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  • Crítica | Evangelion: 1.11 Você (Não) Está Sozinho

    Crítica | Evangelion: 1.11 Você (Não) Está Sozinho

    Para quem não está familiarizado com Evangelion, este é o primeiro dos quatro filmes da série Rebuild. É uma espécie de nova versão da série clássica, que mantém a essência da história e dos personagens, mas a trama toma um rumo diferente a partir de certo ponto. Logo de cara vou responder à sua pergunta: então posso assistir aos Rebuild sem ter visto o anime? Olha, você pode fazer muitas coisas em sua vida, porém há consequências desastrosas para determinados atos. Por isso eu te respondo que sim, você pode assistir primeiro ao Rebuild, ainda que não seja o recomendado.

    Por que não? Acredito que muita gente pode ficar perdida se não estiver familiarizada com diversos conceitos da série. A série, assim como o anime clássico, mostra que a humanidade está sendo atacada por seres gigantes chamados Anjos, combatidos pelos EVA, robôs gigantes humanoides muito poderosos construídos pela entidade militar Nerv. Porém, quem pilota os robôs são adolescentes na faixa dos quinze anos. Um deles é Shinji, que acaba de chegar a Tokyo 3 convocado por seu pai, comandante na Nerv. O grande objetivo é impedir o Terceiro Impacto, evento que exterminaria o resto da humanidade, já que boa parte dela já foi exterminada pelo Segundo Impacto, um meteoro (?!) que caiu na Antártida no ano 2000. A história se passa no longínquo futuro de 2015.

    Aí você pensa: por que um moleque de 15 anos, sem experiência alguma de combate, vai pilotar um robô que provavelmente custou bilhões? Detalhe que Shinji e seu pai não se falam há anos, e o garoto está claramente sendo apenas um objeto nas mãos do pai. São estes aspectos humanos que destacam Evangelion.

    Quem assistiu ao anime vai perceber que a maior parte deste filme é praticamente igual à série. Pelo menos os acontecimentos, pois a qualidade de animação e imagem é muito melhor. Mas as diferenças vêm em detalhes. Por exemplo, aqui o mar já está todo vermelho. O design de alguns Anjos mudaram, apesar de a ideia ser quase a mesma. Shinji está um pouco menos introvertido. Rei parece mais humana. PenPen está mais engraçado. A Misato… bem, continua bebendo muito!

    Entretanto, outros detalhes sinalizam mudanças consideráveis. Um deles é a quantidade de Anjos previstos para aparecer, que aqui é menor. O fato de a Nerv guardar um Anjo em sua base não é mistério aqui, e desde o início eles já sabem que aquele não é Adão. Só esses dois elementos já permitem perceber que Rebuild não é apenas a série clássica com animação melhor.

    O filme se desenvolve bem, mas dá a impressão de que é apressado demais, e isso talvez deixe os novatos perdidos. Porém, acaba sendo um filme enxuto, onde praticamente tudo que é mostrado tem relevância. Por isso é uma boa pedida assistir mais de uma vez. Repito, recomendo assistir ao anime e a The End of Evangelion primeiro. Mas se quiser fazer um teste, este é um ótimo começo, o filme é bastante similar à série clássica. Se não conseguir absorver muito bem os conceitos e ideias deste filme, assista ao anime e depois tente novamente.

    A periodicidade da série Rebuild é bastante similar à do mangá: literalmente demorou mais de uma década para ser concluída. Este primeiro filme é de 2007. O segundo é de 2009. O terceiro, de 2012. Já o quarto e último, saiu apenas agora, em 2021. O lançamento ocorreu na Amazon Prime Video, que disponibilizou todos com a mesma dublagem brasileira da série clássica disponível na Netflix.

    Evangelion 1.11 não trouxe mudanças muito bruscas, e prepara o fã antigo para uma chuva de batalhas. Os próximos filmes, meus amigos… se preparem.

  • Crítica | The End of Evangelion

    Crítica | The End of Evangelion

    Evangelion teve uma produção mais conturbada que a mente de seus personagens. Seu diretor, Hideaki Anno, passava por uma depressão profunda, o Estúdio Gainax tinha pouquíssimo dinheiro e, por conta disso, o final do anime foi praticamente um recorte de cenas que mostrou apenas o ponto de vista do protagonista Shinji. Porém, o mundo dá voltas e, quando o anime começou a ser transmitido em um horário direcionado à audiência mais adulta ganhou muita fama e legiões de fãs no Japão e no mundo. Isso não impediu que vários fãs não gostassem do final “cabeçudo” do anime.

    De certa forma, o final do anime não é o que Anno realmente planejava. Ele e a Gainax fizeram o que foi possível na época. Eis que, pouco tempo após o fim do anime, eles conseguiram uma verba suficiente para fazer o que era planejado, e daí nasceu The End of Evangelion.

    Curioso notar que o filme tem a estrutura de dois episódios com o dobro da duração normal, totalizando quase 90 minutos. A qualidade de animação está muito boa e muito menos parada. Mas eles substituem o final do anime? Não!

    Acontece que o anime mostra, em seu final, o ponto de vista de Shinji após a Instrumentalidade Humana, que é uma espécie de unificação de todas as almas da humanidade. Porém, não é mostrado exatamente como chegamos até ali. Inclusive algumas cenas de personagens mortos simplesmente aparecem sem explicar o que os matou. Tudo isso é mostrado neste filme.

    Logo de início, devemos lembrar que Shinji estava mentalmente destruído no final da trama por ter matado alguém querido. Os episódios finais até amenizam um pouco essa situação, mas quando iniciamos este filme, relembramos o quanto ele estava no mais absoluto abismo existencial. Shinji se mantém apático e distante durante o filme todo, causando até um contraste com o final do anime, sendo que este acaba ficando com um tom “feliz” tendo em vista toda a desgraça apresentada neste filme.

    Asuka está desacordada e hospitalizada. O Eva 01 despertou e será fundamental para desencadear a Instrumentalidade. A SEELE fica irritada com a Nerv e decide mandar uma tropa para exterminar a todos e roubar os EVAs. Interessante notar que durante o anime  praticamente não vemos humanos morrerem. Aqui teremos um banho de sangue que certamente causa um impacto considerável.

    Outro ponto interessante é a aparição de uma nova linhagem de EVAs. Durante a série, as Unidades 00, 01 e 02 são as únicas com grande tempo em tela. A Unidade 03 aparece rapidamente (em uma das cenas mais icônicas do anime), outras Unidades são apenas mencionadas, e é isso. Aqui veremos vários outros EVAs em ação,

    Estes EVAs serão essenciais para iniciar a Instrumentalidade, logo após uma batalha sanguinária contra a Unidade 02, cena esta que destrói o pouco que sobrou da sanidade de Shinji. Hideaki Anno não teve pena dos espectadores.

    Temos que lembrar que, durante a série, a Unidade 01 absorveu um Dispositivo S2 de um Anjo, o que deixou-a muito próxima das criaturas, ou seja, supostamente tornou-se uma espécie de deus. Também ocorreu o “despertar” da Unidade 01, tudo isso é crucial para o desfecho da história.

    Alguns dizem que este filme é “o final com violência e orçamento que o anime não pôde ter”. Concordo plenamente. Mas não confunda as coisas, a parte psicológica está a mil por hora, e afirmo que sua cabeça vai fritar ainda mais. Estamos falando de Evangelion, então não espere um final mastigado, explicadinho, reto e definitivo. O término do filme dá brechas a diversas teorias, mas com delimitações. Não é aquele final aberto que possibilita qualquer tipo de interpretação.

    The End of Evangelion é perturbador e instigante, dá um tom mais adulto que a série e não encerra as discussões. A prova disso é que estou aqui, duas décadas depois, recomendando o filme pra vocês. Tanto o filme quanto a série estão disponíveis na Netflix com uma excelente dublagem brasileira. Não é a dublagem da Locomotion, porém algumas vozes permaneceram, como o próprio Shinji e Gendo. Particularmente acho esta dublagem muito melhor por causa das interpretações. Este elenco de dublagem foi mantido na série Rebuild, que estará aqui no Vortex muito em breve.

    OBS.: o filme DEATH (TRUE)², também disponível na Netflix, é apenas um compilado de cenas do anime. Vale assistir apenas para relembrar algumas coisas, mas é dispensável em termos de conteúdo.

  • Review | Darling in the FranXX

    Review | Darling in the FranXX


    As vezes tenho a nítida impressão de que o preconceito com animações e quadrinhos japoneses é justificável. A mania que alguns mangakás têm de soterrar suas histórias em poses sensuais, referências sexuais e meninas em trajes sumários é totalmente explicada pela cultura japonesa, menos permissiva num geral do que as culturas ocidentais. Mas isso atrapalha tanto a divulgação dessas séries fora do Japão que, as vezes, adaptações ocidentais poderiam se tornar mais palatáveis algumas excelentes histórias oriundas daquele lado do planeta. Darling in the FranXX é um excelente exemplo disso. Não é um desenho pra você assistir com algum parente na TV da sala, mas se você abstrair todo o fanservice, perceberá uma história que vai muito mais fundo do que o ecchi escancarado em todos os episódios.

    No futuro, a humanidade desenvolveu a capacidade de utilizar o magma no centro do planeta como fonte de energia. A utilização dela, entretanto, devastou a natureza e forçou a sociedade a se recolher para o interior de gigantescas estruturas móveis subterrâneas chamadas Colônias, onde as pessoas vivem sem qualquer contato com o mundo exterior. A exploração da energia magma trouxe, também, a aparição de seres que viviam nas profundezas do planeta e que passaram a emergir como grandes inimigos dos seres humanos: os Urrossauros. Para batalhar contra esses seres abissais, o excêntrico doutor Werner Franxx desenvolveu robôs gigantes que só podem ser pilotados por duplas de crianças. Os pilotos desses mechas, denominados parasitas, vivem dentro de abóbodas sobre as cidades subterrâneas, sem qualquer contato com adultos, sempre de prontidão para combater os urrossauros que, ninguém sabe porquê, atacam as colônias. Obedecendo as ordens de um grupo de governantes que nunca viram, os parasitam enfrentam os urrossauros de acordo com as ordens do “papai” na esperança de tornarem-se adultos e ganharem sua passagem para o interior das cidades que protegem, mas a chegada de uma nova criança a um dos esquadrões de parasitas, que é particularmente especial, pode colocar todo o plano das colônias e a humanidade inteira em risco.

    Darling in the FranXX, lançado no início de 2018, narra a história do 13º esquadrão de parasitas da APE (a organização chefiada pelo misterioso “papai”). Ao longo dos 24 episódios dessa animação original, o telespectador descobre a história do mundo e dos personagens criados por Code:000 (pseudônimo cuja real identidade nunca foi revelada) e produzidos através da colaboração entre os renomados estúdios Trigger (“Kill la Kill”) e A1 Pictures (do excelente “Fairy Tail”). A história é bem elaborada mas, como eu introduzi no primeiro parágrafo deste review, pode ser necessário um pouco de força de vontade para chegar até ela.

    Isso acontece porque desde o character design até o método desenvolvido para pilotar os robôs, praticamente tudo no anime traz alguma referência sexual e foi especialmente elaborado para causar um sentimento de “vergonha alheia” monstruoso. O sistema desenvolvido para utilização do poder máximo dos FranXX, por exemplo, depende de uma garota e um garoto que desenvolvem uma conexão quase literal. O sistema depende de uma pistilo (uma garota que, literalmente, fica de quatro e serve de base para o piloto do robô) e um estame (um garoto que precisa tomar assento atrás da menina e controlar o robô através de manoplas acopladas ao quadril da pistilo). As denominações para as funções dos parasitas são, não por acaso, as mesmas denominações dadas aos órgãos reprodutores das plantas. A primeira vista, o sistema extremamente machista de controle do robô causa desconforto ao espectador, com sequências de conexão meio forçadas e uma playlist bem peculiar de gemidos e acenos dos jovens parasitas durante os combates a bordo das máquinas.

    Praticamente tudo, nas sequências de combate, tem alguma conotação sexual.

    Mas se por um lado o anime escorrega fortemente no conceito básico por trás dos robôs gigantes, as sequências de ação que aparecem quando os FRANXX batalham contra os urrossauros destaca-se como um ponto bem positivo. Apesar da movimentação bem pouco natural dos robôs, o CGI nas cenas de batalha e principalmente a trilha sonora nos momentos de confronto são bem colocados e embalam de maneira empolgante. O roteiro desenvolvido ao longo dos capítulos também se aprofunda e revela conceitos que vão além dos pontos já destacados. O casal de protagonistas, bem interessantes, se desenvolve de forma madura e mostra uma evolução notável desde os primeiros episódios, demonstrando a real profundidade da trama.

    No início do desenho eu mesmo me peguei pensando sobre o que eu estava fazendo enquanto assistia Darling in the FRANXX, e você provavelmente também vai ter alguma dificuldade de se acostumar à crianças tão jovens se colocando em situações como as que o anime propõe. Mas isso tudo se torna secundário quando você entende a real história por trás do ecchi exagerado. Em sua essência, a série conta a história de 10 crianças e sua jornada de amadurecimento enquanto passam por uma adolescência bastante atribulada. Além das várias sequências incômodas, há dezenas de outras cenas extremamente triviais mas que mostram o desenvolvimento do roteiro e deixam claro que o desenho é muito mais do que uma japonezisse com robôs gigantes e menininhas em lycra. O encontro das crianças com sentimentos inexplorados, suas primeiras decepções com o mundo e o evidente amadurecimento delas como seres humanos é uma jornada interessante de acompanhar e, do meio para o final, extremamente emocionante.

    O grupo heterogêneo de personagens conta uma belíssima história de amadurecimento que, infelizmente, foi soterrada por uma montanha de ecchi.

    Com boas sequências de ação, uma trilha sonora impecável e excelente desenvolvimento de personagens, Darling in the FRANXX demorou alguns episódios, mas despontou como um dos animes  originais mais emocionantes dos últimos anos. Como martelado durante toda a resenha, é importante entender as sequências desnecessariamente sexualizadas como uma manifestação cultural de um anime que não foi pensado para ser consumido por adultos ocidentais. O final um pouco acelerado demais e o trabalho ineficaz com alguns elementos de roteiro na última reta evidenciam esse fato, mas o anime permanece extremamente bem recomendado. Além de uma excelente história de crescimento e desenvolvimento humano, ainda ensina um pouco sobre a indústria cultural japonesa e escancara a diferença cultural entre nós e eles. Apesar do clamor de todos os fãs para uma segunda temporada, não há qualquer indicação dos estúdios acerca de uma nova (e desnecessária) continuação. O anime está disponível, completo e de forma legalizada, no Crunchyroll.

  • Review | ID-0

    Review | ID-0

    A humanidade descobre um minério estranho chamado Orichalt, que gera muita energia. Isso possibilita explorar locais mais distantes no espaço, inclusive para buscar novas fontes de Orichalt. Nesse contexto, criou-se a profissão de mineradores, que utilizam uma ferramenta bem peculiar: as I-Machines. O minerador transfere sua consciência para esses grandes robôs humanoides, possibilitando seu controle. As I-Machines são as únicas formas de explorar e minerar ambientes perigosos e extremos.

    A jovem Maya Mikuri tem grande destaque na academia formadora de mineradores e já executa missões supervisionadas. Em uma dessas missões, ocorre um acidente que deixa sua I-Machine à deriva no espaço. Ela não consegue voltar a consciência para seu corpo.

    Maya encontra um grupo de mineradores clandestinos e tem como única saída se juntar a eles até encontrar um jeito de recuperar seu corpo para retornar sua consciência a ele.

    ID-0, dirigido Gorō Taniguchi e escrito por Yōsuke Kuroda, tinha potencial para ser um bom anime, mesmo sem grandes inovações ou história marcante. Porém, ele tenta ser algo maior do que devia.

    A trupe de mineradores clandestinos, por um motivo explicado posteriormente, ficam em tempo integral nas I-Machines, exceto pela filha do líder. Cada um tem uma personalidade bem distinta, e mesmo que estereotipadas, atendem às necessidades da narrativa. Existe um mistério em relação a Ido, que não tem lembranças de seu passado e não sabe dizer por que vai atrás de Orichalt.

    A princípio, a trama se desenvolve em torno da tripulação procurando Orichalt e sendo perseguida pelas autoridades, uma vez que fazem um trabalho clandestino. Não há grandes momentos, nem acontecimentos memoráveis, apenas o suficiente para se divertir, o que não é um grande problema. A questão vem a partir da segunda metade do anime, por volta do episódio 7.

    Houve uma tentativa de trazer alguns elementos mais complexos à trama, e alguns são até interessantes, principalmente o passado de Ido. Porém, se nos primeiros episódios a trama era bem focada em aventura, agora ela caminha para teorias da conspiração e motivações loucas. Até certo ponto funciona, mas depois o foco muda bastante e a reta final é bem fraca, especialmente o desfecho largado. Tinha potencial, boas ideias, personagens legais, e infelizmente não atingiu um bom resultado. Foi mal desenvolvido. Pelo menos uma coisa é inegavelmente positiva: a qualidade de animação, que tem boa fluidez, muitos detalhes e cores vivas.

    O universo criado em ID-0 é bacana, existia potencial, inclusive, para fazer histórias soltas no estilo de Cowboy Bebop . Mas sinceramente, após a essa fraquíssima primeira temporada, não me parece promissor continuar essa história. E se continuarem, por favor mudem a música de encerramento, que é muito ruim, chata e precisa ser suportada para conferir a pequena cena pós-crédito de todos os episódios. OK, o anime está na Netflix, podemos simplesmente pular, mas ainda assim somos obrigados a lembrar que aquela música existe. Enfim, não recomendo ID-0 a ninguém. Mesmo não sendo a pior coisa do mundo, foi uma boa ideia mal executada.

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  • Review | Mobile Suit Gundam: Iron-Blooded Orphans

    Review | Mobile Suit Gundam: Iron-Blooded Orphans

    Tekketsu no Orphans

    Robôs gigantes. Trama política. Sangue. Muito Sangue. Crianças lutando como se fossem adultos. Espaço. Lutas no Espaço. Tudo isso junto indica que estamos vendo mais um anime da série Gundam.

    Mobile Suit Gundam – Iron-Blooded Orphans é a 14ª série da longa franquia Gundam. Conta a história de um grupo mercenário de Marte que aceita a missão de escoltar a Princesa Kudelia Aina Bernstein de lá até a Terra. Tal missão não é algo trivial, pois os interesses de Kudelia em nosso planeta vão contra o braço militar do governo geral: Gjallarhorn.

    A trama básica é bem simples, mas para entender realmente é necessário esmiuçar um pouco. Marte é uma colônia exploratória da Terra. Ficou assim após guerras citadas como “Calamity Wars”, onde havia máquinas guiadas por um sistema atualmente visto com “preconceito”: Sistema Alaya-Vijnana, que coloca uma conexão para dados diretamente ligada ao sistema nervoso. Atualmente quem faz a operação e coloca esse sistema é chamado de “Rato do Espaço” e é tratado basicamente como lixo.

    Com Marte sendo uma colônia, o povo de lá é visto como inferior ao da Terra, algo que nunca aconteceu antes na história. Princesa Kudelia é líder de um movimento de liberação de Marte. Para conseguir ao menos começar ter sucesso em sua empreitada, ela precisa chegar ao pequeno ponto azul do universo e conversar com um dos líderes dos três blocos econômicos que compõem o planeta, o único disposto a abrir a janela para acordos. Porém perder sua colônia não é algo que todos querem.

    O grupo conta com vários órfãos que foram obrigados a implantar o sistema em si para lidar com máquinas e trabalhar, como escravos, para o tal grupo mercenário. Após um ataque da Gjallarhorn, um dos mais velhos, Orga Itsuka, assume a liderança, consegue conter o ataque e mata todos os que não gostaram da nova liderança.

    E com isso cobrimos apenas o primeiro episódio. Tekketsu no Orphans estreou em 2015 e a cada episódio evolui a complexidade de sua trama, colocando mais complicações políticas e evoluindo seus personagens.gundam_tekketsu

    E falando de personagens, nós temos muitos. Após a tomada de poder, o grupo é formado quase que totalmente por adolescentes/crianças e isso faz parte do que é trabalhado na trama, em que, em várias ocasiões, eles são lembrados de sua pouca idade.

    Temos em Orga o líder destemido, grande estrategista que sempre tem um plano, aquele que carrega o peso de todo seus amigos nas costas. Ele tem carisma e cativa logo de cara. Ao lado de Orga sempre está seu braço direito, Mikazuki Augus, que, de início, não é carismático, mas um daqueles personagens sem emoção que fazem o que é mandado. Mika, como é chamado, é piloto de Barbatos. O primeiro Gundam dos órfãos possui um Sistema Alaya-Vijnana tripo (o que significa que ele fez a dolorida operação que pode matar quando feita por três vezes, mas que também faz o controle ser melhor).

    A princesa Kudelia é alguém que você se pergunta por que está ali. Como alguém como ela conseguiu liderar um movimento de libertação? Como alguém como ela é chamada de “A Donzela da Revolução”? Por outro lado, é uma das que apresenta maior evolução durante a série.

    Há muitos outros personagens, trabalhados de forma menor que os principais, mas não deixados de lado. Biscuit Griffin cuida das informações e trabalhos administrativos (e com a melhor família de todas. Biscuit tem como irmãs Cookie and Cracker. Eles são um doce de família). Akihiro Atland, que é um “detrito humano” (termo usado para indicar pessoas sequestradas e traficadas para trabalhos escravos. Eles são menores que humanos) e, como tal, não tem lugar no mundo, afinal ele não é humano – no entanto, essa ideia é contrariada por seus companheiros. E por aí vai, são muitos órfãos juntos.

    tekkadan

    A animação não deixa a desejar para uma trama tão rica e com personagens tão interessantes. As cenas de lutas são intensas, empolgantes e bem violentas. Mas não é apenas nas cenas de luta que a série empolga, em partes calmas a narrativa também mostra qualidades.

    A história é bem equilibrada e trabalha personagens no ponto: quando há mortes, você sente seu peso. Com um encerramento excelente e auxílio da trilha-sonora, a série também produz emoção, fazendo com que o espectador se sinta imerso naquele universo.

    Uma trama riquíssima com grandes personagens, Kidou Senshi Tekketsu no Orphans foi um dos melhores animes que estrearam em 2015 e vale muito assisti-lo, te recompensando a cada episódio.

    PS: O anime é criticado por algumas pessoas pela intensidade de certas cenas, principalmente por lidar com crianças. Não há censura nessa parte, crianças portam armas, matam e são mortas.

    Texto de autoria de André Kirano.