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  • Resenha | 5 Centímetros por Segundo

    Resenha | 5 Centímetros por Segundo

    Makoto Shinkai é um dos grandes nomes da animação japonesa recente. Com sua grande habilidade de direção e roteirista, cria obras com estilo bem peculiar, sempre focando em algum aspecto da natureza humana. Às vezes incorpora elementos fantásticos, tal como em Vozes de uma Estrela Distante ou Your Name. Em outras, é apenas um recorte da vida mesmo, como O Jardim das Palavras. Na obra que falaremos aqui, Shinkai manteve alinha realista de O Jardim, mas com uma proposta mais ampla: mostrar um relacionamento no longo prazo.

    5 Centímetros por Segundo conta a história de dois jovens japoneses, Takaki e Akari. Ambos têm algo em comum: se mudam de cidade com certa frequência por conta da profissão de seus pais. Em determinado momento, a vida deles se cruzam quando começam a estudar na mesma sala em uma escola de Tóquio. A partir daí, eles vão se aproximando e, claro, se apaixonando.

    A obra trata, principalmente, da distância, que já foi abordada por Shinkai em outras obras, mas de forma diferente. Aqui, as coisas começam a ficar difíceis quando Akari precisa se mudar novamente, deixando Takaki sozinho. Eles passam a se comunicar por carta, o que, por si só, já tem um ar meio romântico e poético. E as coisas ficam ainda mais difíceis quando chega a vez de Takaki se mudar, o que aumenta ainda mais a distância física entre eles.

    O grande mérito da obra é mostrar um amor real e crível. Neste ponto, Shinkai é certeiro.As flores de cerejeira, que caem a 5 centímetros por segundo, ilustram bem o amor tratado aqui: as cerejeiras florescem por um período curto e específico no Japão, trazendo aquele visual maravilhoso que é exaustivamente retratado nas obras japonesas (sorte a nossa). O amor de Takaki e Akari, embora intenso e bonito, não parece ser eterno, e acompanharemos isso ao longo de anos.

    Apesar das visíveis qualidades e da belíssima arte de Yukiko Seike, a narrativa me pareceu cansativa e monótona justamente pelo aspecto “real demais”. Talvez o problema não seja a simplicidade da história, pois O Jardim das Palavras traz um viés semelhante e me fisgou mais. É a velha questão da obra conversar com o leitor. Esta aqui não conversou comigo, apesar de, repito, serem nítidas as qualidades dela.

    Deixo a recomendação para os fãs fervorosos do autor e para quem gosta muito de romances. Além do mangá, publicado em dois volumes pela Editora NewPop, vale mencionar o filme, que é um pouco menos profundo na abordagem do relacionamento dos  protagonistas, mas tem um visual lindo, o que já é esperado de Shinkai-san. Aproveito para deixar outra recomendação: Wedding Eve, que traz uma simplicidade muito bem feita, e talvez agrade aos leitores/espectadores de Makoto Shinkai.

    Compre: 5 Centímetros por segundo.

  • Resenha | O Jardim das Palavras

    Resenha | O Jardim das Palavras

    O Jardim das Palavras (Kotonoha No Niwa) é um média-metragem de animação dirigido pelo aclamado diretor japonês Makoto Shinkai (leia nossa crítica aqui). Posteriormente, a obra foi adaptada em mangá. É sobre esta adaptação que iremos falar hoje.

    O colegial Takao Akizuki tem o sonho de se tornar um sapateiro. Obstinado por seu objetivo, chega a trabalhar em vários bicos para conseguir dinheiro para comprar materiais e seguir com seus projetos. Em um dia chuvoso, Takao resolve cabular aula e vai a um calmo parque sentar-se em um banco, cercado de natureza. Naquele mesmo local está sentada uma mulher cerca de 12 anos mais velha bebendo cerveja.

    Aparentemente ela está faltando trabalho. Os dois iniciam uma conversa tímida e, por diversos outros dias, irão se reencontrar naquele mesmo local em dias chuvosos. Aos poucos, Takao começa a nutrir um sentimento por aquela mulher. Não sabemos se a recíproca é verdadeira. Mas os dois ficam cada vez mais próximos. E a chuva sempre presente.

    É preciso salientar a enorme beleza da arte do mangá. Para quem assistiu ao filme, sabe que o aspecto visual é de cair o queixo, algo comum nos filmes de Shinkai. O traço de Midori Motobashi honra essa qualidade com folga. Além dos personagens muito bem retratados, os cenários recebem um cuidado excepcional. E mais, não se poupou esforços para que grande parte dos quadros tivesse cenário, ponto muito positivo. O cuidado e delicadeza da arte fazem jus à história em si, que retrata de forma bonita e sóbria o relacionamento de duas pessoas comuns. E ao longo da obra, podemos conhecer um pouco mais a história daquela mulher desconhecida.

    O mangá optou por ter poucos balões de fala em cada quadro, mantendo um ritmo fluido de leitura para se aproximar do filme. Mesmo que sua leitura seja rápida, ela provavelmente será interrompida inúmeras vezes para admirar os belíssimos quadros  que Motobashi desenhou com tanto esmero.

    O cerne da história é simples, consistindo em um relacionamento. Porém,  a habilidade de Shinkai em trazer histórias simples com diversos elementos interessantes e alto nível de sensibilidade dão um charme todo especial à obra. Os dois personagens centrais são muito bem retratados, cada um em seu nível de maturidade, problemas pessoais e aspirações futuras. Takao será uma espécie de luz na vida dela, que há tempos perdeu a motivação profissional.

    Esta adaptação em mangá mostrou-se um excelente produto que vale a pena ser conhecido, mesmo por quem já assistiu ao filme. Publicado no Brasil pela NewPOP em volume único, papel branco de ótima qualidade e páginas iniciais coloridas.

    Compre: O Jardim das Palavras.

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  • Crítica | Your Name

    Crítica | Your Name

    Your Name, escrito e dirigido por Makoto Shinkai, teve a façanha de alcançar o posto de animação mais rentável dos cinemas japoneses. Após assisti-lo, é possível entender o porquê. Além de tecnicamente perfeito, traz uma história aparentemente clichê, mas que esbanja sensibilidade e, principalmente, uma narrativa muito bem construída.

    Elogiar a parte visual de uma obra de Shinkai é chover no molhado. O diretor já é conhecido pela qualidade altíssima de suas animações, com muitos detalhes e cenas vivas. Your Name não é exceção e apresenta takes belíssimos, não só pelos traços, mas pelo uso de ângulos interessantes e construções de cena impecáveis. Um ponto que chama a atenção são aquelas cenas corriqueiras, que vão de uma simples panela cozinhando alimentos até as folhas flutuando na água do rio. O cuidado aos detalhes é assustador, e ajudam a dar o clima narrativo.

    A história mostra dois jovens: Mitsuha (Mone Kamishiraishi), uma garota que vive em uma pequena cidade do interior do Japão, e Taki (Ryûnosuke Kamiki), um rapaz de Tóquio. Sem entenderem o motivo, eles trocam de corpo várias vezes, e aqui se inicia a maravilhosa habilidade narrativa de Shinkai. O filme já começa com Mitsuha se comportando de forma estranha, e aos poucos vamos descobrindo que há essas trocas de corpo. As reações dos personagens são bem humanas. O filme entrega os detalhes aos poucos, e você descobre tudo junto com os personagens.

    É claro que essa troca vai ocasionar em situações divertidas. Mitsuha não conhece os amigos de Taki, se perde ao ir para a escola e nem sabe onde ele trabalha (tudo isso quando ela está no corpo dele). O mesmo ocorre com Taki, mas no contexto da pacata vida de Mitsuha. Falando assim, parece uma historinha banal. Mas aí as coisas vão se desenvolvendo e…

    Tudo se torna bem intrigante. Felizmente, o diretor não se preocupa em dar explicações detalhadas do motivo dessa troca de corpo, nem tenta ser realista ou científico. Mesmo assim, o desenvolvimento da trama e dos personagens é muito rico. Vamos descobrindo novos detalhes da relação entre eles, e no final tudo se encaixa.

    Se por um lado o filme traz diversos elementos de ficção científica, Shinkai consegue deixá-los totalmente em segundo plano. Eles são apenas as ferramentas que ele utiliza para contar o que importa: a história de Mitsuha e Taki. Tais elementos ajudam a criar uma trama mais grandiosa e complexa, confundindo o espectador de forma bem controlada. A narrativa segue fora de cronologia, mas tudo vai se encaixando de forma orgânica, inclusive repetindo alguns trechos de cenas passadas. Tudo é muito bem explicado sem quebrar o ritmo da narrativa.

    Então este filme realmente é a melhor animação japonesa já feita? Mereceu desbancar o sucesso de A Viagem de Chihiro? Sinceramente, essa discussão é pobre e não vale a pena. “Melhor” é muito relativo. Depende do seu gosto e da sua sensibilidade. Até porque são filmes completamente diferentes, com propostas bem distintas. Uma coisa é certa: Your Name tem muita qualidade e merece todo o sucesso que recebeu. Talvez não agrade os mais jovens ou quem prefere obras voltadas para ação e aventura. Para quem aprecia uma boa narrativa e belas animações, não tem erro, é um prato cheio e com certeza vai ficar na memória por muito tempo. Principalmente ao descobrir o peso do significado do título.

    https://www.youtube.com/watch?v=hRfHcp2GjVI

  • Crítica | Vozes de uma Estrela Distante

    Crítica | Vozes de uma Estrela Distante

    Esta curta animação do diretor japonês Makoto Shinkai usa um cenário sci-fi como pano de fundo para contar uma história extremamente cotidiana: o relacionamento à distância de dois jovens. Noboru e Mikako se conhecem desde a escola, mas ela ingressa numa espécie de exército espacial da ONU para combater forças alienígenas. A animação se passa em meados do século XXI.

    O grande foco narrativo se dá com a dificuldade de comunicação entre os jovens. Mikako se afasta cada vez mais da Terra, e com isso as mensagens entre eles, trocadas via celular, demoram cada vez mais para chegar. Isso cria uma distância não só física, mas temporal entre eles.

    Noboru leva sua vida comum na Terra e espera ansiosamente pelas mensagens de Mikako. Com o passar dos anos, ele começa a perceber que, talvez, o melhor caminho seria seguir em frente e não apostar na volta da amada.

    Um elemento interessante é que Mikako pilota um robô gigante e trava batalhas violentas contra os alienígenas, porém ainda veste a roupa de colegial. Talvez o diretor quis mostrar que ela ainda possui um vínculo com a Terra, ou até uma maneira visual de representar que seus pensamentos ainda estão aprisionados naquela longínqua época que convivia com Noboru.

    A parte visual é muito bonita, o que é corriqueiro nas obras de Shinkai. Os momentos de batalha são muito interessantes, mas em momento algum isso ganha o foco da história. Tudo gira em torno da saudade do casal, progredindo da forma mais melancólica possível.

    Vozes de uma Estrela Distante é uma obra singela, até simples, mas esbanja bom gosto e sensibilidade. É uma excelente porta de entrada para as obras de Shinkai, que geralmente aborda temas cotidianos e comuns de maneiras interessantes e menos óbvias que a esmagadora maioria do audiovisual.

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  • Crítica | O Jardim das Palavras

    Crítica | O Jardim das Palavras

    o jardim das palavrasTakao Akizuki é um estudante de 15 anos que um dia aspira ser um fabricante de sapatos. Em manhãs chuvosas, Takao deixa de fazer a baldeação no metrô e decide matar as primeiras aulas do dia para poder dar uma volta pelos jardins do Parque Nacional Shinjuku Gyoen (localizado em Tóquio). Se acomodando debaixo de um “pergolado” para desenhar sapatos femininos, Takao conhece Yukino, que coincidentemente sempre está presente nas manhãs de dias chuvosos – o que ocorre com certa frequência considerando a época de chuvas (junho, no Japão) – faltando trabalho para tomar algumas cervejas enquanto observa o parque e a chuva.

    O que inicialmente seriam apenas dois estranhos que coincidentemente sempre se encontram no mesmo lugar em dias chuvosos, começa a se tornar uma amizade peculiar entre duas pessoas que, de certa forma, estão buscando um escapismo de suas realidades.

    o jardim das palavras - garden of wordsMakoto Shinkai é um diretor conhecido no Japão pela sutileza artística de suas animações e a condução narrativa guiada pela sua sensibilidade estética. Conhecido por alguns como o sucessor do mestre Hayao Miyazaki (diretor de clássicos do Studio Ghibli), Shinkai tem um jeito peculiar de retratar seus personagens em diversos simbolismos. Conforme as estações do ano passam, seus personagens amadurecem, se descobrem e evoluem. O ato de deixar de entrar no trem evidencia o medo do futuro, do desconhecido, de seguir adiante. Esses são apenas alguns simbolismos imagéticos explorados na trama de O Jardim das Palavras.

    Porém, mais importante é a forma como o diretor trata do “amor”, como algo que vai além da relação física e romântica (que podemos dizer com segurança que é o sentido mais comum quando retratamos deste sentimento) e engloba o afeto interpessoal do cotidiano e a admiração que temos por outras pessoas, as quais são responsáveis por não apenas nos fazer bem diariamente, como nos fazem evoluir como pessoas, nos ajudam a superar nossos medos e nos ensinam novamente a caminhar com nossos próprios pés.

    O Jardim das Palavras é um média-metragem belíssimo (tem apenas 40 e poucos minutos de duração) que explora sentimentos belíssimos, tanto os bons quanto ruins, mas que fazem parte da vida de todos nós. Visualmente arrebatadora e acompanhada de uma trilha sonora sensível, a obra mostra que as pessoas julgando Shinkai como “sucessor” de Miyazaki estão corretas.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.