Tag: Matthew Broderick

  • Review | Bojack Horseman – 4ª Temporada

    Review | Bojack Horseman – 4ª Temporada

    É estranho pensar que uma das séries mais adultas dos últimos tempos é uma animação protagonizada por um homem-cavalo. A ideia parecia esdrúxula, mas felizmente se mostrou algo de muita qualidade e que, na medida do possível, foge do óbvio.

    Se você está lendo este review, provavelmente assistiu às temporadas anteriores, então vamos pular a apresentação dos personagens centrais. Aproveite e leia os reviews da primeira, segunda e terceira temporadas.

    A Netflix vinha mantendo uma boa qualidade da série, apesar de alguns deslizes no ritmo. Esta quarta temporada não foi muito diferente. Temos o Sr. Peanutbutter (Paul F. Tompkins) concorrendo ao cargo de governador da California, mostrando uma campanha bem “atrapalhada”. É a parte menos interessante da temporada, porém teve seu valor em satirizar as campanhas políticas e, principalmente, os eleitores que valorizam coisas bizarras. Todo esse envolvimento na política serviu, de forma inteligente, para desenvolver a relação de Peanutbutter e Diane (Alison Brie).

    Curioso notar que Bojack (Will Arnett) simplesmente não aparece no primeiro episódio, deixando dúvidas se o cavalo perderia o foco nesta temporada. Pelo contrário, tivemos revelações importantes sobre o passado de Horseman.

    O ponto central é a chegada de uma garota chamada Hollyhock (Aparna Nancherla) dizendo ser, talvez, filha de Bojack. Se no início o ex-astro de Horsin’ Around tem a postura babaca e indiferente de sempre, aos poucos ele se vê mudando seus pensamentos e se importando com a garota. O melhor de tudo é o desfecho dessa questão, algo até inusitado, um dos pontos mais fortes dessa temporada.

    Outra questão é o passado familiar de Bojack, especialmente sua mãe (Wendie Malick), que tem uma história pesada. A relação de Bojack com sua mãe terá um espaço importante na história, e a série acertou em abordar certas coisas.

    Em paralelo, Princess Carolyn (Amy Sedaris) parece conseguir um relacionamento sólido depois de muito tempo, e podemos acompanhar as inseguranças e questionamentos de uma mulher mais velha que permanece(ia) solteira. Os personagens da série são muito humanos, mesmo sendo animais antropomorfizados, algo irônico e genial.

    Vale destacar a aparição de algumas vozes conhecidas, como Jessica Biel e Matthew Broderick.

    Bojack Horseman é uma série fácil de recomendar. Se você gostou das temporadas anteriores, não pense duas vezes, assista à quarta. É uma série consistente que já ganhou seu espaço dentre as produções de qualidade da Netflix.

    https://www.youtube.com/watch?v=v9yQv9YWFw4&t=9s

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  • Crítica | Curtindo a Vida Adoidado

    Crítica | Curtindo a Vida Adoidado

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    Os primeiros minutos de Curtindo A Vida Adoidado são uma síntese do cinema de John Hughes, habitados por seres debochados, despreocupados e que sabem como viver a vida. O Ferris Bueller de Mathew Broderick consegue ludibriar seus pais com uma expressão sonsa e divertida, que divide opiniões quanto ao caráter desse tipo de trapaça, usando sua irmã Jeanie (Jennifer Grey) como ser discordante, resumindo ali um estilo de vida mais caxias, incapaz de entender com graça as atitudes do personagem carismático.

    O primeiro aliado na jornada de Ferris é o público, que o compreende e trava com ele uma diálogo franco, como se não houvesse barreiras entre espectador e personagem. Com receio de não ter mais êxito em suas enganações, o rapaz quer fazer aquela folga das aulas valer a pena, e por isso, chama seu amigo Cameron (Alan Ruck), para acompanha-lo em sua aventura, a despeito até do cansaço e desânimo do rapaz certinho.

    O cenário pensado por Hughes é todo fantástico, a começar pelo núcleo escolar, que se divide em pontos tão dissonantes que surpreendem por viverem em paz. A classe do professor de economia vivido por Ben Stein é um misto de morosidade, repetição resumidos em método de aula completamente sem dinâmica, como é comum para muitos docentes dos primeiros anos escolares. Já na direção habita o senhor Ed Rooney (Jeffrey Jones), que faz o sujeito adulto, recalcado e maníaco por organização, que movido pela inveja, antagoniza seriamente o herói da jornada, servindo de perseguidor do mesmo.

    Todos os alunos são mostrados entediados durante o decorrer das aulas,  e poucos conseguem fugir destes eventos obrigatórios, exceção feita a Sloane Peterson (Mia Sara), que é liberada para atender a morte de sua avó, momentos este que produz uma das cenas mais tensas para Rooney, onde o educador é enquadrado em uma das travessuras de Cameron/Bueller. O modo como Hughes conduz a cena envolve closes nos olhos, suor frio e desespero, em uma edição frenética, que alude a insegurança não só do sujeito de meia idade, mas também dos garotos que pregaram a peça.

    Mesmo diante das indiscrições que comete, Bueller faz questão de justificar seus maus atos através de uma moralidade própria, como quando convence seu amigo a usar a Ferrari seu pai, apelando para a apreciação de bens materiais como desautorização do sujeito, fazendo do legítimo dono da máquina não merecedor o dom que tem. A desconstrução do ideal conservador familiar passa também pela troça que fazem com Rooney, ao se deixar flagrar beijando Sloane, ao interpretar o pai da moça que a vai buscar sua cria.

    É curioso o modo os adultos são mostrados no filme. Os pais de Bueller são bastante crédulos, sem a menor ideia do que o filho faz, alienados até em relação a quantidade de mentiras que lhe são entregues. Os pais de Sloane não são citados, mas são tão presentes no cotidiano escolar que ninguém da diretoria sabe identificar sua voz. Já os de Cameron não são apresentados também, mas geram no rapaz um medo tão grande que brincar de suicídio parece uma ideia plausível, ao ele notar que a quilometragem da Ferrari está bastante alta. Cameron é um garoto prisioneiro de suas próprias neuras, e a origem desses problemas certamente tem raízes na criação que recebe, aproximando os pais dele como figuras mais semelhantes ao vilão clássico dentro da jornada vista no roteiro de Hughes, incluindo aí uma auto estima praticamente zerada, em um garoto que sequer tem maioridade.

    Talvez o fato que faça o filme ter essa aura mágica em volta de si esteja na dedicação de Broderick ao papel título, combinando a perfeição com o jeito descompromissado do menino. Outro fator interessante é o argumento de John Hughes, que consegue mostrar uma história carismática, engraçada e que até tem uma mensagem mais profunda, cuja trama ainda pode ser consumida em um nível mais superficial, graças a todo o carisma dos envolvidos no filme.

    O destino parece ajudar o moço travesso a encobrir seus rastros para – mais uma vez – enganar os seus pais, os mesmos que tiveram a sua frente e não reconheceram o próprio filho caçula. Mesmo com toda a falsidade de suas ações, Bueller consegue inspirar muitos, especialmente os que participam da boba campanha de Save Ferris, uma anedota que tangencia o plot principal e que mesmo sem acrescentar muito, faz toda a mitologia ao redor do filme ganhar ainda mais significado, ultrapassando os fatos em tela com carisma o suficiente para capturar a atenção do espectador externo também.

  • Crítica | Godzilla (1998)

    Crítica | Godzilla (1998)

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    Após os ataques por meio de armas nucleares dos americanos ao Japão, os criadores de conteúdo do país atacado passaram a explorar um filão que levava a exposição à radiação como algo transformador e surpreendente, inclusive antes de Jack Kirby e Stan Lee. Em 1954, estreariam o filho mais ilustre desta maldição, Gojira (Godzilla no ocidente) que seria protagonista de quase 30 produções japonesas. Claro que com a popularidade e com a ganância típica do capitalista estadunidense, os yankees se ocupariam de fazer a sua própria versão do monstro.

    Mas tal versão seria diferente em sua origem, o que não é uma novidade, vide a versão de 1956, Godzilla: King of Monsters, com inúmeras cenas alteradas, que buscavam eximir os americanos da culpa pela catástrofe nuclear. Então, capitaneada pelo amante do cinema catástrofe e da canastrice, Roland Emmerich, estrearia Godzilla no ano de 1998, que emularia o visual de O Parque dos Dinossauros, mas claro, sem todo o repertório visual e abordagem única de Spielberg, tampouco sem o carisma da maioria dos arquétipos dos exploradores da ilha, em vez disso, a fita se apóia nas costas de Mathew Broderick, que faz o doutor Niko Tatopoulos, especialista em minhocas, e Jean Reno, que interpreta Phillipe Roach, um funcionário de seguradora que esconde um mistério que quase ninguém se interessa em saber – e que se revela (tristemente) com a origem do lagarto super desenvolvido!

    O grupelho de exploradores, após ver uma pegada de extensões gigantescas, resolve seguir os rastro de destruição, acompanhando a criatura pelo oceano. No entanto, mais importante que tais coisas é a necessidade que todas as mulheres do filme têm em reafirmar que Nick é um bonitão. O monstro reptiliano parece ter uma mentalidade semelhante a humana, primeiro por atacar o Japão, sua terra natal e depois viajar até outro continente para destruir outra potência mundial, os EUA, logo em Nova Iorque, a Roma moderna, e logo que o faz, interrompe um tragicômico discurso do presidente em meio a uma tempestade e aos eleitores com guarda-chuvas.

    Ao menos as cenas de destruição da metrópole são interessantes, e o CGI do réptil não é tão mal feito, ainda que sejam bastante precários, mas nada que comprometa, como as cafonas cenas de contato visual entre o dinossauro superlativo – que varia de tamanho – e Nick. As cenas após este emocionante encontro são ainda mais toscas, mostrando os embates mais esdrúxulos da história do cinema. O design do mostro causou muita chiadeira nos fãs da cine-série, críticas – estas injustas-, se levar em conta que a lógica estrategista do bicho é ainda mais desrespeitosa com o cânone. Godzilla embosca os mariners, escondendo-se atrás deles e dando o bote em helicópteros de modo sorrateiro, enquanto os líderes políticos se enrolam em meio a piadinhas infantis e inoportunas.

    Após quase uma hora decorrida, o motivo da viagem do monstro é assumida como a migração que intuía uma reprodução destes. Um sub-plot fajuto é montado, mostrando o casal Nick e Audrey Timmonds (Maria Pitillo) jamais consumado tendo uma crise, o que mudaria o status quo do explorador, fazendo-o sair das investigações americanas e introduzindo-o ao núcleo francês, capitaneado por Roaché, sendo estes, os únicos preocupados com a multiplicação dos monstros. Se esta é uma crítica à inteligência das forças armadas americanas, esta passou longe de ser interessante ou inteligente.

    A batalha pelos mares com o kaiju é entediante e fraca, carece de emoção e piora graças a total falta de conteúdo dos personagens. A trilha sonora também não ajuda, pois tenta ser edificante mas só consegue ser digna de risos, mesmo com o acréscimo de músicas do Foo Fighters e Rage Against the Machine – que são uma das poucas coisas legais da fita.

    Os bonecos mecatrônicos que fazem os filhotes são horríveis, os bichinhos nascem banguelas mas têm um instinto assassino voraz, causando muito medo nos personagens maravilhosos. Graças a facilidade de se procriarem. Após um plano super mal construído, que visava destruir as crias recém-nascidas, os “heróis” percorrem a cidade após um alívio muito breve, que logo é seguido por uma perseguição da feroz progenitora que busca vingar o assassinato dos seus rebentos. Esse clímax é tão fraco quanto o resto do filme. Certamente o maior problema do remake de Emmerich é a ausência de foco e a dificuldade em decidir qual seria a abordagem melhor, visto que nada é desenvolvido de modo satisfatório, sejam os personagens fracos, a catástrofe da cidade, que não causa qualquer trauma ou comoção na população, e até a figura do monstro, que não é amedrontadora e nem de caráter trash, como eram os primeiros gojiras, em suma, é só mais um produto sem qualquer alma, substância e conteúdo.