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  • Conheça Morbius, o Vampiro Vivo

    Conheça Morbius, o Vampiro Vivo

    Morbius é um personagem trágico das histórias do Homem-Aranha, baseado em um conceito de vilão animalesco, como era bem comum entre os rivais do Cabeça de Teia. Criado pelo roteirista Roy Thomas e pelo desenhista Gil Kane, ele é o primeiro antagonista do herói que não foi criado por Stan Lee, visto que na época o escritor trabalhava no roteiro de um filme que jamais saiu.

    A estreia do personagem foi no ano de 1971 em  Amazing Spider-Man 101. Na época, Peter Parker estava com dois pares de braços adicionais, fruto de uma poção que ele tomou para perder seus poderes, que obviamente deu errado. Ao tentar se esconder no laboratório do Doutor Curtis Connors, o Aranha acaba sendo atacado por Michael Morbius, um cientista grego que se submeteu a um tratamento envolvendo choque elétrico e morcegos-vampiros.

    A origem do personagem foi mais aprofundada na edição seguinte, desenvolvendo suas motivações e origens, retratando a existência de uma doença degenerativa que possuía e da experiência que se submeteu, tornando-se um sujeito que precisava se alimentar de sangue para sobreviver, assim como os vampiros clássicos, mas com origem uma científica e não mitológica.

    Morbius tem super-força, capacidade de voar, hipnose, super velocidade, ecolocalização e até um fator de cura acelerado. O personagem já era conhecido por sua genialidade antes mesmo de tornar um vampiro, ganhando um Nobel em fisiologia, contudo, com a experiência sofrida passou a ter capacidades mentais ainda mais avançadas. Também adquiriu alergia a luz solar, mas não necessariamente fatal.

    O personagem só foi criado por conta da queda do código de censura que vigorava sobre os quadrinhos americanos, revisto no início de 1971. Alguns anos depois, em 73, a Marvel lançou a HQ Vampire Tales, com Drácula, Blade, e claro, Morbius, através da subsidiária Curtis Magazines. Nessas histórias haviam elementos típicos de produções de vampiros, como cultos satânicos, sacrifícios de moças virginais, etc.

    Morbius teve embates com o Doutor Estranho, na história Vampiric Verses, da revista Doctor Strange, Sorcerer Supreme 14. O Vampiro e o Mago se juntam a Irmão Vodu e combatem o ressurgimento de vampiros milenares. Nesta história ele é mostrado como um sujeito cheio de conflitos, fato que deve estar nesse novo filme de Daniel Espinosa protagonizado por Jared Leto.

    Outro momento notável das histórias é Sub-City, lançada em 1991, quando o Aranha descobre que o anti-herói tem um domínio nos esgotos de Nova York. Essa fase foi desenhada pelo criador de Spawn, Todd McFarlane, e é bastante lembrada pela sua arte.

    Morbius fez parte do grupo Filhos da Meia-Noite, iniciativa idealizada pelo Doutor Estranho, presente na revista Rise of the Midnight Sons, de 1992, grupo  formado por personagens mais  obscuros, como Blade, Hannibal King, Morbius obviamente, os Motoqueiros Fantasma Danny Ketch e Johnny Blaze, os Redentores do Darkhold, entre outros. Essa era mais uma equipe da Marvel que tentou se firmar pegando carona no sucesso dos X-Men, mas, como boa parte dos outros grupos “caça-niqueis”, não teve vida longa.

    Em 2019 foi lançada uma série, chamada Morbius: The Living Vampire, onde novos poderes do personagem são apresentados, como a capacidade de hipnose, lançada recentemente pela Panini  no Brasil.

    O personagem também participou de outras mídias, com a mais notável sendo a versão de Homem-Aranha: A Série Animada, de 1994. Esse desenho tinha umas peculiaridades, pois não podia aparecer sangue, socos ou armas de fogo, então ele sugava plasma, com esferas sugadores da essência vital nas palmas das mãos.

    Nessa versão ele tinha uma relação com Felícia Hardy, a Gata Negra que era um dos interesses românticos de Peter no desenho. O vampiro também teve uma aparição no game Spider-Man 3, que adaptava para a geração 128 bits o filme Homem-Aranha 3.

    Além disso, Morbius também apareceu brevemente na série animada Ultimate Homem-Aranha, em uma versão equivalente a sua contraparte do universo Ultimate. Aqui, ele tem ligação com a Hydra e aparece boa parte do desenho como um monstro de aparência de morcego.

    Curiosidades:

    • O personagem Blade só tem a capacidade de andar a luz do dia graças a Morbius. Nos quadrinhos, em uma luta entre os dois, o Vampiro Vivo morde Blade e a mistura entre a toxina de Michael, com as enzimas do caçador de vampiros causaram nesse último uma mutação, passando então a conseguir andar de dia, tal qual o personagem de Thomas e Kane;
    • Gil Kane se inspirou no Conde Drácula de Jack Palance, que fez sua aparição em Drácula, O Demônio das Trevas (1974), para compor o visual da versão humana de Michael Morbius. O rosto dos dois personagens é bastante similar;
    • Loxias Crown, que será interpretado por Matt Smith, no filme é um personagem periférico das histórias de Morbius. Ele passou a ser um vampiro vivo tal qual o personagem que dá nome ao longa.

  • Conheça o Pacificador

    Conheça o Pacificador

    O Pacificador é um personagem da DC Comics, que ganhou notoriedade após o filme O Esquadrão Suicida de James Gunn. O personagem foi criado por Joe Gill e Pat Boyette, na editora Charlton Comics, em novembro de 1966, na revista Fightin’ 5 #40.

    Seu alter-ego, é Christopher Smith, e ele quase fez parte da graphic novel Watchmen, na época em que Alan Moore ainda desejava usar os personagens da Charlton para contar sua história. Com a decisão da DC em preserva-los, seu papel coube ao Comediante, que era consideravelmente mais cínico que Smith, e teve uma boa recepção, não à toa que boa parte da personalidade dele hoje advém do personagem criado por Moore.


    Inicialmente, o Pacificador mantinha um código ético inabalável que usava armas estritamente não letais, embora com o tempo tenha se tornado um vigilante mais violento, disposto a fazer sacrifícios pelo bem maior, fato mostrado no longa de Gunn e aprofundado em sua série. Com o tempo, passou a agir tal qual em sua versão live action, como um homem perturbado, com graves questões mentais — isso pode ser observado na minissérie em 4 edições Peacemaker, escrita por Paul Kupperberg e desenhada por Tod Smith, lançada em 1988 nos EUA e 1991 no Brasil em DC Especial #06, publicada pela Editora Abril. Essa versão pós-Crise nas Infinitas Terras remodela o personagem após ser reintroduzido no universo DC, com uma conotação política e psicológica maior, tendo em vista que o personagem acredita que sua mente foi distorcida por seu pai abusivo e nazista quando ainda era jovem, e assim, muitas vezes ele é retratado ora como um herói, ora vilão… ou algo no limiar entre essas duas coisas.

    Com a compra Charlton pela DC nos anos oitenta, o Pacificador passa a figurar junto a outros personagens, mas continua ao lado de seus antigos parceiros, como Questão, Besouro Azul e Capitão Átomo — substituídos em Watchmen, respectivamente, por Rorschach, Coruja e Dr. Manhattan.

    Seus poderes e habilidades incluem uma condição e resistência física sobre-humana, tecnologia de voo, um capacete de comunicação high tech que confere habilidades — e variam conforme o gosto do roteirista. Além disso, é especializado em combate corporal, espionagem, tática e estratégia, além de possuir acesso a armas militares avançadas e ser um exímio atirador.

    Chris Smith era filho de um agente nazista que trabalhou nos campos de concentração durante a ocupação da Polônia pelo III Reich. No seriado a produção fez algumas mudanças, para começar ele está vivo e se chama Auggie Smith, interpretado por Robert Patrick, famoso por ser o T-1000 em O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final. Patrick é bastante conhecido nos EUA por seu alinhamento político junto à extrema-direita. Na série, ele recebeu a alcunha de O Dragão Branco, personagem da DC conhecido por ser um terrorista e supremacista branco.


    Gunn optou por uma amálgama. O Dragão Branco nos gibis era William James Heller, sujeito criado por seu avô nazista, depois se tornou um ativista da supremacia ariana, assumiu a alcunha de William Hell, e após brigar com um personagem homônimo, decidiu mudar seu nome, e começou a usar uma armadura vermelha e branca, inspirada nas roupas da Klu Klux Klan, grupo historicamente racista e fascista.

    O Dragão Branco fez parte de alguns grupos de vilões, entre eles o ajuntamento de bandidos nazistas, IV Reich –
    membros como Baronesa Blitzkrieg, Barão Gestapo e Capitão Suástica — e depois no Esquadrão Suicida, onde foi controlado por Amanda Waller e até tentou matá-la. Além de Heller, Daniel Ducannon, vilão do Gavião Negro também utilizou esse nome, mas ao contrário do original, ele tinha poderes pirotécnicos e voava.

    O grupo IV Reich

    O primeiro Pacificador, Christopher Smith, é comumente retratado como insano. Seu capacete além de possuir sensores de presença e outros aparatos, também captura os pensamentos dos fantasmas de quem ele já matou, ao menos é o que acredita o personagem. Na já citada minissérie de 1988, o personagem é enviado para o Vietnã e se mostra como um soldado bastante eficiente, mas tomado pela culpa pelo passado nazista de seu pai.

    Na prática, ele agia como um sujeito que inventava inimigos imaginários, sendo eternamente perseguido, mesmo que somente em sua mente, e essa faceta é muito bem enquadrada por John Cena e pela atmosfera criada pela série de Gunn.

    Apesar de ter claros problemas de conduta, o personagem já fez parte de alguns grupos, como a organização secreta Xeque-Mate, Esquadrão Suicida, Shadow Fighters, L.A.W. (Living Assault Weapons) e League Busters. Além de Smith, outros dois personagens usaram a alcunha de Pacificador, como Mitchel Black, que agiu na época da Crise Infinita, além de outra figura, misteriosa e sem identidade revelada, que assumiu o papel em Justice League International #65, de junho de 1994.

    Curiosidades:

    • O personagem apareceu em Reino do Amanhã, num flashback onde ele, junto aos outros heróis da Charlton, brigam contra o vilão Parasita. Vale perceber a influência de Star Wars, pois seu capacete lembra o de um mandaloriano, estilo Boba Fett. Na história Chris morreu com seus companheiros, quando o Capitão Átomo explodiu;

    • Em algum ponto, ele lideraria um grupo de soldados, chamado Força Pacificadora, que atuaria no Oriente Médio, em busca de “combater o terror”, mas o projeto foi abortado antes mesmo de ser colocado em prática, pelo presidente Gerald Ford;
    • John Cena é o primeiro ator a interpretar o personagem em carne e osso. O ex-lutador de wrestler, famoso por seu carisma e por ter uma trajetória semelhante a Dwayne “The Rock” Johnson parece ter afeiçoado bastante a Smith e seu alter-ego, tanto que assina a produção executiva dessa série;
    • Na série, há participações de alguns personagens da DC, como o já citado Dragão Branco, o mascarado Vigilante, introduzido em novembro de 1941 na revista Action Comics # 42,embora no seriado a versão do Vigilante é segunda, Adrian Chase, personagem introduzido em The New Teen Titans Annual #2 de 1983. Outra participação legal é a do Mestre Judoca, personagem também da Charlton, oriundo Special War Series #4 de novembro 1965;
    • A versão original do personagem pertence à Terra 4 do Multiverso da DC Comics, junto aos outros personagens da Charlton, em PAX Americana, de Grant Morrison e Frank Quitely, podemos acompanhar um pouco desse universo em uma releitura de Watchmen.

  • O Homem-Aranha e Suas Versões Animadas

    O Homem-Aranha e Suas Versões Animadas

    O Homem-Aranha é um dos heróis de histórias em quadrinhos mais populares, rivalizando com o Batman na editora concorrente. É fácil simpatizar com a personagem, dada sua humanidade e suas dificuldades típicas do homem comum. Dessa forma, é natural que ao longo das décadas a personagem tenha ganhado vários títulos em quadrinhos, filmes, games e, claro, séries animadas.

    Homem-Aranha (Spider-Man, 1967-1970)

    A primeira recebeu o título de Homem-Aranha e teve produção assinada pela Grantay & Lawrence e Kratz Animation. A animação foi exibida durante os anos de 1967 a 1970 e teve um total de 52 episódios. O Aranha trabalhava no Clarim Diário e tinha como interesse amoroso Betty Brant, que além de ser a primeira namorada do personagem, era o par romântico da época.

    Sua produção era muito barata, notando inclusive que as teias só cobriam parte do uniforme do Teioso. Essa também foi conhecida por dois fatos peculiares: a tradução do nome dos personagens nas primeiras dublagens brasileiras — Pedro Prado (Peter Parker), tia Maria (Tia May), Doutor Polvo (Dr. Octopus), J. Jonas Jaime  (J.J. Jameson) — e, claro, a montanha de memes envolvendo a animação.

    O seriado é tão barato que se torna engraçado, com alguns personagens clássicos e outros originais. Destaque para o Doutor Escorregadio, com poderes de… fazer o Aranha escorregar. Outra questão digna de nota é sua música tema, bastante emblemática, regravado até mesmo pelos Ramones, além de estar presente em quase tudo do Homem-Aranha, inclusive nos filmes para cinema.

    O Aranha só voltaria a ter uma nova animação nos anos oitenta. Nesse ínterim, houve uma série com atores, The Amazing Spider-Man, além de sua versão japonesa, Supaidāman.

    Homem-Aranha (Spider-Man, 1981-1982)

    A nova série animada, intitulada apenas como Homem-Aranha, começou em 1981 e foi até o ano seguinte. O traço dela lembrava a versão de John Romita, e a trama era ambientada no período em que o herói cursava faculdade na Universidade Empire State.

    A série tinha um ar ingênuo e sérias restrições a violência. Acabou se encerrando com apenas 26 episódios e teve transmissão simultânea com Homem-Aranha e Seus Amigos. Justamente por isso teve vida curta e acabou ofuscada pelo seriado de maior sucesso do personagem na época.

    Homem-Aranha e Seus Amigos (Spider-Man and His Amazing Friends, 1981-1983)

    Homem-Aranha e Seus Amigos tinha uma atmosfera semelhante ao seriado anterior, no entanto, com o acréscimo de dois outros personagens, Homem de Gelo e Flama, ambos colegas de turma de Peter na faculdade.

    Reza a lenda que a ideia era trazer o Tocha Humana, mas problemas de licenciamento impediram os produtores, e então criaram a personagem Flama, que teve até versão nos quadrinhos poucos anos depois em introduzida nos quadrinhos em Uncanny X-Men #193. Esse também é o desenho onde a parte de baixo do apartamento do Aranha é um laboratório, ficando à disposição dos personagens através de um botão que faz o chão inverter o sentido com o teto de baixo (imagina os frascos com substâncias de cabeça para baixo).

    Nos anos noventa houve duas versões que já analisamos: Homem-Aranha: A Série Animada e Homem-Aranha: Ação Sem Limites. Ambas não tiveram final, fato meio comum em aventuras do cabeça de teia em animações.

    Homem-Aranha: A Nova Série Animada (Spider-Man: The New Animated Series, 2003)

    Lançada em 2003 para aproveitar a fama do filme do Homem-Aranha, a animação Homem-Aranha: A Nova Série Animada foi o primeiro produto animado já comandado pela Sony. No início, seria uma versão do Homem-Aranha Ultimate, com produção de Brian Michael Bendis, mas tudo mudou com o sucesso do filme protagonizado por Tobey Maguire e dirigido por Sam Raimi.

    A qualidade da animação utilizava de efeitos 3D que hoje soam bastante datados, mas funcionava bem, principalmente em cenas noturnas. O roteiro era mais adulto, inclusive com algumas insinuações sexuais. A produção ficou a cargo da Saban Entertainment e a série foi exibida na MTV.

    Outro destaque era o elenco de dubladores, que contou com Neil Patrick Harris, Rob Zombie, Jeremy Piven, Michael Clarke Duncan e outros.

    Espetacular Homem-Aranha (The Spectacular Spider-Man, 2008-2009)

    Como a última animação, Espetacular Homem-Aranha também teve um bom início, duas temporadas entre 2008 e 2009, 26 episódios e conseguiu reunir um belo conjunto de coadjuvantes das histórias clássicas do Aranha.

    O produtor Greg Weisman esperava que a série tivesse 5 temporadas que lidariam com Peter se formando na Midtown Manhattan Magnet High School, e findaria com ele a caminho da universidade. No entanto em 2009 os direitos televisivos do personagem retornaram à Marvel, e após a compra da companhia pela Disney o desenho foi descontinuado. Esse fim prematuro foi bastante lamentado, pois a série conseguiu capturar a essência do personagem, possuía fidelidade ao material original e, claro, era bastante divertida.

    Ultimate Homem-Aranha (Ultimate Spider-Man, 2012-2017)

    Já na Disney, houve duas animações. A primeira, Ultimate Homem-Aranha, ficou no ar de 2012 a 2017. Seu traço era bonito, o tom das histórias apelava bastante para um tipo de humor que fez muitos fãs torcerem o nariz. Além disso, o roteiro usava e abusava de metalinguagem e quebra da quarta parede.

    Foi nesse seriado que boa parte dos personagens do Aranhaverso apareceram pela primeira vez no audiovisual, desde Miles Morales e Spider-Gwen ao Agente Venom. Em um arco de quatro episódios, Peter se encontra com algumas de suas contrapartes, anos antes da Sony lançar Homem-Aranha no Aranhaverso — ainda que isso já tenha sido feito na clássica animação dos anos 90.

    Marvel Spider-Man (Marvel’s Spider-Man, 2017-2020)

    Apesar do sucesso comercial de Ultimate seja com merchandising ou audiência, a Disney resolver encerrar a animação para dar lugar a Homem-Aranha, ou Marvel Spider-Man, que na data da publicação deste post ainda está em exibição. A qualidade da animação é bastante aquém e sua trama é bastante boba, colocando Miles, Peter, Gwen e outras versões estudando juntas e combatendo o crime.

    Outras versões animadas do herói ganharam holofotes, como a do Disney Júnior, Spidey e Seus Amigos Espetaculares, com bonecos em 3d cabeçudos, que lembram Esquadrão de Heróis da Marvel. As aventuras são bobinhas, mas divertidas para crianças em fase alfabetização.

    Por fim, se aguarda uma nova animação que mostraria os primeiros meses do Aranha de Tom Holland, com o nome Spider-Man Freshman Year, ainda sem muitas informações, com a promessa de que chegará ainda em 2022.

    E assim segue o herói aracnídeo, em diversas versões, que seguem mostrando sua essência, algumas mais acertadas e outras nem tanto, mas sempre levando em frente a máxima que Stan Lee e Steve Ditko pensaram para ele, de que com grandes poderes, vem grandes responsabilidades. Boa parte dessas versões (sobretudo as mais recentes) podem ser vistas nos serviços de streaming.

  • Melhores Filmes de Futebol

    Melhores Filmes de Futebol

    Futebol é o esporte mais popular do mundo, movimenta paixões, emoções, dinheiro, tradições, competitividade etc. No caso do Brasil, é uma obsessão tão intensa que se torna praticamente uma religião nacional. Sendo assim, é normal que a filmografia brasileira tenha se debruçado sobre o esporte bretão, e contrariando a máxima de que “não há bons filmes sobre futebol“, separamos uma lista com alguns bons exemplares entre produções nacionais e estrangeiras.

    Heleno (José Henrique Fonseca, 2011)

    Este é um drama que conta a história da lenda botafoguense Heleno de Freitas. Dirigido por José Henrique Fonseca, o longa narra a trajetória dramática sobre o jogador e o homem Heleno. Fonseca se baseou no livro homônimo do jornalista Marcos Eduardo Neves, e foca bastante em sua delicada biografia fora do campo, desse modo, o futebol é subalterno às tristezas e dissabores do protagonista. O desempenho de Rodrigo Santoro no papel principal é irrepreensível.

    O Futebol  (Sergio Oskman, 2014)

    O filme de Oksman apela para o emocional, a história mostra o esporte como símbolo da tentativa de pai e filho em voltar a ter laços sentimentais fortes. Sergio busca reativas o sentimento de familiaridade com seu pai, Simão, em meio a Copa do Mundo que o Brasil sediou em 2014, e para isso, decide voltar a sua cidade natal para acompanhar o torneio com seu parente, a fim de relembras os momentos mais felizes do passado de ambos. Essa tentativa resulta em um fracasso, e o modo que Oskman trata isso na história é forte e singelo. O uso do esporte como centro gravitacional desse universo é simbólico, pois, enquanto ele não é super importante para os personagens, serve de pretexto para essa empreitada que não dá certo, acaba conversando bem com a necessidade humana se conectar com os próprios sentimentos e com a necessidade que o homem adulto tem em se consertar com os que lhe são caros, ou quem já foi. Filme bonito  e emocionante na medida.

    Boleiros: Era Uma vez o Futebol (Ugo Giorgetti, 1998)

    A cinessérie Boleiros é possivelmente a exceção à regra no que toca o lugar-comum de que não existem bons filmes sobre futebol no Brasil. Ugo Giorgetti dirigiu duas versões, uma de 1998 e outra em 2006, mas o primeiro é sem dúvida alguma o mais inspirado entre eles. A história se passa em dois cenários básicos: um bar em São Paulo onde jogadores aposentados e veteranos conversam animadamente sobre suas carreiras e frustrações, e claro, os gramados. O elenco conta com estrelas como Lima Duarte, Elias Andreato, Cássio Gabus Mendes, Otávio Augusto, Rogério Cardoso e Flávio Migliaccio, e o formato de conversa de bar favorece o clima de resenha e o brilho de suas histórias, muitas delas inspiradas em fatos.

    O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias (Cao Hamburguer, 2006)

    Dirigido por Cao Hamburguer, que já tinha experiência com produtos ligados ao público infantil como o seriado Castelo Rá-Tim-Bum, o filme trata da história de Mauro, um menino fanático por futebol que herdou esse gosto do seu pai. O menino se muda para a casa do avô, um judeu ortodoxo vivido por Paulo Autran, bem diferente de seus pais. As férias que os pais de Mauro tiram são, na verdade, fruto da perseguição política dos militares. O esporte, em especial a Copa de 1970, entra como alvo dos sonhos do pai, do pequeno Mauro e até mesmo dos militantes contrários ao regime militar, que tentam em vão torcer para a Tchecoslováquia, sem conseguir esconder o fascínio pelo time de Pelé, Gerson, Tostão e Jairzinho. O desempenho de Michel Joelsas é ótimo, e Hamburguer consegue equilibrar bem o cenário caótico de perseguição política com o olhar mágico de uma criança sobre o futebol e sua relação com os pais desaparecidos.

    O Roubo da Taça (Caito Ortiz, 2016)

    Essa é uma das mais estranhas e bizarras histórias do país: o que ocorreu com a taça Jules Rimet do mundial de 1970? Há algumas versões dessa história no cinema nacional, mas a de Caito Ortiz lançada em 2016 se destaca pelo tom semelhante ao das chanchadas, misturando o humor estridente das novelas, com o nonsense da situação que envolve um grupo de ladrões maltrapilhos responsáveis pelo roubo do artefato mais importante do futebol da época. Thais Araújo e Danilo Grangheia estão muito bem, são engraçados e carismáticos, mas obviamente a estrela do filme é Paulo Tiefenthaler. O filme serve entre outras coisas para satirizar a política nacional e as instituições responsáveis pelo futebol no Brasil.

    Maldito Futebol Clube (Tom Hooper, 2009)

    Michael Sheen vive o lendário, supersticioso e vaidoso Brian Clough, treinador inglês que havia feito carreira nos pequenos times do Reino Unido. O pontapé inicial se dá com ele chegando ao clube mais forte do campeonato, Leeds United, após a saída de Don Reevie. O maior prodígio do filme é mostrar como funcionava os bastidores do esporte no seu país-fundador. Quem está acostumado a ver Sheen em sagas como Crepúsculo e Underworld talvez se surpreenda com o seu desempenho. Seu personagem é espirituoso, determinado, cheio de energia e insegurança, e a ode ao futebol se dá de maneira pragmática, mostrando o esporte como uma fogueira de vaidades.

    Febre de Bola (Dani M. Evans, 1997)

    Adaptação do livro homônimo de Nick Hornby, Febre de Bola é uma comédia romântica protagonizada por Colin Firth, um professor de inglês lidando com uma nova paixão, e paralelo a isso, acompanhamos sua obsessão pelo Arsenal, time inglês que passava por uma fase azarada e sem títulos. Por mais que o livro seja muito mais bem resolvido que o longa, há bons momentos nessa versão, especialmente quando mostra as diferentes etapas da vida do protagonista, grafando muitíssimo bem as manias e superstições do torcedor que frequenta estádios, mostrando que os hábitos dos ingleses não são tão diferentes dos nossos. O momento mais inspirado do filme se dá em seu desfecho ao retratar a festa da torcida após o título.

    Penalidade Máxima (Barry Skolnick, 2001)

    Penalidade Máxima é protagonizado por Vinnie Jones, expoente do cinema brucutu britânico e ex-zagueiro da seleção galesa de futebol. Esta é outra versão de Golpe Baixo, e em comum com o original, mostra atletas presidiários liderados por um jogador profissional mal falado, substituindo o futebol americano pelo futebol. O elenco conta com figuras carimbadas dos filmes de Guy Ritchie, repleto de humor físico e personagens carismáticos. As cenas de futebol são ótimas, conduzidas por gente que parece entender do esporte, mas o ponto positivo são os carrinhos e jogadas desleais, resultando na demonstração vívida do que é o futebol de rua.

    Um Time Show de Bola (Juan José Campanella, 2013)

    Esta animação é uma produção hispano-argentina, situada em um pequeno vilarejo argentino que remete a várias pequenas cidades do mundo. A qualidade da animação é grandiosa, os efeitos em computação gráfica e a textura dos personagens dão um tom quase tão mágico quanto o momento que os jogadores ganham vida. A obra de Juan José Campanella registra uma bela história sobre memória e pertencimento, além de ser uma ode ao futebol amador e as diversas modalidades oriundas dele, desde jogos de simulação mais física como totó e futebol de botão, até os mais modernos e interativos como jogos de videogame.

    El Chanfle (Enrique Segoviano, 1979)

    El Chanfle é produzido e estrelado por Roberto Gomez Bolaños, que vive um roupeiro do América do México, um dos clubes mais populares do país. Sua trajetória é de um homem atrapalhado, que quebra tudo o que toca, mas tem um bom coração e carrega sonhos simples. O elenco inclui Ramon Valdez, Florinda Meza, Maria Antonieta de Las Nieves e outros que compunham o grupo de personagens de Chaves, Chapolin Colorado, Dr. Chapatin (que inclusive tem uma breve aparição nesta longa) e demais histórias do Chespirito. O episódio que Chaves fala que seria melhor ver o filme do Pelé era, na verdade, uma propaganda deste filme. As cenas de futebol não são um primor, servem mais para que Carlos Vilagrán e seu Valentino possam brilhar como um jogador talentoso, porém mentiroso. No final, o que se percebe é uma obra que louva bastante o amor do povo mexicano pelo futebol.

    Uma Aventura do Zico (Antônio Carlos da Fontoura, 1998)

    Um time é formado por onze jogadores em campo, e o décimo primeiro filme da lista não é exatamente bom, mas é quase isso… Uma Aventura do Zico tem uma premissa insana, mostra o ex-jogador do Flamengo abrindo a chance de treinar crianças, e uma delas, frustrada por não ser escolhida, pede ao pai rico para fazer uma cópia exata do Galinho de Quintino, que ganha o “maravilhoso” nome de Zicópia. O filme mistura ficção científica, estética de televisão e até discussões bizarras sobre homofobia e machismo no esporte, por conta de uma menina que finge ser um garoto para treinar com o camisa 10 do Flamengo. Assistir os Coimbra enquanto família é assustador, pois nenhum deles parece ter qualquer intimidade com a câmera, e nem mesmo atores famosos como Eri JohnsonJonas Bloch salvam a dramaturgia. O filme vale pela curiosidade e pelo amor ao bizarro.

  • O Esquadrão Suicida: Melhor filme da DC?

    O Esquadrão Suicida: Melhor filme da DC?

    Vamos aos fatos: por mais que eu seja um grande fã dos quadrinhos da DC e tenha sempre torcido para que seu universo cinematográfico fosse tão bem-sucedido quanto o da Marvel, todos concordamos que a casa de grandes personagens como Batman, Superman e o Esquiador Escarlate vem patinando em suas adaptações live action. Fica muito claro que, para se afastar da concorrente, a DC apostou em retratar seu universo de forma mais realista, sombria, séria… O que se mostrou ser uma tremenda de uma bomba, já que seu universo capitaneado pelo “visionário diretor Zack Snyder” se mostrou muito aquém do esperado. O Homem de Aço, primeiro filme desse universo estendido, mostra um Superman confuso e sombrio, o oposto do que ele deveria ser e representar. Estaria tudo bem se isso fosse arrumado na continuação, mas Batman vs Superman: A Origem da Justiça consegue ser ainda mais confuso e fora de propósito. Os fãs, evidentemente, esperariam que tudo se encaixasse no Liga da Justiça, de 2017, e a lambança foi ainda maior! Para que esse universo faça algum sentido, foram precisas uma versão estendida de BvS e um novo corte de 4 horas de Liga da Justiça de Zack Snyder. Ainda assim, é muito mais fácil acompanhar vinte e tantos filmes da Marvel do que ter que fazer um curso de várias semanas para entender minimamente o tal Universo Estendido da DC.

    Mas aí vieram uns pontos fora da curva. Aquaman deu uma banana marinha pra essa linha darkzêra e nos mostrou um filme extremamente colorido e divertido, com uma história aventureira que fez com que o herói mais zoado dos Superamigos se tornasse cool nos dias de hoje! Shazam! foi outra grata surpresa, trazendo um quê de Ben 10 pro personagem e imediatamente criando identificação tanto com o público infantil quanto adulto (que viu ali aquele clima nostálgico do Tom Hanks em Quero Ser Grande, só que com poderes). Arlequina e as Aves de Rapina também foi um filme muito divertido, tendo como principal qualidade o fato de irritar nerdolas que reclamam de “lacração” (hahahahahahahahahaha, eu não me aguento! Hihi!). E logo depois, no mesmo ano, a diretora Patty Jenkins provou que mulheres podem, sim, estar no mesmo patamar de diretores homens que fazem filmes ruins, lançando Mulher Maravilha 1984, que inovou em seu estilo sendo uma bomba de qualidade inversamente proporcional a do primeiro filme da Amazona, de 2017.

    E aí temos O Esquadrão Suicida!

    Voltemos no tempo um pouquinho antes de falar dessa novo filme. Esquadrão Suicida, filme de 2016 que nos apresentaria pela primeira vez nos cinemas a Força-Tarefa X, foi um fiasco! A história que chegou aos cinemas quase não fazia sentido, a equipe pequena deixava claro que quase ninguém morreria (exceto o injustiçado Amarra) e a ameaça que eles enfrentaram era risível (uma feiticeira rebolante). Fora o Coringa, que andava pelo entorno do filme sem propósito algum para a trama e que não faria falta alguma se fosse completamente limado do corte final. Aliás, dizem que existe um “snydercut” do filme do David Ayer que seria melhor do que aquilo que vimos. Bobagem, não tem conserto não! Mas por alguma razão que ninguém sabe qual (cof, cof, Arlequina, cof), o filme acabou caindo nas graças da galera do marketing e rendeu boas vendas de cadernos, camisetas e tatuagens de palhacinhas. Esquadrão Suicida, afinal, era uma excelente ideia, só que porcamente executada. Merecia uma segunda chance. E aí veio o filme de 2020.

    Os primeiros 14 minutos de O Esquadrão Suicida é tudo que o filme inteiro de 2016 deveria ter sido! Uma missão secreta de infiltração com vilões altamente dispensáveis, ação, traição, mortes e execução por deserção, tudo está ali! Em CATORZE minutos! Não é preciso muito tempo de tela pra se explicar do que se trata a Força-tarefa X, nem por quê eles têm o apelido de Esquadrão Suicida, nem muito tempo explicando o background de cada personagem, porque eles são descartáveis. Um cara russo que é proficiente em arremesso de dardos, um que ninguém sabe quais são os poderes, outro que é, literalmente, uma doninha… Ótimo, vamos pra ação!

    Uma coisa que vemos muito em filmes de heróis é a economia de personagens, principalmente vilões. Geralmente, não usam muitos para não desperdiçar o que poderia ser usado mais tarde, ou apenas mostram um vislumbre, como foi com o Darkseid no Snydercut, para que se plante a semente de um filme futuro que, na real, nunca acontece. James Gunn faz o oposto disso. Nunca usaram o Starro como vilão em nenhum filme da Liga? Bora botar ele aqui! Pacificador, Sanguinário, Bolinha…? AH, MANDA PRO PAI! Não tem nenhuma vergonha de se utilizar de personagens que, vamos ser sinceros, não teriam outra chance de aparecer no cinema mesmo! Diferente de Snyder, que parece ter vergonha de personagens galhofa como o Jimmy Olsen (que ele matou na versão estendida de BvS), Gunn abraça a estética dos comics em todos os elementos de seu filme, seja nos uniformes bregas como o de Dardo ou do Pacificador, seja na própria narrativa. O diretor não tem vergonha de colocar dois personagens em CGI totalmente irrealistas para os padrões Snyderescos, e nos brinda com Doninha e Tubarão-Rei, sendo esse segundo o mais carismático de todo o filme (com voz do Garanhão Italiano Sylvester Stallone).

    O Esquadrão Suicida é um filme que não tem vergonha de suas origens nos gibizinhos. Ao contrário, abraça todo esse absurdo, conta com a suspensão de descrença do público e nos entrega diversão amalucada e violenta da mais alta qualidade! Claro que, passada algumas semanas de seu lançamento, já sabemos que o filme flopou nas bilheterias. Infelizmente, isso se dá mais por questões externas, como o marketing confuso (é uma sequência, um remake ou um reboot?), a classificação indicativa alta, o elenco com grande número de personagens desconhecidos e, obviamente, a pandemia que impossibilita a lotação das salas de cinema. Ainda assim, é possível que o filme tenha lançado algumas das sementes que germinarão nos próximos filmes da DC, tanto no tom quando na estética e, esperamos, com bons roteiros e direção ousada. Pode não ser o melhor filme da DC de todos os tempos, mas com certeza é o mais importante dessa década!

  • Caio Oliveira e as Paródias em Quadrinhos

    Caio Oliveira e as Paródias em Quadrinhos

    A produção nacional de quadrinhos é prolífica em paródias, em suas diferentes vertentes. Seguindo a tradição nacional de sucesso no humor, esse tipo de abordagem ganhou espaço e notoriedade por explorar chavões e clichês para gerar comicidade (e driblar licenciamentos editoriais).

    Assim, não é de se espantar que o trabalho de um fenômeno da gibisfera brasileira como Caio Oliveira ganhe notoriedade com a velocidade que ganhou.

    O quadrinista brasileiro tem uma capacidade ímpar de captar em seus Quadrinhos o zeitgeist e trabalhar a partir de uma perspectiva amplamente metarreferencial, empregando o humor como força motriz de suas inventivas histórias. Seguindo essa linha, temos aqui três diferentes trabalhos do autor, com propostas tão distintas quanto se poderia imaginar, mas que carregam consigo o humor gerado a partir da intertextualidade como traço marcante.

    Em All Hipster Marvel, Caio apresenta uma sátira à cultura hipster, desenvolvida através da intertextualidade paródica em relação aos heróis da Marvel Comics, ironizando alguns dos clichês das histórias da editora, através de minicontos em cores e traços cartunescos, nos quais o riso é o alvo, nem tanto uma linha narrativa unificada e coerente. A HQ possui vinte páginas e foi publicada em papel reciclado, com lombada canoa.

    Com Panza o quadrinista apresenta uma aventura de Sancho Pança, o fiel escudeiro de Dom Quixote, entrando em uma jornada para descobrir a verdade acerca da missão que norteou a vida do já idoso e doente Dom, enquanto sua sanidade é colocada à prova por seus surpreendentes inimigos.

    Menos sarcástica que a história anterior, Panza investe em um traço mais firme e bem delineado em preto e branco, se aproximando muito mais do padrão das animações do que das charges, novamente brincando com referências até mesmo anacrônicas como o Monstro de Frankenstein saltar das páginas de um livro para enfrentar um assustado e impotente Sancho dentro de um moinho de vento.

    O desdobramento criado por Caio a partir da história original conta com um humor mais comedido em seu tom, em contraponto com a narrativa visual expressiva e repleta de dinamismo em sua diagramação. Dessa simbiose, o autor concebe uma história que devolve o heroísmo ao Quixote, agora não mais um louco, mas sim um visionário incompreendido por seus pares, que repassa seu legado ao fiel e roliço escudeiro, forjando assim um herói improvável, mas o primeiro sidekick da história. Também em lombada canoa, Panza conta com quarenta páginas, impressas em papel pólen, além de capa cartonada.

    Em R’lyehboy temos uma salada de referências saltando das páginas, passando por Hellboy, H.P. Lovecraft, Raça Negra e toda a estética e mecânica dos jogos de RPG como Dungeons & Dragons, em páginas dispostas no formato horizontal, com poucos quadros e uma proposta de traço que brinca com o expressionismo que norteia o trabalho de Mike Mignola em choque com o traço cartunesco já característico de Caio.

    Assim acompanhamos a história nonsense de um investigador sobrenatural, claramente inspirado na criação máxima de Mignola e no famoso Cthulhu, símbolo maior da literatura lovecraftiana, diante de ameaças bizarras de toda sorte, como vikings cujo canto de guerra se assemelha a uma paródia de “É tarde demais”, do grupo de pagode Raça Negra. Falar em nonsense, como no início deste parágrafo, não se mostra um exagero agora que temos uma pequena noção do que estamos falando aqui, não é mesmo?

    Como as duas obras anteriores, R’lyehboy foi publicada também em capa cartonada, lombada canoa e setenta e duas páginas e emula o padrão visual das capas de Hellboy, de Mignola.

    Publicadas pela Quinta Capa e financiadas através do Catarse, as revistas de Caio Oliveira tecem um padrão narrativo hilário e despojado, fortemente calçado na paródia como estratégia de composição discursiva, alternando até mesmo entre estilos de narrativa visual de acordo com as propostas de cada história, evidenciando a versatilidade do quadrinista brasileiro, dono de um texto ácido e de uma arte dinâmica, que arrancam boas risadas até mesmo do leitor mais carrancudo.

    Conheça mais do trabalho de Caio Oliveira: Quinta Capa | Twitter | Instagram.

  • Cinefantasy 2021 | Balanço Geral – Documentários

    Cinefantasy 2021 | Balanço Geral – Documentários

    Além da mostra de filmes ficcionais, publicada na primeira parte desse dossiê, em Cinefantasy 2021 | Balanço Geral – Longas Ficcionais, o festival também realizou uma curadoria com documentários, alguns bastante inspirados, que lidavam com algo fantástico ou lúdico. Confira a lista.

    A Senhora que Morreu no Trailer (Alberto Camarero e Alberto de Oliveira, 2020)

    O filme investiga a história de Georgina, uma mulher artista nascida no sertão baiano, que passou por diversos locais com nomes variados.Na Boca do Lixo usava o nome Diva Rios, nas terras cariocas era Suzy King e no exterior era conhecida como a encantadora de cobras Jacuí Japurá. Ao explorar a sua misteriosa morte em um trailer na fronteira entre Estados Unidos e México, o filme se torna uma ode aos artistas de rua, ao entretenimento marginal e um resgate de uma história pouco conhecida de uma mulher além de seu tempo.

    A Vingança de Jairo (Simon Hernandez, 2019)

    Documentário divertido a respeito do cinema de Jairo José Pinilla, realizador que nos anos 70 e 80 fazia muitos filmes de cunho fantástico na Colômbia. O documentário causa um desejo enorme de acompanhar a sua filmografia que nem é tão extensa. Jairo é um personagem bastante rico, divertido e prolixo. É um bom resgate e uma ótima introdução ao público que não conhece o cinema dele.

    Horror Noire: A Representação Negra no Cinema de Terror (Xavier Burgin, 2019)

    Documentário cujo formato tem sido cada vez mais popular no mundo e no Brasil, consistindo basicamente em um estudo sobre algum gênero ou movimento em que se citam filmes pertencentes a esse nicho. Burgin mergulha nas manifestações de atores e artistas pretos no cinema de horror, com foco em Hollywood mas também aborda outros cinemas. Tal qual A Vingança de Jairo, esse também causa uma curiosidade enorme em cada um dos filmes citados e, além disso, o roteiro não apela para panfletarismo barato. Ao contrário, tem uma boa noção do quadro político do mundo. Possivelmente é o mais imperdível entre os filmes do festival.

    Morgana (Isabel Peppard e Josie Hess, 2019)

    Aborda a história de Morgana Muses, atriz de filmes pornográficos que começou sua carreira aos 50 anos, quando era apenas uma dona de casa. Seus filmes são ligados a um movimento de filmes feministas. O documentário não deixa muito claro como esse nicho funciona, mas há um registro bem detalhado de sua carreira, tanto quanto protagonista como na produção e direção desses filmes. Não fica claro o motivo desse filme estar no Cinefantasy, afinal, não há nada de fantástico nele.

    Narrativas do Pós (Graubi Garcia e Jairo Neto, 2020)

    Filme brasileiro, usa a ficção científica no cinema e literatura para explicar o mundo pós-Covid e a bizarra situação política brasileira. A edição é dinâmica e por mais que o conteúdo do documentário de Garcia e Neto seja pesado, assisti-lo é divertido, especialmente por perceber que o negacionismo tão em voga na política bolsonarista ou trumpista, já foi tão profetizado por Isaac Asimov, Ray Bradbury, Arthur C. Clarke e demais criadores de histórias sci fi. Esses autores, por mais otimistas que fossem suas obras, dão declarações bem contundentes a respeito do “mundo real”, e isso é bem registrado aqui.

    O Alvorecer de Kaiju Ega (Jonathan Bellés, 2019)

    Documentário breve e pontual sobre o fenômeno dos filmes de monstros gigantes, os Kaijus. Investiga  o fenômeno no Japão, como ele influenciou o resto do mundo e os impactos até hoje dentro da cultura pop. Em tempos de Godzilla vs Kong, o filme é ainda mais salutar, até mesmo por conta das conclusões sobre política que ele aborda.

    O Psicopata, Crônica de um Caso Não Solucionado (Estefanie Céspedes, 2019)

    A história  é bastante curiosa, Céspedes, o diretor, investiga a origem do primeiro serial killer registrado na história da Costa Rica, que agiu entre 1985 e 1995 e deixou quase 20 vítimas, ao menos entre as que se comprovou sua participação. A maior curiosidade do filme está no fato da identidade do bandido não ter sido descoberta até a atualidade. O filme não possui muita fluidez ou cadência, é preso demais a formula de entrevistas e opiniões puras e simples.

  • Cinefantasy 2021 | Balanço Geral – Longas Ficcionais

    Cinefantasy 2021 | Balanço Geral – Longas Ficcionais

    Cinefantasy – Festival Internacional de Cinema Fantástico é um evento que reúne obras voltadas ao cinema especulativo, com uma curadoria que mira a exploração de filmes ficcionais e documentários que tenham em comum algum elemento fantástico. A 11ª edição do Cinefantasy foi exibido todo online na plataforma Belas Artes à La Carte com acesso em todo território nacional. Reunimos nessa lista os longa metragens ficcionais apresentados no festival.

    Amigo (Óscar Mártin, 2019)

    Amigo é um filme incomodo e claustrofóbico sobre paranoia. Martin apresenta a historia de dois amigos que vivem juntos em lugar inóspito após um deles ter causado um acidente de carro que vitimou o outro. São quase uma hora e meia de uma história pesada sobre desconfiança, rancor e remorso, que conta com atuações muito dedicadas de sua dupla de atores centrais.

    Coração Dilatado (Parish Malfitano, 2019)

    Malfitano traz a tona uma abordagem estranha e sentimental que lida com questões pesadas como culpa e não-aceitação  do destino. A parte fantástica do filme envolve uma aura de terror, suspense e gore, em que um homem de meia idade, obsessivo e dependente da mãe, acha que conseguirá conquistar uma moça com metade da sua idade apenas com um plano mirabolante e perigoso. Aspectos como fotografia e direção de arte são destaques positivos, assim como o cinismo do roteiro. No entanto, isso não salva o filme de soar como refém da estética nonsense.

    Mãe, Sou Amiga de Fantasmas (Sasha Voronov, 2020)

    Filme pós-apocalíptico. Mostra um cenário que ocorre depois da chegada de uma doença nova denominada Ishim. É desolador notar a escassez de vida e de condições mínimas da subsistência humana. Seu maior trunfo é na linguagem que foge dos diálogos, emulando certa involução humana. O final em aberto reforça a melancolia desse mundo que claramente não tem uma mensagem positiva para exibir, ainda mais em tempos reais de pandemia.

    Os Guardiões do Tempo (Alexey Telnov, 2020)

    Telnov faz bastante uso da metalinguagem para abordar seu conto infantil. A trama gira em torno de uma menina órfã  que vai morar com um casal cujo homem é um escritor bastante criativo. Filha e pai adotivo se tornam grandes amigos, bastante íntimos, e passam a ocupar seu tempo um com o outro, a despeito dos problemas de bullying e de aceitação da menina, usando como base para essa relação a literatura e fantasia.

    Playdurizm (Gem Deger, 2020)

    Deger traz um filme completamente insano, uma fábula pornô, gay, metalinguística, que lida com idolatria, travas sexuais e sanha assassina. O filme é bastante colorido, tem muitas luzes neon e isso dá as cenas de violência explícita um caráter fantástico que se encaixa bem com a proposta do filme. É um mergulho em questões de aceitação, de desejos reprimidos e outras problemáticas relacionadas a como cada individuo vê a si próprio e se projeta no cenário comum.

    Porcelana (Jenneke Boeijink, 2019)

    Trata do drama familiar de um casal que, até certo ponto, tem a vida perfeita. A chegada de uma estranha doença em seu filho, Thomas, será destruidora para essa harmonia. É um filme delicado, ao passo que também é agressivo em muitos pontos, que tem na desesperança e melancolia o norte de sua narrativa. As atuações de Tom Vermeir e Laura de Boer casam bem. A trama é  bem sucedida graças a entrega dos dois. O drama psicológico destaca a fragilidade humana e a obsolescência do corpo do homem que se torna mais trágica por abordar o tema com uma criança.

    Post-Mortem (Péter Bergendy, 2020)

    Filme húngaro de terror, mostra a rotina de um sujeito discreto que trabalha com fotografia de post-mortem, maquiando recém falecidos para tirar fotos com seus parentes. A natureza do seu trabalho não tem nada de macabro, mas os fatos começam a mudar após a chegada de uma estranha menininha que o acompanha. A reconstrução de época que Bergendy traz quase não tem defeitos. A questão mais complicadora do filme são os efeitos especiais dos mortos que voltam. É tudo bem artificial, diferente demais dos outros aspectos visuais.

    Ravina (Balázs Krasznahorkai, 2020)

    Filme húngaro, trata da historia de um homem bem resolvido e que há muito tempo não retorna a sua terra. Por conta de um funeral, o personagem volta ao seu lugar de origem e lá se defronta com seu passado, incluindo a revelação de um filho quase adulto que, aparentemente, nem sabia que tinha. Krasznahorkai baseia a experiência na entrega de seu elenco e nas emoções de um filho que se sente rejeitado. Como também apresenta um pai que não sabe como lidar com suas novas responsabilidades. Tudo estruturado com uma aura de sonho, onírica, que faz perguntar se os momentos mais fantásticos são reais ou fruto da imaginação dos personagens.

    Sayo (Jeremy Rubier, 2020)

    Uma história de perda e de luto, mostra a história de uma mulher que perde sua irmã e, sem aceitar essa condição, tenta através da religião se comunicar com a parente morta. O filme aglutina a  pandemia de Covid 19 a sua trama, tem cenas bonitas e pouco apego ao fantástico. Mesmo as menções ao sobrenatural são sutis, todas mediadas pela condição emocional da protagonista Nagisa.

    Como Vivem os Bravos (Daniell Abrew, 2020)

    Abrew dá conta de um Western brasileiro que varia de qualidade. Seus aspectos técnicos ora são arrojados, ora mostram o quão barato o filme é. A obra é praticamente toda muda. Claramente, a produção não quis se restringir a sua localidade, embora se assuma como uma obra oriunda do sertão nordestino. Acaba sendo um filme criativo, gera curiosidade por novas produções do diretor.

    Rodson ou Onde o Sol não Tem Dó (Cleyton Xavier, Clara Chroma e Orlok Sombra, 2020)

    Filme amador, mostra a história de Rodson, um rapaz que vive com seus pais e que se apaixona por um robô super inteligente, feito de isopor e papel alumínio. Os diretores tentam fazer algo experimental, misturam referências e inspirações da cultura pop como jogos de vídeo game 8 bits com uma distopia estranha e pseudo progressista. Um filme de orçamento quase nulo que tenta validar a condição de obra sem recursos com um roteiro pretensioso, desorganizado e desordenado, misturando cenas reais com inserções de voz em off e outros despistes. É difícil terminar de ver.

    Rosa Tirana (Rogério Sagui, 2020)

    Rosa é uma menina que atravessa o triste cenário do sertão nordestino exatamente na época da maior seca da região. Sagui apresenta um filme sobre regionalidade, miséria, tradição, servindo não só de denúncia as autoridades que ignoram questões fundamentais como a fome no interior do Brasil, como também louvando as festas e comemorações típicas da face norte do país. O filme ainda conta com a participação especial do veterano José Dumont e reúne elementos da obra de Ariano Suassuna.

    Voltei! (Ary Rosa e Glenda Nicácio, 2020)

    Filme da dupla de diretores bem conhecida dos festivais nacionais recentes, responsáveis por Café com Canela e Ilha. Esse é um filme de cenário pós apocalíptico, situado em um Brasil pós Bolsonaro, com uma condição pandêmica ainda vigente (o filme se passa em 2030), escassez de alimento e luz. Uma crise econômica tão aguda que os debates no senado são acompanhados por rádios de pilha. Duas irmãs ouvem o programa quando recebem a visita de sua irmã mais velha que supostamente havia morrido. O filme tem muitos problemas de roteiro, é completamente antinatural e não parece ser interpretado por pessoas reais.

  • Falcão e Soldado Invernal | As Referências dos Quadrinhos

    Falcão e Soldado Invernal | As Referências dos Quadrinhos

    Os fãs de filmes e produtos da Marvel no audiovisual ficaram bastante mal acostumados com o decorrer da historia de Wandavision. Durante o período das 8 semanas em que a série foi ao ar (lembrando que foram 9 episódios, mas que dois foram lançados juntos) se cogitou a presença de Namor, Ultron, membros do Quarteto Fantástico e principalmente Mefisto e Pesadelo. Teorias esdrúxulas, reclamações tolas e expectativas mil foram frustradas.

    Pois bem, quando Falcão e Soldado Invernal teve início semanas atrás, a série trouxe várias referências direta dos quadrinhos. Algumas mais óbvias, outras nem tanto, e para esclarecer o leitor elencamos-as aqui. O texto possuirá alguns spoilers, então se você se incomoda com isso, recomendo que veja primeiro a série para depois realizar esta leitura.

    Capitão América (Sam Wilson)

    Decidi começar por ele devido ao final de Vingadores: Ultimato, que já dava conta da passagem do legado de Steve Rogers para seu sempre presente amigo, Sam Wilson, que atendia pelo codinome Falcão. Nos quadrinhos, Sam foi cogitado para ser o substituto quando Steve Rogers abandonou o manto em Capitão América: Nunca Mais. Um dos motivos para não ter sido escolhido refletia o preconceito da década de 80, ainda mais intransponível em diálogo que hoje.

    Em quadrinhos mais recentes, um vilão chamado Prego de Ferro enfrenta Steve Rogers e drena o soro do Super Soldado. e parte da sua habilidade consiste em drenar o soro do Super Soldado. Steve ao ter que lutar contra ele diretamente, tem seu poder e jovialidade consumidos virando então um idoso. O parceiro Sam o Salva e logo Rogers apresenta-o como seu substituto. Seu arco como Capitão abordava questões pontuais de racismo e problemas envolvendo de imigração, fatos que foram resgatados na série, inclusive no arco dos vilões apátridas. Curiosamente, o dito país da liberdade suprema não o aceitou como Capitão, sofrendo resistência e rejeição dos leitores.

    Agente Americano – John Walker

    Walker já teve algumas encarnações nos quadrinhos: primeiro como Super Patriota, depois como Capitão América e, algum tempo depois, se tornou o Agente Americano. Sua índole era estranha, mas de fato ele jamais foi um vilão. Na série, após Sam Wilson entregar o escudo ao governo, é John Walker o escolhido para ostentar as cores da bandeira e o nome heroico.

    O personagem reúne clichês do Capitão América e também do Justiceiro. Já substituiu o Cap. original, inclusive com um Bucky como dupla e outros sidekicks. Após confrontos com o personagem original, que retorna em um uniforme preto se auto-intitulando Capitão, Walker se redime, troca de uniforme e passa a se chamar de Agente Americano. Futuramente se tornaria parte dos Vingadores da Costa Oeste com algumas participações no Vingadores originais. Também trabalhou com os Thunderbolts.

    Isaiah Bradley

    Uma boa surpresa da série foi o fato de abordar um personagem que não está exatamente no mainstream dos heróis Marvel. Embora seja complicado o modo de lidar com o lado político do sujeito, Isaiah é praticamente um espantalho de um revolucionário.

    Nos quadrinhos, ele já foi o Capitão América. Foi inserido como um retcon (continuidade retroativa) e sua primeira aparição foi em uma minissérie própria, Truth: Red, White & Black #1 de janeiro de 2003, jamais publicada no Brasil até o presente momento.

    Criado por Axel Alonso, Robert MoralesKyle Baker, o personagem foi um sobrevivente de uma tentativa de replicar o Soro do Super Soldado. Uma experiência feita com quase 300 americanos que morreram no processo. Interessante observar como sua narrativa se aproxima do caso real de homens negros sendo testados em experiências para curar a sífilis, sem saber que eram cobaias. A experiência trouxe muita sequelas aos envolvidos e, de certa forma, a experiência do soro faz essa aproximação. Nos quadrinhos, Isaiah sofre de Alzheimer, fruto da degeneração do soro.

    Em Truth, ele rouba o traje do Capitão, sendo preso por isso. Apesar de muitas problemáticas em relação ao lado político desse personagem na série, ao menos se abre uma boa questão, ao se indagar se Steve Rogers sofreria o que Isaiah sofreu caso não tivesse desaparecido por década. Na série, o ator Carl Lumby se entrega maravilhosamente ao personagem.

    Elijah Bradley

    Apresentado aqui como um adolescente comum, ao menos aparentemente, Elijah é neto de Isaiah Bradley. Nos quadrinhos, viraria também um herói: O Patriota. O personagem possivelmente retornará em uma adaptação ainda não anunciada dos Jovens Vingadores, grupo de apoio nos quadrinhos, que no MCU estão sendo gradativamente apresentados: em Wandavision conhecemos Célere e Wicano. Na vindoura série do Gavião Arqueiro, teremos a Gaviã Arqueira de Katherine Elizabeth Bishop.

    O Patriota dizia que sofreu experimentos com o soro do Capitão, mas usava na verdade uma droga chamada Hormônio do Crescimento Mutante, substância que dava poderes por um curto período de tempo. Esse vício repetia o drama de Allan Heinberg um dos criadores do personagem que também teve problemas com vício em drogas. Na cronologia, Elijah consegue poderes de maneira definitiva, depois de receber uma transfusão de sangue de seu avô. Fez parte da primeira formação dos Novos Vingadores.

    Mercador do Poder

    As duas versões do Mercador do Poder, a mais recente e Curtis Jackson.

    Criado por Jack Kirby,  a primeira versão do personagem é Curtis Jackson, um mercenário que fornece poderes a quem pagar uma quantia alta. É ele que dá poder a dois personagens heroicos: Lemar Hoskins e John Walker. Na série, ele é a fonte do poder dos Apátridas. Nos gibis, sumiu por um tempo, teve uma aparição em Machine Man de 1978, retornou apenas no titulo solo do Coisa em 1986. Junto ao doutor Carl Malos (personagem que já apareceu em outro  produto da Marvel, Jessica Jones, 2ª Temporada), fez experimentos com várias pessoas em posição vulnerável, entre eles, Joaquin Torres, abordado nesse texto também. Jackson foi forçado em histórias posteriores a experimentar o soro do super soldado. Então ficou gigante, tão musculoso e desforme que não conseguia andar. Malos então fez para ele um exo-esqueleto.

    Há outra versão do Mercador do Poder que surge após a morte do primeiro. Sua identidade é desconhecida, o que se sabe é que ele é bem diferente de Jackson. Sua primeira aparição foi em Avengers: The Initiative Annual #1, de 2008, ecom criação de Dan Slott e Christos N. Gage. Na série, o personagem é diferente, reúne elementos das duas versões e tem sua identidade revelada somente no último episódio.

    Batroc, O Saltador

    Esse é um personagem antigo, criado pela dupla Stan Lee e Kirby, datado de 1966. No MCU já havia aparecido em Capitão América 2: O Soldado Invernal, também interpretado pelo lutador profissional Georges St. Pierre. No filme, havia sido detido pela Hydra/SHIELD, e só reapareceu agora. Nos quadrinhos, é um mercenário francês, especialista em Savate, uma arte marcial semelhante ao Boxe, embora o vilão use bastante os pés. Não tem poderes, combate desarmado e, nos gibis, tem um certo código de honra não atacando jamais adversários em desvantagem numérica.  Já lutou ao lado do Capitão América. Fez parte dos Thunderbolts de Zemo e de Wilson Fisk, o Rei do Crime, mas é mais conhecido por ter seu próprio grupo de personagens caçadores de recompensa, Brigada de Batroc.

    Apátrida

    Apátrida era um vilão das revistas do Capitão América. Na série, é transformado em um grupo terrorista, os Apátridas. As principais diferenças dessas versões moram nas intenções. Karl Morgenthau é um vigilante antinacionalista, algumas vezes tratado erroneamente como anarquista. Em comum  com a versão em carne e osso, há o desejo de um mundo sem fronteiras, embora aqui soe um pouco confuso, pois o grupo de opositores dos heróis buscam trazer o mundo a condição antes da volta das pessoas do Blip.

    O grupo é liderado por uma moça idealista e que passa longe da condição de vilã clássica. Seu nome é Karli Morgenthau interpretada por Erin Kellyman. O maior problema no seriado é que os Apátridas são presos a teorias da conspiração, e tem sua motivação revolucionária também como motivo de chacota. O grupo também tem poderes oriundos do Soro do Super Soldado fornecido pelo Mercador do Poder.

    Joaquín Torres

    O seriado também apresenta Danny Ramirez como Joaquín Torres. O personagem é uma adição recente aos quadrinhos da Marvel. Nos quadrinhos ele tem uma historia bastante diferente do que é visto no seriado. Nas HQs ele é um experimento do doutor Karl Malus. Na época, o vilão misturava DNA de humanos com animais. Torres era um hibrido de humano com falcão, tinha elementos do DNA de Asa Vermelha, o mascote falcão de Sam Wilson (que nos filmes, é apenas um drone). Quando Wilson, já como Capitão América, salvou as vítimas de Malus. Joaquin foi uma das poucas experiências que não retornou ao estado humano. Ele tem uma conexão psíquica com o Asa Vermelha e por isso, tem ligação também com Sam.

    Quando o herói assumiu como Capitão, deu a Torres a incumbência de ser o Falcão, isso é até aludido dentro do seriado. Enquanto Falcão, Joaquin se torna parte do grupo Os Campeões, formado por jogadores jovens, que no MCU, deve se “fundir” com os Jovens Vingadores.

    Estrela Negra

    Lermar Hoskins, que no seriado foi interpretado por Clé Bennett, foi um parceiro do Capitão América de Walker. Criado por Mark Gruenwald e Paul Neary, era um ex-soldado das forças armadas americanas, e também teve acesso ao soro através do Mercador do Poder. Tinha poderes semelhantes ao do Capitão, era treinado em várias artes marciais e táticas. Já no seriado, não tem poderes, mas é habilidoso em termos de luta.

    Nos gibis, ele usava um escudo triangular de adamantium. Era o Bucky de John Walker, mas mudou o nome para Estrela Negra após a Marvel receber várias cartas que afirmavam que o termo era usado de modo racista contra negros. Lemar foi membro dos Vingadores Secretos e teve participação importante no evento Guerra Civil.

    Condessa Valentina Allegra de Fontaine

    Interpretada por Julia Louis-Dreyfus, Valentina Allegra de Fontaine foi uma das grandes surpresas do seriado. A Condessa nos quadrinhos tem fortes ligações com Nick Fury, com Walker e com o grupo de vilões em recuperação os Thunderbolts, tanto que a comparação mais comumente feita com ela é de que seria uma Amanda Waller da Marvel.

    Nos quadrinhos, ela foi apresentada na HQ Strange Tales #159 em 1967. De origem italiana, ela faz parte de equipes da SHIELD e rapidamente se torna uma das melhores agentes da organização. Curiosamente, a personagem já se envolveu romanticamente com Nick Fury nas HQs e chegou a flertar também com o Capitão América de Steve Rogers. Outra alcunha que ela já teve foi Madame Hydra que já fez uma aparição (com esse nome) no seriado Agentes da Shield.

    Intui-se que Valentina seja uma espécie de Nick Fury para os anti heróis, podendo formar tanto os Thunderbolts como os Vingadores Sombrios. É uma forte possibilidade que esteja também no filme da Viúva Negra, e na futura série a respeito dos Skrulls,  Invasão Secreta.

    Doutor Wilfred Nagel

    Essa é uma aparição breve no terceiro episódio, mas é bastante importante. Nagel é interpretado por Olli Haaskivi. Nos quadrinhos foi introduzido em Truth: Red, White, and Black #1, a mesma história que dá origem a Isaiah. Nagel foi o cientista inescrupuloso que liderou os experimentos nos soldados de Camp Cathcart no Mississipi, que usou 300 soldados negros como cobaias com a maioria falecidos.

    Na série ele é bem diferente, mais jovem, fez experiências com amostras de sangue de super soldados. No capítulo em que aparece fica subentendido que ele usou o sangue de Bradley para chegar a esta versão do soro. O sonho dele era superar o detentor da criação do soro original, Dr. Eskrine.

    Outras menções

    Há resgate do vilão Barão Zemo (que finalmente coloca a máscara roxa semelhante aos quadrinhos) e da agente especial Sharon Carter (que também mudou muito). Além dessas referências já estabelecidas nos outros filmes, há também algumas boas menções, como a ilha Madripoor onde o Wolverine passava boa parte de seus dias como Caolho. Também o Tigre Sorridente,  alter-ego de Conrad Mack, um híbrido de homem e animal (na série é, aparentemente, um homem de visual estilo cafetão dos filmes blaxploitation). Além disso, o apelido de Lobo Branco para Bucky faz referência a um rival do Pantera Negra nos quadrinhos (totalmente diferente aqui). O próprio Soro do Super Soldado é uma referência que merece menção devido a presença constante,  além de nutrir poderes aos Apátridas, Bucky, John Walker e Isaiah, também foi implantado como variante no filme O Incrível Hulk de Louis Laterrier, tanto em Bruce Banner que se tornou o Hulk e em Emil Blonsky, que virou o vilão Abominável.

  • É Tudo Verdade 2021 | Balanço Geral – Parte 2

    É Tudo Verdade 2021 | Balanço Geral – Parte 2

    Prosseguindo em nosso balanço do É Tudo Verdade 2021 (leia sobre a Parte 1 aqui), falamos agora de alguns dos filmes que passaram na plataforma Sesc Digital, outros das mostras competitivas e um pouco dos premiados.  Na competição internacional, o a coprodução Dinamarca, Estados Unidos e Noruega Presidente venceu como melhor longa-metragem.  Já Os Arrependidos ganhou o prêmio de Melhor Longa Nacional. Da parte dos curtas, A Montanha Lembra (Argentina, México) venceu,  e o filme nacional premiado foi Yaõkwa: Imagem e Memória, que também levou o prêmio do Canal Brasil. O júri também fez menções honrosas aos filmes Vicenta, Ser Feliz no Vão e Máquina do Desejo: Os 60 Anos do Teatro Oficina.

    2020 (Hernán Zin, 2020)

    Filme espanhol sobre o começo da pandemia de Covid-19, impressiona mais pelo fato da equipe de filmagem conseguir ficar tanto tempo no hospital (quatro meses praticamente ininterruptos) do que pelos fatos expostos, uma vez que o noticiário espanhol foi bastante debatido pela imprensa alternativa no Brasil e no mundo. Zin registrou todos os ângulos possíveis do impacto que o novo coronavírus causou na Espanha, mostrando até o destinos dos pets cujos donos morreram de Covid.

    Alvorada (Anna Muylaert e Lô Politi, 2020)

    Mais um filme a respeito do impeachment de Dilma Rousseff. O projeto de Muylaert e Politi tem alguns bons momentos, mas no geral, repete o que Democracia em Vertigem e O Processo já haviam feito antes, com a diferença de dar mais lastro para a classe C, que trabalhava no Palácio da Alvorada durante esse julgamento político.

    O Monopólio da Violência (David Dufresne, 2o2o)

    Esse esteve na Quinzena de realizadores de Cannes, e é um bom sinal de como funcionam os protestos populares na França. Dufresne reúne em seu filme algumas filmagens em primeira pessoa, de ações estúpidas e violentas da polícia francesa. Há debates acalorados, ações enérgicas e físicas contra o patrimônio público e outras ações mais violentas do povo contra a repressão das autoridades. Diretor e filme não tem receio em retratar a repressão como ela é, algo vil, mesquinho e que só pode ser retribuído com a mesma truculência imposta.

    MLK/FBI (Sam Pollard, 2020)

    Filme denúncia, aborda a desonesta abordagem do FBI ao reverendo e ativista Marthin Luther King. O filme do documentarista que fez The Talk: Race in America mostra o quão retrógradas podem ser as autoridades de um país e o quanto não há escrúpulos no procedimento de denegrir a moral de uma pessoa.

    História de um Olhar (Mariana Otero, 2020)

    Mariana Otero vai até o Camboja e demais países onde o fotojornalista Gilles Caron trabalhou. Caron era um fotojornalista famoso, que estava no auge de sua fama e trabalho, desapareceu no país asiático quando tinha 30 anos, sem deixar rastros ou vestígios e o documentário busca dar uma luz sobre esse estranho acontecimento e faz isso passando também pelas lindas imagens registradas por suas lentes, e claro, pelas denúncias humanitárias que ele fazia.

    A Última Floresta (Luiz Bolognesi, 2020)

    Selecionado para Berlinale, popular festival de cinema na Alemanha, esse é outro longa de Luiz Bolognesi que mistura elementos reais com ficção, e que usa o cenário indígena brasileiro como fundo da história, como foi também com Ex-Pajé, de 2018. Esse conta a historia de um xamã Yanomani que tenta manter as tradições de seu povo vivas, e o faz através de contos narrados com as imagens da câmera de Bolognesi. O filme é pretensioso entrega bem menos do que promete, e essa tem sido um tônica de Bolognesi enquanto realizador..

    Leonie, Atriz e Espiã (Annette Apon, 2020)

    Produção holandesa, o documentário trata da atriz Leonie Brandt, nascida em 1901 e falecida em 78, que depois do sucesso nos cinemas, se tornou espiã do serviço de inteligência holandês na Alemanha nazista. Apon inteligentemente usa cenas da própria artista em tela para exemplificar como foram os anos dela enquanto infiltrada no cenário fascista. O filme lida bem o duvidoso e com os mistério tradicionais da vida dela.

    Colectiv (Alexander Nanau, 2019)

    Colectiv concorre ao Oscar na categoria Melhor Filme em língua estrangeira, a co-produção da Romênia e Luxemburgo, fala a respeito da boate de Bucareste Colectiv, que em um incêndio, matou 27 pessoas e feriou outras 180, inclusive com mortes no hospital oriundas desse incidente. O caso ocasionou um vazamento de informação, de um médico para jornalistas e é descoberta uma fraude no sistema de saúde, Nanau então acessa os bastidores do modo de lidar com a saúde e com a corrupção da Romênia. Filme incisivo e certeiro.

    Zappa (Alex Winter, 2020)

    Zappa é um mergulho íntimo na vida e obra do icônico Frank Zappa. Winter, mais conhecido por ter sido dupla de Keanu Reeves nos filmes de Bill e Ted consegue passar por toda a carreira do compositor, interprete e musicista, sem soar raso ou piegas. O filme é íntimo e forte, uma ótima porta de entrada para o fã da arte que não conhece nada a respeito de Frank Zappa.

  • Oscar 2021 | Indicados e Ganhadores da Premiação

    Oscar 2021 | Indicados e Ganhadores da Premiação

    Todo ano a Academia premia em sessão exclusiva os filmes feitos por ela e pelos que compõem a nata de Hollywood. Esse processo se renova em níveis de tendências, em alguns momentos se louvam obras que falam sobre a arte, sobre a própria Hollywood, cinebiografias de figuras políticas ou notáveis e vez ou outra os figurões americanos permitem que obras não feitas nos Estados Unidos e Grã-Bretanha cheguem ao apogeu do louvor.

    2020 foi um ano difícil, inclusive para o meio artístico, mas surpreendentemente os escolhidos para concorrer as principais categorias tiveram destaque. Filmes sensíveis, políticos, que valorizam o período histórico que vivemos, enquanto outros apontam a triste sina do capitalismo no século XX e XXI e suas desigualdades.

    Por mais que soe piegas, a premiação da Academia a dramas reflete a sociedade ou ao menos os desejos de frações dessa sociedade, com suas projeções e ilusões, sejam elas poéticas ou pragmáticas. A vida e o destino são por vezes tão limitantes que mesmo o sonho pode ter freios, e apesar de sonhar não custar nada, a frustação oriunda do seu não cumprimento pode causar o receio de voar alto na imaginação.

    Achar que a escolha ou curadoria de uma premiação X ou Y reflete o social é pretensiosa, e é fato que a Academia subestima o mundo moderno, e tenta encaixotá-lo, mas em alguns momentos, poucos mesmo, a pretensão acerta, escolhendo obras, histórias e trajetórias que valem ser vistas. Sem mais delongas, confira abaixo os indicados e ganhadores do Oscar 2021.

    Melhor Filme

    Nomadland (vencedor)
    Mank
    Judas e o Messias Negro
    Minari: Em Busca da Felicidade
    Meu Pai
    Os 7 de Chicago
    Bela Vingança
    O Som do Silêncio

    Melhor Atriz

    Frances McDormand, Nomadland (vencedora)
    Viola Davis, A Voz Suprema do Blues
    Andra Day, Estados Unidos Vs Billie Holiday
    Vanessa Kirby, Pieces of a Woman
    Carey Mulligan, Bela Vingança

    Melhor Ator

    Anthony Hopkins, Meu Pai (vencedor)
    Chadwick Boseman, A Voz Suprema do Blues
    Riz Ahmed, O Som do Silêncio
    Gary Oldman, Mank
    Steve Yeun, Minari: Em Busca da Felicidade

    Melhor Diretor

    Chloé Zhao, Nomadland (vencedora)
    Thomas Vinterberg, Druk: Mais uma Rodada
    David Fincher, Mank
    Lee Isaac Chung, Minari: Em Busca da Felicidade
    Emerald Fennell, Bela Vingança

    Melhor Atriz Coadjuvante

    Youn Yuh-jung, Minari: Em Busca da Felicidade (vencedora)
    Maria Bakalova, Borat: Fita de Cinema Seguinte
    Glenn Close, Era uma Vez um Sonho
    Olivia Colman, Meu Pai
    Amanda Seyfried, Mank

    Melhor Ator Coadjuvante

    Daniel Kaluuya, Judas e o Messias Negro (vencedor)
    Sacha Baron Cohen, Os 7 de Chicago
    Leslie Odom Jr., Uma Noite em Miami…
    Paul Raci, O Som do Silêncio
    Lakeith Stanfield, Judas e o Messias Negro

    Melhor Roteiro Adaptado

    Meu Pai, Florian Zeller e Christopher Hampton (vencedor)
    Nomadland, Chloé Zhao
    Borat: Fita de Cinema Seguinte, Sacha Baron Cohen, Anthony HinesDan Swimer e outros
    Uma Noite em Miami…, Kemp Powers
    O Tigre Branco, Ramin Bahrani

    Melhor Roteiro Original

    Bela Vingança, Emerald Fennell (vencedor)
    Judas e o Messias Negro, Will Berson, Shaka King, Kenneth Lucas e Keith Lucas
    Minari: Em Busca da Felicidade, Lee Isaac Chung
    O Som do Silêncio, Darius Marder, Abraham Marder e Derek Cianfrance
    Os 7 de Chicago, Aaron Sorkin

    Melhor Filme Estrangeiro

    Druk: Mais uma Rodada (Dinamarca – vencedor)
    Shaonian De Ni (Hong Kong)
    Collective (Romênia)
    O Homem Que Vendeu sua Pele (Tunísia)
    Quo Vadis, Aida? (Bósnia e Herzegovina)

    Melhor Documentário

    My Octopus Teacher (vencedor)
    Collective
    Crip Camp
    The Mole Agent
    Time

    Melhor Edição

    O Som do Silêncio (vencedor)
    Meu Pai
    Nomadland
    Bela Vingança
    Os 7 de Chicago

    Melhor Fotografia

    Mank, Erik Messerschmidt (vencedor)
    Judas e o Messias Negro, Sean Bobbitt
    Relatos do Mundo, Dariusz Wolski
    Nomadland, Joshua James Richards
    Os 7 de Chicago, Phedon Papamichael

    Melhor Maquiagem e Cabelo

    A Voz Suprema do Blues (vencedor)
    Emma
    Era Uma Vez um Sonho
    Mank
    Pinóquio

    Melhor Som

    O Som do Silêncio (vencedor)
    Greyhound: Na Mira do Inimigo
    Mank
    Relatos do Mundo
    Soul

    Melhor Figurino

    A Voz Suprema do Blues (vencedor)
    Emma
    Mank
    Mulan
    Pinóquio

    Melhor Canção Original

    Fight for you, Judas e o Messias Negro (vencedor)
    Hear my voice, Os 7 de Chicago
    Husa’vik, Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars
    Io sì, Rosa e Momo
    Speak now, Uma Noite em Miami…

    Melhor Trilha Original

    Soul, Trent ReznorAtticus Ross e Jon Batiste (vencedor)
    Destacamento Blood, Terence Blanchard
    Mank, Trent Reznor e Atticus Ross
    Minari: Em Busca da Felicidade, Emile Mosseri
    Relatos do Mundo, James Newton Howard

    Melhor Design de Produção

    Mank (vencedor)
    Meu Pai
    A Voz Suprema do Blues
    Relatos do Mundo
    Tenet

    Melhor Efeitos Visuais

    Tenet (vencedor)
    Amor e Monstros
    O Céu da Meia-Noite
    Mulan
    O Grande Ivan

    Melhor Animação

    Soul (vencedor)
    Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica
    A Caminho da Lua
    Shaun, o Carneiro: O Filme – A Fazenda Contra-Ataca
    Wolfwalkers

    Melhor Curta de Animação

    If Anything Happens I Love You (vencedor)
    Burrow
    Genius Loci
    Opera
    Yes people

    Melhor Curta-Metragem

    Two Distant Strangers (vencedor)
    Feeling Through
    The Letter Room
    The Present
    White Eye

    Melhor Curta-Documentário

    Collete (vencedor)
    A Concerto is a Conversation
    Do Not Split
    Hunger Ward
    A Love Song for Natasha

  • É Tudo Verdade 2021 | Balanço Geral – Parte 1

    É Tudo Verdade 2021 | Balanço Geral – Parte 1

    Desta vez o É Tudo Verdade foi inteiramente exibido online, com transmissões via streaming da Mostra Competitiva e algumas retrospectivas, envolvendo o cantor Caetano Veloso e o diretor Ruy Guerra. Confira um pouco do melhor que ocorreu no festival.

    Fuga (Jonas Poher Rasmussen, 2021)

    Filme de abertura do Festival, Fuga é um documentário animado bastante bonito, que conta a história de um refugiado afegão que tem que lidar com o truculento modo de pensar e governar de seu país. Rasmussen faz uma bela viagem pela cultura, credo e contradições de um país conservador, e que infelizmente encontra ecos em tantos outras cenários, fazendo isso através da ternura da visão e depoimento de uma testemunha anônima.

    Coração Vagabundo (Fernando Grostein Andrade, 2008)

    Esse foi um documentário famoso da década passada. O Filme acompanha Caetano durante a turnê do disco A Foreign Sound, de 2004, por São Paulo, Nova York, Tóquio e Quioto. É bem íntimo, mostra a vida de Caetano enquanto criador e trabalhador, indispensável para quem gosta do personagem.

    Eu e o Líder da Seita (Atsushi Sakahara, 2020)

    Trata da seita apocalíptica Aum Shinrikyo, de Tóquio, secto-religioso que cometeu o maior ato terrorista do Japão. O diretor, Sakahara estava em um dos trens e sofreu danos permanentes no sistema nervoso por conta do ataque, e diante desse trauma, decidiu falar com Araki, o atual líder do grupo, onde travam uma conversa sobre liberdade religiosa e terrorismo. O filme é parado, um bocado morno, mas toca em assuntos bastante pesados.

    Glória a Rainha (Tatia Skhirtladze, 2020)

    Documentário sobre um quarteto de mulheres enxadristas que fizeram história na União Soviética, Glória a Rainha é um filme diferenciado especialmente graças ao seu formato. A partir dele é fácil notar a diferença cultural do Leste Europeu com a ocidental. O filme destaca como Nona GaprindashviliNana AlexandriaMaia Chiburdanidze e Nana Ioseliani inauguraram uma nova tradição de competições esportivas na Rússia e demais países da União Soviética, mesmo que atualmente hajam menos mulheres jogando xadrez de forma competitiva.

    Charlie Chaplin, o Gênio da Liberdade (Yves Jeuland, 2020)

    Apesar de estar fora da Mostra Competitiva, o documentário francês é de suma importância dentro da curadoria. Jeuland traça todo um perfil do gênio do cinema Charlie Chaplin, contando seus primórdios nas artes cênicas até o ingresso dele como realizador do cinema. O filme esteve em mostras do Festival de Cannes, e é uma boa parte de entrada para quem não conhece a obra do cineasta.

    Máquina do Desejo (Lucas Weglinski e Joaquim Castro, 2021)

    Documentário sobre a Companhia Teatro Oficina, esse é um filme bastante lúdico, que varia entre peças filmadas, comerciais, imagens de arquivo com Zé Celso e outros personagens históricos do Teatro Oficina e outros momentos marcantes do lugar. Essa imagens ajudam a contar a história do lendário palco e  i filme mira ser um objeto ensaístico, mas não acerta em sua tentativa de entreter.

    Mil Cortes (Ramon S. Diaz, 2020)

    Impressiona assistir o cenário político das Filipinas a partir da subida ao poder do reacionário presidente Rodrigo Duderte. O presidente, cuja plataforma era famosa pela briga contra das drogas bastante intensa, fez a imprensa ser perseguida, presa, ameaçada via internet e pessoalmente. O retrato do país não é muito diferente dos desmandos e loucuras do governo atual  brasileiro comandado por Jair Bolsonaro, fato que torna esse possivelmente em uma obra profética.

    Dois Tempos (Pablo Francischelli, 2021)

    Documentário sobre dois violonistas, o argentino Lucio Yanel, e seu pupilo brasileiro Yamandu Costa. É um filme sobre relações sentimentais de admiração e de transa artística, a trilha sonora é belíssima, embalada pelo trabalho dos dois instrumentistas, que em meio a virtuosidade de seus personagens, revela uma franca sintonia repleta de admiração mútua e sentimentos familiares. Uma verdadeira ode a música de seis cordas.

    Paulo César Pinheiro- Letra e Alma (Cleisson Vidal e Andrea Prates, 2021)

    Outro belo documentário sobre musicistas. Dessa vez o foco é no compositor popular Paulo Pinheiro, que narra sua própria história e jornada como interprete e compositor da cena da MPB nas décadas de 60, 70 e 80 principalmente. A trilha que Pinheiro fez em sua vida beira a poesia, e o resgate dos vídeos de arquivo é  sensacional, o longa faz um bom trabalho em dar voz ao cantor que encanta com seus causos. Pinheiro é um personagem sagaz, inteligente, sarcástico, especialmente quando  fala das dificuldades que tinha para trabalhar na época da Ditadura Militar.

    Zimba (Joel Pizzini, 2021)

    Documentário sobre Ziembinski, o ator e diretor de teatro polonês radicado no Brasil, famoso por adaptar Vestido de Noiva de Nelson Rodrigues, mas também por inspirar e ensinar boa parte do corpo de atores do Brasil como um todo. Os depoimentos de atores e atrizes que trabalharam com Zimba, alguns já em memória, dão conta do quão importante e impreterível Ziembinski era para a construção do que se entende por teatro e por trabalho dramático, que se alastrou por toda a gama de arte encenada em frente as pessoas ou ao audiovisual.

    Os Arrependidos (Ricardo Calil e Armando Antenore, 2021)

    Baseado no livro O Terror Renegado de Alessandra Gasparotto, Os Arrependidos é de rasgar o coração, o filme mostra o estranho movimento de ex-guerrilheiros que durante a Ditadura Militar no Brasil, se entregaram para afirmar junto a imprensa que se arrependiam da luta armada. Calil e Antenore conversam abertamente com alguns desses “arrependidos”, que não tem pudor em assumir que fizeram aquilo sob tortura, que mentiram de maneira deslavada e que todas essas versões causaram marcas terríveis em moral e pensamento da vida de cada um daqueles jovens.

    Edna (Eryk Rocha, 2021)

    O filme de Eryk Rocha fala com uma senhora, que mora à beira da rodovia Transbrasiliana. O relato mistura elementos reais da vida de Edna com escritos de um diário que ela mantém por toda vida, que não apenas a realidade, mas também seus sonhos e anseios. Apesar da premissa  curiosa, o filme resulta em algo que chama atenção por sua forma mais do que pelo conteúdo. Rocha já fez bons filmes, como Cinema  Novo e Campo de Jogo que dentro das suas propostas, conseguem conversar melhor com o espectador que este Edna.

    9 Dias em Raqqa (Xavier de Lauzanne, 2020)

    Mostra a dura repressão politico-religiosa sobre o povo da Síria, tomando  como exemplo a cidade de Raqqa, um lugar destruído e repleto de cinzas. A câmera acompanha Leila Mustapha, prefeita da cidade que tenta resgatar a glória de outros tempos sobre o lugar. Cada capítulo do filme mira um dia, e impressiona a facilidade com que tanques e veículos de guerra transitam facilmente sobre a cidade e sobre outros lugares do país que tem intimidade com os jihadistas. O final do filme é até otimista, dada a condição desse cenário, no entanto o maior legado do filme dele é mostrar uma realidade tangível e ignorada por boa parte do mundo, involuntária ou deliberadamente.

  • King Kong e suas versões no audiovisual

    King Kong e suas versões no audiovisual

    Kong é possivelmente o símio mais famoso do cinema, conhecido como Rei dos Macacos foi criado por Merian C. Cooper, produtor, diretor, roteirista e editor do clássico King Kong de 1933. Cooper, quando ainda era criança, ganhou o livro Explorações e Aventuras na África Equatorial escrito por Paul Du Chaillu em 1861, e em meio a leitura, teve a ideia fixa de contar uma história protagonizada por um macaco gigante, em uma península isolada no mapa, em um cenário semelhante ao visto na Terra Selvagem que a Marvel instituiria décadas depois.

    Transformar essa ideia em um filme ocorreu enquanto Cooper rodava As Quatro Penas, filme de 1929 que se passava na África. O cineasta pensou em usar um gorila congolês de verdade para filmar, colocando ele para brigar com outros animais como um Dragão-de-Komodo, mas ao final, optou por utilizar cenas em animação stop motion com dinossauros e seres pré-históricos. O personagem virou sinônimo da luta entre o homem e a natureza, abaixo o leitor confere as suas encarnações e alguns extras.

    King Kong (Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack, 1933)

    No filme original há o gorila de proporções gigantescas como uma lenda, soberano em um lugar isolado: a Ilha da Caveira. Uma equipe de cinema decide viajar até uma ilha desconhecida, localizada em um antigo mapa, para encontrar uma locação exótica e assim esbarram no colosso mamífero. A história seria replicada por praticamente todas as suas outras versões. A obra revolucionaria o cinema de efeitos especiais e ajudaria a influenciar o cinema do mundo inteiro, como o japonês que criou Gojira/Godzilla mais de 20 anos depois, e até resgataria o personagem.

    A ida de Kong até a América serviria de exemplo do quanto o homem pode ser megalomaníaco. Cooper queria que o animal tivesse entre 12 e 15 metros, mas a decisão final ficou nas mãos dos animadores. Terminou com apenas sete metros.

    O Filho de King Kong (Ernest B. Schoedsack, 1933)

    A RKO Studios decidiu, ainda em 1933, lançar uma continuação com o filho do macaco com herói. A trama gira em torno do retorno do diretor Carl Denham, personagem do primeiro filme, à Ilha da Caveira, onde enfim acha um gorila albino com metade do tamanho do Kong original. O filme é uma fantasia fantástica e contou apenas com um diretor do primeiro (Merian C. Cooper não se juntou ao projeto) e é possivelmente o menos conhecido entre as obras que foram para o cinema.

    O longa se passa um mês depois do primeiro, e Denham chega a ilha procurando um tesouro e acaba retornando ao lugar por acidente. O gorila era conhecido pela produção como Kiko, mas o nome não é pronunciado durante o filme. A maior curiosidade em relação ao filme é que na época não se sabia que existiam gorilas albinos. A descoberta ocorreu somente em 1963 na Guiné Equatorial.

    King Kong vs. Godzilla (Ishirô Honda e Tom Montgomery, 1962)

    A produção dirigida pelo mesmo Ishirô Honda que conduziu o primeiro Godzilla oito anos antes, reconta a historia do clássico filme de 1933, retornando a Ilha da Caveira basicamente para ambientar o espectador oriental nessa mitologia. O confronto entre Kong e Gojira tem motivos esdrúxulos, segue a cronologia dos filmes do Lagarto Gigante, inclusive retomando os eventos de Godzilla Contra-Ataca, de 1955.

    Aqui o gorila é aumentado em cinco vezes se comparado ao clássico. Tem 45 metros e é vivido por um ator com uma roupa imitando um macaco, como era comum dentro das produções da Toho.

    The King Kong Show (1966)

    Houve uma época, nos anos oitenta, que qualquer sucesso do cinema virava desenho animado. O caso de The King Kong Show não é diferente. Embora tenha sido lançado muito tempo antes, em 1966, já acenava uma futura tendência. O desenho é uma coprodução entre a Videocraft e a Toei, e foi exibida pelo canal ABC entre 1966 e 1969. Na série, Kong faz amizade com uma família, os Bond, e segue em aventuras salvando o mundo de monstros, robôs, cientistas loucos e outras ameaças.

    Esta foi a primeira série de anime produzida no Japão para uma empresa americana. Teve 26 episódios e 3 temporadas, e o tamanho do macaco era de aproximadamente 15 metros de altura.

    A Fuga de King Kong (Ishirô Honda, 1967)

    Se King Kong vs. Godzilla é considerado trash, essa outra produção da Toho pode facilmente ser chamada de esdrúxula. O filme trata Kong como uma lenda, mas isso não impede que um cientista louco, chamado de Dr. Who (?!) resolva fazer uma cópia robótica do macaco. O doutor louco ainda assim precisa do original para resgatar um elemento X, que vem a ser uma substância qualquer, que daria poder ao seu portador, embora a razão da obsessão do vilão não seja nem um pouco clara.

    O final é grotesco ao extremo, o macaco entende falas humanas quando é conveniente para o roteiro. Há muitas falhas de efeitos especiais e erros de continuísmo. O macaco tem por volta de 20 metros de altura, não tem ligação com o crossover de 62 e seria uma espécie de versão live action de The King Kong Show.

    King Kong (John Guillermin, 1976)

    O primeiro remake do clássico de 1933, embora nos filmes da Toho se reconte parte da história, não são exatamente refilmagens. Essa versão ficou famosa por conta de sua dupla de protagonistas humanos formada por Jeff Bridges e Jessica Lange.

    Esse filme também é lembrado pela troca do prédio onde Kong se pendura, sai o Empire State e entram as torres gêmeas do World Trade Center. O gorila varia de tamanho durante o filme, tendo 17 metros aproximadamente quando está na cidade e 13 metros na sua ilha natal. Esse foi um dos clássicos da Sessão da Tarde e Cinema em Casa do Brasil. De fato, é uma boa produção.

    King Kong 2 (John Guillermin, 1986)

    O diretor John Guillermin volta para essa continuação tardia, uma autêntica peça trash de sua década. Kong sobreviveu a queda do World Trade Center, mas foi mantido em coma por uma década. Ele sofre com problemas cardíacos e a especialista Amy Franklin é chamada para trata-lo. A doutora, interpretada por Linda Hamilton que acabava de sair de O Exterminador do Futuro, parece estar no piloto automático ao se apresentar como cardiologista especialistas em símios gigantes (por si só uma profissão bem curiosa e específica). Se isso não fosse suficiente, os exploradores vão a Bornéu atrás de uma fêmea gigante como uma possível doadora de sangue. Kong se apaixona e eles geram um filho.

    Esse filme cansou de ser reprisado nas tardes do SBT, mas é ignorado por boa parte do público, não à toa, pois é equivocado em quase tudo que se propõe.

    O Poderoso Kong (Art Scott, 1998)

    Essa animação foi uma adaptação da Warner Bros. feita para o mercado de vídeo dos anos noventa, e mostra uma equipe de cinema indo para o mar e encontrando o macaco gigante tal qual as encarnações anteriores, com a diferença de que há números musicais aqui.

    As canções não são ruins, o problema maior é que o filme da Lana Productions não tem um orçamento condizente com produções clássicas. Sendo assim, lembra as sequências de filmes da Disney como O Retorno de Jafar, Rei Leão 2: O Reino de Simba e outras obras semelhantes lançadas diretamente para o mercado caseiro. O elenco de dublagem é liderado por Jodi Benson e Dudley Moore e o design dos personagens imitava alguns produtos de sucesso da época, como o longa A Pequena Sereia e A Bela e a Fera, claro, sem o mesmo brilhantismo dos filmes da Disney. O mais estranho dessa produção é que na capa das fitas VHS e nos DVDs mostravam um macaco castanho e mais simpático, muito diferente da versão apresentada na própria animação.

    Kong: The Animated Series (2000)

    Esse foi um seriado de coprodução entre Estados Unidos e Canadá. Tinha algumas semelhanças com a animação do Godzilla (que continuava os eventos de Godzilla de Roland Emmerich) mas não tem o mesmo nível de qualidade. Em 2005, houve uma animação em longa-metragem com o mesmo traço e equipe de dubladores, Kong: Rei de Atlantis, e em 2007 um novo filme foi lançado, Kong: Return to the Jungle.

    Narrativamente, a maior diferença dessa para outras encarnações é que o macaco é um clone modificado geneticamente do original abatido no filme de 1933. Kong é badass e ajuda a humanidade nesse seriado, em especial, Jason Jenkins e sua família, apesar de não ter muitas explicações a respeito disso.

    King Kong (Peter Jackson, 2005)

    Depois do sucesso de O Senhor dos Anéis, Jackson se dedicou a refilmar o clássico de 1933. Essa é uma super produção, duramente criticada por pecar em excesso. De fato, ela é vultuosa e gordurosa, nos cinemas foi lançada com 3 horas e 7 minutos, mas uma versão estendida com 14 minutos adicionais foi lançada para o mercado caseiro.

    Aqui há largo uso de efeitos especiais e computação gráfica. O macaco foi interpretado por Andy Serkis que coreografou passos, corridas e lutas do Gorila usando 135 marcadores em seu rosto. O macaco tem cerca de 25 metros, enfrenta dinossauros e vai até Nova York, como nas versões clássicas.

    Kong: Rei dos Macacos (2016)

    Essa é a mais recente animação sobre o símio, seu tom é infantil e ligado a ecologia. Nessa realidade os animais silvestres estão quase extintos, graças as condições climáticas agravadas pelo homem em 2050. O seriado é bastante expositivo e a qualidade de animação é artificial, sobretudo nas figuras humanas.

    O seriado começa com um gorila filhote aparecendo para uma família de cientistas. Eles vão para a cidade e o animal cresce muito rápido, de forma quase instantânea. O programa é produzido por Avi Arad, o mesmo que produziu os desenhos do Homem-Aranha e os filmes do Homem-Aranha de Sam Raimi. Teve uma temporada de 13 episódios em 2016, e uma segunda em 2018, com 10.

    Kong: A Ilha da Caveira (Jordan Vogt-Robert, 2017)

    Essa foi a última empreitada solo do macaco gigantesco nos cinemas. Kong é uma figura mitológica, mas ainda em processo de crescimento. É o soberano da península que, por sua vez, também possui um número grande de animais gigantes.

    Kong aqui não é tratado só como rei mas também como deus pelos habitantes da Ilha da Caveira. Seu tamanho é o maior entre suas encarnações até aqui, com 100 metros de altura, mais que o dobro da versão japonesa de 1962. O filme apesar de ter um roteiro repleto de clichês possui um visual arrojado, inspirado em clássicos anti-bélicos como Johnny Vai à Guerra e Apocalipse Now.

    Godzilla vs Kong (Adam Wingard, 2021)

    Kong retorna para um novo crossover contra Godzilla. O filme, programado para 2020, foi adiado por conta da pandemia de coronavírus e chega aos cinemas do mundo e plataforma de streaming. Entre Kong: Ilha da Caveira e esse, o gorila lendário aumentou consideravelmente de tamanho, até porque no filme de época, ele ainda era um adolescente. Dirigido por Wingard (Bruxa de Blair: A Lenda Nunca Foi tão RealDeath Note).

    Bônus: Aqui estão listados alguns entre tantos filmes que não são parte da “saga” de King Kong, mas que tem alguma ligação com o personagem criado em 1933.

    Wasei Kingu Kongu (1933)


    Esse é um projeto misterioso por si só. Entre o público japonês dos anos 1930, se diz que houve uma versão de King Kong que se perdeu desde o final da década de 1940. Esse desaparecimento é atribuído a campanha de bombardeios que ocorreu no país durante a Segunda Guerra Mundial.

    Esse King Kong seria o primeiro filme daikaiju, ou seja, o primeiro filme japonês envolvendo monstros gigantes, 21 anos antes de Godzilla/Gojira. Existem documentos históricos que em 1938 outro filme envolvendo macaco gigante foi produzido e perdido durante a Segunda Grande Guerra, Edo ni Arawareta Kingu Kongu (King Kong Aparece em Edo). Todas as cópias conhecidas de ambos os filmes estavam estocadas em armazéns localizados nas cidades de Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945. O ataque norte americano causou a morte de 90 mil a 166 mil pessoas em Hiroshima e 60 mil a 80 mil em Nagasaki, além de destruir grande parte do patrimônio histórico e cultural japonês.

    Monstro de um Mundo Perdido (Ernest B. Schoedsack,1949)

    Schoedsack, um dos diretores do King Kong original, fez essa comédia que conta com produção de Cooper e John Ford. Na trama, um explorador descobre que um enorme gorila serve de bichinho de estimação pra Jill Young, daí o sujeito, vivido por Robert Armstrong, tenta leva-lo para Hollywood, e o macaco se torna atração em um nightclub.

    A apelação para o humor é bastante fraca, e mesmo que a ideia original era referenciar o clássico de 1933, o projeto foi por outro caminho, ganhando vida própria.

    Konga (John Lemont, 1961)

    Konga mostra a história de um cientista que é dado como morto e se esconde no continente africano para não chamar a atenção de seus inimigos. Em meio as suas pesquisas, ele percebe uma forma de cultivo de plantas que tornam animais gigantes. A tal Konga é um chimpanzé usado pelo cientista para combater seus opositores.

    O filme é estrelado por Michael Gough, o Alfred da saga iniciada em Batman de Tim Burton, e até tem seu charme, com cenários e objetos de cena que lembram A Pequena Loja de Horrores, mas a história como um todo é esdrúxula ao extremo, a produção confunde as raças de macacos, o chimpanzé vira um gorila. No final, Konga se torna uma história sobre ciúmes, com um roteiro fraco e efeitos especiais bem datados.

    Outra curiosidade sobre Konga é que houve uma versão de baixíssimo orçamento lançada em 2020 chamada Konga TNT, que tem uma história semelhante a esta. Os efeitos especiais são amadores, as cenas em fundo verde são fracas, o filme parece editado no Windows e é supostamente baseado em um gibi da Charlton Comics.

    Queen Kong (Frank Agrama, 1976)

    Se Konga já parecia uma cópia tosca, o que dizer desta produção que mostra uma equipe de cinema à caminho da África filmar um longa-metragem para mulheres e encontram uma gorila fêmea gigante, que acaba por se apaixonar por um ladrão trambiqueiro, que sabe-se lá por quê, acaba se tornando o ator principal do filme?

    A roupa e maquiagem de Queen Kong é horrorosa, a máscara dela é fajuta e os dinossauros que enfrentam a macaca são mal feitos em um nível que é difícil até de classificar. Queen Kong tem uma face estranha, em alguns momentos parece um lêmure, em outras, um sagui. As atuações são risíveis e as tentativas de fazer humor esbarra na falta de qualidade de toda a equipe. Nem o humor involuntário vale o esforço.

    Poderoso Joe (Ron Underwood, 1998)

    Este é um remake do antigo Monstro de Um Mundo Perdido. Protagonizado por Charlize Theron, o filme conta a história de Jill Young, que quando criança viu sua mãe ser morta ao tentar proteger gorilas selvagens. Já adulta, ela passa a cuidar de Joe, um animal que por conta de uma anomalia genética, tem mais de cinco metros de altura.

    O filme é bem bobo, tem a estética que era bem comum aos filmes live action dos estúdios Disney, com um romance meloso entre Theron e Bill Baxton, forte apelo infantil e foi um bocado popular em sua época.

    Rampage: Destruição Total (Brad Peyton, 2018)

    Rampage  é uma adaptação do jogo homônimo. Aqui Dwayne Johnson vive um primatologista que convive bem com George, um gorila albino cuja espécie está em extinção, criado por ele desde seu nascimento. George e outros animais sofrem alterações que os fazem crescer e se tornarem ameaças para a vida urbana.

    Esse é um filme de ação divertido e descompromissado com subtextos mais densos. As semelhanças dele com King Kong são obviamente ligadas ao fato do macaco crescer desenfreadamente e com a destruição que ele é capaz de fazer em uma metrópole, além de mostrar o homem como fator caótico na equação da natureza.

  • Precisamos de uma nova série do Superman?

    Precisamos de uma nova série do Superman?

    Em meio as dificuldades que a Warner Bros e Walter Hamada têm em produzir um novo filme protagonizado pelo Superman, o anúncio de que a CW faria uma série focada na relação de Lois Lane e Clark Kent causou certa rejeição por parte dos fãs, especialmente porque quem acompanha os filmes da DC não costuma levar a sério The Flash, Legends of Tomorrow e demais séries do Arrowverse.

    A nova série também é produzida por Greg Berlanti, assinada também por Geoff Johns e tem como showrunner Todd Helbing, produtor de Mortal Kombat Legacy e Black Sails. O elenco é formado pelos mesmos Tyler Hoechlin e Elizabeth Tulloch que fizeram Clark e Lois na série da Supergirl. Os dois personagens têm filhos adolescentes, cada um com um pano de fundo e índole diferente: Jordan (Alex Garfin) e Jonathan (Jordan Elsass). Para esclarecer ao leitor, elencamos aqui alguns bons motivos para acompanhar essa nova história da DC. Sim, precisamos de uma nova série do Superman.

    Uniforme da animação clássica

    Logo no início do piloto, Hoechlin é mostrado salvando um carro verde semelhante ao que é visto na capa da Action Comics, a primeira revista do herói. Além disso, a eterna (e necessária) busca por refazer o clássico herói se lembra tanto a versão de Jerry Siegel e Joe Shuster, como a dos desenhos dos irmãos Fleischer que passava nos cinemas em 1941 e que ainda surpreende os espectadores pela qualidade visual e pela fluidez dos movimentos. A série era feita com rotoscopia, criada pelos irmãos alemães judeus que produziram anteriormente as primeiras animações de Betty Boop e Popeye.

    Visual do Superman dos anos quarenta. Imagem: Paramount Pictures

    Por mais que possa parecer boba, a referencia ultrapassa o aspecto visual e ressalta a ideia clássica do personagem, em contraposição a versão de Zack Snyder em que é um assassino a sangue frio em determinado momento.

    Identidade Secreta

    Recentemente fizemos um podcast, Vortcast: Identidade Secreta, que além de homenagear nosso grande camarada Felipe Morcelli, serviu também para discutir a ótima historia Identidade Secreta de Kurt Busiek e Stuart Immonem. Especialmente nas duas últimas edições, o personagem principal, mais velho e com família, teme o futuro de suas filhas, refletindo se elas teriam os mesmos poderes e problemas que teve quando o mundo o recebeu como herói.

    No caso de Superman e Lois, eles suspeitam que um dos filhos possa ter herdado os poderes kriptonianos. Enquanto o herói tem receio de falar sobre isso, sua esposa quer dialogar sobre a questão primordial, o segredo que o mundo gostaria de saber. Isso é tratado de maneira incrivelmente emocional, aprofundada por questões envolvendo pessoas queridas a Clark;

    A depressão em cena

    Esse talvez seja o maior diferencial do roteiro até aqui. O modo como o programa lida com a questão do transtorno de ansiedade social é bastante sério, ainda mais em comparação com outras adaptações de comics. Até os episódios exibidos pelo menos, a pessoa que sofre disso não é mostrada como uma coitada. Lidar com novas descobertas e uma condição clínica complicada certamente não é comum em obras da cultura pop, ainda mais dentro de versões de heróis em quadrinhos. Sempre quando foi abordado houve controvérsia, como com Thor em Vingadores: Ultimato ou com a Feiticeira Escarlate em Wandavision. Ainda assim, a abordagem em Superman e Lois é bem diferenciada pelo cuidado.

     

    Retorno ao herói clássico

    a dimensão do Super como um sujeito bom em essência pode parecer datada, mas está longe de ser assim de fato. Uma das primeiras ações do Super no primeiro episódio, quando precisa resolver um problema com uma caldeira, é grandiosa. Utiliza bem o cuidado em não atingir civis com uma boa estratégia heróica.

    Super levantando um bloco de gelo para resolver o problema da caldeira
    Imagem: CW

    Ainda assim é simples, fácil de compreender e até de associar ao personagem. Remonta aos melhores momentos dos quadrinhos e até de outras obras como Superman – O Filme e Superman – O Retorno, e não se parece em nada com a cena da destruição em massa em Metrópolis vista em Homem de Aço, ou outros momentos em que o Superman age mais como um agente do caos.

    Humor bem encaixado

    Programas sobre heróis normalmente tem como base a aventura e ação, mas não é incomum que tenham uma carga humorística considerável, seja nos filmes da Marvel, repletos de piadas em absolutamente qualquer produção, ou nos programas da CW, em um tom mais infantil. Claramente essa não é uma série para crianças mesmo com certos momentos que agradariam os mais jovens. O humor do personagem funciona como um alívio cômico necessário.

    Evolução de Smallville

    Por mais que boa parte dos fãs do Superman não gostem, Smallville foi um marco para o personagem e para o segmento de super heróis no audiovisual. O programa de Alfred Gough e Miles Millar manteve o Homem do Amanhã em horário nobre na tv,por dez longos anos e em alguns momentos a série acertou no tom, especialmente nas referencias do universo DC que brotavam nos roteiros de Geoff Johns. No entanto, o tom familiar era algo muito forte no programa dos anos 2000, especialmente na questão da paternidade. John Schneider e Annette O’Toole tinham uma relação muito próxima e intensa com o Clark de Tom Welling, e isso  também é bem desenvolvido aqui. Além disso, o fato de Pequenópolis ser o cenário principal da nova produção faz lembrar muito o seriado anterior, especialmente na fazenda dos Kent.

    É curioso como a maioria das pessoas imaginavam que a maior referência do novo materia seria Lois e Clark, mas claramente evitaram uma comparação direta. Em narrativa, lembra a premissa de Raio Negro com um fino equilíbrio entre ser um vigilante herói e um pai de família.

    Superman e Lois já foi renovada para uma segunda temporada, terá 16 episódios nesse primeiro ano e deverá seguir as historias de Clark, Jordan, Jonathan e Lois, variando entre a aventura comum aos gibis e histórias em quadrinhos com o clima familiar conturbado. Após explorarem outros personagens de sucesso, ter o azulão de volta como série é um retorno merecido.

  • Os Personagens em CGI Mais Realistas do Cinema

    Os Personagens em CGI Mais Realistas do Cinema

    Desde que um dinossauro apareceu rugindo na chuva, em Jurassic Park, a porteira nunca mais se fechou. De 1993 pra cá, tudo ficou possível numa tela de cinema, e o velho lema de Stanley Kubrick (“se você imagina, você pode filmar”) virou, finalmente uma verdade, forjada por muitas horas de trabalho, pesquisa e experimentações técnicas. A busca por realismo segue incessante, com Christopher Nolan liderando o grupo de cineastas que evitam a computação gráfica e apostam pesado nos efeitos práticos, que costumam não envelhecer. Mesmo assim, maravilhas já foram criadas numa tela de computador, e seguem impactantes como sempre. Abaixo, uma lista dos dez efeitos de computação gráfica mais realistas de todos os tempos.

    10. Thanos, de Vingadores: Guerra Infinita e Vingadores: Ultimato (2018 e 2019)

    A Marvel humanizou o tirano Thanos com uma figura totalmente gráfica, em Vingadores: Guerra Infinita, pautada em realismo para que o vilão fosse crível, quase que palpável nas suas rugas e expressões hiper-naturalistas. Um feito extraordinário, também ajudada pelo trabalho de voz e postura do ator Josh Brolin.

    9. Simba, de O Rei Leão (2019)

    Se o filme foi fraco, a savana e seus habitantes criados em computador em O Rei Leão, em 2019, é tão impressionante que lembra um documentário da Discovery Channel. Cada músculo, cada pelo… Simba saiu do desenho e virou um leãozinho tangível, talvez mais real até que o do zoológico.

    8. Ava, de Ex-Machina: Instinto Artificial (2014)

    Ava é a androide mais realista da história do cinema, e perturbadoramente humana em seus trejeitos. Numa combinação perfeita de efeitos práticos, e CGI, a robô de Ex-Machina interage com atores reais, e a excelência da iluminação da textura do metal que substitui boa parte da sua pele não será superada, por muito tempo.

    7. Homem de Ferro (2008)

    Quando o Homem de Ferro chegou nos cinemas, foi difícil acreditar que sua armadura, colorida ou prata, não fosse de verdade. É possível quase que sentir a temperatura do material, a dureza, o som de cada parte que se encaixam… feito esse não repetido com o mesmo realismo nos outros filmes com o herói, desde 2008.

    6. O Urso, de O Regresso (2015)

    Leonardo DiCaprio foi atacado por um urso em O Regresso, e nada me diz que isso é mentira. O nível de veracidade nas imagens é tamanho, que jamais duvidamos que há uma fera bestial em cima do homem, rasgando a sua pele enquanto baba, e ofegante, cheira a sua presa. Pobre DiCaprio. Ele era bonito.

    5. T-1000, de O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final (1991)

    O T-1000 de O Exterminador do Futuro 2 é uma força da natureza tecnológica, e até hoje, desde 1992, os efeitos criados em computador pelo genial James Cameron seguem acachapantes. O robô assassino que vira líquido, explode no nitrogênio, que perde suas partes e se recompõe por nanotecnologia, marcou uma geração.

    4. Alienígenas, de Distrito 9 (2009)

    Os alienígenas “camarão” de Distrito 9 naufragaram na África do Sul, e lá, fizeram suas favelas. O diretor Neil Blomkamp conseguiu a proeza de colocar um alien e um humano lado a lado, e em suas diferentes formas físicas, fazer parecer que a imagem do homem é mais falsa que a do extraterrestre. Um uso de efeitos fenomenal.

    3. Richard Parker, de As Aventuras de Pi (2012)

    Se o urso de O Regresso era de verdade, e Simba também (quase…), o que falar do tigre de As Aventuras de Pi? Richard Parker é o animal mais realista da história do cinema, desde que aparece naquela jaula na Índia. Uma pena que a empresa de efeitos especiais que o fez, a Rhythm & Hues, faliu em 2013, mas seu legado é eterno.

    2. Caesar, de Planeta dos Macacos: A Guerra (2017)

    Desde o Senhor dos Anéis, o ator Andy Serkins se especializou em interpretar criaturas na técnica de ‘captura de movimento’, e todo mundo achou que o seu Gollum nunca seria igualado, quiçá superado. Mesmo assim, Cesar, o macaco inteligente de Planeta dos Macacos: Guerra, acabou sendo a criatura mais realista já criada em computador. A segunda, na verdade.

    1. Rachel, de Blade Runner 2049 (2017)

    Um rosto. 100% digital, e 101% real. A Rachel de Blade Runner 2049 não existe, mas ninguém pode confirmar isso antes de ver o making-of do filme. Nele, vemos como foi a construção de sua face, pixel por pixel, cheia de calor, drama, falas, lágrimas, cabelos, e que faz Thanos, o urso e até o T-1000 parecem personagens do Playstation 2. Eis o grande triunfo do CGI. Superá-lo será reinventar a roda. Pago pra ver. #IWantToBelieve

  • Os Bastidores de Os Intocáveis

    Os Bastidores de Os Intocáveis

    A infeliz morte de Sir Sean Connery, já do alto de seus 90 anos reacendeu em seus fãs do ator a vontade de revisitar e entender sua filmografia. Certamente entre esses, um dos mais vistos e analisados foi Os Intocáveis, filme de 1987 dirigido por Brian De Palma, que se tratava de um refilmagem do seriado homônimo dos anos 1950 envolvendo um grupo de elite que desmantelaria o cartel de Al Capone. Para entender o filme e o fenômeno, é preciso mergulhar nos materiais adicionais, bastidores e o contexto da época.

    Em documentário de making off, De Palma aborda um pouco do insucesso financeiro de seus últimos dois filmes Quem Tudo Quer, Tudo Pode e Dublê de Corpo, então, quando o roteiro de David Mamet via Paramount caiu em suas mãos, ele resolveu tentar desenvolve-lo.  Mamet se baseou na série homônima, chamada aqui também de Os Intocáveis, iniciada em 1959. De Palma não gostava da série, e ele só aceitou participar após Art Linson garantir que ele poderia fazer o que quisesse, e basicamente, o filme aborda o primeiro capítulo do programa, que consiste na prisão de Al Capone.

    Mamet era um grande nome na época, um escritor promissor, responsável pelo roteiro de Jogo de Emoções e anos depois faria Mera Coincidência e Hannibal. Com o diretor escolhido, foi decidido reduzir o número do esquadrão de elite para quatro (eram oito, a contar com Eliot Ness). Alguns desses personagens foram até desmembrados, divididos em dois ou mais como o veterano ex-fora-da-lei Joe Fuselli, que reúne em si elementos tanto de Malone como de Stone/Pettri, seja pelo fato de ter origem italiana como o personagem de Andy Garcia, ou de ser uma espécie de mentor que rapidamente perece, como o personagem de Connery.

    Kevin Costner nem sempre foi a primeira opção para o papel de herói, um dos nomes pensados foi Mel Gibson, que não pôde por questões de agenda. O intuito do estúdio era encontrar um rosto conhecido, como era também o desejo de que Michael Corleone em O Poderoso Chefão fosse alguém mais experimentado que Al Pacino, e em ambos os casos, a escolha dos diretores foi correta, Costner consegue transparecer uma mistura de ingenuidade da luta pelo bem a qualquer custo, com uma crescente malícia de quem aprende a agir nas ruas.

    Charle Martin Smith foi escolhido por conta de seu papel em Loucuras de Verão, de George Lucas. Seu Oscar Wallace é baseado num sujeito real, Frank Wilson, que também era contador, mas ficava longe da ação, já Garcia conseguiu por conta de Morrer Mil Vezes de Hal Ashby, onde faz um vilão. Para De Palma e os outros produtores, Connery era a única pessoa que caberia na função de mentor e conhecedor das ruas de Chicago, e sua dedicação foi total, inclusive na sua cena de morte, que foi a primeira em que ele teve que lidar com sangue falso.

    Limitações orçamentarias fizeram a produção pensar em Bob Hoskins para o papel do vilão, até De Palma já havia se conformado, de certa forma. A insistência em Robert De Niro como alvo primário ocorreu mesmo com o alto custo de seu salário e com a problemática dele só ter duas semanas para gravar. Foi De Niro que viabilizou o visual de seu personagem, usando a mesma equipe que tratou do envelhecimento de seu personagem em Era Uma Vez na América de Sergio Leone. De Palma reclamava que ele não expressava muitas emoções em seu personagem, e De Niro afirmava que aquilo era o ideal e mais condizente com Capone. As sutilezas só foram percebidas na pós-produção, onde ficou claro que o ator tinha uma intimidade com a câmera, e nem mesmo um diretor experimentado como De Palma percebeu isso de imediato.

    Stephen H. Burum, responsável pela fotografia resolver filmar em Cinemascope. A decisão por esse artifício se deu após ele pesquisar muito sobre a época e como a cultura dos anos trinta e quarenta era traduzida ao público. Foi dele a ideia de repetir muito os carros nas ruas a fim de expressar em tela uma tendência de consumo da época. Outra grande ideia foi o uso da lente angular na cena da igreja, onde as mãos de Connery e Costner parecem maiores, aumentando o simbolismo de que são seus atos que tornam Chicago um lugar mais limpo e justo, e não havia lugar melhor para isso do que utilizar uma igreja como cenário.

    Sobre a cena da morte do contador Wallace, Martin Smith fala que De Palma optou por não colocar muito sangue, em respeito a figura frágil e correta do personagem, exageros não seriam bem-vindos. A composição visual em torno de Capone é precisa e quase divinal, a escolha por sua cena de abertura ser filmada de cima com pessoas o servindo, fazendo as unhas, barbeando ou meramente entrevistando-o já dá noção de sua imponência e onipotência, ele não era o grande “empresário” de Chicago, mas o Deus da cidade. Havia uma cena cortada, onde repetiram a cena do início, com Capone sendo barbeado, e quando saísse do Plano Detalhe, se perceberia ele preso, mas foi retirada do filme na última hora, pois a escolha foi a de valorizar os policiais, os reais intocáveis, os que tiveram coragem de enfrentar o chefão do crime organizado de Chicago.

    Com o desfecho de Os Intocáveis se abriu a possibilidade para mais aventuras depois da queda de Capone, mas o filme praticamente reduziu essa chance a zero no cinema, afinal sem o Malone de Connery tudo seria bem mais melancólico e depressivo, e é fato que o cinema hollywoodiano tem dificuldade em não transformar sucessos em franquias, e ainda bem que este não teve novas sequencias, pois este trabalho do diretor está entre os mais elogiados, ao lado de grandes atores e em uma sinergia poucas vezes vistas no cinema.

  • O Abismo dos Quadrinhos em 2020

    O Abismo dos Quadrinhos em 2020

    Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você.

    2020 ficará marcado na história do mundo como um ano trágico, para dizer o mínimo. Ao longo de doze meses, estivemos próximos de ameaças de guerra, desastres naturais, ascensão da extrema direitae ,claro, uma pandemia em escala nunca antes vista na história.

    No meio disso tudo, em Terra Brasilis, a cultura segue relegada ainda que, mais do que nunca, tenha se mostrado essencial para que o ano se tornasse mais palatável em tempos de quarentena e distanciamento social. Não obstante, o mercado editorial sofreu bastante com o aumento do dólar, falta de insumos, ameaça de taxação de livros por parte do governo federal, recuperação judicial das gigantes Saraiva e Livraria Cultura, além do fechamento de diversas livrarias menores. E o que se avizinha para 2021 não é nada promissor.

    Desse modo, o mercado, aliado também a fatores externos, não colaboraram para que a vida do consumidor se tornasse mais fácil. Pelo contrário, o que observamos foram diversas decisões equivocadas. Ainda que os quadrinhos não girem em torno apenas de problemas, faremos um resgate de publicações decepcionantes e escolhas editoriais desacertadas ao longo do ano passado que pode (ou não) ter relação com o que falamos acima.

    Coleções Eaglemoss e Planeta Deagostini

    Os lombadeiros de plantão sofreram forte revés em 2020 com as coleções capitaneadas pela Planeta Deagostini e Eaglemoss. Se a concorrente Salvat iniciou o mês de janeiro com apenas a coleção Tex Gold (Coleção Definitiva Homem-Aranha planejada com 60 volumes foi prematuramente cancelada no volume 40, em março de 2019) na 43ª pelo preço de R$ 59,90 e encerrou na 60ª no valor de R$ 64,90 – um reajuste razoável –, o mesmo não pode ser dito das outras duas. A Eaglemoss iniciou o ano com três coleções: DC Comics – Coleção de Graphic Novels (iniciado em 2014 e até dezembro de 2020 conta com 128 volumes), DC Comics – Coleção de Graphic Novels: Sagas Definitivas (iniciada em junho de 2018 e com mais de 32 volumes) e DC Comics – A Lenda do Batman (iniciada em outubro de 2018 e 41 volumes). Já a Planeta Deagostini segue distribuindo a coleção A Lenda do Batman da Eaglemoss, além de duas coleções próprias: Príncipe Valente (iniciada em outubro de 2018 e até dezembro de 2020 com 66 volumes até o momento) e Snoopy, Charlie Brown & Friends – A Peanuts Collection (iniciada em setembro de 2020 e com 9 volumes até o momento).

    Já não é novidade que os valores praticados pela Eaglemoss não são nenhum pouco atrativos. Com aumentos frequentes e sem qualquer justificativa, a editora permaneceu com a mesma política de não dar a mínima para o seu consumidor. A Coleção A Lenda do Batman abriu o ano de 2020 com o volume 17º, Batman: Nascido Para Matar (156 páginas), com o preço de capa de R$ 49,99, e chegou em dezembro com o volume 41º, Mulher-Gato: Cidade Eterna (180 páginas), pelo preço módicos R$ 73,99. Em compensação, as coleções Graphic Novels e Sagas Definitivas mantiveram os preços congelados de R$ 79,99 e R$ 139,99. Verdadeiros heróis.

    A Planeta Deagostini seguiu com sua coleção de todas as tiras dominicais de Príncipe Valente, que contará com 82 volumes, e iniciou o mês de janeiro de 2020 com o 20º volume (76 páginas) que reúne as tiras de 1956, no preço de capa de R$ 49,99, e encerrou o ano com o 66º volume (64 páginas) reunindo as tiras do ano de 2002, pelo preço de capa de R$ 78,99. A coleção Snoopy, Charlie Brown & Friends – A Peanuts Collection que reúne as tiras dominicais desde 1950 até o ano 2000 em volumes de 64 páginas manteve o preço de R$ 49,99. Veremos o que 2021 nos reserva.

    A ausência da SESI-SP

    A SESI-SP surgiu como uma editora interessante dentro do mercado, publicando material estrangeiro (em especial, europeu) e nacional em formatos e preços convidativos, e claro, ótima qualidade. Por meio dela fomos apresentados (e em alguns casos reapresentados) às séries Valerian, Verões Felizes, Spirou, Gus, Blacksad, autores como Mathieu Bablet (A Bela Morte e Shangri-Lá), Juan Cavia e Filipe Melo (Os Vampiros), Gabriel Mourão e Olavo Costa (Paraíba), Marcelo Lelis (Anuí), Gidalti Jr. (Castanha do Pará), Orlandeli (SIC, O Mundo de Yang, Daruma, etc), Gustavo Tertoleone e João Gabriel (Nobre Lobo), Jennifer L. Holm e Matthew Holm (Sunny) e tantos outros.

    A publicações minguaram em 2019, se reservando apenas aos materiais já programados e anunciados ainda em 2018 e publicados em sua esmagadora maioria no primeiro semestre do referido ano. Se o ano anterior já foi péssimo, 2020 reservou o total de ZERO publicações.

    A explicação é simples: antes mesmo da posse do atual presidente da República, já havia sido declarado guerra ao Sistema S, conjunto de nove instituições de interesse de categorias profissionais – Sebrae, Senac, Senai, Senar, Senat, Sesc, Sescoop, Sesi e Sest – que promovem atividades sociais e de aprendizagem, e emprega mais de 150 mil funcionários, mantidas pelas contribuições, pagas compulsoriamente pelos empregadores. Em 2019, o governo federal fixou um corte compulsório de 30% no orçamento dessas instituições, e com a pandemia isso se agravou ainda mais com o corte de contribuições. Que dias melhores se anunciem para a editora.

    O descaso da L&PM com as tiras de Peanuts

    Em novembro de 2009, a L&PM publicou o primeiro volume de Peanuts Completo, que reuniu as tiras diárias e dominicais, de uma coletânea de 25 volumes lançada nos EUA pela Fantagraphics. A editora americana tem um planejamento de dois livros por ano durante 12 anos e meio do material completo do clássico de Charles M. Schulz, Peanuts. Um projeto ambicioso sem dúvida. E até maio de 2019 a L&PM seguiu com um álbum por ano, totalizando 10 volumes até então.

    Para surpresa de todos, em 2020 a editora decidiu reiniciar do primeiro volume por meio de outra coleção mais simples da Fantagraphics, o que não seria um problema se houvesse algum indicativo de continuidade da coleção antiga ou sequer qualquer comunicado oficial por parte dos editores do que motivaram tal decisão. Se isso não fosse o bastante, os últimos volumes da coleção antiga esgotaram rapidamente e não há previsão de novas tiragens, de modo que não me parece ser o caso de vendas baixas, como também não se sabe se a série continuará nesse novo formato. Só nos resta aguardar e torcer para que a série não seja descontinuada como já aconteceu com outras tiras (Hagar, Garfield etc).

    A gourmetização dos quadrinhos

    O processo de elitização dos quadrinhos não é algo novo, já se fala sobre esse desenvolvimento há muitos anos. Mas tem acelerado bastante nos últimos três anos. Com a crise do mercado editorial, as editoras perceberam que a idade média do seu leitor aumentou muito. Não se tem mais crianças consumindo como acontecia no passado. Se por um lado esse fator geracional proporciona maior liberdade criativa e variedade de estilos, por outro tem avançado por parte das editoras a publicação de materiais cada vez mais luxuosos, culminando nos fatídicos omnibus em 2020. O que, pra ser sincero, não vejo como um problema, desde que esses materiais publicados nesse formato tivessem opções mais acessíveis em um passado recente. Veja, Quarteto Fantástico do John Byrne é um material pedido por leitores há anos, mas quando colocado no mercado a Panini opta por uma tiragem pequena, com o preço de capa de R$ 349,00, atingindo apenas uma pequena parcela do seu mercado consumidor. Em contrapartida, não vejo problema da editora apostar em materiais de luxo como anunciou com Monstro do Pântano, Miracleman e Noites de Trevas Metal (arghh). Afinal, há pouco tempo atrás tivemos acesso a esses materiais em um formato econômico. Logicamente, o preço praticado é uma outra discussão, que evidentemente, não pode ser separada de temas como aumento do dólar, falta de matéria-prima e problemas de distribuição.

    No entanto, o que se vê entre o mercado consumidor e influencers digitais é um (quase) completo silêncio em relação aos preços, e muitas comemorações com formatos cada vez mais luxuosos. Enquanto isso, nós nos enganamos que existe um processo de democratização da leitura e a Panini, principal player do mercado editorial de quadrinhos, se engana que está renovando seu público com encadernados Kids e Teens por mais de R$ 30,00. A nossa única certeza é que muita gente que lê Turma da Mônica não vai migrar para outros produtos.

    A Maurício de Sousa, o Boldinho e a censura

    E por falar em Turma da Mônica…

    No final de 2020, fomos surpreendidos, negativamente, com a notícia de que a Maurício de Sousa Produções havia notificado extrajudicialmente o cartunista underground Daniel Paiva em razão de sua paródia da Turma da Mônica, por conta de seu personagem Boldinho. Sim, Maurício de Sousa, o homem que tanto parodiou outros personagens, obras e histórias decidiu ameaçar de processo quem o parodiava com base na Lei de Direitos Autorais.

    Segundo a empresa, o personagem Boldinho e os demais coadjuvantes associavam a MSP ao consumo de entorpecentes, entre outras coisas. Sim, o personagem lida com temas voltados às drogas e transversais, em especial, maconha. No entanto, esse material não é comercializado para o público infantil, e sequer circula nesse meio.

    Causa estranheza tais argumentos para quem acompanha a empresa, já que em 2013 o Cebolinha em uma propaganda da AMBEV ensinou as crianças que tomar cerveja era um hábito transgeracional, apenas ensinando as crianças que existia uma idade correta para consumir bebidas com álcool. Em 2018, a parceria se deu com a indústria armamentista brasileira. Pelo visto a preocupação com a defesa da infância se dá em maior ou menor grau conforme os dígitos que entram na conta bancária da empresa.

    As baixas tiragens de mangás da Panini

    Se o aumento de preço frequente já é fator fundamental no dia-a-dia de qualquer consumidor de quadrinhos, os leitores de mangás da Panini ainda precisam se preocupar com as tiragens limitadíssimas da editora. Em 2020, isso parece ter se agravado ainda mais com diversos mangás recém-lançados esgotados em semanas. Isso se deu com títulos dos mais diversos, desde os mais simples até os mais luxuosos. E nós, reles mortais que ficamos equilibrando nossas finanças para poder adquirir os quadrinhos do mês entre uma promoção e outra, ainda nos deparamos com buracos em nossas coleções pela completa falta de planejamento de uma editora que sequer faz ideia do público que possui.

    O cancelamento e adiamento das feiras e convenções de quadrinhos

    Não é novidade que cultura e arte são pouco valorizados por aqui. Com a chegada do governo Bolsonaro e da pandemia, o que vemos é um cenário caótico para muitos artistas. O Fundo Nacional da Cultura seria uma ferramenta para suprir esta demanda em um momento atípico como este parece inexistente, e muitos deles dependem da ajuda de amigos para subsistência. Na área de quadrinhos não poderia ser diferente.

    Após os cancelamentos de boa parte das feiras e convenções o cenário se tornou ainda mais difícil para artistas e pequenas editoras que dependem desses eventos segmentados como importante fonte de renda. Enquanto não existe uma política pública adequada, eles se viram como podem, seja por comissions, promoções, plataformas de financiamento coletivo, e em alguns casos, ajuda de amigos.

    A crise da distribuição

    Já não é novidade para ninguém da crise de distribuição existente em um país de escala continental como o Brasil. Contudo, a pandemia parece ter surgido para acelerar processos, para o bem e para o mal. Em 6 de novembro, a Dinap e a Treelog, empresas integrantes do Grupo Abril, informaram o rompimento de contratos, unilateralmente, com suas editoras-contratantes. O problema de distribuição e consignação tem se agravado nos últimos anos, principalmente com o processo de recuperação judicial do Grupo Abril, mas agora parece que a pandemia colocou a última pá de cal neste sistema.

    2021 será um desafio para as editoras que dependem da do Grupo Abril, como ocorre com a Mythos. Além disso, esperamos que os problemas de consignação não tragam mais problemas ainda para as editoras, como ocorreu com a inadimplência da Saraiva e Cultura, que além de não devolver os produtos consignados, ainda não pagou por eles. Hoje as editoras aguardam na fila de credores para receber uma parte do que é seu por direito.

    O retorno dos mixes

    Após alguns anos sem publicação de quadrinhos no formato mix nas publicações mensais, 2020 também ficou marcado pelo anúncio da Panini em uma live no YouTube na CCXP Worlds sobre o retorno desse tipo de compilação editorial.

    Obviamente, muitos fãs se decepcionaram com a editora (mais uma vez), já que há algum tempo podiam acompanhar seus personagens em revista solo mensais ou em encadernados que reuniam arcos de histórias sequenciadas, e esperavam acompanhar o Thor do Donny Cates, Capitão América do Ta-Nehisi Coates e etc. de forma individualizada. Pelo visto as vendas não estavam agradando e a Panini decidiu retomar a prática do mercado editorial brasileiro durante décadas.

    Aos que seguirão acompanhando, torço para que a editora ao menos faça um bom mix, o que sequer ocorreu na revista Batman & Superman (já cancelada pela Panini) que tinha tudo, menos Batman & Superman.

    A não-tradução do omnibus do Conan

    Neste mesmo ano a Panini decidiu colocar no mercado seu primeiro omnibus – diversas edições que foram publicados separadamente compiladas em um volume único – e o personagem escolhido foi o Conan. A edição de mais de 700 páginas reúne o material publicado pela Marvel Comics nos anos 1970 nas revistas Conan: The Barbarian e Savage Tales.

    Ainda que se trate de um material de luxo, com preço de capa de R$ 249,00 (duzentos e quarenta e nove reais), a editora achou que seria de bom tom não traduzir quase 70 páginas de material extra existente na edição, ou seja, aproximadamente 10% do material não é possível ler em português. Um completo desrespeito ao público brasileiro, mas que diz muito sobre nosso consumidor, já que em poucos dias o material já era impossível de ser encontrado para compra. A resposta da editora foi a pior possível, informando que outros países de língua não-inglesa, como Itália e Espanha, saiu da mesma forma. O que só deixa claro que o editorial da Panini nesses países é tão patético quanto no Brasil.

    É óbvio que os extras de uma edição como essa não seria lido por todos, no entanto, num país de língua portuguesa, o mínimo que se espera é que o material seja publicado em… língua portuguesa. Do contrário, você está segregando leitores. Para piorar, a editora anunciou o volume 2 e disparou que não traduziria todos os extras, mas apenas uma parte deles. O brasileiro merece a Panini.

    Destro

    Sem romantismos do tipo “quadrinhos são uma mídia progressista, criados e consumidos pela classe trabalhadora”. Qualquer discussão nesse sentido ignora o processo de elitização da mídia, não só no Brasil, mas no mundo, e ainda ignora que uma parcela da classe trabalhadora é conservadora. Ora, em um cenário onde o sistema hegemônico é o capitalismo e a filosofia social que rege boa parte do mundo é o conservadorismo ou o liberalismo, não me causa qualquer estranheza que quadrinhos de direita tenham crescido nos últimos anos. E Destro e seu autor é apenas um expoente desse movimento no Brasil. Importante lembrarmos que Stan Lee criou o Pantera Negra antes do Partido dos Panteras Negras e tentou de todas as formas que seu personagem fosse vinculado ao movimento, Steve Ditko era grande apaixonado pela obra e filosofia de Ayn Rand e isso se refletiu até mesmo no sobrenome do personagem Punho de Ferro, Frank Miller despejou xenofobia em um passado recente e criticou o movimento Occupy Wall Street, entre tantos outros autores controversos e de direita que fizeram falas problemáticas, como Chuck Dixon, John Byrne, Bill Willingham etc. Nem todos são Alan Moore.

    No Brasil, Luciano Cunha publicou os quadrinhos do Doutrinador em 2013, início do processo de efervescência política nas ruas e redes sociais. O personagem ganhou filme anos depois e com a crescente polarização o autor foi se movendo cada vez mais à direita no espectro político, deixando de lado o discurso de “Fora Todos” e contra corrupção e se posicionando favorável a movimentos de extrema-direita e ao próprio presidente Jair Bolsonaro. Toda essa mudança culminou no lançamento de Destro, em 2020, ao lado do ilustrador Michel Gomes. Por alguma razão, Cunha optou por lançar meio do pseudônimo Ed Campos.

    Na trama, conhecemos uma São Paulo distópica do ano de 2045 governada pelos comunistas globalistas, onde o “real” foi substituído pela moeda “real rubro”, com a figura de Che Guevara estampadas em suas células e a população precisa caçar ratos para se alimentar. Destro é nosso herói, um vigilante destinado a lutar por nossa liberdade e derrubar esse governo que impõe sua agenda progressista, anti-conservadora, anti-cristã e outras idiotices do gênero (risos).

    O projeto foi financiado pelo Catarse e alcançou uma marca impressionante de quase R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), algo bastante considerável neste meio, mas que não causa espanto para quem o acompanha. Com frequência acompanhamos o público conservador, no Brasil e no mundo, se mobilizando de forma contrária à qualquer menção progressista dentro dos quadrinhos de super-heróis, sendo taxada de “lacração”, “mimimi” e “politicamente correto”. Desse modo é natural que Destro atinja tal público e já tenha sido licenciada em vários países antes mesmo de seu lançamento, enquanto outros artistas ainda lutam por seu lugar ao sol. Talvez isso seja um reflexo de como esses leitores tem uma certa dificuldade em crescerem, como Moore gosta de lembrar.

    Se você acha pouco, o autor está trabalhando em uma sequência de Doutrinador, dessa vez contra o globalismo (e lá vamos nós) e o vírus chinês (Família Bolsonaro e Ernesto Araújo aprovam). Para finalizar, encerro este assunto com duas belas páginas de Destro matando ratos com sua pistola (?!) para se alimentar. Genial!

  • Melhores Leituras em 2020

    Melhores Leituras em 2020

    Listas são inevitáveis (e divertidas). Quando os anos trocam de números, naturalmente observamos o passado analisando o que permaneceu nos extensos dias em que vivemos. Como muitos outros mercados, a literatura em 2020 sentiu o peso da pandemia mundial. Embora tenha atraído mais leitores, e promovido uma interessante ação das editoras brasileiras com diversos ebooks gratuitos, seu objeto físico encareceu.

    Porém, ao contrario de outros mercado em que a velocidade destaca e afasta produtos rapidamente, livros são um produto sem data de expiração. Quando propus uma lista em conjunto sobre as melhores leituras de 2020, houve um consenso de que bons leitores não se atém apenas as novidades. Quase nunca, talvez. O melhores livros lidos devem ser do ano? Absolutamente não.

    Assim, fizemos essa lista a dez mãos, leitoras, leitores e leituras que compartilham a paixão frenética da literatura e de seu debate.

    Grande Sertão: Veredas, Guimarães Rosa – por Luíze Ribas (@amareliteraria / @litsemfrescura / @luizeribas)

    Clássico da literatura brasileira, Grande Sertão: Veredas é aquele típico livro que só entendemos mesmo quando lemos e mergulhamos na narrativa belamente criada por Guimarães Rosa, que atravessa um sertão que é a cara – ou seria essência? – do Brasil. Paixão, violência, irmandade, vingança, amor, busca por justiça social, coragem: tudo isso embrenhado na história de Riobaldo, narrador-personagem e orador da melhor espécie. Sim, orador, pois o livro é escrito como se Riobaldo estivesse contando, oralmente, seus causos, reflexões e sua relação com Diadorim. Uma linguagem desafiadora até o momento que compreendemos que é uma conversa, e se formos bons ouvintes, participamos conjuntamente dessa travessia, sendo marcados para sempre por ela.

    O Remorso de Baltazar Lampião, Valter Hugo Mãe – por May Moreschi (@may.book.s / @litsemfrescura /@may.moreschi)

    O remorso de Baltazar Serapião é um livro inesperado. Li por indicação de uma amiga e me surpreendi com a escrita avassaladora e potente de Valter Hugo Mãe. Assim como descreveu José Saramago, este livro “é um tsunami”. Relato regionalista e cruel dos tempos medievais que vai te fazer questionar o realismo e crueldade humanos. Um retrato de uma época crua e selvagem me levam a pensar este livro como uma reflexão perversa do ser humano em todas as suas vertentes mais baixas e vis possíveis Te deixará sem fôlego e com certeza te fará questionar o sentido da palavra: esperança.

    A Trégua, Mario Benedetti – por Thaíse Dias (@realidadeliteral / @litsemfrescura/ @thaise_dias)

    Um livro escrito em forma de diário. O diário de Martin Santomé, um viúvo, pai de três filhos já adultos e prestes a completar 50 anos e conseguir a sua aposentadoria. Por meio do diário de um homem de classe média, Benedetti consegue demonstrar um lado da natureza humana com a qual a maioria, se não todos nós nos identificamos, e a trégua que lhe é concedida nos parece uma trégua também, e quando ela acaba nos vemos, assim como ele, perdidos e somos levados a questionar nossa própria existência. Simplesmente genial.

    Educação Sentimental, Gustav Flaubert – por Thiago Augusto Corrêa

    Baseado em experiências vividas pelo autor, Flaubert desejava compor a história moral dos homens de sua geração em A Educação Sentimental. Embora a narrativa se inicie a partir da paixão de jovem francês por uma mulher mais velha, a obra transita de maneira cínica pela sociedade da época destacada por um personagem central volúvel. Um romance de formação que atravessa as revoluções da França se valendo de um discurso indireto livre perfeitamente executado, demonstrando que que, não a toa, o autor foi chamado de o pai do realismo. Embora o excesso de descrições possa incomodar o veloz leitor contemporâneo, a ambientação é vital para a imersão narrativa.

    Regresso a Casa, José Luís Peixoto – por Vera Pinheiro (@ogatoleitor7)

    Intimidade, confissões, família, memória e pacificação: assim é o novo livro de poemas de José Luís Peixoto. Fala-nos das quatro paredes de uma casa – e de todas as suas recordações em tempo de pandemia. Evoca a solidão, o isolamento, as portas fechadas, mas também a solidariedade das recordações: a mãe, o pai, os aromas, a família, a aldeia, o amor. Há espaço para a recordação da infância como para a peregrinação pelo mundo inteiro, como um Ulisses em viagem perpétua, rodeado de objetos próximos e voltado para dentro, para o lugar onde se regressa sempre: a casa.

    Cem Anos de Solidão, Gabriel Garcia Márquez – por Luíze Ribas (@amareliteraria / @litsemfrescura/ @luizeribas)

    Colossal, envolvente, brilhante: muitas palavras podem descrever o impacto desta leitura. Um livro que diz tanto sobre nós, nosso ser, nosso âmago latino, nossa sociedade e sobre nossa íntima relação com o mágico e fantástico no dia a dia, assim como sobre as guerras perdidas, lutas travadas e sangue derramado na América Latina. Gabriel García Márquez, ou simplesmente Gabo, faz poesia com as palavras e, mestre do contar como ele, evoca imagens poderosas que nos proporcionam um pertencimento inacreditável. É como se também fizéssemos parte daquela família, os Buendía, e vivêssemos na mítica Macondo. Um livro para ler, reler e descobrir continuamente, num ciclo que não se encerra, só se renova, assim como sua história.

    Pessoas Normais, Sally Rooney – por May Moreschi (@may.book.s / @litsemfrescura /@may.moreschi)

    Pessoas Normais é um livro sobre, quem diria?, Pessoas normais! O relacionamento de Mariane e Connell não é uma história de amor… É uma história sobre amor. A insegurança, fraqueza, falta de comunicação, medos e incertezas permeiam a personalidade desses dois protagonistas que vão viver uma jornada de encontros e desencontros que poderiam ser a sua história contada em um livro. O que mais me emocionou foi a veracidade de tudo o que acontece na narrativa. Simplesmente fiel ao ser humano e aos relacionamentos um tanto conturbados pelas incertezas do amanhã e, principalmente, do outro. Lindo, fiel e real… Simplesmente.

    Matadouro 5, Kurt Vonnegut – por Thaíse Dias (@realidadeliteral / @litsemfrescura/ @thaise_dias)


    Uma história de ficção científica – ou não. Eu nunca li nada que retratasse a guerra de maneira tão real e criativa. Billy Pilgrim, o protagonista dessa trama, passa por situações surreais que servem apenas para nos mostrar que, apesar do que ele teima em dizer o tempo todo, não está tudo bem, e a guerra não é aquela coisa heroica que os filmes hollywoodianos teimam em pintar.

    O Demônio do Meio-Dia: Uma Anatomia da Depressão, Andrew Solomon – Por Thiago Augusto Corrêa

    Apesar de certas frases feitas que negam doenças aparentemente invisíveis, a depressão é um dos demônios modernos. Vivendo dentro desse pesadelo, o escritor Andrew Solomon discorre brilhantemente sobre o tema nesse livro de 2001 vencedor do National Book Award e finalista do Pulitzer em 2002. Abordando a doença a partir da própria experiência, o autor analisa, capítulo por capítulo, a ciência, os remédios, a terapia, os estigmas, o suicídio e demais facetas sobre o assunto sem perder o ritmo. Um livro de não-ficção denso e sem excesso de academicismo.

    O luto de Elias Gro, João Tordo – por Vera Pinheiro (@ogatoleitor7)


    Neste livro com uma história tocante o narrador, lacerado pelo passado, luta com os seus demônios no local que escolheu para se isolar: uma pequena Ilha no Atlântico. Mas para além da tão desejada solidão, ele acaba por encontrar muito mais. Uma narrativa tocante e comovente.


  • Future State: A Mulher-Maravilha e o Brasil

    Future State: A Mulher-Maravilha e o Brasil

    Yara Flor é uma nova personagem da DC Comics, brasileira, latino-americana, que reúne elementos tanto da mitologia grega, típica da personagem de William Moulton Materston, com elementos do folclore brasileiro. A personagem é uma aposta da editora tanto nos quadrinhos, quanto em outras mídias. Atualmente há a promessa de que a personagem terá até série da CW.

    Após os arcos iniciais da heroína, conseguiremos analisar com maior propriedade. Porém, como qualquer novidade que surge nos quadrinhos de super-heróis, é sempre interessante analisar o potencial da novidade com primeiras impressões da nova fase. A nova personagem está inserida no evento Future State que promove um salto temporal na cronologia da DC Comics, como um provável futuro com novos heróis e, claro, novos roteiristas.

    Os créditos dessa revista Joelle Jones escrevendo e desenhando com cores exuberantes de Jorne Bellaire. As primeiras páginas apresentam uma ação desenfreada, estabelece bem o quanto Yara Flor é implacável e poderosa, como era a Diana Prince original, transmitindo uma boa ideia de legado, ao menos nessa gênese.

    A mistura de divindades típicas da mitologia dos nativos brasileira é aludida brevemente, ainda que não podemos saber se será bem desenvolvida. Porém, desde já, Tupã no mesmo nível de Zeus já é um bom indício de respeito a divindade. Nas redes sociais houve certa gritaria a respeito de representatividade, um tema que seria necessário um texto a parte e que, no momento, não há intenção do autor em desenvolver a respeito.

    Como é evidente, tanto a autora quanto a colorista são mulheres mas o fato não impede a HQ de cair em clichês sexistas, mas ao menos garante um olhar diferente que evita o exagero dos traços que transformam muitas personagens femininas, como Flama Verde / Fogo da Liga Cômica, como um mero deleite aos olhos para um público masculino.

    A reclamação sobre Yara ser objeto de fetiche tem algum sentido, mas dado que nos quadrinhos de super-heróis até os homens são postos em colantes que valorizam seus músculos e corpos perfeitos, a personagem tem um ganho com seu uniforme que, ao menos, a cobre como um maiô. Não há tantos planos  que detalham suas curvas e seus poderes transmitem a sensação de que ela é uma heroína genuína. Não é meramente uma cópia torta da personagem original.

    As entidades que representam as figuras lendárias do folclore brasileira são bem registradas, suas contra partes são visualmente arrojadas, e combinam bem com o cenário de mitologia grega típico da Mulher Maravilha. É cedo para saber se haverá mais misturas entre mitos. Sobre aqueles apresentados nesse primeiro número, a Caipora se destaca. E como a tradição oral produz varias versões sobre essas criaturas nas matas brasileiras, nem mesmo é possível reclamar sobre fidelidade ou não.

    A nova Mulher-Maravilha tem um bom início e um interessante misto entre o clássico e o novo. Fica a torcida para que tom prossiga com qualidade nos próximos números e que os roteiros possam findar bem esses elementos iniciais.

  • O que Aconteceu com o Superman Elétrico?

    O que Aconteceu com o Superman Elétrico?

    Os anos noventa foram bem curiosos em matéria de qualidade de roteiros em quadrinhos, especialmente no que toca os super heróis. Enquanto boas iniciativas e sagas ocorreram, como a Liga da Justiça de Grant Morrison, os runs do Homem Morcego e boa parte da invasão britânica, também ocorreu nessa época o boom da Image Comics, em sua fase mais massa veio. Dentre os vários momentos sensacionalistas, houveram sagas que variavam de qualidade, como as polêmicas A Queda do Morcego e A Morte do Superman. Obviamente, seu retorno não muito tempo depois, e o uso de pochetes, trabucos e armas de fogo enormes começaram a invadir até os gibis de heróis super poderosos, que não precisariam dar tiros para sobreviver, e isso evidentemente tocou o kriptoniano.

    Pouco depois que retornou a vida, o Super-Homem apareceu com poderes diminuídos, usando cabelos grandes, roupa preta e repaginada, sem capa e com emblema prateado, num visual que demonstrava que a fase do roteirista e desenhista Dan Jurgens era bem diferente da série de John Byrne, ou as anteriores com Curt Swan e outros artistas. No entanto, essa mudanças apesar de chocarem alguns leitores, não causaram tanto furor como quando ele apareceu com poderes elétricos, mudando completamente seu estilo, visual e até as habilidades sobre-humanas.

    Alguns dos visuais do herói ao longo das décadas.* 

    No Brasil, a fase foi toda publicada pela Editora Abril, e dificilmente será reeditada e republicada por aqui. A historia é longa, reunindo mais de 70 revistas entre Action Comics, Superman, Adventures of Superman e outras, excluindo aí revistas de grupo como a da Liga da Justiça, e toda essa fase é bem presa à cronologia.

    Esta versão do personagem, embora se alardeasse que era definitiva, claramente não teve um planejamento tão forte. Entre as diferenças entre o clássico e esta nova configuração, há o fato de quando se desmagnetiza, fica vulnerável, como um humano comum. Além disso, o personagem tem uma estranha sinergia com objetos eletrônicos (chega ao cúmulo de entrar em um computador, onde se percebe até linguagem binária em suas pupilas). As balas atravessam seu corpo, que portanto fica intangível quando ativo. Esta nova função é mostrada de maneira estranha, um bocado incongruente, pois funciona ao gosto dos artistas e roteiristas, já os outros poderes são descobertos aos poucos, e incluem teleporte, variação da densidade corporal (pode crescer e diminuir conforme quiser), além da estranha condição de viajar por linhas telefônicas. Além disso, Clark precisa utilizar roupas de isolamento. Das habilidades que perdeu, há a super velocidade, visão de raio x, visão de calor, que tem a compensação de lançar raios. Além disso, embora siga voando e permaneça super forte, a kryptonita não o afeta mais.

    O slogan que fala que o Super está pronto para o próximo século não é dito apenas pelo material de propaganda, mas também pelo próprio Clark. A forma como os personagens secundários o enxergam é artificial demais. Nem seus pais parecem ser os mesmos, e há um exagero para demonstrar que está ainda mais poderoso, obviamente um fato muito contestável. Fora essas conveniências capitaneadas por Jurgens, há uma participação muito boa dos desenhistas, entre eles Stuart Immonen (que fez anos mais tarde a belíssima Superman: Identidade Secreta),  Jon Bogdanove (artista cujo traço é bruto e característico) e Tom Grummet (famoso por desenhar o Superboy em suas primeiras revistas). Esses estilos, bem diferentes entre si, produzem ótimos momentos da família Super, resgatando a dignidade perdida nesta fase graças aos textos.

    Propaganda dentro das revistas da Abril, anunciando as mudanças de paradigma do kryptoniano.

    Existem historias paralelas que poderiam ser bem exploradas, como o tratamento de câncer de Perry White e a editoria que Clark faz no Planeta Diário na ausência por saúde de seu velho amigo. Mas isso é mal explorado do ponto de vista emocional e parece gratuito. Em compensação, a estranha condição de Jimmy Olsen como apresentador de programas de auditórios é constante, tem certa importância dramática mas não é bem trabalhada dramaticamente também.

    Essa fase é bem característica de seu tempo. Os vilões clássicos também aparecem em alguns pontos, mas mesmo a motivação deles parece estranha. Uma das explicações para a troca de poderes do Super seria por uma interferência de Lex Luthor. No entanto, as razões que teriam feito o vilão cometer tais atos não se encaixam. Seu plano aconteceu devido ao futuro nascimento de seu filho. Mas tentar diminuir os poderes de seu antagonista não parece ser imporante para o nascimento de um novo Luthor.

    Além disso, há a repetição de outros conceitos como as  tentativas de substituir o Superman como o resgate de dois Superman, o azul e o vermelho, uma duplicidade gerada após estranhas experiência envolvendo o Homem dos Brinquedos e o Super Ciborgue. A referência claramente traz uma nova versão do conceito de 1963 em Superman #162, embora aqui não haja o mesmo contexto e comentário político da historia antiga. Há um bom artigo sobre isso, chamado Guerras Frias e a história dos Supermen Azul e Vermelho, do grande Felipe Morcelli, que explica essa versão antiga com boa pesquisa e ótima contextualização.

    Os Superman de cores diferente, nos anos 60

    Se a qualidade dos roteiros não é  positiva, ao menos se tenta humanizar o sujeito. Clar Kent não sabe lidar com duas copias idênticas de si. Como herói funciona bem, pois pode se desdobrar e ajudar a Liga, os Titãs e outras cidades além de Metrópolis. Mas Lois sofre muito, não sabendo como conviver com dois maridos ao invés de um. Nunca se soube qual era a verdadeira extensão de poder das partes nessa nova configuração. Embora a situação intentasse ser definitiva, era natural que em algum momento a estruturação do personagem voltaria ao normal.

    Como já era esperado, o Super-Homem voltou a ser quem era, unico, com as cores da bandeira americana ostentadas em seu peito e músculos. Misteriosamente ele repete o clichê de cair nu, em uma área rural do Kansas (no caso, em Pequenópolis) na fazenda dos Kent. A sua entrega para salvar a Terra o teria feito mudar as moléculas de seu corpo, e isso restaurou sua antiga identidade, unindo os dois para voltar a ser somente um e igual ao que o status quo sempre pregou no que era conhecido na Era de Ouro e de Prata. Fica um bocado dúbia a questão relativa a possivelmente um deles – o vermelho – ter se sacrificado. Ou se por um milagre um absorveu o outro, literalmente ou energeticamente. Como boa baboseira dos anos noventa, a fase do herói termina assim sem nem sequer uma reflexão sobre o outro ou uma explicação de que os dois se unificaram.  O resultado é uma breve lembrança na memória dos leitores mais preocupados com cronologia, mas sem causar grandes efeitos ou sequelas nas vidas do personagem e na ambientação de suas aventuras.

  • Melhores Animes de 2020

    Melhores Animes de 2020

    Confira a lista dos melhores animes que se destacaram em 2020.

    O ano de 2020 foi difícil para a cultura em geral, e com o mundo dos animes não seria diferente. Vários projetos adiados e transmissões interrompidas para zelar da saúde dos realizadores e responsáveis. Ainda assim, muito material interessante chegou ao público, dos mais diversos projetos e com uma expansão cada vez mais forte dos animes mundo afora. E vamos a lista!

    10. The God of Highschool

    Da leva dos originais do Crunchyroll, The God of Highschool veio para dividir opiniões, principalmente por acelerar os acontecimentos, mas também empolga na ação. O anime conta as aventuras de Jin Mori, Yoo Mira e Han Daewi, que entram no The God of Highschool, um torneio de artes marciais onde o vencedor poderá realizar um desejo, seja lá qual for, e os três jovens enfrentam todo tipo de adversário. A obra, com 13 episódios disponíveis, é uma ode aos grandes animes de luta, com inspirações de Dragon Ball até JoJo’s Bizarre Adventure, com batalhas usando captura de movimento, tornando os golpes mais realistas em meio às lutas espetaculares, que são guiadas pela trilha sonora com influência do kpop, devido ao material original ser uma webtoon sul-coreana, escrita por Youngje Park, usando bastante a cultura do país.

    9. BNA: Brand New Animal

    O original da Netflix em conjunto ao estúdio Trigger, que repetem a parceria já vista em Little Witch Academia. O anime mostra a história de Michiru Kagemori, uma garota que, por algum motivo misterioso, ganha aparência animalesca e acaba em Animalia, uma cidade habitada pelos ferais, humanos que têm a habilidade de se transformarem em animais. A garota se junta ao detetive Shirou Ogami, um homem-lobo, para tentar descobrir o motivo dela ter se transformado em feral, enquanto lidam com problemas na sociedade de Animalia. Disponível em 13 episódios.

    8. Deca-Dence

    Dirigido por Yuzuru Tachikawa (Mob Psycho 100), o anime conta sobre um mundo pós-apocalíptico onde os humanos vivem em uma fortaleza móvel chamada de Deca-Dence. A humanidade luta contra os Gadolls, monstros que diminuíram a população e fizeram com que os humanos se protegessem na fortaleza. Os guerreiros que lutam contra esses monstros são divididos em Gears, que representa a elite, e os Tankers que são os humanos de baixo escalão. Uma garota chamada Natsume sonha em ser uma Tanker, mas acaba sendo movida para trabalhar na manutenção da fortaleza com o misterioso Kaburagi. Tudo começa a mudar na vida de Natsume e também em toda a trama.

    7. Akudama Drive

    O estúdio Pierrot, famoso por produzir obras extensas como Naruto, Bleach e Yu Yu Hakusho, aposta num anime de 12 episódios e com muito estilo, aproveitando a onda cyberpunk, colocando cores vibrantes e ação usando bem o slow-motion e gadgets tecnológicos. Akudama Drive se passa num Japão futurista, em que o governo persegue um grupo de criminosos altamente perigosos denominado de Akudama. A polícia anuncia a execução de Cutthroat, um dos Akudama, e vários nomes perigosos são convocados para libertá-lo em troca de uma recompensa enorme.

    6. The Day I Became a God

    De Jun Maeda, criador de Angel Beats, a história aborda a vida de Yota Narukami, que durante seus exames no ano de graduação do ensino médio, conhece Hina Sato, que se denomina como uma deusa. Hina diz que o mundo irá acabar em um mês, mas Yota duvida, porém ela começa a acertar previsões, o que faz o jovem crer realmente que ela é uma divindade. Então Hina e Yota vão ajudando as pessoas nesse período até o fim do mundo e conta como ela se transformou em uma deusa. O anime distribuído em 12 episódios e produzido pelo estúdio P.A.Works, o mesmo de Angel Beats

    5. Sing “Yesterday” for Me

    Um slice of life que conta a história de quatro jovens tentando lidar com a vida adulta enquanto relembram acontecimentos do passado que ainda permeiam no presente. O anime adapta livremente o mangá de Kei Toume e foi desenvolvido em 12 episódios, disponíveis no Crunchyroll.

    4. Great Pretender

    Mais um original Netflix, Great Pretender conta a história de Makoto Edamura, um vigarista que se considera o maior do Japão. Um dia, ele se encontra com o misterioso Laurent Thierry e começa a fazer parte do seu grupo, crescendo sua fama como ladrão cada vez mais. Great Pretender tem um visual colorido marcante, empolga pela série de crimes arquitetados e pelo carisma dos personagens. Desenvolvido pelo estúdio Wit, responsável pelos enormes sucessos Attack on Titan e Vinland Saga, foi distribuído em 23 episódios na Netflix.

    3. Dorohedoro

    Baseado no mangá de Q Hayashida, o anime apresenta um mundo biopunk, que se divide em duas realidades, o Buraco, lugar que os humanos residem e o Mundo dos Feiticeiros, onde esses são uma raça diferente dos humanos, tendo poderes especiais e tem a capacidade de atravessar as dimensões e ir para o Buraco, tendo uma rivalidade com os humanos. Em meio a isso, Kaiman, um humano com cara de lagarto, junto à sua parceira Nikaido, tentam descobrir o motivo de Kaiman ter essa aparência reptiliana, caçando e interrogando os feiticeiros que possam ter feito isso com ele. O anime, repleto de gore e comédia, foi produzido pelo estúdio MAPPA e distribuído pela Netflix em 12 episódios.

    2. Jujutsu Kaisen

    O grande sucesso do ano é sem dúvida Jujutsu Kaisen. A nova jóia da Shonen Jump, escrita pro Gege Akutami, foi adaptada em anime pelo estúdio MAPPA, trazendo a história de Yuji Itadori, o jovem que vive o luto do seu avô, e por desventuras dos seus colegas de escola, acaba comendo o dedo do demônio Ryomen Sukuna e passa a dividir a sua consciência com o ser amaldiçoado. Ele é recrutado pelos feiticeiros Jujutsu, uma ordem que lida com as maldições, seres sobrenaturais que atormentam o mundo real. A série carrega uma lindíssima animação, com uso dos elementos de terror somados a várias cenas de ação extraordinárias. Anime segue em exibição no Crunchyroll, com previsão de ser finalizado em 24 episódios.

    1. Keep Your Hands Off Eizouken!

    O visionário diretor de animes Masaaki Yuasa (Devilman Crybaby) faz de Keep Your Hands Off Eizouken! uma carta de amor à indústria dos animes e a quem almeja ser um realizador de animação. Serializado em 12 episódios no Crunchyroll, a trama traz Midori Asakusa, uma jovem que ama animes e adora desenhar esboços, que encontra Tsubame Mizusaki, uma modelo famosa que secretamente cria personagens e tem o sonho de ser animadora. Elas unem seus desejos e paixão pela animação e criam o clube de audiovisual “Eizouken”, com a ajuda de Sayaka Kanamori, tendo o objetivo de criar um anime experimental. A cada união de pensamento das garotas, o anime coloca a imaginação delas para saltar na tela, com todo episódio tendo um show de animação excelente, enquanto elas montam passo a passo o seu projeto. Sem dúvidas é o melhor de 2020.

    Texto de autoria de Wedson Correia.