Serie dramática do canal Showtime, Os Bórgias, assinada por Neil Jordan, narra a história do polêmico religioso Rodrigo Bórgia e sua família, conhecidos por sua luxúria e ganância. O programa estrelado por Jeremy Irons ficou notadamente conhecido por conta do ator, dado que em 2011 não era tão comum grandes atores do cinema migrarem para a televisão. Já na primeira temporada, acompanhamos Rodrigo (Irons) se tornando o Papa Alexandre VI.
Apesar de sua nacionalidade espanhola, isso pouco importa para a série. Os Borjas/Bórgias são uma grande família com três filhos adultos: o primogênito e também padre Cesare, de François Arnaud, que passa o programa tentando largar o manto religioso para ser um líder de exército; a filha Lucrécia (Holliday Grangier), uma bela e lasciva moça de aparência virginal e tendências incestuosas com o primeiro filho; o inconsequente e cruel Juan (David Oakes).
Jordan dirige o piloto e brinca com a visão do espectador, colocando a câmera em lugares específicos, sob a ótica e perspectiva de algumas criaturas, como a gaiola do pombo-correio que leva as informações sobre os votos necessários para que Bórgia vença a eleição ao papado, ou a de outras figuras subalternas dentro desse xadrez político.
Há algumas boas cenas de ação, inclusive de batalhas. Os exércitos do Papa e de outros países tem uma boa representação. Visualmente parecem realistas como bons filmes de época. A recriação de cenários e figurinos também impressiona. Porém, os efeitos de computação gráfica decepcionam, apesar da direção de arte compensar esses momentos.
A série subverte temas como o machismo com uma astúcia grande, exibindo mulheres fortes capazes de manipular e dominar esse mundo comandado por homens. O primeiro ano termina com humilhações públicas e a ascensão da família que dá nome ao seriado. Com o tempo os episódios ganham tons mais “adultos”, desde cenas de nudez à violência.
Durante o decorrer das temporadas, Rodrigo muda, passa a ser mais temente a religiosidade, mas não demora a retornar ao seu estado de escárnio com o catolicismo. Os personagens vão perdendo suas condições básicas de vida, inclusive o controle de suas faculdades mentais e até partes substanciais das memórias. É como se uma maldição caísse sobre eles, incluindo o avanço das questões relacionadas ao incesto. De todas as tramas, romances, traições e problemas tratados, certamente o mais focado no último e terceiro ano é a exploração da fé por parte dos políticos e poderosos de Roma.
O seriado teve três temporadas sendo interrompido de forma abrupta, com apenas 29 episódios, tendo sua trama terminada em um ebook, fato que impede boa parte da audiência de saber o que aconteceria com os personagens, até por conta das muitas liberdades tomadas pelo roteiro. O que se observa no período em que ficou no ar é uma história em que o conservadorismo, a política e a hipocrisia sempre andaram juntos.
Os Bórgias termina abruptamente, e nas temporadas seguintes lidaria com a morte do Papa e sua tentativa de se confessar para salvar a própria alma, porém sem sucesso. Diz-se também que teria uma participação maior do escritor Nicolau Maquiavel que se tornou personagem recorrente. É curioso como a série estreou no mesmo ano que Game Of Thrones, com semelhanças de tramas, contudo sem a mesma popularidade. Ainda assim, mesmo com os muitos defeitos em sua produção, a série de Jordan e da Showtime tem ótimos momentos.
O Homem-Aranha é um dos heróis de histórias em quadrinhos mais populares, rivalizando com o Batman na editora concorrente. É fácil simpatizar com a personagem, dada sua humanidade e suas dificuldades típicas do homem comum. Dessa forma, é natural que ao longo das décadas a personagem tenha ganhado vários títulos em quadrinhos, filmes, games e, claro, séries animadas.
Homem-Aranha (Spider-Man, 1967-1970)
A primeira recebeu o título de Homem-Aranha e teve produção assinada pela Grantay & Lawrence e Kratz Animation. A animação foi exibida durante os anos de 1967 a 1970 e teve um total de 52 episódios. O Aranha trabalhava no Clarim Diário e tinha como interesse amoroso Betty Brant, que além de ser a primeira namorada do personagem, era o par romântico da época.
Sua produção era muito barata, notando inclusive que as teias só cobriam parte do uniforme do Teioso. Essa também foi conhecida por dois fatos peculiares: a tradução do nome dos personagens nas primeiras dublagens brasileiras — Pedro Prado (Peter Parker), tia Maria (Tia May), Doutor Polvo (Dr. Octopus), J. Jonas Jaime (J.J. Jameson) — e, claro, a montanha de memes envolvendo a animação.
O seriado é tão barato que se torna engraçado, com alguns personagens clássicos e outros originais. Destaque para o Doutor Escorregadio, com poderes de… fazer o Aranha escorregar. Outra questão digna de nota é sua música tema, bastante emblemática, regravado até mesmo pelos Ramones, além de estar presente em quase tudo do Homem-Aranha, inclusive nos filmes para cinema.
O Aranha só voltaria a ter uma nova animação nos anos oitenta. Nesse ínterim, houve uma série com atores, The Amazing Spider-Man, além de sua versão japonesa, Supaidāman.
Homem-Aranha (Spider-Man, 1981-1982)
A nova série animada, intitulada apenas como Homem-Aranha, começou em 1981 e foi até o ano seguinte. O traço dela lembrava a versão de John Romita, e a trama era ambientada no período em que o herói cursava faculdade na Universidade Empire State.
A série tinha um ar ingênuo e sérias restrições a violência. Acabou se encerrando com apenas 26 episódios e teve transmissão simultânea com Homem-Aranha e Seus Amigos. Justamente por isso teve vida curta e acabou ofuscada pelo seriado de maior sucesso do personagem na época.
Homem-Aranha e Seus Amigos (Spider-Man and His Amazing Friends, 1981-1983)
Homem-Aranha e Seus Amigos tinha uma atmosfera semelhante ao seriado anterior, no entanto, com o acréscimo de dois outros personagens, Homem de Gelo e Flama, ambos colegas de turma de Peter na faculdade.
Reza a lenda que a ideia era trazer o Tocha Humana, mas problemas de licenciamento impediram os produtores, e então criaram a personagem Flama, que teve até versão nos quadrinhos poucos anos depois em introduzida nos quadrinhos em Uncanny X-Men #193. Esse também é o desenho onde a parte de baixo do apartamento do Aranha é um laboratório, ficando à disposição dos personagens através de um botão que faz o chão inverter o sentido com o teto de baixo (imagina os frascos com substâncias de cabeça para baixo).
Homem-Aranha: A Nova Série Animada (Spider-Man: The New Animated Series, 2003)
Lançada em 2003 para aproveitar a fama do filme do Homem-Aranha, a animação Homem-Aranha: A Nova Série Animada foi o primeiro produto animado já comandado pela Sony. No início, seria uma versão do Homem-Aranha Ultimate, com produção de Brian Michael Bendis, mas tudo mudou com o sucesso do filme protagonizado por Tobey Maguire e dirigido por Sam Raimi.
A qualidade da animação utilizava de efeitos 3D que hoje soam bastante datados, mas funcionava bem, principalmente em cenas noturnas. O roteiro era mais adulto, inclusive com algumas insinuações sexuais. A produção ficou a cargo da Saban Entertainment e a série foi exibida na MTV.
Outro destaque era o elenco de dubladores, que contou com Neil Patrick Harris, Rob Zombie, Jeremy Piven, Michael Clarke Duncan e outros.
Espetacular Homem-Aranha (The Spectacular Spider-Man, 2008-2009)
Como a última animação, Espetacular Homem-Aranha também teve um bom início, duas temporadas entre 2008 e 2009, 26 episódios e conseguiu reunir um belo conjunto de coadjuvantes das histórias clássicas do Aranha.
O produtor Greg Weisman esperava que a série tivesse 5 temporadas que lidariam com Peter se formando na Midtown Manhattan Magnet High School, e findaria com ele a caminho da universidade. No entanto em 2009 os direitos televisivos do personagem retornaram à Marvel, e após a compra da companhia pela Disney o desenho foi descontinuado. Esse fim prematuro foi bastante lamentado, pois a série conseguiu capturar a essência do personagem, possuía fidelidade ao material original e, claro, era bastante divertida.
Já na Disney, houve duas animações. A primeira, Ultimate Homem-Aranha, ficou no ar de 2012 a 2017. Seu traço era bonito, o tom das histórias apelava bastante para um tipo de humor que fez muitos fãs torcerem o nariz. Além disso, o roteiro usava e abusava de metalinguagem e quebra da quarta parede.
Foi nesse seriado que boa parte dos personagens do Aranhaverso apareceram pela primeira vez no audiovisual, desde Miles Morales e Spider-Gwen ao Agente Venom. Em um arco de quatro episódios, Peter se encontra com algumas de suas contrapartes, anos antes da Sony lançar Homem-Aranha no Aranhaverso — ainda que isso já tenha sido feito na clássica animação dos anos 90.
Apesar do sucesso comercial de Ultimate seja com merchandising ou audiência, a Disney resolver encerrar a animação para dar lugar a Homem-Aranha, ou Marvel Spider-Man, que na data da publicação deste post ainda está em exibição. A qualidade da animação é bastante aquém e sua trama é bastante boba, colocando Miles, Peter, Gwen e outras versões estudando juntas e combatendo o crime.
Outras versões animadas do herói ganharam holofotes, como a do Disney Júnior, Spidey e Seus Amigos Espetaculares, com bonecos em 3d cabeçudos, que lembram Esquadrão de Heróis da Marvel. As aventuras são bobinhas, mas divertidas para crianças em fase alfabetização.
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Por fim, se aguarda uma nova animação que mostraria os primeiros meses do Aranha de Tom Holland, com o nome Spider-Man Freshman Year, ainda sem muitas informações, com a promessa de que chegará ainda em 2022.
E assim segue o herói aracnídeo, em diversas versões, que seguem mostrando sua essência, algumas mais acertadas e outras nem tanto, mas sempre levando em frente a máxima que Stan Lee e Steve Ditko pensaram para ele, de que com grandes poderes, vem grandes responsabilidades. Boa parte dessas versões (sobretudo as mais recentes) podem ser vistas nos serviços de streaming.
Já nos habituamos a todo ano receber notícias a respeito do cancelamento de nossas séries. 2021, apesar de completamente atípico, não poderia ser diferente. É verdade que o atual cenário pandêmico mundial mudou consideravelmente a produção do audiovisual, com diversas delas sofrendo interrupções, mas pouco a pouco as gravações foram retomadas. Entretanto, muitas delas foram encerradas prematuramente — ou até que outra emissora ou serviço de streaming decida continuá-la —, apesar de uma boa recepção de público e crítica, por isso, confira a lista de algumas das que tiveram seu desfecho interrompido neste ano.
Lovecraft Country
A adaptação do livro homônimo de Matt Ruff chegou na HBO em 2020, recebeu diversos prêmios e ainda assim teve o anúncio de seu cancelamento neste ano sem grandes explicações e causou bastante surpresa após receber mais de 18 indicações ao Emmy. A showrunnerMisha Green vinha trabalhando em um roteiro e o elenco da série ainda com agenda reservada para as gravações de uma nova temporada.
A série se passava nos Estados Unidos dos anos 1950 e mesclava o horror pulp (e extremamente preconceituoso) de H.P. Lovecraft com o segregacionismo racial do país.
Punky, A Levada da Breca
Vocês sabiam que Punky, a série de sucesso dos anos 80 teve um revival em 2021? Nem eu. A continuação da série apostou em produções como Três é Demais, que tiveram continuações recentes com boa parte do elenco original e tiveram um sucesso relativo, no entanto, não foi o caso de Punky que teve seu cancelamento anunciado quatro meses após a exibição da primeira temporada com dez episódios.
Os Irregulares de Baker Street
O que aparentava se tornar uma série de sucesso no serviço de streaming da Netflix fracassou amargamente e teve sua produção cancelada na primeira temporada. O grupo de jovens detetives sobrenaturais que trabalhavam para Sherlock Holmes parece não ter feito o sucesso esperado e os custos altos de produção cobraram o preço.
Meu Pai e Outros Vexames
Produzida e estrelada por Jamie Foxx, a comédia Meu Pai e Outros Vexames foi inspirada na relação entre Foxx e sua filha. O ator surgiu na comédia, mas a péssima repercussão de público e crítica foi o fator primordial para a Netflix cancelar a sitcom, ainda que os envolvidos aleguem que optaram por não renovar em comum acordo. A primeira temporada contou com oito episódios e, aparentemente, não era apenas a filha que ele estava deixando envergonhada.
Os Eleitos
A Disney+ anunciou no primeiro semestre de 2021 que Os Eleitos não retornariam para uma segunda temporada. Com essa decisão, a série se tornou a primeira produção do serviço a ser cancelado.
Os Eleitos é fruto da parceria da Disney+ com a National Geographic e contou a história da corrida espacial norte-americana. Apesar do cancelamento, outras emissoras e serviços tem apontado o interesse em continuar essa história.
Cursed: A Lenda do Lago
A série de fantasia medieval teen, Cursed: A Lenda do Lago, foi cancelada pela Netflix em 2021 após a recepção morna do público em relação ao custo da produção. A releitura da lenda arturiana do ponto de vista de Nimue é baseada na graphic novel de Frank Miller e Tom Wheeler.
O Legado de Júpiter
A parceria de Mark Millar e Netflix ainda não rendeu nenhuma produção digna de nota, seja nos quadrinhos ou no serviço de streaming. Na esteira do seriado The Boys, Millar e Netflix acreditavam que a desconstrução dos super-heróis seria uma escolha mais do que acertada, no entanto, a escolha por adaptar apenas pouquíssimas páginas do primeiro arco do quadrinho parece ter cobrado seu preço e o cancelamento foi mais que merecido.
Ainda assim, tanto o autor quanto o serviço já anunciaram que o mundo de O Legado de Júpiter será abordado em outras produções futuras, como a adaptação da mediana Supercrooks, que ganhará uma série em live action e anime.
Turner & Hooch
A série Turner & Hooch estrelada por Josh Peck e servia como um reboot da comédia policial com Tom Hanks, Uma Dupla Quase Perfeita, não conseguiu renovação para uma segunda temporada. Apesar do apelo nostálgico, o serviço de streaming encerrou o seriado com apenas uma primeira temporada de doze episódios. Embora a recepção do público parecesse popular, a série recebeu críticas medíocres da maioria dos veículos especializados.
Y: O Último Homem
A adaptação da série em quadrinhos de Brian K. Vaughan e Pia Guerra tinha tudo para ter vida longa na TV, mas assim como O Legado de Júpiter, a produção optou por espremer tudo e mais um pouco de poucas páginas de história e entregar nada ao espectador acreditando que teriam mais tempo para desenvolver a trama. Não rolou. Y: The Last Man não tinha ritmo algum e pouco a pouco a audiência foi diminuindo. Os produtores estão buscando uma nova casa para o seriado, mas até agora sem sucesso.
Cowboy Bepop
A adaptação em live action de Cowboy Bebop era bastante aguardada, mas como costuma acontecer em adaptações americanas de produções japoneses, o receio do público era grande. No entanto, assim que a primeira temporada foi disponibilizada na Netflix a recepção foi dividida e ainda que tenha atraído uma parcela considerável de espectadores, o serviço optou por cancela-lo semanas depois da estreia, visto que a audiência não justificava os gastos. Para quem esperava uma continuação para saber o final da série, recomendo que procurem o anime.
Por Baixo do Capacete: O Legado de Boba Fett é um breve especial da Disney+. O episódio tem pouco mais de vinte minutos, mas fala bastante a respeito do caçador de recompensas mais famoso de Star Wars, mesmo que o caçador de recompensas tenha pouco tempo de tela no seu produto de origem.
Assinada pelo especialista em obras de making off, Brian Kwan, o filme se inicia com um engraçado relato do designer de som da trilogia clássica, Ben Burtt, assoprando uma pequena corneta para mostrar como ele chegou no som da aeronave pilotada pelo personagem. Ao passo que se valoriza o legado dele, em especial na venda de brinquedos, também não há super valorização de sua participação, que teve apenas quatro linhas de diálogo e seis minutos e meio de tela da obra original.
A maior riqueza do especial mora nos detalhes a respeito da criação do guerreiro com armadura, em especial no resgate de depoimentos da produção original, como do criador da Milenium Falcon, Joe Johnston (que também ficaria conhecido como diretor de Rocketeer, Jurassic Park IIIe Capitão América: O Primeiro Vingador), que cita Ralph McQuarrie como um dos responsáveis ao seu lado pelos esboços da armadura e do personagem. Se detalha até a ideia de colocar esporas nos pés dele, para parecer um autêntico caçador do velho oeste.
Durante o tempo de exibição também se salienta o quão importante era fazer a armadura mandaloriana parecer surrada, mesmo antes de existir uma mitologia em torno dos guerreiros de Mandalore. Também não se furta em falar sobre Star Wars: Holiday Special, com o próprio George Lucas comentando a inserção do personagem na sequência animada, driblando o assunto tabu já que esse especial era assunto proibido até pouco tempo, quando a própria Disney disponibilizou em seu streaming a sequência em que ele aparece, sob o nome A História do Wookie que Acredita com duração de nove minutos.
Voltado aos fãs, o documentário foca em detalhes de bastidores, conversando com colecionadores de brinquedos e derivados da saga. O objetivo de louvar a memória do personagem é alcançado, e só por isso já valeu a pena ser produzido e apreciado por quem se interessa pelo universo expandido de Star Wars, além de servir de teaser para o seriado O Livro de Boba Fett.
A série do Gavião Arqueiro, personagem criado por Stan Lee e Don Heck, lida com muitos assuntos: as repercussões de Vingadores: Ultimato, a morte da Viúva Negra, a culpa de Clint Barton em sua fase como Ronin e o treinamento de sua pupila. Por mais que o seriado de Jonathan Igla não seja tão audacioso em seu roteiro, acaba se perdendo em meio a todos esses objetivos.
De positivo, há o bom ingresso da personagem Kate Bishop, interpretada por Hailee Steinfeld, que faz um bom dueto com Jeremy Renner. Sua personagem tem um passado ligado ao heroísmo do personagem-título, e remonta aos Vingadores de Joss Wheddon, e sua motivação é bem desenvolvida — ainda que apressada —, mas os aspectos de qualidade param por aí.
Antes da pandemia, quando estavam em produção Wandavision, Falcão e o Soldado Invernal e Loki, havia a promessa por parte de Kevin Feige de que as produções anteriores, comandadas por Jeph Loeb seriam esquecidas, contando aí a subestimada Agentes da SHIELD, como também Demolidor, Jessica Jones, Inumanos, etc. Ainda não se sabe se esse trato foi descumprido, ainda mais após o advento de Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa e tudo que o filme trouxe em participações e outras consequências, mas o desenrolar da série abre uma possibilidade mínima de que, ao menos em parte, as outras produções podem alguma influência.
O drama da série é urbano, mostrando a violência das grandes cidades. Como já se deu em outras séries de heróis urbanos envolvendo a parceria Marvel e Netlix. Além disso, o seriado brinca com os clichês de Nova York, arrumando espaço até para um número musical da Broadway, em um dos momentos mais inspirados em termos de humor na série.
Outro bom ponto é o drama de Clint, visto no desenrolar das desavenças do procedimento do Ronin, mas a busca frenética prometida na gênese é interrompida para dar vazão a uma enrolação e plots de vingança um pouco redundantes, além de não gerar interesse no espectador.
Mesmo tendo só seis episódios há muita enrolação, e nem mesmo participações de personagens como o Espadachim (Tony Dalton) e Yelena Belova (Florence Pugh) salvam a trama. Há um problema claro de ritmo. Metade da temporada é absolutamente parada, não se desenvolve quase nada, no máximo se apresentam easter eggs de personagens cuja aparição deveria ser bem guardada. É muito pouco.
Gavião Arqueiro não tem uma segunda temporada garantida, embora seus diretores tenham mostrado entusiasmo para um possível retorno. Fora a interação, ao estilo Máquina Mortífera, entre os protagonistas, não há com o que se empolgar. Fica a expectativa de que a série consiga trazer o roteiro de uma segunda temporada que faça jus a construção visual apresentada nessa temporada inicial, visto que o texto está abaixo da mediocridade típica das séries de heróis de quadrinhos recente, tanto em versões da Marvel quanto de suas concorrentes.
Desde 1988 Don Mancini vive à custa de seu principal e mais famoso personagem, Charles Lee Ray, o boneco popularmente conhecido como Chucky. Depois de um hiato de quatro anos, finalmente chegou às telas pelo canal SyFy, a primeira temporada de Chucky, que remonta as origens do assassino em Hackensack, onde um boneco Good Guy que carrega a alma do assassino é encontrado por um menino confuso e a partir daí uma estranha saga se inicia.
Com expectativas baixas graças ao resultado do último filme, O Culto de Chucky, o piloto da série surpreende por conta das ideias que aborda, especialmente no que toca a personalidade do seu protagonista Jake (Zackary Arthur). O personagem tem questões bem complicadas a lidar, como ser LGBTI+ e viver em uma família conservadora, sofre bullying no colégio.
Essa última condição é um ponto bem positivo da série, pois dá espaço para mostrar uma escola que parece uma instituição real do ensino médio, e não as caricaturas de seriados e filmes que colocam pessoas de meia-idade interpretando estudantes. Chucky conversa bem com produções atuais que tem esse cuidado, como os recentes Cobra Kai e Ghostbusters: Mais Além.
Quando se pensa em histórias do boneco serial killer se espera obviamente uma série de assassinatos e nisso o seriado não decepciona. Já em seu início há mortes criativas e tão bizarras que causam risos. Mais uma vez o boneco dublado por Brad Dourif parece à vontade ao cometer seus atos maléficos.
Da parte da mitologia, há alguns acréscimos bem esdrúxulos, mostrando que Mancini finalmente desapegou de transformar a série em algo mais sério e já aceitou que este é um besteirol com elementos de terror — o que certamente irritará o fã mais ranzinza, mas o tom de autoparódia e o gore exagerado compensa isso.
Da parte do elenco “novo”, é frustrante que Jake tenha um intérprete tão incapaz de variar expressões. Arthur é bem limitado, fato que ajuda de certa forma no choque inicial de ver Chucky agindo como alguém compreensivo e distante de preconceitos. Algo mudou de O Filho de Chucky até aqui. O restante do elenco juvenil compensa a dificuldade do personagem central, Lexy (Alyvia Alyn Lind), Devon (Bjorgvin Arnarson) e Júnior (Teo Briones) são bons personagens, tem camadas apesar de pouco tempo de tela.
A série também se dedica a mostrar o passado do assassino, as primeiras mortes e até a relação que ele teve com Tiffany. As aparições do elenco dos filmes também é bem pontuado, Jennifer Tilly está hilária e Fiona Dourif também faz bem seus múltiplos papéis. Ainda assim, os flashbacks acrescentam conteúdo, ratificando a ideia de que não se ignora nada nesta cronologia, embora as participações de Alex Vincent e Christine Elise não sejam tão extensas quanto poderiam.
Chucky acrescenta elementos bem bizarros a lógica do ritual vudu, e ainda apresenta a localidade de Hackensack como o lar da imoralidade, associando o lugar ao conto macabro Tempestade do Século. Esse lugar ter produzido o estrangulador de Lakeshore faz sentido, assim como a busca dele por um sucessor. Mancini consegue finalmente trazer um roteiro pleno em exageros e diversão.
Meu Amigo Bussunda é uma série de quatro capítulos idealizados e dirigido por Cláudio Manoel, que ainda divide a parceria na direção com Micael Langer, e no último dos quatro capítulos, por Júlia Besserman, filha do humorista conhecido como Bussunda. O especial possui uma atmosfera alegre, criativa, super colorida e sacana, como era o humor e a identidade civil de Cláudio Besserman, o Bussunda, e tenta se equilibrar entre a memória afetiva, as polêmicas da carreira e a fatalidade de sua morte precoce com 43 anos.
Manoel divide seu estudo em quatro partes, Fama de Famoso de 1962 a 1989, Ih, ó o cara aí de 89-98, Fala sério 1998-06, dirigidos por ele e Langer, e claro, Meu Pai Bussunda, cujo tom é bem diferente graças a direção da filha Júlia. O início do filme brinca com os gostos da personagem-título, embalada por Rock and Roll, mostrando pessoas do passado do humorista. Cláudio Manoel diz ser colega de escola do gordinho, cabeludo e dentuço que se tornaria Bussunda, desde a época em que ele era magro e orelhudo, fato que o fez ser apelidado como Topo Gigio, uma personagem infantil dos anos 80 bastante popular.
O seriado captura bem a alma brincalhona de Bussunda, e não ignora o passado de sua família, a formação política do humorista e a influência de intelectuais comunistas do Partidão (PCB) em seus pensamentos e na influência de seu caráter. Filhos de judeus, Bussunda era o filho “sem futuro”, o “temporão”, seus pais pensavam que ele passaria fome, tanto que pediram aos irmãos para cuidar dele, caso eles morressem. Manoel entrevista a família e consegue preciosidades, pérolas do passado e ajuda a montar o quebra cabeça do homem engraçado que fazia piada consigo mesmo desde cedo, fruto do fato de ser filho de uma psicanalista, o que influenciou obviamente em toda a percepção de mundo que tinha.
A narração de Claudio é um pouco invasiva, em alguns momentos é até boba, séria e sisuda demais, especialmente para quem conhece ele e seus personagens. Um diretor tão especializado em documentário deveria se atentar mais para isso, já que dirigiu (ou co-dirigiu) Simonal: Ninguém Sabe o Duro que Dei, Tá Rindo de Quê?, Rindo à Toa: Humor Sem Limites. Ainda assim, o conteúdo das conversas ajudam a desvendar quem era Bussunda, passando detalhadamente pela formação teatral e universitária.
Há um bom detalhamento do ponto de vista político do personagem, das brincadeiras que ele fazia com a UNE na época que estudava comunicação e na completa falta de ambição que tinha. É tratado como um Bon Vivant desleixado com a imagem, mas extremamente mordaz e inteligente. Claramente o documentarista tem receio em falar de política, não só por conta da polarização política atual, mas também pelo caráter meio “chapa branca” dos documentários da Globoplay. Se isso ocorre com produtos sobre políticos, imagina sobre uma celebridade dita “neutra”. Ao invés de tomar lado, prefere mostrar bastidores, sobre a união dos jornais Planeta Diário e Casseta Popular, nos ingressos destes na televisão e nos shows da noite carioca, além da luta para emplacar um projeto após trabalharem na redação da TV Pirata.
Em determinado ponto a série passa a ser um documentário mais sobre o Casseta e Planeta e suas diversas fases. Isso seria perdoável caso ao menos se abordasse um pouco sobre o declínio do grupo pós-partida do companheiro finado. O episódio ao falar da morte em si é um acerto, é emotivo, traz muita coisa inédita, resgata sensações fortes. Já o restante, acaba soando repetitivo. É fato que a TV Pirata e o próprio Casseta tinham um lugar especial no humor da televisão aberta, e quebravam um estilo já consolidado, mas isso tudo já foi muito discutido, aparentemente Manoel quis se permitir valorizar seu legado, deixando de lado a intenção de homenagear o amigo e companheiro de longa data.
Em Meu Pai Bussunda, Julia busca entender quem foi seu pai, como foi sua carreira, visto que quando ele se foi, ela tinha apenas doze anos, e não tinha tantas memórias e percepções de como era o humor dele e do resto da trupe. O tom aqui é completamente diferente, emocional e visualmente mais interessante. O conteúdo reflete sobre o tipo de humor que do personagem e não cai no pecado de ser condescendente. Há críticas a ele, mas também ao humor atual, com falas de vários humoristas envolvendo temas e visões díspares.
Meu Amigo Bussunda tem dois tipos de abordagens diferentes, e isso faz com que o caráter dele não seja tão fácil de definir. Ainda assim, é um bom resgate de alguém que fez e faz parte da história do humor, da comunicação e da televisão brasileira.
A primeira temporada da série ficcional da Prime Video, Dom, surfa em ondas bem distintas: na popularização de seriados true crime e com o formato popular conhecido como favela movie, explorando uma história dramática como chamariz do público.
A série é idealizada por Breno Silveira, diretor de sucessos de bilheteria como Dois Filhos de Francisco e, ao contrário do que se pensava, narra não somente a história de Pedro Machado Lomba Neto, rapaz de classe média carioca que ganhou os noticiários por se valer de sua aparência de bom moço e playboy para assaltar casas de luxo do Rio de Janeiro com uma gangue, mas também narra a história de seu pai, Victor Dantas.
Antes de chegar ao streaming o seriado ganhou algumas discussões bem polêmicas. O roteiro se baseia em dois livros, Dom de Tony Belloto e O Beijo da Bruxa de Luiz Victor Lomba, pai do personagem central, e detentor dos direitos da história vendida para o Prime Video (o que por si só é contraditório, visto que é uma história de saber público, o que não deveria ter de compor direitos autorais, em especial no que tange os crimes). Antes mesmo do lançamento, a família de Pedro, em especial sua mãe e irmã, reclamaram que a história era bastante diferente do retratado em texto e tela, não só por conta de liberdades criativas, mas também pela participação direta do pai do rapaz. Segundo a mãe, Nídia Almeida, o homem era um sujeito abusivo, distante demais do herói que Flávio Tolezani e Filipe Bragança vivem.
Polêmicas a parte, o seriado reúne boa parte dos elementos que fizeram sucesso no cinema e no audiovisual brasileiro recente. Escancara a violência, a futilidade e inutilidade da guerra as drogas que impera no Rio de Janeiro e, consequentemente, no Brasil. A temporada mostra uma metrópole violenta, com a urbanização do país sendo marcada pelo sangue, pelos vícios em entorpecentes e pela batalha encarniçada entre policiais e bandidos. Esse cenário só consegue soar interessante graças a entrega do elenco, afiado. Para além dos já citados, merece destaque Gabriel Leone (que faz Pedro) e os que formam o bando do anti-herói. A história possui duas linhas do tempo distintas e outras variações de uma delas.
A mais antiga mostra Bragança como o jovem Luiz, adentrando a academia da polícia, tentando viver seus sonhos, em meio a uma época de repressão da ditadura militar. Nessa fase, se percebe que pai e filho não são tão diferentes, inclusive em questões polêmicas como o uso de drogas e outros vícios ligados a adrenalina e ao desafio do que é a vida.
Por mais que as polêmicas digam o contrário, os roteiros são bem preocupados em humanizar seus personagens. O “Dom” é um garoto confuso, nervoso, desesperado por atenção. O que se lê sobre seu modo de operar — em especial as questões criminosas — é que era quase um psicopata. É nessa questão que Silveira difere seu produto final dos true crime tradicionais, não só pelo fato dramatúrgico (afinal, o gênero se dá normalmente por documentários, como O Caso Evandro ou Elize Matsunaga: Era Uma Vez um Crime), mas também por dar voz e dimensão a um sujeito encarado pela mídia da época apenas como um bárbaro. Seus círculos de amizade ou familiares são realistas, claro, tomando como base a cultura popular brasileira e seu modo de mostrar a vida dos homens comuns. É fácil se envolver com as questões dramáticas.
Personagens como a Jasmin (Raquel Villar) e Viviane (Isabela Santoni) são sedutores para muito além do fato de serem bonitas, carismáticas e talentosas. Elas servem de peças de um xadrez bem calculado pelo texto e direção, adequando-se bem ao propósito de mostrar as alternativas de vidas possíveis de Pedro. São avatares de desejos reprimidos do personagem-título, mas servem também aos desejos comuns a qualquer ser humano adulto, envolvendo fama, dinheiro, luxúria e outras dezenas de pecados sedutores possíveis.
O seriado é bem produzido. Elementos como fotografia e reconstituição de época são bem pensados. A trilha sonora remete aos sucessos dos anos noventa de pop, rock e funk e dá uma boa dimensão do que era a identidade do jovem carioca desta época: uma mistura de estilos como pagode e sons mais pesados que conviviam bem apesar do preconceito musical comum em outros lugares que não o Rio.
A narrativa se desenvolve de maneira gradual, sem as barrigas típicas das séries da Netflix, claro, remetendo a sucessos cinematográficos como Tropa de Elite e Cidade de Deus. Tudo é milimetricamente pensado. A escalada de frustrações de valores familiares e as rivalidades entre às duas gerações mostram dois protagonistas que se julgam diferentes um do outro, mas que não são, ambos flertam com o desejo de não existir, em atenção ao conceito psicanalítico que determina a sedução de solução de qualquer problema apenas com uma morte súbita, pois sem vida, sem problemas. Dom acerta demais ao abordar essas sensações, e ainda abre possibilidade para um segundo ano que fecharia o arco trágico do personagem.
A Corrida das Vacinas é uma série produzida pela Globoplay que tenta mostrar como funciona a luta para chegar a vacinação universal contra a pandemia do novo corona vírus. O programa é dirigido e apresentado por Álvaro Pereira Júnior e tem seu conteúdo aberto para não assinantes, mirando, evidentemente, um consumo amplo. Foram 5 episódios e um extra, e no primeiro (Nós Vamos ter essa Vacina) há uma pressa por elucidar o quadro mundial e como o Brasil lida com isso.
Já nas primeiras cenas, os corredores do poder do governo de São Paulo são mostrados. O político João Doria autorizou a equipe a filmar parte da apresentação antes da conversa com a equipe do comitê de negociações para discutir os detalhes de eficiência da CoronaVac. Nesse cenário, o áudio de uma reunião vazou acidentalmente no equipamento da Rede Globo, em um fio que captava o vídeo de uma apresentação do documentário, nele se ouve algumas falas contundentes do governador e até do diretor do Instituto Butantã, Dimas Covas, sobre as dificuldades de conseguir negociar os insumos junto à China.
O roteiro é didático. Uma pessoa que não saiba nada a respeito do vírus, dos seus efeitos e da politica nacional envolvendo a pandemia será completamente contemplada. Há um bom detalhamento do episódio do paciente da CoronaVac utilizado pelo governo federal de Bolsonaro para servir de espantalho contra o governo de São Paulo e a “vacina do Dória”. Além disso, há destaque a grupos especializados como funcionários da Anvisa, Instituto Butantã, Oxford, além de imunologistas e cientistas de renome.
A série conversa bem com outras produções do gênero, como Por Um Respiro, especialmente quando mostra o cotidiano de pessoas lamentosas, sem permissão sequer de abrir as portas de suas casas para pessoas mais próximas, sob risco de contágio e morte. O lado emocional é bem demonstrado, e não abusa do sentimentalismo. A questão mais flagrante é o personalismo de Pereira Júnior que se faz personagem frequente nas coletivas de imprensa em São Paulo, além de sua proximidade com as autoridades que estudam a eficácia da primeira vacina feita no Brasil, a CoronaVac. É curioso que, ao perguntar sobre a eficácia e seus resultados, ele se aproxima e faz um ato não recomendado, batendo no ombro de um dos responsáveis pela comunicação. Ainda assim, seus apontamentos e questionamentos são válidos e sua insatisfação com alguns discursos é justa.
Pereira Júnior viaja para outros cenários, percebe aglomerações em Nova Delhi, na Índia, com o povo não tendo receio de contrair o vírus, fato que dá um tom profético ao documentário, pois a situação estava tranquila na época da gravação e pouco tempos depois o país sofreu com uma segunda onda. Já no que diz respeito a sua visita à Rússia, o apresentador parece bem impaciente, chega a verbalizar que se montam circos midiáticos para ludibriá-los ao lado de outros órgãos da imprensa mundial. A favor dessa desconfiança, há também a percepção popular das pessoas na Rússia com a Sputnik V, mas ainda assim, a postura do diretor é um pouco inexplicável, beirando até a xenofobia no caso de algumas possibilidades de vacinas.
A série é padrão Globo. Lembra os bons episódios do Profissão Repórter ou Globo Repórter, ainda que tenha uma abordagem mais incisiva, sensível e certeira. Os cinco episódios são boas introduções ao tema, especialmente para quem não lê tanto a respeito da procura pelas vacinas. De acordo com o sexto episódio (extra), possivelmente terão mais momentos. Ainda nesse episódio, temos a presença do imunologista Renato Kfouri, o professor Esper Kallás e a microbiologista Natalia Pasternak, fechando bem esse especial que certamente caberia em uma possível continuação visto os acontecimentos recentes da CPI da Covid.
Mare Of Easttwon é uma minissérie da HBO protagonizada e produzida por Kate Winslet, que vive Mare Sheeran, uma chefe de família divorciada e detetive da pequena cidade de Easttown. O lugar é conhecido pelo desaparecimento de algumas jovens, fato esse que faz com que a sociedade acredite que exista um psicopata ou assassino em série à solta, e tudo se agrava quando a polícia encontra o cadáver de outra jovem.
O roteiro brinca com elementos comuns de histórias provincianas. Há mistérios e eventos estranhos que se acentuam por conta da condição emocional de Mare. Diante desse cenário, os crimes parecem fazer parte da atmosfera acinzentada estabelecida na cidade e alguns personagens. A série tem apenas sete episódios, todos muito bem conduzidos por Brad Ingelsby, showrunner da série e roteirista de bons filmes policiais (Tudo Por Justiça, Noite Sem Fim), e dirigidos por Craig Zobel, conhecido por seu trabalho no incômodo Obediência e o recente A Caçada.
Jean Smart e Angourice Rice fazem bons papéis como Helen e Siobhan Sheehan. O estilo de ambas funciona com a dinâmica da protagonista, tornando-a mais humana e complexo do que uma mulher de meia-idade com poucas perspectivas. Julianne Nicholson ajuda a fortalecer a condição de que as pessoas fortes de Easttown são as mulheres, não só por serem as condutoras de suas próprias historias, mas também por movimentarem todas as curvas dramáticas da série, mesmo antes do presente ocorrer, já que a cidade é conhecida por um time de basquete feminino local que venceu competições amadoras, e que tinha em Mare sua craque.
Os homens, que em suma, são fracos, inexpressivos, passivos, quase impotentes, exceção talvez ao detetive Colin Zabel (Evan Peters) um sujeito sensível e bem diferente dos seus últimos personagens, que também não é exatamente um exemplo de virilidade, e ainda esconde consigo um incômodo segredo a respeito de seus feitos no passado. Mare of Easttown contém uma personagem poderosa e humana, dona de um código ético irrepreensível, incapaz de ser dobrado. A discussão dessas condições dentro dos episódios é bem realizada e pontuada pela exploração da dificuldade que pessoas reais têm em seguir em frente após um trauma.
Consumir entretenimento é, em boa parte, um exercício de repertório. Se você tem apresso especial por algum determinado gênero de cinema, por exemplo, tende a buscar mais obras que estejam dentro daquele gênero. Se fizer isso por algum tempo, invariavelmente vai acabar percebendo os arquétipos contidos de maneira quase inescapável à essa categoria cinematográfica e, quando isso acontece, há a inexorável descoberta que tira boa parte do brilho daquilo que, outrora, lhe ofuscava a visão: todo filme de um determinado gênero é só um remix de elementos narrativos que contam, basicamente, uma mesma história. Não há problema nenhum nisso, é claro. O segredo para alcançar o espectador é sempre inovar na forma enquanto tenta mascarar um conteúdo sem muita novidade e isso, pelo menos nos últimos anos, parece ter ficado tão difícil para a indústria de animações japonesas que eles resolveram simplesmente desistir.
Embora animes como Dr. Stone e Cells at Work tragam um ar de inovação arriscado em um mercado bastante competitivo, os grandes sucessos da atualidade parecem inseparáveis do esgotado estereótipo do garoto fraco ou estúpido que teve uma infância difícil e guarda dentro de si um poder inigualável que um poderoso mestre vai mostrar como controlar. Naruto, Boruto, Ichigo, Natsu, Asta e, mais recentemente, Yuji Itadori, tem tudo isso em comum mas não para por aí. Todos esses protagonistas ainda tem a mesma origem, a mesma força de vontade, os mesmos poderes demoníacos e um mestre muito parecido. A criatividade na indústria do Shonen parece em falta nos últimos 15 anos mas isso não quer dizer que não exista espaço em Jujutsu Kaisen para que ele se diferencie levemente dos demais e, principalmente, não significa que você não deve assistir ao anime.
No leito de morte de seu avô, o jovem Yuji Itadori promete sempre ajudar aqueles que forem mais fracos do que ele. Possuidor de uma resistência física muito acima do normal, Yuji se envolve em uma briga escolar no mesmo momento em que um artefato mágico poderoso libera seu poder e atrai uma série de “maldições” (seres místicos e malignos que são a personificação de sentimentos ruins) para os corredores da instituição. Ajudado por Megumi Fushiguro, um “feiticeiro jujutsu” treinado para destruir os seres maléficos, Yuji se vê obrigado a engolir o artefato mágico que causou o problema e acaba se tornando o hospedeiro da entidade conhecida como Ryoumen Sukuna, o demônio mais poderoso do mundo e reconhecido como “O Rei das Maldições”. Ao contrário do que supostamente deveria acontecer, Itadori não morre ao ingerir o artefato (que é, na realidade, um dos dedos do demônio Sukuna) e por isso é recrutado pela escola de jujutsu local com uma missão bem específica: encontrar e engolir todos os 20 dedos de Sukuna para que o demônio seja eliminado do mundo através do sacrifício de seu hospedeiro. Enquanto duela com Ryoumen pelo controle do próprio corpo, Itadori precisa aprender a manipular a energia amaldiçoada que reside nele e aproveitar todo o tempo que ainda lhe resta antes de ser morto para cumprir a promessa que fez ao seu avô de sempre ajudar aqueles que precisam de ajuda.
Jujutsu Kaisen é uma animação japonesa do estúdio MAPPA (de “orohedoro e God of Highscool) baseada em um mangá homônimo de Gege Akutami publicado desde 2018 na Weekly Shōnen Jump e 2020 pela Panini. A primeira temporada do anime, lançado no Japão e trazido ao Brasil pelo Crunchyroll em transmissão simultânea desde 02 de outubro de 2020, conta com 24 episódios bem aproveitados e de ritmo muito bom. A temporada terminou de maneira bastante empolgante no dia 26 de março de 2021 e uma segunda temporada da série já foi confirmada pelo estúdio, embora a data de lançamento ainda não tenha sido anunciada.
Como citado nos parágrafos acima, há pouca novidade no enredo de Jujutsu Kaisen mas a produção compensa com uma das melhores e mais belas animações da história recente da indústria. Com personagens secundários muito mais interessantes que o protagonista, o anime consegue empolgar demais o espectador nas sequências de ação que, logicamente, abundam nessa primeira temporada. No decorrer dos episódios, conhecemos mais da história dos companheiros de Itadori e o que, a principio, parecia genérico e sem força vai ganhando contornos interessantes o suficiente para que seja relevada a total falta de carisma do protagonista. O anime faz um excelente uso dos personagens secundários (outros alunos da escola de jujutsu e do time de vilões que coloca a ação do desenho em movimento) na medida em que vai interligando-os durante os episódios. Acertadamente, o roteiro movimenta o foco narrativo retirando-o aos poucos do fraco protagonista.
De Yuji Itadori, na verdade, pouco se destaca per se. Como um recém chegado ao mundo do jujutsu, cuja existência é desconhecida de quase toda a população, o protagonista serve de aprendiz mas o anime não segura a trama para ensinar de forma muito mastigada o que é o jujutsu e que são as maldições. Assim, como o personagem principal, o espectador aprende os conceitos ligado à arte da manipulação de energia amaldiçoada e todo o conceito dos artefatos de poder e das maldições conforme a ação vai acontecendo e o trio de protagonistas vai sendo colocado em perigo. Enquanto Megumi Fushiguro e Nobara Kugisaki (companheiro de Yuji) aparecem com histórias claramente mais interessantes que a do personagem principal, o hospedeiro de Ryoumen Sukuna tem apenas vestígios de desenvolvimento quando interage com o demônio que o habita. Ryoumen é apresentado como um antiherói da série e demonstra, durante alguns episódios, parte do seu poder e o inexistente apresso pela humanidade (incluindo, é claro, um desprezo ainda maior por seu hospedeiro). Egoísta ao extremo, o Rei das Maldições negocia o compartilhamento do seu poder com o hospedeiro de sua alma conforme a necessidade aparece em troca de ganhar mais liberdade no corpo de Itadori (parece com uma certa raposa de sete caldas ou com um demônio do submundo trancado em um garotinho sem mana, não é mesmo?). Conforme os episódios se desenvolvem e desembocam em batalhas com cenas de cair o queixo, em nenhum momento o espectador fica empolgado com a atuação de Yuji e isso, infelizmente, tira boa parte do apelo do protagonista. O demônio que o habita, que é introduzido como a grande ameaça à humanidade, não chega a exercer o papel durante nem um segundo dessa primeira temporada e a posição de vilão principal do anime fica a cargo de Suguro Geto, uma espécie de rei do crime na sociedade das maldições. Misterioso e com aparições bastante esparsas na história, a origem e os poderes de Geto são apenas refletidos pelo grande respeito que maldições especiais (as mais poderosas deste universo) tem por ele e as habilidades do grande vilão não são postas à prova durante o primeiro conjunto de episódios.
Ainda sobre os personagens, não poderia deixar de citar o grande nome da serie. Um dos personagens de anime mais hypados da atualidade, Satoru Gojo destaca-se com uma das coisas mais divertidas que o anime pode oferecer aos espectadores. Professor e responsável por Yuji e seus companheiros, Satoru guarda uma aura de trivialidade e pouca preocupação enquanto esconde um poder monstruoso no fundo de um poço de carisma. De design claramente inspirado em Hatake Kakashi (um dos mais populares personagens de Naruto), Gojo aparece como um dos mais indecifráveis enigmas de Jujutsu Kaisen: quando ele dá as caras na tela, você nunca sabe se ele vai dar um pirulito para o vilão ou arrancar a cabeça dele, sempre com um sorriso no rosto. Apesar de já ter destacado a muito mais do que excelente animação do estúdio MAPPA em todos os episódios, é importante dar especial atenção a duas cenas específicas durante essa primeira temporada que envolvem Satoru Gojo e que parecem ter sido o foco do extenso time de ilustradores e animadores do estúdio.
Gojo e Kakashi: Em batalha? provável vitória de Satoru. Todo o resto? um empate técnico!
Em linhas gerais, o anime parece muito com um Naruto ou um Black Clover para jovens adultos. Com cenas violentíssimas e conceitos pesados envolvendo toda a ideia por trás da manifestação das maldições, o anime consegue se manter fiel àquilo que apropriou de outras obras recentes e isso, posto que os próprios originais não conseguiram fazer, já consta como uma grande ponto positivo. Apesar de pouquíssimas coisas aparecerem como novidade nos personagens de Jujutsu Kaisen, o anime consegue manter um argumento central honesto e bastante simples (que certamente será traído até o final da história). Com algumas das cenas de batalha mais lindas e bem feitas que já foram feitas na indústria, a série assumiu merecido protagonismo no Crunchyroll e um longa de animação que contará uma história anterior ao anime já está anunciado com data de lançamento para o início de 2022. Provavelmente, só depois desse filme poderemos retornar à Yuji, Megumi, Nobara e, principalmente, Satoru Gojo. Vale a pena esperar!
Baseada na obra de Robert Kirkman e Cory Walker, Invencível é uma animação adulta que narra a história de Mark Grayson, um menino adolescente que tem uma pequena revolta por ter um herói em sua família. A primeira temporada apresenta seus primeiros passos como herói, logo depois que percebe ter acesso a herança alienígena viltramita de seu pai, o Omni-Man, uma variação mais velha do Superman.
Os episódios são mais longos que o comum entre animações, com pouco mais de 40 minutos. Seu conteúdo é bastante violento e a qualidade visual não é das melhores. O design dos personagens humanoides é bem simples e quadrado. Até esse “defeito” é utilizado a favor da trama, pois como os humanos lembram versões dos desenhos da Filmation, o espectador é ludibriado ao imaginar que será um desenho pueril ou inocente. Ainda no piloto, o tom muda completamente com um dinamismo diferenciado e gore extremo nos combates.
Enquanto escrevia a história original, Kirkman (que também é produtor executivo desta versão) afirmava que sua intenção era celebrar os quadrinhos que gostava. Em uma página ele poderia colocar momentos mais divertidos e escapistas. Em outros, celebrar o horror e terror de uma luta de dois titãs capazes de destruir o mundo em poucos momentos. Nas histórias, poderiam ter referências ao Quarto Mundo, Watchmen, Authority, Astro City e até The Boys e esse conjunto de referências é bem trabalhado na adaptação. O roteiro favorece mistérios e teorias da conspiração, fato que faz a série conversar bem com a atualidade. O desenvolvimento gradual faz dessa série uma das produções nerds e de quadrinhos mais legais da atualidade.
As referências do programa são muitas para além até dos análogos com personagens de DC e Marvel. Há até uma versão do Doutor Malus, um cientista louco que fez experimentos com o soro do Super Soldado e foi aludido em Falcão e Soldado Invernal recentemente. Também há referência aos animes hiperviolentos. Além disso, há no roteiro situações adultas além da mera violência.
O final surpreende. Mesmo que cada um dos oito capítulos termine com algo grandioso e sensacionalista, nada prepara o espectador para a verborragia agressiva imposta no oitavo capítulo. Os produtores traduziram bem o imediatismo da história que Kirkman criou. Invencível discute o momento político atual, a paternidade ausente, além de mostrar personagens poderosos em momentos de fragilidade poucas vezes explorada no audiovisual mainstream sobre quadrinhos de heróis.
A forma de consumir cultura e entretenimento mudou no mundo quando a pandemia do novo coronavirus chegou. Sem esportes populares, que tiveram disputas interrompidas no início do contágio, o povo abraçou ainda mais os reality shows. O Big Brother Brasil, que vinha perdendo audiência ano a ano, de repente viu sua edição de 2020 batendo recordes de audiência e também em engajamento na internet. Quem participou dessa edição ganhou visibilidade, e oportunidades de trabalho com destaque a publicidade. Para 2021, o programa parecia sedutor para famosos, afinal o saldo para o ator de Babu Santana foi bastante positivo, por exemplo. Seria natural pensar que a projeção poderia ser boa e foi nesse cenário que a cantora Karol Conká aceitou o convite para participar do BBB 21. A Vida Depois do Tombo é uma serie da Globoplay, com pretensão de discutir a trajetória da cantora curitibana no jogo, possivelmente com um mea culpa da moça, que saiu do programa com uma rejeição recorde.
Dirigida por Patríca Cupello, a intenção do programa é humanizar Conká. Limpar a barra da artista, dar voz a pessoa que causou alvoroço e que chamou a atenção de quem não assiste \o programa graças o bombardeio nas redes e rodas de conversas dialogando sobre sua forma agressiva dentro do reality. As escolhas da direção são pontuais, evocando a simplicidade da compositora e interprete de Tombei!.
Antes mesmo de mostrar o “jogo” proposto dentro dos episódios, aparece uma entrevista antiga, afirmando que ela queria atuar e viver como Nazaré Tedesco, vilã de Renata Sorrah em Senhora do Destino, novela das 9h bastante popular. O objetivo, claramente, é levantar a possibilidade dela ter atuado durante o programa, com a incômoda coincidência dessa entrevista ter ocorrido exatamente quando a cantora tocou na abertura de Malhação: Viva a Diferença, estrelado por Lucas Penteado, que esteve no BBB com a cantora e que foi vítima do gênio da participante.
Porém, algumas abordagens não casam bem dentro do formato documentário. O fato é que a produção, apesar de ser anunciado como material documental, não é apenas isso. Há interação típica de jogo, fato que nos faz perguntar se esta é uma continuação do Big Brother A brevidade e a pressa do lançamento também nos faz perguntar se as conclusões que ela tem são realmente maduras, pois quase não houve tempo para reflexão ou arrependimentos. Mesmo que ela chore em todos os episódios, mesmo que diga que todos os anúncios de derrocadas financeiras são falsas.
Na hora de falar a respeito das redes sociais e do cancelamento oriundo delas, há um exagero descabido. O programa valoriza as bravatas claramente artificiais como se fossem reais – e daí, se exclui as ameaças a integridade física, que deveriam sofrer sanções legais, obviamente . Compreende-se que o superlativo das redes não favorecesse artistas como a própria Karol Conká. Além disso, há algumas pessoas famosas que intercedem a favor dela, como o produtor de vídeos Kondzilla, o presidente da Sony Music Brasil que trabalha com a artista desde há três anos, o ex-marido dela e até ex-colegas de reality, esses últimos reunindo os momentos mais constrangedores dos quatro capítulos.
Muitas teorias da conspiração foram levantadas desde a eliminação dela, de que teria assistência e dicas da direção dentro da casa, de que foi assessorada antes de entrar ao vivo nos programas da Globo pós saída, de que a série foi pensada até antes dela participar e que isso estava em contrato, e até que quem trabalha com ela não gosta de sua personalidade. Todas as possibilidades moram no campo das especulações. Fato é que, na frente das câmeras, ela parece mesmo ser uma pessoa de trato difícil como a acusam. A exemplo da conversa que tem com seu produtor executivo Caio Piovesan, em que subestima a rejeição extrema que sofreu. Além disso, a maioria dos seus antigos parceiros comerciais tem problemas judiciais contra ela, de modo que até seus hits não podem ser tocados em programas de televisão.
A aposta na narrativa de que Conká é agressiva porque foi perseguida toda vida também não a faz alguém mais simpático ao público, o quadro só piora quando tenta explicar o tratamento cruel que deu a Lucas Penteado. Associar o rapaz a figura paterna, com quem ela teve uma relação conturbada, piora a situação. Parece presunçosa, sempre se colocando como vítima mesmo quando é abusiva e provocadora de bullying, rejeição e cancelamento.
A Vida Depois do Tombo parece uma tentativa desesperada da emissora em explorar a polêmica surgida no BBB, tal qual ocorre com outros programas das televisões abertas. O formato estranho desse documentário mais lembra uma peça publicitária de assessoria, de caráter semelhante ao que Predestinado também da Globoplay faz com o jogador do Flamengo Gabigol.
Não há nada de novo nesse documentário. Fora uma música que a rapper já havia feito e que agora tem a letra reformulada por conta de sua participação no BBB. Nem mesmo as histórias de bastidores de sua carreira saciam qualquer curiosidade, pois não há aprofundamento. Ao final, se percebe o óbvio: que os capítulos miram reverter sua rejeição. Uma desculpa para que ela expie os próprios pecados, mas sem qualquer reflexão além de frases feitas e postura altiva.
Os fãs de filmes e produtos da Marvel no audiovisual ficaram bastante mal acostumados com o decorrer da historia de Wandavision. Durante o período das 8 semanas em que a série foi ao ar (lembrando que foram 9 episódios, mas que dois foram lançados juntos) se cogitou a presença de Namor, Ultron, membros do Quarteto Fantástico e principalmente Mefisto e Pesadelo. Teorias esdrúxulas, reclamações tolas e expectativas mil foram frustradas.
Pois bem, quando Falcão e Soldado Invernal teve início semanas atrás, a série trouxe várias referências direta dos quadrinhos. Algumas mais óbvias, outras nem tanto, e para esclarecer o leitor elencamos-as aqui. O texto possuirá alguns spoilers, então se você se incomoda com isso, recomendo que veja primeiro a série para depois realizar esta leitura.
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CapitãoAmérica (Sam Wilson)
Decidi começar por ele devido ao final de Vingadores: Ultimato, que já dava conta da passagem do legado de Steve Rogers para seu sempre presente amigo, Sam Wilson, que atendia pelo codinome Falcão. Nos quadrinhos, Sam foi cogitado para ser o substituto quando Steve Rogers abandonou o manto em Capitão América: Nunca Mais. Um dos motivos para não ter sido escolhido refletia o preconceito da década de 80, ainda mais intransponível em diálogo que hoje.
Em quadrinhos mais recentes, um vilão chamado Prego de Ferro enfrenta Steve Rogers e drena o soro do Super Soldado. e parte da sua habilidade consiste em drenar o soro do Super Soldado. Steve ao ter que lutar contra ele diretamente, tem seu poder e jovialidade consumidos virando então um idoso. O parceiro Sam o Salva e logo Rogers apresenta-o como seu substituto. Seu arco como Capitão abordava questões pontuais de racismo e problemas envolvendo de imigração, fatos que foram resgatados na série, inclusive no arco dos vilões apátridas. Curiosamente, o dito país da liberdade suprema não o aceitou como Capitão, sofrendo resistência e rejeição dos leitores.
Agente Americano – John Walker
Walker já teve algumas encarnações nos quadrinhos: primeiro como Super Patriota, depois como Capitão América e, algum tempo depois, se tornou o Agente Americano. Sua índole era estranha, mas de fato ele jamais foi um vilão. Na série, após Sam Wilson entregar o escudo ao governo, é John Walker o escolhido para ostentar as cores da bandeira e o nome heroico.
O personagem reúne clichês do Capitão América e também do Justiceiro. Já substituiu o Cap. original, inclusive com um Bucky como dupla e outros sidekicks. Após confrontos com o personagem original, que retorna em um uniforme preto se auto-intitulando Capitão, Walker se redime, troca de uniforme e passa a se chamar de Agente Americano. Futuramente se tornaria parte dos Vingadores da Costa Oeste com algumas participações no Vingadores originais. Também trabalhou com os Thunderbolts.
Isaiah Bradley
Uma boa surpresa da série foi o fato de abordar um personagem que não está exatamente no mainstream dos heróis Marvel. Embora seja complicado o modo de lidar com o lado político do sujeito, Isaiah é praticamente um espantalho de um revolucionário.
Nos quadrinhos, ele já foi o Capitão América. Foi inserido como um retcon (continuidade retroativa) e sua primeira aparição foi em uma minissérie própria, Truth: Red, White & Black #1 de janeiro de 2003, jamais publicada no Brasil até o presente momento.
Criado por Axel Alonso, Robert Morales e Kyle Baker, o personagem foi um sobrevivente de uma tentativa de replicar o Soro do Super Soldado. Uma experiência feita com quase 300 americanos que morreram no processo. Interessante observar como sua narrativa se aproxima do caso real de homens negros sendo testados em experiências para curar a sífilis, sem saber que eram cobaias. A experiência trouxe muita sequelas aos envolvidos e, de certa forma, a experiência do soro faz essa aproximação. Nos quadrinhos, Isaiah sofre de Alzheimer, fruto da degeneração do soro.
Em Truth, ele rouba o traje do Capitão, sendo preso por isso. Apesar de muitas problemáticas em relação ao lado político desse personagem na série, ao menos se abre uma boa questão, ao se indagar se Steve Rogers sofreria o que Isaiah sofreu caso não tivesse desaparecido por década. Na série, o ator Carl Lumby se entrega maravilhosamente ao personagem.
Elijah Bradley
Apresentado aqui como um adolescente comum, ao menos aparentemente, Elijah é neto de Isaiah Bradley. Nos quadrinhos, viraria também um herói: O Patriota. O personagem possivelmente retornará em uma adaptação ainda não anunciada dos Jovens Vingadores, grupo de apoio nos quadrinhos, que no MCU estão sendo gradativamente apresentados: em Wandavision conhecemos Célere e Wicano. Na vindoura série do Gavião Arqueiro, teremos a Gaviã Arqueira de Katherine Elizabeth Bishop.
O Patriota dizia que sofreu experimentos com o soro do Capitão, mas usava na verdade uma droga chamada Hormônio do Crescimento Mutante, substância que dava poderes por um curto período de tempo. Esse vício repetia o drama de Allan Heinberg um dos criadores do personagem que também teve problemas com vício em drogas. Na cronologia, Elijah consegue poderes de maneira definitiva, depois de receber uma transfusão de sangue de seu avô. Fez parte da primeira formação dos Novos Vingadores.
Mercador do Poder
As duas versões do Mercador do Poder, a mais recente e Curtis Jackson.
Criado por Jack Kirby, a primeira versão do personagem é Curtis Jackson, um mercenário que fornece poderes a quem pagar uma quantia alta. É ele que dá poder a dois personagens heroicos: Lemar Hoskins e John Walker. Na série, ele é a fonte do poder dos Apátridas. Nos gibis, sumiu por um tempo, teve uma aparição em Machine Man de 1978, retornou apenas no titulo solo do Coisa em 1986. Junto ao doutor Carl Malos (personagem que já apareceu em outro produto da Marvel, Jessica Jones, 2ª Temporada), fez experimentos com várias pessoas em posição vulnerável, entre eles, Joaquin Torres, abordado nesse texto também. Jackson foi forçado em histórias posteriores a experimentar o soro do super soldado. Então ficou gigante, tão musculoso e desforme que não conseguia andar. Malos então fez para ele um exo-esqueleto.
Há outra versão do Mercador do Poder que surge após a morte do primeiro. Sua identidade é desconhecida, o que se sabe é que ele é bem diferente de Jackson. Sua primeira aparição foi em Avengers: The Initiative Annual #1, de 2008, ecom criação de Dan Slott e Christos N. Gage. Na série, o personagem é diferente, reúne elementos das duas versões e tem sua identidade revelada somente no último episódio.
Batroc, O Saltador
Esse é um personagem antigo, criado pela dupla Stan Lee e Kirby, datado de 1966. No MCU já havia aparecido em Capitão América 2: O Soldado Invernal, também interpretado pelo lutador profissional Georges St. Pierre. No filme, havia sido detido pela Hydra/SHIELD, e só reapareceu agora. Nos quadrinhos, é um mercenário francês, especialista em Savate, uma arte marcial semelhante ao Boxe, embora o vilão use bastante os pés. Não tem poderes, combate desarmado e, nos gibis, tem um certo código de honra não atacando jamais adversários em desvantagem numérica. Já lutou ao lado do Capitão América. Fez parte dos Thunderbolts de Zemo e de Wilson Fisk, o Rei do Crime, mas é mais conhecido por ter seu próprio grupo de personagens caçadores de recompensa, Brigada de Batroc.
Apátrida
Apátrida era um vilão das revistas do Capitão América. Na série, é transformado em um grupo terrorista, os Apátridas. As principais diferenças dessas versões moram nas intenções. Karl Morgenthau é um vigilante antinacionalista, algumas vezes tratado erroneamente como anarquista. Em comum com a versão em carne e osso, há o desejo de um mundo sem fronteiras, embora aqui soe um pouco confuso, pois o grupo de opositores dos heróis buscam trazer o mundo a condição antes da volta das pessoas do Blip.
O grupo é liderado por uma moça idealista e que passa longe da condição de vilã clássica. Seu nome é Karli Morgenthau interpretada por Erin Kellyman. O maior problema no seriado é que os Apátridas são presos a teorias da conspiração, e tem sua motivação revolucionária também como motivo de chacota. O grupo também tem poderes oriundos do Soro do Super Soldado fornecido pelo Mercador do Poder.
Joaquín Torres
O seriado também apresenta Danny Ramirez como Joaquín Torres. O personagem é uma adição recente aos quadrinhos da Marvel. Nos quadrinhos ele tem uma historia bastante diferente do que é visto no seriado. Nas HQs ele é um experimento do doutor Karl Malus. Na época, o vilão misturava DNA de humanos com animais. Torres era um hibrido de humano com falcão, tinha elementos do DNA de Asa Vermelha, o mascote falcão de Sam Wilson (que nos filmes, é apenas um drone). Quando Wilson, já como Capitão América, salvou as vítimas de Malus. Joaquin foi uma das poucas experiências que não retornou ao estado humano. Ele tem uma conexão psíquica com o Asa Vermelha e por isso, tem ligação também com Sam.
Quando o herói assumiu como Capitão, deu a Torres a incumbência de ser o Falcão, isso é até aludido dentro do seriado. Enquanto Falcão, Joaquin se torna parte do grupo Os Campeões, formado por jogadores jovens, que no MCU, deve se “fundir” com os Jovens Vingadores.
Estrela Negra
Lermar Hoskins, que no seriado foi interpretado por Clé Bennett, foi um parceiro do Capitão América de Walker. Criado por Mark Gruenwald e Paul Neary, era um ex-soldado das forças armadas americanas, e também teve acesso ao soro através do Mercador do Poder. Tinha poderes semelhantes ao do Capitão, era treinado em várias artes marciais e táticas. Já no seriado, não tem poderes, mas é habilidoso em termos de luta.
Nos gibis, ele usava um escudo triangular de adamantium. Era o Bucky de John Walker, mas mudou o nome para Estrela Negra após a Marvel receber várias cartas que afirmavam que o termo era usado de modo racista contra negros. Lemar foi membro dos Vingadores Secretos e teve participação importante no evento Guerra Civil.
Condessa Valentina Allegra de Fontaine
Interpretada por Julia Louis-Dreyfus, Valentina Allegra de Fontaine foi uma das grandes surpresas do seriado. A Condessa nos quadrinhos tem fortes ligações com Nick Fury, com Walker e com o grupo de vilões em recuperação os Thunderbolts, tanto que a comparação mais comumente feita com ela é de que seria uma Amanda Waller da Marvel.
Nos quadrinhos, ela foi apresentada na HQ Strange Tales #159 em 1967. De origem italiana, ela faz parte de equipes da SHIELD e rapidamente se torna uma das melhores agentes da organização. Curiosamente, a personagem já se envolveu romanticamente com Nick Fury nas HQs e chegou a flertar também com o Capitão América de Steve Rogers. Outra alcunha que ela já teve foi Madame Hydra que já fez uma aparição (com esse nome) no seriado Agentes da Shield.
Intui-se que Valentina seja uma espécie de Nick Fury para os anti heróis, podendo formar tanto os Thunderbolts como os Vingadores Sombrios. É uma forte possibilidade que esteja também no filme da Viúva Negra, e na futura série a respeito dos Skrulls, Invasão Secreta.
DoutorWilfred Nagel
Essa é uma aparição breve no terceiro episódio, mas é bastante importante. Nagel é interpretado por Olli Haaskivi. Nos quadrinhos foi introduzido em Truth: Red, White, and Black #1, a mesma história que dá origem a Isaiah. Nagel foi o cientista inescrupuloso que liderou os experimentos nos soldados de Camp Cathcart no Mississipi, que usou 300 soldados negros como cobaias com a maioria falecidos.
Na série ele é bem diferente, mais jovem, fez experiências com amostras de sangue de super soldados. No capítulo em que aparece fica subentendido que ele usou o sangue de Bradley para chegar a esta versão do soro. O sonho dele era superar o detentor da criação do soro original, Dr. Eskrine.
Outras menções
Há resgate do vilão Barão Zemo (que finalmente coloca a máscara roxa semelhante aos quadrinhos) e da agente especial Sharon Carter (que também mudou muito). Além dessas referências já estabelecidas nos outros filmes, há também algumas boas menções, como a ilha Madripoor onde o Wolverine passava boa parte de seus dias como Caolho. Também o Tigre Sorridente, alter-ego de Conrad Mack, um híbrido de homem e animal (na série é, aparentemente, um homem de visual estilo cafetão dos filmes blaxploitation). Além disso, o apelido de Lobo Branco para Bucky faz referência a um rival do Pantera Negra nos quadrinhos (totalmente diferente aqui). O próprio Soro do Super Soldado é uma referência que merece menção devido a presença constante, além de nutrir poderes aos Apátridas, Bucky, John Walker e Isaiah, também foi implantado como variante no filme O Incrível Hulk de Louis Laterrier, tanto em Bruce Banner que se tornou o Hulk e em Emil Blonsky, que virou o vilão Abominável.
As vezes tenho a nítida impressão de que o preconceito com animações e quadrinhos japoneses é justificável. A mania que alguns mangakás têm de soterrar suas histórias em poses sensuais, referências sexuais e meninas em trajes sumários é totalmente explicada pela cultura japonesa, menos permissiva num geral do que as culturas ocidentais. Mas isso atrapalha tanto a divulgação dessas séries fora do Japão que, as vezes, adaptações ocidentais poderiam se tornar mais palatáveis algumas excelentes histórias oriundas daquele lado do planeta. Darling in the FranXX é um excelente exemplo disso. Não é um desenho pra você assistir com algum parente na TV da sala, mas se você abstrair todo o fanservice, perceberá uma história que vai muito mais fundo do que o ecchi escancarado em todos os episódios.
No futuro, a humanidade desenvolveu a capacidade de utilizar o magma no centro do planeta como fonte de energia. A utilização dela, entretanto, devastou a natureza e forçou a sociedade a se recolher para o interior de gigantescas estruturas móveis subterrâneas chamadas Colônias, onde as pessoas vivem sem qualquer contato com o mundo exterior. A exploração da energia magma trouxe, também, a aparição de seres que viviam nas profundezas do planeta e que passaram a emergir como grandes inimigos dos seres humanos: os Urrossauros. Para batalhar contra esses seres abissais, o excêntrico doutor Werner Franxx desenvolveu robôs gigantes que só podem ser pilotados por duplas de crianças. Os pilotos desses mechas, denominados parasitas, vivem dentro de abóbodas sobre as cidades subterrâneas, sem qualquer contato com adultos, sempre de prontidão para combater os urrossauros que, ninguém sabe porquê, atacam as colônias. Obedecendo as ordens de um grupo de governantes que nunca viram, os parasitam enfrentam os urrossauros de acordo com as ordens do “papai” na esperança de tornarem-se adultos e ganharem sua passagem para o interior das cidades que protegem, mas a chegada de uma nova criança a um dos esquadrões de parasitas, que é particularmente especial, pode colocar todo o plano das colônias e a humanidade inteira em risco.
Darling in the FranXX, lançado no início de 2018, narra a história do 13º esquadrão de parasitas da APE (a organização chefiada pelo misterioso “papai”). Ao longo dos 24 episódios dessa animação original, o telespectador descobre a história do mundo e dos personagens criados por Code:000 (pseudônimo cuja real identidade nunca foi revelada) e produzidos através da colaboração entre os renomados estúdios Trigger (“Kill la Kill”) e A1 Pictures (do excelente “Fairy Tail”). A história é bem elaborada mas, como eu introduzi no primeiro parágrafo deste review, pode ser necessário um pouco de força de vontade para chegar até ela.
Isso acontece porque desde o character design até o método desenvolvido para pilotar os robôs, praticamente tudo no anime traz alguma referência sexual e foi especialmente elaborado para causar um sentimento de “vergonha alheia” monstruoso. O sistema desenvolvido para utilização do poder máximo dos FranXX, por exemplo, depende de uma garota e um garoto que desenvolvem uma conexão quase literal. O sistema depende de uma pistilo (uma garota que, literalmente, fica de quatro e serve de base para o piloto do robô) e um estame (um garoto que precisa tomar assento atrás da menina e controlar o robô através de manoplas acopladas ao quadril da pistilo). As denominações para as funções dos parasitas são, não por acaso, as mesmas denominações dadas aos órgãos reprodutores das plantas. A primeira vista, o sistema extremamente machista de controle do robô causa desconforto ao espectador, com sequências de conexão meio forçadas e uma playlist bem peculiar de gemidos e acenos dos jovens parasitas durante os combates a bordo das máquinas.
Praticamente tudo, nas sequências de combate, tem alguma conotação sexual.
Mas se por um lado o anime escorrega fortemente no conceito básico por trás dos robôs gigantes, as sequências de ação que aparecem quando os FRANXX batalham contra os urrossauros destaca-se como um ponto bem positivo. Apesar da movimentação bem pouco natural dos robôs, o CGI nas cenas de batalha e principalmente a trilha sonora nos momentos de confronto são bem colocados e embalam de maneira empolgante. O roteiro desenvolvido ao longo dos capítulos também se aprofunda e revela conceitos que vão além dos pontos já destacados. O casal de protagonistas, bem interessantes, se desenvolve de forma madura e mostra uma evolução notável desde os primeiros episódios, demonstrando a real profundidade da trama.
No início do desenho eu mesmo me peguei pensando sobre o que eu estava fazendo enquanto assistia Darling in the FRANXX, e você provavelmente também vai ter alguma dificuldade de se acostumar à crianças tão jovens se colocando em situações como as que o anime propõe. Mas isso tudo se torna secundário quando você entende a real história por trás do ecchi exagerado. Em sua essência, a série conta a história de 10 crianças e sua jornada de amadurecimento enquanto passam por uma adolescência bastante atribulada. Além das várias sequências incômodas, há dezenas de outras cenas extremamente triviais mas que mostram o desenvolvimento do roteiro e deixam claro que o desenho é muito mais do que uma japonezisse com robôs gigantes e menininhas em lycra. O encontro das crianças com sentimentos inexplorados, suas primeiras decepções com o mundo e o evidente amadurecimento delas como seres humanos é uma jornada interessante de acompanhar e, do meio para o final, extremamente emocionante.
O grupo heterogêneo de personagens conta uma belíssima história de amadurecimento que, infelizmente, foi soterrada por uma montanha de ecchi.
Com boas sequências de ação, uma trilha sonora impecável e excelente desenvolvimento de personagens, Darling in the FRANXX demorou alguns episódios, mas despontou como um dos animes originais mais emocionantes dos últimos anos. Como martelado durante toda a resenha, é importante entender as sequências desnecessariamente sexualizadas como uma manifestação cultural de um anime que não foi pensado para ser consumido por adultos ocidentais. O final um pouco acelerado demais e o trabalho ineficaz com alguns elementos de roteiro na última reta evidenciam esse fato, mas o anime permanece extremamente bem recomendado. Além de uma excelente história de crescimento e desenvolvimento humano, ainda ensina um pouco sobre a indústria cultural japonesa e escancara a diferença cultural entre nós e eles. Apesar do clamor de todos os fãs para uma segunda temporada, não há qualquer indicação dos estúdios acerca de uma nova (e desnecessária) continuação. O anime está disponível, completo e de forma legalizada, no Crunchyroll.
Um dos problemas das séries da Marvel veiculadas na Netflix era a total desconexão com os “primos ricos” do cinema. Demolidor, Luke Cage, Punho de Ferro e Jessica Jones tiveram seus momentos, mas careciam de coesão junto as produções de Kevin Feige. Quando o produtor passou a também comandar o setor foram anunciadas algumas séries, sendo a primeira delas Falcão e Soldado Invernal.
Como ocorreu com Wandavision, que por conta da pandemia acabou sendo lançada primeiro, foi escolhido um diretor para a temporada inteira, Kari Skogland, e o comando da série ficou por conta de Malcolm Spellman. Isso garantiu coesão em abordagem temática e ação, sendo este último um dos aspectos mais positivos dos seis episódios. Os momentos de perseguição se assemelham aos de um thriller, com a mesma ambientação que os irmãos Russo impuseram em Capitão América: Soldado Invernal e Capitão América: Guerra Civil, incluindo também um sem número de referências a personagens e momentos da historiografia do Capitão América nos quadrinhos, de Joe Simon e Jack Kirby a Ed Brubaker.
A série troca a ideia de mostrar sidekicks agindo em torno de um legado para apresentar uma temática de excluídos tentando provar seu valor. O Sam Wilson de Anthony Mackie e o Bucky Barnes de Sebastian Stan são encarados como fracos ou não dignos de confiança. Em suma, são temas que já foram abordados em outras séries, inclusive de super-heróis como Raio Negro ou Justiceiro, mas atualizados para os dias atuais. O problema maior é que no caso da produção da Disney essas questões são mais mencionadas que desenvolvidas, com o roteiro só arranhando a superfície, quando não faz pouco caso de pautas e discursos revolucionários no arco de pelo menos dois dos personagens que orbitam os protagonistas.
Mesmo com essas problemáticas, o saldo é positivo. O mundo em reconstrução posterior a intervenção de Thanos em Vingadores: Guerra Infinita mostra como os homens se viraram para manter a sociedade e como essas questões terrenas tem implicações graves para o globo. Falcão é um herói pragmático, mundano, sem poderes e que ainda que se mostre inseguro não refuga sua missão de combater as injustiças. Essa trama contrasta com a personalidade e tentativa de imposição do novo Capitão América. O inconsequente e violento John Walker de Wyatt Russell é a antítese desse comportamento, é super idealista, mas super impulsivo. Seu arquétipo que parece funcionar melhor nos quadrinhos para alguns personagens à margem do heroísmo clássico, mas não é o ideal para seguir o rumo do manto que o governo escolhe lhe dar. Para além até das óbvias e injustas comparações de sua persona com os heróis de Zack Snyder, já que sua construção possui muito mais nuances que as versões sombrias dos filmes da DC pós Homem de Aço.
Há algumas conveniências esquisitas no final, muitas pontas soltas são mal amarradas e os heróis claramente fazem vista grossa para o destino de personagens que já foram seus aliados no passado. O sexto capítulo é bastante apressado, tem boa parte dos problemas que o nono episódio de Wandavision, inclusive nas questões de obviedades ligadas aos mistérios que a série estabelece. No entanto, mesmo suas conveniências seriam mais aceitáveis caso os temas espinhosos e adultos fossem tratados de maneira menos polida e conciliatória. A estética de escapismo dos heróis parecia estar sendo dobrada neste Falcão e Soldado Invernal, mas o final se percebe realmente que esse é mais um fruto das histórias medíocres (no sentido literal da palavra) do universo Marvel comandado por Feige, pois apesar de apresentar alguma coragem inicial, acaba abraçando o discurso fácil, especialmente na figura do Falcão, que durante os outros cinco episódios, parecia o mais pé no chão entre os vigilantes, mas se torna o bobo idealista que acha que usando chavões e frases feitas ajudará o mundo a ser mais justo. É piegas e nada pragmático esse desfecho, que mais uma vez aposta na fórmula de referenciar futuras produções para esconder sua própria mediocridade.
Poucas coisas são mais sem limites do que a criatividade japonesa. Algumas das maiores maluquices criativas no campo da cultura POP vem de lá e, especialmente no mundo desenhado, eles comprovam esta afirmação. Animes e mangás dos mais variados estilos e gêneros cobrem, basicamente, todos os tipos de gostos que existem e, neste sentido, são muito mais universais do que os comics norte-americanos.
Alguns arquétipos se repetem no mundo dos quadrinhos e animações orientais, é claro. Existe um sem-número de Gokus, Narutos e Seiyas nos títulos mais famosos, mas o típico shonen para garotos adolescentes vai muito além de um jovem garoto sem amigos com um poder extremo escondido dentro de si. São obras que vão do robô gigante espacial à jovem apaixonada pelo garoto novo do colégio, passando por samurais que vivem num mundo futurista, monstrinhos que lutam para entretenimento dos humanos, um jogo de videogame que prende o jogador em seu mundo virtual e até um esporte nacional baseado em combates violentíssimos cujas regras permitem apenas o uso dos seios e das nádegas (google “Keijo anime”, mas numa aba anônima e longe da família, tá?).
Tudo o que você imaginar, o Japão já desenhou ou animou (provavelmente, os dois) antes de você. Em uma de minhas primeiras incursões no RPG de mesa eu já pensava em criar um bardo cientista, inventar a arma de fogo e dominar aquele mundo com meu avançado intelecto do século 20. O tema do anime resenhado no post de hoje é, pra dizer o mínimo, bastante peculiar e eu tenho “dez bilhões porcento de certeza” que você também já deve ter imaginado algo parecido.
Para Senku Ishigami, o mundo é tão complexo quanto a ciência mais cabeçuda que o explica. Com uma memória praticamente sobre-humana, o garoto conhece a explicação científica por trás de qualquer evento observável e é uma verdadeira enciclopédia humana para seu único amigo na escola. Um dia, sem aviso prévio, um raio cósmico de natureza desconhecida atinge o planeta Terra e irradia através do mundo inteiro, petrificando toda a humanidade e acabando com a hegemonia humana no globo. 3715 anos após sua petrificação, e também sem nenhuma explicação, Senku irrompe de seu casulo de pedra para descobrir que é o primeiro ser-humano a reverter sua condição de estátua. Descobrindo-se sozinho em um mundo que regrediu à idade da pedra, o garoto começa a utilizar seu elaborado pensamento científico na esperança de acordar todas as vítimas do raio cósmico. Após acordar seu melhor amigo, Taiju Oki, Senku planeja aprimorar sua fórmula de “despetrificação” para acordar toda a humanidade ainda em estado de pedra. Quando uma situação adversa o obriga a despertar o maior brutamontes da escola, Tsukasa Shishio, este rapidamente se opõe ao pensamento científico de Senku e parte para tentar matá-lo. Certo de que o futuro que Tsukasa planeja para este novo mundo de pedra não tem espaço para adultos e para a ciência, Senku Ishigami se une a uma pequena comunidade de “homens das cavernas” e precisa convencê-los sobre o poder do pensamento científico enquanto desenvolve as ferramentas da ciência que permitirão que ele possa enfrentar o gigante Tsukasa e seu exército de brutamontes. Conseguirá ele reproduzir o avanço de tecnológico que a humanidade levou milhões de anos para alcançar, antes que Tsukasa o encontre?
Dr. Stone é uma animação japonesa, produzida pela TMS Entertainment, baseada em um mangá homônimo escrito por Riichiro Inagaki e ilustrado pelo sul-coreano Mujik Park, mais conhecido como Boichi. Os capítulos do mangá foram publicados originalmente no Japão pela Weekly Shōnen Jump e a série animada foi transmitida em diversos canais japoneses sendo, no Brasil, distribuída em transmissão simultânea através do Crunchyroll.
Dr. Stone é interessante, principalmente, pela quebra que ele apresenta no gênero. O anime tem uma qualidade gráfica, de animação e um ritmo de roteiro muito lugar comum para um shonen como One Piece ou Naruto, por exemplo, mas batalhas de fato acontecem em apenas duas situações nessa primeira temporada e elas passam bem rápido. O anime é um shonen com uma carga de adrenalina bastante elevada apesar do tema científico que, a priori, não evoca esse tipo de velocidade e urgência na ação. Boa parte dessa urgência que conduz a velocidade da trama reside nos desafios, algumas vezes físicos, que os personagens têm que enfrentar para desenvolver uma nova tecnologia. A ameaça de Tsukasa fica, durante toda essa primeira temporada, muito longe de Senku e dá espaço mais do que suficiente para o personagem carregar o roteiro.
Há uma claríssima importância, no roteiro de Inagaki, para a acurácia científica de quase tudo o que Senku explica durante a série, e esse também é um ponto importantíssimo do desenho. Desde o cálculo de consumo energético de um cérebro humano e da força necessária para mover um tronco utilizando polias até a fórmula de criação da pólvora e mesmo o processo utilizado na construção de uma bomba de vácuo rudimentar para um lâmpada elétrica, todos os argumentos científicos de Senku são muito próximos da ciência real do nosso mundo. Algumas situações são menos fáceis de acontecer na natureza e exigem uma perícia na manipulação dos elementos que os personagens provavelmente não possuiriam sem treino, mas adicionando um pequeno distanciamento (comumente chamado de “suspensão da descrença”) nada é 100% impossível de acontecer. Alguns artigos na internet (com fontes mais e menos confiáveis) resumem bem o corajoso pensamento e estudo científico empregado nos roteiros.
Senku Ishigami: protagonista utiliza conhecimento científico no lugar da força.
Os personagens utilizados nessa primeira temporada do anime são carismáticos e bem explorados. Logo no início dessa temporada, o roteiro acertadamente remove Tsukasa e Taiju de praticamente todos os episódios, e isso é muito importante para que o anime tenha foco total na ciência necessária para o desenvolvimento de sua trama. Taiju e Tsukasa, ambos nada científicos, permanecem importantes para o desenvolvimento e evolução dos outros personagens, mas o foco total do desenho é em Senku. O cientista é personagem central da trama e ponto focal de todas as discussões importantes sobre o pensamento científico e sobre o funcionamento da ciência. Nesse ponto, o personagem se torna uma espécie de antropomorfização do pensamento científico e age, sempre, pensando na evolução das tecnologias naquele mundo de pedra, não tendo espaço para relacionamentos que não sejam puramente fonte de força de trabalho para os seus objetivos. Senku trabalha para o desenvolvimento de sua própria agenda, demonstrando como o efeito colateral desse desenvolvimento é benéfico para as pessoas ao seu redor.
Alguns outros personagens possuem, sim, algum espaço na trama e eles cumprem propósitos muito claros no decorrer do desenho. O feiticeiro do vilarejo de homens das cavernas, Chrome, pratica uma espécie de ciência empírica e acredita que o que faz é magia até se encontrar com Senku (fonte da real ciência daquele mundo), que o ilumina e o transforma em um “cienceiro” como ele. Os outros habitantes da vila não passam de personagens truculentas e anti-ciência que vão sendo, aos poucos, conquistadas pelas benesses que o desenvolvimento da tecnologia de Senku apresenta ao vilarejo. Embora o ponto focal do anime esteja acertadamente posicionado nas ciências exatas, um dos personagens do velho mundo que traz um pouco mais de ciência para o mundo de pedra é um mentalista. Sua função, explorada de forma bastante rasa, é apresentar uma vertente de ciências humanas aplicando alguns conceitos de psicologia além de lançar um olhar antropológico, explicando de um ponto de vista menos teórico todos os movimentos que Senku promove para transformar o vilarejo pouco desenvolvido em seu “Reino da Ciência”.
As sequências de animação são extremamente bonitas e bem animadas, e se saem aqui também como um dos pontos extremamente positivos da série. Embora a animação seja, em sua grande maioria, bastante sóbria e realista (tirando o cabelo do protagonista), alguns frames são hilariamente deformados quando um personagem faz uma careta ou o “Cyber-Senku” precisa explicar um conceito com um voice-over divertido. Num geral, a comédia abunda acertadamente durante toda a temporada sem tirar a seriedade dos conceitos científicos e tecnológicos dos episódios.
Comédia tem espaço recorrente na série e é bem dosada em todos os episódios.
Para ser completamente justo, o roteiro é um pouco machista e desmerece bastante a figura da mulher. Com exceção da guerreira Kohaku, todas as moças do vilarejo aparecem como objetos a serem exibidos e conquistados, chegando ao ponto de serem oferecidas como prêmio em um torneio de lutas do vilarejo. Levando em consideração a própria história de origem da vila dentro da história, esse desprezo pelo gênero feminino aparece como um contrassenso que incomodou um pouquinho. Algumas cenas parecem, também, sexualizadas de forma desnecessária em uma espécie de fanservice que, apesar de bastante raro e nada inesperado, também tira um pouco do brilho desta temporada. Boichi, mangaká responsável pelo traço no material que originou a série, é um reconhecido artista no campo do hentai japonês então, dado o histórico do desenhista, até que os momentos que incomodam nesse quesito são bem poucos. A maioria destes takes surge de forma forçada e não são bons, mas poderiam ser muito piores ou mais frequentes, dado todo o ambiente onde a obra foi produzida.
Do vaso de cerâmica ao telefone, Senku Ishigami avançou rapidamente a tecnologia de seu mundo de pedra para expandir as fronteiras do Reino da Ciência. Ao longo de seus 24 episódios, Dr. Stone deixa claro o desenvolvimento incremental da tecnologia e como ela trabalha de maneira apartidária, podendo fazer o bem ou o mal a depender de quem a manipula. Esta primeira temporada, que terminou em dezembro de 2019, tem foco puro no funcionamento da ciência aplicada para seu próprio desenvolvimento mas a segunda, e última, deve colher os frutos desse desenvolvimento trazendo o embate anunciado entre Tsukasa e Senku numa espécie de luta da iluminação científica contra o obscurantismo do pensamento não-científico. Tem tudo para ser uma temporada de mais batalhas e, apesar de não ser algo que eu senti falta nesses primeiros 24 episódios, deve trazer um jorro de novidade para um desenho que mostrou coisas muito novas para o gênero.
Numa época em que o pensamento científico está extremamente em baixa, Dr. Stone mostra a importância das ciências e reconta a evolução tecnológica e científica da raça humana de maneira divertida, pouco forçada e de forma belíssima. Um anime que vale muito a pena ser assistido por todos.
Nas últimas décadas tem ficado cada vez mais natural, ao citar determinada obra, especificar exatamente qual a versão e a plataforma você procura referenciar. Praticamente tudo que ainda não é, vai acabar virando transmídia se tiver a oportunidade. Todo livro vira um filme, todo jogo vira série, toda série vira camiseta e filtro do Instagram. Todo filme vira um outro filme e depois se transforma em jogo e quadrinho, e por aí vai… Se, por um lado, a humanidade parece ter atingido um bloqueio criativo, por outro, boas obras de cultura pop tem atingido um público cada vez maior graças a este efeito de reciclagem. Um dos bons exemplos de uma obra reenergizada por esse reaproveitamento é The Witcher.
Em um mundo povoado por seres mágicos, monstros repugnantes e bestas selvagens, a humanidade certamente não ocupa a posição mais alta na cadeia alimentar. Quando o império belicoso de Nilfgaard rompe o acordo de paz e marcha para devastar o reino vizinho de Cindra, a rainha Calanthe ordena a evacuação de sua neta, Cirilla. Refugiada, sem poder confiar em ninguém e seguindo as orientações de sua avó, Cirilla procura por Geralt de Rivia, um dos poucos bruxos ainda existentes e que é seu tutor por juramento. Geralt, um tipo de mutante guerreiro especializado em caçar monstros e remover maldições, precisará enfrentar uma série de desafios para se reencontrar com a princesa e acabará por descobrir que os piores monstros que existem, muitas vezes, não têm origem sobrenatural.
The Witcher, série americana original da Netflix, é uma adaptação dos livros escritos pelo polonês Andrzej Sapkowski. A produção, dividia em 8 episódios, estreou em 20 de dezembro de 2019 na plataforma vermelha com Henry Cavill no papel do personagem principal. As histórias de Geralt ficaram famosas para o grande público através dos jogos produzidos pela também polonesa CD Projekt Red, que tiveram boas avaliações e recentemente, graças à serie, voltaram a apresentar números expressivos de vendas. Os livros de Sapkowski, bastante populares na Polônia, constantemente baseiam as aventuras do bruxo em lendas existentes no folclore local e por isso parecem tão originais para o restante do mundo.
Antes de enaltecer todos os pontos positivos (que não são poucos) da série, é importante esclarecer um ponto que sempre foi falho na franquia graças à tradução do polonês para o inglês que baseia as demais versões. O termo polonês que designa aqueles que, como Geralt, treinaram e sofreram mutações para enfrentar monstros é “wiedźmin“. O termo é um neologismo criado por Sapkowski baseado na palavra “wiedzma” que quer dizer, esta sim, bruxa (em inglês, “witch“). Assim como “wiedźmin“, a palavra “witcher” não aparece em dicionários de língua inglesa mas, tal qual a original, sua raiz aponta para alguém que pratica bruxaria, o que não é o caso de Geralt. Em português, o jornalismo de games trata a laia do riviano, na brincadeira, como os “bruxeiros” e essa palavra realmente parece expressar melhor a essência desse tipo de personagem. Ele possui alguns poderes que, a princípio, podem parecer bruxaria mas ele não é um bruxo stricto sensu.
Apesar de ser bastante popular na Polônia, a coletânea de contos que narram as aventuras ficaram famosas mundo afora apenas depois do lançamento dos jogos produzidos pela CDPR (produtora do recente fiasco Cyberpunk 2077). Como informado pela própria Netflix, antes mesmo da estreia do primeiro trailer, os roteiros desenvolvidos pela equipe de Lauren Schmidt basearam-se nos livros e não no roteiro dos jogos mas isso não parece inteiramente verdadeiro. Levando em consideração o que acontece durante os episódios é possível afirmar, no mínimo, que os jogos parecem adaptar bem os livros originais, dados os claríssimos paralelos entre os dois produtos que o jogador vai conseguir estabelecer com facilidade enquanto assiste a série.
A relação de Geralt com seus interesses amorosos e com o cavalo que o acompanha são bastante semelhantes nas duas adaptações. Todo o cenário de xenofobia e racismo também é bastante comparável em ambas as obras e o irritante e encrenqueiro Jeskier também vive interferindo nas decisões de Geralt e colocando-o em situações delicadas no jogo. O personagem, como o caçador especializado que é na série e nos games, procura sempre investigar o inimigo e se preparar para a batalha, traçando um plano antes de cada luta com um monstro diferente, e eles não são poucos. As cenas em que Geralt utiliza seus poderes mutantes e que ele tenta renegociar a recompensa por um contrato também aparecem como gratas referências que, se não estão presentes no original, destacam-se como bons tapinhas nas costas dos gamers que estiverem assistindo a série.
Todo o figurino e cenários da série são, estes sim, claramente baseados nos designs da CD Projekt Red e a fotografia da série é lindíssima. Os personagens reconhecíveis nesse intercâmbio série/jogo também são extremamente parecidos, com uma única alteração que não parece ter causado o alvoroço que outros casos protagonizaram na internet (como a Dominó negra de Deadpool 2, por exemplo). Exceção ao pingente no colar de Geralt, que traz o lobo de Kaer Morhen em um design completamente diferente do mostrado no terceiro jogo, toda a equipe de figurino da Netflix parece ter feito laboratório com os designers da CD Projekt e isso é mais um ponto positivo para a série.
Além da fotografia lindíssima (que remete a O Senhor do Anéis), The Witcher ainda apresenta uma trilha sonora bem trabalhada. Os temas de fantasia (que também lembram os do épico de Peter Jackson) são bem posicionados e embalam a viagem por paisagens ora belíssimas, ora nefastas e empolgam durante as batalhas. A trilha ainda dá direito à um tema que enaltece, da forma que apenas um bardo medieval poderia fazer, as façanhas do Lobo Branco. Dê o play abaixo e corra o risco de cantarolar o tema por, pelo menos, o resto da semana.
Apesar de ter sido baseada em uma coleção de livros pouco populares por aqui, a série parece exigir um certo conhecimento prévio sobre, pelo menos, o personagem principal. Essa é, na verdade, a única crítica principal ao roteiro: ele explica muito mal o que é um bruxo e porque ele é diferente dos outros seres humanos. Durante os episódios, vemos Geralt lançar mão de suas famosas poções de bruxo e utilizar sinais que alguns podem confundir com um “force push” (e até um “force influence”, em um episódio) dos cavaleiros jedi de Star Wars. Sem explicar, exatamente, como o treinamento desse tipo de guerreiro acontece e o que ele engloba, fica parecendo que Geralt e os outros bruxos nasceram desta forma e isso não é verdade. Um “witcher” adulto só chega à maioridade através de muito treino e uma porção de sorte, mas a série parte do princípio de que o espectador já sabe disso ou que isso não é relevante. A evolução da guilda de magos e de como a verdadeira magia de Sapkowski funciona no universo de The Witcher ocupa uma parte considerável dessa primeira temporada e apesar do que a série tenta deixar aparente, a magia das guildas não possui nenhuma relação com os poderes do protagonista.
No quesito atuações, a série entrega um excelente produto. Cavill (o Superman das mais recentes adaptações de Zack Snyder) entrega um Geralt de Rivia bastante fiel à sua contraparte nos jogos. Tal qual o personagem que interpreta, Cavill possui apenas resquícios de sentimentos humanos e mais parece um androide. Nesse sentido, graças a sua falta de habilidade para interpretar um ser humano complexo, eu diria que o britânico nasceu para este papel. As cenas de luta envolvendo Cavill e outros personagens (humanos ou não) são, em sua maioria, bem coreografadas com especial destaque para a luta no final do primeiro episódio. A inglesa, de ascendência indiana, Anya Chalotra fica encarregada de dar vida a Yennefer de Vengerberg, e também toma de assalto suas cenas do meio para o final da série. Yennefer é uma poderosa e vingativa maga, que tem um papel central na trama e acaba se tornando um agente condutor que baliza toda a sequência de eventos na série. A transformação, não apenas física, que acontece com Yennefer é conduzia com maestria por Chalotra que também sai deste review como um dos pontos positivos da série. A jovem Freya Allan, que vive a princesa Cirilla de Cindra, entrega pouco durante a primeira parte e tem algumas atuações típicas de séries juvenis em momentos de carga emocional mais elevada e, portanto, não conta como um destaque positivo no casting da série. O mesmo pode-se dizer de Joey Batey, que interpreta o encrenqueiro bardo Jeskier. Como alívio cômico, o personagem não funciona na maioria das vezes, apesar de compensar interpretando as canções de forma bastante afinada.
Geralt, Yennefer, Cirilla e Triss: Casting e design completamente inspirados em suas versões no terceiro jogo da CDPR.
Com efeitos visuais por vezes impactantes mas, num geral, nada extraordinários, a série se destaca como uma excelente adaptação das aventuras de Geralt de Rivia. De fotografia e trilha sonora impecáveis, com atuações dentro da média do que geralmente é entregue pelas séries originais da Netflix e um roteiro elaborado de forma inteligente e corajosa, The Witcher desponta como uma excelente alternativa de binge-watch. Com segunda temporada já confirmada pela produtora, a série é fortemente recomendada para quem já leu/jogou e, ainda mais, para quem nunca ouviu nada sobre os feitos extraordinários do Lobo Branco de Kaer Morhen.
Em meio as dificuldades que a Warner Bros e Walter Hamada têm em produzir um novo filme protagonizado pelo Superman, o anúncio de que a CW faria uma série focada na relação de Lois Lane e Clark Kent causou certa rejeição por parte dos fãs, especialmente porque quem acompanha os filmes da DC não costuma levar a sério The Flash, Legends of Tomorrow e demais séries do Arrowverse.
A nova série também é produzida por Greg Berlanti, assinada também por Geoff Johns e tem como showrunner Todd Helbing, produtor de Mortal Kombat Legacy e Black Sails. O elenco é formado pelos mesmos Tyler Hoechlin e Elizabeth Tulloch que fizeram Clark e Lois na série da Supergirl. Os dois personagens têm filhos adolescentes, cada um com um pano de fundo e índole diferente: Jordan (Alex Garfin) e Jonathan (Jordan Elsass). Para esclarecer ao leitor, elencamos aqui alguns bons motivos para acompanhar essa nova história da DC. Sim, precisamos de uma nova série do Superman.
Uniforme da animação clássica
Logo no início do piloto, Hoechlin é mostrado salvando um carro verde semelhante ao que é visto na capa da Action Comics, a primeira revista do herói. Além disso, a eterna (e necessária) busca por refazer o clássico herói se lembra tanto a versão de Jerry Siegel e Joe Shuster, como a dos desenhos dos irmãos Fleischer que passava nos cinemas em 1941 e que ainda surpreende os espectadores pela qualidade visual e pela fluidez dos movimentos. A série era feita com rotoscopia, criada pelos irmãos alemães judeus que produziram anteriormente as primeiras animações de Betty Boop e Popeye.
Visual do Superman dos anos quarenta. Imagem: Paramount Pictures
Por mais que possa parecer boba, a referencia ultrapassa o aspecto visual e ressalta a ideia clássica do personagem, em contraposição a versão de Zack Snyder em que é um assassino a sangue frio em determinado momento.
Identidade Secreta
Recentemente fizemos um podcast, Vortcast: Identidade Secreta, que além de homenagear nosso grande camarada Felipe Morcelli, serviu também para discutir a ótima historia Identidade Secreta de Kurt Busiek e Stuart Immonem. Especialmente nas duas últimas edições, o personagem principal, mais velho e com família, teme o futuro de suas filhas, refletindo se elas teriam os mesmos poderes e problemas que teve quando o mundo o recebeu como herói.
No caso de Superman e Lois, eles suspeitam que um dos filhos possa ter herdado os poderes kriptonianos. Enquanto o herói tem receio de falar sobre isso, sua esposa quer dialogar sobre a questão primordial, o segredo que o mundo gostaria de saber. Isso é tratado de maneira incrivelmente emocional, aprofundada por questões envolvendo pessoas queridas a Clark;
A depressão em cena
Esse talvez seja o maior diferencial do roteiro até aqui. O modo como o programa lida com a questão do transtorno de ansiedade social é bastante sério, ainda mais em comparação com outras adaptações de comics. Até os episódios exibidos pelo menos, a pessoa que sofre disso não é mostrada como uma coitada. Lidar com novas descobertas e uma condição clínica complicada certamente não é comum em obras da cultura pop, ainda mais dentro de versões de heróis em quadrinhos. Sempre quando foi abordado houve controvérsia, como com Thor em Vingadores: Ultimato ou com a Feiticeira Escarlate em Wandavision. Ainda assim, a abordagem em Superman e Lois é bem diferenciada pelo cuidado.
Retorno ao herói clássico
a dimensão do Super como um sujeito bom em essência pode parecer datada, mas está longe de ser assim de fato. Uma das primeiras ações do Super no primeiro episódio, quando precisa resolver um problema com uma caldeira, é grandiosa. Utiliza bem o cuidado em não atingir civis com uma boa estratégia heróica.
Super levantando um bloco de gelo para resolver o problema da caldeira Imagem: CW
Ainda assim é simples, fácil de compreender e até de associar ao personagem. Remonta aos melhores momentos dos quadrinhos e até de outras obras como Superman – O Filme e Superman – O Retorno, e não se parece em nada com a cena da destruição em massa em Metrópolis vista em Homem de Aço, ou outros momentos em que o Superman age mais como um agente do caos.
Humor bem encaixado
Programas sobre heróis normalmente tem como base a aventura e ação, mas não é incomum que tenham uma carga humorística considerável, seja nos filmes da Marvel, repletos de piadas em absolutamente qualquer produção, ou nos programas da CW, em um tom mais infantil. Claramente essa não é uma série para crianças mesmo com certos momentos que agradariam os mais jovens. O humor do personagem funciona como um alívio cômico necessário.
Evolução de Smallville
Por mais que boa parte dos fãs do Superman não gostem, Smallville foi um marco para o personagem e para o segmento de super heróis no audiovisual. O programa de Alfred Gough e Miles Millar manteve o Homem do Amanhã em horário nobre na tv,por dez longos anos e em alguns momentos a série acertou no tom, especialmente nas referencias do universo DC que brotavam nos roteiros de Geoff Johns. No entanto, o tom familiar era algo muito forte no programa dos anos 2000, especialmente na questão da paternidade. John Schneider e Annette O’Toole tinham uma relação muito próxima e intensa com o Clark de Tom Welling, e isso também é bem desenvolvido aqui. Além disso, o fato de Pequenópolis ser o cenário principal da nova produção faz lembrar muito o seriado anterior, especialmente na fazenda dos Kent.
É curioso como a maioria das pessoas imaginavam que a maior referência do novo materia seria Lois e Clark, mas claramente evitaram uma comparação direta. Em narrativa, lembra a premissa de Raio Negro com um fino equilíbrio entre ser um vigilante herói e um pai de família.
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Superman e Lois já foi renovada para uma segunda temporada, terá 16 episódios nesse primeiro ano e deverá seguir as historias de Clark, Jordan, Jonathan e Lois, variando entre a aventura comum aos gibis e histórias em quadrinhos com o clima familiar conturbado. Após explorarem outros personagens de sucesso, ter o azulão de volta como série é um retorno merecido.
Depois do lançamento do filme Hebe: A Estrela do Brasil, o canal de streaming Globoplay deu prosseguimento a história da apresentadora Hebe Camargo, tanto em questões positivas, quanto na mostra do que era a personalidade forte dela, passando pela defesa de minorias através de seu afeto e por questões polêmicas sobre sua vida pessoal, que geraram inclusive reclamações por parte de sua família que, aparentemente, não gostaram de ver uma personagem humanizada em tela, sobretudo na versão em longa-metragem da história dirigida por Maurício Farias.
Diferente das minisséries lançadas normalmente na Globo, essa não é “apenas” o filme dividido em quatro ou cinco episódios, com pequenas cenas estendidas. A série expande bem a trajetória da mulher, mostra seu passado como cantora, vivida por Valentina Herszage, cuja caracterização visual é de uma semelhança assustadora especialmente na época em que Hebe ainda não pintava o cabelo de loiro. O seriado é produzido por Farias, e criada por Carolina Kotscho, escritora especialista em biografias como Não Pare na Pista – A Melhor História de Paulo Coelho, Flores Raras e Dois Filhos de Francisco.
Hebe recria momentos do filme,aumentando a participação de pessoas que tinham a importância na vida de Camargo, como foi com Walter Clark de Danilo Grangheia, ou das amigas dela, Nair Bello e Lolita Rodrigues. O começo do primeiro capítulo mostra Andréa Beltrão no programa De Frente Com Gabi, em uma entrevista, e esse artificio, de mostrá-la em outros programas, dando suas opiniões controversas é uma boa escolha narrativa, porque brinca com seu ofício de entrevistadora e mostra o quão humana ela era, para além só do que era mostrado na frente das câmeras do programa que conduzia.
Há momentos piegas, como quando ela descobre seus bordões, quando lida com os empregados de produção e de sua mansão, mas até essa cafonice combina com a forma datada e bem pessoal que os seus programas tinham como caráter. Hebe gostava de brilho, isso é bem retratado, assim como sua personalidade tão particular. Ela ouve as pessoas, é grata, mas deliberadamente ignora as contradições que lhe são propostas, fato que pode fazer o público encará-la como uma megera. Mas o fato é que, tanto na realidade quanto na série, ela era adorada por todos que a cercavam, e isso se fortifica demais no desempenho de Beltrão, que diferente da maioria dos atores, não imita sua personagem real, compensando isso com uma entrega emocional atroz. Já Valentina, imita tão bem os trejeitos da Hebe jovem e ainda tímida que dribla até a falta de um sotaque paulista do interior que ela não possui (a atriz é carioca). A opção por não fazer imitações aliás é bem sábia, embora algumas versões sejam bem parecidas em tom, como a Nair Bello de Cláudia Missura.
Os relacionamentos, amores e laços familiares da estrela são bem explorados, embora haja claro toda uma construção fantasiosa, o que é comum, afinal este Hebe não é um documentário. Se a vida pessoal é diferente do real, a presença dela no palco é quase idêntica, Camargo era muito espontânea e engraçada, não tinha receio em mostrar as próprias falhas no ar, não é difícil achar vídeos históricos dela, como sua estreia no SBT em 1986 onde mesmo perdida entre os convidados ela impera, passa por cima dos cacos como quem desfila em um palco, fica a vontade mesmo tropeçando. Próximo do final a narrativa fica um pouco confusa, pois momentos importantes da vida dela se passam logo depois de outros: alguns a mostram tratando o câncer, outros a sua separação de Lélio. A escolha narrativa talvez mirasse os últimos momentos de Hebe Camargo, como se ela conversasse com uma entrevistadora, como foi nos programas de Jô Soares, Marília Gabriela ou no Roda Viva, completando não só o comentário de quebra de quarta parede com a entrevistadora estando no centro da roda, mas também justificando os lapsos de memórias e a mistura de fases bem diferentes de sua vida reunidas nessa edição, que às vezes, parece insana, mas que dentro dessa estética louca, retrata bem tanto a época, quanto a trajetória da apresentadora. Hebe é um seriado que passa longe da perfeição, mas causa muita curiosidade no público que não a conhece, e ainda afaga os antigos fãs, colocando até alguns deles em tela. É um belo louvor a figura e um bom documento histórico a respeito de uma entidade importante da TV brasileira.
No mundo pós-pandemia os seriados televisivos e os serviços de streaming ganharam muita projeção entre o público que consome cultura pop. Pudera, sessões de cinema quando abertas tiveram pouca aderência e bilheteria, estratégias foram feitas algumas com êxito por parte de empresas como Paramount, Disney e Warner Bros, outras tantas deram errado, e em meio a isto, os programas televisivos da Disney Plus tem tido algum acerto, apesar de serem muito poucos. Wandavision surgiu nesse cenário, e trouxe boas surpresas além de ter criado um hype absurdo, gerando nos espectadores um número quase infinito de teorias, tal qual foram os áureos anos de Lost nas pós sessões anos atrás.
A história se mostrou bem diferenciada. Com direção dos nove episódios assinada por Matt Shakman, que dirige séries desde 2002 contando obras como The Boys, Billions, Game of Thrones e a recente The Great, além de ser criada e roteirizada em sua maioria por Jac Schaeffer, que foi a roteirista de As Trapaceiras e argumentista do novo filme da Viúva Negra, ainda a ser lançado. O formato dos primeiros episódios brinca com a formula de sitcons, os episódios são formatados de forma semelhante ao que era comum TVs dos anos 50 até os 2000, com elementos de clássicos de I Love Lucy até Modern Family, além de outras tantas.
Um dos pontos mais positivos ao longo da minissérie – que a princípio, não terá uma segunda temporada embora o produtor Kevin Feige não garanta isso – é romper com o status quo dos filmes da Marvel, ao menos na maior parte de seu início. Essa não é uma mera historia escapista de super heróis, e sim uma reflexão sobre maus sentimentos, isso evidentemente gerou um número de reclamações o que sinceramente é injustificável, já que também há espaço para lidar com questões de bravura e luta, como é típico das fitas antigas de seres super poderosos.
A série gerou muito burburinho, por conta de possíveis aparições de personagens do universo Marvel, e apesar de ter muitas cameos e aparições breves e outras mais longas, ainda assim ocorreram muitas críticas e reclamações por conta de decepções. Ora, a minissérie se debruça emocionalmente sobre a questão do luto. O modo gradativo como isso é registrado é bem pensado , qualquer reclamação nesse sentido chega a ser ilógica. Além disso, o programa dá chance de atuações maiores e mais detalhadas não só para Elizabeth Olsen e Paul Bettany, mas também para ótimos atores, entre conhecidos do público nerd e novados. Além disso, ela também conversa com bons e inteligentes momentos do Universo Compartilhado da Marvel, como foi na depressão que fez Thor se descuidar da aparência em Vingadores: Ultimato, o precedente estava ali e poucas pessoas perceberam, ou se perceberam, não reclamaram porque a ação frenética estava lá. Se Homem-Aranha: Longe de Casa não reflete sobre as tragédias pós ataque de Thanos, Wandavision sim. O seriado reflete, repensa e mastiga questões como depressão, vontade de inexistir e até suicídio. É tragédia, com muitas cores e ações heroicas, mas é tragédia, e ainda pega elementos dos quadrinhos, como Dinastia M, Vingadores: A Queda e Visão: Pouco Melhor Que Um Homem.
Os pretextos de usar clichês de séries antigas para discutir como seria a vida de um casal recém reunido são inteligentes, uma piscadela para o espectador, além de ser uma versão criativa e bem inventiva dos simulacros, diferente do que foi em Tron: Odisseia Eletrônica e Matrix, mas reunindo elementos desses, e até da recente série Life on Mars. Outra referencia, é o clássico O Show de Truman: O Show da Vida. Em comum com o filme de Peter Weir há a carga emocional, Truman Burbank e Wanda Maximoff são pessoas que perderam algo, um não tem mais a liberdade, a outra perdeu todos os entes queridos, e ambos lidam com isso em meio a um cenário de ter sua realidade olhada por agentes externos, embora um seja passivo enquanto a moça é ativa. Ainda assim, a questão de controle da redoma é discutida e desenrolada vagarosamente ao longo dos curtos capítulos (alguns, sem créditos, mal chegam a vinte minutos), o que aliás, favorece as teorias da conspiração que brotaram nas últimas nove semanas.
Antes da iniciativa de adaptar histórias de Falcão e Soldado Invernal, Loki e a própria Wandavision, as séries de televisão tinham poucas ou nenhuma ligação com o que ocorria nos cinemas. Agentes da Shield, Manto e Adaga, as séries do Demolidor, Jessica Jones e demais da Netflix, mesmo com produção executiva de Jeph Loeb, tinham alguma participação ou outra de personagens dos filmes, mas sempre com timidez mesmo para citar os heróis dos Vingadores. Esse novo paradigma, de seriados com grandes atores do cinema certamente estão em outro patamar, e dificilmente teriam continuações, só teriam essas caso o isolamento forçado prossiga por muito mais tempo. Os contratos de atores como Paul Bettany, Liz Olsen e até de Tom Hiddlestone são caros para produções, suas participações certamente ocorreriam em programas como da HBO, Showtime, e não em Tv aberta, onde seriados ainda tem 20 e poucos episódios. A escolha pode ser polêmica e restritiva, mas dentro de sua proposta, garante uma chance maior de apuro e cuidado.
Wandavision trata de temas muito caros, e por mais que não tenha sido pensado para ser exibido em um tempo tão delicado, aborda temas tristes de maneira inteligente e sentimental na medida. Seus personagens novos são carismáticos, seja a mulher que não tem receio de ser sexual que a personagem de Kathryn Hahn é (em uma releitura bem esperta do clichê das bruxas), ou na impetuosidade de Monica Rambeau de Teyonah Parris. Wanda brilha nesta versão, se expande como personagem e como maga, mas seu encontro com uma condição de ser quase onipotente só ocorre por conta da interferências de outras personagens femininas fortes, e mesmo diante de problemas técnicos, como o uso artificial de computação gráfica em algumas lutas e um último capítulo com furos e que possivelmente foram apressados graças a pandemia, o produto que Schaeffer e Shakman trazem é redondo, não tem receio em ousar e experimentar novos formatos, abrindo novos rumos para o destino da fase quatro do MCU bem ao estilo dos outros produtos dessa saga.