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  • Precisamos de uma nova série do Superman?

    Precisamos de uma nova série do Superman?

    Em meio as dificuldades que a Warner Bros e Walter Hamada têm em produzir um novo filme protagonizado pelo Superman, o anúncio de que a CW faria uma série focada na relação de Lois Lane e Clark Kent causou certa rejeição por parte dos fãs, especialmente porque quem acompanha os filmes da DC não costuma levar a sério The Flash, Legends of Tomorrow e demais séries do Arrowverse.

    A nova série também é produzida por Greg Berlanti, assinada também por Geoff Johns e tem como showrunner Todd Helbing, produtor de Mortal Kombat Legacy e Black Sails. O elenco é formado pelos mesmos Tyler Hoechlin e Elizabeth Tulloch que fizeram Clark e Lois na série da Supergirl. Os dois personagens têm filhos adolescentes, cada um com um pano de fundo e índole diferente: Jordan (Alex Garfin) e Jonathan (Jordan Elsass). Para esclarecer ao leitor, elencamos aqui alguns bons motivos para acompanhar essa nova história da DC. Sim, precisamos de uma nova série do Superman.

    Uniforme da animação clássica

    Logo no início do piloto, Hoechlin é mostrado salvando um carro verde semelhante ao que é visto na capa da Action Comics, a primeira revista do herói. Além disso, a eterna (e necessária) busca por refazer o clássico herói se lembra tanto a versão de Jerry Siegel e Joe Shuster, como a dos desenhos dos irmãos Fleischer que passava nos cinemas em 1941 e que ainda surpreende os espectadores pela qualidade visual e pela fluidez dos movimentos. A série era feita com rotoscopia, criada pelos irmãos alemães judeus que produziram anteriormente as primeiras animações de Betty Boop e Popeye.

    Visual do Superman dos anos quarenta. Imagem: Paramount Pictures

    Por mais que possa parecer boba, a referencia ultrapassa o aspecto visual e ressalta a ideia clássica do personagem, em contraposição a versão de Zack Snyder em que é um assassino a sangue frio em determinado momento.

    Identidade Secreta

    Recentemente fizemos um podcast, Vortcast: Identidade Secreta, que além de homenagear nosso grande camarada Felipe Morcelli, serviu também para discutir a ótima historia Identidade Secreta de Kurt Busiek e Stuart Immonem. Especialmente nas duas últimas edições, o personagem principal, mais velho e com família, teme o futuro de suas filhas, refletindo se elas teriam os mesmos poderes e problemas que teve quando o mundo o recebeu como herói.

    No caso de Superman e Lois, eles suspeitam que um dos filhos possa ter herdado os poderes kriptonianos. Enquanto o herói tem receio de falar sobre isso, sua esposa quer dialogar sobre a questão primordial, o segredo que o mundo gostaria de saber. Isso é tratado de maneira incrivelmente emocional, aprofundada por questões envolvendo pessoas queridas a Clark;

    A depressão em cena

    Esse talvez seja o maior diferencial do roteiro até aqui. O modo como o programa lida com a questão do transtorno de ansiedade social é bastante sério, ainda mais em comparação com outras adaptações de comics. Até os episódios exibidos pelo menos, a pessoa que sofre disso não é mostrada como uma coitada. Lidar com novas descobertas e uma condição clínica complicada certamente não é comum em obras da cultura pop, ainda mais dentro de versões de heróis em quadrinhos. Sempre quando foi abordado houve controvérsia, como com Thor em Vingadores: Ultimato ou com a Feiticeira Escarlate em Wandavision. Ainda assim, a abordagem em Superman e Lois é bem diferenciada pelo cuidado.

     

    Retorno ao herói clássico

    a dimensão do Super como um sujeito bom em essência pode parecer datada, mas está longe de ser assim de fato. Uma das primeiras ações do Super no primeiro episódio, quando precisa resolver um problema com uma caldeira, é grandiosa. Utiliza bem o cuidado em não atingir civis com uma boa estratégia heróica.

    Super levantando um bloco de gelo para resolver o problema da caldeira
    Imagem: CW

    Ainda assim é simples, fácil de compreender e até de associar ao personagem. Remonta aos melhores momentos dos quadrinhos e até de outras obras como Superman – O Filme e Superman – O Retorno, e não se parece em nada com a cena da destruição em massa em Metrópolis vista em Homem de Aço, ou outros momentos em que o Superman age mais como um agente do caos.

    Humor bem encaixado

    Programas sobre heróis normalmente tem como base a aventura e ação, mas não é incomum que tenham uma carga humorística considerável, seja nos filmes da Marvel, repletos de piadas em absolutamente qualquer produção, ou nos programas da CW, em um tom mais infantil. Claramente essa não é uma série para crianças mesmo com certos momentos que agradariam os mais jovens. O humor do personagem funciona como um alívio cômico necessário.

    Evolução de Smallville

    Por mais que boa parte dos fãs do Superman não gostem, Smallville foi um marco para o personagem e para o segmento de super heróis no audiovisual. O programa de Alfred Gough e Miles Millar manteve o Homem do Amanhã em horário nobre na tv,por dez longos anos e em alguns momentos a série acertou no tom, especialmente nas referencias do universo DC que brotavam nos roteiros de Geoff Johns. No entanto, o tom familiar era algo muito forte no programa dos anos 2000, especialmente na questão da paternidade. John Schneider e Annette O’Toole tinham uma relação muito próxima e intensa com o Clark de Tom Welling, e isso  também é bem desenvolvido aqui. Além disso, o fato de Pequenópolis ser o cenário principal da nova produção faz lembrar muito o seriado anterior, especialmente na fazenda dos Kent.

    É curioso como a maioria das pessoas imaginavam que a maior referência do novo materia seria Lois e Clark, mas claramente evitaram uma comparação direta. Em narrativa, lembra a premissa de Raio Negro com um fino equilíbrio entre ser um vigilante herói e um pai de família.

    Superman e Lois já foi renovada para uma segunda temporada, terá 16 episódios nesse primeiro ano e deverá seguir as historias de Clark, Jordan, Jonathan e Lois, variando entre a aventura comum aos gibis e histórias em quadrinhos com o clima familiar conturbado. Após explorarem outros personagens de sucesso, ter o azulão de volta como série é um retorno merecido.

  • Review | Patrulha do Destino – 1ª Temporada

    Review | Patrulha do Destino – 1ª Temporada

    A primeira temporada de Patrulha do Destino prometia traduzir em tela todo o nonsense dos quadrinhos da equipe, sobretudo da fase de Grant Morrison à frente dos roteiros. A série capitaneada por Jeremy Carver e produzida Greg Berlanti, Geoff Johns e outros, tem 15 episódios nesse primeiro ano, e mostra um grupo de desajustados com poderes.

    O episódio piloto estabelece a mitologia, introduz o personagem de Timothy Dalton, chamado apenas de “O Chefe” e todos os seres estranhos que o cercam. Após essa gênese, o que se vê é uma batalha cósmica, que abusa de efeitos especiais, muito bem trabalhados. O turbilhão que se contrapõe aos quatros meta humanos – Crazy Jane (Diane Guerrero), Mulher Elástica (April Bowlby), Homem-Robô (dublado por Brendan Fraser e manipulado por Riley Shanahan) e  Homem-Negativo (Matthew Zuk) – é seguido de reações diversas, variando entre a histeria pela surpresa do possível fim da vida e tentativas vazias de controlar o ímpeto, afinal, o que se vê é algo grande demais para ser ignorado.

    Boa parte do acerto do seriado é que seus personagens mesmo sendo sobre-humanos, são imperfeitos, são repletos de complexos e se autossabotam o tempo inteiro. Cada um deles têm algum momento em que se torna o herói de sua própria jornada, com tempo e desenvolvimento que certamente fazem inveja a Chris Terrio, David S. Goyer e demais roteiristas da DC nos cinemas. Mesmo quando tem partes narradas, há um bom motivo para acontecer, normalmente movido pela metalinguagem de ser feita por Alan Tudyk, que interpreta o Sr. Ninguém.

    Uma das dúvidas em relação a composição do grupo era a presença do Cyborg (Joivan Wade) que jamais fez parte do grupo, e que não esteve no seriado dos Titans. Sua origem é a mais graficamente pesada da série, não há medo ou receio de parecer adulta e é muito mais bem resolvida que outras adaptações envolvendo o personagem.

    A primeira temporada tem como temática principal as obsessões. Victor tenta não ser manipulado, seja por vilões ou pelos laboratórios Star, Jane busca desesperadamente um equilíbrio, Cliff tem que lidar com a substituição parental que sua filha fez da figura paterna e Rita tenta se reinventar mesmo tendo perdido o aspecto físico que a tornava especial décadas atrás. Eles são na verdade um grupo de freaks, que precisam conviver, como forma de terapia.

    Não há um episódio que o espectador não se assuste com algum um aspecto dramático ou visual, sempre há surpresas tresloucadas, tão irreais que soam charmosas. O estranhamento que a série causa se assemelha ao visto em Legion, ainda que a abordagem se dê por um viés diferente, com camadas mais profundas.

    O elenco tem um desempenho primoroso, Tudyk e Dalton desempenham magistralmente as figuras arquétipo do vilão e mentor, enquanto Fraser, Guerrero e Bowlby estão afiadíssimos. O fato do trio não ter pudor em se apresentar como figuras jocosas só acrescenta à trama. A intérprete da Mulher Elástica surpreende, pois foge da simples figura de mulher linda que foi coadjuvante em Two And a Half Men para se tornar frustrada, complexa, e ainda assim, apaixonante. Sua Rita Farr é incrível, mesmo sendo digna de pena, seu drama é de fácil compreensão, bem como sua vocação para ser uma espécie de mentora do grupo de desajustados, na ausência de Dalton.

    Mesmo as coisas implausíveis fazem sentido. Todas as razões mesquinhas são lógicas, e mostram que os heróis podem ter ações canalhas e anti-éticas, para além da construção do anti-herói clássico, ou dos comentários ácidos de materiais que visam parodiar mais incisivamente o conceito dos quadrinhos da Marvel e DC, como Garth Ennis fez em The Boys. O resultado final de Patrulha do Destino em seu primeiro ano é algo seminal, não subestima os seus espectadores e mostra uma história onde praticamente todos os personagens odeiam a si mesmo e ainda assim tem de conviver com essa situação.

     

  • Review | Batwoman (Episódio Piloto)

    Review | Batwoman (Episódio Piloto)

    A CW é um canal de grupo Warner, que entre muitos feitos positivos e negativos, conseguiu a proeza de trazer a luz algumas adaptações bem corajosas dos heróis da DC Comics, atingindo algum exito mesmo sem grandes medalhões como Batman e Superman, montando enfim  um universo compartilhado coeso, aliás, melhor engendrado até que o cinema comandado por Zack Snyder. Nesse ínterim, houveram claro referencias aos dois heróis, com versões inspiradas mas diferentes dos mesmos, ou aparições dos mesmos,  mas as historias seguiram sem eles, e a pretensão de Batwoman era não só essa, mas muitas outras.

    A historia gira em torno de Kate Kane, que é feita por Ruby Rose, uma atriz que ganhou fama recente por seus papéis como mulher forte, decidida e que não tem receio em explorar sua sexualidade, normalmente encarada como bi ou homossexual mesmo. Foi assim em Orange is The New Black, Triplo X Reativado, Megatubarão, John Wick 2 e Resident Evil 6, e nessa versão de Gotham City, abandonada pelo Morcego há pelo menos três anos.

    Há uma tentativa bem válida em tentar tornar Kate em uma personagem de caráter épico, suas primeiras cenas envolvem um mergulho em águas cuja superfície é congelada, e em meio ao desespero em sair, ela lembra de sua infância, quando sua família inteira pereceu, em um salvamento malfadado, feito pelo cruzado encapuzado. O chamado a aventura começa quando ela recebe uma ligação, de  uma amiga, afirmando que Sophie Moore (Meagan Tandy), sua ex, desapareceu. É nesse momento que ela relutantemente decide voltar a cidade, onde encontra o Jacob Kane (Dougray Scott), seu pai, que é  o chefe do departamento de segurança da cidade, afinal, nesta realidade, esse setor foi terceirizado.

    O desenrolar desse piloto está longe da perfeição, em alguns momentos é sentimental ao extremo, chegando ao cúmulo de fazer uso de cenas em flashback onde sobra pieguice, com luz chapada piorando a fotografia, acompanhado de uma trilha manipuladora e que remete a cenas de separação de casais. Tudo soa estranho, as series do canal são normalmente brega, mas não nesse sentido. O lado ruim dessas séries é o exagero com os uniformes dos heróis, e não a carga dramática dos casais ou ex-casais, embora Arrow seja especialista em formar e desfazer pares. Nem ela é tão complicada assim

    Os personagens secundários são um bocado caricatos, a maioria só é apresentado, não tem muita importância, como as amigas sino-americanas dela, ou  o clássico estereotipo do negro sábio. Até a vilã, Alice (Rachel Skarsten) e mostrada de maneira um bocado apressada, não há demora alguma em perceber as intenções dessas pessoas, em uma representação tão genérica e arquetípica que faz a serie se aproximar mais de Super  Amigos que de qualquer outro produto recente da DC.

    Tudo é muito rápido, o chamado a aventura e a tomada de decisão por tentar fazer justiça com as próprias mãos se dá muito artificialmente, assim como a chegada da moça a bat-caverna. Impressionante como ela é astuta o suficiente para encontrar o compartimento secreto da mansão, mas não chega a conclusão de que Bruce Wayne e Batman que estão desaparecidos há tanto tempo poderiam ser a mesma pessoa, mesmo com a proximidade parental dos dois – ela é prima do bilionário.

    A transformação da mulher que treinou para e tornar uma vigilante numa vigilante de fato, que utiliza os aparatos do herói original é muito rápida. As cenas de ação não são ruins, mas  as falas  dos vilões beiram o ridículo, é tudo bastante caricato e genérico, e a primeira ação da Batwoman a faz parecer apenas uma imitação barata do antigo justiceiro. Mesmo que Batman Ano Um o herói também tropece  em suas próprias pernas, aqui nada disso é justificado ou  trabalhado. Os produtores Caroline Dries e Greg Berlanti episódios para desenvolver melhor isto, ainda que ao se recordar os primeiros capítulos de Flash, Raio Negro e até Legends of Tomorrow.

    Neste, se vê pouco de Gotham, pouco dos personagens secundários e até de Kate, e até o apelo as questões de parentescos soam demasiado bobas, mesmo para um programa de super heróis e a expectativa para o futuro é que Batwoman encontre sua própria identidade, e consiga rechear seus textos com as temáticas progressistas que foram prometidas para ela, pois mesmo a questão LGBT é bem jogada dentro da trama, o que é uma pena, pois todo material de divulgação parece primar por algo diferente. Impressionantemente, a heroína conseguiu soar mais épica e forte no crossover Elseworlds do que neste episodio.

    https://www.youtube.com/watch?v=BDEd0G-2Znc

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  • Review | Doom Patrol (Episódio Piloto)

    Review | Doom Patrol (Episódio Piloto)

    Após um dos melhores episodio “filler” de Titans, chega finalmente o piloto de Doom Patrol, que promete traduzir em tela toda a lisergia dos quadrinhos da Patrulha do Destino, um grupo espacial, formado por desajustados, criados por Arnold Drake, Bruno Premiani e Bob Haney e que serviu de inspiração não oficial aos X-Men da Marvel, além de reunir grandes escritores em torno de seus runs, em especial, Grant Morrison.

    O episódio vai introduzindo cada um dos  seus personagens, com destaque ao personagem Robot-Man o Homem Robô, vivido por Brendan Fraser, que começa como um bon vivant, piloto de corridas que ludibria sua mulher e família sendo um cafajeste traidor e falso, sofrendo uma tragédia na pista, causada de maneira proposital pelas pessoas que ele enganou. Entre 1988, ano da colisão e 1995, ele é cuidado por um doutor em uma cadeira de rodas, chamado Niles Caulder, de codinome Chefe, vivido pelo eterno James Bond Timothy Dalton. Por mais pesada que seja a  situação, o episódio de Glen  Winter não é demasiado expositivo, ao contrário, causa curiosidade para ver mais momentos dessas pessoas, além de causa um saudosismo nos fãs dos dois atores, que não tem tido tantos trabalhos quanto seus carismas e antiga fama fariam merecer.

    Dois outros personagens são introduzidos, o Homem Negativo, de Matt BonnerMatthew Zukk um ex-piloto acidentado, que tem seu  corpo queimado, e Rita Farr (April Bowlby), a Mulher Elástica, uma bela ex-atriz que após encontrar  um estranho objeto, que a fez ficar com a pele enrugada, para dizer o mínimo. Num quesito esta produção supera e muito Titans, pois aparentemente ela já tem uma identidade formada, culpa de seu principal produtor, Jeremy Carver, e seus apelos emocionais são mais fortes e mais maduros que a rejeição que Ravena sente por ser o que é. Aqui, todos os personagens tentam entender o que são, e tem que lidar com um passado imperfeito e cheio de percalços.

    Os personagens parecem de verdade, são imperfeitos, sobretudo Cliff, que descobre aos poucos o que aconteceu ao seu passado e como realmente morreu. Brendan Fraser jamais foi um ator conhecido por seu dotes dramáticos, sempre foi encarado como um sujeito carismático que um dia foi bonito e agora, após um bom tempo no ostracismo, ele tem chance de fazer um papel trágico, e com um desempenho invejável.

    Incrivelmente este piloto consegue funcionar como um filme de origem típico da Marvel, mas de maneira resumida, apesar de não soar apressado, nos primeiros 30 minutos. Até o artifício de um narrrador em off é bem utilizado, e dá um tom engraçado a série. Os poucos minutos que se vêem de Diane Guerrero (de Orange is The New Black) atuando como Crazy Jane são fascinantes, não só pela personagem ter múltiplas personalidades, mas também pela complexidade com que a câmera lida com ela, sem atalhos narrativos, como Fragmentado de M Nigth Shyamalan fez, por exemplo. Há um cuidado especial com o roteiro, para que todo o seu conjunto dramático seja levado a sério, mesmo que a estética tenha um pouco do já utilizado nas outras séries de Greg Berlanti  (um dos produtores executivos, responsável por Arrow, Flash e Cia). A ideia de expandir conceitos e falar de forma adulta do mundo fantástico dos super heróis é bem construída nesse episódio, e combina demais com os quadrinhos clássicos da Patrulha.

    Próximo do final, ainda há uma sequência em que os personagens tem de lidar com uma situação limite, de stress e descontrole, que os obriga a agir de modo heroico, coisa que até então então eles não são, e cada um, da sua forma, tenta colocar em prática suas super habilidades, para tentar proteger os civis. Por mais calamitoso que fique o cenário após a aparição em público de Crazy Girl, Rita, Homem Negativo e Homem Robô, os fatos se encaminham de volta a normalidade, mesmo contra os pedidos do mentor, mas não sem antes chamar a atenção da mídia, assustada com as aberrações que ali apareceram.

    A expectativa para  Doom Patrol é a de um drama adulto ser tratado em tela, isso com o pouco que é mostrado do Senhor Ninguém (Alan Tudyk) e o que ainda nem é mostrado do Cyborg. Os efeitos especiais parecem caros, mesmo se tratando de uma produção para a televisão, não deixam nada a desejar ao cinema guardadas as devidas proporções e todos os ingredientes parecem estar ali prontos para serem misturados e para produzir uma experiência audiovisual tão viajandona quanto os gibis clássicos do grupo, e o que se assiste nesse episódio inaugural é bastante promissor.

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  • Review | Titãs – 1ª Temporada

    Review | Titãs – 1ª Temporada

    Titans inaugurou o serviço de streaming da Warner como uma novidade em matéria de conteúdo original. O trio de produtores Geoff Johns (escritor de quadrinhos e envolvido com Richard Donner na produção de Superman O Filme), Greg Berlanti e Akiva Goldsman (dono do roteiro de pérolas como a franquia Transformers e Torre Negra) resolveu trazer a luz uma versão sombria dos Jovens Titãs, onde Dick Grayson (Brenton Thwaites) evita agir como Robin, já que agora é um policial de Detroit, que basicamente encontra a jovem perturbada Rachel Roth (Teagan Croft), que é a contra parte de Ravena, e logo depois encontra também a prostituta alienígena Koriand’r (Anna Diop), que é a Estelar, e também Garfield Longa (Ryan Potter), o Mutano.

    Nós já analisamos o piloto da série, e Titans prosseguiu sendo exibida, mostrando a inteiração do grupo de pessoas super poderosas ainda que claramente eles não sejam exatamente um grupo como nas historias clássicas de Marv Wolfman e George Perez, talvez o motivo disso seja exatamente fortificar a ideia de que essa uma serie de conteúdo adulto, mas a vagarosidade dela em reunir os personagens faz tudo ficar enfadonho.

    No segundo episodio são introduzidos Rapina e Columba, feitos por Minka Kelly e Alan Ritchson, que nessa versão são namorados, e tem as identidades civis de Dawn Granger e Hank Hall. Aqui se percebe que Grayson e Granger já se envolveram emocionalmente no passado, e as cenas em flashback são usadas bastante, de uma maneira até exagerada. Ao menos, já no começo se percebe que por mais que o antigo Robin tenha deixado de lado seu mentor, sua mentalidade é parecida com a do Morcego, pois ele também acolhe uma criança em apuros, mostrando uma senso de paternidade muito forte.

    A parte adulta da série, que mereceu elogios no piloto e que parecia ser uma boa e nova exploração de paradigma novo vai aos poucos se perdendo. Estelar encontra Ravena basicamente por que são ambas excluídas, e isso faz sentido, mas a sensação de pertencimento que os personagens tinham em outras encarnações inexiste aqui, eles tem em comum a rejeição, mas são unidos por isso. Talvez o ideal fosse que o grupo já estivesse estabelecido, afinal os fatos poderiam desenvolver melhor e de forma menos lenta.

    O desenrolar da trama é meio mecânico, os encontros não parecem acontecerem por mero acaso e se realmente a ideia era deixar um clima de destino conspirando pela união, deveria ser mais explicito o texto de Akiva Goldman. O que o produtor acertou em não se envolver com  os produtos spin offs de Transformers – Bumblebee foi muito bem sem ele – não acontece aqui.

    Os demônios que atormentam Rachel não assustam, a serie ao tentar ser hiper madura soa apenas cafona e desequilibrada. No entanto, há alguns pequenos acertos, como o episodio com a Patrulha do Destino, que apesar de ser meio como um filler, é absolutamente divertido, seu problema na verdade é o modo como termina, de maneira brusca a apressada.

    Ao menos em uma coisa o publico nerd mais chato e conservador estava errado, o visual e poderes de Estelar não comprometem em nada, são bem utilizados até, assim como a transformação de Mutano em tigre. Não se sabe se o alienígena pode se transformar em outros animais e ao menos nessa temporada ele só vira o felino, graças claro a um orçamento de TV, que é reduzido, mesmo que essa seja bem cara. A grande questão é o tom mesmo, por mais que em boa parte dos  momentos de interação do personagens hajam eventos e situações interessantes e bem filmadas, não há muita justificativa para uma abordagem tão obscura e com tendências adultas, tampouco há como explorar boa parte dos poderes dos heróis, claramente esse era um projeto para ser feito no cinema, com orçamento mais pomposo e robusto, onde Garfield poderia se transformar em outros animais e ser totalmente verde, onde Estelar poderia ter as cores laranja o tempo inteiro e onde Ravena poderia liberar seus demônios quando  precisasse de fato, contra inimigos que não fossem necessariamente os seus parentes, em mais um evento genérico envolvendo daddy issues.

    Há algumas apelações meio desnecessárias, cenas de sexo genéricas, unicamente propostas porque pretende-se atingir um público mais velho, mas em alguns pontos o seriado tenta lidar com outras formas de discutir ciclos, como quando é introduzido Jason Todd (Curra Walters) e há uma relação de mentor e pupilo entre o antigo garoto prodígio e o atual, embora Dick não tenha aposentado seu manto. A rejeição do Morcego nem é um assunto muito discutido, e sim o legado de um sidekick, Thwaites consegue surpreender com uma atuação sóbria e austera, de um homem que quer demonstrar que superou o vigilantismo – afinal virou detetive – mas que se vê tendo sua vocação reavivada com união que faz aos Titãs, ainda com o grupo em formação.

    Incrivelmente Akiva Goldsman introduz bons conceitos, como essa relação de Todd e Grayson, e a Patrulha do Destino (que obviamente está lá só para fazer propaganda da futura série) mas também é incrível como falta foco narrativo a série, que varia entre a trama principal e investigação que Richard Grayson faz e esses capítulos stand alone, envolvendo Rapina e Columba, o segundo Robin e ate Donna Troy. Falta identidade a Titans, eles não sabem escolher nem entre ser uma série de conseqüências tradicionais e historia retilínea ou se é procedural.

    A luta entre Donna Troy (Conor Leslie), a antiga Moça Maravilha e Estelar é muito bem coreografada, apesar de bastante curta. Donna tem uma maturidade que Grayson não tem, ela já entendeu que o vigilantismo não é um estilo de vida para ela, ao contrário do antigo pupilo do Batman, que já acha que não há mais como ser o Robin, mas também não consegue largar o manto. Nesses últimos episódios claramente se nota uma propensão a se tornar finalmente o Asa Noturna, mas se demora tanto em verbalizar quanto em ser colocado em prática.

    Como era esperado, o ultimo episódio (11º) é chamado Dick Grayson, e começa alegre, em um dia ensolarado na California, com o personagem que dá nome ao capítulo relaxando, enquanto brinca com seu filho, Johnny. Fica claro em todo esse desenrolar que aquilo não corresponde a realidade, pois todo o status de comercial de margarina não combina em nada com as encarnações do Titãs, nem a vista em Titans. O começo da ruptura com a perfeição começa quando Jason Todd aparece na casa do antigo Robin, em uma cadeira de rodas, dizendo que seu mentor enlouqueceu.

    Esse episodio é dirigido por Glen Winter e escrito por Richard Hatem, e a construção da tensão e do futuro alternativo de Dick não é ruim, enquanto ele se propõe a explorar os detalhes dessa versão alternativa há muitos acertos, talvez os mais meritosos de todo o programa, mas os momentos finais são tão apelativos e de certa forma covarde, que fazem lembrar os season finales de The Walking Dead, não pela temática, obviamente, e sim pelo adiamento da resolução do conflito, para algo que só estreará ano que vem.

    É difícil avaliar o que Goldsman, Johns e Berlanti quiseram traduzir nesta primeira temporada de Titans, é tudo tão diferente iconograficamente de tudo que se conhece sobre Robin, Mutano, Estelar, Ravena, e até de Moça maravilha, Rapina e Columba e do grupo de heróis como um todo. Akiva foi um dos escritores de Batman e Robin, e retorna aqui para mais uma vez demonstrar que não entende muito como funciona a psique e comportamento do antigo garoto prodígio, e dessa vez nem com o auxilio de um roteirista experiente como Johns ele conseguiu criar algo nem ligeiramente semelhante (talvez Johns tenha aparado alguns excessos, vá saber), fato é que esta parece mais uma versão genérica, tirada de qualquer Revista Elseworld da DC, onde sequer a cena pós crédito envolvendo personagens do universo do Superman salva o programa da mediocridade. Espera-se que a segunda temporada corrija alguns equívocos, mas a vocação dos personagens certamente seguirá a mesma

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  • Review | Titans (Episódio Piloto)

    Review | Titans (Episódio Piloto)

    Quase tudo que envolveu a série live-action dos Titãs tem relação com a polêmica, primeiro por conta da escalação da bela atriz negra Anna Diop como Estelar, o que não faz sentido algum, já que a alienígena não tem etnia terráquea, depois, ocorreram críticas ao material de divulgação, excessivamente dark. Pois bem, Titans estreou no dia doze de outubro de 2018, e começa mostrando Ravena (Teagan Croft) lidando com sonhos estranhos. A jovem Rachel sonha com a tragédia dos Grayson Voadores, mas percebe que é só um pesadelo, ainda que isso não fique exatamente claro.

    Não demora até o Detetive Richard ‘Dick’ Grayson ser mostrado, como um policial de Detroit, cidade conhecida pela violência. Brenton Thwaites compõe um personagem tímido e sombrio que se mudou para respirar novos ares e agir de maneira solo. Na sua primeira ação ele é debochado pelos malfeitores, que esperam o Morcego, e responde a esses estímulos com muita violência, e cenas em slow motion dignas da filmografia de Zack Snyder. Aparentemente a influência nefasta do diretor segue viva.

    Aliás, a violência é algo bem comum nesse universo. Rachel, quando decide sair de sua cidade Traverse City e ir para Detroit, se depara com a violência extrema ao ser perseguida por assaltantes, mas também sendo encarada pelos demônios que a cercam nos quadrinhos. Enquanto isso, Koriand’r, uma prostituta que usa cores fortes em seus cabelos e em suas vestes – além de ter olhos verdes-claros, que chamam muita atenção – é mostrada ao lado de um homem morto, no banco do motorista de um carro. O nome que usa, Kory Anders, serve como identidade civil desse ente misterioso e extra-terrestre.

    Ao menos na intimidade da personagem, se vê prosperidade, pois esta contraparte humana estava alocada na cobertura de um hotel luxuoso, por conta da natureza do trabalho que exerce como garota de programa. Ainda assim, esses detalhes são sugeridos e não jogados de forma didática, aliás, ao menos nesse começo, todo o desenrolar dramático é gradativo, o encontro entre os personagens centrais demora a acontecer e ao menos até aqui tudo funciona de forma fluida.

    O capítulo é conduzido por Brad Anderson, acostumado a dirigir longa-metragens em Hollywood como O Operário e Chamada de Emergência. Anderson esbarra nas limitações orçamentárias televisivas, em especial quando coloca Koriand’r/Estelar expelindo seus poderes cósmicos. Soa falso, mas em comparação com outras séries de heróis, não deixa a desejar. No final do episódio há outro uso de efeitos especiais, dessa vez mais acertado, com uma fotografia escurecida que favorece a dificuldade orçamentária típica de alguns programas de TV.

    Mesmo com os pontos positivos, ainda soa estranho apreciar as aventuras dos Titãs com um tom tão violento e sombrio, diferente demais do visto em Os Jovens Titãs, primeira série animada, além de Jovens Titas em Ação! Nos Cinemas. Ao menos se a toada seguir tão bem construída quanto nesse episódio inicial, terá sido essa uma boa e grata surpresa.  No final do episódio, há uma introdução bem legal de Mutano, de forma curiosa e até engraçada, e que deverá ser explorada mais à frente. Até aqui, a parceria de Akiva Goldsman, Greg Berlanti e Geoff Johns conseguiu manter os pés no chão e usar um pouco dos quadrinhos como base de uma discussão bem diferente da proposta clássica de Marv Wolfman e George Perez.

    https://www.youtube.com/watch?v=-PPofXaJ4go

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  • Crítica | Com Amor, Simon

    Crítica | Com Amor, Simon

    Eu odeio o fato do cinema americano precisar ser tão people pleasure business como acabou sendo, ou como foi engenhado pra ser, mesmo. Me refiro a essa parada de satisfazer as plateias a todo custo e evitar desconfortos, ou discussões a ponto de comprometer comercialmente uma franquia inteira, tal como ocorreu com Star Wars: Os Últimos Jedi. É um dos custos do entretenimento. Um dos custos de traduzir prazer em imagens em movimento, ao invés de preservar os culhões de um projeto de Cinema real, oficial. Com Amor, Simon é um projeto de cinema. Arriscado pela sua segmentação de público, raro por não ser mais uma comédia romântica de Nicholas Sparks, e falho por não saber ser tudo ou ao menos parte significativa do que poderia ter sido. Saudades do querido Lionel, de Dear White People

    Não há nada de errado com filmes, ou livros e games criados a partir do próprio marketing que vende-os no mainstream. Nadinha. Como não promover bem, até para um leigo em publicidade, o rótulo de uma “comédia romântica gay”, sendo o “filme” em questão um que não passa disso: Um rótulo, uma promessa. O problema, justamente, é quando a experiência não vai além das estratégias moldadas para a sua promoção; quando o produto se encerra em sua venda, algo que o universo da DC na telona amarga de forma simbólica, na cultura popular atual. Sobretudo, hoje, as pessoas compram muito pela emoção, pela validação social no status do WhatsApp do amiguinho, por exemplo, e foi também nessas peculiaridades da propaganda que Com Amor, Simon se apoiou com malandragem para ser um sucesso passageiro no competitivo mercado de cinema dos EUA, saturado de contos crepusculares sobre a relação de dois gêneros “opostos” que ninguém aguenta mais.

    A história não poderia ser mais previsível em torno de um garoto, branco, hétero (ops) e seus amiguinhos, todos de classe média e que passam pelas mesmas coisas que todo adolescente sob a influência da cultura norte-americana passa: Ansiedade, espetacularização de tudo, desconfiança familiar, estilização dos próprios sentimentos, etc. Curioso é perceber como o cineasta Greg Berlanti tentou florescer a vibe teen John Hughes para retratar os mesmos adolescentes da década de 80 que nunca mudam suas dúvidas, atritos e inseguranças nessa fase de turbulências gerais, aqui representadas na situação que muda tudo para o jovem e simpático (até demais) Simon: A primeira paixonite online (quem nunca, não é mesmo?). A faísca que ascende o motorzinho pra bombear mais rápido o coração virginal é tratada de forma objetiva pela história, até porque o romantismo anda capenga demais, e quando rola o primeiro beijinho sob os aplausos da panelinha, “ah, toda uma geração de LGBT’s jovens vai se sentir representada”, pensaram os marketeiros. E, de novo, eles estavam certos! O filme, ou melhor, o hype construído ganhou uma legião de fãs que só saíram do Tumblr e do Snapchat para irem nos multiplex de shopping glorificar algo que parece ouro, mas é de tolo. Isso é tão pós-moderno que chega a doer.

    Uma esquete de YouTube com um fiapo de roteiro que alongaram por duas horas e que emblema um par de fatores, extremamente atuais: A intolerância levemente menor do grande público por “novas” histórias com arranjos inusitados, devido talvez a falta de originalidade na ultra saudosista Hollywood de 2018, sem contar a verdadeira e cada vez maior não-necessidade dos jovens gays, e de todas as vertentes sexuais, de não precisarem, ao menos no Ocidente, se esconder mais nos armários que seus tios precisaram se refugiar, e onde tanto lutaram para seus sobrinhos não respirarem aquele ar, mofado. Com Amor, Simon encapsula a realidade do romance juvenil hoje em dia de forma realmente plena, sem exagero algum, tendo a noção realista de como as coisas são para os adultos de amanhã, e como certas normalidades se configuram para os que a vivem, algo minimamente esperado para um filme que escolhe debater na sua publicidade, sendo que na estória mesmo é tudo moldado de forma apática e inexpressiva, as paixões e a problemática que qualquer menino gay de dezessete anos é por elas imune de ser assolado.

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  • Review | Supergirl – 1ª Temporada

    Review | Supergirl – 1ª Temporada

    Supergirl 1

    Após ter seu piloto vazado, a primeira temporada de Supergirl daria prosseguimento ao seu seriado, usando parte do visual dos sobreviventes de Kripton visto em  O Homem de Aço, de Zack Snyder. Os primeiros momentos do seriado situam a fuga do planeta condenado, tanto de Kal-El quanto da jovem Kara, que só chegaria a Terra 24 anos após seu parente, envolvida em um estranho evento cósmico que não a permitiu envelhecer. Na vida adulta, enquanto tenta uma carreira na imprensa, Kara Danvers é interpretada por Melissa Benoist, que apesar de sua pouca experiência, compensa com muito carisma, sendo sua performance o ponto alto da série.

    Como era esperado em Smallville: As Novas Aventuras de Superboy, além de outros programas do Canal CW – como Flash 1ª Temporada – há um resgate de atores envolvidos de alguma forma com a franquia, mostrando os pais adotivos da moça interpretados por Dean Cain (o Super-Homem de Lois & Clark: As Aventuras Novas do Super-Homem) e Helen Slater (a Supergirl de 1984), que interpretam Jeremiah e Eliza Danvers, respectivamente. O enfoque é na vida urbana da jovem e as pessoas que a rodeiam, como o belo e seguro fotógrafo James Olsen (Mehcad Brooks), em uma versão mais adulta e sexualizada, deixando de lado o sidekick sem poderes do herói de Metropolis.

    Kara tem como melhor amiga sua irmã de criação, Alex (Chyler Leigh), uma das poucas que sabem o segredo que envolve os seus poderes, e que claramente é avessa à ideia da heroína se aventurar como uma vigilante. Desde o início é exibida uma relação dúbia entre ambas, incluindo uma competição que faz sua irmã delata-la ao Departamento de Investigação de Atividade Alienígena.

    A decisão pelo uso de seu uniforme faz referência direta a uma cena semelhante de Lois & Clark, tendo como parceiro da heroína o seu amigo claramente apaixonado platonicamente por ela,  Winn Schott Jr. (Jeremy Jordan), que a ajuda a escolher a melhor vestimenta.

    Supergirl 2

    O trabalho da moça na revista CatCo Worldwide Media faz todos os arquétipos se assemelharem ao universo do Superman, com a diferença de que Cat Grant (Calista Flockhart), sua editora-chefe, é uma megera insensível que busca no alter ego de sua funcionária um símbolo de adulação, copiando mais uma vez a motivação do Planeta Diário nas histórias do Superman. A impressão dentro do programa criado por Greg Berlanti, Ali Adler e Andrew Kreisberg é aludir aos momentos clássicos do herói de maneira velada, adaptando-o a um estilo mais rápido e ligado ao estereótipo feminino de comédias românticas.

    Já no segundo episódio é apresentada uma disputa entre heroína e vilã, sua tia Astra (Laura Benanti), irmã gêmea de sua mãe, que foi banida para a zona fantasma. Com exceção de Astra, os vilões são bastante genéricos e a jornada da moça super-poderosa é provar ser mais do que a simples prima do Superman, em uma trama de auto-afirmação que combina mais com uma adolescente do que com uma mulher adulta. A subida de popularidade e mostra de seus poderes pouco têm a ver com a importante questão do empoderamento feminino, se assemelhando mais as lamúrias e choramingo de um alguém que ainda não amadureceu, fato que pouco se justifica em razão de todas as desventuras se assemelharem as do herói original, inclusive o fato de ludibriar uma jornalista com olho clínico, trabalhando para ela e usando apenas um óculos como estratégia de disfarce.

    A fragilidade da personagem ajuda a denegrir a representação feminina, além do conceito de garota em apuros, servindo como artifício metalinguístico para as falhas de concepção existentes, assim como o uso indiscriminado de personagens dos quadrinhos executando funções genéricas, como o empresário Maxwell Lord (Peter Facinelli), que serve de Lex Luthor cabeludo e substituto. O Tornado Vermelho, personagem dúbio nos quadrinhos, serve apenas como um capanga qualquer, que evoca na personagem-título lembranças de seu passado e a motiva a se superar, em mais um momento gratuito e sem sentido.

    Para desviar a atenção de problemas no texto, há o mesmo apelo ocorrido em Smallville, com aparições de personagens clássicos, como o kriptoniano Non (Chris Vance), que é par romântico de Astra, e mais tarde com o acréscimo de um arco mais sério e interessante, com o Caçador de Marte, vivido por David Harewood, que se disfarça de chefe de operações Hank Henshaw. Este acaba sendo um dos poucos momentos realmente interessantes dramaticamente, no entanto a trama segue boba, trazendo vilões clássicos, como o Mestre dos Brinquedos, que acaba por passar em National City ao invés de Metropolis, graças ao seu filho Winn, o eterno amigo gay/paixão platônica não correspondida de Kara, além de um grande número de equivalentes vilões do Azulão, sempre pautados pelo desuso dos mesmos nos filmes da Warner.

    Já o desenrolar da trama do Caçador de Marte é bastante interessante, trágica em si e bem mais significativa que qualquer subtrama secundária anterior utilizada. A guerra marciana é bem demonstrada, assim como o trauma estampado no rosto de Harewood, que consegue atuar em nível muito superior aos seus colegas de elenco. Os efeitos visuais também são bem executados nesse caso, assim como o design de produção.

    A sequência de tropeços segue, especialmente após o episódio Bizarro, em que Lord finalmente assume ser a versão copiada de Luthor, não só possuindo sua própria versão estranha da Supergirl, no período próximo de A Morte de Superman, como também criando uma versão mal feita da heroína, que mais uma vez precisa ser um rascunho do real último filho de Krypton.

    Supergirl 5

    Apesar de não ter grandes arcos dramáticos, exceto talvez por reencontros familiares de importância pequena, mora em Cat Grant a personagem mais rica do seriado, superando a personagem-título. A ideia de imitação de Meryl Streep, em Diabo Veste Prada, é deixada de lado para mostrar uma mulher que pode ser uma megera, malvada, autoritária e capaz de sentir empatia mesmo para os que estão patamares abaixo de si. Sua personagem é tão boa e faz tanto sentido que até destoa de todo o drama infantil apresentado. Os limites impostos na relação dela com Kara soam tão maduras que nem parecem pensadas pelo mesmo conjunto de argumentistas que planejam todo o resto.

    Laura Vandervoot, que havia interpretado a contraparte da heroína em Smallville, retorna para um papel vilanesco, como a personagem dos Titãs, Índigo, cuja versão nos quadrinhos é bastante diferente, desde a origem como pseudo-heroína para então se revelar má, tanto quanto ao alvo, já que sua programação era derrotar Donna Troy (a antiga Moça-Maravilha). O uso da kriptonita vermelha é bem semelhante ao de Superman 3, resultando em um pastiche bem oportunista, piorado graças à base terrível do roteiro de comédia de Richard Lester. O resgate a personagens famosos desimportantes segue. Nos quadrinhos, Índigo surgiu como uma heroína e depois se revelou uma vilã. Na série de TV, os produtores descrevem Índigo como um supercomputador vivo e de temperamento forte que foi sentenciado à prisão em Fort Rozz depois de se voltar contra o povo de Krypton.

    No capítulo Manhunter, finalmente se explora o passado do Caçador de Marte, se mostrando a parte mais interessante da temporada, a despeito do protagonismo da Super-Moça. As consequências referentes a ele são mais maduras, assim como a qualidade da construção de background, com um desenrolar mais adulto e discussões mais dramáticas. Já em World Finest, ocorre enfim o crossover com o Flash de Grant Gustin, fazendo também um contato com o canal CW, ainda que os produtores sejam os mesmos para ambas. O conceito de multiverso é apenas arranhado, uma vez que a explicação mais detalhada seria dada no programa do corredor escarlate. De ruim, há o subaproveitamento da vilã Curto Circuito (Brit Morgan), que nos quadrinhos e desenhos animados é uma vilã de terceiro escalão do Superman, e que não sustenta a necessidade de dois heróis alistados contra si, ainda que haja também a exploração tímida da Banshee Prateada, contraparte de Siobhan Smythe (Italia Ricci), que desde sua primeira aparição já guarda uma motivação que rivaliza com Kara.

    O equívoco mais irritante, em meio a tantos dentro desse primeiro ano, certamente é Miryad, que dá nome ao penúltimo episódio e que resume a tentativa de arma química de Astra, feito no início para salvar seu planeta natal através do controle mental de todos, e que é finalmente usado na Terra, em National City, por seu antigo amado Non, em parceria com Indigo e Lord. Os erros começam pela supervalorização da cidade, que até faz algum sentido, visto que não é um município como Metropolis, o qual é um alvo mais difícil de atingir, mas que soa oportunista, pois, exceto ser o cenário da temporada, não há qualquer importância no lugar. O outro erro fundamental é a quase participação do Superman, que também é afetado pelo transe graças a sua criação humana, a mesma que Kara recebeu, mas que ainda assim não mexe com os pensamentos da heroína novata.

    Lord consegue estabelecer laços com os alienígenas, exatamente como o Luthor de Gene Hackman em Superman 2: A Aventura Continua. É curioso como o Lex de Jesse Eisenberg em Batman vs Superman: A Origem da Justiça conseguiu antecipar os logotipos dos futuros heróis da Liga, como se fosse um empresário e assessor em comunicação do super grupo, como era o início do ideal do personagem. Ao menos, nesse final de participação, o papel de Lord passa a ser mais suportável ao atrelá-lo a Grant – em uma relação amorosa platônica forçadíssima, é claro – e na demonstração de uma mudança de caráter e espírito. Uma redenção um pouco incômoda, mas suportável diante dos outros tropeços da temporada.

    A solução encontrada para romper o feitiço dos vilões é pueril, com uma transmissão feita pela heroína, em rede nacional, através de palavras sentimentalóides que recuperam a esperança e razão de cada um dos capturados pela Myriad. As palavras de uma adolescente loira e carismática são suficientes para quebrar um transe planejado pelos opositores, que são da mesma espécie e raça que ela. As concessões, como a ascensão de Lucy Lane (Jenna Dewan Tatum) ao posto de chefe do DEA beira o absurdo, soando extremamente forçado, assim como a batalha final entre Caçador de Marte e Supergirl contra Non e Indigo, com a batalha findando de um modo muito fácil e anti-climático.

    Pouco antes do final, um outro evento intergalático ocorre em National City, fato que faz os dois heróis se atentarem, com mais um cliffhanger que possivelmente não terá grande importância na segunda temporada que já foi confirmada. Apesar do martírio em assistir às desventuras da protagonista e dos demais personagens, o carisma de Benoist consegue tornar o show aceitável.