic novel era maçante e cansativo todo o espaço dedicado aos telejornais. Se o objetivo é cumprido sem cair no tédio, ponto para a animação.

    Mas nem tudo são flores. É preciso apontar a falha maior: a ausência das narrações em off dos pensamentos do herói. Marca registrada de Frank Miller, era através desse recurso que tínhamos noção do quão próximo da psicopatia estava Bruce Wayne. Da forma como ficou, isso pode até ter passado um tanto despercebido pra quem não conhece a HQ. Ainda que a violência exacerbada tenha permanecido, ao menos visualmente, algumas cenas perderam muito. Em especial, sem dúvida alguma, o momento em que o Batman é acuado por um inimigo armado e analisa suas opções, descartando as que desarmam com mínimo contato e optando pela que ALEIJA.

    Apesar de tudo, há que se destacar que a animação trouxe excelentes cenas de ação: as lutas contra o líder mutante por si só já valeriam o filme. O visual ficou num válido meio termo entre o estilo oriental padrão nas produções animadas da DC e uma reprodução do traço “quadradão” característico de Miller, embora muito mais “limpo”.

    Como se ainda precisasse, a Warner/DC mostrou mais uma vez que sua especialidade são as produções animadas, muito mais do que os filmes live action (polêmica mode on). Só nos resta lamentar o fim desse inspiradíssimo filão da empresa, enquanto aguardamos até o início de 2013 para conferir a segunda parte de Batman: O Cavaleiro das Trevas, com os aguardados confrontos contra o Coringa (dublado por Michael Emerson) e Superman.

    Texto de autoria de Jackson Good.

  • VortCast 09 | Batman – Ano Um

    VortCast 09 | Batman – Ano Um

    Bem Vindos à bordo. Nesta edição, Flávio Vieira (@flaviopvieira), Felipe Morcelli (@multiversodc), Bruno Gaspar, Delfin (@delreydelfin), André Kirano (@kiranomutsu), Rafael Moreira (@_rmc) e Jackson Good (@jacksgood) retornam para comentar de uma das histórias que revolucionou não só o universo dos quadrinhos, como toda uma indústria. Batman: Ano Um, de Frank Miller e David Mazzucchelli.

    Duração: 112 mins.
    Edição: Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira

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    Comentados na Edição

    Batman: Ano Um (animação)
    Batman: Ano Um (HQ)
    Multiverso DC
    Comicpod 36 – Batman: O Longo Dia das Bruxas

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    Ouça esse programa e saiba como concorrer a HQ – Superman: O Homem de Aço

  • Resenha | Bad Boy

    Resenha | Bad Boy

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    Não gosto de admitir isso, mas as vezes me pego comprando HQs e mangás sem nem me dar ao trabalho de ler uma sinopse, confiando apenas no nome do autor ou do ilustrador para garantir a qualidade da obra. Felizmente tenho acertado mais do que errado, e um grande exemplo dessa confiança é a HQ Badboy, do nada famoso Frank Miller, que comprei no meio do ano passado. Pode até parecer um pouco de comportamento fanboy começar a resenha dessa maneira, mas é verdade quando digo que comprar uma obra do Frank Miller é retorno garantido, e vou tentar justificar essa afirmação nas próximas linhas.

    Pra começo de conversa, Badboy não é uma HQ muito extensa, sua edição aqui em terras tupiniquins tem apenas 48 páginas contando com alguns esboços de arte no final, o que me assustou um pouco enquanto a folheava, porque até o momento não estava muito motivado adquirir a obra. O engraçado foi perceber que durante a leitura, essa falta existencial de uma presença física mexe com a percepção do leitor, que está imerso num roteiro onde a trama é ponteada por pequenos momentos gritantes nos quais muitas vezes a sensação é de “vai acontecer mais coisa” e no final acaba não acontecendo da maneira esperada.

    A história de Badboy é um pouco complicada se analisada em primeiro plano, mas com o passar das páginas se mostra uma ótima releitura do clichê “fugir de uma realidade pouco convincente”. Ela começa nos apresentando Jason, um garoto aparentemente normal, fazendo aquilo que mais gosta: fugir. Talvez a presença de algo parecido com robôs e um jato supersônico denunciem que a história se passa num futuro próximo onde nada é o que parece e nem como parece, tornando complicado entender onde Jason está e qual sua função dentro da “sociedade utópica” conhecida como Sacred Oaks que seus pais pregam com avidez durante algumas viagens forçadas após as fugas. O garoto acaba vivendo num circulo de Déjà Vu em que as mesmas situações se repetem apenas com micro mudanças: percepção de algo errado na realidade, tentativa de fuga e captura eminente seguida por uma amnésia. A quinada acontece justamente quando ele se recusa a viver o período de amnésia e fica acordado, daí para frente as descobertas são grandes e atiçam ainda mais a curiosidade do leitor.

    Dentro de algum lado comparativo, podemos dizer que Badboy se parece muito com alguns filmes onde o foco está na situação vivenciada pelo personagem, por mais que o cenário de fundo se mostre mais interessante. Durante a leitura essa é uma característica muito boa, porém se vira contra o autor depois que o leitor descobre que não há mais material para ser lido. Você literalmente fica com vontade de conhecer mais sobre aquele ambiente onde Jason está sendo aprisionado, mas não por uma ligação ao personagem e sim pelo fato de que todo o cenário foi construído encima de uma aparência super secreta. Frank Miller soube dar a Badboy um “gosto de quero mais” e ainda embalou sua genialidade dentro de um pacote com poucas páginas e uma ilustração nos moldes clássicos dos quadrinhos oitentistas em pleno anos 90 (1997 para ser mais exato).

    Infelizmente Badboy não é to tipo de história em quadrinhos que qualquer um possa ler, há linguagem inadequada e um pouco de violência, mas nada que vá mudar sua vida como um banho de sangue. Para nós brasileiros acostumados a pagar valores irrisórios por obras que não chegam aos pés de Badboy, a situação só melhora em saber que ela está sendo vendida com preços entre 20 e 30 reais e sua edição nacional foi feita pela já conhecida Devir em 2009, recebendo o melhor tratamento possível: capa plastificada, papel de boa qualidade e uma lombada rígida. Então minha consideração final coloca Badboy com nota 8, numa escala de 0 à 10 e serve de indicação para aqueles que querem se aprofundar mais ainda nas obras do Miller sem precisar passar por dilemas de Custo VS. Benefício na hora da compra.

    Compre: Bad Boy.

    Texto de autoria de Breno C. Souza.