Depois de uma temporada inicial apoteótica, The Mandalorian retorna em 2020 repleta de expectativas por parte dos espectadores e da crítica. O destino do caçador de recompensas e da criança que lhe serve de parceiro e pupilo é explorado em cenários que lembram os bons momentos dos western spaghetti, e claro, aventuras de ficção científica.
Em menos de dez minutos do primeiro episódio, Din Djarin se mete em um cenário de luta livre com diversos personagens alienígenas já conhecidos, inclusive os “suínos” gamorreanos que serviam de guardas de Jabba brigando e arrumando confusão. A sensação de que se expandiu o mundo introduzido em Uma Nova Esperança na cantina de Mos Eisley segue viva, claro, com pitadas do novo cânone e muitas referências a The Clone Wars e Rebels.
Jon Favreau sempre disse que era um apaixonado pela trilogia clássica e tudo que foi produzido a respeito da saga, e isso se vê tanto na escolha de estender essa parceria com Dave Filoni, responsável pelas séries animadas em 3D que se localizavam entre os filmes, como também no retorno aos cenários clássicos e no uso de feitos visuais práticos, como era nos longas dos anos 70 e 80. O cuidado em dar volume e substância aos confins e subúrbios da galáxias fomenta a importância da jornada estabelecida entre o Mandaloriano e a criança, resultando numa boa releitura dos mangás do Lobo Solitário.
A estrutura dos episódios segue a mesma da primeira temporada: há uma linha guia, mas alguns episódios são ligados a questões pontuais. A presença de velhos conhecidos dos fãs permanece neste ano, ainda que ocorra de forma breve. Essas aparições garantem fôlego a série e dão um pouco da dimensão do quanto o antigo universo expandido maltratou os personagens, especialmente Boba Fett, embora haja um resgate de elementos de quadrinhos antigos do selo Legends como em Boba Fett: Engenhos da Destruição e Jango Fett: Temporada de Caça.
Entre os diretores dos oito episódios, há de destacar Bryce Dallas Howard, que rege de maneira ainda mais firme do que havia sido na primeira temporada em The Sancturay, e também Robert Rodriguez, que produz um capítulo curto, mas repleto de ação e diversão, fato que rendeu ao diretor de Alita: Anjo de Combate a produção executiva da nova série da Disney +, The Book of Boba Fett. A presença de Rosario Dawson também é ótima, finalmente trazendo à luz um personagem que só tinha aparecido em versão animada.
Os dois episódios finais são frenéticos, mostram boa parte dos personagens secundários com muito destaque, além de conter boas referências ao cinema recente, como uma clara alusão a cena do jogo de adivinhação em Bastardos Inglórios, e claro, o resgate a um conceito do universo expandido, os robôs de combate Dark Troopers. Para quem gosta de Star Wars,The Mandalorian é um prato cheio. Simples, direta, divertida e cheio de personagens carismáticos.
Meus amigos, a Disney não está para brincadeira! A data de dez de dezembro de 2020 poderá entrar para uma das principais da história desta gigante do entretenimento, já que foi o Dia dos Investidores da Disney, onde a “empresa do Mickey Mouse” apresenta para seus investidores seus projetos futuros. Foi uma maneira agradável de dizer que o seu dinheiro será empregado pesadamente em produções audaciosas para o público em geral, que envolve a Disney propriamente dita, a Pixar, Marvel e Lucasfilm com o universo de Star Wars.
De fato, o que se viu foi que a Disney investirá pesado no seu canal de streaming, o Disney+, demonstrando querer viver não só do passado, mas de um futuro bastante promissor. Inclusive, o evento aproveitou para mencionar o sucesso estrondoso do canal que já está próximo de bater a meta que estava prevista para daqui 4 anos.
Mas nem tudo são flores, uma vez que diversos projetos poderão sofrer cancelamentos ou mudanças em suas trajetórias. Falaremos isso em um texto mais específico.
Aqui nós acompanharemos o que vem por aí no mundo criado por George Lucas em Star Wars.
É inegável o sucesso de The Mandalorian, a série desenvolvida por Jon Favreau e Dave Filoni, que conta a história de um caçador de recompensa mandaloriano que, durante um serviço, resgata um bebê da mesma raça do mestre Yoda e que também é sensitivo na Força. As aventuras de “Mando” são leves, engraçadas, recheadas de ação, possuindo tudo que um velho fã de Star Wars quer. Importante dizer que a série foi o termômetro para diversas outras produções anunciadas.
ROGUE SQUADRON
Um dos anúncios mais importantes da noite foi o do tão aguardado novo filme de Star Wars: Rogue Squadron. Seguindo a linha de Rogue One e Solo, Rogue Squadron acompanhará o esquadrão de elite da aviação da Aliança Rebelde. A direção ficará a cargo de Patty Jenkins (Mulher-Maravilha), que disse que gostaria de fazer o maior filme sobre pilotos de guerra já feito. Rogue Squadron tem previsão para chegar aos cinemas em dezembro de 2023.
OBI-WAN KENOBI
Outro ponto alto da noite foi a confirmação oficial da produção da série de Obi-Wan Kenobi, ganhando título oficial, a confirmação do retorno de Ewan McGregor na pele do mestre Jedi, além do grande retorno de Hayden Christensen como Darth Vader. O seriado se passará 10 anos após os eventos de A Vingança dos Sith e, segundo a diretora Deborah Chow, a galáxia se tornou um lugar perigoso com a ascensão do Império e tem pessoas caçando cavaleiros Jedi. Obi-Wan precisará lidar com isso e ainda proteger o jovem Luke Skywalker.
AHSOKA
Após aparecer lindamente interpretada por Rosario Dawnson na segunda temporada de The Mandalorian, Ahsoka Tano ganhou uma série para chamar de sua. Assim como em Mandalorian, Ahsoka será capitaneada por Jon Favreau e Dave Filoni e trará novamente Dawson na pele da guerreira Jedi que deve continuar vasculhando a galáxia em busca de seu amigo Ezra Bridger e do Almirante Thrawn, desaparecidos ao final de Star Wars: Rebels.
RANGERS OF THE NEW REPUBLIC
Assim como Ahsoka, este outro derivado de The Mandalorian, também contará com a batuta de Favreau e Filoni e como o próprio nome já diz, mostrará os oficiais da Nova República. Em Mandalorian já vimos alguns deles pilotando X-Wings e colhendo informações em terra.
ANDOR
Andor é uma série que já está em estágio avançado de produção, tanto que foi divulgado um vídeo com cenas das filmagens e bastidores da produção. No vídeo, podemos perceber que é uma série que está investindo pesado em cenários, figurino e criaturas. Andor é sobre o personagem Cassian Andor, vivido por Diego Luna, que também assina a produção executiva da série. Andor foi o responsável por recrutar Jyn Erso para a Aliança Rebelde nos eventos de Rogue One: Uma História Star Wars.
LANDO
Lando Calrissian também ganhará sua própria série, mas não se sabe em qual momento ela se passará e nem se Donald Glover ou Billy Dee Williams, que fizeram o personagem nos cinemas, retornarão.
THE BAD BATCH
Se fôssemos traduzir esse nome, poderíamos dizer que um bad batch é um lote com defeito. A nova série animada de Star Wars teve seu primeiro trailer divulgado e se passará durante as Guerras Clônicas e talvez, logo após de A Vingança dos Sith. Bad Batch já teve um arco criado por George Lucas em Clone Wars. Segundo o criador, ele gostaria de explorar a ideia de que alguns dos clones fossem um pouco mais únicos que os outros, com habilidades um pouco mais especiais, formando assim uma unidade de forças especiais de batalha.
The Bad Batch teve seu primeiro trailer divulgado e o que se pode esperar é muita ação nessa série animada que será a substituta de Clone Wars.
VISIONS
Talvez o projeto mais diferente apresentado, Visions explorará o universo criado por George Lucas em curtas animados, sendo que, seu diferencial será a forte influência do anime japonês, com diversos especialistas envolvidos no projeto.
Para quem quiser pesquisar, num passado não muito distante, um trecho de uma animação japonesa de uma batalha espacial travada entre pilotos do Império e da Aliança Rebelde viralizou nas redes. Existe grandes chances de Visions ter nascido após esse vídeo.
THE ACOLYTE
Uma série com pegada de suspense e mistério, desenvolvida por Leslye Headland, responsável pelo ótimo Boneca Russa, e que acompanhará a época final da Alta República, com a ascensão dos poderes do Lado Sombrio. Poderemos ver muitos sabres de luz e diversos embates entre Jedi e Sith.
Também foi confirmado que Taika Waititi dirigirá um filme inédito, inesperado e único no universo da franquia. O cineasta que cuida dos filmes do Thor no Universo Cinemático Marvel, já dirigiu episódios de The Mandalorian.
Em 1998 Spike Lee unido ao estúdio Touchstone trouxe à luz uma obra que juntava uma temática que ele estava acostumado a abordar: a emancipação do negro americano junto às dificuldades de se ver livre para fazer o que quer, e o basquetebol, esporte que sempre amou do qual é apaixonado e devoto. Antes mesmo de começar seu drama ele passeia pelas quadras do país, especialmente em lugares carentes, mostrando meninos, meninas, homens e mulheres jogando basquete, em uma apresentação linda, acompanhada da bela música de Aaron Copland, em um exercício de slow motion que emula bem os momentos épicos de Sam Peckinpah.
A história mostra Jesus, personagem de Ray Allen que se tornaria profissional da NBA, um jovem garoto que no colegial já tem talento o suficiente para chamar a atenção de olheiros das ligas profissionais. Aparentemente o garoto está jogando seu talento fora, graças à rebeldia que seu trágico passado causou – seu pai foi preso, por assassinar sua mãe – e para convencê-lo a jogar pela universidade do estado, a Big State (uma faculdade ficcional), Jake Shuttlesworth é liberado em condicional, tendo uma semana para convencer o filho, mesmo não tendo qualquer relação com ele desde que foi para a prisão.
O modo como Lee conta sua história passa por ângulos obtusos, a câmera passeia pelos cenários e registra ângulos bem improváveis de seu elenco, em especial quando eles se exercitam, e para isso, não é nem preciso que Allen ou Denzel Washington (que faz Jake) estejam em tela. Essas sensações, sejam na figura do velho ou do novo Shuttlesworth, passam pela música não incidental do Public Enemy, que permeiam o filme inteiro, sobretudo nas disputas e nos créditos finais. Aliás, o modo como o realizador registra o jogo nas quadras de rua assusta. Não só pela poesia das imagens, que em alguns pontos faz tudo parecer um balé no asfalto, como pela plasticidade nos detalhes e closes nos jogadores. Além disso, o cineasta brinca com formatos, evoluindo o quadro de misturar momentos em estilo documentários com quebras da quarta parede, numa espécie de mescla entre seus filmes mais jornalísticos como Kobe Doin’ Work e seu longa de estréia, Ela Quer Tudo.
Toda a história familiar é bem desenrolada, seus detalhes são escrutinados de maneira positiva em determinado ponto da trama, mas fora esse artifício, o roteiro se desenrola bem no que tange o emocional. Mesmo as questões primordiais do filme, como a rejeição natural que Jesus tem por seu pai são bem desafiadas, já que Jake é uma pessoa fácil de gostar, tão repleto de carisma que se torna irresistível para os que o cercam. Os fantasmas do passado são pesados demais parar serem ignorados.
As atuações dos personagens de apoio são boas, com destaque positivo para Milla Jojovich, que vive a garota de programa Dakota, e Rosario Dawson, que faz Lala, um dos interesses românticos do rapaz. As descrições dos momentos vividos por essas personagens aparecem como cenas avulsas, coladas em meio a trama do roteiro de Lee como esquetes separadas da trama central, permitindo assim aos intérpretes adicionarem camadas e mais camadas à atuação, fazendo dessa Coney Island palco para um teatro de sonhos e decepções, algumas inerentes à vida comum e outras que fogem completamente do ordinário.
No apartamento barato que aluga, Jake gasta seu tempo entre receber visita dos policiais corruptos que o pressionam e os treinamentos de domínio com a velha e surrada bola que tem, consistindo basicamente dele jogando a mesma contra parede para afiar seus reflexos de novo, como se precisasse, como se não tivesse mentalmente todas as formas de ir em direção à cesta, ou de dominar em jogo em suas mãos. O artifício que emprega visa isolar os próprios ouvidos do barulho incômodo do quarto ao lado, e ajuda ele a relaxar para finalmente lidar com seus demônios.
Todo o número envolvendo a apresentação da Tech University (outra universidade fictícia) é por si só surreal. Desde a apresentação com os veteranos, que são recebidos por dúzias de garotas brancas lindas e dadas, até a conversa com o bizarro treinador Billy Sunday de John Turturro, que brinca entre a sedução do inocente estudante e as rezas dadas à figura mítica e messiânica de Cristo, que estão presentes no nome de batismo do aspirante a jogador. Lee acerta demais ao mostrar o ambiente sedutor e errático das universidades com possíveis jogadores, não só no cunho sexual, como também no aliciamento, e nisso, nem o antigo Blue Chips de William Friedkin ou o mais recente Amador acertam tanto quanto na jornada que Jesus tem.
Allen tem uma apresentação digna. Até fora de quadra ele atua consideravelmente bem, consegue apresentar uma face dramática intensa e forte quando contracena com a Lala de Dawson, além de fazer um bom dueto com a figura do mentor inesperado. O trágico e deprimido homem que tem pouca consideração sua, transita pelas ruas sujas de Coney Island com roupas de treino de basquete basicamente por não ter nada, a não ser o jogo que tentou ministrar ao seu filho. Algum sucesso ele teve, afinal, já que a grande escolha de Jesus teve a ver com o conselho de seu progenitor.
O um a um que pai e filho jogam é uma disputa ideológica e familiar pesada, carregada de sentimentos e significados. A carga emotiva certamente acerta em cheio quem visualiza a história, como um chute de três pontos bem dado, na final de um campeonato, semelhantes aos que Allen fez durante sua boa carreira na universidade e na NBA. Mais do que isso, é a prova de que o homem pode evoluir, pode treinar e se aprimorar para melhorar não só a si, mas também os seus. Jake se vê numa posição de ter de alguma forma de liberdade, e os momentos tensos e imediatos antes dos créditos finais brincam com as barreiras metafísicas, dando a pai e filho uma relação mais forte que a realidade tangente.
Mulher-Maravilha: Linhagem de Sangue se inicia com o piloto Steve Trevor, caindo próximo da ilha paradisíaca onde Diana, Hipolita e as outras amazonas vivem.
Há muitas semelhanças narrativas entre Linhagem de Sangue e Mulher-Maravilha, de Patty Jenkins. A origem da heroína é abordada de modo muito semelhante. Ao contrário do que se pode pensar, os diretores Justin Copeland e Sam Liu não tem muita pressa em desenvolver seu arco de aventura, mesmo este sendo mais um filme com uma duração de pouco mais de 80 minutos, o que se vê é uma abordagem mais séria, embora não deixe o divertimento de lado.
Este é o melhor filme animado em tempos nas adaptações da DC, superior visualmente até mesmo A Morte do Superman e Reino do Superman. As cores são vivas, os movimentos dos personagens tem fluidez e as lutas possuem um dinamismo que não se vê em outras animações recentes da DC Comics. Mesmo os olhos e faces dos personagens são diferenciados daqueles vistos nos filmes de Liu e Jay Oliva.
O longa se desenvolve com a estadia da personagem no mundo dos homens, e nesse ínterim começa uma trama paralela, dela com Vanessa, uma adolescente que vai mudando de cabeça e pensamento ao longo da história. A utilização de Nessie como um exemplo de como jovens meninas viam Diana é inteligente, não só por conta do uso dela nesse contexto, mas também para aludir que por mais heroica que seja a Mulher-Maravilha, ela não é a prova de falhas.
O desenvolvimento da amizade para a decepção com o ícone que a amazona representa é bastante apressada, mas não chega a desabonar por completo o texto de Mairghread Scott. O ponto fraco da obra realmente são as vilãs, que aparecem e desaparecem de modo repentino e oportunista. O final apressado e atrapalhado não colaboram, e a batalha final soa confusa, repleta de clichês e de lutas que não seguem a tônica do restante da obra, ainda assim vale conferir pela forma como a origem é restabelecida, além da dublagem de Rosario Dawson como protagonista.
A versão estendida do filme codirigido pelo mexicano Robert Rodriguez e o roteirista de quadrinhos Frank Miller começa com a história do Bastardo Amarelo, narrada em primeira pessoa pelo policial Hartigan, de Bruce Willis, característica que remete à obra original de Miller e os típicos policiais noir. Hartigan é o herói falido, o homem capaz de morrer a qualquer momento, graças a velhice e seu problema cardíaco que se agrava. Constantemente ele tem que convencer a si mesmo que é capaz de superar seus problemas.
A historia é violenta, mas tem um lirismo impar. A escolha da dupla de diretores pela filmagem que destaca o preto e branco, com pequenas notas coloridas – em especial o vermelho, seja do sangue, do batom das beldades ou dos vestidos. Por sua vez, no decorrer do longa, alguns personagens também ganham cores. O simbolismo indica de maneira sentimental quem é especial e quem é descartável. Dos filmes que Rodriguez dirigiu ate então, esse pode não ser aquele que possui o melhor roteiro (difícil ignorar a trilogia Mariachi e seu tom épico), mas certamente é o mais prosaico e filosófico. Incrível como uma história urbana e moderna, localizada em uma cidade imunda e repleta de pecados poderia falar tanto sobre os detalhes da intimidade do homem e da dificuldade dele em envelhecer e perceber que é falível. Tal qual as peças de Shakespeare, o amor, seja sexual ou paternal é acompanhado de dois fatores: a violência, vista não só neste tomo com Hartigan, mas em todos os outros capítulos, assim como o segundo fator, a tragédia, que recai sobre o protagonista.
Em O Cliente Tem Sempre Razão existe a cena que antes abria o filme, com o personagem de Josh Hartnett, assassinando as duas mulheres interpretadas por Marley Shelton (The Customer) e Alexis Bledel (Becky). Um exterminador de anjos. Essas duas cenas foram as que mais perderam, pois fora do contexto em que eram apresentadas, elas não fazem sentido, em uma perdendo a força e na outra antecipa boa parte da história que virá.
O Difícil Adeus tem Marv, de Mickey Rourke, como protagonista. O ogro, que só tinha relações sexuais por dinheiro tem em suas mãos Goldie (Jaime King) , uma mulher que se entrega e ainda é uma deusa para seus olhos. De novo as cores determinam o que é especial, a colcha onde o amor se estabeleceu, os cabelos ruivos da musa e sua pele, ainda que morta. A obsessão de Marv é só uma: encontrar o responsável pelo assassinato de Goldie. Marv se vê entorpecido pelos fantasmas de sua própria mente.
A Grande Matança tem um início despretensioso, com Shellie (Brittany Murphy) discutindo com seu ex, Jackie Boy (Benicio Del Toro), onde o sujeito era violento com a garota, que agora está acompanhada de Dwight (Clive Owen). Em comum com as outras histórias, existe a questão do herói se deparar com um vilão bobo, mas influente, fato que só vai ser revelado mais tarde, após introduzir à Cidade Velha e suas habitantes, as meninas de Gail (Rosario Dawson). A figura esquisita de Jackie faz lembrar um monstro dos filmes de horror do expressionismo alemão.
Jackie Boy é morto por um golpe de espada. Na cidade antiga a guerra se instalaria e na ânsia por resolver o problema que ele mesmo trouxe, Dwight tenta em vão solucionar o problema sozinho, mesmo que existam evidências suficientes para provar seu fracasso. No caminho, ele demonstra uma predileção para a insanidade ou para mediunidade, conversando com um detetive morto. Após esses eventos, o justiceira revela suas tendências suicidas, mas ele ainda tem missões a cumprir.
O amontoado de cenas de ação no final causa frisson, o ritmo que se acelera deixa o público com expectativa por mais violência gráfica e mortes plasticamente belas. O torpor das belas mulheres é compartilhado com quem assiste, e é uma sensação ruim perceber que o longa acaba, mesmo com 140 minutos de história, pois caberia mais historia e mais episódios como esses, que não encontraram na continuação, Sin City 2: A Dama Fatal um filme que fizesse jus ao original.
Após a estreia de Agentes da S.H.I.E.L.D, a primeira vez que se teve notícia de um novo seriado em que heróis da Marvel que não apareceriam no UCM – Universo Cinematográfico Marvel foi em 2013, quando foi anunciada uma parceria entre a Disney e a Netflix. Seria produzido então, uma temporada para maiores com um dos heróis mais queridos da Marvel: o Demolidor. A ideia era desenvolver a série do homem sem medo, respeitando a sua essência apresentada nos quadrinhos, se afastando e colocando, de vez, uma pá de cal por cima do túmulo da adaptação estrelada por Ben Affleck. Obviamente, o projeto não era simplesmente trazer o Demolidor para as telas, mas fazer com a Netflix o mesmo que a Marvel fez nos cinemas, criando um bloco maciço de heróis, com seus filmes solo e, consequentemente, colocando esses heróis juntos em tela, como aconteceu com os Vingadores. Tinha como objetivo reunir os Defensores para uma grande temporada. Além de Demolidor, que, à época, ganhou duas temporadas, Jessica Jones teve seus momentos de glória, assim como Luke Cage e, posteriormente, Punho de Ferro.
Os primeiros trailers levaram o público à loucura, principalmente por causa da trilha sonora, embalada pelo contrabaixo e guitarra característicos, somada à voz única de Kurt Cobain em Come As You Are, uma clássico do Nirvana, e também pela interação entre Matt Murdock, Jessica Jones, Luke Cage e Danny Rand, personagens com características e humores extremamente heterogêneos, que nas imagens rendiam diversas alfinetadas e zoações, principalmente vindas de Jones, que quem a conhece sabe que se trata de um ser insuportável (no bom sentido).
Era tudo tão promissor que a decepção, infelizmente foi alta.
Os personagens seguem suas vidas exatamente dos pontos em que elas pararam em seus próprios seriados. Danny Rand, o Punho de Ferro (Finn Jones), continua viajando pelo mundo, junto de sua escudeira, Colleen Wing (Jessica Henwick), caçando o Tentáculo, sendo que, em sua última empreitada, o coloca de volta a Nova Iorque para uma investigação. Luke Cage (Mike Colter) deixa a prisão e volta para o Harlem, onde fica sabendo que jovens do bairro estão desaparecendo misteriosamente. A detetive particular Jessica Jones (Kristen Ritter) recebe uma ligação misteriosa sobre o desaparecimento de um funcionário de uma empresa que pode estar metida num perigoso empreendimento. Tudo isso acaba chamando a atenção da policial Misty Knight (Simone Missick), que prende Jones. É quando o advogado Matthew Murdock (Charlie Cox) entra em cena para defender a heroína mal humorada. Enquanto isso, somos apresentados a quem parece ser a principal vilã da série, Alexandra, vivida de maneira espetacular por Sigourney Weaver, e que parece ser a líder do Tentáculo, que até então não tinha aparecido em cena.
Infelizmente demora para vermos todos os heróis juntos em cena. Claro que eles se encontram de maneira separada e isso rende bons momentos, como a primeira vez que Luke Cage enfrenta o Punho de Ferro, mas não demora muito para percebermos que os quatro, na verdade, estão investigando o mesmo assunto, que envolve aquele enorme buraco no chão que vimos na segunda temporada de Demolidor.
Infelizmente, a série tem sérios problemas de ritmo e se torna muito arrastada em diversos momentos, tendo como seu melhor momento a primeira vez que os quatro se encontram, o que rende uma pancadaria em modo cooperativo, pois precisam fugir de um determinado local. Nem mesmo o retorno de Stick (Scott Glenn), enche de esperança os mais otimistas. Os ótimos trechos do trailer aparecem numa única cena e as piadas e alfinetadas mencionadas acima, já nem possuem tanto peso e graça. Outro ponto que deixou a desejar, foi em algo em que todos os heróis tem de melhor: a luta. Ora, Murdock é praticamente um ninja sinistro, tendo habilidades absurdas na luta, assim como Rand na arte do Kung Fu, aliado com seu punho, somados a Cage e Jones que sempre foram bons de briga. Mas em Os Defensores, as lutas são todas sem graças e muito mal feitas. Ok, não seria justo falar mal feitas, mas totalmente aquém do que se espera quando se trata desses personagens, principalmente quando se trata do Demolidor, cujas as sequências de luta da primeira temporada são fantásticas. Outro ponto que atrapalha e que é algo perdoável é a ausência de uniformes, o que limita a interatividade de Murdock com o restante do elenco, uma vez que o Demolidor é o único de fato a usar um traje de herói.
Na série, não sobrou espaço para os coadjuvantes. Misty (que aqui tem uma história de origem) e Colleen são os mais acionados e possuem bons tempos de tela, ao contrário dos queridos Claire Temple (Rosario Dawson), Foggy Nelson (Elden Henson), Karen Page (Deborah Ann Woll), Trish Walker (Rachael Taylor) e Malcolm Ducasse (Eka Darville), que ficam boa parte do tempo escondidos no departamento de polícia para que se mantenham seguros.
E para piorar a situação, a Disney está desenvolvendo seu próprio serviço de streaming e os seriados solo vem sendo cancelados de maneira implacável e será muito difícil ver os Defensores em tela novamente. Precisamos torcer para que haja uma espécie de migração dos atores, saindo da Netflix e indo para a casa do Mickey Mouse. Só assim para vermos os heróis reunidos novamente, numa, quem sabe, segunda chance. Ainda assim, é uma série que vale a pena ser conferida.
Situado no Harlem, Luke Cage, em sua primeira temporada representa um outro ângulo da parte urbana do universo audiovisual da Marvel Comics, ainda que tenha muitos paralelos com o que já foi visto nas séries do Demolidor e Jessica Jones. Desde o começo, Luke Cage (Mike Colter) é mostrado como um homem humilde, que ganha a vida lavando pratos e trabalhando como subalterno na barbearia de Henry ‘Pop’ Hunter (Frankie Faison). Ele se esconde atrás da aparente normalidade, mas guarda características do chamado exército de um homem só.
A rotina de Luke é a de um homem que tem serviço duplo, um como homem comum que tenta viver seus dias e outra como vigilante, que aos poucos começa a agir mais e mais graças as ações criminosas do bandido Cornell Stokes (Mahershala Ali), apelidado originalmente de Cottonmouth (ou Boca de Algodão, na tradução brasileira).
Cornell é influente na comunidade, mas essa face dele é claramente um despiste para suas ações criminosas, semelhante e muito com o que acontece na máfia ítalo-americana que se instalou em Nova York. Paralelo a isso, Luke também presta serviço a um lugar que serve de fachada para os negócios do vilão, e lá que ele conhece Misty Knight (Simone Missick), uma mulher que depois se revela como policial.
Cage recebe oferta para se tornar segurança do restaurante asiático que salvou mas ele recusa. Esse aliás é só mais um dos estereótipos evocados e desconstruídos pelo showrunnerCheo Hodari Coker e sua equipe de roteiristas. Luke claramente não quer ser mais o leão de chácara bombado. Em outros momentos ocorrem outras desconstruções de arquétipos, como quando Misty tenta se enturmar com os jovens jogando basquete, ou com acréscimo de Rosario Dawson na série onde seu personagem, a Enfermeira Claire começa sendo assaltada assim que retorna ao Harlem, para logo depois ela mudar o paradigma de moça indefesa revidando ao bandido a violência sofrida. A todo momento a narrativa tenta afeiçoar público e personagens, normalmente de modo bastante lento.
A realidade é que apesar do bom começo, o seriado não mantém seu folego. A fórmula se desgasta rápido, e mesmo as coisas que antes funcionavam passam a perder força na metade final. Os dramas se tornam enfadonhos, e o bom vilão que Cornell se tornou é deixado de lado para a entrada de um antagonista não tão carismático quanto o anterior. Cottonmouth tem ligação no passado com Bob, ele tem realmente uma motivação para invadir o cotidiano de Luke, já o outro não, é apenas um personagem caricato, que parece ter sido retirado de um filme de ação genérico dos anos oitenta, o que é uma pena, pois tanto o ator Erik LaRay Harvey quanto seu personagem Kid Cascavel (no original era Willis ‘Diamondback’ Stryker) tinham potencial para desenvolver ainda mais seus dramas.
A parte do passado do vigilante é bem mostrada no início, na cadeia e onde sofre os experimentos que lhe deram as habilidades que possui. Lá, quando ainda era chamado de Carl Lucas ele tinha um visual como a das fases clássicas da sua revista, com cabelo black power e com uma tiara metálica em alguns momentos. O problema é que a tentativa de fazer ele se reabilitar, remontando o momento em que ele ganhou os poderes é bastante fraca e feita de uma maneira estranha. A série recorre a saídas fáceis para resolver os problemas da segunda metade da temporada.
A abordagem da trama é lenta demais, os ganchos nos finais dos episódios ou são fracos ou inexistem e a fórmula demora a engrenar, sem falar que o Luke Cage é um personagem um tanto caricato em sua origem, mas divertido ao extremo, e nessa versão já se mostra como alguém bastante soturno. A fuga da caricatura blackxploitation só acontece quando é conveniente, ao mesmo tempo em que ele não é o “super malandro” ele também é um homem mulherengo, estereotipo que para muitos soa viril, mas também traz conotações pejorativas. O fato de a Netflix Marvel não assumir em seus seriados que aquilo é um produto de super-herói pesa ainda mais nessa versão que Colter assume, por não saber escolher nem como uma exploração dramática, muito menos como produto de adaptação fiel aos quadrinhos.
Com roteiro de Christina Hodson e David Leslie Johnson, e direção de Denise Di Novi, o filme começa in media res (técnica narrativa onde a história começa no meio, em vez de no início), com Julia Banks (Rosario Dawson) numa sala de interrogatório de uma delegacia, com o rosto bastante machucado, aparentemente dando depoimento sobre a agressão sofrida. Obviamente, não é bem isso. O investigador quer que ela explique como aquele homem – Michael Vargas (Simon Kassianides), um ex-namorado de Julia – acabou sendo morto na casa dela, depois de ter sido atraído para lá por uma série de mensagens de cunho erótico enviadas via Facebook.
Corta.
Seis meses antes, Julia estava largando uma ótima colocação em NY a fim de se mudar para uma cidadezinha onde seu noivo – David Connover (Geoff Stults), divorciado, com uma filha de uns 10 anos – tem uma pequena cervejaria. A adaptação de Julia à nova vida tem seus percalços. Mas tudo piora quando a ex-esposa de David, Tessa Connover (Katherine Heigl), fica sabendo que o casal pretende se casar. Com atitudes bem à la Glenn Close, em Atração fatal, Tessa passa a infernizar o dia-a-dia de Julia.
Mesmo que o espectador vá assistir sem saber do enredo – descrito na sinopse oficial – concluiria rapidamente que não tinha como aquilo dar certo. A ex tem uma cara de perturbada que realmente assusta e que só os personagens da história não percebem. Aliás, a performance de Heigl merece ser reconhecida. Todo o elenco está bem – Dawson principalmente – mas Heigl se sobressai, com um olhar de quem tenciona fuzilar o espectador a qualquer momento.
Apesar da curta duração – apenas 1h40m – é um filme cansativo. E a principal razão é por ser muito, muito previsível. Estar repleto de clichês também não colabora. Assiste-se pensando “Ok, já entendi, pode pular para o desfecho, para eu sair logo e tomar um sorvete”. O que deveria ser um thriller acaba sendo apenas um dramazinho mal costurado, que causa risadas em vez de tensão. Não há como não achar graça das caras e bocas da mãe de Tessa (Cheryl Ladd), da credulidade improvável de Vargas, da quantidade de clichês narrativos mal utilizados, do excesso de obviedades, dos diálogos previsíveis, dos exageros em cena, etc.
A fotografia é boa, a trilha sonora não atrapalha, cenografia e figurino OK. É um filme “assistível” mas, ao contrário do que o título original sugere, totalmente “esquecível”.
No Auge da Fama traz o famoso Chris Rock em uma jornada de descobrimento de sua própria arte. No papel de Andre Allen, um famoso comediante que iniciou sua carreira no stand-up comedy dos bares nova-iorquinos, migrou para o cinema com filmes de besteirol e hoje resolve que é hora de ser levado a sério em um filme histórico sobre a revolução haitiana. Ex-alcoólatra, tem como maior sucesso o filme no qual interpreta um urso policial. Preocupado em divulgar o filme que não fará mais dele uma piada, aceita ser acompanhado pela jornalista Chelsea Brown (Rosario Dawson) e assim mostrar seu “verdadeiro eu”.
E é com essa mistura de humor nonsense com encucações artísticas sérias que Cris Rock volta a dirigir e escrever para o cinema. Em um filme profundamente biográfico, apesar de não usar seu nome, questões sobre relevância artística são levantadas com base na sua personalidade e trajetória artística já conhecida. O cenário é aquele onde o ator cresceu, a família histriônica de Todo Mundo Odeia o Chris. Tudo lá parece corroborar que Andre e Chris em alguma instância são Chris Rock.
Na trama que acompanha o período pré-nupcial de Andre com a celebridade instantânea de reality show Erica Long (Gabrielle Union) numa clara alusão às irmãs Kardashian e afins, Andre vive uma crise não só na carreira, mas também uma crise pessoal que o impede de fazer aquilo que gosta e que o deixou famoso pelas desconfianças de sua própria capacidade como artista, enquanto sua noiva ganha sua vida expondo a própria privacidade e vendendo sua vida mesmo que não possua nenhum talento aparente. Sóbrio, já não se sente confiante em se expor ao público e então planeja se rever. O medo é de ser apenas aquilo que parecia no começo, como se fosse pouco.
Já a personagem de Rosario Dawson representa o papel e impacto da crítica na vida do artista, que muitas vezes recorre a sensacionalismos ou simples raiva passiva, ou uma espécie estranha de incentivo nostálgico que faz com que aquele que ontem era o melhor de todos, hoje seja massacrado. Em certas nuances e temas, No Auge da Fama tem muitas das discussões apresentadas no filme Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) ao testar essa dinâmica estranha entre crítica e artista e os olhos do público sobre isso tudo. Da apelação capaz de provocar o público e abrir suas carteiras à necessidade de encontrar sua verdadeira arte.
Feito para divertir, porém, Chris Rock apresenta um final muito mais otimista do que seu equivalente dirigido por Alejandro Iñárritu e se dispõe desde o começo a se reconciliar com este vendaval que atinge sua vida, e do qual inicialmente não pretendia sair por simplesmente aceitar ser aquilo que as pessoas esperam dele, ou o que ele acha que esperam. Como resultado de público e crítica favoráveis, este filme traz Chris Rock para uma luz nova, amadurecida e igualmente irreverente e contestadora, com um número incrível de participações super especiais, demonstrando todo o poder do carisma e inteligência deste artista.
Desde a primeira fase da Marvel nos cinemas, o estúdio vem trabalhando seu universo cinematográfico em sincronia expansiva e tinha interesse em desenvolvê-lo em outras mídias. A série Agentes da S.H.I.E.L.D, lançada pela ABC, foi o primeiro derivado direto dos filmes com uma das personagens, Agente Phil Coulson, presente na franquia como estrela.
Ao mesmo tempo, a Netflix desenvolvia suas primeiras séries originais e, observando um sucesso crescente do prestígio como produtora, demonstrou interesse em adaptar histórias de alguns heróis da Marvel em novo formato proposto pelo serviço: temporadas fechadas, lançadas integralmente em um dia específico. O cuidado que a empresa demonstrou em suas produções e a força do personagem Demolidor elevaram a nova série a um nível alto de expectativa, antes mesmo de seu lançamento.
A série foi o primeiro projeto confirmado de um plano que envolve mais heróis da Marvel e uma possível série em conjunto de uma equipe urbana envolvendo o Homem Sem Medo, Jessica Jones, Punho de Ferro e Luke Cage. Demolidor se passa no mesmo universo cinematográfico da Marvel, em algum período após o ataque de Nova York que reuniuOs Vingadores. Algumas breves referências em falas e em um jornal destacam a integração destas histórias, denotando a mesma pluralidade heroica existente nos quadrinhos. Em 13 episódios, a série criada por Drew Goddard desenvolve as bases fundamentais estabelecidas em mais de cinquenta anos de histórias.
A trama evita o início obrigatório de uma origem e utiliza somente a primeira cena, antes da abertura, para mostrar o acidente que transforma o pequeno Murdock em cego. A evolução até se tornar um vigilante está diluída nos episódios. Inicialmente, surge em cenas de grande impacto de violência, como um gatilho emocional que o faz lembrar de sua trajetória. Dessa maneira, conhecemos o passado do garoto durante a ação central da temporada.
Demolidor é um herói essencialmente urbano representando um bairro específico de Nova York. A sociedade do local é apresentada em tipos diferenciados, desde os habitantes locais, sejam estes da lei ou não, até políticos e empresários que desejam investir no local. Uma composição que radiografa esse microcosmos e seu dia a dia corrupto. Como uma inserção máxima dentro do possível realismo da série, o Homem sem Medo é um herói que não possui nenhum super poder. Seu benefício são os sentidos apurados que lhe dão uma vantagem maior em diversas situações de confronto. A violência sempre foi sua forma de expressão e imposição, uma potência física com maior apuro devido ao seu treinamento e aos sentidos amplificados que lhe permitem absorver uma grande quantidade de informação com a audição, olfato, paladar e tato.
O realismo urbano e com muita violência é o maior visto no universo Marvel até então. Tal fator se deve à liberdade da Netflix, que não teve medo de transformar seu produto em uma série para maiores, e também à maneira inicial que a Marvel compôs seus primeiros filmes no cinema, mais voltados para a família na primeira fase, e os quais adquiriram contornos mais maduros com Capitão América: O Soldado Invernal, da considerada segunda fase. A censura não afastará os adolescentes de assistirem a essa história, e permite retratar de maneira verossímil um personagem cuja base é a violência. Chamada de estética hipermimética, por refletir com exagero quase naturalista a realidade, a série produz personagens que se aproximam do próprio público: seres com diversas linhas de pensamento e esfericidade, refletindo a concepção múltipla e quebrantada dos humanos. Um espaço ideal para dramas internos tanto de personagens com boa índole quanto daqueles mais próximos dos vilões.
Em relação à cronologia de Demolidor, o roteiro é capaz de produzir uma obra original e, ao mesmo tempo, promover diversas grandes referências ao universo de Murdock, entregando àqueles que já conhecem o herói momentos de reconhecimento e nostalgia em relação aos quadrinhos, estabelecendo um jogo de referências que demonstra as intenções futuras da narrativa. A história utiliza tanto elementos chave da personagem como une diversos argumentos apresentados em arcos específicos.
Neste primeiro ano, o vigilante conhecido como o demônio de Hell´s Kitchen demonstra mais entusiasmo do que um plano concreto para mudar a cidade. Sem um método além da vontade de defender o local em que vive, suas ações pontuais são recebidas depois com retaliações, ainda que o herói consiga sempre ser vencedor. Sendo um tipo urbano, suas ações trabalham diretamente contra a corrupção do local, uma cidade dominada por russos, outras facções e um novo membro desconhecido. Não há dúvida de que vilões tradicionais aparecerão futuramente na trama. Porém, a escolha narrativa neste primeiro momento foi a relação do herói com sua cidade, destacando um dos maiores vilões do Demolidor, o empresário Wilson Fisk, que será conhecido como Rei do Crime.
A infância de Fisk é apresentada no episódio Sombras com Reflexo, humanizando a figura do vilão, justificando que por trás de atos considerados hediondos há uma base psicológica que desenvolveu ou justificou tais atos. As cenas que mostram o cotidiano do empresário cozinhando solitariamente o café da manhã apresentam um homem poderoso que não conseguiu estabelecer laços. Um deslocamento interno que não se satisfaz com o belo ambiente em que vive. Não à toa, ao se ver atraído por uma mulher, seu comportamento muda brevemente. Porém, não o bastante para mudar seu caráter sombrio e violento, justificado pela infância abusiva. A caracterização feita por Vicent D´Onofrio é bem representada, desde o porte físico, equilibrado entre a falsa cortesia de Fisk, até suas explosões de violência. Como o herói em cena, Fisk não é super-humano. É somente um homem com um propósito bem delineado.
Visualmente, a série mantém a percepção realista e faz da fotografia um aliado positivo, utilizando muito mais sombras do que luzes, para demonstrar a aspereza de Hell´s Kitchen. Como destaque do apuro técnico, o final do episódio Fio da Navalha, um plano-sequência simulado não só é brilhante como cena como também demonstra as habilidades do demônio como lutador. (A cena parece uma resposta à técnica do quarto episódio de True Detective, da HBO, também elogiadíssimo por público e crítica).
Sem nenhum medo de promover transformações drásticas para a personagem central, a série utiliza muitos argumentos narrativos que os quadrinhos demoraram anos para abordar. A concepção das mídias é diferente e, dentro desta proposta realista, é necessário que a personagem tenha aliados ativos em prol de sua luta. E Murdock conquista estes aliados em todas as esferas: íntima, midiática e médica. O amigo Foggy Nelson descobre sua identidade em dos melhores episódios da temporada, Nelson x Murdock, que ilumina o passado dos amigos na faculdade – até mesmo com a menção a uma misteriosa namorada grega de Matt (Elektra, criada por Frank Miller) – e abala a amizade dos sócios pela falta de confiança do vigilante em dividir seu segredo.
A mídia é destacada por outro grande personagem de seu universo, o jornalista investigativo Ben Ulrich, representante do poder da imprensa como meio de denúncia de corrupção. Por fim, a personagem de Rosario Dawson, Claire Temple, se aproxima do herói após salvá-lo desmaiado dentro de uma caçamba, e passa a ajudá-lo no cuidado com seus ferimentos. Existente nos quadrinhos, Claire é originalmente o interesse amoroso de Luke Cage, um possível indicativo de que, na futura série do herói com pele impermeável, poderemos rever o personagem que, aqui, tem uma relação rápida com Matt, mas que se afasta por não aceitar sua trajetória heroica. Trajetória também questionada pelo personagem central, o qual reconhece a importância de suas ações mas ainda se divide através do conceito moral e católico de fazer o bem. Diante de tanta dor, o vigilante questiona a necessidade de romper a linha e se tornar um assassino necessário.
A primeira temporada produz um excelente arco narrativo, focado no conflito entre Demolidor e a própria corrupção de sua cidade, tendo como destaque o vilão Rei do Crime. Uma boa escolha narrativa que se apoia neste primeiro momento no realismo para que nos futuros, próximos vilões mais tradicionais, como o insano Mercenário, sejam inseridos na trama e ainda deem credibilidade para a história. Uma incrível temporada inicial com muito mais potência do que a maioria dos filmes Fase Um da Marvel no cinema. Se considerarmos a série como a primeira de outros personagens urbanos, a Netflix conseguiu mais uma vez um grande acerto.
Sob planícies geladas, destacando a alva cor que a neve produz sobre o solo, À Procura remete a um estado de tranquilidade gerado por um ambiente onde quase não se percebe a ação humana. Exceto pela habitação isolada de seus personagens, indivíduos que vivem suas vidas normalmente dentro de casas modernas, ambiente que contrasta com o extremo frio que predomina do lado externo.
A trama de À Procura envolve uma forte sensação de impotência por mostrar um pai – Mathew, vivido por Ryan Reynolds, num dos raros momentos em sua filmografia em que seus talentos são exibidos de modo conveniente – que tem suas habilidades de protetor postas à prova, fracassando de modo retumbante enquanto guardião de sua família. Na primeira conversa mais longa que seu personagem protagoniza, percebe-se um claro incômodo de quem está do outro lado da linha, forçando um sentimento de amor correspondido que não condiz com a realidade, ou com a expressão de Tina (Mireille Enos). A sensação de isolamento é novamente flagrada pela câmera num momento ainda mais evidente e palpável que o anterior.
Um caso policial seria o motivo da discórdia, o que envolve um outro núcleo de personagens ligado à investigação criminal. O mistério quanto à origem do abismo emocional entre o antigo par logo é revelado, com informações gradativamente liberadas. Ao buscar Cass (Peyton Kennedy), Mathew se descuida, e a menina é raptada, ficando anos longe de seus parentes e tornando-se adulta, agora interpretada por Alexia Fast. O peso sobre as costas do pai é esmagador, mesmo após tantos anos. O que antes foi causado por um misto de displicência e ingenuidade provoca no emocional do sujeito uma culpa atroz, graças ao impacto gerado em seu cotidiano e, claro, nos seus sentimentos.
O desenrolar das investigações encabeçadas por Nicole (Rosario Dawson) fazem os ecos do descuido soarem ainda mais amedrontadores na psiquê de Mathew ao ser indagado se ele teria estado em algum outro ponto antes do desparecimento de Cassandra. Mesmo a rotina dos inquéritos policiais o ofendem, uma vez que sua autoestima está abalada. O auxiliar de detetive, Jeffrey (Scott Speedman) tenta aplacar a situação, cavando ainda mais fundo dentro da cabeça do confuso pai.
A câmera de Atom Egoyan registra o cativeiro de Cassandra, exibindo o narcisista raptor, que ao mesmo tempo que vigia sua presa, tem um espelho à sua frente, o símbolo da paranoia e da eterna autoanálise, o cuidado supremo para que nenhum detalhe fuja aos seus olhos, para que nenhum eventual acontecimento frustre seus planos. A motivação de Mika (Kevin Durand) é tão misteriosa quanto seu semblante, especialmente no que tange Cassandra. A moça é o intermediário entre uma intricada rede de exploração sexual infantil, e é ela quem faz contato com as crianças, ainda em sua cela moderna, no frio lugar exibido no começo da fita.
A sociedade da informação se mune da alta tecnologia para praticar seus pecados morais, voltando os arquétipos pensados em 1984 por George Orwell para um dos aspectos mais podres da alma humana. Seis anos passados do incidente inicial, ambos os casos caem na rede de averiguação de Jeffrey, que logo trata de falar a mãe da menina, que enxerga na participação da filha uma monstruosidade quase tão grande quanto a que aquelas pessoas fizeram a ela, claro, culpando mais uma vez seu já débil marido.
O viés escolhido pelo roteiro peca demais em sutileza, inserindo convenientemente os policiais no mesmo contexto dos marginais que praticam a rede de mentiras e que obviamente emboscam-nos. O mesmo se pode dizer das cenas de reencontro entre os parentes, há muito separados. Apesar de reafirmar a crueldade dos vilões, quase nada se acrescenta nos momentos de embate entre os justiceiros e os bandidos, fazendo o que deveria ser um intrigado suspense tornar-se uma desnecessária batalha maniqueísta.
O modo como a história se fecha apresenta uma estranha sensação de que finalmente os eventos voltarão ao normal, apesar do número crescente de mortes. Além disso, a resolução é bastante estranha, como se tentasse emular a capacidade de pensamento dos que arquitetaram todo o circo emocional ao redor do rapto de Cassandra. Como em Sem Evidências, Egoyan tem em mãos uma premissa muito boa, mas apresenta uma condução equivocada, que se enrola nas próprias regras dramáticas que ele engendra.
O começo, repleto de cortes rápidos, é seguido por uma cena em que Frank Miller faz uma aparição típica de Stan Lee nos filmes da Marvel, aproveitando-se das benesses de ser um criador e também realizador do longa. O início, excessivamente escapista, faz mais referência ao último filme de Miller (The Spirit: O Filme) do que ao Machete de Rodriguez, o que faz acreditar que o criador do texto original teria maior ingerência na direção compartilhada, a despeito de toda a boataria que envolveu a produção do primeiro episódio.
O preâmbulo é feito por Marv, personagem, vivido por Mickey Rourke, que, curiosamente, morreu no episódio anterior. Mais uma vez, uma bela apresentação dos créditos estilizada. Na história paralela de Johnny (Joseph Gordon Levitt), são resgatados plots que envolvem personagens cujo destino já havia sido decidido outrora, envolvendo-os em outros pecados, outros vícios tão torpes quantos os que preconizaram a primeira fita. Sin City parece ser um lugar tão escuso que até mesmo os que não vivem mais no mundo dos vivos costumam visitar a cidade. A pendenga de Johnny com Roark (Powers Boothe) é de cunho pessoal e familiar.
Os subplots se misturam, compartilhando a mesma linha temporal, variante nos núcleos e nos múltiplos amoralismos. A plataforma plural claramente revela momentos mais interessantes com histórias menos apetecedoras. A trama envolvendo Dwight (Josh Brolin) demonstra isto exemplarmente, mesmo que suas cenas sejam de um grafismo agressivo ímpar tanto nos atos violentos quanto no torpor sexual, que causa no personagem um complexo de submissão quase automática à sua musa, Ava (Eva Mendez). Ao menos é nesse período em que é mostrada a cena mais gore e trash do filme, tão digna de nota quanto de gargalhadas.
A sedução típica da dama fatal envolve os personagens e, claro, o espectador, não só pela nudez bem fotografada por Rodriguez, mas também pelo trabalho sonoro, praticamente perfeito, seja na montagem, seja na voz rouca de Green. As curvas femininas continuam obviamente sendo um dos pontos altos do filme, no entanto têm de conviver com constrangedoras cenas em que as belas mulheres se submetem a show-offs e exibições toscas de poderio armamentista, enquanto são reapresentadas às mulheres de Old Town. As soluções sensuais, fora as da personagem-título, são demasiadamente fáceis, apresentando uma desnecessária aura de pastiche, não condizente até mesmo com o universo milleriano. O tremor da perigosa relação entre Ava e Dwight finalmente se cumpre, e de um modo até surpreendente se comparado com o que o roteiro apresentou até então.
A banca continua a aceitar as apostas de Johnny, mesmo após sua quase completa destruição. A designação da disputa quase edipiana termina anticlimática, mas é ramificada, abrindo a chance de Nancy Callahan (Jessica Alba) dar vazão a sua raiva e ao seu desejo de vingança. Em alguns momentos, a atriz até demonstra um pouco mais de dramaticidade se comparada a sua habitual filmografia, mas nada que fuja do ordinário e lugar comum de pautar toda a sua apresentação apenas em sua bela aparência. A cena em que sua personagem chora, à frente da TV, transita entre a empatia do público junto à carismática personagem esbarrando na dificuldade da sua intérprete em passar emoção.
Por mais que o primeiro filme tenha tido um impacto enorme entre os fãs de quadrinhos e do cinema blockbuster violentíssimo, a sensação deixada por este Sin City 2 é o de um filme datado, que deveria ter sido lançado logo após o episódio um, se valendo do hype, mas que não o foi. Tudo na abordagem da película faz pensar que o projeto não era a prioridade de Robert Rodriguez, dado seus outros produtos autorais para a televisão e cinema, além da óbvia demora na produção deste filme. Tudo piorado pela sensação de A Dama Fatal ser um produto requentado, sem muito alma e substância, coisas que sobraram no filme exibido há nove anos.
A narração de Simon – personagem de James McAvoy – conta como eram os assaltos a obras de arte no decorrer dos tempos. O recurso introduz satisfatoriamente o público no filme de assalto a seguir, no gênero, é comum ver uma estilização munida de uma aura cool e moderna, e Danny Boyle consegue passar isso muito bem, melhor do que a maioria de exemplares recentes.
A princípio, Em Transe é um filme de roubo, que acompanha o bando que surrupiou uma obra de arte de valor pornograficamente alto, e as agruras do plano que falhou. O erro acontece por meio de um dos membros, que havia perdido o quadro e para lembrar-se onde o “deixou”, lança mão de um tratamento terapêutico a base de hipnotismo.
A forma como são sugeridas as repressões psicológicas são bastante críveis e verossímeis, sem apelar para o lugar comum. O inconsciente é mostrado de forma pouco mística – sem clichês como ambiente esfumaçado e cheio de neblina, ou apelações nonsense gratuitas.
No decorrer da trama, a hipnóloga Elizabeth – Rosario Dawson, irretocável em múltiplos sentidos – decide entrar no “esquema”. Os motivos que a levam a entrar na situação são obscuros, e talvez, este seja o maior motivo de desconfiança, tanto dos personagens, quanto para quem acompanha do lado de fora da tela. É bom frisar, suas cenas de nu frontal são absurdamente bem registradas!
A ambiguidade do filme passa por muitos estágios, e é muito devido à ótima atuação de JamesMcAvoy, pois Simon transita entre a realidade e a sua inserção no inconsciente. Isso só se dá em virtude do talento de seu intérprete. Ainda assim em alguns momentos, o observador pouco desatento pode acompanhar através dos signos e sinais quando Simon está hipnotizado ou acordado. O roteiro flerta de forma interessante com anomalias mentais, como transferência, paranoia, megalomania, auto-isolamento e suscetibilidade de mente.
Os repentes da música de Rick Smith ajudam a tirar o fôlego do espectador, o que não aconteceria certamente sem a perícia de seu diretor. Boyle filma esplendorosamente, sua lente e edição cooperam demais com a narrativa que permite uma inserção perfeita e sem interferência externa, é como mergulhar nas tranquilas águas de uma piscina, e sentir o líquido sufocando o sistema respiratório e, subitamente, conseguir ar para respirar. Os closes, os planos abertos e as viagens que a câmera faz pelos interiores dos cenários são realizados com um esmero magnífico, e o resultado final é deslumbrante, nada é filmado sem um significado ou por acaso.
O último ato reserva surpresas ótimas, e expõe uma verdade patética e até deprimente para um dos protagonistas. Possibilita ao espectador escolher o lado que quiser. Seus personagens são tridimensionais e sem compromissos com uma moralidade boba. As cenas de ação são implacáveis, cruéis e até violentas. É um thriller dos mais bem feitos e é uma das obras mais bem executadas de Danny Boyle.
O argumento é conhecido do público e, provavelmente, foi assistido anteriormente. O bombeiro Jeremy Coleman presencia um crime racial e decide colaborar com a justiça identificando o culpado. Devido a periculosidade do acusado, líder de um grupo de orgulho branco, Jeremy entra no programa de proteção as testemunhas que se mostra ineficaz quando o líder decide persegui-lo e matá-lo por colaborar com a lei.
Fogo Contra Fogo utiliza o mesmo título de um grandioso filme de Michael Mann e qualquer comparação permanece apenas no nome. Além da evidente batalha das personagens, o título alude a profissão da personagem, um bombeiro competente, que gosta da profissão e da irmandade em torno dela, mas que decide deixar sua vida para lá para ajudar o delegado Mike Cella. Após sofrer um ataque de um assassino profissional a mando do líder do orgulho branco, o bombeiro decide retornar a cidade da qual foi afastado pela proteção de testemunhas e fazer justiça com as próprias mãos.
Produzido diretamente para a televisão, a trama não apresenta nada de novo, nem ao menos intenta ser uma repetida história funcional. O ator Bruce Willis é o grande chamariz da história, vendida de maneira errada como um filme do astro. Willis aparece em poucas e inexpressivas cenas. Nem tendo o trabalho de realizar o seu papel padrão de policial.
A história acompanha a vingança do bombeiro de maneira burocrática, indo dos peões até chegar no grande chefão. Exceto por uma cena de tiroteio que a câmera viaja com a bala, não há nada de novo também na direção. Rosário Dawson que faz par amoroso com a personagem, está presente como função estética, fazendo o papel da mulher pela qual se deve lutar.
É impressionante como uma produção deste calibre conseguiu chegar as telas brasileiras. Utilizando a potência de Willis, sempre convidativo ao seu público, e aproveitando as semanas que antecedem o lançamento de mais um filme da série Duro de Matar, para tentar conquistar alguma bilheteria.
Desde já selecionado para figurar na lista das piores estreias deste ano.