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  • Crítica | Nausicaä do Vale do Vento

    Crítica | Nausicaä do Vale do Vento

    As pessoas sentem fome em saber sobre os limites do cinema de animação. Uma curiosidade válida e saudável que fez o cinema, nos últimos anos, produzir experimentos do tipo de Com Amor, Van Gogh e Uma Aventura Lego – filmes que foram longe na experimentação de novas técnicas de animação. Mais é um gênero ainda pobre de ousadia, carente de ambição mesmo em 2019. É claro que Valsa com Bashir, o brasileiro O Menino e o Mundo e o ótimo curta-metragem El Empleo quase desmentem o fato, e não podemos esquecer da injeção de credibilidade de Robert Zemeckis em Uma Cilada Para Roger Rabbit e de outros no jogo do antes e depois, ampliando as veredas artísticas dessa forma ainda infantilizada por ser mais consumida pelas crianças. Contudo, há léguas a se percorrer nessa estrada para futuros projetos virem a provar, a todos os públicos (e idades) o potencial inexplorado desse gênero, já que a Pixar, aqui no ocidente, parece ter finalmente abandonado a era de ouro que começou em Toy Story, e parece ter terminado na terceira parte da saga dos brinquedos aventureiros.

    Enquanto isso, no oriente, a tal ‘era de ouro’ da animação não veio de uma empresa de mil cabeças, e sim, de um homem só: Hayao Miyazaki, e seu pequeno estúdio Ghibli. Em Nausicaä do Vale do Vento, o mestre elaborou uma ficção ilustrada e superior a grande maioria das ficções científicas já listadas no cinema moderno, feito nobre para uma premissa tão simples, marca registrada do cineasta. Aqui, num cenário pós a destruição humana do seu meio ambiente, a trama (crítica sobre as consequências do apocalipse) foca na princesa Nausicaä, uma metáfora para a esperança juvenil mesmo em um mundo de trevas, e nas tentativas da corajosa adolescente em trazer equilíbrio entre a humanidade e a natureza por onde quer que ela passe. A história corre solta, um deleite para com a habilidade do diretor que em plenos anos 80 uniu história com técnica, sendo que ambas poderiam ser projetadas separadamente e seu valor, manter-se intacto. Assim, Do Vale do Vento vai equilibrando filosofia, poesia e ecologia com uma única regra: fazer o espectador absorver a importância da obra em um sentido além do Cinema. E em tempos de aquecimento global e debates ao tema, o efeito é puramente transitório da tela para a nossa percepção pessoal.

    Quiçá a arte de Miyazaki tivesse sido lançada mesmo que de modo tímido na época de prata de Walt Disney, na metade do séc. XX para o público ocidental, mimados por contos “inofensivos” de bruxas e príncipes encantados até hoje (vide Frozen), daria para imaginar o impacto nada subliminar que teria a recepção da filmografia do cineasta num público atraído apelas pelo padrão das produções de Hollywood. Digo por experiência própria: quando criança, fui cinéfilo iniciante e habituado com Os Aristogatas, obra pertencente a última leva dos clássicos produzidos em 2D pela Disney, e ao assistir na década de 90 a Nausicaä, a fiel adaptação do mangá homônimo, tal foi minha surpresa ao descobrir que não só havia uma clara limitação ao enorme potencial dos desenhos animados do ocidente que eu tanto assistia no meu videocassete, mas principalmente, descobri que havia um mundo cheio de possibilidades, fortes e maravilhosas, para a construção de outros mundos coloridos e criativos a minha frente. Algo que Hollywood não permite na maioria de seus filmes, na sua jornada por infantilizar pais e filhos através de gerações.

    Se para eles o céu tem limite (e nuvens de algodão doce), para Miyazaki e seus seguidores, não. O diretor de A Viagem de Chihiro, ainda a melhor animação do século, sempre ilustra em suas aventuras irresistíveis o que beira o proibido no cinema infantil. Uma coragem digna de samurai que falta aos cowboys de Hollywood mesmo nos tempos mais liberais da Pixar (essa chegou perto do diferencial mundial de Miyazaki com Wall-E, em 2008, e nos temas adultos do ótimo Up: Altas Aventuras). Contudo, devido ao sucesso internacional do mangá e do filme em questão, o sensacional estúdio Ghibli permanece desde 1985 como o mais influente do mundo das animações, tendo uma influência direta e/ou subjetiva na realização da maioria esmagadora de produções orientais e ocidentais a partir daí (mesmo naquelas de técnicas específicas, como o stop-motion de A Fuga das Galinhas ou na pintura animada de O Velho e o Mar). Se muitos fãs preferem as obras posteriores ao início desse “monopólio de qualidade” já estabelecido, Nausicaä foi o estopim para o célebre mosaico de maravilhas que o filme pertence. Afinal de contas, a filmografia de Miyazaki é um tesouro nacional para o Japão, e quiçá, ao vasto legado artístico da humanidade.

  • 10 Filmes com Temáticas Feministas (Pouco Lembrados)

    10 Filmes com Temáticas Feministas (Pouco Lembrados)

    Neste 8 de Março, confira nossa lista de longas com dramas políticos, cinema marginal, lutas contra o preconceito, histórias reais e comédias escapistas.

    Nesta quinta-feira é celebrado o Dia Internacional da Mulher. Três anos atrás, algumas participantes do Vortex Cultural relembraram a importância deste dia de luta e listaram 10 filmes cujas personagens femininas tinham um traço marcante e alguma discussão sobre o gênero. Em 2018, a seleção é um pouco de resgate de alguns filmes pouco lembrados, mas ainda assim que mostram a importância do feminismo. Fight like a girl!

    (confira também nossa lista de Filmes com Personagens Femininas Marcantes).

    Possuída (Clarence Brown, 1931)

    10 anos antes da histórica independência feminina da protagonista mulher de Rosalind Russell, em Jejum de Amor, Possuída já profetizava a igualdade entre os sexos em plena década de trinta, tão à frente do seu tempo, mesmo que numa concepção estética em partes ultrapassada.

    A Mulher do Dia (George Stevens, 1942)

    Uma guerra dos sexos banhada pela comédia, pelo olhar leve do entretenimento ainda que ácido e satírico de George Stevens, mas o certo aqui é uma coisa só: Depois da presença da jornalista Tess (Katharine Hepburn, fantástica) no cinema americano, o papel das protagonistas femininas nos grandes, pequenos e médios filmes dos estúdios de Hollywood nunca mais foi o mesmo, abandonando a partir de A Mulher do Dia e outros filmes tão importantes quanto inúmeros arquétipos e conveniências que as plateias tanto se acostumaram a tomar como verdade singular, em meio às temáticas das mídias que influenciam essa tal de opinião pública.

    Joana D’Arc (Victor Fleming, 1948)

    Aqui, Ingrid Bergman se faz como o símbolo da liberdade, Joana D’Arc, encapsulando com garra, em suas diversas e poderosas significações dentro do filme, o quanto o símbolo feminino pode ser versátil nas situações compelidas a ele, equilibrando toda a sensibilidade (a flor da pele) de uma pecadora submetida a sua crença, com a força (tão infalível quanto suas estratégias militares) de uma lutadora medieval para alcançar a custosa liberdade francesa contra os ingleses, numa época que ler ou escrever não eram de forma alguma exigências às mulheres – Joana era de fato analfabeta, encontrando na ultra expressiva Bergman uma intérprete ideal.

    Mônica e o Desejo (Ingmar Bergman, 1953)

    A feminilidade jovial e naturalista (e muito mais consequente que muitos críticos acreditam) mostrada por Ingmar Bergman numa das suas maiores polêmicas, sendo essa talvez digna do pódio. Isso porque, nos anos 50, essa liberdade com a figura feminina de uma Lolita foi um escândalo.

    Carmem Jones (Otto Preminger, 1954)

    Antes de Amor, Sublime Amor afirmar (e com toda razão, como a história vem provando) que não é possível ser feliz na América se você não for branco(a), o mestre Otto Preminger pegou uma ópera e transformou (guiado pela imagem de Dorothy Dandridge, a primeira mulher afrodescendente a ganhar o Oscar de Melhor Atriz, se a premiação fosse justa) em celebração simbólica parte da identidade e da realidade negra numa América racista e machista, tudo num cinemascope lindíssimo e contando com grandes músicas, atuações e uma glorificação própria.

    Mamma Roma (Pier Paolo Pasolini, 1962)

    Uma das mais impactantes e profundas odes a mulher na história dos filmes, refletindo na história de uma mãe, a força primordial do feminino, diante de um mundo duro e conflituoso. Acima de tudo, é arte pois é cinema, é de qualidade pois é Pier Paolo Pasolini, mas é vida, pois é materno.

    A Mulher de Todos (Rogério Sganzerla, 1969)

    Primeiro que Rogério Sganzerla não fazia filmes, era esteta de manifestos filmados com uma câmera em cima do ombro através de suas vertigens criadoras que tanto inspirou o cinema brasileiro, antes de ser gourmetizado pelo marketing internacionalista dos anos 2000 pós-Cidade de Deus. Em A Mulher de Todos, nota-se o quanto o cinema marginal era absolutamente incontrolável na sua concepção incômoda às diretrizes eurocêntricas da produção cultural brasileira considerada até hoje como de bom-gosto; um bicho arredio sem rédeas e encarnado aqui pela icônica atriz Helena Ignez, e depois de proferido seu nome, não há mais nada a dizer.

    A Princesa Mononoke (Hayao Miyazaki, 1997)

    Mais uma aula honesta e soberba de cinema por Hayao Miyazaki, indo muito além dos gêneros. É incrível como seus épicos propriamente ditos parecem todos saídos do mundo de “Sonhos”, de Akira Kurosawa. É de fantástica trilha sonora e personagens vivendo esse impiedoso mundo de ação.

    A Vida, Acima de Tudo (Oliver Schmitz, 2010)

    Como a África enxerga o elemento feminino, e como sobreviver ao longo de uma narrativa invariavelmente dramática numa zona que subestima e inviabiliza sua figura o tempo todo sob as égides de um machismo intrincado, culturalmente. A Vida, Acima de Tudo é sobre isso, sobre tudo isso. Sobre uma garota, um mini-mulherão (negro) tentando apenas salvar as suas raízes.

    She’s Beautiful When She’s Angry (Mary Dore, 2014)

    Documentário feminista que resgata, com cenas de arquivo de força impressionante, uma série de relatos de uma história quase apagada pelo passar das décadas, sobre as inúmeras mulheres que fundaram um movimento social formado, e organizado, em nome dos seus direitos gerais, de 1966 a 1971; sobretudo imparcial ao peso de uma voz política subversiva e coletiva, e às atenções conquistadas, mas também as contradições existentes em todo movimento, é um documento filmado fundamental e inspirador, mesmo nos dias de hoje, para aqueles que acham que feminismo e radicalismo podem ser, apesar de tudo, sempre considerados a mesma coisa.

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  • Crítica | O Jardim das Palavras

    Crítica | O Jardim das Palavras

    o jardim das palavrasTakao Akizuki é um estudante de 15 anos que um dia aspira ser um fabricante de sapatos. Em manhãs chuvosas, Takao deixa de fazer a baldeação no metrô e decide matar as primeiras aulas do dia para poder dar uma volta pelos jardins do Parque Nacional Shinjuku Gyoen (localizado em Tóquio). Se acomodando debaixo de um “pergolado” para desenhar sapatos femininos, Takao conhece Yukino, que coincidentemente sempre está presente nas manhãs de dias chuvosos – o que ocorre com certa frequência considerando a época de chuvas (junho, no Japão) – faltando trabalho para tomar algumas cervejas enquanto observa o parque e a chuva.

    O que inicialmente seriam apenas dois estranhos que coincidentemente sempre se encontram no mesmo lugar em dias chuvosos, começa a se tornar uma amizade peculiar entre duas pessoas que, de certa forma, estão buscando um escapismo de suas realidades.

    o jardim das palavras - garden of wordsMakoto Shinkai é um diretor conhecido no Japão pela sutileza artística de suas animações e a condução narrativa guiada pela sua sensibilidade estética. Conhecido por alguns como o sucessor do mestre Hayao Miyazaki (diretor de clássicos do Studio Ghibli), Shinkai tem um jeito peculiar de retratar seus personagens em diversos simbolismos. Conforme as estações do ano passam, seus personagens amadurecem, se descobrem e evoluem. O ato de deixar de entrar no trem evidencia o medo do futuro, do desconhecido, de seguir adiante. Esses são apenas alguns simbolismos imagéticos explorados na trama de O Jardim das Palavras.

    Porém, mais importante é a forma como o diretor trata do “amor”, como algo que vai além da relação física e romântica (que podemos dizer com segurança que é o sentido mais comum quando retratamos deste sentimento) e engloba o afeto interpessoal do cotidiano e a admiração que temos por outras pessoas, as quais são responsáveis por não apenas nos fazer bem diariamente, como nos fazem evoluir como pessoas, nos ajudam a superar nossos medos e nos ensinam novamente a caminhar com nossos próprios pés.

    O Jardim das Palavras é um média-metragem belíssimo (tem apenas 40 e poucos minutos de duração) que explora sentimentos belíssimos, tanto os bons quanto ruins, mas que fazem parte da vida de todos nós. Visualmente arrebatadora e acompanhada de uma trilha sonora sensível, a obra mostra que as pessoas julgando Shinkai como “sucessor” de Miyazaki estão corretas.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.

  • Crítica | Vidas ao Vento

    Crítica | Vidas ao Vento

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    Vamos falar de amor? Pelo menos no que se difere da paixão, no limite das concepções deste mundo. Sim, l’amour, o componente imprescindível ao artista, homem de lata sem o dito, perturbado por natureza a quem, de fato, a paixão nunca engana por rimar sim com emoção, e não com a evolução para se tornar um sentimento mais que razoável: Invencível. A sede pelo fazer artístico e os desafios imediatos do mesmo. É uma questão de amor, nua e crua, pois quem não o carrega não suporta a produção de um filme por mais de duas horas; tempo suficiente à curiosidade (paixão) evaporar. Cinema não é sexo, é fazer amor sem preservativo, e das crias de Hayao Miyazaki, Vidas ao Vento não poderia faltar nos porta-retratos da estante do avô. “Eu esqueci como é o arco-íris”, desabafa um dos personagens, persona de Santos Dumont e Yasujiro Ozu (que o leitor interessado entenda o porquê da comparação), casado com sua ambição profissional pelo voo; fiel a enfrentar e interpretar as tempestades da vida, eterna criança com seus aviões de papel por aí. L’amour.

    Ar é liberdade, elemento que forja e depois liberta a alma mais densa da expressão humana, contra a derrota face ao terrível solo. É astuto manter, além de um dos pés no chão, as asas bem abertas a tecer a aquarela de Toquinho feito simbolismo que é, aqui, pincelado em extrema graciosidade em grado 2D, minucioso e rico como o ponto de assimilação entre duas cores do mesmo prisma. Cada avião contém uma tonalidade num mundo paralelo ao século XX, numa das versões ficcionais e líricas mais bem sucedidas da brutal realidade bélica entre as décadas de 1940 e 1950 no gênero de animação, se assim deve ser apontado, justamente por não fugir da atmosfera imprevisível que tomou o planeta de assalto, e inserir neste cenário uma perspectiva não apologética, pro bem e pro mal, no contexto da guerra, em especial. A guerra é de um ser humano consigo mesmo, o que não deixa de ser corrente em qualquer confronto solitário.

    As cores agitam a saliva – atiçam nossas digitais e o que habita a sagacidade do toque; dos matizes, os gostos – do peculiar, os signos e as digitais graças ao traço inconfundível das produções de um ilusionista pertencente à classe dos que servem à preservação do valor de velhos truques, mas também com a importância latente do fator visionário e o bem-estar do Cinema à frente de qualquer legado, exceto o que pode vir a ser construído nos avanços do presente e na honraria de um pretérito oxigenado; é preciso de uma história a se contar.

    Vidas ao Vento é a assembleia pública e o manifesto social de um artista solitário em seu ponto de vista único, e que trabalha em grupo, para com um público global mais e mais deficiente de honestidade cinematográfica, e uma brisa, em meio à aridez da maioria das obras pós-modernas, é bom ressaltar: Miragens, inofensivas como um sopro. Não é este o caso de Miyazaki.

    O relógio bate em duas horas ao passo do criador de Meu AmigoTotoro (1988) e A Viagem de Chihiro (2001) bater o martelo na concepção sensorial proposta, de leves furos de roteiros e digressões de consciência dramática, quase imperceptíveis quando o foco aponta no modo de narração da trama e levanta voos mais altos tanto na elaboração referencial a alguns expoentes de sua própria filmografia, desde o must-see obrigatório e três vezes decenário Nausicaä do Vale do Vento (1984), até na certeza irreversível, a partir de um ponto da carreira, de haver sim um sentido não mais oculto para que aviões de papel não sejam mais o bastante. Não mais.

    Ao infinito e além, é claro, porém, ainda a respeito do passado e suas implicações estáveis, Miyazaki é o único diretor de animação vivo que, agora, com a desculpa de usar um viés leve, humanitário e poético nas invenções da 2° Guerra Mundial, junto das próprias em forma de personagens que não existem sem suas invenções, revive e mantém, de forma que nenhum estúdio de animação francês ou americano consegue, o conceito atemporal da “moral da história”, aquela dos idos de Walt Disney e outros contadores de arranjos, de outras mídias e olimpos, como se o cineasta e seu lendário estúdio Ghibli ordenassem uma reverência ao que já foi conjurado até aqui. Talvez porque a paixão do vovô pelos seus netos já tenha virado amor há muito. Não há mais volta, aliás.

  • Resenha | Sandman Apresenta – Os Caçadores de Sonhos

    Resenha | Sandman Apresenta – Os Caçadores de Sonhos

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    Não sei se foi você que veio a mim ou eu que fui até você. Nem se foi realidade ou se foi sonho, adormecido ou desperto. Estou perdido nas trevas de um coração abatido. Se foi sonho ou realidade, que decidamos nesta noite.”

    Digo desde já que as chances de eu ser imparcial falando de Neil Gaiman são remotas. É com certeza um dos escritores que mais me influenciaram; admiro-o com todo o respeito e sempre fico empolgado quando vejo um livro ou quadrinho que foi roteirizado pelo mesmo. Não foi à toa que não demorei cinco minutos para comprar Sandman – Os Caçadores de Sonhos quando vi em uma livraria.

    Primeiramente, esta obra foi lançada em formato de livro, em comemoração ao décimo aniversário de Sandman. À época, Gaiman transcrevia para o inglês os diálogos de filmes de Hayao Miyazaki, o que o fez estudar sobre mitologia japonesa. Foi da leitura do conto A Raposa, o Monge e o Mikado dos Sonhos que surgiu a inspiração para a adaptação da história para o mundo de Sandman, pois havia enxergado uma grande semelhança com o universo do seu personagem. Juntou-se ao artista Yoshitaka Amano e concluiu um trabalho que foi recebido de braços abertos por todos os fãs. Dez anos se passaram e P. Craig Russell resolve adaptar a obra literária de Gaiman para uma história em quadrinhos. Felizmente, o resultado deste trabalho grandioso se encontra em minhas mãos.

    Os Caçadores de Sonhos conta a história de um Japão antigo em que criaturas mitológicas e lendas viviam entre os humanos. Certo dia, uma raposa apostou que faria um humilde monge perder a guarda de seu templo, porém acabou se apaixonando por ele. Um maldoso senhor, que dominava as artes de magia demoníaca, cobiçou a força interior do monge e a queria roubar para si a qualquer custo. O Rei dos Sonhos se vê em favor de um amor que nunca deveria ter acontecido.

    Não é necessário dizer mais nada sobre a história. A sinopse acima é o suficiente para ilustrá-la na imaginação virgem de quem ainda não a leu e atiçar a curiosidade.

    P. Craig Russell faz um trabalho grandiosíssimo adaptando com delicadeza para a linguagem dos quadrinhos uma história que já havia feito bastante sucesso. Consegue transpor em imagens todos os elementos e a atmosfera presentes nas histórias de Neil Gaiman. Se aproximando ainda mais do universo em que se passa o conto, o artista, juntamente com o colorista Lovern Kindzierski, mistura a beleza da arte asiática e técnicas da art nouveau europeia, para assim criar um padrão de proximidade da arte com aquilo que o leitor está lendo. Os traços de Russell, juntamente com as cores de Lovern, são simples, porém ricos em detalhes, sempre valorando os elementos importantes de cada quadro que se vislumbra.

    Para aqueles que já conhecem as histórias de Sandman, este livro é uma obrigação, pois ainda podemos contar com ilustrações lindíssimas de vários artistas diferentes (como Mike Mignola, Yuko Shimizu, Paul Pope, Joe Kubert e do próprio Russell) nos extras do encadernado.

    Falar mais sobre este lançamento apenas seria continuar insistindo no óbvio. Minha intenção inclusive não é dar spoilers, longe disso, pois estaria incorrendo em um erro gravíssimo para aqueles que leem as obras de Gaiman. Meu objetivo, porém, é incentivar a leitura e a experimentação (porque é assim que visualizo a leitura deste, como uma experiência) desta belíssima obra.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.

  • Agenda Cultural 16 | Religião, Política e… Hello Kitty?

    Agenda Cultural 16 | Religião, Política e… Hello Kitty?

    Cinema em alta esta semana na sua Agenda Cultural. Me refiro aos convidados Marcos Noriega e Angélica Hellish do site Masmorra Erótica. Teatro está de volta neste edição, que também conta com blues, cinema francês e uma dica literária do fim do mundo!

    Duração: 69 min.
    Edição: Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira

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    Comentados na edição

    Quadrinhos

    Bórgia Vol. 3
    Testamento: Magneto

    Literatura

    A Estrada – Cormac Mccarthy

    Teatro

    Exculaxados

    Música

    Stevie Ray Vaughan – Couldnt Stand The Weather (legacy edition)

    Cinema

    Todo poderoso: O filme – 100 anos de Timão
    Um Novo Caminho
    Uma noite em 67
    Salt
    Ponyo – Uma Amizade Que Veio do Mar

    Produto da Semana

    Vibrador Hello Kitty