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  • Crítica | O Alvorecer de Kaiju Eiga

    Crítica | O Alvorecer de Kaiju Eiga

    O Alvorecer de Kaiju Eiga é um documentário abrangente e elucidativo a respeito do fenômeno dos filmes de monstros gigantes japoneses pós-segunda guerra. Conduzido por Jonathan Bellés, o longa traça um paralelo entre a bomba atômica lançada em Hiroshima com o fenômeno de monstros gigantes atacando Tóquio e outras cidades do Japão.

    Na hora de falar a respeito da saga Gojira/Godzilla o filme detalha as diferentes fases da saga comandada pela Toho e destaca as eras Showa, Heisei, Millenium e Reiwa. Para remontar essas questões, Bellés entrevista membros da produção, entre eles o ator Akira Takarada, de Godzilla de 1954.

    Uma das boas histórias resgatadas é a do especialista em efeitos especiais Eiji Tsubaraya, que na década de cinquenta foi impedido de assinar as obras que participava por conta dos filmes propagandistas japoneses pré-Segunda Guerra Mundial que prestou serviços. O documentário revela sem pudor que após a derrota do Eixo para os Aliados, a política americana impediu gente da indústria da arte de trabalhar com o que sabiam fazer, entre eles Tsubaraya. A importância dele é tanta que quando faleceu, Ishiro Honda, diretor de Godzilla e King Kong vs Godzilla, afirmou que ele era o mais importante dos artistas que produziram filmes com Kaijus e que sem ele o gênero tokusatsu não existiria.

    O filme reúne entrevistas antigas, e essas histórias de bastidores enriquecem bastante a experiência de ver os filmes  e ajudam a entender um pouco do fenômeno que essas criaturas causaram em público e crítica. É curioso como Gojira causou mais impacto do que King Kong, de 1933, no sentido de criar um subgênero e produtos relacionados, evidentemente, os efeitos visuais duas décadas depois colaboraram com isso. No entanto, o fator defendido em O Alvorecer de Kaiju Eiga para o maior sucesso de Godzilla em comparação com seu “rival” foi o sentimento melancólico do Japão pós-guerra, pois perder o conflito aparentemente fez que o público não tivesse tanto pudor em ser mais pessimista e depressivo, enquanto os “vencedores” dos Estados Unidos, teriam afeição mais natural a temáticas mais inspiradoras e otimistas, tanto que Godzilla: O Rei dos Monstros, a versão dos EUA para Godzilla, lançada em 1956, foi reeditada com roteiro diferente e um forte esvaziamento do subtexto antinuclear.

    Bellés faz um filme que introduz muito bem o conceito envolvendo este subgênero, mesmo para aqueles que não são entusiastas, e ainda traça paralelos com a sociedade e o consumo desse tipo de produto. Além disso, retrata como Gojira foi evoluindo em conceito, em alguns pontos sendo o resultado da interferência humana na Terra, ora a reencarnação das almas perdidas na guerra, e em outras servindo de alerta ao consumo desenfreado de recursos naturais. Mesmo tendo menos de uma hora, o filme consegue traçar paralelos da filmografia com as catástrofes do mundo moderno e ainda causar curiosidade no espectador.

  • VortCast 96 | Godzilla vs Kong

    VortCast 96 | Godzilla vs Kong

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Bernardo Mazzei, Filipe Pereira (@filipepereiral) recebem Daniel Fontana do Formiga Elétrica para bater um papo sobre o embate do ano nos cinemas: Godzilla vs Kong. Conheça um pouco sobre as origens dos personagens, seus confrontos e o futuro do MonsterVerse.

    Duração: 90 min.
    Edição: Rafael Moreira e Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Rafael Moreira e Flávio Vieira
    Arte do Banner:
     Bruno Gaspar

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    King Kong e suas versões no audiovisual

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  • King Kong e suas versões no audiovisual

    King Kong e suas versões no audiovisual

    Kong é possivelmente o símio mais famoso do cinema, conhecido como Rei dos Macacos foi criado por Merian C. Cooper, produtor, diretor, roteirista e editor do clássico King Kong de 1933. Cooper, quando ainda era criança, ganhou o livro Explorações e Aventuras na África Equatorial escrito por Paul Du Chaillu em 1861, e em meio a leitura, teve a ideia fixa de contar uma história protagonizada por um macaco gigante, em uma península isolada no mapa, em um cenário semelhante ao visto na Terra Selvagem que a Marvel instituiria décadas depois.

    Transformar essa ideia em um filme ocorreu enquanto Cooper rodava As Quatro Penas, filme de 1929 que se passava na África. O cineasta pensou em usar um gorila congolês de verdade para filmar, colocando ele para brigar com outros animais como um Dragão-de-Komodo, mas ao final, optou por utilizar cenas em animação stop motion com dinossauros e seres pré-históricos. O personagem virou sinônimo da luta entre o homem e a natureza, abaixo o leitor confere as suas encarnações e alguns extras.

    King Kong (Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack, 1933)

    No filme original há o gorila de proporções gigantescas como uma lenda, soberano em um lugar isolado: a Ilha da Caveira. Uma equipe de cinema decide viajar até uma ilha desconhecida, localizada em um antigo mapa, para encontrar uma locação exótica e assim esbarram no colosso mamífero. A história seria replicada por praticamente todas as suas outras versões. A obra revolucionaria o cinema de efeitos especiais e ajudaria a influenciar o cinema do mundo inteiro, como o japonês que criou Gojira/Godzilla mais de 20 anos depois, e até resgataria o personagem.

    A ida de Kong até a América serviria de exemplo do quanto o homem pode ser megalomaníaco. Cooper queria que o animal tivesse entre 12 e 15 metros, mas a decisão final ficou nas mãos dos animadores. Terminou com apenas sete metros.

    O Filho de King Kong (Ernest B. Schoedsack, 1933)

    A RKO Studios decidiu, ainda em 1933, lançar uma continuação com o filho do macaco com herói. A trama gira em torno do retorno do diretor Carl Denham, personagem do primeiro filme, à Ilha da Caveira, onde enfim acha um gorila albino com metade do tamanho do Kong original. O filme é uma fantasia fantástica e contou apenas com um diretor do primeiro (Merian C. Cooper não se juntou ao projeto) e é possivelmente o menos conhecido entre as obras que foram para o cinema.

    O longa se passa um mês depois do primeiro, e Denham chega a ilha procurando um tesouro e acaba retornando ao lugar por acidente. O gorila era conhecido pela produção como Kiko, mas o nome não é pronunciado durante o filme. A maior curiosidade em relação ao filme é que na época não se sabia que existiam gorilas albinos. A descoberta ocorreu somente em 1963 na Guiné Equatorial.

    King Kong vs. Godzilla (Ishirô Honda e Tom Montgomery, 1962)

    A produção dirigida pelo mesmo Ishirô Honda que conduziu o primeiro Godzilla oito anos antes, reconta a historia do clássico filme de 1933, retornando a Ilha da Caveira basicamente para ambientar o espectador oriental nessa mitologia. O confronto entre Kong e Gojira tem motivos esdrúxulos, segue a cronologia dos filmes do Lagarto Gigante, inclusive retomando os eventos de Godzilla Contra-Ataca, de 1955.

    Aqui o gorila é aumentado em cinco vezes se comparado ao clássico. Tem 45 metros e é vivido por um ator com uma roupa imitando um macaco, como era comum dentro das produções da Toho.

    The King Kong Show (1966)

    Houve uma época, nos anos oitenta, que qualquer sucesso do cinema virava desenho animado. O caso de The King Kong Show não é diferente. Embora tenha sido lançado muito tempo antes, em 1966, já acenava uma futura tendência. O desenho é uma coprodução entre a Videocraft e a Toei, e foi exibida pelo canal ABC entre 1966 e 1969. Na série, Kong faz amizade com uma família, os Bond, e segue em aventuras salvando o mundo de monstros, robôs, cientistas loucos e outras ameaças.

    Esta foi a primeira série de anime produzida no Japão para uma empresa americana. Teve 26 episódios e 3 temporadas, e o tamanho do macaco era de aproximadamente 15 metros de altura.

    A Fuga de King Kong (Ishirô Honda, 1967)

    Se King Kong vs. Godzilla é considerado trash, essa outra produção da Toho pode facilmente ser chamada de esdrúxula. O filme trata Kong como uma lenda, mas isso não impede que um cientista louco, chamado de Dr. Who (?!) resolva fazer uma cópia robótica do macaco. O doutor louco ainda assim precisa do original para resgatar um elemento X, que vem a ser uma substância qualquer, que daria poder ao seu portador, embora a razão da obsessão do vilão não seja nem um pouco clara.

    O final é grotesco ao extremo, o macaco entende falas humanas quando é conveniente para o roteiro. Há muitas falhas de efeitos especiais e erros de continuísmo. O macaco tem por volta de 20 metros de altura, não tem ligação com o crossover de 62 e seria uma espécie de versão live action de The King Kong Show.

    King Kong (John Guillermin, 1976)

    O primeiro remake do clássico de 1933, embora nos filmes da Toho se reconte parte da história, não são exatamente refilmagens. Essa versão ficou famosa por conta de sua dupla de protagonistas humanos formada por Jeff Bridges e Jessica Lange.

    Esse filme também é lembrado pela troca do prédio onde Kong se pendura, sai o Empire State e entram as torres gêmeas do World Trade Center. O gorila varia de tamanho durante o filme, tendo 17 metros aproximadamente quando está na cidade e 13 metros na sua ilha natal. Esse foi um dos clássicos da Sessão da Tarde e Cinema em Casa do Brasil. De fato, é uma boa produção.

    King Kong 2 (John Guillermin, 1986)

    O diretor John Guillermin volta para essa continuação tardia, uma autêntica peça trash de sua década. Kong sobreviveu a queda do World Trade Center, mas foi mantido em coma por uma década. Ele sofre com problemas cardíacos e a especialista Amy Franklin é chamada para trata-lo. A doutora, interpretada por Linda Hamilton que acabava de sair de O Exterminador do Futuro, parece estar no piloto automático ao se apresentar como cardiologista especialistas em símios gigantes (por si só uma profissão bem curiosa e específica). Se isso não fosse suficiente, os exploradores vão a Bornéu atrás de uma fêmea gigante como uma possível doadora de sangue. Kong se apaixona e eles geram um filho.

    Esse filme cansou de ser reprisado nas tardes do SBT, mas é ignorado por boa parte do público, não à toa, pois é equivocado em quase tudo que se propõe.

    O Poderoso Kong (Art Scott, 1998)

    Essa animação foi uma adaptação da Warner Bros. feita para o mercado de vídeo dos anos noventa, e mostra uma equipe de cinema indo para o mar e encontrando o macaco gigante tal qual as encarnações anteriores, com a diferença de que há números musicais aqui.

    As canções não são ruins, o problema maior é que o filme da Lana Productions não tem um orçamento condizente com produções clássicas. Sendo assim, lembra as sequências de filmes da Disney como O Retorno de Jafar, Rei Leão 2: O Reino de Simba e outras obras semelhantes lançadas diretamente para o mercado caseiro. O elenco de dublagem é liderado por Jodi Benson e Dudley Moore e o design dos personagens imitava alguns produtos de sucesso da época, como o longa A Pequena Sereia e A Bela e a Fera, claro, sem o mesmo brilhantismo dos filmes da Disney. O mais estranho dessa produção é que na capa das fitas VHS e nos DVDs mostravam um macaco castanho e mais simpático, muito diferente da versão apresentada na própria animação.

    Kong: The Animated Series (2000)

    Esse foi um seriado de coprodução entre Estados Unidos e Canadá. Tinha algumas semelhanças com a animação do Godzilla (que continuava os eventos de Godzilla de Roland Emmerich) mas não tem o mesmo nível de qualidade. Em 2005, houve uma animação em longa-metragem com o mesmo traço e equipe de dubladores, Kong: Rei de Atlantis, e em 2007 um novo filme foi lançado, Kong: Return to the Jungle.

    Narrativamente, a maior diferença dessa para outras encarnações é que o macaco é um clone modificado geneticamente do original abatido no filme de 1933. Kong é badass e ajuda a humanidade nesse seriado, em especial, Jason Jenkins e sua família, apesar de não ter muitas explicações a respeito disso.

    King Kong (Peter Jackson, 2005)

    Depois do sucesso de O Senhor dos Anéis, Jackson se dedicou a refilmar o clássico de 1933. Essa é uma super produção, duramente criticada por pecar em excesso. De fato, ela é vultuosa e gordurosa, nos cinemas foi lançada com 3 horas e 7 minutos, mas uma versão estendida com 14 minutos adicionais foi lançada para o mercado caseiro.

    Aqui há largo uso de efeitos especiais e computação gráfica. O macaco foi interpretado por Andy Serkis que coreografou passos, corridas e lutas do Gorila usando 135 marcadores em seu rosto. O macaco tem cerca de 25 metros, enfrenta dinossauros e vai até Nova York, como nas versões clássicas.

    Kong: Rei dos Macacos (2016)

    Essa é a mais recente animação sobre o símio, seu tom é infantil e ligado a ecologia. Nessa realidade os animais silvestres estão quase extintos, graças as condições climáticas agravadas pelo homem em 2050. O seriado é bastante expositivo e a qualidade de animação é artificial, sobretudo nas figuras humanas.

    O seriado começa com um gorila filhote aparecendo para uma família de cientistas. Eles vão para a cidade e o animal cresce muito rápido, de forma quase instantânea. O programa é produzido por Avi Arad, o mesmo que produziu os desenhos do Homem-Aranha e os filmes do Homem-Aranha de Sam Raimi. Teve uma temporada de 13 episódios em 2016, e uma segunda em 2018, com 10.

    Kong: A Ilha da Caveira (Jordan Vogt-Robert, 2017)

    Essa foi a última empreitada solo do macaco gigantesco nos cinemas. Kong é uma figura mitológica, mas ainda em processo de crescimento. É o soberano da península que, por sua vez, também possui um número grande de animais gigantes.

    Kong aqui não é tratado só como rei mas também como deus pelos habitantes da Ilha da Caveira. Seu tamanho é o maior entre suas encarnações até aqui, com 100 metros de altura, mais que o dobro da versão japonesa de 1962. O filme apesar de ter um roteiro repleto de clichês possui um visual arrojado, inspirado em clássicos anti-bélicos como Johnny Vai à Guerra e Apocalipse Now.

    Godzilla vs Kong (Adam Wingard, 2021)

    Kong retorna para um novo crossover contra Godzilla. O filme, programado para 2020, foi adiado por conta da pandemia de coronavírus e chega aos cinemas do mundo e plataforma de streaming. Entre Kong: Ilha da Caveira e esse, o gorila lendário aumentou consideravelmente de tamanho, até porque no filme de época, ele ainda era um adolescente. Dirigido por Wingard (Bruxa de Blair: A Lenda Nunca Foi tão RealDeath Note).

    Bônus: Aqui estão listados alguns entre tantos filmes que não são parte da “saga” de King Kong, mas que tem alguma ligação com o personagem criado em 1933.

    Wasei Kingu Kongu (1933)


    Esse é um projeto misterioso por si só. Entre o público japonês dos anos 1930, se diz que houve uma versão de King Kong que se perdeu desde o final da década de 1940. Esse desaparecimento é atribuído a campanha de bombardeios que ocorreu no país durante a Segunda Guerra Mundial.

    Esse King Kong seria o primeiro filme daikaiju, ou seja, o primeiro filme japonês envolvendo monstros gigantes, 21 anos antes de Godzilla/Gojira. Existem documentos históricos que em 1938 outro filme envolvendo macaco gigante foi produzido e perdido durante a Segunda Grande Guerra, Edo ni Arawareta Kingu Kongu (King Kong Aparece em Edo). Todas as cópias conhecidas de ambos os filmes estavam estocadas em armazéns localizados nas cidades de Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945. O ataque norte americano causou a morte de 90 mil a 166 mil pessoas em Hiroshima e 60 mil a 80 mil em Nagasaki, além de destruir grande parte do patrimônio histórico e cultural japonês.

    Monstro de um Mundo Perdido (Ernest B. Schoedsack,1949)

    Schoedsack, um dos diretores do King Kong original, fez essa comédia que conta com produção de Cooper e John Ford. Na trama, um explorador descobre que um enorme gorila serve de bichinho de estimação pra Jill Young, daí o sujeito, vivido por Robert Armstrong, tenta leva-lo para Hollywood, e o macaco se torna atração em um nightclub.

    A apelação para o humor é bastante fraca, e mesmo que a ideia original era referenciar o clássico de 1933, o projeto foi por outro caminho, ganhando vida própria.

    Konga (John Lemont, 1961)

    Konga mostra a história de um cientista que é dado como morto e se esconde no continente africano para não chamar a atenção de seus inimigos. Em meio as suas pesquisas, ele percebe uma forma de cultivo de plantas que tornam animais gigantes. A tal Konga é um chimpanzé usado pelo cientista para combater seus opositores.

    O filme é estrelado por Michael Gough, o Alfred da saga iniciada em Batman de Tim Burton, e até tem seu charme, com cenários e objetos de cena que lembram A Pequena Loja de Horrores, mas a história como um todo é esdrúxula ao extremo, a produção confunde as raças de macacos, o chimpanzé vira um gorila. No final, Konga se torna uma história sobre ciúmes, com um roteiro fraco e efeitos especiais bem datados.

    Outra curiosidade sobre Konga é que houve uma versão de baixíssimo orçamento lançada em 2020 chamada Konga TNT, que tem uma história semelhante a esta. Os efeitos especiais são amadores, as cenas em fundo verde são fracas, o filme parece editado no Windows e é supostamente baseado em um gibi da Charlton Comics.

    Queen Kong (Frank Agrama, 1976)

    Se Konga já parecia uma cópia tosca, o que dizer desta produção que mostra uma equipe de cinema à caminho da África filmar um longa-metragem para mulheres e encontram uma gorila fêmea gigante, que acaba por se apaixonar por um ladrão trambiqueiro, que sabe-se lá por quê, acaba se tornando o ator principal do filme?

    A roupa e maquiagem de Queen Kong é horrorosa, a máscara dela é fajuta e os dinossauros que enfrentam a macaca são mal feitos em um nível que é difícil até de classificar. Queen Kong tem uma face estranha, em alguns momentos parece um lêmure, em outras, um sagui. As atuações são risíveis e as tentativas de fazer humor esbarra na falta de qualidade de toda a equipe. Nem o humor involuntário vale o esforço.

    Poderoso Joe (Ron Underwood, 1998)

    Este é um remake do antigo Monstro de Um Mundo Perdido. Protagonizado por Charlize Theron, o filme conta a história de Jill Young, que quando criança viu sua mãe ser morta ao tentar proteger gorilas selvagens. Já adulta, ela passa a cuidar de Joe, um animal que por conta de uma anomalia genética, tem mais de cinco metros de altura.

    O filme é bem bobo, tem a estética que era bem comum aos filmes live action dos estúdios Disney, com um romance meloso entre Theron e Bill Baxton, forte apelo infantil e foi um bocado popular em sua época.

    Rampage: Destruição Total (Brad Peyton, 2018)

    Rampage  é uma adaptação do jogo homônimo. Aqui Dwayne Johnson vive um primatologista que convive bem com George, um gorila albino cuja espécie está em extinção, criado por ele desde seu nascimento. George e outros animais sofrem alterações que os fazem crescer e se tornarem ameaças para a vida urbana.

    Esse é um filme de ação divertido e descompromissado com subtextos mais densos. As semelhanças dele com King Kong são obviamente ligadas ao fato do macaco crescer desenfreadamente e com a destruição que ele é capaz de fazer em uma metrópole, além de mostrar o homem como fator caótico na equação da natureza.

  • Critica | Godzilla vs Kong

    Critica | Godzilla vs Kong

    O início de Godzilla vs Kong é bem pensado, mostra a rotina tranquila de Kong despertando na Ilha da Caveira, agindo como um homem que se prepara para um dia de trabalho. Os cinco primeiros minutos servem de prólogo, para o inevitável choque entre os dois monstros de mais de 100 metros de altura, e estabelece a obviedade do quão fútil é o esforço dos homens em tentar controlar os desejos de ambos.

    O roteiro até tenta dar alguma importância a narrativa dos humanos e o consequente bla bla bla oriundo disso. A Monarch, empresa que foi mostrada principalmente em Godzilla II: Rei dos Monstros retorna aqui, segue agindo para tentar manter os dois titãs distantes um do outro, mas o foco do filme claramente não é mostrar os homens tentando reassumir o topo da cadeia alimentar. O  diretor Adam Wingard é bastante feliz em demonstrar que o importante é o embate entre os monstros cujo choque pode acabar com o mundo como conhecemos.

    Visualmente o filme é impecável, Wingard segue na mesma pegada que Michael Dougherty fez em Godzilla 2, além disso, faz referências aos outros dois “filmes de origem”, usando bem as cores como foi em Kong: A Ilha da Caveira, e as super escalas que Gareth Edwards exerceu em Godzilla, para dar mais volume e poder as imponentes figuras que protagonizam seu filme. Em tempos onde a Liga da Justiça de Zack Snyder é extremamente popular mesmo com CGI tosco, esse crossover se apresenta como um autêntico blockbuster, sem receio de parecer  um filme caro. É de se lamentar que todos os esforços visuais não possam ser apreciados em uma tela grande de cinema, pois essa era uma obra para apreciar em tela IMAX uma vez que todos os seus aspectos visuais são colossais.

    A trama humana mais uma vez é desencontrada, com  um dos poucos momentos inteligentes recaindo sobre a  irônica valorização de teorias da conspiração. Em tempos de pandemia, é válido levantar essa questão, mesmo que boa parte da desconfiança e apreço por mentiras recaia sobre os mocinhos do filme, que por sua vez, são bastante esquecíveis mesmo com muito tempo de tela.

    Wingard é melhor sucedido que Dougherty em fazer um filme onde só ação importa. As batalhas compensam demais a falta de substância narrativa, até por serem versáteis: há combate na água com cenários cristalinos, há lutas em lugares hiper coloridos e com criaturas de design diferenciado. Simplesmente um deleite para qualquer fã de filmes de alienígenas ou fitas antigas de ficção científica, que veem os clichês típicos dessas obras, mas com um apuro visual exorbitante.

    A partir daqui o texto terá spoilers

    A parte mais complicada do roteiro mora na origem do Mechagodzilla e em como ele perde o controle. Muitos memes e piadas ocorreram na internet antes da estreia do filme, alguns tomando cenas do antigo King Kong vs Godzilla, brincando com Batman vs Superman e com os problemas envolvendo as coincidências dos personagens sobretudo no arco de Martha. O roteiro pega emprestado outro trecho de BvS, a gênese do Apocalipse que mata o Superman é semelhante demais ao modo como o monstro cibernético surge, inclusive no modo como ele foge de controle de seu criador. A diferença a favor dessa produção é que, ao menos nesse trecho, o filme não se leva a sério ao contrário da obra da DC Comics.

    Mechagoodzilla traz mais temperos ao épico choque de titãs. O embate final se aproxima de meia hora de duração com poucas interrupções do confronto. A ideia de Wingard é mostrar que os humanos são pequenos diante desses predadores, que a natureza é soberana no planeta e encontra seus meios para reduzir o ser humano a um papel de humilhação que lhe é devido, para além de qualquer plano megalomaníaco de vilão de gibi antigo.

    Godzilla vs Kong captura bem a aura do massa véio. É um filme de ação sem vergonha de sua identidade, que não tem grandes preocupações dramáticas e que erra justamente ao interromper as batalhas de kaijus para mostrar a interferência dos homens nos duelos. Produções norte-americanas normalmente pasteurizam a ideia dos filmes japoneses, e esse claramente é uma exceção, uma obra mais madura e melhor pensada que o Godzilla de Roland Emmerich obviamente. Um filme direto, sem firulas, com uma metragem que trabalha bem sua ação.

  • Crítica | King Kong vs. Godzilla (1962)

    Crítica | King Kong vs. Godzilla (1962)

    A fórmula dos filmes da franquia Godzilla é bem simples: o animal dantesco é mostrado atacando algum lugar civilizado ou lutando contra outra figura monstruosa capaz de destruir a humanidade. Foi assim em Godzilla de 1954, e em sua continuação Godzilla Contra-Ataca, já no terceiro filme (a primeira produção colorida) dos estúdios Toho, King Kong vs. Godzilla, a fórmula permanece, mas o adversário da vez é Kong, que não aparecia nos cinemas desde a produção original nos anos 30g.

    A trama humana é completamente despropositada, entediante em essência, e o que realmente importa é o choque entre titãs e isso é inclusive falado dentro do filme de Ishirō Honda. O artifício para trazer Godzilla de volta à vida é ridículo, tão mal executado quanto os pretextos para que Jason Vorhees voltasse nas sequências de Sexta-Feira 13. Além disso, o acréscimo de Kong também é repleto de problemas.

    Honda faz a história rumar para a Ilha da Caveira e coloca o elenco japonês praticando black face para imitar os nativos. Ao menos, as cenas com os monstros são criativas, há um bom uso de maquetes, miniaturas e até animais. No entanto, a maioria dos momentos parece feita para causar humor, causando risos involuntários até mesmo no lançamento do filme em 1962.

    O grande problema do roteiro são as conveniências e incongruências. No caso de Godzilla Contra-Ataca, o enfrentamento contra Anguirus se dá de modo natural, pois a mesma bomba de hidrogênio despertou os dois monstros. A desculpa para ir atrás de Kong mira publicidade, já que uma empresa farmacêutica resolve ir atrás dele para fazer propaganda de seus produtos (?!), competindo assim com o retorno do lagarto gigante. Confrontos entre heróis normalmente tem justificativas tolas, mas esta aqui abre mão demais da suspensão de descrença do espectador.

    Os bonecos são terríveis e a briga entre os monstros não funciona visualmente, muito menos do ponto de vista narrativo. O roteiro não tem qualquer desenvolvimento de temas ou reflexão, como não entrega uma narrativa minimamente crível desse encontro de titãs. A luta final parece uma brincadeira de criança, onde quem comandou os brinquedos está cansado e quer resolver logo o conflito. King Kong vs. Godzilla é tão mal pensado que se torna um clássico do trash, embora obviamente fosse pensado para ser uma obra mais séria.

  • Crítica | Godzilla (1954)

    Crítica | Godzilla (1954)

    Godzilla, filme de Ishirō Honda se tornaria um grande clássico, e ainda trataria de inaugurar um novo gênero no Japão, o Tokusatsu.

    O início do filme é bastante óbvio, mostrando o dia-a-dia de alistados, oficiais e gente do alto escalão da Marinha verificando um estranho fenômeno que ocorre no oceano envolvendo a península do país. A fotografia em preto e branco de Masao Tomai ajuda a naturalizar as cenas filmadas com atores e as outras com maquete, onde miniaturas de navio pegam fogo. É curioso que a história mostre a humanidade como algo pequeno, diante do mal que a assola, mesmo que a origem dessa criatura venha exatamente da ação do homem sobre a natureza.

    O roteiro é simples, mas possui uma ironia apurada. O uso da localidade do monstro estar ligado ao mar conversa também com a exploração que o povo japonês faz da pesca. A natureza responde ao homem com violência e revanchismo, como refém de condições climáticas estranhas e devastadoras. Como o filme trabalha o suspense sobre a figura reptiliana, as ações soam misteriosas durante parte da exibição.

    O texto ainda aventa a possibilidade de uma lenda camponesa envolvendo uma figura mitológica que se alimenta de seres humanos. Daí vem o nome Gojira, um monstro gigante assustador que consumia tudo o que via pela frente. A primeira aparição do monstro se dá em um cenário diferente, arborizado e em terra firme, com mais de vinte minutos passados. Nas falas do doutor Kyohei Yamane (personagem do clássico ator Takashi Shimura de Os Sete Samurais), é dito que ele deve ter 50 metros de altura, e que sua origem é pré-histórica. Ele cresceu e despertou graças ao lançamento de bombas de hidrogênio.

    Godzilla se tornou uma franquia, no Japão, com mais de 20 filmes fora o Godzilla de Roland Emmerich e o reboot americano Godzilla de Gareth Edwards, que também teve suas próprias continuações. Da parte das sequências da Toho, não se tem um apego tão grande a mitologia e a ciência, sobretudo após a fase Showa, composta por 15 filmes e que terminou em O Terror de Mechagodzilla, em 1975. Cada vez mais o personagem foi se tornando um símbolo de ação.

    Nessa versão, Godzilla é tratado como ameaça à vida na Terra, essa escolha faz até mais sentido do que o modo como ele é apresentado nos outros filmes, chegando ao cúmulo de ser um protetor do planeta. A mensagem de questionamento de como o mundo está sendo governado pelo homem é bem estabelecida, especialmente no que toca o futuro da humanidade e se o planeta suportará a ação dos homens. A possibilidade de que o planeta viverá mesmo sem o topo da cadeia alimentar, ou seja, o homem, também é tratada como algo real e tangível. Para um filme de ação esse é um argumento bastante maduro.

    O subtexto do filme é mais sútil se comparado com King Kong, de 1933. A questão atômica é levantada, mas não é tão desenvolvida, e a grande discussão levantada no filme é ligada aos personagens Ogata e Serizawa que buscam um meio de eliminar o lagarto gigante sem promover uma hecatombe atômica. A solução encontrada parece meramente paliativa, contendo um sacrifício calculado e uma lição moral um tanto torta, mas ainda assim é inegável a importância de Godzilla na cultura pop, se tornando um dos personagens mais copiados e explorados no mundo.

  • Crítica | Godzilla II: Rei dos Monstros

    Crítica | Godzilla II: Rei dos Monstros

    O que aconteceu em 2014 em São Francisco, na versão de Godzilla que Gareth Edwards conduziu entrou para historia como um 11 de Setembro com horror atômico e monstros, ao menos dentro desse universo compartilhado e Godzilla II: Rei dos Monstros perde boa parte do seu tempo num drama familiar, capitaneado por Mark (Kyle Chandler) e Emma Russell (Vera Farmiga), que estão na cidade durante o ataque. Os pais perdem um filho, e logo é mostrado que eles são especialistas nas criaturas gigantes, e a transição para essa especialidade é zero, não há qualquer menção disso.

    Esse início mostra muito do caráter do filme, as cenas com os monstros, tem escalas enormes e Michael Dougherty manda muito  bem, como havia feito em Krampus, intercalando isso com uma inutilidade de trama humana, que traz uma empresa boazinha, chamada Monarca e que é comandada pelo caricato oriental sábio Dr. Ishiro Serizawa (Ken Watanabe) e por uma equipe terrível, formada pela dra. Ling (Ziyi Zhang) e outros personagens genéricos e sem personalidade, uma mais irritante e raso que o outro, lembrando em alguns momentos o recente Cloverfield Paradox.

    No presente, a filha do casal é vivida por Millie Bobby Brown, a Eleven de Stranger Things e sua personagem, Maddison (ou Maddie) é uma menina inteligente e destemida. Por mais que suas ações sejam irreais, é mais passável ver ela discutindo com sua mãe, tentando colocar algum juízo na cabeça da adulta do que assistir todos os “veteranos” e cientistas tentando dar importância a péssima explicação sobre como os “titãs” (os monstros são tratados por essa alcunha) ajudariam a humanidade ou ajudariam a preservar a vida no planeta. Há todo um núcleo de eco terroristas, liderados pelo personagem Jonah Alan (Charles Dance), que aliás, faz lembrar uma motivação meio Thanos, mas muito capenga. Tanto Jonah quanto seus capangas são ridículos, e não servem sequer para dar alguma importância aos humanos que certamente morreriam nas brigas dos monstros. É tudo melodramático e o roteiro subestima o espectador, fingindo que os inocentes conseguiriam evacuar a maior parte das cidades.

    Ao menos, da parte dos animais gigantes, há muita ação, embora haja menos tempo de tela que todo o resto do lenga lenga. A trama mostra Ghidora, Mothra, Rodan e outros monstros antes de  enfim estabelecer o retorno de Godzilla. Isso ocorre com pouco menos de uma hora de exibição. O quadro tinha chances de melhorar, mas obviamente a crescente é interrompida por mais dramas humanos desnecessários, chegando ao cúmulo de um dos cientistas “culpar” Mark por uma das derrotas do lagarto radioativo, basicamente porque ele torcia contra o monstro que matou seu filho caçula. Tirando toda essa baboseira, as lutas são ótimas, não há mais tanto predomínio de lutas em lugares escuros ou com fumaça/névoa e a tensão ocorre ao menos pela expectativa de destruição, pois se importar com os humanos beira o impossível.

    Godzilla II: Rei dos Monstros peca onde o novo O Predador acerta e tem êxito onde o filme de Shane Black fracassa. Se os personagens genéricos do longa de ação estivessem aqui, certamente seria um acerto e faria mais sentido dentro do desnecessário acréscimo de homens e mulheres como condutores da trama. O filme é desnecessariamente longo e dá vazão a teorias da conspiração bem risíveis, e termina com alguns bons ganchos para o conflito entre Godzilla e King Kong, mas a realidade é que este é menos justificado em trama que o anterior e que Kong: A Ilha da Caveira. Seria mais honesto dar mais tempo aos duelos entre titãs, e esquecer toda a perfumaria dos humanos, e espera-se que ocorra isso no próximo capítulo da saga que está agendada para 2020. É esperar para ver.

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  • Primeiro Reinado (Atômico): O novo Godzilla quer o trono da cultura pop

    Primeiro Reinado (Atômico): O novo Godzilla quer o trono da cultura pop

    Embora o status icônico dos protagonistas do MonsterVerse (o universo compartilhado de monstros produzido pela Legendary Pictures e distribuído pela Warner, centrado em Godzilla e King Kong), com os dois filmes lançados até o presente momento, Godzilla (2014, dirigido por Gareth Edwards, de Monstros, Rogue One) e Kong: A Ilha da Caveira (2017, dirigido por Jordan Vogt-RobertsThe Kings of Summer), o cinema ainda não testemunhou abalos à altura de suas carreiras culturais. E o rastro deixado por ambos, embora não seja nada desprezível nas searas financeiras e culturais, não corresponde às expectativas mastodônticas dos estúdios e dos fãs, ansiosos por um afago na forma de blockbusters a personagens que antes só existiam nas produções originais da japonesa Toho ou em ocasionais (e frequentemente questionáveis) incursões hollywoodianas em busca de monstrodólares. A partir do final de maio deste ano, os espectadores poderão conferir o resultado da mais recente empreitada na mitologia dos ancestrais “Titãs”, em Godzilla II: Rei dos Monstros – e é possível que enfim tenhamos um filme mais naturalmente integrado ao estilo das produções da Toho, e mais digno das figuras portentosas que ostenta em trailers e artes relacionadas.

    No pontapé inicial do universo dos monstros, em 2014, houve uma preocupação louvável com os sensos de escala e proporção das criaturas em relação à existência humana e suas estruturas, apesar de um deslize básico em não explorar mais o maravilhamento e o terror da humanidade em descobrir os habitantes mais grotescos e imponentes do planeta (e explorar demais certos desdobramentos narrativos que pouco acrescentavam à costura geral da projeção); Kong, lançado há pouco menos de dois anos, resolveu em parte esta abordagem, mas ainda assim não apresentou o MonsterVerse em sua plenitude (e só amarrou marginalmente as pontas que ligam um filme a outro e os estabelece no mesmo universo — usando a cartilha do MCU, abrindo o jogo em definitivo somente em uma sequência pós-créditos). O benefício de tudo que foi tentado e realizado em duas produções bem distintas (Godzilla mais solene e reverente; Kong mais fantástico e menos impessoal) pode tornar o novo Godzilla, pela cabeça de Michael Dougherty (Contos dos Dias das Bruxas, Krampus), uma obra mais direta E ainda mais reverente, sem a necessidade de ancorar tanto as ações em descobertas e situações de verossimilhança, uma vez que a ideia agora é justamente a de dar aos monstros o espaço necessário pra que surjam das entranhas da terra e tomem o palco principal.

    A escolha de um diretor como Dougherty, cujos filmes anteriores apresentaram horrores suburbanos e familiares com bastante casualidade, não é à toa; transformar a franquia de vez em uma bonança de criaturas mitológicas ultra-poderosas tende a reduzir a relevância do fator humano, algo impensável pros padrões hollywoodianos mas amplamente ambicionado por fãs mais empolgados. O elenco do filme traz figuras queridas da cultura pop, como Vera Farmiga, Millie Bobby Brown, Charles Dance e Kyle Chandler (todos nomes bem ambientados em produções de gênero e fantasia no cinema e na televisão), mas os elementos que ancoram o interesse do público, desde o anúncio do projeto e ainda mais após a divulgação de seus trailers e cartazes, são obviamente os monstros: King Ghidorah, um tradicional e mortífero oponente de Godzilla; Mothra, uma valorosa aliada do Rei dos Monstros em momentos cruciais; Rodan, um daikaiju também tradicional e de natureza um pouco questionável; além, é claro, de Godzilla e de outros nomes supostamente presentes na vindoura exibição.

    Tantos monstros denotam uma mudança salutar na filosofia por trás de alguns blockbusters contemporâneos: a perda do receio de fazer filmes realmente fantásticos, sem a necessidade quase obsessiva em prendê-los ao chão e tentar ancorá-los em uma realidade *compreensível* (do ponto de vista de alguns produtores e profissionais da área). Uma mudança certamente influenciada pela essência dos filmes da Marvel posteriores ao primeiro Vingadores (e a subsequente aceitação destes pelo público – em especial na forma de rechonchudas bilheterias), mas que não foge das raízes dos monstros da Toho. À exceção do até hoje reverenciadíssimo Godzilla original, de Ishiro Honda, os kaijus do estúdio japonês que se adonou deste nicho cinematográfico sempre foram caracterizados por investidas cada vez maia fantásticas e simbólicas no cinema, e uma mitologia crescente cada vez mais rica e espraiada, às vezes até mesmo descentralizando os filmes da figura do Godzilla com resultados interessantes e curiosos – uma abordagem que engrandece os planos do MonsterVerse atual e possibilita eventos dignos de quem ainda espera pela mesma grandiosidade da franquia japonesa aliada aos valores de produção que Hollywood tem a oferecer.

    Godzilla II: O Rei dos Monstros talvez não tenha a elegância estética (ironicamente) contida de seu predecessor, ou mesmo a diversão nada melodramática de Kong – A Ilha da Caveira (convenhamos, os fãs amam qualificar monstros como Ghidorah como “eventos em nível de extinção” e pensar nas consequências fictícias de suas aparições e confusões com Godzilla & cia.), mas é um forte candidato a se tornar (enfim) a demorada materialização das criações da Toho em meio a Hollywood. Que se aventure em entregar uma obra que permita aos horrores biológicos deste universo os holofotes, proporcionando uma quase inédita (no Ocidente) sensação de diminuição cósmica diante das cataclísmicas personagens da saga japonesa de alegorias científicas e arqueológicas, é uma conquista e tanto; uma capaz de deixar as marcas profundas que o distanciamento dos filmes anteriores do legado da Toho impedia.

    Texto de autoria de Henrique Rodrigues.

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  • Os Dinossauros e o Cinema – Parte 1

    Os Dinossauros e o Cinema – Parte 1

    O passado sempre fascinou a raça humana, e boa parte da arte que o homem faz remete a esse tempo que jaz inalcançável, e parte dessa obsessão explica um dos temas mais comuns no cinema de aventura, ação, e até horror, que normalmente lota salas de cinema ao redor do mundo. Desde muito antes de Steven Spielberg trabalhar em Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros e O Mundo Perdido: Jurassic Park, já haviam outras tantas obras que tratavam do tema, algumas com mais conhecimento, outras com menos.

    Obviamente, deixarei de lado a franquia japonesa Gojira/Godzilla, pois ela merece uma análise própria, e trata mais de atomic horror do que o fascínio pelas criaturas que um dia tomaram o topo da cadeia alimentar pelo planeta. O primeiro filme digno de nota é em preto e branco, mudo e de curta duração, em torno de 12 minutos, chamado Gertie: O DinossauroWinsor McCay dá luz a obra, misturando um estilo que já lhe era comum, que é a animação em cenas com atores reais, onde um grupo de homens discutem em um museu, e em determinado ponto, aparece a animação que mostra Gertie, uma animal que faz lembrar o dinossauro hoje conhecido como Brontossauro vivendo seus dias, com participações de outros seres de períodos mais antigos, ainda que não haja preocupação com pesquisa histórica, até porque este é um filme lúdico e escapista somente, uma comédia leve que visava mostrar a capacidade de McCay em animar.

    Gertie: O Dinossauro, de Winsor McCay (1914)

    Há outras obras da época do cinema mudo, em especial onde Willis H. O’Brien está envolvido como The Dinosaur and the Missing Link: A Prehistoric Tragedy que foi lançado pelos estúdio de Thomas Edison em 1917. Ele mostra um homem das cavernas tentando agradar uma fêmea, e no meio dessa tentativa, se depara com um dinossauro, que o atrapalha. É bem curto, tem um tom de comédia ainda mais acentuado que Gertie, mas a passagem pelo animal antigo é bem rápida. Ainda em 1917, Prehistoric Poultry brinca com as semelhanças entra galinhas e dinossauros, é bem curtinho e mostra uma figura muito semelhante à ave que serve de alimento ao homem agindo na época antiga, conceito esse reutilizado mais seriamente em filmes nos anos noventa. Nesse mesmo ano, também foi exibido R.F.D., 10000 B.C. mostrando um carteiro que lida com um dinossauro como meio de transporte. Em 1919 o mesmo diretor faria The Ghost of Slumber Mountain, mostra um sujeito que através de um conto descrito aos seus sobrinhos, se volta ao tempo dos dinossauros. Esse é mais extenso, ao menos a cópia disponível para visualização, mas ainda não tão primorosa. Houve um projeto chamado Creation, que seria lançado em 1931, mas foi cancelado, sobrando apenas esboços do que deveria ter sido o longa-metragem definitivo de O’Brien, mas que jamais viu a luz do dia.

    Em 1925 chegava aos cinemas um dos maiores filmes sobre o tema, O Mundo Perdido, baseado na obra de Arthur Conan Doyle, conhecido criador do detetive Sherlock Holmes. Esta obra deu origem a outras adaptações, até fora do cinema, e mais para frente nos debruçaremos sobre algumas delas. A obra original se perdeu com o tempo e depois de um intenso trabalho de resgate de oito gravações diferentes, se chegou a versão mais comumente encontrada no mercado, de 93 minutos. A visão que Doyle e o diretor Harry O. Hoyt tem da Amazônia é completamente estereotipada, e comum a sua época, visto que o mundo era um lugar pouco explorado e conhecido como se tornou nesse quase um século que separa a atualidade e o filme em questão. O livro foi lançado em 1912, e nessa versão o único lugar onde teriam essas criaturas fantásticas era um platô da bacia amazônica. Em meio ao desbravar da ilha, os pesquisadores vêem uma luta que seria (ou a menos tentaria, dadas as limitações da época) épica, entre dois animais pré históricos gigantes, sendo ao menos um deles um Alossauro, um dino que lembra bastante o Tiranossauro Rex, e que mata o seu adversário facilmente, quebrando seu pescoço e deixando ele caído, ou seja, sua predação é pura e simplesmente porque ele pode matar as outras criaturas, e não por fome. Logo depois ele ataca um triceratopes.

    O grupo que viaja para a Amazônia consegue retornar, e ainda leva um brontossauro para Londres, desfecho esse bem semelhante ao visto em King Kong, de 1933, inclusive com a fuga da criatura monstruosa, embora nesta versão não seja mostrado isso, e sim contado através de texto. No entanto, a demonstração do dinossauro nas ruas inglesas é feita de maneira expositiva, com a criatura andando pelas ruas e atacando as pessoas hostis. O modo como ela escapa é curioso, e seria catastrófico, uma vez que a ponte de Londres cai e ele é empurrado pela correnteza em uma direção desconhecida. O longa não dá um destino definido para a criatura, ao contrário, prefere se dedicar a mostrar o destino romântico dos personagens humanos, em detrimento de mostrar a recepção de Londres ao seu novo “habitante”.

    Além do já citado King KongFantasia, clássico de animação que mistura música orquestrada com curtas animados de Walt Disney também traz referências aos monstros pré-históricos, ainda em 1940. Seu segmento The Rite of Spring, baseado em uma composição de Igor Stravinsky, mostra o planeta em meio a uma galáxia imensa, tendo a formação de seus rochedos, oceanos e primeiras formas de vida, desde as microscópicas até as marinhas. As cores lembram aquarelas pintadas e esse sem dúvida é um dos momentos mais bonitos de todo o longa-metragem, inclusive quando são mostrados os dinossauros.

    Fantasia, cena do segmento “Rite of Spring”, de Bill Roberts e Paul Satterfield (1940)

    Ainda em 1940, O Despertar do Mundo era lançado, contando a história de um grupo de aventureiros entrando em uma caverna, onde um paleontólogo começa a contar uma história que supostamente aconteceu entre homens primitivos que disputavam territórios. O longa erroneamente coloca na mesma linha temporal o homem pré-histórico junto dos dinossauros. Essa versão de Hal RoachHal Roach Jr. seria revisitada anos depois, pela produtora inglesa Hammer.

    Demora a aparecer um dos répteis gigantes, e quando surge, é bastante anti-climático, já que ele se disfarça atrás de plantas que dificultam sua visualização. Mais à frente, usam-se animais para emular os bichos pré-históricos, com iguanas fazendo às vezes de animais carnívoros, bem como tatus com  chifres artificiais, fingindo ser triceratopes, e ainda, jacarés fantasiados.

    Em 1951, Sam Newfield conduziu o filme Continente Perdido, sobre um grupo de cientistas que realizam provas com foguetes na Nova Guiné, e um desses foguetes acabam sumindo durante um desses testes. Já que o item é caro, o governo envia um piloto experiente para liderar uma expedição em busca do veículo. O filme é em preto e branco e em determinado ponto passa a ter coloração verde. Os efeitos das feras antigas são feitos em stop motion e dentro de sua limitações, funcionam bem, mas ainda assim a participação dos dinossauros é pequena, se tornando meros coadjuvantes para as subtramas bobas dos humanos.

    Em 1953, baseado em um texto do escritor Ray Bradbury, The Fog Horn, foi lançado O Monstro do Mar (The Beast from 20,000 Fathoms) tem efeitos técnicos assinados por Ray Harryhausen e conta em seu elenco com Lee Van Cleef, que ficaria famosos anos depois por trabalhar em filmes como Por Uns Dólares a Mais, Três Homens em Conflito e O Homem que Matou o Facínora. O visual gélido do longa lembrar outro clássico, O Monstro do Ártico, que originou o remake de John Carpenter, O Enigma do Outro Mundo. A história mostra os clichês dos filmes de atomic horror, onde um dinossauro carnívoro gigante desperta no Ártico após testes nucleares. Percebe-se uma tendência para os filmes envolvendo os predadores antigos e gigantescos, já que novamente o destino da criatura é semelhante ao do brontossauro em O Mundo Perdido, de 1925, quanto o de King Kong, em 1933, uma vez que a criatura é levada para Manhattan para atender a demanda dos gananciosos que a encontraram, que mais se importam em ganhar dinheiro do que preservar o milagre que é um animal como esse estar vivo. Aliás, esse clichê também foi utilizado na parte dois da franquia de Spielberg, Mundo Perdido: Jurassic Park.

    O Monstro do Mar, de Eugène Lourié (1953)

    O modo encontrado para deter a fera é bastante criativo, e a cena em questão se dá em um parque de diversões, próximo de uma montanha russa, um cenário completamente inesperado para esse tipo de sequência. O final é melancólico para a criatura, e faz perguntar afinal quem seriam os verdadeiros monstros da história, e nesse ponto o filme de Eugène Lourié acerta em cheio, pois propõe discussões e questionamentos importantes. O diretor ainda voltaria ao tema com outros dois filmes: O Monstro Submarino e Gorgo.

    Pouco tempo depois, chegava as telas O Rei Dinossauro, um filme sobre exploração espacial, onde um grupo de aventureiros vão até o planeta Nova, um novo corpo celeste que chega na Via Láctea. Neste planeta, a vida é basicamente formada por animais gigantes como os dinossauros terrestres, além de algumas criaturas pré-históricas. O filme dirigido por Bert I. Gordon, que era especialista em produtos de atomic horror (A Maldição da Aranha, A Maldição do Monstro, O Incrível Homem Atômico), ainda há um suposto T-Rex que aparece, “interpretado” por uma iguana. Ainda assim, o tom é sério, mas a questão de não se definir se a iguana que está no filme é realmente uma iguana gigante ou é um T-Rex, torna tudo muito tosco, piorado quanto um monstro maior se aproxima – um crocodilo – em um embate mortal, mas que já se sabe qual será o destino ao final. O crocodilo e a iguana, quando se deparam tem o mesmo tamanho, e isso é demonstrado com dois bonecos se enrolando pelo chão arenoso, de uma maneira terrivelmente filmada.

    A Besta da Montanha é o primeiro filme em cores dessa lista, lançado em 1956, começa como um drama de faroeste, com vaqueiros americanos e mexicanos convivendo com os perigos naturais do solo do país latino. Filmado em cinemascope, o longa de Edward NassourIsmael Rodriguez tem lindas imagens e cores muito vivas. Contudo, o filme se vale demais de estereótipos, em especial quando se desenvolve os personagens mexicanos. O texto do filme é baseado na ideia de Willis H. O’Brien, especialista em efeitos especiais que havia trabalhado no primeiro O Mundo Perdido. O Alossauro que ataca o vale e come alguns dos animais é uma referência clara ao filme de O’Brien e ao romance de Doyle. O modo como ele aparece varia, no começo é mostrada uma fantasia, com os pés do monstro e depois surge em stop motions, em cores cinzas e detalhes que até então não se viam em criaturas assim. Uma pena que o roteiro não colabore com as ótimas ideias visuais do filme.

    Em No Mundo dos Monstros Pré-Históricos (Land Unknown) o diretor Virgil W. Vogel faz muito uso de gravuras e pinturas como cenário, fato que já não era regra nos idos de 1957. Suas cenas com fundo falso soam artificiais demais em comparação com produções da época. Há outro momento complicado, com um pterodáctilo voando – terrivelmente mal filmada – além de batalhas de iguanas, ainda que melhor desenvolvidas. O T-Rex aparece de repente, logo depois da batalha de lagartos e é uma pessoa em um roupa andando em meio a miniaturas, como nos tokusatsus e filmes de Godzilla. Chega a ser cômico o uso da hélice do helicóptero para afastar a criatura e se vê muitos problemas com perspectiva, com o T-Rex variando de tamanho de acordo com as cenas. O longa termina de modo emocionante, mostrando os humanos que estavam na terra isolada fugindo.

    Viagem à Pré-História (Cesta do Praveku), de 1955, traz crianças viajando a uma terra perdida. O longa de Karel Zeman tem um tom bastante lúdico, mostrando criaturas pré-históricas sem um compromisso com a realidade, mas ainda assim bem retratadas no aspecto técnico. Zeman é conhecido por ter feito belas animações, não à toa ficou conhecido como o Georges Méliès tcheco De fato, a melhor coisa do seu filme são os efeitos especiais, pois a trama em si deixa muito a desejar.

    Viagem à Pré-História, de Karel Zeman (1955)

    Dirigido  pela lenda do Cinema B, Roger Corman, Teenage Cave Man tenta resgatar elementos de O Despertar do Mundo, ainda que seja mais explícito em sua proposta. Os homens da tribo já tem uma linguagem sofisticada, a mistura de elementos que claramente não tem congruência histórica é exibido bastante cedo, com os dinossauros aparecendo com menos de cinco minutos de exibição, variando entre stop motion e animais reptilianos disfarçados. Para variar, essa é mais uma produção onde acontecem as famosas lutas entre crocodilos e iguanas rolando pela areia, que se tornou clássica e reaproveitada entre os filmes desse subgênero. De curioso, há o protagonismo de Robert Vaughn, astro de filmes trash, entre eles, O Despertar dos Mortos, do pai dos filmes de zumbi George A. Romero.

    Um dos romances mais famosos de ficção cientifica moderna, é Viagem ao Centro da Terra, não à toa tiveram dezenas de adaptações do livro de Jules Verne. A primeira dela é um curta antigo, de 1910, bastante difícil de achar por conta das raras cópias que existem dele. A mais notória adaptação aconteceu em 1959, uma produção grande, filmada em cinemascope e em cores, dirigida por Henry Levin. Os efeitos e cenários são um pouco caricatos se vistos hoje, mas cumpriam bem o papel de tentar alinhar a obra de Verne à época em que passavam, sem falar que os jogos de luzes do diretor de fotografia disfarçam as limitações técnicas da época em boa parte do filme. Já os dinossauros, em sua primeira aparição são lagartos disfarçados, com efeitos ligeiramente superiores ao das produções anteriores, mas claramente as figuras deles eram coadjuvantes diante da trama que tentava traduzir o livro de Verne para as telas.

    Em 1959, foi a vez também de exibir O Monstro Submarino, traz Behemoth, figura essa existente nos livros da Bíblia, mais especificamente em Jó. No livro, Behemoth é uma figura monstruosa, que para muitos estudiosos é mais aproximada de um bovino com três chifres, para outros um hipopótamo e há quem o compare com um dinossauro. No filme de Lourié, mais uma vez o antagonismo é por conta de uma criatura que sofreu interferência da ação humana, através da energia nuclear. Esse é o terceiro filme do diretor que traz “dinossauros”, e talvez seja o que temor apelo, ainda assim a forma como a criatura é desenvolvida é muito inventiva, apesar de não ser tão bem feita.

    Leia: Parte 2 | Parte 3.

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  • Crítica | Kong: A Ilha da Caveira

    Crítica | Kong: A Ilha da Caveira

    King Kong foi imaginado originalmente em 1933, clássico pro seus efeitos visuais e pela história poderosa de amor entre uma fera gigantesca e sua musa. A relação entre doçura e ferocidade animalesca de um gorila gigante, tão assustado quanto brutal, tão perigoso quanto amoroso. A cena no topo do Empire States Build provavelmente é uma das mais famosas do cinema, tão perfeita é sua criação. Anos após e diversos filmes revisitaram sua história, em versões mais ou menos fiéis, incluindo uma versão com o intuito de praticamente reproduzir o original, e lindamente filmada por Peter Jackson.

    Kong: A Ilha da Caveira se afasta de praticamente todos seus anteriores ao não só focar em um trecho bastante específico da mitologia do herói gorila, que é seu reinado na ilha da caveira, como em uma época bastante específica, que é o período da Guerra do Vietnã. A datação é inclusive usada como justificativa para o achado da ilha fantástica, coberta por tempestades magníficas e quase inacessível. Também faz parte de algo maior, já anunciado pela Warner e Legendary, parte de um universo todo de monstros gigantes que inclui o Godzilla de 2014. Percebe-se alguma ressonância nos dois filmes, principalmente na intenção de expor uma visão ecológica desses animais fantásticos.

    Eu sou a morte, o destruidor de mundos

    A mensagem é aquela, mais bem trabalhada em Godzilla que em King Kong, de que a natureza é poderosa e age independente de nossa pequenez. Como se fôssemos insetos, ela passa por nós todos os anos, seja com tsunamis, furacões, terremotos devastadores, erupções vulcânicas e toda sorte de intempéries. A natureza nos ignora, e somos resultado dessa displicência. A nós e nossa falsa sensação de magnitude, nosso reinado de sal, nosso olhar de folha e pensamento de raiz, olhando de cima todo o mundo enquanto pensamos de maneira primitiva e irracional. Nosso sabor pela guerra, a visão de um inimigo à espreita em cada esquina e a necessidade de destruir uns aos outros e tudo aquilo que nos cerca. O ser humano como um vírus pronto para ser expurgado. Mas os anticorpos não são os monstros protagonistas, seja King Kong ou Godzilla. Eles são os reis benevolentes que em sua não necessidade de compaixão, demonstram benevolência. King Kong é nosso herói, o rei leal e piedoso, atento ao sofrimento e pressionado na amargura da solidão de ser único. Único tal qual é cada um de nós. Um universo inteiro em uma casca de noz. O problema sempre está em impor este universo particular ao outro e assim achar que se é o único universo.

    O antagonismo é representado em duas frentes, os lagartos da caveira, animais gigantes de design impiedoso, com falsos olhos demoníacos, e o general interpretado por Samuel L. Jackson. Ambos representam a face da morte, seja a morte da seleção natural, seja aquela imposta por nossa seleção artificial e empáfia na escolha sobre quem vive e quem morre. Parafraseando o brilhante cientista Oppenheimer, chefe de pesquisas do projeto Manhattan, que desenvolveu as primeiras bombas nucleares e todo o seu conceito, ao citar Bhagavad Gita diante do sucesso do projeto. A citação refere-se à cena onde Vishnu ao persuadir o príncipe a cumprir seu dever, para pressiona-lo ergue-se em sua forma com múltiplos braços:

    “Agora eu tornei-me a Morte, a destruidora de mundos”.

    Kong: A Ilha da Caveira pode ser definido de diversas formas, mas dificilmente será enquadrado em algo, seja gênero ou tom. A forma como melhor se define este filme é como algo genuinamente único, mesmo que nem sempre bom. É um filme pensadamente híbrido,usando diversas referências da cultura pop de forma natural e poderosa. Estrelas ninjas nas mãos de gorilas, samurais, bom humor, non sense, quebras de expectativa que surpreendem com competência e ousadia, diversas homenagens à clássicos do cinema como Apocalipse Now, uma cafonice linda e elegante, Tom Hiddlestom com uma espada só por que ele fica lindo na cena. Tudo está lá, e a dinâmica na mudança de tom do filme acontece na maioria das vezes de forma orgânica.

    Falta, porém, personagens que fossem além de peças para o roteiro. Ao menos seus protagonistas, pois apesar de Brie Larson destacar-se em sua interpretação e entrega de uma heroína, que em outros tempos mocinha pronta para ser salva, falta um pouco mais de elaboração e tempo de tela para que seja possível identifica-la como o eixo da história de amor entre vida e natureza, coisa que fica subentendida por repetidamente o filme olhar em volta a partir da visão de sua câmera, delicada e atenta as belezas ao redor, garantindo À ela uma sabedoria anti-destruição.

    A beleza do filme emociona diversas vezes, e é talvez um dos filmes mais bonitos feitos por Hollywood nos últimos anos, pareado com Mad Max: Estrada da Fúria. O filme esmera-se em fazer de cada cena uma pintura, sejam nas poses ensaiadas e estereotipadas de suas personagens, seja na forma como filma a destruição como um misto de beleza e sadismo.

    Diante de tanta beleza e ousadia, torna-se difícil não se esforçar pra amar o filme. Porém sua montagem repetidamente confunde a ordem dos acontecimentos e apressa o passo da história; há uma necessidade de alcançar check points de quem irá morrer agora que, apesar de surpreender, tornam as mortes e vidas dos personagens um pouco descartáveis fazendo com que esqueçamos quem ainda está vivo e quem não. Algumas de suas cenas parecem trechos de um filme melhor do que este que vemos montado, e isso somado à grande quantidade de personagens relevantes e a baixa densidade de suas elaborações, em alguns momentos fica difícil se engajar no ritmo que o filme tenta impor. Um filme necessário pela forma como enxerga o mito do King Kong e a forma como enxerga entretenimento, de maneira artística e elegante, Kong: A Ilha da Caveira é um bela obra de arte, mas que eventualmente se esvazia e transborda em sua grandeza, desperdiçando parte daquilo que poderia ser.

    Texto de autoria de Marcos Paulo Oliveira.

  • TOP 10 – Monstros de Hollywood

    TOP 10 – Monstros de Hollywood

    “Todos os monstros são humanos”, diria a personagem Irmã Jude, na segunda temporada da série American Horror Story (Fox), porém, em época de Halloween, aqui estão as dez bestas, verdadeiras forças gigantes da natureza que nunca conheceram, e desprezam qualquer traço de humanidade.

    10. O Ladrão de Bagdá (Clive Donner, 1940)

    Bagdad

    Um gigante do Oriente na alusão a um dos contos de As Mil e Uma Noites, numa das grandes revoluções no uso dos efeitos especiais no Cinema. Hoje, o fato desses efeitos nos lembrarem os defeitos de Chapolim Colorado só melhora tudo.

    9. O Hobbit – A Desolação de Smaug (Peter Jackson, 2013)

    smaug

    O melhor dragão já mostrado em um filme, uma criatura tão icônica que nem o Peter Jackson dos três O Hobbit conseguiu estragar. “Ai estás, ladrão!” É impossível ficar indiferente a cada palavra dita pela MAIOR das criações de Tolkien, o pai da Terra-Média, devido também à imponente voz do ator Benedict Cumberbatch.

    8. Jurassic Park (Steven Spielberg, 1993)

    jurassic

    A partir daqui, o limite para a realização cinematográfica era apenas o inconsciente humano, já que a imaginação por trás das câmeras também se libertou com a aparição do T-Rex. A equipe de Spielberg recriou dinossauros 100% reais, e assombrou o mundo em todos os sentidos.

    7. O Enigma de Outro Mundo (John Carpenter, 1982)

    carp

    Em meio ao gelo e o infinito ártico, uma força extraterrestre ataca, brutal e sem razão. Quando os monstros pessoais que vivem nos sobreviventes também vêm a tona, nos damos conta que The Thing é mais que um fruto do mestre Carpenter: É terror e ficção científica num casamento perfeito.

    6. King Kong (Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack, 1933)

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    Kong é uma fera magnânima em eterno conflito com sua bela interior, materializada na mocinha. Nesse contraste de figuras, o modo como o drama do bichão em paralelo com o embate entre dois mundos é escalonado, numa espiral de situações ainda na aurora dos filmes, não poderia ser menos que emocionante, o que de fato não o é.

    5. Aliens: O Resgate (James Cameron, 1986)

    aliens

    Uma mãe alienígena predadora AND furiosa, com TPM. Dá pra superar? Difícil. Aliens – O Resgate tem, pelo menos, 100 razões para ser considerado um dos melhores filmes de ação da história, e a primeira é o simples fato de existir, em sua plena projeção. Filmaço.

    4. Tubarão (Steven Spielberg, 1975)

    jaws

    A grande arte de sugerir mais do que mostrar. O striptease do mito dos sete mares que elevou o filme a alcunha de clássico instantâneo, no prelúdio técnico da era das possibilidades. Não é só o melhor filme de Spielberg; Tubarão é uma monstruosamente fantástica pérola do suspense. “Vamos precisar de um barco maior…”

    3. A Noite do Demônio (Jacques Tourner, 1957)

    demon

    Medo do escuro, medo do incerto, medo de ser dominado pela religião, medo da morte, e finalmente, medo do demônio. O bicho aqui é real, remete a sua forma mais clássica, e o tormento preto-e-branco de quando é avistado ou invocado, entre galhos e becos, sufoca e nos hipnotiza mais que qualquer garota possuída. Jacques Tourner era o mestre das sombras, e é na refração da escuridão onde é conjurada a essência do terror absoluto.

    2. O Hospedeiro (Joon-Ho Bong, 2006)

    the host

    Precisamos enfrentar nossos monstros, disse Freud. Todo dia, a maioria de nós enfrenta e mata seus leões; seja no trabalho, ambiente acadêmico ou em casa. O ímpeto de reunir a família inteira para resgatar uma garotinha das garras de uma terrível besta, o tal do Hospedeiro, surge como um exercício de modelar uma ação ininterrupta, com momentos e clímaxes de um filme livre, no sentido mais cru da palavra, sem medo de destruir o mundo ou nossos nervos no intuito de ser a obra-prima que é. Um filme de monstro que se leva a sério demais, e, neste caso, ainda bem.

    1. Godzila (Ishirō Honda, 1954)

    godzilla

    É o filme que Ed Wood sempre quis fazer. Godzila é do tamanho do medo de um povo perante a Segunda Guerra Mundial. Fúria soberana, inconcebível senão por acidentes nucleares, sinônimo de monstruosidade, e não é por menos: o filme de Ishirô Honda, clássico à frente e esculpido pelo tempo, é uma concepção assombrosa, verdadeiro tratado e diamante muito além do tradicional cinema japonês da época, ou de assuntos de entretenimento. Cada cena é uma aula do Cinema mais nobre que se tem notícia, num contexto perspicaz para a mitologia de uma lenda. Um colosso!

  • Crítica | Godzilla (2014)

    Crítica | Godzilla (2014)

    Black-and-White-Godzilla-2014-Poster

    Engenheiro responsável por uma usina nuclear no Japão, Joe Brody (Bryan Cranston) cria seu filho Ford sozinho após perder sua esposa, Sandra (Juliette Binoche), num acidente que leva ao fechamento do local e ao isolamento de todo o entorno. Quinze anos após o acontecimento, Joe ainda acredita que não houve um acidente e Ford (Aaron Taylor-Johnson), casado e com um filho, acha que o pai está obcecado com essa ideia por não aceitar a perda da esposa. Os eventos que se seguem demonstram que Joe não estava enganado.

    Filmes de super-heróis, monstros e catástrofes são autoexplicativos. E Godzilla cabe perfeitamente nas duas últimas categorias. Salvo detalhes que diferenciam a trama, mesmo que ligeiramente, filmes de Godzilla obrigatoriamente têm o lagarto gigante invadindo cidades e causando destruição. E este não foge à regra. Porém a história é conduzida de modo a não ofender a inteligência do espectador. Há clichês? Lógico. Aliás, como escapar deles num filme do gênero? Há justificativas científicas meio capengas, que não resistiriam a um crivo mais exigente? Sem dúvida. Mas, convenhamos, num filme de monstro, quem em sã consciência está preocupado com a legitimidade das explicações? Quem vai ao cinema para rever Gojira quer basicamente apenas duas coisas: um monstro que seja grandioso o bastante para meter muito, muito medo, mesmo que estejamos seguros na poltrona; e muita destruição causada pelo monstro. E se houver uma luta entre monstrengos, ainda melhor.

    A nova adaptação de Godzilla entrega isso e muito mais. Uma boa solução do roteiro foi não incluir um casalzinho romântico ou uma família em perigo para aumentar a carga dramática (e melosa) da trama. Os dramas humanos ocorrem, mas não são foco da história. Não há o intuito de criar tensão desnecessária a ponto de fazer o espectador chorar pelos personagens, algo que enfraqueceria a narrativa. Afinal, é um filme de monstros, oras! E não um romance água-com-açúcar que acontece enquanto uma catástrofe atinge a cidade.

    Outra boa sacada foi não apresentar o monstro no início e passar o restante do filme mostrando a humanidade – leia-se “os americanos” – perseguindo-o e tentando matá-lo. Seria um lugar-comum. Dessa vez, o objetivo do monstro não é invadir e destruir cidades. Godzilla e os outros passam pelas cidades e, consequentemente, devido ao seu tamanho,  saem pisando em veículos e pessoas, além de destruir construções. O mesmo que nós, humanos, fazemos ao passear num campo, por exemplo. Não saímos de casa com o intuito de aniquilar formigas ou amassar gramíneas. Apenas acontece enquanto andamos.

    Bebendo nitidamente da fonte de Spielberg, em Tubarão, a aparição “de corpo inteiro” de Godzilla demora a ocorrer e é precedida de várias cenas em que o vemos apenas de relance ou envolto por névoa. Quando finalmente surge a cena completa, a espera é compensada. Difícil evitar uma exclamação de admiração pela grandiosidade do monstro. Não dá para não pensar “Finalmente, um lagartão bem feito!”. Não é apenas bem composto digitalmente, mas fiel ao Gojira original japonês, sem aquele ar de T-Rex que tinha o Godzilla, de Roland Emmerich.

    Se há algo que chama atenção além do monstro (lógico) é o som do filme. Não apenas a trilha sonora de Alexandre Desplat  lembra um pouco a de John Williams em alguns momentos, mas o design de som também se destaca ao evitar pontuar todas as cenas com a trilha, fazendo ótimo uso do silêncio (recurso dramático infelizmente subutilizado, principalmente em blockbusters). Criando a tensão necessária para amplificar a aparição triunfal de Godzilla.

    Não resta dúvida de que para ser melhor do que o filme de 1998, com Matthew Broderick, não precisa muito. Mas a produção vai além: consegue fazer o público esquecer que aquela versão existiu e tornar esta o definitivo filme de Godzilla.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

  • Crítica | Godzilla (1998)

    Crítica | Godzilla (1998)

    godzilla-1998-poster

    Após os ataques por meio de armas nucleares dos americanos ao Japão, os criadores de conteúdo do país atacado passaram a explorar um filão que levava a exposição à radiação como algo transformador e surpreendente, inclusive antes de Jack Kirby e Stan Lee. Em 1954, estreariam o filho mais ilustre desta maldição, Gojira (Godzilla no ocidente) que seria protagonista de quase 30 produções japonesas. Claro que com a popularidade e com a ganância típica do capitalista estadunidense, os yankees se ocupariam de fazer a sua própria versão do monstro.

    Mas tal versão seria diferente em sua origem, o que não é uma novidade, vide a versão de 1956, Godzilla: King of Monsters, com inúmeras cenas alteradas, que buscavam eximir os americanos da culpa pela catástrofe nuclear. Então, capitaneada pelo amante do cinema catástrofe e da canastrice, Roland Emmerich, estrearia Godzilla no ano de 1998, que emularia o visual de O Parque dos Dinossauros, mas claro, sem todo o repertório visual e abordagem única de Spielberg, tampouco sem o carisma da maioria dos arquétipos dos exploradores da ilha, em vez disso, a fita se apóia nas costas de Mathew Broderick, que faz o doutor Niko Tatopoulos, especialista em minhocas, e Jean Reno, que interpreta Phillipe Roach, um funcionário de seguradora que esconde um mistério que quase ninguém se interessa em saber – e que se revela (tristemente) com a origem do lagarto super desenvolvido!

    O grupelho de exploradores, após ver uma pegada de extensões gigantescas, resolve seguir os rastro de destruição, acompanhando a criatura pelo oceano. No entanto, mais importante que tais coisas é a necessidade que todas as mulheres do filme têm em reafirmar que Nick é um bonitão. O monstro reptiliano parece ter uma mentalidade semelhante a humana, primeiro por atacar o Japão, sua terra natal e depois viajar até outro continente para destruir outra potência mundial, os EUA, logo em Nova Iorque, a Roma moderna, e logo que o faz, interrompe um tragicômico discurso do presidente em meio a uma tempestade e aos eleitores com guarda-chuvas.

    Ao menos as cenas de destruição da metrópole são interessantes, e o CGI do réptil não é tão mal feito, ainda que sejam bastante precários, mas nada que comprometa, como as cafonas cenas de contato visual entre o dinossauro superlativo – que varia de tamanho – e Nick. As cenas após este emocionante encontro são ainda mais toscas, mostrando os embates mais esdrúxulos da história do cinema. O design do mostro causou muita chiadeira nos fãs da cine-série, críticas – estas injustas-, se levar em conta que a lógica estrategista do bicho é ainda mais desrespeitosa com o cânone. Godzilla embosca os mariners, escondendo-se atrás deles e dando o bote em helicópteros de modo sorrateiro, enquanto os líderes políticos se enrolam em meio a piadinhas infantis e inoportunas.

    Após quase uma hora decorrida, o motivo da viagem do monstro é assumida como a migração que intuía uma reprodução destes. Um sub-plot fajuto é montado, mostrando o casal Nick e Audrey Timmonds (Maria Pitillo) jamais consumado tendo uma crise, o que mudaria o status quo do explorador, fazendo-o sair das investigações americanas e introduzindo-o ao núcleo francês, capitaneado por Roaché, sendo estes, os únicos preocupados com a multiplicação dos monstros. Se esta é uma crítica à inteligência das forças armadas americanas, esta passou longe de ser interessante ou inteligente.

    A batalha pelos mares com o kaiju é entediante e fraca, carece de emoção e piora graças a total falta de conteúdo dos personagens. A trilha sonora também não ajuda, pois tenta ser edificante mas só consegue ser digna de risos, mesmo com o acréscimo de músicas do Foo Fighters e Rage Against the Machine – que são uma das poucas coisas legais da fita.

    Os bonecos mecatrônicos que fazem os filhotes são horríveis, os bichinhos nascem banguelas mas têm um instinto assassino voraz, causando muito medo nos personagens maravilhosos. Graças a facilidade de se procriarem. Após um plano super mal construído, que visava destruir as crias recém-nascidas, os “heróis” percorrem a cidade após um alívio muito breve, que logo é seguido por uma perseguição da feroz progenitora que busca vingar o assassinato dos seus rebentos. Esse clímax é tão fraco quanto o resto do filme. Certamente o maior problema do remake de Emmerich é a ausência de foco e a dificuldade em decidir qual seria a abordagem melhor, visto que nada é desenvolvido de modo satisfatório, sejam os personagens fracos, a catástrofe da cidade, que não causa qualquer trauma ou comoção na população, e até a figura do monstro, que não é amedrontadora e nem de caráter trash, como eram os primeiros gojiras, em suma, é só mais um produto sem qualquer alma, substância e conteúdo.