Tag: Frank Miller

  • VortCast 89 | Diários de Quarentena XVII

    VortCast 89 | Diários de Quarentena XVII

    Bem-vindos a bordo. Rafael Moreira (@_rmc), Filipe Pereira (@filipepereiral), Jackson Good (@jacksgood), Bruno Gaspar e Flávio Vieira (@flaviopvieira) retornam para mais um papo sobre editores, política e muito mais.

    Duração: 100 min.
    Edição: Rafael Moreira e Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Rafael Moreira e Flávio Vieira
    Arte do Banner:
     Bruno Gaspar

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  • VortCast 67 | RoboCop

    VortCast 67 | RoboCop

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Filipe Pereira, Bruno Gaspar, Julio Assano Júnior (@Julio_Edita) recebem Anderson “Perna” Meira (@ThePerna) para comentar sobre a série de filmes iniciada em 1987 pelas mãos de Paul Verhoeven: RoboCop. Neste episódio, comentamos sobre as discussões envolvendo o universo cyberpunk dos filmes, curiosidades e todos os temas político-sociais.

    Duração: 109 min.
    Edição: Julio Assano Júnior
    Trilha Sonora: Julio Assano Júnior e Flávio Vieira
    Arte do Banner:
     Bruno Gaspar

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    Crítica RoboCop (2014)

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  • Crítica | Robocop 3

    Crítica | Robocop 3

    Em 1993 chegava aos cinemas a terceira parte da saga de Robocop, dessa vez conduzida por Fred Dekker começa parecida com as outras, com comerciais engraçadinhos sobre Delta City, o ideal da cidade de Detroit, perfeita, como se não houvesse defeito. Irvin Kershner já havia tentado repaginar essa ideia, mas Robocop 3 segue pela mesma esteira teimosa, dessa vez assumindo de vez o caráter infantil que o personagem acabou tendo, referenciando até os bonecos que eram vendidos as crianças nos anos noventa.

    Impressionantemente, mesmo sendo obsoleto há pelo menos dois capítulos da saga, o E-209 continua nas ruas de Detroit, sendo tão inútil que é hackeado por uma garotinha, de nome Nikko (Remi Ryan). Toda essa problemática ocorre basicamente para mostrar o lado humano do tira de aço, em uma tentativa atrapalhada de resgatar algumas das boas premissas de Robocop 2, com ainda menos sutileza que no filme anterior.

    O texto dessa vez está a cargo de Dekker e Frank Miller, que também havia pensado a historia do filme segundo, historias dos bastidores dão conta de que Dekker queria que seu amigo Shane Black revisasse o trabalho de Miller, mas isso jamais ocorreu e os dois finalmente trabalhariam anos depois no texto do mais recente O Predador . Dessa vez Peter Weller não conseguiu voltar apesar de ter discutido bastante com Dekker sobre seu papel, estava fazendo Mistérios e Paixões em 1991 e não conseguiu participar (Rococop 3 foi rodado em 91 mas só foi lançado em 93 por conta da falência da Orion), sendo substituído então por Robert John Burke e a produção era tão barata que o mesmo teve que usar um traje menor, reutilizado a partir de Robocop 2, fato que o fez se queixar de dor. Nancy Allen retorna ao papel de Anne Lewis, ainda que pereça com quarenta minutos de filme, muito provavelmente para não precisar retornar em uma possível parte quatro.

    A maior parte das idéias utilizadas nesse filme são completamente esdrúxulas, entre elas a de achar um opositor que emula capacidades de um lutador oriental, Otomo (Bruce Locke), um sujeito que ao enfrentar alguns inimigos, consegue ter seu rosto danificado em uma das sequências mais horrorosas do cinema mainstream da década de 1990.

    A transformação da ideia de Delta City em uma trama de remoção de pessoas carentes é de uma intenção bela enorme, mas a realidade é que o que é mostrado no filme é errado em diversos sentidos. Miller propõe em seu argumento e roteiro que policial de aço se valha de um cadillac cor de rosa, que era propriedade de um negro que se assemelhava por sua vez aos cafetões retratados nos clichês pejorativos de negros do cinema. O decréscimo da violência também é muito sentido, o que até curioso, visto que Miller fez uma historia do Batman onde a violência era uma das características principais.

    Em determinado ponto, o roteiro lembra que tem que fazer referencias aos comerciais viajandões da OCP, e esses são mostrados de maneira muito gratuita. A ideia por trás de revolta da polícia, se unindo ao povo oprimido é até boa, mas a luta em campo aberto e de dia é totalmente risível, piorando muito quando o herói vem voando de Jet-pack, em um stop motion terrível, acompanhado da música tema de Basil Poledouris, que é utilizada aqui a exaustão.

    O próprio diretor, anos depois de fazer o filme diz que a jornada de Robocop já tinha sido explorada no primeiro filme, e as continuações só restou brigar com bandidos, ou seja, algo banal e comum a policiais, além disso, ele lamenta ter atenuado a violência, cinismo e ação por conta do estúdio, além do que a questão dos desabrigados não caiu bem com ninguém, nem com o público médio, que não queria ver discussões profundas, e nem com a parcela que se preocupa com essas causas, já que a problemática só foi citada, e não aprofundada.

    O embate na sala principal da OCP, com McDagget (John Castle) assistindo é tosca em um nível absurdo, com uma solução estúpida para o embate com dois agentes ninjas, e pior, ela banaliza uma das poucas cenas sérias e bem pensadas do roteiro que mostra todo o corpo policial renegando o emblema da OCP, para servir somente a população. Tanto a solução quanto o modo como Murphy age para se livrar de McDagget é digno de risos, assim como toda a reverencia do povo com o herói. Robocop 3 erra muito mais que seu antecessor e é qualificado como um filme involuntariamente trash com todas as qualidades possíveis.

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  • Crítica | Robocop 2

    Crítica | Robocop 2

    Robocop 2, continuação menos inspirada de Robocop: O Policial do Futuro, começa emulando características do primeiro, com comerciais que visam defender o povo da ultra violência, mas que são quase tão agressivos quanto os modos das gangues que atacam a cidade. Irvin Kershner – o mesmo que conduziu O Império Contra Ataca – traz a luz uma criminalidade menos estilosa, ao mesmo tempo em que ela aparenta ser mais normal, no sentido de não ser irônica, ela também é mais caricatural, no sentido de aparentar se compor basicamente pelos latinos que normalmente são relegados ao papel de vilões maniqueístas nos filmes de Hollywood.

    Peter Weller retorna ao papel principal, inclusive fazendo sua contra parte, Alex Murphy, em flashbacks, onde se percebe o peso dos anos sobre se rosto e calvície. O roteiro de Frank Miller e Walon Green tenciona mergulhar na origem do homem por trás da máquina. Esse começo reúne elementos de premissa muito promissores, e que aos poucos, são deixados de lado.

    A OCP se mostra ainda mais maligna que no primeiro filmes, armando para que a polícia entre em greve, para fazer com que eles se endividem, para então conseguir comprar os direitos de proteção a Detroit, para enfim privatizar a cidade. Novas tentativas de substituir o policial de aço são feitas e todos os Robocop 2 são fracassados – talvez seja esse um comentário metalinguístico involuntário, referindo ao fato de não ter mais o diretor holandês nessa obra também. O modo como os opositores encontram para hackear herói é meio pueril, assim como a idéia de ter um vilão infantilizado como chefe do crime organizado. A questão de tomada de controle do vigilante foi referenciada levamente, na versão de 2014, o famigerado Robocop do brasileiro José Padilha, ainda que lá a prerrogativa fosse mais adulta que aqui.

    A cena em que a medula e olhos de Cain (Tom Noonan) estão presos ao seu cérebro, e são mostrados fora do corpo, como parte da engrenagem da nova encarnação de Robocop 2 é absolutamente esdrúxula. O nonsense não chega nem perto de ser aceitável, é só bobo, diferente do que Paul Verhoeven propunha antes. A nova face da OCP, liderada por Surgeon General (John Ingle), Holzgang (Jeff McCarthy) e assessorada por Donald Johnson (Felton Perry), que estava no primeiro filme é bem diferente dessas mesmas contrapartes no filme original e parecem um trio de patetas, que querem lucrar desesperadamente mas não sabem como fazer isso.

    A luta final é terrível, o stop motion é mal utilizado e burrifica ainda mais o roteiro que já não era grandes coisas. Essa cena rivaliza com uma outra, que mostra as partes de Robocop separadas entre si como a mais ridícula de toda a franquia, mesmo considerando que a parte 3 é pior, essa tem muito mais momentos de pura tristeza. A ideia de renovar a ganância OCP  soa como mera copia do episodio original com a diferença básica de que a maior parte dos conceitos aqui são mal pensados, simplesmente não encaixam, por serem só versões pioradas do que já foi explorado antes. Robocop 2 poderia ser maior, fundamentalmente se desse vazão aos novos questionamentos, como a tentativa de Murphy em se aproximar da sua família, mas ao invés disso investe em ser mais um produto de ação genérico.

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  • Crítica | The Spirit: O Filme

    Crítica | The Spirit: O Filme

    Frank Miller é conhecido mundialmente por ter sido um dos maiores quadrinistas da era moderna. Suas obras passam por uma fase espetacular à frente do Demolidor, além da repaginação do Batman em Cavaleiro das Trevas e uma nova origem para o Homem-Morcego, em Ano Um. Com o tempo, ele invadiu outras mídias, sendo argumentista e roteirista de Robocop 2 e Robocop 3, e co-diretor de Sin City, junto a Robert Rodriguez. Para sua primeira e única produção solo como diretor, ele decidiu adaptar o clássico pulp de Will Eisner, The Spirit, trazendo à luz um filme controverso, para dizer o mínimo.

    O visual que Miller escolheu para retratar  a atmosfera das histórias do herói faz lembrar muito o que ocorreu em Sin City, com o uso de cores bastante diferenciado onde quase tudo é preto, com exceção de poucos pontos iluminados, destoante demais dos quadrinhos mais clássicos do vigilante mascarado. No começo do filme de 102 minutos, há até a sensação de que ele não será tão catastrófico quanto ele se revela no final da exibição, graças a tentativa de atualizar o tema do personagem, a questão é que essa atualização passa por problemas conceituais terríveis e só se mostra minimamente acertada nos primeiros minutos do longa.

    Em Dick Tracy, Warren Beatty também se apropria de um personagem antigo e consegue dar um ar diferenciado a ele que, apesar de cartunesco, funciona em tela, tanto para plateias que não conhecem o personagem como para os aficionados. Com Spirit, isso não ocorre. O filme tem cenas detestáveis, sequer os números de luta fazem sentido, especialmente àqueles com Gabriel Macht  brigando munido do traje de Spirit em um ambientes sujos e lamacentos com Octopus (Samuel L. Jackson). A construção visual desse personagem também é controversa demais, por se utilizar de elementos que dificilmente um personagem negro lançaria mão, mesmo que ele esteja presente em um universo maniqueísta, escapista e sem nuances como os quadrinhos antigos. Nas HQs, ele não revelava suas feições, ou seja, não se sabe sua etnia, se o roteiro de Miller decide transformar ele num homem negro soa no mínimo irresponsável tentar associa-lo a suásticas e uniformes da polícia alemã nazista, e até surpreende que Jackson tenha aceito essas indumentárias sendo tão consciente das questões políticas que essas envolvem.

    A realidade é que a abordagem escolhida pelo diretor é ainda mais anacrônica do que eram as revistas nos anos quarenta. Nenhum homem ou mulher que aparece em tela não se vale de pelo menos um estereotipo raso e extremamente pobre, há uma exploração muito vazia a sexualidade do belo elenco feminino, que conta com Scarlett Johansson, Eva MendesSarah Paulson e Jaime King. A fórmula utilizada em Sin City claramente não combina com Spirit, não servindo nem como adaptação preocupada com fidelidade à obra de Eisner, muito menos como a modernização de um ícone dos quadrinhos. O longa conta ainda com atuações histriônicas e típicas dos piores teatros infantis, um roteiro que não faz muito sentido e uma abordagem repleta de sensacionalismo barato que afronta qualquer fã de histórias em quadrinhos. Há quase nenhum acerto em The Spirit: O Filme e para quem é fã de Miller tudo soa ainda mais melancólico e lamentável.

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  • Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #9

    Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #9

    (Atenção: a crítica a seguir comenta acontecimentos dos números lançados de The Dark Knight III: The Master Race. Se não quiser saber nenhuma informação a respeito, interrompa a leitura – mas retorne a ela após ter lido as edições).

    O desfecho de Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior mantém a narrativa em coerência com excesso de anti-clímax. Uma característica preponderante na nova empreitada de Frank Miller, em parceria com Andy Kubert, no (outrora) brilhante universo criado em 1985.

    O último número, novamente, contraria o leitor, evitando qualquer cena épica para finalizar em grande estilo uma história arrastada. O grande embate com os kryptonianos é realizado sem urgência, como a ameaça de destruição mundial vinha sendo tratada nos últimos números. Mesmo retornando da morte, Batman é poupado por Superman, evitando outra morte. Miller ressalta a importância da existência de um homem-morcego mas, novamente, exagera ao extremo. Como a última parte da trama é narrada pelo próprio Cavaleiro das Trevas, há momentos de egocentrismo exagerado, ressaltando o herói como um personagem potente e necessário, até mesmo se vangloriando de sua capacidade física, comparando a violência como uma arte.

    Batman pode ter sido o herói que desencadeou a ação em diversos momentos como no início da história quando ameaçou os kryptonianos, bem como foi o responsável por resgatar o Azulão do exílio. Porém, é excessivo até mesmo para um personagem que, nos últimos anos, é um paradoxo de um humano comum dentro do universo DC, porém, quase invencível.

    Os outros heróis do panteão da Liga da Justiça que, aos poucos, reassumem seus mantos, não trouxeram nenhum acréscimo à trama. Mulher-Maravilha permanece em Themyscira; Lanterna Verde retorna somente para se vingar do grupo que lhe arrancou o braço com o anel e, por consequência, o poder. A cena é tão desproporcional que soa incoerente. Hal Jordan teve momentos de fraqueza, vide Crepúsculo Esmeralda, mas não é um personagem que age dessa maneira.

    Por fim, o desfecho derradeiro, o final da ação com os vilões, utiliza uma das saídas mais incômodas em qualquer estilo narrativo: o personagem que surge no momento certo para resolver o problema, um recurso conhecido como deus ex-machina. Após passar a história toda preso no mundo subatômico, Átomo retorna no momento e na hora certa para encolher os kryptonianos e encerrar a trama. Ou quase, o vilão Quar é poupado para que Lara tenha uma última cena, destruindo-o. O drama em potencial para a dúvida da personagem entre vilã e heroína foi construído a toa, com pouca evolução na história.

    Enquanto a série principal foi mediana do início ao fim, a história paralela configurou bons momentos. O último número apresenta Superman e a filha dialogando sobre o mundo heroico em uma espécie de síntese do que fundamenta o herói. A história e boa e poderia ser um bom ponto de partida da saga. Porém, ainda que exista uma lógica entre as ações da trama – Superman isolado, Lara voltando-se contra o seu povo – trabalhar com um cenário desolado de heróis para que Batman tivesse um destaque ainda maior se tornou inverossímil. Que tipo de heróis seriam esses que não reagiriam a um ataque de grande porte como o desenvolvido pela série?, o leitor pode se perguntar.

    A última página de ambas as histórias são emparelhadas, ambas mostrando mestre e pupilo como se dessem continuidade a cada herói em uma nova geração. A cena, por si só, é um clichê, ainda que uma daquelas cenas que sempre despertam certa emoção no leitor. Mas demonstra um esgarçamento tão grande na criatividade narrativa que: o de Batman bisa a famosa capa original do Cavaleiro das Trevas, a sombra do morcego diante de um raio, imagem reverenciada e homenageada em excesso em diversas e diversas recriações; e a de Superman finaliza com Lara colocando um óculos no rosto, simbolizando sua vontade de compreender as motivações do pai e assumindo o mesmo tipo de disfarce que Clark Kent usou em sua vida. Interessante, mas implausível. Bobo, na verdade. Prova apenas que a personagem não compreendeu nada do que observou durante a ação da trama.

    Anunciado com grande destaque, O Cavaleiro das Trevas – A Raça Superior foi divulgado como o retorno triunfal de Frank Miller em um universo consagrado. Aliado a outros grandes nomes da indústria dos quadrinhos, os leitores aguardavam uma trama que retomasse o melhor do Cavaleiro de 1985 e esquecesse os excessos da continuação. Mas não foi o que aconteceu. O resultado foi uma história alongada em demasia, exageradamente anti-climática e sem nenhum grande momento.

    Miller se saiu melhor nas histórias paralelas, bem como pareceu mais enfocado na crítica submersa da trama, analisando o extremismo religioso, do que na composição substancial d e uma boa história em quadrinhos. Sem dúvida, foi um grande título em vendas. O tempo reafirmará melhor a recepção desta série mas uma breve previsão: Cavaleiro das Trevas III será esquecido em pouco tempo.

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  • Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #8

    Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #8

    (Atenção: a crítica a seguir comenta acontecimentos dos números lançados de The Dark Knight III: The Master Race. Se não quiser saber nenhuma informação a respeito, interrompa a leitura – mas retorne a ela após ter lido as edições).

    Em Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #07, tivemos o retorno de Bruce Wayne, após um brevíssimo período morto. Renascido no poço de Lázaro, o herói volta à ativa em perfeita forma, rejuvenescido. Um fator que poderia engatilhar, finalmente, o início do ato final da história mas, mais uma vez, o ritmo que domina a penúltima edição é o prolongamento desnecessário da narrativa.

    Engana-se quem pensou que haveria uma grande cena de ação neste número. Enquanto Themyscira é invadida pelos kryptonianos, Superman e Batman estão na caverna do morcego e chegam ao local somente no fim da batalha, quando parte do grupo foi derrotado e outra parte fugiu. Ou seja, todos o desenvolvimento da história até aqui, incluindo o lento reagrupamento dos heróis, não teve nenhum objetivo evidente. Tudo indica que haverá mais uma batalha na última edição e, com isso, finda-se a trama.

    Além de um argumento breve, estendido além do necessário, os erros na composição da narrativa são aparentes. Deixar todo o ápice para o último número é repetir um velho problema dos quadrinhos em que as histórias se encerram rapidamente por falta de um planejamento entre o que se pretende contar e o quanto de páginas estarão disponíveis para tal ato. Lembrando que somente durante o lançamento da série foi anunciado a ampliação da história para mais um número, inicialmente o enredo terminaria na oitava edição.

    A prova da escassez temática também se evidencia na história paralela. A trama é narrada pela comissária de Gotham, investigando uma cena de um crime realizado por uma nova geração de Coringas, comandado pela antiga capanga do palhaço, a nazista Bruno. Não há nenhum motivo para inserir qualquer elemento extra a esta altura da história, a não ser revelar a falta de tema do argumento central. O mais improvável, porém, é que Batman aparece em cena para ajudar a comissária como se não houvesse urgência no problema com os kryptonianos. Ainda que seja coerente a ajuda do morcego, as densidades dos problemas são desnivelados, diante de uma catástrofe mundial, porque não colocar outro herói em cena para esse momento? E, mesmo sendo uma história paralela, é evidente que ela segue a temporalidade da trama principal, ou seja, invalidando a possibilidade de ser uma ação realizada durante outro momento do universo de Cavaleiro das Trevas.

    Nesses prolongamentos desnecessários é que se observa o quanto A Raça Superior se tornou uma longa história com pouco argumento e, a essa altura, impossível de se salvar como uma boa revista. Mas, finalmente, depois de um hiato em número anteriores, chegou a hora do último e derradeiro capítulo final.

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  • Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #7

    Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #7

    (Atenção: a crítica a seguir comenta acontecimentos dos números lançados de The Dark Knight III: The Master Race. Se não quiser saber nenhuma informação a respeito, interrompa a leitura – mas retorne a ela após ter lido as edições).

    A morte de Bruce Wayne na edição anterior foi estabelecida como um gancho desesperado para trazer alguma ação a uma história com pouco desenvolvimento. Levado por Superman até um poço de Lázaro para ser revitalizado, tudo indica que agora o Cavaleiro das Trevas está apto para lutar contra a invasão kryptoniana de igual para igual, afinal, pelas cenas é possível imaginar que ele também foi rejuvenescido.

    O sétimo volume de The Dark Knight III: The Master Race mantém a narrativa lenta, focando no final da batalha com os kryptonianos como o único ato em cena, ao menos, apresentando outros personagens que foram brevemente citados. A principio, além de Superman e Batman, a história demonstra também a reação da nova Robin diante da vitória. Ao perceber a morte do mentor, abala-se mas logo parece admitir que o manto é maior do que um único indivíduo. Enquanto isso, Lanterna Verde continua sua peregrinação no deserto, observando o quanto se sentiu um deus ao possuir o anel e Átomo, ainda preso microscopicamente, procura uma maneira de retornar ao mundo visível. Enquanto Lara é julgada pelos kryptonianos devido a sua origem, metade marciana metade amazona. O mesmo argumento que proporcionou a discussão e batalha entre Diana e a filha na edição passada.

    A trama se encerra em uma emboscada, com os vilões atrás do outro filho de Clark, um bebê que vive aos cuidados das amazonas. Uma cena com certo impacto que pode apresentar um grande combate entre os dois guerreiros. Porém, considerando os números anteriores, qualquer desfecho bem realizado pode ser executado com pouca ação. De qualquer maneira, a Trindade parece finalmente reunida em cena, um fato sempre agradável de se ver nas histórias em quadrinhos. É nesta edição também que se lembram da ideia inicial de múltiplas vozes através da mídia e, mesmo que por poucas cenas, a imprensa e as comunicações virtuais reaparecem, dialogando com os fatos acontecidos. Uma ideia interessante, utilizada inicialmente nesta trama mas deixada de lado nos números posteriores.

    A segunda história vem mantendo bom destaque ao ser capaz de explorar os personagens secundários com maior adequação e aprofundando um pouco em sua trama pessoal, no momento em que acontece a ação da saga principal. Neste número, o enfoque retorna para Hal Jordan que reencontra seu anel e volta a se tornar um Lanterna Verde e ao Gavião-Negro e a Mulher-Gavião, observadores da ação envolvendo Hal.

    Após apresentar o retorno do Cavaleiro das Trevas, reassumindo seu posto como herói e um chamado informal aos diversos outros heróis do panteão da DC Comics, a história parece direcionada para o final, um impactante combate entre kryptonianos e amazonas. Mas, evidentemente, tudo em Raça Superior parece propositadamente anticlimático, sendo possível, ainda, um desfecho que não consagre, em nenhum momento, uma ação imediata. Porém, não há mais tempo para seus autores desenvolverem a trama de maneira pausada, faltam apenas dois números e, ao menos, espera-se uma boa realização final. A trama desse sétimo número conduz o leitor a um possível grande ápice, seria lamentável que não utilizassem a boa sustentação do suspense desta edição. Bruce Wayne está de volta e pronto para a batalha.

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  • Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #6

    Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #6

    (Atenção: a crítica a seguir comenta acontecimentos dos números lançados de The Dark Knight III: The Master Race. Se não quiser saber nenhuma informação a respeito, interrompa a leitura – mas retorne a ela após ter lido as edições).

    No sexto número de Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior, a narrativa continua com a mesma tônica dos números anteriores: lenta, desenvolvendo os acontecimentos de maneira ordenada, um a um, sem uma urgência necessária para a invasão kryptoniana apresentada. A ação adentra levemente a narrativa central após a execução do plano de Bruce Wayne em produzir uma chuva artificial de kryptonita em uma Gotham tomada pelos vilões. Enfraquecidos, os mocinhos ganham a primeira batalha, ainda que a situação, provavelmente, ganhe alguma reviravolta, afinal, ainda faltam quatro edições futuras já que a DC Comics anunciou no ano passado que estenderia a série até a nona edição.

    Novamente, Frank Miller coloca Superman como um coadjuvante. Seu retorno em potencial em The Dark Knight III: The Master Race #5que poderia realoca-lo como um salvador dentro do contexto, é rebaixado a uma única ação nesta edição. Se por um lado o autor tem um histórico de sempre destacar o Cavaleiro das Trevas em suas obras em detrimento a outros heróis do panteão do estúdio, a tensão da trama exige a participação de outros heróis. Até o momento, porém, a maioria tangenciam a trama.

    A esta altura, parece evidente que o roteiro é mais funcional como metáfora. Esqueça o desenvolvimento aparente da trama, ela é apenas sustentação para criticar o extremismo e apresentar a queda dos heróis, uma falência generalizada por personagens desencantados e a velhice de Bruce Wayne. Afinal, Batman parece o único que mantém a fibra em lutar, mas seu corpo está velho demais para combater o crime. O desfecho deste número ainda conduz o leitor para um dos ganchos mais comuns das histórias em quadrinhos: um ataque direto ao herói que, aparentemente, morre. Um apelo desesperado da trama para conquistar certo drama. Mas não funciona. Se a história foi desenvolvida até aqui segurando ao máximo a ação, a possível morte do Homem-Morcego demonstra apenas desespero dos roteiristas.

    Em contrapartida, a segunda história se desenvolve com maior qualidade ao explorar os personagens isoladamente. Dessa vez, Lara, a nova Robin e Mulher-Maravilha são os destaques. Alem do roteiro, Miller também assina os desenhos desta parte e ao apresenta duas batalhas, ao menos, injeta um pouco de ação em uma história lenta. A primeira delas entre Lara e a Robin e a segunda entre Diana e a filha. A Trindade parece, finalmente, estabelecida e ativa na trama, ainda que considerando o anticlímax do enredo, é possível que a Mulher-Maravilha ainda não apareça na história central.

    Com apenas três edições para o desfecho, a história poderia ser mais objetiva. Prolongada em excesso com diversos acontecimentos isolados, a obra parece se distanciar cada vez mais do consagrado universo de Cavaleiro das Trevas.

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  • Eduardo Risso e Alan Davis: Aprendendo com os Mestres

    Eduardo Risso e Alan Davis: Aprendendo com os Mestres

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    Ainda sobre a CCXP, evento que ocorreu entre os dias 1 e 4 de dezembro, trazemos hoje mais algumas informações. Em comparação com o texto anterior – Diário de Bordo – Um Final de Semana na CCXP -, esse deveria conter uma quantidade absurdamente maior de conteúdo (supondo-se que o anterior tenha tido alguma utilidade), e espero conseguir transmitir tudo que pude absorver de pessoas com um conhecimento, vivencia e experiência absurdas no meio dos quadrinhos.

    Por ordens do nosso coronel tentamos visitar quatro painéis, sendo eles; Eduardo Risso, Alan Davis, Mark Farmer e Frank Miller. Fracassamos com Frank. Mesmo chegando com uma hora de antecedência, eis a fila que nos esperava.

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    Apesar da vontade, a vida é curta demais para isso.

    Assim, foquemos no que foi possível aprender e apreciar. No sábado estivemos no painel de Eduardo Risso, artista argentino muito conhecido pelo seu trabalho com Brian Azarello em 100 Balas (100 Bullets), qualquer outra informação supérflua pode ser encontrada na Wikipédia, de forma que iremos ao que interessa. O painel de Risso tinha um foco na argumentação dos quadrinhos em geral, mas não impediu o artista de falar sobre sua carreira, seu modo de ver a indústria e fazer critica ao modo como tudo é administrado no meio.

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    Eduardo Risso em sua masterclass.

    Fazendo um paralelo com o cinema, Risso falou aos aspirantes presentes sobre os principais desafios atualmente presentes na indústria dos quadrinhos e sua visão sobre como lidar com tal fato. Em vista da popularização do universo das comics tanto para o cinema como para a TV (e nesse ponto ele colocou aspas enormes), o modo de retratar os dramas, ações e diálogos precisou ser revisto por toda a mídia. Existe uma facilidade de impacto visual óbvia no cinema, com os orçamentos astronômicos dispensados aos efeitos especiais e ao retorno quase certo por parte da audiência, não existe limite para o que se pode mostrar ou fazer. Em contrapartida, nos quadrinhos, têm-se as limitações já inerentes à arte, como o espaço dispensado para representar ações, as ações em si que são limitadas ao traço do quadrinista e ao tempo e orçamento limitados pelas editoras. Dessa forma ele foi bastante claro quanto à necessidade de talento, criatividade (apesar de ser claramente contra a utilização dessa palavra) e técnica para aproveitar cada aspecto da percepção do leitor, e conseguir leva-lo à fantasia de tornar móvel o que é imóvel, e emocionar com poucas palavras e imagens, o que na verdade é apenas um conjunto de rabiscos.

    Sem poupar críticas ele ainda ressalta que tal dificuldade de se lutar contra a indústria cinematográfica por um lugar ao Sol se deve ao fato da falta de cultura da geração atual, onde a imagem e a facilidade de entendimento deram lugar ao imaginário e a beleza de se interpretar os traços e as escritas de uma maneira particular e única para cada um. Segundo ele, não é interessante para governos e instituições que os jovens sejam leitores, e sim jovens espectadores, e a eles sejam dadas as coisas prontas e sem margem para interpretação e livre pensamento. Perguntado sobre a visão do Brasil no plano dos quadrinhos, ele volta a falar sobre a cultura (ou falta de…) dos jovens, buscando facilidade e conforto nas mídias atuais, mas sem isentar a falta de incentivo governamental para a leitura e a divulgação da cultura. Nessa linha de raciocínio, ele toca em outro ponto sensível para alguns, que é a banalização da arte em função dos super-heróis.

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    Para Risso, apesar de necessário em alguns momentos de sua vida (e ele é bem sincero com suas necessidades financeiras), ele se arrepende e mostra desagrado por ter tido a necessidade de desenhar super-heróis. Em sua visão, uma vida como artista desenhando homens musculosos e heroínas de pouca roupa é uma vida perdida, e se mesmo por necessidade o artista se propõe a fazer isso por tempo demais isso pode significar sua morte como criador e potencial artista original. Os conceitos já estão por demais formados e travados na mentalidade de mercado atual, e não há espaço para coisas novas e de cunho filosófico. Apenas mais do mesmo. Uma repetição incessante de historias já contada, apenas com capas alteradas.

    Foi-nos negada a possibilidade de questiona-lo sobre sua visão do futuro cinematográfico dos heróis, uma vez que segundo ele mesmo é um nicho fadado à mesmice e a mediocridade narrativa. Crendo que tal impossibilidade foi uma conspiração por parte dos sites rivais jovens e não tão culturais, nos resta esperar para ver.

    Encaixando de forma fantástica com o show de Eduardo Risso, no domingo pudemos acompanhar o fantástico Alan Davis e seu finalizador Mark Farmer nos darem opiniões um pouco distintas com relação à indústria dos quadrinhos. Sem tanto conteúdo falado e de vivencia, Davis e Farmer trouxeram a experiência no desenho em si para a mesa e nos agraciaram com um enquadramento ao vivo do Cavaleiro das Trevas, desde o esboço disforme até a finalização a tinta.

    Falando de sua experiência como quadrinista, Alan nos mostra uma apresentação de fotos de todos os seus momentos na indústria, explanando sobre diferenças de traços e sobre sua evolução como desenhista. Sobre aprendizado, ele deixou uma lição para aqueles que são pais, ou possíveis formadores de opiniões e profissionais. Nunca limite a mente de outra pessoa. Não existe forma de se expressar desagradáveis e erradas, e sim percepções divergentes sobre objetos, de forma que as percepções irão evoluir naturalmente, mas nunca da mesma forma.

    dscn0341Spider-man e Batman, pela sua neta.

    dscn0338Batman e Robin, segundo seu neto.

    Sobre técnica, chegou a desdenhar da ideia de lápis e canetas mágicas, preços exorbitantes de materiais de desenho. Em sua visão, um traço é tão bom quanto o artista que o faz, seja no melhor papel com o pedaço de carvão mais barato. Uma lição para alguns que o questionam sobre seus materiais e técnicas diferenciadas de desenho. Ele deixa claro que liberdade de se expressar leva ao aprendizado, nunca tendo ele passado por nenhum tipo de formação acadêmica (ou treinamento de qualquer tipo) quando do inicio de sua carreira profissional.

    dscn0367 dscn0401dscn0416Ensaia alguns argumentos sobre linguagem corporal e representação nos quadrinhos, mas não se aprofunda, mostrando e comentando alguns quadros onde usa poses e expressões para explicitar backgrounds que de outra forma precisariam ser descritos e, assim, contra produtivos. Em meio a descrições de formas de se produzir eficientemente em uma indústria bastante exigente com prazo, e histórias pouco amigáveis com colegas e editores, temos a entrada de Mark Farmer no painel de Alan.

    dscn0431“Esboço pobre”, segundo Davis, desenhado pelo mesmo.

    Parceiros de trabalho, ambos trocam brincadeiras e logo temos um clima bem mais descontraído e menos formal com Farmer se apresentando e pedindo que Alan se retirasse, já que não entendia muito de desenho. Esse modo de agir ditou todo o painel de Mark, que apesar de bem mais descontraído e pouco preocupado em falar sobre técnicas e modos de produção, ainda pode dar um vislumbre de como é a vida de um desenhista/finalizador e quão dedicada e disciplinada deve ser sua administração de tempo.

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    Dizendo que já aprendeu a lidar com calotes de editoras, chamando Alan Moore de “gatinho manhoso” e se vangloriando de “sair” para trabalhar em seu sótão no inverno de chinelos e bermuda, vemos o lado que parece perfeito em todo profissional bem sucedido e feliz com seu trabalho. E se não somos todos desenhistas, ao menos foi possível ver o quão felizes podemos ser com dedicação e prazer no que fazemos.

    dscn0488Final do masterclass.

    Uma demonstração de perícia absurda enquanto, distraidamente, faz piada e responde à plateia, foi o que tivemos em um painel bastante tranquilizador e que finalizou o masterclass da CCXP 2016 da melhor forma que um amador em desenho e leigo na indústria poderia esperar. Fiquei pessoalmente espantado com a demonstração de humildade e afeto mostrada pela grande maioria dos artistas no evento. Especialmente maravilhado pela pericia e conhecimento distribuídos àqueles que vão à busca disso em uma oportunidade única de reunir nomes tão significativos e variados de uma indústria que, segundo eles que fazem parte, dá poucas chances para os muito talentosos, e nenhuma para os de mente simples.

    Texto de autoria de Lucas Nunes.

  • Batman vs Superman é um verdadeiro “épico” das referências

    Batman vs Superman é um verdadeiro “épico” das referências

    Como todos sabem, a Marvel estabeleceu no cinema uma característica peculiar para suas produções: as cenas pós-créditos. Elas revelam curiosidades dos filmes e também indicam eventos futuros.

    Semelhantemente, a Warner também está estabelecendo uma característica própria para os filmes do universo DC, e isso está sendo feito através dos easter eggs. Nunca se viu em um filme de super-herói tamanha avalanche desse recurso como vimos em Batman v Superman, consagrando-o definitivamente como um “épico das referências” em filmes do gênero.

    O termo easter eggs significa “ovo de Páscoa” em inglês, e refere-se a qualquer coisa oculta que possa ser encontrada em músicas, jogos de vídeo-game, séries e filmes. Eles trazem alguma curiosidade sobre a produção em que aparecem, podem fazer referências a outros filmes e também apontar eventos futuros.

    Entender essas referências é  uma “arte” dominada por poucos. Por causa disso, eu assisti Batman vs Superman: A Origem da Justiça sete vezes,  e utilizando minha “visão de raio-x” (coisa que o Superman de Zack Snyder não é habituado a fazer), descobri alguns novos easter eggs e gostaria de compartilhá-lhos com vocês.

    Chega de papo e vamos às referências!

    WATCHMEN

    As referências à obra prima de Moore estão presentes no começo, meio e fim de Batman vs Superman.

    No inicio do filme há um outdoor pichado com a seguinte mensagem “o fim está próximo”. Essa mensagem escatológica, oriunda da bíblia sagrada (da Epístola de São Pedro, capítulo 4, versículo 7), é base da pregação feita por Walter Kovacs (Rorschach) que, em Watchmen, atuava como um “profeta do apocalipse”. Isso era devido ao clima de medo que pairava na população devido a iminência de uma guerra nuclear entre EUA e URSS.

    Semelhantemente, esse medo também estava presente em uma parcela da população no contexto social do filme Batman vs Superman, também vislumbrava um futuro apocalíptico para a raça humana por conta da presença na Terra de um alienígena dotado de um poder de destruição em   massa, como foi testemunhado por eles nos eventos mostrando de O Homem de Aço.

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    Na metade do longa, na cena que Batman carrega Superman no ombro, quando ele está inconsciente, percebe-se uma mensagem pichada em uma coluna, em latim, que diz: “Quis custodiet ipsos custodes?“. Essa frase é do poeta Juvenal – satírico de Roma do século I e II – e significa “Quem vigia os vigilantes?”, sendo adaptada por Alan Moore como premissa máxima de Watchmen, onde foi questionada pelas autoridades dos EUA, a falta de controle e supervisão da atividade de vigilantismo na sociedade, pois os heróis agiam acima da lei e do bem e do mal, o que resultou na sanção de uma Lei Federal – Lei Keene – determinando que todos os “heróis fantasiados” fossem registrados pelo Governo. Muitos se aposentaram, outros continuaram suas atividades sob a supervisão do Estado, e alguns não se submeteram a essa situação e recusavam tal registro – como era o caso de Rorschach, atuava na clandestinidade. Esse panorama é uma menção a situação de Batman e Superman que, assim como os vigilantes de Watchmen, atuam acima da lei, sem controle ou supervisão do Estado, através de uma “jurisdição” própria, sem se submeterem as leis locais e as autoridades constituídas, o que gera medo e  insegurança em uma parte da população, que vê os heróis como uma ameaça, assim como ocorreu na clássica obra de Moore.

    Screen Shot 07-07-16 at 10.17 PMPor fim, no final no filme, é possível observar no Planeta Diário, um quadro com a capa de edição antiga do jornal com a morte de John F. Kennedy em destaque. É uma alusão ao Comediante, pois, em Watchmen, foi ele quem matou  o Presidente dos Estados Unidos.

    Screen Shot 07-09-16 at 09.05 AM 001300 DE ESPARTA

    Ah, Essa eu notei de imediato na estreia do filme no cinema!

    Há uma clarividente referência ao filme 300 – baseado na HQ homônima de Frank Miller – no novo trabalho de Snyder. Falando precisamente, ele estabeleceu um paralelo no roteiro de ambos os filmes. Por isso podemos observar que tanto em 300 quanto em  Batman vs Superman, há:

    – uma lança;
    – um rosto ferido;
    – um “deus” que sangra.

    O objetivo e a motivação de Bruce era a mesma de Leônidas: provar que o inimigo que enfrentava não era uma “divindade” de fato, mas um “falso deus”, que  não era invencível, possuía fraquezas, podendo inclusive ser ferido, sangrar; de fato, nesse quesito, cada qual cumpriu sua missão de maneira muito semelhante.

    Screen Shot 07-02-16 at 09.29 AM

    A PRIMEIRA APARIÇÃO DE LEX LUTHOR NOS QUADRINHOS

    Na prisão o guarda chama Lex Luthor de “prisioneiro A-C- 23-19-40”.

    Essa foi uma referência a primeira aparição do maior vilão do Superman, nos quadrinhos, que ocorreu na revista “A-C 23 – 19-40” (Action Comics n° 23, de abril de 1940). Luthor foi criado por Jerry Siegel e Joe Shuster, já com o propósito de ser o principal inimigo do Homem de Aço.

    Screen Shot 07-02-16 at 09.22 AM (1)

    No início ele era retratado com um cientista brilhante e ambicioso – como caracterizado em Batman vs Superman, mas como vários personagens dos quadrinhos, ele sofreu transformações e chegou até mesmo a ser representado, numa série de TV, como um homem relativamente bom e atormentado. Ele só assumiu o perfil “magnata imobiliário” após Crise nas Infinitas Terras, pelas mãos do grande mestre, John Byrne.  Em 2006, na edição de número 177, a  respeitada revista Wizard, organizou ranking dos 100 maiores Vilões das Histórias em Quadrinhos de Todos os Tempos, e Luthor ocupou a 8° posição;  no mesmo ranking elaborado pelo site IGN, ele ficou em 4° lugar.

    INDÚSTRIA ACE – O “BERÇO” DO CORINGA

    A indústria ACE Chemicals é o lugar onde o Capuz Vermelho caiu num tanque de produtos químicos e “nasceu” o Coringa. Isso pode ser visto na Piada Mortal de Moore, onde é contada a origem do vilão.

    Aparentemente, esse também deve ser o lugar onde “nascerá” a Arlequina, pois no filme do Esquadrão Suicida, também foi vista a logo da mesma industria, durante as filmagens do longa no Canadá.

    Pelo visto o Palhaço do Crime será o “criador” da Arlequina – a versão feminina dele mesmo – no filme do Esquadrão Suicida e a fará “nascer” da mesma forma que ele mesmo “nasceu”, que como já vimos no trailer. Ele a jogará num tanque de produtos químicos (provavelmente as mesmas substâncias com as que ele fora banhado) o que  muda, inclusive, a cor de sua pele, seus cabelos, deixando a Harley Quinn bastante semelhante ao Coringa. Esse processo de transformação é uma inversão do simbolismo do batismo cristão, no qual a imersão – o  ato de entrar nas  águas – simboliza a morte da “velha criatura”, com a sua natureza humana pecaminosa, e a emersão –  o ato de sair das águas – simboliza o nascimento de uma “nova criatura”, com uma vida santificada. No caso do Coringa e da Arlequina há um significado contrário: quando entraram nas ”águas” do ”tanque batismal” da ACE Chemicals, ali morreu tudo o que neles havia de ”humano”, e ao sair das ”águas”, renasceram com uma natureza “inumana”, maligna…

    Screen Shot 07-02-16 at 10.29 AM

     A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS CRISTO 

    Religião foi um tema abundante no filme Batman v Superman. Há paralelos com o   messias Jesus Cristo, na origem e formação do mito Superman; não seria diferente na sua morte, pois foi claramente inspirada na morte de Cristo descrita nos Evangelhos. Podemos observar que a cena em que o corpo do Superman é descido cuidadosamente pelo Batman e a Mulher-Maravilha de um “monte”, é baseada na descrição da bíblia, quando Jesus é retirado da cruz. O ambiente na cena do filme é recriado de maneira a  assemelhar-se ao Calvário, local da crucificação de Cristo. Podemos observar figuras bíblicas aludidas na cena: Lois representa Maria, com o filho morto em seus braços; Diana representa Maria Madalena e Batman, o apóstolo João. Há, Inclusive,  a presença de duas cruzes no ambiente, fazendo alusão aos dois ladrões que morreram crucificados ao lado de Jesus. A cena, criada numa atmosfera de arte barroca, foi montada,  para enfatizar o aspecto messiânico e salvador do Superman, que a exemplo de Jesus, dá a sua vida em sacrifício para salvar a humanidade. O que corrobora ainda mais esse aspecto religioso do filme e paralelo da Morte do Superman com a Paixão de Cristo,  foi o fato do filme ter estreado nos cinemas em fim de semana de Páscoa.

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    DIRETOR DAS ANIMAÇÕES DA DC COMICS

    Após a  discussão entre Clark e Lois, no Planeta Diário, acerca da viagem investigava que ela faria, Lois vai embora; nesse ínterim é possível notar o nome “Jay Oliva” como um dos funcionários do jornal. O easter egg, ao meu ver, é muito significativo. Para quem não o conhece, Oliva é responsável pela direção de diversas animações da DC, entre elas Ponto de Ignição, na qual, por causa de um evento promovido pelo Flash, toda realidade DC é alterada. Quando participou do Hall of Justice Podcasts, Oliva afirmou sobre Batman vs Superman, que  o sonho de Bruce acerca do futuro apocalíptico, que findou com uma mensagem trazida pelo Flash,  não era apenas um sonho. Segundo o diretor: “Na DC, quando você volta no tempo, você cria um tipo de expansão temporal, onde muitas coisas mudam. Deixe-me dizer isso. Mais uma vez. Eu não sei qual o pensamento de Snyder, mas esse é o meu: e se isso não for uma sequência de sonho? E se isso for uma expansão temporal, uma memória latente do futuro de onde o Flash voltou? Se você observar a cena, ele [Bruce] não dorme. Ele espera pelos arquivos da Lexcorp, e de repente a cena acontece, e ele vê sua própria morte. E o que ele viu? Ele viu o Flash. E se você é um fã da DC, sabe o que está acontecendo. Você sabe que Flash está voltando no tempo, que   estas memórias estão voltando para ele.”

    Ou seja,  Jay Oliva está convencido de que a viagem no tempo promovida pelo Flash – para de alertar Bruce – resultaria em uma “expansão temporal”. Seria uma referencia a Injustice? veremos realmente no cinema o  ” Superman ditador”?

    Este mistério somente o tempo desvendará.

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    Batman vs Superman é um filme que possui um roteiro extremamente rico e, por isso tem gerado grandes debates entre os fãs, que são os verdadeiros especialistas no assunto. Não vejo nenhum outro filme que seja capaz de superá-lo nesse quesito, seja da Marvel ou da própria Warner/DC.

    Vou parar por aqui porque se eu citar todas as outras, poderei causar uma “overdose” de referências no leitor. E você, notou alguma referência no filme? Comente e compartilhe conosco. Achá-las é um exercício mental delicioso para os fãs do universo DC.

    Texto de autoria de Jamy Milano.

  • Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #5

    Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #5

    Dark Knight III - The Master Race 5 - cover

    (Atenção: a crítica a seguir comenta acontecimentos dos números lançados de The Dark Knight III: The Master Race. Se não quiser saber nenhuma informação a respeito, interrompa a leitura – mas retorne a ela após ter lido as edições).

    Lançado em 29 de junho nos Estados Unidos, The Dark Knight: The Master Race #5 segue no anti-clímax estabelecido na edição anterior, The Master Race #4. Novamente, é necessário ponderar a intenção por trás dessa nova obra no universo de Cavaleiro das Trevas. Até esta edição, a simbologia da narrativa permanece superior ao próprio desenvolvimento e construção da história. É possível identificar que a batalha com a Raça Superior é metáfora sobre força e extremismo, a qual naturalmente a crítica associou a movimentos contemporâneos, principalmente no Oriente Médio. Porém, qual a superfície desta narrativa?

    Como Batman é personagem principal da trama, a edição apresenta uma distorção na história para que o herói se torne o centro da futura ação. Superman retornou de seu exílio na Fortaleza da Solidão, porém foi momentaneamente destruído – preso em matéria negra – pelos vilões; Flash aparece rapidamente na edição anterior e tem seus pés destruídos; Mulher-Maravilha continua em Themyscira; Lanterna Verde, ainda desaparecido após ter os braços decepados; e Átomo se mantém preso em nível atômico. Em resumo: tudo coaduna para que um velho e cansado Bruce Wayne assuma ativamente o plano para destruir a raça mestre dos kryptonianos. Porém, mesmo considerando as personagens desaparecidas, parece inverossímil que Superman aceite ser – momentaneamente – derrotado e que o Cavaleiro se torne a única força de resistência a ponto de ser ameaçado pelos vilões.

    Ainda que o plano executado tenha sido inteligente, provavelmente figurá em futuras listas elencando momentos em que Frank Miller reduziu a verossimilhança da trama para que a inteligência e perspicácia de seu herói se destaquem como supremas. O problema em utilizar tal recurso alimenta a dúvida de por qual motivo outros heróis continuam sem intervir diante de um grande problema como este? Os leitores reconhecem que em muitas sagas há a participação limitada de um grupo de heróis, porém a trama apresenta as personagens envolvidas nas histórias paralelas, mas ainda não as inseriu dentro da ação. Como metáfora sobre discussões atuais, é possível estabelecer bons parâmetros, no entanto a história em si continua caminhando devagar, alinhando personagens aos poucos sem nenhum ganho narrativo e, até agora, sem nenhuma ação de fato – a mudança mais significativa nesta parte é a promoção de Robin à Batgirl.

    É possível observar também como as mídias se entrelaçam nesta nova edição. Devido ao seu corpo velho e debilitado, Batman volta a utilizar a armadura vista no Cavaleiro das Trevas original, a mesma que foi homenageada em Batman vs. Superman: A Origem da Justiça. Uma sintonia proposital unificando os prováveis futuros leitores que adquirem esta obra em razão do filme.

    Neste número, há a terceira HQ desenhada inteiramente por Frank Miller, uma das aventuras que se passa de maneira paralela à trama central, lançada em um mini-gibi dentro das revistas. A personagem enfocada desta vez é Lara, filha de Clark Kent e Diana. Ainda que seja positivo observar que o autor se mantém na ativa com seus traços caracteristicamente desproporcionais, até mesmo esta trama – a qual normalmente é mais interessante que a principal – também pouco revela ao leitor, exceto o óbvio: o descontentamento da personagem ao acompanhar os kryptonianos e um futuro provável em que ela mudará de lado e lutará a favor de nossos heróis.

    Prologando em excesso o anti-clímax, Dark Knight – The Master Race #5 começa a incitar dúvidas sobre sua qualidade narrativa. Há uma base simbólica em demasia perante uma narrativa ainda diminuta, revelando a escassez da trama. O desfecho será realizado nas próximas três edições. Ainda há tempo para uma ação concreta que ao menos encerre com qualidade a trama.

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  • Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #4

    Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #4

    The Dark Knight III – The Master Race #4

    (Atenção: a crítica a seguir comenta acontecimentos dos números lançados de The Dark Knight III: The Master Race. Se não quiser saber nenhuma informação a respeito, interrompa a leitura – mas retorne após ter lido as edições).

    A nova empreitada de Frank Miller no universo de Cavaleiro das Trevas, agora com apoio narrativo de Brian Azzarello e traços de Adam Kubert e Klaus Janson, segue uma trama na qual grandes possíveis temas são apresentados enquanto há pouca ação desenvolvida. O anticlímax é o lema de The Dark Knight – The Master Race #4.

    Se considerarmos que estamos no meio da história, dividida em oito partes, é evidente que há um trabalho ativo na narrativa para conter a ação principal enquanto as personagens se alinham. Superman foi renascido na edição anterior; neste há mais um prelúdio de Mulher-Maravilha sugerindo que, finalmente, Diana entrará na ação.

    Até o momento, é perceptível que não se trata de uma nova história neste futuro provável de Batman, mas uma trama envolvendo todos os heróis de um panteão agora diminuto. Em outras palavras, um ataque tão violento por parte dos vilões que obriga os velhos vigilantes a reassumirem o manto e o antigo status quo. Aos poucos, a Liga se configura diante deste cenário caótico de uma Raça Mestre prestes a dominar o mundo, ainda que, neste momento, ela demonstre grande potencial destrutivo e uma paciência longa. Há duas edições, o grupo realiza ultimatos mundiais com horas de espera, justificativa para o retorno do grupo.

    É de se imaginar que o regresso heroico será poderoso e bem realizado, afinal, há apenas mais quatro edições, além das histórias paralelas, para que finalmente se desenhe o conflito. Pela seleção das personagens, parece que a batalha pretende ser épica. Parece improvável que os roteiristas desenvolvam um final anticlimático, principalmente porque Cavaleiro das Trevas 3 foi pensado como material mercadológico para os leitores e, naturalmente, eles desejam ver embates.

    Neste aspecto, entre progresso narrativo e anticlímax, a história paralela enfocando personagens específicos tem sido mais eficiente. Apesar de um provável gancho anterior com Hal Jordan, uma nova trama é apresentada, dessa vez focando na Batgirl. Uma boa alternativa para desenvolver novos papéis sem inflar a trama principal. Como, no entanto, a ação central ainda permanece lenta, o enfoque narrativo destes personagens tem sido mais atrativo.

    The Dark Knight III – The Master Race #4 demonstra a intenção de seus autores em alongar o suspense para uma futura ação derradeira. A expectativa permanece para que a série se consagre. Por enquanto, se mantém na média.

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  • Resenha | Demolidor: O Homem Sem Medo

    Resenha | Demolidor: O Homem Sem Medo

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    A fase de Frank Miller à frente do título do Demolidor é um clássico indiscutível na jornada do vigilante, exemplificado nos recentes volumes um e dois por Klaus Janson e pelo próprio Miller. Após um exitoso retorno, em Queda de Murdock, houve uma demandada por um novo enfoque do personagem, o que ocorreu através de um retorno às origens ao estilo do que a DC Comics já havia feito em Batman: Ano Um, também com outro artista nos desenhos, cabendo a John Romita Jr. o lápis de O Homem Sem Medo, lançado em 1993.

    Matt Murdock ainda é um menino, que assiste a Cozinha do Inferno de um lugar privilegiado, acima das cabeças das pessoas. Sua rotina inclui pequenas contravenções, como interferência no trabalho de policiais de rua, com pequenos furtos de cassetetes em plena luz do dia, munido com uma máscara preta que protege sua identidade. Seu lugar preferido é o ginásio onde seu pai Jack Murdock treinava, nos tempos áureos como lutador de boxe.

    O garoto já tem contato direto com a extorsão e criminalidade, uma vez que seu pai é obrigado sob ameaça a trabalhar para o Arranjador, após ter ameaçado sua vida e a de seu filho. Esse fator serve para quebrar o maniqueísmo normalmente encarado pelos heróis paladinos, mostrando que o embrião do Demolidor tem muito mais relação com o lado sujo de Nova York e o caráter humano do que qualquer discurso adocicado a respeito do vigilantismo.

    Neste início, o fator mais interessante certamente é a construção em volta de Jack Murdock, que prima pela simplicidade e pela sinceridade. O drama do pai solitário é de fácil identificação e todos os seus pecados são explicáveis, uma vez que sua motivação é proteger a criança que está sob seus cuidados. Sua bebedeira é o artifício covarde tomado para esquecer seus momentos inglórios, e o soco que desfere no filho é a reação ao asco que tem por si, e que amaldiçoadamente está sendo seguido por seu herdeiro. O desejo de que Matt tenha outro rumo de vida faz o boxer se cegar até para o bom senso, fazendo-o agir com uma violência instintiva até em seu lugar de conforto, em casa.

    A mostra do incidente que cegou o garoto é conduzido por um modo bastante emocional, desde os pequenos detalhes, a respeito da matéria radioativa que acertou o proto-herói da Marvel, até a origem do evento, quando o jovem salva um idoso cego de ser atropelado. A inserção de Stick é providencial, servindo de contraponto a autocomiseração que o infante sente, dando mostras de sua evolução, de um lutador em início de carreira para se tornar também um acrobata.

    Os últimos momentos de Jack são melancólicos, mas vitoriosos, reprisados no filme do Demolidor de 2003, ainda que na revista o momento seja bem menos melodramático, assim como as ações que seguem o evento. Matt inverte o paradigma de seu pai e começa a ir atrás dos malfeitores para fazer justiça com as próprias mãos. Apesar de comedida, a violência gráfica de Romita Jr. começa a ser mostrada de maneira interessante, aplacada um pouco pela arte-final de Art Williamson. A agressividade tem um preço alto e justifica, entre outros fatores, o asco do personagem pelo homicídio, além de amarrar a origem de seu mestre aos futuros opositores.

    A transição para a fase adulta é rápida, assim como a introdução ao curso de Direito e a amizade com Foggy Nelson. O sentimentalismo é dedicado à apresentação de Elektra, que mistura sensualidade natural, feminilidade e nenhum receio de se apresentar de modo sexual. As origens do herói são muito bem amarradas às aparições dos vilões, de aliados e possíveis pares amorosos, em doses homeopáticas, gradualmente pontuando o cânone do personagem, incluindo a evolução de seu traje, o mesmo uniforme negro que inspirou a primeira temporada de Demolidor da Netflix, em 2015.

    A edição, repleta de extras, faz valorizar ainda mais os últimos momentos da revista, que por sua vez não são totalmente conclusivos, reforçando a ideia de prequence, que em sua essência acerta em quase todas as introduções. O enfoque no nome de Demolidor – no original Daredevil – é uma saída inteligente e emotiva, que se torna ainda mais simbólica com o mergulho no ar que o vigilante, já paramentado, executa e no valor às cores de Christie Scheele, também aludindo ao uniforme amarelado original, finalizando com o traje escarlate. A amálgama entre fúria da corrupção e justiça cega que se veem no ideal do Homem sem Medo.

    Compre aqui: Demolidor – O Homem Sem Medo (Salvat)

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  • Especial | Demolidor

    Especial | Demolidor

    Demolidor Especial

    Criado por Stan Lee e Bill Everett, Demolidor, O Homem Sem Medo, fez sua estreia em abril de 1964, em Daredevil #1, e desde então, permanece como um dos principais personagens urbanos da editora. Na época de seu lançamento, o personagem se destacou entre as diversas criações da Marvel ao escolher como alter-ego um homem cego, conquistando leitores e ganhando status de representante dos leitores cegos que o admiravam pela força de superar problemas.

    Representante da faceta urbana do estúdio, Demolidor é um herói solitário. Trabalha sempre a favor da Cozinha do Inferno e raramente participa de grandes grupos. Um isolamento que proporciona um senso de urgência em suas histórias. Alguns períodos se destacam em sua trajetória, entre eles as fases de Frank Miller e Ann Nocenti, responsáveis por desenvolver bases importantes para a personagem, como também outros roteiristas como Brian Michael Bendis, Ed Brubaker, Karl Kesel, DG Chichester e Kevin Smith desenvolveram uma visão realista da personagem em tramas que situavam tanto o herói quando o alter ego Matt Murdock. Em seguida, coube a Mark Waid dar um novo tom ao personagem, em uma elogiada fase que voltava a uma faceta aventureira e mais bem-humorada que remetia as fases  clássicas de Marv Wolfman e Gerry Conway. O Homem Sem Medo se mantém coeso, com grandes momentos nos quadrinhos.

    Quadrinhos

    (1964 – 1965) Biblioteca Histórica Marvel: Demolidor – Volume 1
    (1979 – 1971) Demolidor – Por Klaus Janson e Frank Miller – Volume 1
    (1981 – 1982) Demolidor – Por Klaus Janson e Frank Miller – Volume 2
    (1993) Demolidor: O Homem Sem Medo
    (2001) Demolidor: Amarelo (Jeph Loeb e Tim Sale)
    (2001) Demolidor: Revelado (Brian Michael Bendis e Alex Maleev)
    (2004) Mercenário: Anatomia de Um Assassino
    (2009) Demolidor Noir
    (2011) Demolidor #1 (Mark Waid)
    (2011) Demolidor #2 (Mark Waid)
    (2011) Demolidor #3 (Mark Waid)
    (2012) Demolidor – Fim Dos Dias

    Filmes e Seriados

    (2003) Demolidor – Versão do Diretor
    (2015) Demolidor 1ª Temporada
    (2017) Os Defensores 1ª Temporada
    (2018) Demolidor – 3ª Temporada

    Podcasts

    VortCast 05 | Filmes da Marvel
    VortCast 22 | Ben Affleck
    Agenda Cultural 53 | Angeli, Demolidor e Guerra Mundial Z

  • Resenha | Demolidor Por Frank Miller & Klaus Johnson – Volume 2

    Resenha | Demolidor Por Frank Miller & Klaus Johnson – Volume 2

    Demolidor - Frank Miller - Volume 2 - Panini Comics

    Após se responsabilizar pela identidade visual de Demolidor, Frank Miller assume também os roteiros e inicia sua revolução narrativa na história da personagem. Demolidor – Por Frank Miller & Klaus Janson – Volume 2 representa um dos ápices da composição do autor pelo título, destacando-se, sem dúvida, a morte de Elektra Natchios.

    O Volume 1 termina após uma história em três partes envolvendo um grande conflito entre O Rei do Crime e Demolidor. Nas cinco edições desenhadas e escritas por Miller, a personagem de Elektra surge, o Mercenário se envolve em um grande embate com o Homem sem Medo, e o Rei do Crime demonstra sua força como um vilão cerebral. Miller realiza desde o início um planejamento com o protagonista e, neste número, dá prosseguimento a histórias breves, desenvolvendo outros vilões, enquanto trabalha em paralelo com a presença de Elektra na cidade.

    Como o roteirista havia desenvolvido recentemente mudanças significativas no universo do herói, as tramas deste segundo volume se baseiam nestas circunstâncias anteriores, sem nenhum novo personagem como gancho. Há uma habilidade ímpar em conduzir o roteiro tanto em sua ação quanto no drama, uma agilidade que se equipara na composição dos quadros, nos desenhos e cores que evitam excesso de informação.

    Miller parece compreender Matt Murdock, tanto o herói quanto seus medos internos, oriundos da perda do pai e da visão na infância. Enquanto a cada edição desenvolve uma aventura específica, tangenciando o conflito com Elektra bem como a relação amigável entre dois personagens em lados opostos da lei, os medos inconscientes são explorados na trama, resultando em uma excelente história na qual Demolidor procura novamente Stick, após um acidente que o faz perder seu radar. O mestre conduz Murdock a um labirinto interno de culpas e dores, aspectos que seriam responsáveis por seu desequilíbrio. Uma narrativa que resume a trajetória do protagonista e demonstra como, por si só, a figura do advogado é trágica e carregada de bom material para uma trama.

    A amada Elektra permanece presente na maioria das histórias, mesmo quando não é personagem central. Inicialmente, age a favor do herói às escondidas, até ser contratada pelo Rei do Crime como sua nova assassina, já que Mercenário está encarcerado após um surto psicótico. Quando ela retorna à sociedade após uma fuga, o encontro de vilões resulta em uma das cenas mais clássicas da trajetória de Demolidor, uma morte causada por raiva pura, demonstrando que não há nenhuma psicologia por trás de Mercenário se não a loucura. Mesmo em batalha com uma ninja mortal, o roteiro desenvolve a luta de maneira crível, com subterfúgios que dão vantagem a cada um, equilibrando as cenas até a investida final.

    Explorando também o viés urbano e político, o Rei retorna em cena tentando eleger um prefeito corrupto, popular por conta de campanhas fraudulentas e um sistema de corrupção e lavagem de dinheiro. Tentando eliminar vestígios e provas do crime, cabe a Demolidor, com a ajuda do amigo jornalista Ben Urich, a investigação para derrubar o prefeito antes de sua eleição. A atenção equilibrada entre Murdock e Demolidor é evidente e demonstra a intenção do roteiro em nunca transformar a personagem central em um homem com uma única faceta. Ainda que em outros quadrinhos o herói se sobressaia, ambos os lados são fundamentais na história, tanto como base quanto em argumento para dramas diversos.

    Demolidor Por Frank Miller & Klaus Janson – Volume 2 mantém a qualidade narrativa em suas frontes e demonstra, mais uma vez, a importância de seus autores no cenário dos quadrinhos e diante desta grande personagem da Marvel. Um terceiro volume ainda será lançado, finalizando a primeira passagem de Miller na revista, um volume que se inicia colocando frente a frente o Homem sem Medo e Justiceiro, o embate central da segunda temporada da série da Netfix.

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    Demolidor - Miller Jansen - Vol 2

  • Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #3

    Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #3

    Dark Knight III - The Master Race 3 - cover

    (Atenção: a crítica a seguir comenta acontecimentos dos números lançados de The Dark Knight III: The Master Race. Se não quiser saber nenhuma informação a respeito, interrompa a leitura mas retorne após ter lido as edições).

    Após a interessante apresentação no primeiro número e um segundo volume desenvolvendo o argumento, finalmente, as personagens de The Dark Knight III: The Master Race se alinham dando inicio a derradeira narrativa. Mesmo em um futuro desolado, os heróis, considerados datados, ainda são uma representação ideal como último bastião da defesa mundial.

    A grande personagem do título entra em cena com maior propriedade. Mesmo combalido fisicamente, Bruce Wayne ainda retém a força do combate ao crime e decide, mais uma vez, assumir o manto de Cavaleiro das Trevas – seja ele literal ou apenas devido a potência de seu status – para combater a raça mestre, kriptonianos outrora diminutos vivendo em Kandor. Este volume é conduzido pela destruição mundial deste grupo que deseja subjulgar a Terra, sem nenhum plano além da dominação. Sob este aspecto, há um estranho paradoxo situando a composição desta história. Ela parece mais uma alegoria direta dos tempos contemporâneos – e escrita para causar este impacto –  do que uma trama que possui estrutura própria e, simultaneamente, dialoga com o tempo presente.

    Miller e Azzarello parecem partir dos noticiários para, então, compor os ganchos da história. A raça mestre de Kandor representa o extremismo do Oriente Médio, com direito a kriptonianos se transformando em homens bombas para destruir capitais importantes do país. A metáfora não parece sutil, mas Miller há tempos deixou as referências implícitas de lado, demonstrando claramente suas opiniões em suas hqs. A contraposição entre a tecnologia e a falta de integração social também se destaca em uma cena a qual o grupo de vilões destrói a cidade e toda as pessoas na cidade observam seus celulares. O momento escolhido para causar impacto dramático ocorre quando o grupo destrói um satélite local e o sinal da rede virtual cai. Causa estranhamento, principalmente, pela escolha ruim para promover um impacto e, possivelmente, um debate a respeito.

    De qualquer maneira, o número entrega cenas que o público espera, Wayne reassumindo o manto de Batman, em uma cena formatada para os fãs e o retorno de Superman, trazido pelo herói e o novo Robin de volta da Fortaleza da Solidão, local em que permaneceu desde os conflitos de Cavaleiro das Trevas 2. Há intensidade na jornada heroica de Wayne devido a força da personagem. Sua fragilidade é a novidade diante das diversas caracterizações anteriores.

    A segunda história tem Lanterna Verde como personagem central e, ao contrários das duas edições anteriores, não apresenta uma trama fechada. Narrado pelo próprio Hal Jordan, o herói também se identifica como anacrônico, porém, retorna a seu papel devido a um chamado da Terra pedindo ajuda. A trama é somente uma justificativa inicial para explicar porque, diante da presença dos vilões de Kandor, outros heróis não vieram ajudar Batman e Superman. Até o momento, Átomo foi desintegrado, Mulher Maravilha continua no Olimpo – provavelmente aparecerá no próximo número – e Jordan tem seu anel roubado por três mulheres no Oriente Médio em outro dialogo claro sobre a cultura local nos diálogos em que elas apontam a subserviência feminina.

    A vertente heroica é melhor composta do que a crítica social, ainda que nenhuma batalha tenha sido propriamente apresentada, levando ao ápice do que o público tradicionalmente reconhece como quadrinhos de heróis, a ação parece mais autêntica do que a crítica, ainda explícita em seu diálogo e, assim, vazia.

    Dark Knight III - The Master Race 3 - 01

  • Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #2

    Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #2

    Dark Knight III- The Master Race 2 - Cover

    (Atenção: a crítica a seguir comenta acontecimentos dos números lançados de The Dark Knight III: The Master Race. Se não quiser saber nenhuma informação a respeito, interrompa a leitura mas retorne após ter lido as edições).

    Após a expectativa de estreia de The Dark Knight III: Master Race, o segundo número da aventura escrita por Frank Miller e Brian Azzarello – em edição lançada em 23 de Dezembro nos Estados Unidos – prossegue desenvolvendo o argumento lançado no primeiro número, sem grandes revelações. Demonstrando que, além da concepção de um produto mercadológico, há a preocupação em compor uma história coesa dentro do universo de Cavaleiro das Trevas. A narrativa segue a estratégia de apresentar duas tramas em um único volume, uma concepção que centraliza a continuidade da ação na revista título e explora personagens em um argumento mais reflexivo, centrado em um personagem específico por edição, enfocando neste número Mulher Maravilha e o conflito com sua filha, Lara.

    O impacto final da parte anterior, revelando um novo Batman prossegue de maneira amena dois meses depois da prisão de Carrie. A comissárie Ellen Yindel tenta mais uma abordagem em um interrogatório e a personagem quebra o silêncio, revelando o paradeiro de Bruce Wayne, inicialmente preso a uma cama após uma batalha e morrendo ao lado da companhia da ex-Robin. Se a morte de Wayne se consolidar além de um despiste para o leitor, a obra se fundamentará com grandes personagens femininas assumindo o manto de dois grandes super-heróis, um dialogo coerente com a época presente em que ainda se discute a necessidade de equiparar a mulher e o homem dentro da sociedade e no trabalho. Porém, considerando os feitos do Batman de Miller, bem como sua coerente estratégia como personagem, não seria surpresa se o Homem Morcego driblasse o mito de sua própria morte e agisse somente como um mentor a partir de agora.

    Como especulado antes do lançamento da história, a Raça Mestre do título se refere a população engarrafada de Kandor. Grupo que retorna ao tamanho normal graças a um aprimoramento da tecnologia de Átomo / Eléktron e se revela parte de um plano de um líder para destruir a humanidade. O argumento que, provavelmente, reunirá os grandes heróis novamente.

    Na segunda narrativa deste número, Diana tem um confronto com sua filha, gerada em Cavaleiro das Trevas 2 com o parceiro Superman, que parece insatisfeita ao assumir o manto de heroína e de honrar sua tradição amazonas. Exibindo poderes e se equiparando a um deus, o embate entre sangue parece base fundamental desta história, bem como a contraposição entre heróis humanos e super seres.

    Se a primeira história apresentava os bons,  The Dark Knight: Maste Race #2 parece, em uma interpretação incompleta devido a leitura acompanhando o lançamento, desenvolver o lado dos vilões, estabelecendo não só um líder aparente, mas plantando a dúvida diante da filha de Kal-El e Diana. Sem arroubos, o segundo número mantem a tensão, estabelecendo as frontes para esta nova narrativa.

    Dark Knight III- The Master Race 2 - 2

  • Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #1

    Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #1

    The Dark Knight III - The Master Race - Cover 1

    Se situarmos somente as obras de Frank Miller sobre Batman, é notável o contato íntimo que o escritor tem com a personagem, sabendo estudar suas nuances com clareza e desenvolver histórias formidáveis. Desde seu primeiro roteiro do Homem-Morcego até os últimos lançamentos – considerando as obras de maior destaque lançadas, normalmente, como edições especiais ou minisséries – é possível traçar uma balança invisível que equilibra Cavaleiro das Trevas e Batman: Ano Um de um lado e Cavaleiro das Trevas 2 e Grandes Astros Batman do outro. Uma representação que demonstra que o autor teve altos e baixos utilizando a personagem, ainda que em maior ou menor grau seu Bruce Wayne sempre tenha sido o mesmo.

    Após uma sequência considerada péssima, em que a metáfora de Miller foi além da narrativa que desejava contar, a recepção do anúncio de um novo Cavaleiro das Trevas foi misto. Notícias diziam que a saúde do autor seria preponderante para esta nova narrativa; outros acreditavam que a história traria o autor a velha forma. Considerando que Cavaleiro das Trevas explorava criticamente a mídia, é interessante observar que Cavaleiro das Trevas III se apoiou na divulgação e em uma maciça publicidade com diversas capas variadas para promover seu sucesso antecipado.

    Lançado em 25 de Novembro nos Estados Unidos em edição física e plataformas Digitais, The Dark Knight III: The Master Race #1 é a primeira edição de oito apresentando uma nova aventura de uma visão futurista sobre um dos personagens fundamentais da DC Comics. Dessa vez, Miller assina o roteiro em parceira com Brian Azzarello, deixando os traços com Andy Kubert e as cores por Klaus Janson, um time de primeira linha – sem mencionar os diversos autores que desenharam artes alternativas para a capa – que demonstra o quanto a obra tenciona ser fundamental e comercial simultaneamente.

    Como lidamos com uma história seriada ainda em publicação, o primeiro número de The Master Race retoma a atmosfera das duas narrativas anteriores, estabelecendo sua trama. O roteirista mantém o diálogo com nosso presente e mantém sua proposta ao mostrar a mídia como  um importante instrumento de comunicação. Dessa vez, inicia sua narrativa por intermédio de uma conversa de mensagem instantânea, contextualizando a atual era de informação cujo diálogo e propagação de imagens acontece por intermédio da tecnologia. Nesta conversa entre dois amigos, há um registro fotográfico que flagra o retorno do Homem-Morcego. O início aponta a modificação contemporânea do poder midiático que perdeu a supremacia de monopólios para focar qualquer um que possa registrar um acontecimento e publicá-lo na rede. Diante deste cenário de retorno do lendário herói, três personagens se destacam nesta primeira edição: A Mulher-Maravilha,  a ex-Robin Carrie Kelley e a Comissária Ellen Yindel.

    Se Miller foi fundamental na modificação dos quadrinhos em anos passados devido a sua abordagem, a evolução narrativa dos quadrinhos e as influências de outros autores agora refletem-se em sua narrativa. Quando o Morcego retorna a Gotham e – em uma cena comum a muitos roteiristas do Morcego – foge da polícia, tanto os traços estilizados, bem emulados por Kubert, quanto o retorno mítico da personagem, trazem à tona outras versões da personagem, como a leitura de Paul Pope em Batman – Ano 100, obra que também observava um futuro para Batman. Uma confluência de referências naturais que serão lidas direta ou indiretamente por cada leitor.

    Esta primeira edição é composta de duas histórias. Além da primeira parte de Cavaleiro das Trevas III, uma trama escrita e desenhada por Miller com Elektro como personagem e narrador principal. Uma história que se entrecruza em seu final com a obra principal. Como enredo, a personagem analisa o fato de não ser um grande herói em comparação ao panteão da Trindade, em falas que parecem resvalar no próprio autor comentando sobre sua obra e erros e acertos de sua trajetória, ainda mais voltados à história de Cavaleiro das Trevas. A arte continua em boa forma, com os desvios de proporção e estética que popularizaram os traços do autor, causando estrahamento e, ao mesmo tempo, admiração.

    Mesmo que seja cedo para dar aval a sua nova obra, o início de The Dark Knight III – The Master Race desenvolve um bom argumento que anuncia uma história sólida com prováveis grandes conflitos. Se uma primeira parte de uma história é focada em captar o leitor e impressioná-lo, Miller, Azarello, Kubert e Janson cumpriram sua missão.

    A segunda parte da série será lançada em 23 de dezembro. Até o momento da composição desta crítica, os dados de vendas de novembro ainda não tinha sido divulgados, mas é evidente que o retorno de Miller a uma história clássica deve ter atingido o número um em vendas.

    Batman - The Dark Knight III - Frank Miller

  • Resenha | Demolidor Por Frank Miller & Klaus Janson – Volume 1

    Resenha | Demolidor Por Frank Miller & Klaus Janson – Volume 1

    Demolidor Por Frank Miller & Klaus Janson - Volume 1

    Antes da cidade do pecado, anterior à releitura sobre passado e um futuro possível para o Homem-Morcego, Frank Miller era um desenhista em início de carreira, trabalhando como freelancer para a Marvel e a DC Comics. Ao desenhar duas histórias para a revista de Homem-Aranha, recebeu certo destaque e aproveitou o prestígio dessas edições para pedir ao editor-chefe da Marvel na época, Jim Shooter, uma participação na revista de Demolidor, como desenhista. Em maio de 1979, chegava às bancas Daredevil #158, a primeira edição do Homem Sem Medo composta com os traços de Miller. Talvez nem mesmo o desenhista soubesse que essa edição seria o primeiro movimento de uma de suas grandes obras da carreira.

    A passagem de Frank Miller e Klaus Janson pelo universo do herói realizou-se em três edições especiais no exterior e posteriormente em uma versão onmibus. A Panini Comics lançou no mercado brasileiro em dezembro de 2014 o primeiro volume desses encadernados, compilando 14 edições (Daredevil #158 a #172) desta fase que se consagrou como referência para o personagem e foi fundamental na carreira de Miller, inicialmente assinando somente os desenhos e assumindo depois também os roteiros. Antes da chegada do desenhista ao título, as vendas de Demolidor estavam em baixa, e uma renovação era bem-vinda para apresentar uma nova visão do personagem. Acima de tudo, Miller estava interessado em desenhá-lo e admirava o conceito de uma figura que subjugava a deficiência tornando-se um defensor.

    O encadernado apresenta cronologicamente as histórias do período, iniciando-se com duas edições de Peter Parker, The Spectacular Spider-Man feitas meses antes de sua passagem por Demolidor, um registro da primeira vez que desenhou o Homem Sem Medo. As histórias valem mais pelo registro histórico, pois, como eram partes de uma saga maior do Aracnídeo não desenhadas por Miller, estão inseridas parcialmente no volume, sem o desfecho da trama. Na edição americana da obra compilada em uma única edição omnibus, estas duas histórias foram retiradas do volume e inseridas em um companion extra que reunia os demais materiais de Miller em edições isoladas do personagem, além de especiais como A Queda de Murdock.

    O primeiro volume é o início da transformação narrativa de Demolidor que, nas palavras do próprio autor, foi imaginado como um conceito policial dentro de um personagem heroico. Como em décadas anteriores, as tramas não se prolongavam em mais de uma edição, e havia uma dinamicidade maior entre desenhos e narração, um progresso natural de evolução dos quadrinhos. Neste momento da saga, Mathew Murdock era um advogado de sucesso, e o escritório de advocacia Nelson e Murdock ajudava Hell´s Kitchen dando assistência a um centro social dedicado aos necessitados. A secretária Karen Page, e interesse amoroso dos dois associados, estava fora de cena, mas outras mulheres rodeavam seu ambiente: Heather Green e Natasha Romanoff, a Víuva Negra, dividiam a atenção amorosa do advogado, além de conhecerem sua identidade secreta; também há a presença da secretária Rebecca Blake, outra personagem que mantém, como Karen inicialmente, um amor platônico pelo charmoso cego.

    Os roteiros de Roger McKenzie, os traços de Miller e as cores de Janson seriam o começo de uma revolução para o personagem. Nestas primeiras histórias, vilões se destacam em ações contra o Demolidor, bem como participações especiais de outros personagens, como Dr. Octopus e Hulk. Além disso, há uma ênfase nas relações humanas de Matthew, entre o passado traumático com a morte do pai e o relacionamento com novos amigos, como Ben Ulrich, jornalista que investiga Demolidor e que tem pistas de sua identidade. Uma das melhores histórias da fase de McKenzie é Revelado, narrativa que compreende o momento posterior de um confronto quase mortal entre Demolidor e Hulk, com o protagonista recuperando-se no hospital. O roteiro não só enfatiza a origem do personagem como também estabelece um diálogo franco entre Murdock e Ulrich, que apresenta sua tese sobre o Diabo da Guarda e conhece a origem do advogado desde sua infância até o momento em que fica cego após um acidente. Destaca-se, assim, o caráter do repórter, que opta por não divulgar a história para não destruir o herói e seu alterego.

    Demolidor 160 - Mercenario - Viuva Negra

    O momento mais aguardado do encadernado é quando Miller assume o roteiro das histórias, indo além da responsabilidade de produzir a identidade gráfica do personagem. As cinco últimas histórias do volume são apenas um preâmbulo da grandiosidade que está por vir e o começo de grandes bases da vida do Demolidor. Miller utiliza a reconstrução do passado narrativo – o famoso retcon, que hoje se tornou um clichê quase obrigatório em sagas – para criar a personagem Elektra, uma garota que foi namorada de Matthew enquanto ele estava na universidade. Elektra aparece primeiramente em cena como uma vilã mercenária, e o leitor relembra com o bacharel a época de faculdade, o grande amor entre o casal e o desfecho trágico de um sequestro que terminou com a morte do pai de Elektra, fazendo-a voltar para a Europa e distanciar-se do amado. Ao se reencontrarem no presente, ainda sentem a chama do amor, mas agora estão divididos em lados opostos da lei. Curiosamente, ambos os personagens tiveram o mesmo passado trágico mas caminharam em direções diferentes: Mathew se torna um vigilante, e ela a mortal mercenária.

    A história seguinte intensifica a rivalidade com Mercenário em uma trama na qual o vilão sequestra a Viúva Negra, na edição #161, terceira parte da história Como demolir o demônio, que se finaliza com a prisão do homem da pontaria mortal. Em Demônios, a sanidade de Mercenário é estudada por médicos que encontram um tumor cerebral responsável por alucinações e, consequentemente, um dos possíveis motivos de sua violência e raiva contra Demolidor. Miller segue explorando grandes acontecimentos, e nesta história é colocado em xeque o caráter de Mathew, que, seguindo a cartilha heroica, salva o vilão de uma morte brutal, mesmo reconhecendo que futuramente este pode atacá-lo de novo.

    A última trama é um épico formado por três partes e reconstrói aquele que se tornou um dos maiores vilões humanos do personagem. Presente em histórias anteriores, como nas do Justiceiro e do Homem-Aranha, o Rei do Crime adquire em Demolidor a postura de um homem de negócios ilegais, sem escrúpulos, representando um vilão real que lucra de maneira indevida diante das adversidades de Hell´s Kitchen.

    Aposentado no Japão e vivendo com sua mulher Vanessa, Wilson Fisk havia deixado de lado a vida de crimes ao encontrar o amor. Porém, após o sequestro e morte da esposa em Nova York, o vilão retorna à cidade, assume seu manto e promove uma guerra contra toda facção criminosa da cidade. Ao lado de Mercenário, que se torna um de seus capangas, a ascensão do Rei será um dos elementos criminais e urbanos da narrativa, a replicação da realidade dentro do universo heroico do personagem, que lidará, simultaneamente, com vilões tradicionais e esse em especial, cuja vilania está nos atos escusos, refletindo o lado obscuro da sociedade.

    Os primeiros momentos de Miller à frente do roteiro e desenho elevam as histórias e conduzem o personagem a um novo patamar dramático no qual apresentariam-se grandes mudanças em sua vida. Um primeiro volume incrível de uma passagem revolucionária de Frank Miller dentro de uma edição mensal, inserindo uma camada real nas histórias de uma época ainda mais lúdica dos quadrinhos. O autor insere-se em um contexto à frente de seu tempo e torna-se, assim, revolucionário.

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    Demolidor 172

  • Agenda Cultural 58 | Whiplash, Birdman, Lionélson e Alan Moore

    Agenda Cultural 58 | Whiplash, Birdman, Lionélson e Alan Moore

    agenda58

    Bem vindos a bordoFlávio Vieira (@flaviopvieira), Filipe Pereira, Carlos Brito e Wilker Medeiros (@willtage) se juntam para comentar sobre os principais filmes lançados em janeiro, além de alguns dos quadrinhos publicados nos últimos meses.

    Duração: 93 min.
    Edição: Wilker Medeiros
    Trilha Sonora: Wilker Medeiros
    Arte do Banner: 
    Bruno Gaspar

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