Tag: Mangás

  • Resenha | Opus

    Resenha | Opus

    O mangá Opus começa no capítulo 24 da parte 3 de Resonance. Uma mulher está apontando uma arma para a própria mãe quando, de repente, a cara desta começa a derreter, revelando ser o vilão mascarado.

    Calma. Respira. Do que diabos estamos falando? Na verdade, Resonance é o mangá que o protagonista de Opus está prestes a finalizar. O artista Nagai quer dar um desfecho X, porém seu editor gostaria do final Y. A partir daí, uma série de acontecimentos bizarros tomarão a vida de Nagai, pois a realidade se juntará à ficção que ele mesmo criou!

    A obra é uma aula de metalinguagem, e Satoshi Kon esbanja genialidade nesse aspecto. O saudoso mestre Kon mostra os embates internos de um artista em relação à própria obra, além de deixar muito claro que forças externas podem simplesmente encerrar uma obra de forma abrupta. E quanto mais você avança nos dois volumes do mangá, compostos de 20 capítulos no total, por vezes esquecemos o que é realidade e o que é ficção.

    Nagai encontrará seus próprios personagens, e estes acabarão se rebelando contra o roteiro já escrito. Daí teremos o início da fusão entre realidade e ficção, e o termo “furos de roteiro” ganhará um novo significado para todos nós (leia para descobrir do que estou falando). É realmente incrível a sagacidade de Kon ao trazer tantas alegorias e loucuras para retratar algo extremamente real: a dificuldade de um artista conceber uma obra e ter controle sobre ela. No caso de Nagai, a força externa é seu editor. Para os personagens de Resonance, essa força externa é o próprio Nagai. E agora as criaturas encontram seu criador e juntos tentarão mudar os rumos do roteiro. Ou será que não?

    Talvez o ponto mais genial desta obra seja a casualidade que envolve a criação do final. O último capítulo da obra não foi finalizado pelo autor. Isso mesmo, Opus tem o mesmo problema de Resonance. “Então estamos diante de um mangá sem final?”, você pergunta. Felizmente, não. A editora, ao publicar o mangá, teve acesso ao rascunho do capítulo final, e este pode ser conferido na íntegra aqui. Interessante que mantiveram o material 100% original, com a arte quase toda em lápis. Eu custo a acreditar que isso não foi uma jogada de mestre de Kon, pois conversa de forma perfeita com Opus. Basta notar que no primeiro capítulo Nagai entrega o capítulo final em rascunho. E agora, o próprio autor de Opus só possui o final do mangá em rascunho…

    Intencional ou não, Opus é uma obra fascinante que brinca com a própria realidade e retrata uma espécie de bastidores da alma de um artista. Satoshi Kon é um mestre imortal que merece ser apreciado sempre (assista a Perfect Blue e Paprika para notar algumas ideias que diretores de Holywood “pegaram emprestado”, só para citar dois exemplos). Pena que a Editora Panini não deu um tratamento melhor a edição brasileira. Uma obra desse calibre merecia, pelo menos, páginas com papel de melhor qualidade, que é o caso das páginas coloridas que abrem o volume 1. Vencido esse pequeno obstáculo, Opus é um grande mangá que merece pertencer à sua estante.

  • Resenha | Chainsaw Man – Volume 1

    Resenha | Chainsaw Man – Volume 1

    Denji é um jovem que herdou uma dívida gigantesca de seu falecido pai e acaba tendo que aceitar todo tipo de trabalho para focar no pagamento infindável do débito de seu progenitor. Junto com seu mascote demoníaco Pochita, uma espécie de cachorro com forma de motosserra, Denji vive numa situação miserável e tenta se sustentar como caçador de demônios, exterminando os seres sobrenaturais das mais diversas aparências e tipos que surgem cotidianamente. Acontece que Denji e Pochita caem numa armadilha de um demônio e acabam sendo mortos, esquartejados e jogados num container de lixo. A breve história do jovem parece ter sido encerrada, até que Pochita absorve seu sangue e se funde com seu dono, transformando Denji num demônio humanoide com braços e cabeças de motosserra, buscando vingança a quem o matou.

    Assim começa Chainsaw Man, o mangá sensação dos últimos anos da revista japonesa Shonen Jump, lançado de 2018 a 2020, que chegou ao Brasil pela editora Panini. Escrito por Tatsuki Fujimoto, Chainsaw Man tem uma característica comum dos mangás em tratar sobre uma organização antimonstros, mas ganha pontos por abordar um contexto social num Japão fictício horrorizado por uma catástrofe, tendo em Denji, um garoto que sai dos guetos e é conduzido para sociedade média, uma exposição do abismo socioeconômico que estamos inseridos. Além de mesclar vários gêneros, sendo o horror, o primordial e mais característico nas páginas do mangá. Repleto de gore nos seus traços, Fujimoto consegue transparecer seu estilo na violência e sangue através das serras de Denji.

    Após o ressuscitado Denji acabar com o demônio que o matou, ele é encontrado por Makima, a responsável pela 4ª Divisão Especial Antidemônios da Segurança Pública do Japão, sendo acolhido por ela e tendo seu primeiro laço verdadeiramente humano após vários anos. O protagonista, a partir desse momento, começa a criar suas relações na sociedade, interagindo em grupo, além de conhecer o próprio mundo que estava tão distante da sua situação de vida.

    Além de se tornar um caçador de demônios oficial do governo e por meio disso, conhecer os demais personagens recorrentes, como Aki Hayakawa, um caçador que logo se posta como o rival do Denji, e a infernal Power, uma mulher que teve sua cabeça dominada por um demônio. Os três dividem o mesmo apartamento, o que traz momentos descontraídos durante a leitura, entre diálogos sobre o cotidiano, com um toque de humor, com Hayakawa deixando explícito seu ódio por demônios, mas tendo que conviver com dois, Denji e seu despertar sexual e Power aprendendo a lidar com humanos.

    Durante os primeiros sete capítulos que compõem o volume 1 de Chainsaw Man, o básico do que se espera de um mangá da Shonen Jump é apresentado, ao mesmo tempo que somos apresentados a um enredo promissor e subtextos envolvendo geopolítica, armamento e desigualdade social. Enquanto Denji faz suas pequenas missões, Fujimoto vai apresentando o universo ao protagonista e ao leitor.

    Texto de autoria de Wedson Correia.

  • VortCast 89 | Diários de Quarentena XVII

    VortCast 89 | Diários de Quarentena XVII

    Bem-vindos a bordo. Rafael Moreira (@_rmc), Filipe Pereira (@filipepereiral), Jackson Good (@jacksgood), Bruno Gaspar e Flávio Vieira (@flaviopvieira) retornam para mais um papo sobre editores, política e muito mais.

    Duração: 100 min.
    Edição: Rafael Moreira e Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Rafael Moreira e Flávio Vieira
    Arte do Banner:
     Bruno Gaspar

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  • Resenha | Minha Experiência Lésbica com a Solidão

    Resenha | Minha Experiência Lésbica com a Solidão

    Uma autobiografia sem censura, melancólica, engraçada e confessional, assim é o mangá Minha Experiência Lésbica com a Solidão. A publicação lançada no Brasil pela New Pop mistura momentos de tristeza e humor de constrangimento. É bastante direta e sem receio de chocar seus leitores.

    Na trama, a autora Kabi Nagata fala sobre seu primeiro relacionamento sexual, em contato com uma garota de programa lésbica. Já nas primeiras páginas há uma tentativa  tímida de ação sexual, emulando a condição de personalidade igualmente retraída da protagonista, em que ela assume não ter nenhuma experiência com flerte ou algo que o valha do alto de seus 28 anos idade. Além de sérios problemas de aceitação, a personagem dá sinais de desejo suicida, e como tem grandes dificuldades em dar vazão a sua libido, sente-se assexuada.

    O trabalho de Nagata conversa com o documentário em quadrinhos Virgem Depois dos 30, ao mostrar aqueles que se enxergam ou como assexuados ou como parte de um dos grupos minoritários LGTQ +. Eembora o caráter dos dois mangás seja completamente diferente em abordagem e forma, tendo em comum a repressão sexual dos jovens adultos japoneses.

    O modo como a narrativa trata o transtorno de ansiedade e depressão é acertada sobretudo pela leveza com que é conduzida. Como o tema é pesado, não é preciso apelar a isso em sua narrativa. O estado emocional conturbado se manifesta em feridas no corpo que não saram graças a baixa imunidade da personagem-autora que não subestima essa condição. A ansiedade é mostrada de maneira crua e pesada, assusta o leitor, principalmente, quando se aborda os transtornos alimentares. Unir esse aspecto à condição inquieta da personagem é uma boa alternativa para tornar o drama mais real e tangível. Por mais estranhos que os dramas da mangaká possam parecer, eles são reais.

    Os poucos momentos em que a moça tem alguma sensação que meramente a lembre da plenitude é  quando aceita cumprir seu desejo e obsessão: o corpo feminino. A evolução da admiração pelo feminino transita de uma sensação quase lúdica para uma pulsão sexual. E o uso da carência como estímulo para a tal descoberta é bem conduzida. A chave do humor passa a ser mais presente no último terço da trama. Para a personagem, escrever é uma forma de catarse ainda mais ousada que a tentativa de viver.

    Assim, Nagata expressa sensações e sentimentos travados em si, e observar o retorno emocional de seu trabalho faz sentido para sua alma atribulada, mesmo que essa plenitude não freie por completo os frequentes pensamentos suicídas. De certa forma, sua publicação serve também como uma espécie de terapia de grupo, uma vez que suas angústias compartilhadas servem como um desabafo terapêutico.

    Compre: Minha Experiência Lésbica com a Solidão

  • Resenha | Satsuma Gishiden: Crônicas dos Leais Guerreiros de Satsuma – Volume 1

    Resenha | Satsuma Gishiden: Crônicas dos Leais Guerreiros de Satsuma – Volume 1

    A editora Pipoca e Nanquim trouxe acertadamente para o Brasil o mangá de Hiroshi Hirata baseado no gênero samurai, O Preço da Desonra, onde um personagem cobra promissórias de dívidas de vida nos diversos clãs ao longo do território japonês. Em 2020 começou a se publicar a serie mais longeva e famosa do autor, um Gekigá (mangá adulto) publicado entre 1978 e 82, denominada Satsuma Gishiden: Crônicas dos Leais Guerreiros de Satsuma, dividida em três volumes, sendo o primeiro, o alvo desta análise.

    As histórias são mostradas em tom de crônica, pequenas e de tom mais épico e otimista que a publicação anterior do autor, até pelos protagonistas serem bravos guerreiros, e não um cobrador de dívidas que visa a  desconstrução temática romantizada dos samurais, embora as histórias tratem logo de início a nefasta prática do Hiemontori, onde dois clãs antes de entrar em combate, “brincam” com uma presa soltando um bandido entre os exércitos, com lanças e armas entre eles.

    O quadrinho é super violento, mostra muitas vísceras e cortes em períodos longos sem fala, tendo alguns com quase 30 paginas sem qualquer diálogo. Os detalhes de armaduras, cavalos, fortificações são ainda maiores que nos mangás anteriores do autor, uma chance única de mostrar a criatividade e inventividade dele, ao mostrar narrativas mais clássicas do subgênero.

    Foca bem na humilhação dos samurais camponeses, fortificando a ideia de que Hirata não gosta de falar de samurais meramente reiterando a condição de guerreiros honrados. Aqui se vê gente pobre, que tem que lançar mão de trabalhos que pagam mal, além de mostrar as humilhações ligadas até a furtos e roubos para conseguir alimento. A desonra para os guerreiros ronins em serem chamados de mentirosos ou ladrões mesmo quando pegos em flagrante é apenas uma das humilhações mostradas ao longo das mais de 400 páginas nesse volume. Outra denúncia desconstrutora de reputações é dos embates em guerreiros de classes diferentes, onde a corda sempre arrebenta no mais fraco.

    As histórias sobre burocracia são mais enfadonhas, mas ajudam o espírito de tirar o romantismo do shogunato e dos samurais. Esse é o mesmíssimo caráter que Hirata já havia mostrado em O Preço da Desonra. Esses momentos servem de respiro entre as cenas de batalha, que quando ocorrem, simplesmente deixam o leitor embasbacado pela grafia e violência, que mesmo sem cores, ainda soam muito sanguinolentas

    O trabalho gráfico desta publicação é bastante bonito, possui um glossário no final, que explica o contexto histórico, como era o império, o governo e a economia de feudos. Apesar de não ter personagens tão memoráveis como foi com o cobrador Hanshiro no outro mangá, as histórias tem momentos muito épicos e vergonhosos, mostrando faces pouco exploradas da história do país milenar que é o Japão, com gente excluída em foco, e que resultam em leituras muito fluídas e prazerosas.

  • Resenha | O Preço da Desonra

    Resenha | O Preço da Desonra

    O Preço da Desonra é o primeiro mangá publicado no Brasil do autor Hiroshi Hirata. Conhecido no Japão por apresentar histórias de samurai elogiadíssimas, entre elas, Satsuma Gishiden, a história deste é  adulta, denominada como Gekigá e foi lançada entre 1971 e 73. Suas histórias são curtas, narradas a partir das experiências de Kubidai Hanshiro, que vem a ser um tomador de promissórias, que vai atrás da dívida entre os dojos e clãs de samurais.

    A primeira história já começa em meio a ação, com um samurai tentando comprar o direito à sua vida com uma promissória, regra essa estabelecida em algumas vertentes dos combates japoneses, embora essa prática seja atrelada a guerreiros covardes e não comprometidos com a tradição e principalmente, com a honradez. A desonra do título mora na dívida que o clã não quer assumir, e logo, aparece o cobrador das promissórias.

    O traço de Hirata é absurdo, em momentos de calmaria é super bem detalhado, nas batalhas, o nanquim transborda fluidez. É um trabalho único visualmente , os quadros valorizam demais os cenários, e as paisagens limpas tornam os combates em eventos ainda mais épicos, seja no conflito entre clãs ou no combate em que Hanshiro em alguns pontos é obrigado a fazer.

    As lutas com cavalos, os saqueadores, o abuso as mulheres, tudo é retratado de forma visceral, onde a beleza da violência se mistura a uma reflexão sobre atitudes profanas. Hirata desconstrói a imagem de super honrado ligada aos samurais, mostra homens mesquinhos, ingratos, onde até a covardia é um pecado subalterno perto dos tanto outros equívocos desses que deveriam ser defensores da honra burguesa.

    Os conflitos dentro dos clãs e as discussões sobre o monetário revelam dois aspectos, sendo o mais importante, a total desglamourização da figura dos guerreiros japoneses, e isso seria agravado até na série Satsuma Gishiden. O outro aspecto é o quanto aos samurais, que eram vistos como as pessoas mais honradas e corretas do Japão feudal eram tão humanas, cheias de falhas, sendo egoístas e até deploráveis, seja ao negar o compromisso pré-estabelecido com as promissórias, ou no suplicar por sua vida, sem pensar em todo o código de honra feito no juramento à espada que é feito. O Preço da Desonra é visceral, violentíssimo e tem em Hanshiro um protagonista perfeito para a condução de seu drama, tornando esse trabalho inglório em uma história rica, mesmo que o foco seja em momentos de descrédito e mácula.

    Compre: O Preço da Desonra.

  • Resenha | Limit

    Resenha | Limit

    Limit é aquele tipo de mangá que, quanto menos você souber do que se trata, melhor, pois a história muda bruscamente logo no primeiro volume. Porém, a menos que o mangá caia no seu colo ou você compre por mero acaso do destino, preciso te dar um mínimo de informações sobre ele. Por outro lado, a mudança brusca é apenas um dos pontos positivos do mangá,que ocorre bem no início. Quando nosso editor me entregou os seis volumes publicados pela Editora JBC, nem vi a sinopse da capa. Já comecei a ler direto, e isso me trouxe uma surpresa interessante.

    Logo no início, temos uma aparente história de colegial japonês. A turma está animada por causa de uma viagem que acontecerá em breve. E aí começa tudo: o ônibus sofre um grave acidente, cai no meio de uma mata e praticamente todos os alunos morrem! Os poucos sobreviventes terão que se virar até que o resgate chegue… isso se realmente chegar.

    A situação extrema de sobrevivência trará consequências a todos. Por exemplo, a protagonista Mizuki Konno, que era totalmente indiferente em relação aos acontecimentos à sua volta, se vê forçada a interagir com seus colegas para sobreviver. O dito “mundo perfeito”dela, onde não havia necessidade de interações e preocupações, acabou. Quando a água bate, não tem jeito, ou você muda, ou morre (literalmente).

    Uma das colegas encontra uma pequena foice e a utiliza como instrumento de poder para  tentar subjugar as outras. No “mundo real”, ela era reclusa e desdenhada, a típica garota rekeitada da escola (e veremos que sua história pessoal é bem pesada, outro trunfo deste mangá: trazer temas sensíveis de uma forma muito competente).

    Um detalhe curioso é que todos os sobreviventes são garotas. Ou será que não?

    Diversas situações tensas ocorrem, e o fato de serem jovens estudantes traz ainda mais impacto. Nada comparado a Battle Royale, mas ainda assim, nas devidas proporções, é digno de nota.

    Precisamos destacar a belíssima arte, feita por Keiko Suenobu. O traço, as cenas, o ritmo da narrativa, tudo é muito bem desenvolvido e favorece o roteiro. Isso faz com que a leitura seja fluida e rápida. E como já mencionado anteriormente, alguns temas pesados são abordados de maneira orgânica, tal como violência doméstica.

    Cada personagem é muito bem construída, tendo personalidades definidas. O relacionamento entre eles são um verdadeiro turbilhão de altos e baixos. O título do mangá fez jus à sua história: uma situação extrema leva o ser humano ao seu limite. Parece ser uma obra pouco conhecida aqui no Brasil, o que é uma pena. Vale muito a leitura.

    Compre: Limit.

  • Resenha | Old Boy

    Resenha | Old Boy

    Você assistiu ao filme sul-coreano Old Boy? É provável que seja o primeiro filme coreano de grande destaque por aqui. Mas talvez você não saiba que o filme é baseado em um mangá de oito volumes já publicado no Brasil pela Nova Sampa.

    Old Boy conta a história de um homem que foi mantido em cárcere privado durante dez anos. Por que? Ele não sabe. Nós não sabemos. E ficaremos por muitas e muitas páginas sem saber.

    O roteiro de Garon Tsuchiya é muito competente e mantém um ritmo bom. A grande sacada é colocar a história na perspectiva do protagonista e, com isso, vamos descobrindo as coisas junto com ele. Por conta disso, no início ficaremos perdidos, sem saber o que está acontecendo, mas continuamos em frente para ver onde tudo isso vai chegar. O protagonista busca vingança contra quem o prendeu, mas precisa descobrir quem foi, e será uma tarefa árdua.

    É instigante acompanhar essa jornada, pois conseguimos sentir a angústia do protagonista. Estamos descobrindo juntocom ele, e por vezes ficamos agoniados com a falta de informações. Quem o prendera por dez anos? E por qual motivo?

    Outro ponto forte é a arte, que ficou a cargo de Nobuaki Hinegishi. O artista não economiza nos quadros, por vezes temos mais de uma página sem nenhuma fala, com belos cenários e os personagens apenas se movendo, se olhando ou fazendo outras coisas corriqueiras. O estilo do traço mantém uma pegada mais realista, com olhos menores que o padrão dos mangás e fisionomias japonesas. Foi um acerto, pois o clima deste mangá é mais sério e adulto.

    Ao longo dos oito volumes, o leitor ficará preso (sem trocadilhos) à história, sentirá a angústia do protagonista e dificilmente abandonará a leitura antes de chegar ao final. Qualquer comentário sobre a história pode estragar as surpresas ou trazer alguma expectativa que prejudique a leitura. Por isso, se quiser passar ileso desse perigo, ignore a próxima frase e pule direto para o próximo parágrafo. O único comentário que me atrevo a fazer sobre a história em si é que o motivo daquilo tudo foi pequeno demais para a grandiosidade que se construiu durante a trama, e uma outra revelação do final acaba sendo muito mais bombástica do que a motivação de terem mantido o protagonista preso.

    Para quem gostou do filme, vale muito a pena conferir o mangá. Quem nunca assistiu ao filme pode aproveitar da mesma forma. Só não espere edições luxuosas, o material dos volumes são simples, mas o conteúdo é muito bom.

  • Resenha | 5 Centímetros por Segundo

    Resenha | 5 Centímetros por Segundo

    Makoto Shinkai é um dos grandes nomes da animação japonesa recente. Com sua grande habilidade de direção e roteirista, cria obras com estilo bem peculiar, sempre focando em algum aspecto da natureza humana. Às vezes incorpora elementos fantásticos, tal como em Vozes de uma Estrela Distante ou Your Name. Em outras, é apenas um recorte da vida mesmo, como O Jardim das Palavras. Na obra que falaremos aqui, Shinkai manteve alinha realista de O Jardim, mas com uma proposta mais ampla: mostrar um relacionamento no longo prazo.

    5 Centímetros por Segundo conta a história de dois jovens japoneses, Takaki e Akari. Ambos têm algo em comum: se mudam de cidade com certa frequência por conta da profissão de seus pais. Em determinado momento, a vida deles se cruzam quando começam a estudar na mesma sala em uma escola de Tóquio. A partir daí, eles vão se aproximando e, claro, se apaixonando.

    A obra trata, principalmente, da distância, que já foi abordada por Shinkai em outras obras, mas de forma diferente. Aqui, as coisas começam a ficar difíceis quando Akari precisa se mudar novamente, deixando Takaki sozinho. Eles passam a se comunicar por carta, o que, por si só, já tem um ar meio romântico e poético. E as coisas ficam ainda mais difíceis quando chega a vez de Takaki se mudar, o que aumenta ainda mais a distância física entre eles.

    O grande mérito da obra é mostrar um amor real e crível. Neste ponto, Shinkai é certeiro.As flores de cerejeira, que caem a 5 centímetros por segundo, ilustram bem o amor tratado aqui: as cerejeiras florescem por um período curto e específico no Japão, trazendo aquele visual maravilhoso que é exaustivamente retratado nas obras japonesas (sorte a nossa). O amor de Takaki e Akari, embora intenso e bonito, não parece ser eterno, e acompanharemos isso ao longo de anos.

    Apesar das visíveis qualidades e da belíssima arte de Yukiko Seike, a narrativa me pareceu cansativa e monótona justamente pelo aspecto “real demais”. Talvez o problema não seja a simplicidade da história, pois O Jardim das Palavras traz um viés semelhante e me fisgou mais. É a velha questão da obra conversar com o leitor. Esta aqui não conversou comigo, apesar de, repito, serem nítidas as qualidades dela.

    Deixo a recomendação para os fãs fervorosos do autor e para quem gosta muito de romances. Além do mangá, publicado em dois volumes pela Editora NewPop, vale mencionar o filme, que é um pouco menos profundo na abordagem do relacionamento dos  protagonistas, mas tem um visual lindo, o que já é esperado de Shinkai-san. Aproveito para deixar outra recomendação: Wedding Eve, que traz uma simplicidade muito bem feita, e talvez agrade aos leitores/espectadores de Makoto Shinkai.

    Compre: 5 Centímetros por segundo.

  • Resenha | The Legend of Zelda: The Minish Cap | Phantom Hourglass – Perfect Edition

    Resenha | The Legend of Zelda: The Minish Cap | Phantom Hourglass – Perfect Edition

    The Legend of Zelda não se restringe aos videogames. Diversos de seus jogos foram adaptados para as páginas de mangá, inclusive Ocarina of Time, Oracle of Ages, Oracle of Seasons, Majora’sMask e A Link to the Past. Hoje falaremos de mais uma edição lançada pela Panini, desta vez adaptando os jogos The Minish Cap e Phantom Hourglass.

    A primeira história deste volume é The Minish Cap, adaptada do ótimo jogo homônimo do Game Boy Advanced. Aqui,o vilão Vaati transforma a princesa Zelda em pedra. Então, Link precisará sair em uma aventura para reverter o feitiço. Durante a aventura, encontra Ezlo, um curioso gorro que fala (aquele da ilustração da capa). Link também encontrará o povo pequenino Picori, que serão de grande ajuda.

    Já na segunda história, temos Phantom Hourglass. Nesta aventura, Link e seus amigos, ao navegar pelos mares, encontram um sinistro navio fantasma. Tetra, uma de suas amigas, resolve explorar o navio em busca de tesouros, mas acaba desaparecendo. Link terá que encontrar sua amiga desaparecida e, claro, sua aventura se cruzará com o artefato que dá título a esta história: a Ampulheta Espectral.

    Todos os mangás de Zelda, incluindo este, foi produzido por Akira Himekawa, que é, na verdade, o pseudônimo de uma dupla de artistas japonesas muito talentosas. Nesta edição, temos como material extra várias informações de bastidores sobre a produção do mangá e a apresentação das artistas.

    Como é de praxe, cada história segue o estilo visual de seu respectivo jogo, o que dá uma atmosfera um pouco diferente a cada segmento. A versatilidade artística de Himekawa sempre é digna de nota. Porém, devemos ressaltar algo importante. Todos os mangás de Zelda analisados até o momento têm qualidades e defeitos muito parecidos. A parte visual sempre é a maior qualidade. Já o defeito maior está na própria história. São tramas simples, sem grandes surpresas ou elementos memoráveis. Elas funcionam muito bem nos jogos, visto que o maior atrativo em Zelda é a jogabilidade e exploração dos cenários. Adaptar estas histórias para o mangá é algo que, aparentemente, agradará mais aos fãs. Quem prefere histórias mais maduras e complexas não vai gostar destas adaptações (talvez de Ocarina of Time).

    Quanto a esta edição, The Minish Cap/Phantom Hourglass, achei a leitura um pouco mais cansativa do que as demais. Mas não é porque esta edição seja inferior às outras. Acredito que se deva ao fato de ter lido os outros três volumes que possuem uma fórmula parecida, tanto na história quanto no estilo narrativo. O cerne das histórias são muito parecidos. Nos jogos, isso até funciona, pois suas jogabilidades e estilos são diferentes. Portanto, esta edição é recomendada principalmente aos fãs de Zelda ou àqueles que desejam conhecer um pouco mais sobre os vários universos criados em cada jogo.

    Compre: The Legend of Zelda: The Minish Cap | Phantom Hourglass – Perfect Edition.

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  • Resenha | Witches

    Resenha | Witches

    Witches é um mangá em dois volumes do autor Daisuke Igarashi publicado no Brasil pela Editora Panini. A obra consiste em várias histórias curtas envolvendo bruxas, conforme sugere o título. Porém, o que impressiona é que Igarashi traz diversos conceitos de bruxas, fugindo inclusive de algumas ideias padrões que geralmente temos ao lembrar dessas figuras místicas.

    A primeira história, por exemplo, traz o conceito mais tradicional, e para ajudar, se passa em localidade européia. Sempre teremos uma menina ou mulher no foco das tramas, e por muitas vezes, irá tratar do “despertar”. Esta ideia já está presente na primeira história, ocorrendo inclusive um grande lapso temporal, mostrando o crescimento da personagem.

    A segunda história já quebra a ideia inicial de que teríamos as “bruxas tradicionais”, especialmente pelo fato de ser um mangá japonês, então o esperado seriam figurar as bruxas europeias ou orientais. Felizmente o engano vem rápido. Na segunda trama teremos a ambientação em uma floresta tropical, sendo a bruxa em questão uma espécie de xamã. Inesperada também a mensagem ambientalista da história.

    Cada segmento tem uma abordagem diferente, seja na trama, seja da própria ambientação. Uma delas ocorre boa parte em um navio, alternando com uma ilha que possui supostos elementos místicos. Neste ponto, o mangá é bem interessante e cria um interesse ao leitor, evitando que a leitura se torne enjoativa. Aqui podemos tecer elogios a Igarashi, que traz um estilo narrativo eficaz, apesar de, às vezes, ser um tanto brusco nas transições.

    No quesito artístico, a obra pode trazer divergências de opinião. O traço de Igarashi é um tanto “rabiscado”,  parecendo que foi desenhado às pressas. Isso não significa que os desenhos sejam ruins, mas trazem uma impressão de pressa. Se isso é bom ou ruim, vai depender do gosto do leitor. Para não ser injusto, vale ressaltar que alguns quadros são belíssimos e detalhados.

    Porém, uma coisa que merece destaque é o surrealismo da arte. Todas as histórias trazem elementos fantásticos, afinal estamos falando de bruxas. Mesmo que, por vezes, as bruxas sejam apenas garotas com algum tipo de poder místico, e de resto levarem uma vida bem normal, alguns momentos transbordam cenas surreais e bizarras. Diversas sequências de quadros malucos e grotescos, sem balões de falas, são o ponto alto da obra. Aqui a arte mais “rabiscada”  é bem eficiente, e merece elogios.

    Em suma, Witches é um mangá que pode agradar aqueles que querem uma leitura rápida e que fuja um pouco dos padrões shonen. Apesar das protagonistas serem todas femininas, não parece um mangá voltado especificamente a esse público. Portanto, não há restrições a fazer, leia e divirta-se.

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  • Resenha | Feridas

    Resenha | Feridas

    Feridas é protagonizada por duas crianças de 11 anos de idade. Poderia ser um fator que amenizaria as coisas. Poderia. Não foi, muito pelo contrário. A densidade foi inversamente proporcional à idade dos protagonistas, e isso impressiona.

    Keigo e Asato se tornam amigos na escola. Os dois garotos têm algo em comum: problemas familiares graves (um mais que o outro). Asato descobre ter um poder incomum de transferir feridas dos outros para si. A transferência pode ser total ou parcial. Ao longo do tempo, Asato desenvolve sua habilidade, tornando-a cada vez mais eficaz. E ele passa a agir de maneira cada vez mais altruísta, o que aparentemente é bom, mas existe um motivo obscuro por trás disso.

    Publicado pela JBC, Feridas é mais uma parceria excelente entre o artista Hiro Kiyohara (Another, Coin Laundry Lady) e Otsuichi, responsável pela história. A outra parceria, Só Você Pode Ouvir, segue um estilo parecido, onde uma história simples com elementos leves de fantasia serve como pano de fundo para assuntos mais profundos. Em Feridas, o acerto foi ainda maior.

    Este mangá é corajoso por colocar crianças em situação de vulnerabilidade no protagonismo. Keigo sofre agressões físicas constantes de seu pai alcoólatra, enquanto que Asato foi esfaqueado pela própria mãe. Sim, a obra faz jus ao título: não são meras feridas físicas. São feridas na alma e no coração. De duas crianças.

    Quanto mais Asato desenvolve seu poder, mais ele quer ajudar os outros. A consequência é carregar a ferida dos outros, e cada vez mais os machucados se acumulam. O pequeno Asato carregando feridas de inúmeras pessoas. Um fardo muito pesado para uma criança, não é?

    Keigo tenta apoiar o amigo, mas chega num ponto em que essa ajuda começa a ficar perigosa ao próprio Asato. Sendo o bom amigo que é, Keigo diz para ele parar de ajudar, caso contrário a própria vida estará em risco. Asato não interrompe seu ímpeto altruísta, e Keigo encontra uma solução que, obviamente, não vou contar.

    Aqui temos uma alegoria óbvia quanto ao poder de Asato. Uma criança, símbolo da pureza e inocência, tem uma espécie de poder divino capaz de ajudar os outros. Porém, Asato teve o corpo e a alma feridos pela própria mãe, o que, à primeira vista, tiraria a inocência do garoto. Ao mesmo tempo, coloca-o quase num patamar de mártir. Foi a real intenção de Otsuichi? Não sei, mas como dizem por aí, o artista perde o monopólio de interpretação a partir do momento em que publiciza sua obra. Esta é uma das visões possíveis.  Minha sugestão é que você leia o mangá e tire suas próprias conclusões, é uma obra que vale muito a pena pela forma como temas tão pesados são tratados.

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  • Resenha | Tsumitsuki: Espírito da Culpa

    Resenha | Tsumitsuki: Espírito da Culpa

    Hiro Kiyohara tem como obra mais conhecida o mangá Another. O artista japonês também produz diversas histórias curtas, contadas em volumes únicos, por exemplo Só Você Pode Ouvir, ou mesmo um compilado de esquetes bizarras (Coin Laundry Lady).  Aqui temos mais um exemplo de mangá em volume único: Tsumitsuki: Espírito da Culpa, publicado pela Editora JBC.

    Em uma cidade do interior do Japão, uma nova aluna, Chinatsu Takada, chega à escola. A jovem Takada, aos poucos, vai conhecendo as lendas locais, em especial sobre os tsumitsukis, espíritos que se alimentam do remorso humano. As coisas ficam mais sinistras quando Takada conhece Kuroe, um garoto que sabe muito sobre os tais espíritos. Os dias vão passando e coisas estranhas começam a acontecer na cidade. Mortes bizarras ocorrem e ninguém sabe a causa. Mas nós sabemos, claro: são os tsumitsukis.

    A ideia destes espíritos é interessante. Entidades que tomam o corpo da pessoa e, aos poucos, vai tomando seu controle, como se fosse corroendo a pessoa de dentro para fora. É semelhante a uma doença progressiva terminal, não há cura, não há escapatória, e cedo ou tarde você vai ser tomado por ela e morrer.

    Por vezes esquecemos que a história tem uma protagonista. Há foco em alguns núcleos narrativos que dão uma boa dinâmica. Kuroe acaba sendo o personagem mais interessante por seu ar misterioso. Apesar de não haver um desenvolvimento tão profundo, os personagens são bem definidos em suas convicções e personalidade na medida do possível, afinal é um mangá de volume único.

    Há um bom clima de suspense, aliando-se aos belos traços de Kiyohara e sua boa habilidade narrativa. A história se desenvolve bem, os personagens idem, apesar de não ser algo extraordinário. É o tipo de obra com ideias legais e história básica, o que não chega a ser algo ruim. Existem momentos tensos e impactantes, às vezes inesperados. Ponto positivo. De resto, a trama se mostra um pouco arrastada, mas não ao ponto de gerar desinteresse ou vontade de abandonar a leitura.

    Muitas pessoas podem olhar a capa, ler a premissa e esperar ler um mangá de terror. Não é. Existe suspense, momentos de horror, mas não espere algo assustador ou perturbador à la Junji Ito. Espere algo na linha de Another com alguns momentos sangrentos e grotescos. O resultado final é interessante, mas não memorável. Vale a leitura, especialmente aos apreciadores ou fãs do trabalho de Kiyohara.

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  • Resenha | Virgem Depois dos 30

    Resenha | Virgem Depois dos 30

    Na Terra do Sol Nascente um em cada quatro homens solteiros com mais de trinta anos jamais teve relações carnais, sexuais, ou sejam há mais de dois milhões de virgens nesses moldes no Japão, e Virgem Depois dos 30 é um mangá documentário (um formato tradicional, mas que não é muito conhecido no Brasil), o estudo de Atsuhiko Nakamura acompanhado trabalho visual do mangaká Bargain Sakuraichi analisa a história de oito pessoas, a maioria anônima, em  historias pesadas , carregadas de uma realidade melancólica e digna de pena.

    O trabalho editorial deste primeiro mangá da Editora Pipoca e Nanquim é bem bonito, apesar de ter capa cartão, o trabalho é bonito neste ponto, e é fácil ler o quadrinho aberto, ao contrário das primeiros versões de mangás publicados no Brasil na década passada. Esta versão possui uma capa retirável, e impresso nessa parte ha desenhos que remetem as historias que serão contadas nos textos do documentário, com referências ao inferno ocidental, a diabos e demônios japoneses também.

    O começo do “drama”cita Assim Falou Zaratrusta, com as palavras de Friedrich Nietzsche Em alguns, a castidade é uma virtude, mas, em muitos outros, é quase um vício, e essa realmente é a síntese da maioria dos casos. O primeiro serve bem nesse exemplo, fala sobre o serviço de cuidado de idosos, onde a maioria dos celibatários trabalham. A revista não demora a mostrar a infantilização desses adultos e o quanto isso ocorre graças ao ato de serem excluídos de algo tão básico quanto a vazão ao tesão e a libido. Os homens pioram ao idealizar mulheres, acreditando que uma princesa de conto de fadas o aceitará com todos os defeitos que tem e com a total dificuldade de socializar.

    A maneira como Nakamura apresenta os conceitos orientais pouco conhecidos impressiona por sua fluidez, a maioria desses virgens são chamados de solteiros parasitas, se aproveitam do amor incondicional de algum dos seus pais para que esses os sirvam, ou com dinheiro ou com cuidados básicos. Para contratantes é difícil empregar os virgens, no caso do primeiro, o sujeito tem problemas sérios com ortografia de palavras simples e com aprendizado,além de se enxergar  sempre a frente dos outros, é orgulhoso e humilha as pessoas sempre que pode, mesmo que não faça sentido.

    Em comum, os homens estudados tem a questão de ter sofrido bullying quando novos. A maioria entra em modo de defesa, daí se origina suas capacidades de aprendizado falho. Mesmo os que tem ensino superior também são traumatizados com isso. Outro ponto comum é a rejeição das primeira mulheres que os mesmos flertaram. É comum também auto mutilação e até tentativas de suicídio, alguns se apegam a fantasias de mulheres que conhecem, outros em mulheres que não são de carne e osso, e outros tantos tem na religião um dos motivos para auto enganação sobre seu celibato.

    Há também com esses virgens, a dificuldade de manter um emprego, boa parte deles vive de bicos, e tem sua vida social resumida a suas casas, pequenos cubículos onde destilam seu ódio na internet, em fóruns de extrema direita, que propagam xenofobia e um machismo exacerbado e injustificado, onde culpam as mulheres por não enxergar neles possíveis parceiros sexuais e para a vida. O gasto que eles fazem de seu tempo livre chega a assustar, e o gibi consegue equilibrar bem o didatismo com uma linguagem mais franca e direta.

    Há fortes críticas aos celibatários que fazem parte da comunidade, até mais que aos incels, e mais assustador até do que os fanáticos que só pensam em mulheres animadas, são os que são fãs da idols, uma categoria que por si só é estranha, e explorada em diversas obras, como o longa animado Perfect Blue, de Satoshi Kon. Os otakus em estágios “mais avançados” sentem repulsa fisiológica a mulheres de verdade, chegam a vomitar se veem mulheres de perto, por conta de poros, suor, espinhas e imperfeições pequenas. Boa parte deles moram em quartos minúsculos, em um lugar onde outros otakus também residem, em pequenos cubos, trabalhando em sub empregos que só existem para sustentar seus vícios em animes ou nas tais cantoras.

    O caso de Ichito Suzuka, um ator pornô cuja historia é muito trise resume bem os causos do estudo. Ele é o único cujo nome é dito sem pseudônimos, e sua jornada é deplorável. Há outras historias de gente sexualmente ativa, e até de pessoas que claramente mentem para si mesmos sobre sua sexualidade só para se sentir aceito, e é preciso ter paciência e atenção ao ler a revista, pois ela causa incômodo e possíveis gatilhos especialmente para quem tem depressão. É triste ver isso, e acompanhar a burocracia com que alguns se tratam, chegando ao cumulo de vários deles fazerem tabelas de respostas femininas no Excel, para não perderem o progresso que fazem, como se o flerte fosse um jogo.

    Segundo Nakamura, Bargain só sabia da aparência de Miyata e do ator Suzuka, o resto, ele só leu o livro Virgens de Meia Idade (publicação antiga do próprio Nakamura, pela editora Ganesha), e tirou suas conclusões. O último capítulo mostra o autor indo atrás dos entrevistados, ou trabalhando junto com eles (em especial, com o primeiro), fato que já era suspeito de quem lê sua obra, dada a riqueza de detalhes apresentada. Virgem Depois dos 30 dá uma visibilidade a pessoas em uma situação tão grave, ao passo que destaca o quanto a cuidadoria de idosos é sucateada e manuseada por problemáticos e tarados que até assediam senhoras.

    Muito se comenta que a editora Pipoca e Nanquim teve muita coragem de publicar esta obra, e de fato isso é muito verdade, pois o momento do Brasil evoca muito as questões dos Incel e outros celibatários e o mangá ainda foi lançado no mesmo ano do atentado de Suzano, então não teria momento mais oportuno para se abrir esse tipo de ferida, seja em qualquer configuração de sociedade, é preciso se refletir e discutir sobre isso, indiscutivelmente.

    Compre: Virgem Depois dos 30.

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  • Resenha | Arakawa Under The Bridge

    Resenha | Arakawa Under The Bridge

    Da glamourosa vida no mundo corporativo à debaixo da ponte. Tudo isso por causa de sua calça que foi roubada. E depois quase se afogar.  Loucura? Não, isso é Arakawa Under the Bridge com seu humor nonsense, demente e muito divertido, publicado pela Panini.

    Calma, não se assuste, tudo parece (é) confuso, mas vamos (tentar) explicar melhor. Nosso protagonista é o jovem Kou, filho de um grande empresário japonês. Ele trabalha com o pai e segue um lema de vida: nunca dever favores a ninguém. Porém, uma situação esdruxula o faz cair no rio Arakawa e ser salvo por Nino, uma garota que diz ser de Vênus. Para Kou, esse não é o pior dos problemas: agora, ele deve um favor a Nino, afinal ela salvou sua vida. E ela quer que Kou seja seu namorado. A partir daí, Kou passará a morar embaixo da ponte onde Nino e diversas outras figuras peculiares vivem.

    Peculiares em que sentido? Por exemplo, o prefeito da “comunidade embaixo da ponte” é um kappa, criatura mitológica japonesa. Mas ele é claramente um humano fantasiado porcamente. Estrela é outro sujeito peculiar, com uma máscara de… estrela. Ele tenta ser músico e é apaixonado por Nino, portanto Kou será um grande rival.

    Outro sujeito peculiar é Sister, um inglês loiro, alto, com cicatrizes de guerra, especialista em armas e vestido de freira. Seu instinto sanguinário aflora de vez em quando, mas é uma boa pessoa.

    Diante dessas loucuras, o que exatamente é este mangá?  Fica óbvio que ele aposta no humor. E, de forma impressionante, é muito bom e, de certa forma, inteligente. Os capítulos geralmente são curtos, alguns com 2 ou 3 páginas, dando um ritmo mais frenético às coisas. Porém, essa divisão em capítulos é mais psicológica do que qualquer coisa, pois muitas situações se estendem por diversos capítulos, sendo essas quebras um respiro para o leitor. É uma estratégia narrativa interessante, pois o nível de nonsense é alto. Por conta disso, a leitura, apesar de agradável, pode ser mais demorada.

    Ao longo da história, Kou se acostuma com a nova vida e vai achando cada vez mais normal aquele bando de malucos. O mais preocupante é que você, leitor, seguirá pelo mesmo caminho, e acreditará em diversos momentos que o prefeito é realmente um kappa. A própria situação de Kou em morar debaixo da ponte passará a ser normal tanto para ele quanto para o leitor. E por maiores loucuras que aconteçam, existe subtextos interessantes de amadurecimento.

    Podemos dizer que o mangá é uma sucessão de esquetes, não havendo uma grande linha narrativa sendo construída. O que temos é a familiarização com os personagens, que indiscutivelmente são carismáticos, divertidos e bem diferentes entre si. Aqui precisamos dar méritos à autora Hikaru Nakamura. Ela conseguiu despejar inúmeros personagens bizarros, definiu personalidades únicas para cada um, os desenvolveu ao longo das páginas e, em certo ponto, o leitor já se sente em casa (ou melhor, na ponte). As situações criadas são muito divertidas, sendo uma leitura bem agradável e leve. É aquele mangá que pode facilmente ser lido devagar, algumas páginas por dia, de forma bem casual. Vale dizer que é voltado aos leitores que já gostam das “japonesices” habituais dos mangás, ok? Pra essa galera é diversão garantida!

     

  • Resenha | The Legend of Zelda: Majora’s Mask | A Link to the Past – Perfect Edition

    Resenha | The Legend of Zelda: Majora’s Mask | A Link to the Past – Perfect Edition

    E lá vamos nós falar de mais um mangá de Zelda, desta vez abarcando os jogos Majora’s Mask e A Link to the Past. O primeiro é uma continuação de Ocarina of Time, mas que funciona como uma história autônoma. Já A Link to the Past é uma história fechada enquadrada na cronologia louca de Zelda, e sim, também funciona sozinha. A arte, mais uma vez, ficou a cargo de Akira Himekawa, pseudônimo de uma dupla de artistas muito talentosas.

    Majora’s Mask é uma relíquia poderosíssima capaz de realizar desejos. Quando a famigerada máscara cai em mãos erradas, o mundo é fadado a um apocalipse: a lua colidirá com o mundo, destruindo-o. Nosso herói Link entrará em uma jornada para evitar esta tragédia.

    Esta p primeira história é um pouco mais sombria, com um bom clima de urgência. Link encontrará criaturas mitológicas para que ajudem o mundo. E claro, usará diversas máscaras com poderes diversos para vencer os obstáculos. A história flui bem, há momentos mais leves e divertidos, e no geral, é satisfatório.

    Logo após o término de Majora’s Mask teremos uma história original feita por Akira Himekawa contando a origem da poderosa máscara. É uma espécie de fanfic autorizado, e ficou muito legal.

    A segunda metade do volume terá como base A Link to the Past, o clássico do Super Nintendo, um dos jogos preferidos dos fãs de Zelda. Como é de praxe, a aparência de Link muda em relação às outras histórias (Majora’s Mask é uma exceção, pois manteve a aparência de Ocarina of Time, afinal é uma continuação direta).

    Link é órfão e mora com seu tio. Ambos têm uma vida calma plantando maças. Porém, na fatídica noite chuvosa, Link ouve uma voz em sua mente, uma garota pedindo socorro, dizendo que etá presa no palácio. Ele percebe que seu tio não está em casa e decide ir até o palácio verificar.

    Para sua total infelicidade, encontra seu tio gravemente ferido, e ali descobre uma terrível ameaça: o mago Aghanim pretende tomar o poder de Hyrule. Para isso, oferecerá como sacrifício a princesa Zelda, a dona da misteriosa voz que chamou por Link. O jovem garoto carregará o pesado fardo de evitar esse plano nefasto de Aghanim.

    Este segmento do mangá já não é tão bom. Por mais que o jogo seja querido pelos fãs e tenha coisas interessantes, há um pequeno excesso de textos e explicações que tiram a fluidez da leitura, tornando-a cansativa.  A história não é tão interessante a ponto de exigir tantos detalhamentos, e talvez este seja o erro de A Link to the Past. Talvez seja uma impressão errada que tive, ou mesmo que o estilo da narrativa e das histórias dos mangás de Zelda tenham me saturado um pouco, afinal existe uma certa fórmula que traz semelhanças entre as histórias. Em geral, todos os mangás resenhados até agora possuem hkstórias simples, com algumas pitadas de complexidade, mas que na essência são aventuras básicas (o que não é um problema).

    Dito isso, este volume, assim como todos os outros até aqui  resenhados (Ocarina of Time e Oracle of Seasons/Ages) são mais voltados aos fãs dos jogos. Nada impede que outras pessoas se divirtam com as aventuras do Link e apreciem a excelente arte da obra, mas saibam que não há tramas extraordinárias. A simplicidade funciona muito bem nos jogos, que são aliados à jogabilidade característica da série. De qualquer forma, é muito bom ter esse material no Brasil, e a edição da Panini é caprichada, com ótimo papel e acabamento.

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  • Resenha | Another

    Resenha | Another

    Dentre as várias obras de Hiro Kiyohara, provavelmente esta é a mais conhecida. Seguindo uma praxe em sua carreira, Kiyohara adaptou uma obra escrita para as páginas de um mangá. O autor da obra original é Yukito Ayatsuji, que não poupa elogios ao artista pela ótima adaptação que fez. Diz que houveram mudanças bem-vindas e adaptações dignas de nota. Estas declarações podem ser conferidas no último volume.

    Another tem uma atmosfera de suspense e terror envolvendo jovens estudantes de uma escola japonesa. O protagonista Sakakibara, ao ingressar no terceiro ano, começa a perceber atitudes estranhas de seus colegas, e dentre eles, uma solitária garota de tapa-olho, Mei Misaki. A trama se desenvolve em torno dos mistérios da Sala 3-3 onde Sakakibara e Misaki estudam. Há uma espécie de maldição que acomete aquela sala, matando alguns de seus integrantes. E a terceira turma do terceiro ano sofre desse mal há décadas.

    Existem diversos elementos interessantes na história. O primeiro deles é a dúvida de Sakakibara em relação a Misaki: ela está viva ou morta? Só ele enxerga a garota? São dúvidas que prendem a atenção do leitor e causam certa intriga. A narrativa é bem desenvolvida e, aos poucos, conhecemos um pouco mais da história de Misaki e sobre a famigerada maldição. Por mais que exista o elemento fantástico (maldição), a história se mantém muito próxima da realidade.

    Vale destacar a arte de Kiyohara, sempre muito boa e precisa, com grande habilidade narrativa. O artista consegue compor cenas bonitas com toques de macabro, nada aterrador ou bizarro do nível Junji Ito, até porque esta não é a proposta de Another. Aqui temos um quê mais psicológico, gerando inúmeras e constantes dúvidas sobre o que está acontecendo e sobre a própria sanidade dos personagens. Mas não se engane, existe cenas sangrentas no mangá, mas geralmente a violência não é tão explícita.

    A princípio, o mangá teria apenas 2 volumes, mas o artista insistiu que fosse mais prolongado, e no final das contas, conseguiu. A história é bem desenvolvida, com alguns detalhes sutis que se fazem importantes no final, e não há enrolações. Em sua maior parte, há um clima de mistério com pontuais momentos de humor. No geral, destaca-se a tentativa de descobrir os mistérios por trás dessa maldição. Há alguns momentos cansativos na leitura, mas nada que comprometa em demasia o resultado final.

    Vale destacar alguns subtextos interessantes. Sakakibara é órfão de mãe e seu pai é bem ausente, pois o jovem foi morar em outra cidade e acaba mantendo apenas esporádicos contatos via telefone. Sua figura materna acaba sendo Reiko, irmã de sua falecida mãe. Em relação a Misaki, há reflexões sobre ser ignorada e solidão, que será desenvolvido e justificado ao longo da obra.

    Foi um grande acerto da Editora JBC publicar Another aqui no Brasil. É uma obra conhecida pelos fãs de anime/mangá, e com razão. Temos muitas qualidades aqui, que às vezes parece apenas um “terrorzinho adolescente”, mas logo o estereótipo cai por terra. Além do que, o desfecho é visceral. As edições possuem páginas iniciais coloridas, outro acerto na edição brasileira.

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  • Resenha | Innocent #1

    Resenha | Innocent #1

    Enquanto grande parte dos mangás tem como base a cultura japonesa e o próprio Japão, Innocent vai à Europa, mais especificamente na França do século XVIII, anos antes da importante e sanguinária Revolução. O foco se dá na família Sanson, designada a serem os carrascos de Paris. Todos os condenados à morte serão executados por membros desta família. E aqui teremos nosso protagonista, o jovem Charles-Henri Sanson.

    Charles não quer se tornar um carrasco. Não quer ser um assassino, mesmo que de criminosos. Mesmo assim, seu destino parece inevitável, pois o próprio rei, que na época era tido como o representante de Deus na Terra, incumbiu a família Sanson a esta nefasta tarefa. Como ignorar ordens do próprio Deus?

    Este primeiro volume traz de maneira primorosa o início do desenvolvimento de Charles, com todas as suas dúvidas e embates morais. O jovem, como bem diz o título da obra, carrega uma inocência que não quer perder. A sensibilidade e até fragilidade é acentuada por seus traços femininos, que traz uma ideia maior de delicadeza. O pai tenta a todo custo impor o destino a Charles, inclusive mediante tortura. Apesar da primeira página já mencionar a Revolução Francesa, a história começará anos antes, e provavelmente terá seu desfecho ali. Vale destacar a ótima retratação da França, especialmente da nobreza, tanto nos cenários quanto nas roupas.

    Não podemos deixar de tecer efusivos elogios à arte deste mangá. É algo espetacular, um dos mais lindos que já vi. O autor Shin’ichi Sakamoto e seus assistentes não pouparam esforços para elaborar quadros extremamente detalhados. Roupas, cabelos, cenários, tudo com riqueza de detalhes, e mesmo assim os desenhos ficam limpos e inteligíveis. A própria capa já nos mostra a qualidade do miolo, realmente é uma obra de arte.

    Outro ponto a ser destacado é a habilidade narrativa do autor. Tudo é bem contado, a história flui bem e não há dificuldades em ler este volume de uma só vez. Talvez o único defeito tenha sido a apresentação da família Sanson. Em uma sequência de quadros, os personagens vão sendo apresentados com nome e grau na linhagem da família. Por serem muitos personagens, e cada um com nomes extensos, não é uma decisão muito efetiva para que o leitor se lembre dos nomes futuramente. De qualquer forma, não é algo que comprometa a qualidade final.

    Aparentemente, o roteiro tem certa precisão histórica. Sendo verdade ou não, Innocent é um belíssimo mangá que retrata um momento e cenário pouco comuns nas obras japonesas. A edição da Panini traz papel de qualidade, páginas inicias coloridas, capas com orelha, um produto de alta qualidade.

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  • Resenha | Carnaval Glare: O Caçador de Bruxas

    Resenha | Carnaval Glare: O Caçador de Bruxas

    Histórias contadas em volume único precisam de certo cuidado. Por terem uma quantidade de páginas mais limitada, é necessário foco na proposta. A impressão é que Carnaval Glare, publicado pela Nova Sampa, não soube muito bem qual sua verdadeira proposta.

    Não temos uma premissa super original: criaturas denominadas “bruxas” atacam os humanos para matá-los ou transformá-los nesses seres repugnantes. O governo criou uma organização militar para combater estas ameaças, uma espécie de tropa especial. Seu líder é Hansel Takamine, que teve sua irmã Gretel assassinada por uma bruxa. Esta é a grande motivação para que Hansel entre nesta perigosa luta. E aqui vem o problema.

    Em momento nenhum o protagonista inspira empatia ou carisma. As motivações são rasas e mau exploradas, às vezes confusas e duvidosas. Não há qualquer problema na premissa simples, até porque a questão das bruxas poderia gerar uma história interessante. Inclusive as bruxas são interessantes, classificadas como “desastres”, e trazem um ar bizarro à trama. A primeira metade do volume desenrola até bem, tendo mais foco na ação. Depois a narrativa se torna cada vez mais confusa, estranha e mau executada. Há uma tentativa de aprofundar os personagens, as motivações, dar explicações sobre as bruxas e até sobre as armas usadas para matá-las. Tentativas que não logram êxito e tornam a obra extremamente enfadonha, inconstante, sem ritmo e desinteressante.

    Nem mesmo as referências mais diretas, como o nome do protagonista e de sua irmã, ajudam muito (Hansel e Gretel é o nome original da famosa história João e Maria) O que sobra é um punhado de elementos que não despertam interesse algum. Triste pensar que existem elementos interessantes que poderiam gerar uma trama minimamente interessante, mas a falta de habilidade narrativa torna a leitura um calvário.

    No final das contas, é difícil afirmar se a trama enfadonha é culpa das poucas páginas de desenvolvimento ou simplesmente incompetência do autor Kazuomi Minatogawa. Pelo menos a arte é bonita, embora confusa em alguns momentos e  com ausência de cenário que atrapalha bastante o entendimento. Havia bom potencial para criar uma história minimamente interessante, mas infelizmente o resultado ficou aquém das expectativas. Não era pra menos, afinal, se nem o protagonista consegue ser carismático, como o leitor se importará com o resto da história? A sensação é que a leitura demorou dias para ser finalizada, e ao término deste esforço hercúleo, provavelmente poucas lembranças restarão. Fica difícil recomendar este mangá.

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  • Resenha | Pride: O Supercampeão

    Resenha | Pride: O Supercampeão

    Olhe atentamente para a imagem acima. Lhe parece familiar? Sei exatamente o que você está pensando. Mas você pensou errado. Pride é do mesmo autor de Captain Tsubasa (conhecido no Brasil como Supercampeões), Yōichi Takahashi. O futebol é novamente o tema central. Porém, diferente da obra anterior, Pride tem um foco diferente: as questões pessoais dos personagens.

    Pode soar estranho, mas os jogos de futebol têm pouco espaço aqui. Eles existem, claro, mas são mostrados de forma rápida, e não se estendem por muitas páginas. O destaque, como já foi dito, está na vida dos personagens. Isso acaba sendo uma faca de dois gumes.

    No primeiro volume, o famoso jogador Yoshida sofre uma grave lesão e se afasta dos gramados por três anos. Após tanto tempo parado, ele está sem ritmo de jogo e precisa recomeçar de baixo. Com isso, ele abdica da primeira divisão (J1) e entra em um time da J2. E infelizmente descobre que suas habilidades decaíram muito.

    A frustração de Yoshida é nítida. Exímio atacante da J1, agora não consegue ter nível competitivo na J2,e seu ânimo se esvai a cada jogo. Seu maior incentivador é Iwazumi, outra aquisição de seu time na J2. Iwazumi é um grande zagueiro veterano, com mais de 40 anos de idade, jogou na seleção japonesa e pretende jogar sua última temporada antes da aposentadoria.

    O baixo desempenho de Yoshida o coloca no banco de reservas, aumentando ainda mais a frustração do jogador. Então, o técnico faz uma aposta: escala Yoshida para a zaga. Apesar da falta de experiência na posição, ele tem uma grande velocidade e, teoricamente, poderia se dar bem. Daí o entrosamento entre Yoshida e Iwazumi aumenta ainda mais.

    Como puderam notar, a história não é nada de extraordinária. O foco narrativo está nos dilemas e problemas de Yoshida, o que é bem interessante. Caso o foco estivesse nos jogos, correria o risco de ser um Supercampeões 2. O autor conseguiu criar um outro tom, diferenciando suas obras.

    Vale destacar a arte. O traço é bem peculiar e fácil de identificar ser o autor de Supercampeões. O design de personagens não é um primor, são meio genéricos e parecidos uns com os outros, porém carismáticos na medida do possível. Alguns quadros trazem os personagens em proporções estranhíssimas, com corpos enormes e cabeça minúscula, deixando a dúvida se é proposital ou simples incompetência do artista. De forma geral, o desenho cumpre seu papel e consegue ajudar a narrativa.

    O segundo volume tem outro foco. Desta vez, conhecemos a história de Hiro, um jovem prodígio do futebol que joga desde criança em campeonatos locais. A narrativa toma como base sua infância e adolescência, que é contada em flashback quando o jogador se lesiona, vai ao hospital e começa a relembrar de sua história. Aqui houve uma queda de qualidade, que já não era extraordinária. Isso porque a história é muito simples, porém no volume anterior havia um ceto foco na carreira  de Yoshida. Já a história de Hiro tem mais destaque sua namoradinha e a relação que construíram ao longo dos anos. Tudo muito banal e desinteressante, mas bem contado dentro da proposta do autor.

    Sobre a tradução, a editora Nova Sampa fez uma opção interessante. Os balões de fala foram substituídos normalmente por textos em português. Já os textos narrativos, geralmente soltos no quadro, foram mantidos e a tradução inserida logo abaixo, como se fosse um filme legendado. Certamente foi uma opção que agradará os fãs mais puristas. Boa parte dos cartazes e placas seguiram a mesma linha, mantendo-se quase todos os textos originais em japonês. Tal decisão ajuda a manter a fidelidade da obra, um ponto positivo. Por outro lado, existem alguns erros de português.

    Talvez o público alvo de Pride não sejam os fãs de Supercampeões. Aqui não haverá chutes com salto mortal, defesas mirabolantes e redes sendo perfuradas com a bola em alta velocidade. É uma história mais sóbria e bem feita em sua proposta. Nada espetacular, sem grandes surpresas ou emoções, mas quem busca uma leitura leve para passar o tempo, vale conferir.

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  • Resenha | O Jardim das Palavras

    Resenha | O Jardim das Palavras

    O Jardim das Palavras (Kotonoha No Niwa) é um média-metragem de animação dirigido pelo aclamado diretor japonês Makoto Shinkai (leia nossa crítica aqui). Posteriormente, a obra foi adaptada em mangá. É sobre esta adaptação que iremos falar hoje.

    O colegial Takao Akizuki tem o sonho de se tornar um sapateiro. Obstinado por seu objetivo, chega a trabalhar em vários bicos para conseguir dinheiro para comprar materiais e seguir com seus projetos. Em um dia chuvoso, Takao resolve cabular aula e vai a um calmo parque sentar-se em um banco, cercado de natureza. Naquele mesmo local está sentada uma mulher cerca de 12 anos mais velha bebendo cerveja.

    Aparentemente ela está faltando trabalho. Os dois iniciam uma conversa tímida e, por diversos outros dias, irão se reencontrar naquele mesmo local em dias chuvosos. Aos poucos, Takao começa a nutrir um sentimento por aquela mulher. Não sabemos se a recíproca é verdadeira. Mas os dois ficam cada vez mais próximos. E a chuva sempre presente.

    É preciso salientar a enorme beleza da arte do mangá. Para quem assistiu ao filme, sabe que o aspecto visual é de cair o queixo, algo comum nos filmes de Shinkai. O traço de Midori Motobashi honra essa qualidade com folga. Além dos personagens muito bem retratados, os cenários recebem um cuidado excepcional. E mais, não se poupou esforços para que grande parte dos quadros tivesse cenário, ponto muito positivo. O cuidado e delicadeza da arte fazem jus à história em si, que retrata de forma bonita e sóbria o relacionamento de duas pessoas comuns. E ao longo da obra, podemos conhecer um pouco mais a história daquela mulher desconhecida.

    O mangá optou por ter poucos balões de fala em cada quadro, mantendo um ritmo fluido de leitura para se aproximar do filme. Mesmo que sua leitura seja rápida, ela provavelmente será interrompida inúmeras vezes para admirar os belíssimos quadros  que Motobashi desenhou com tanto esmero.

    O cerne da história é simples, consistindo em um relacionamento. Porém,  a habilidade de Shinkai em trazer histórias simples com diversos elementos interessantes e alto nível de sensibilidade dão um charme todo especial à obra. Os dois personagens centrais são muito bem retratados, cada um em seu nível de maturidade, problemas pessoais e aspirações futuras. Takao será uma espécie de luz na vida dela, que há tempos perdeu a motivação profissional.

    Esta adaptação em mangá mostrou-se um excelente produto que vale a pena ser conhecido, mesmo por quem já assistiu ao filme. Publicado no Brasil pela NewPOP em volume único, papel branco de ótima qualidade e páginas iniciais coloridas.

    Compre: O Jardim das Palavras.

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