Tag: Josh Duhamel

  • Crítica | Com Amor, Simon

    Crítica | Com Amor, Simon

    Eu odeio o fato do cinema americano precisar ser tão people pleasure business como acabou sendo, ou como foi engenhado pra ser, mesmo. Me refiro a essa parada de satisfazer as plateias a todo custo e evitar desconfortos, ou discussões a ponto de comprometer comercialmente uma franquia inteira, tal como ocorreu com Star Wars: Os Últimos Jedi. É um dos custos do entretenimento. Um dos custos de traduzir prazer em imagens em movimento, ao invés de preservar os culhões de um projeto de Cinema real, oficial. Com Amor, Simon é um projeto de cinema. Arriscado pela sua segmentação de público, raro por não ser mais uma comédia romântica de Nicholas Sparks, e falho por não saber ser tudo ou ao menos parte significativa do que poderia ter sido. Saudades do querido Lionel, de Dear White People

    Não há nada de errado com filmes, ou livros e games criados a partir do próprio marketing que vende-os no mainstream. Nadinha. Como não promover bem, até para um leigo em publicidade, o rótulo de uma “comédia romântica gay”, sendo o “filme” em questão um que não passa disso: Um rótulo, uma promessa. O problema, justamente, é quando a experiência não vai além das estratégias moldadas para a sua promoção; quando o produto se encerra em sua venda, algo que o universo da DC na telona amarga de forma simbólica, na cultura popular atual. Sobretudo, hoje, as pessoas compram muito pela emoção, pela validação social no status do WhatsApp do amiguinho, por exemplo, e foi também nessas peculiaridades da propaganda que Com Amor, Simon se apoiou com malandragem para ser um sucesso passageiro no competitivo mercado de cinema dos EUA, saturado de contos crepusculares sobre a relação de dois gêneros “opostos” que ninguém aguenta mais.

    A história não poderia ser mais previsível em torno de um garoto, branco, hétero (ops) e seus amiguinhos, todos de classe média e que passam pelas mesmas coisas que todo adolescente sob a influência da cultura norte-americana passa: Ansiedade, espetacularização de tudo, desconfiança familiar, estilização dos próprios sentimentos, etc. Curioso é perceber como o cineasta Greg Berlanti tentou florescer a vibe teen John Hughes para retratar os mesmos adolescentes da década de 80 que nunca mudam suas dúvidas, atritos e inseguranças nessa fase de turbulências gerais, aqui representadas na situação que muda tudo para o jovem e simpático (até demais) Simon: A primeira paixonite online (quem nunca, não é mesmo?). A faísca que ascende o motorzinho pra bombear mais rápido o coração virginal é tratada de forma objetiva pela história, até porque o romantismo anda capenga demais, e quando rola o primeiro beijinho sob os aplausos da panelinha, “ah, toda uma geração de LGBT’s jovens vai se sentir representada”, pensaram os marketeiros. E, de novo, eles estavam certos! O filme, ou melhor, o hype construído ganhou uma legião de fãs que só saíram do Tumblr e do Snapchat para irem nos multiplex de shopping glorificar algo que parece ouro, mas é de tolo. Isso é tão pós-moderno que chega a doer.

    Uma esquete de YouTube com um fiapo de roteiro que alongaram por duas horas e que emblema um par de fatores, extremamente atuais: A intolerância levemente menor do grande público por “novas” histórias com arranjos inusitados, devido talvez a falta de originalidade na ultra saudosista Hollywood de 2018, sem contar a verdadeira e cada vez maior não-necessidade dos jovens gays, e de todas as vertentes sexuais, de não precisarem, ao menos no Ocidente, se esconder mais nos armários que seus tios precisaram se refugiar, e onde tanto lutaram para seus sobrinhos não respirarem aquele ar, mofado. Com Amor, Simon encapsula a realidade do romance juvenil hoje em dia de forma realmente plena, sem exagero algum, tendo a noção realista de como as coisas são para os adultos de amanhã, e como certas normalidades se configuram para os que a vivem, algo minimamente esperado para um filme que escolhe debater na sua publicidade, sendo que na estória mesmo é tudo moldado de forma apática e inexpressiva, as paixões e a problemática que qualquer menino gay de dezessete anos é por elas imune de ser assolado.

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  • Crítica | Transformers: O Último Cavaleiro

    Crítica | Transformers: O Último Cavaleiro

    Existem franquias que conseguem o feito de dividir quase que perfeitamente a opinião do público. Velozes e Furiosos, por exemplo, é odiada por muitos que criticam a falta de originalidade do enredo, que reflete em personagens mal construídos e arcos dramáticos muito frágeis. Ao mesmo tempo, os números estrondosos de bilheteria não deixam dúvidas de que os filmes de Vin Diesel e companhia respiram muito bem obrigado e não têm previsão (e pretensão) alguma de chegar a um final definitivo.

    A mesma coisa acontece com Transformers. A série de filmes chega ao seu quinto episódio ainda deficiente em seus pontos mais criticados. A ausência de uma história a ser contada é tão notória que, em determinado momento já no segundo ato do longa, nos perguntamos o que de fato está acontecendo com os personagens. Na trama, Optimus Prime é dominado por uma força mística oriunda de Cybertron, seu planeta natal. O robô esquece então de sua lealdade aos humanos e dá início a uma empreitada em busca do cajado de Merlin (sim, Merlin!), que seria a chave para fazer com que a humanidade pereça e Cybertron ressurja no lugar do planeta Terra.

    Se não bastasse uma sinopse extremamente fraca, já habitual dos filmes da franquia, desta vez os roteiristas decidiram enterrar o pouco de credibilidade que ainda restava a história dos robôs trazendo para ela um contexto mágico medieval que simplesmente não dialoga de maneira alguma com tudo o que já foi mostrado até hoje para os espectadores de Transformers. Nomes como Merlin, Rei Arthur, e a famosa távola redonda, são repetidos diversas vezes ao longo do filme e o estranhamento com a falta de conexão entre os temas é garantido. Péssima ideia da equipe de roteiristas.

    Mark Wahlberg retorna ao papel do “inventor” Cade. Longe da filha desde os últimos acontecimentos de “A Era da Extinção”, ele se esconde em um ferro-velho junto com os robôs aliados e também os dinobots (que aliás, pouquíssimo aparecem em cena). São apresentados ao público dois novos personagens bastante carismáticos. Jimmy, interpretado por Jarrod Carmichael e Izabella, vivida por Isabela Moner. A última, lembra imediatamente a personagem Laura (X-23), de Logan. A menina é de longe a melhor personagem em cena e renderia excelentes momentos, caso o roteiro soubesse o que fazer com ela. Subaproveitada, em diversos momentos esquecemos da existência da personagem e fica aquela vontade de conhecer mais sobre ela.

    Por outro lado, se existe uma coisa que a saga sabe fazer bem é o trabalho técnico. Dificilmente este filme saíra com as mãos abanando da próxima temporada de premiações. É de cair o queixo a qualidade de som, mixagem, efeitos especiais e design de produção. Em determinados momentos, é preciso extrema atenção para depreender todos os itens que compõem as cenas. Aliás, aí está algo que funciona na direção de Michael Bay. Muitas soluções são meramente visuais e passam ilesas no roteiro. Seu cinema construído sobre múltiplos cortes pode gerar incômodo em boa parte da crítica e público, mas está longe de ser sofrível. É uma pena que o texto não acompanhe o ritmo da edição.

    A trilha sonora de Steve Jablonsky não empolga. O maestro faz uso excessivo do já clássico “baum”, aquele som de suspense que ficou famoso em A Origem e depois foi repetido inúmeras vezes no cinema de ação. Por mais que o sim dialogue com a trama, é praticamente impossível ouvir este som e não relembrar ao menos uma dúzia de filmes que fazem uso do mesmo recurso. Transformes: O Último Cavaleiro conta ainda com a participação de Anthony Hopkins, no papel do excêntrico Edmund Burton.

    Texto de autoria Marlon Eduardo Faria.

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  • Crítica | Um Momento Pode Mudar Tudo

    Crítica | Um Momento Pode Mudar Tudo

    Um Momento Pode Mudar Tudo - Poster BR

    A breve primeira cena de Um Momento Pode Mudar Tudo é suficiente para o público estabelecer a relação de Kate e Evan, casados há quase quinze anos: um idílio amoroso no chuveiro, demonstrando intimidade e harmonia, uma abertura que evita insinuações eróticas.

    O momento de amor é base para o contraste do drama de Kate, diagnosticada com esclerose múltipla. Tentando negar a condição frágil, a ex-pianista evita enfermeiros ou qualquer profissional que a trate como um paciente delicado. Mesmo com um marido dedicado aos cuidados, o casal procura alguém que a ajude diariamente, e Bac, uma jovem impositiva e diferente das demais candidatas, é escolhida como a pessoa ideal para o cargo.

    A história tem leve semelhança com o drama francês Intocáveis, filme que também enfoca uma amizade a partir da relação entre enfermeiro e paciente. Como nessa produção, a relação entre Kate e Bec se compõe entre a amizade e a maternalidade e o choque eventual de gerações divididas: uma vida de casal consolidada e bem-sucedida em contraposição à juventude e suas relações coloridas e a indecisão sobre o futuro.

    O título brasileiro representa erroneamente e com certo exagero um fatalismo que não está presente na trama. A doença de Kate é o evento que modifica sua vida, não se tratando de um momento específico transformador. O avanço da doença altera seu dia a dia, a princípio devido à limitação física; em seguida, com o distanciamento de suas amigas e também pelo afastamento do marido, do qual ela descobre uma traição.

    A relação de mãe e filha se estreita devido à dedicação e à convivência entre as personagens. Bec é a única a tratar a doente como uma pessoa normal. A presença da esclerose gera uma redoma além da limitação física, como se a incapacidade locomotiva causasse temor e preconceito por parte dos familiares, sendo a traição do marido o ápice da quebra harmônica da relação. Um peso que modifica a estrutura amorosa.

    A obra baseada no romance de Michelle Widgen estabelece a amizade como tema central, sem deixar de expor a dificuldade da doença e explorar a frágil questão da eutanásia. Diante de sintomas que cada dia mais tornam o corpo insuficiente, a trama se pergunta se há justiça em prolongar a dor de um paciente ou em aceitar seu pedido para que morra em um momento adequado, enquanto a pessoa mantém a consciência a respeito de seus atos.

    O carisma das personagens – em destaque para o talento de Hilary Swank, grande atriz de poucos papéis louváveis – dá sustentação a esse bonito drama sobre relações humanas em um tom suave mas sensível, sem exagero fatalista ou melodramático.

     

  • Crítica | Transformers: A Era da Extinção

    Crítica | Transformers: A Era da Extinção

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    Quando foi anunciado, em meados de 2005, que o desenho Transformers ganharia uma adaptação para o cinema, ninguém sabia o que esperar. Porém, as expectativas eram as melhores possíveis. Quando o filme chegou às telas, em 2007, até os mais invejosos deixaram de criticar o tuning feito no disfarce de caminhão de Optimus Prime, todo pintado de chamas no melhor estilo hot rod, e passaram a apreciar uma ótima adaptação repleta de ação, humor, com uma trilha sonora certeira, tanto musical quanto orquestrada, além de ter uma história simples porém cativante sobre um jovem apaixonado pela garota mais popular do colégio e que precisa tirar notas boas para comprar seu primeiro carro.

    Infelizmente, mesmo a franquia se sustentando pelos sucessos de bilheterias das continuações Transformers: A Vingança dos Derrotados e Transformers: O Lado Oculto da Lua, os filmes foram um fracasso. Além de dois roteiros fraquíssimos, a relação entre o diretor Michael Bay e o elenco principal parecia ter se esgotado, uma vez que trabalhar com Bay não é uma das tarefas mais fáceis. Tal esgotamento resultou na demissão da atriz Megan Fox que havia, inclusive, iniciado as filmagens do terceiro filme.

    Logo após a estreia de O Lado Oculto da Lua, um reboot foi anunciado. Os robôs, obviamente, permaneceriam, mas todo o elenco seria trocado, o que permitiu que Transformers: A Era da Extinção fosse tratado como uma continuação dos três anteriores. E a mudança fez bem, mas não tão bem assim. Com uma história convincente, porém quase copiada da relação familiar mostrada em Armageddon (também de Bay), do pai-ciumento-que-faz-tudo-pela-filha-mas-que-descobre-que-ela-namora-e-nem-é-tão-santa-assim, o filme tem um péssimo terceiro ato que quase estraga toda a empolgação.

    Cade Yeager (Mark Wahlberg) é um mecânico, inventor e caçador de relíquias falido que tem o sonho de ser reconhecido pelo seu trabalho para poder pagar os estudos de sua filha Tessa (Nicola Peltz). Além de consertar aparelhos eletrônicos dos vizinhos, o que lhe rende pouquíssimo dinheiro, Cade vive comprando coisas velhas que as pessoas não usam mais com o objetivo de inventar alguma coisa, cuja patente lhe deixaria milionário. Sua vida muda quando, ao visitar um cinema abandonado no Texas, se interessa por um caminhão velho e destruído e o compra por 150 dólares. Durante o conserto do caminhão em seu celeiro (muito bacana, por sinal), Cade percebe que o sistema mecânico daquele caminhão é completamente diferente e que, portanto, poderia se tratar de um transformer. Após algumas noites em claro, consegue consertar e ativar Optimus Prime (novamente na voz de Peter Cullen), que agora passa a ter uma dívida com Cade. Optimus envia uma mensagem ao restante dos Autobots sobreviventes e consegue se reunir ao sempre carismático Bumblebee e aos novos Autobots: Autobot Hound (na voz do grande John Goodman); Autobot Drift (na voz do ótimo Ken Watanabe), um Autobot samurai (sim, um samurai); e Autobot Crosshairs (voz de John DiMaggio).

    Paralelo a estes acontecimentos, somos apresentados a um grupo secreto do governo muito semelhante à equipe Nest liderada pelo personagem de Josh Duhamel na primeira trilogia. Porém, esta equipe trabalha ao lado do transformer Lockdown (voz de Mark Ryan), caçando e matando Autobots ao redor da Terra. Com os adventos negativos da batalha em Chicago de Transformers: O Lado Oculto da Lua, o governo decidiu não contar mais com a ajuda dos Autobots, obrigando os robôs a se refugiarem e a se disfarçarem, o que explica a mudança de visual de Optimus e Bumblebee.

    Também somos apresentados ao cientista Joshua Joyce (Stanley Tucci) e seu sócio de negócios Harold Attinger (Kelsey Grammer). Joyce é uma espécie de Steve Jobs da indústria armamentista e que vem conseguindo criar seus próprios transformers baseados no “DNA” dos robôs capturados por Lockdown. Tem como objetivo criar transformers em larga escala e vendê-los para outros países. Já Attinger tem uma mente maligna e trabalha ao lado de Lockdown, liderando à distância a equipe de caça em busca de Optimus Prime, que detém a Semente, uma espécie de matéria-prima que, se detonada, se torna uma fonte inesgotável para a construção dos robôs de Joyce.

    Com esses três núcleos de personagens, o roteirista Ehren Kruger, que retorna à franquia desta vez assinando o filme sozinho, consegue amarrar uma história convincente, convergindo estes núcleos de forma inteligente e bastante justificável. Não há nada de errado no fato da família de Cade estar envolvida numa trama em que um robô mercenário – que tem como esporte aprisionar líderes dos planetas em que passa – fecha um “contrato” com humanos que concordam em entregar o líder dos Autobots em troca da Semente.

    As cenas de ação são muito boas e o destaque fica para a perseguição aos Autobots, onde os transformers dos humanos são ativados pela primeira vez e liderados por Galvatron, que foi criado tendo Megatron como base, o que demonstra timidamente o que poderá vir numa eventual continuação. Com isso, a parte de humor também é boa e sobra até para Optimus uma piada. A cena em que Bumblebee, que não gosta nem um pouco de ser chamado de lata velha, encontra o transformer que foi criado a partir de sua base é espetacular. É sempre bom poder rir com um robô amarelo e temperamental (entenderam?).

    Infelizmente, o terceiro ato é ruim e repete os mesmos erros dos dois filmes anteriores, pecando pelo excesso. Chega a ser chata essa mania de Bay em querer que o filme seja maior e mais épico possível, algo que não contribui em nada para o desenrolar da trama. É tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo que Bumblebee simplesmente desaparece numa determinada parte. O sentimento é de enganação, o que também pode levantar a suspeita de que o filme sofreu problemas em sua produção, já que se nota claramente que os dois primeiros atos fazem parte de um ótimo e promissor filme, sendo o terceiro ato parte de um péssimo filme. A diferença chega a ser tão gritante que Joshua Joyce, antes tido como um gênio da indústria moderna, um personagem carismático que não se sabe em que lado está, seja reduzido a um personagem engraçadinho e insuportável, dez vezes pior que o agente Simmons, vivido por John Turturro na trilogia original. Até a presença dos Dinobots no filme poderia ter sido descartada se os Autobots, de fato, não estivessem precisando de ajuda. O curioso é a maneira como se responde à questão da existência de robôs-dinossauros no filme, sendo a resposta a mais simples e óbvia possível.

    Quanto à direção de Bay, mais do mesmo. Estão lá as competentes cenas de ação, as cenas feitas em contraste com o pôr-do-sol, assim como as cenas em câmera lenta. Embora seja muito criticado por sempre repetir a mesma fórmula, inclusive por copiar aquilo que deu certo (e o que deu errado, também) e por ser exagerado, Bay ainda é um dos poucos diretores em Hollywood que, obviamente com exceção dos robôs, ainda trabalha com cenários reais e efeitos práticos, além de colocar seus atores dentro de explosões e situações de perigo reais, sem o uso de dublês. o 3D é competente e a experiência, de fato, vale o ingresso, o que é muito raro.

    Apesar do terceiro ato e dos longos 165 minutos de fita, Transformers: A Era da Extinção tem um saldo positivo, mas por pouco. O novo elenco e os novos personagens injetaram um pouco de ânimo à franquia. A jovem atriz Nicola Peltz e Jack Raynor, que faz o namorado de Tessa, Shane, são apáticos, mas Mark Wahlberg, com seu personagem carismático, e Stanley Tucci conseguem carregar o filme nas costas. Seria bastante interessante se, em algum momento, acontecesse um encontro entre Sam Witwicky, da trilogia antiga, e Cade Yeager.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Crítica | Um Porto Seguro

    Crítica | Um Porto Seguro

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    Não sou leitor de Nicholas Sparks. Conheço suas obras das adaptações cinematográficas, mas admiro seu entusiasmo. É um autor popular que vem compondo sua obra tendo como elemento principal o romance, sem nenhum medo de trabalhar com clichês e, a partir deles, produzir sua narrativa.

    Um Porto Seguro é a mais nova adaptação de sua obra, composta para conquistar tipos diferentes de público. A trama inicia-se com uma perseguição policial, criando um mistério que se desenvolve em paralelo com a história de amor, como se o autor unisse dois polos diferenciados em um mesmo elemento narrativo.

    Katie é uma garota misteriosa que foge de sua cidade até a pequena Southport, na Carolina do Sul, para recomeçar a vida. Mesmo evitando qualquer laço emocional, se envolve com Alex, um comerciante local, e, como costumeiro em histórias do gênero, o passado virá à tona como conflito.

    Não deve se assistir a uma produção do gênero esperando um arroubo de criatividade. As histórias de Sparks – e, basicamente, a maioria dos romances – são formatadas para se parecerem de alguma maneira. Dentro de um universo água com açúcar, há a quantidade necessária de conflito que se equilibra no mistério anterior vindo do passado, uma situação presente que dificulta a relação do casal e reviravoltas que, sem medo de utilizar clichês, se apresentam de maneira óbvia mas de forma que o espectador tão envolvido pela história não se importará.

    Sparks não tem medo de dar um golpe de realidade em seus românticos universos oníricos, seja uma história misteriosa a ser desvendada como nessa trama, uma amnésia traumática em Para Sempre ou uma doença degenerativa como em Diário de Uma Paixão. Nunca negando o estilo romanceado e os clichês, a maneira que compõe seu tecido narrativo de perfeição destruída pela realidade dá um novo fôlego para um gênero normalmente repetitivo.

    Evidente que não é a produção que agrada aquele que não suporta assistir filmes de romance. Mas satisfaz tanto quem gosta do gênero como não incomoda quem só está acompanhando alguém em uma sessão de cinema a dois. E isso é o suficiente para se compreender que, mesmo popular, Nicholas Sparks tem um talento em construir suas narrativas de amor.

  • Crítica | Fogo Contra Fogo (2012)

    Crítica | Fogo Contra Fogo (2012)

    fogo contra fogo - 2012
    O argumento é conhecido do público e, provavelmente, foi assistido anteriormente. O bombeiro Jeremy Coleman presencia um crime racial e decide colaborar com a justiça identificando o culpado. Devido a periculosidade do acusado, líder de um grupo de orgulho branco, Jeremy entra no programa de proteção as testemunhas que se mostra ineficaz quando o líder decide persegui-lo e matá-lo por colaborar com a lei.

    Fogo Contra Fogo utiliza o mesmo título de um grandioso filme de Michael Mann e qualquer comparação permanece apenas no nome. Além da evidente batalha das personagens, o título alude a profissão da personagem, um bombeiro competente, que gosta da profissão e da irmandade em torno dela, mas que decide deixar sua vida para lá para ajudar o delegado Mike Cella. Após sofrer um ataque de um assassino profissional a mando do líder do orgulho branco, o bombeiro decide retornar a cidade da qual foi afastado pela proteção de testemunhas e fazer justiça com as próprias mãos.

    Produzido diretamente para a televisão, a trama não apresenta nada de novo, nem ao menos intenta ser uma repetida história funcional. O ator Bruce Willis é o grande chamariz da história, vendida de maneira errada como um filme do astro. Willis aparece em poucas e inexpressivas cenas. Nem tendo o trabalho de realizar o seu papel padrão de policial.

    A história acompanha a vingança do bombeiro de maneira burocrática, indo dos peões até chegar no grande chefão. Exceto por uma cena de tiroteio que a câmera viaja com a bala, não há nada de novo também na direção. Rosário Dawson que faz par amoroso com a personagem, está presente como função estética, fazendo o papel da mulher pela qual se deve lutar.

    É impressionante como uma produção deste calibre conseguiu chegar as telas brasileiras. Utilizando a potência de Willis, sempre convidativo ao seu público, e aproveitando as semanas que antecedem o lançamento de mais um filme da série Duro de Matar, para tentar conquistar alguma bilheteria.

    Desde já selecionado para figurar na lista das piores estreias deste ano.