Tag: Demolidor

  • VortCast 106 | Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa

    VortCast 106 | Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira | @flaviopvieira), Jackson Good (@jacksgood), Bruno Gaspar (@hecatesgaspar | @hecatesgaspar) e Filipe Pereira (@filipepereiral | @filipepereirareal) recebem Marcelo Miranda (@marcelomiranda1) para comentar sobre os erros e acertos do mais novo filme do Amigão da Vizinhança, Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa.

    Duração: 88 min.
    Edição:
     Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira
    Arte do Banner:
     Bruno Gaspar

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  • Resenha | Demolidor: O Diabo da Guarda

    Resenha | Demolidor: O Diabo da Guarda

    Eis uma figura que deveria ter muito mais popularidade do que conseguir angariar, tanto na Marvel quanto na cultura pop, até hoje. Mas é claro que, quando se é uma das criações de Stan Lee e Jack Kirby, é difícil se sobressair entre as estrelas Homem-Aranha, X-Men, Thor e Os Vingadores. Mesmo assim, a fama do advogado Matt Murdock ganhou força com a excelente série da Netflix que o apresentou a novos públicos, já que não devemos nem lembrar do terrível filme de 2003 – que fez tão bem ao personagem, quanto Batman & Robin fez ao Homem-Morcego. Altos e baixos a parte, fato é que o advogado cego que caça criminosos no bairro Cozinha do Inferno em Nova York, uma cidade quase tão desoladora e violenta quanto a Gotham da DC, vive entre a cruz e a caldeirinha, encarnando com seu uniforme vermelho e seu comportamento impiedoso de justiceiro o próprio conceito de bem e mal que todo ser humano leva, em seu coração. O problema é que, em O Diabo da Guarda, surge algo para testar a fé até mesmo daquele apelidado de “O Homem Sem Medo”.

    Ao colocar em cheque sua alcunha de “herói”, o Demolidor encara seu pior inimigo: um bebê. Inesperadamente colocado sob a sua tutela, vem com a criança a certeza absoluta que ela é o Salvador, aquele que voltará a Terra para espalhar a paz e a harmonia quando tudo parecer perdido. A cargo de sua responsabilidade, chegam novos boatos de que o infante é, na verdade, o anticristo disfarçado para conceber o caos, e a destruição total acima de todos. A confusão não apenas se alastra no coração do Demolidor, mas em suas relações também, pois uma decisão deve ser tomada: matar o inocente, ou esperar ele crescer educando-o para trilhar o caminho do bem? O herói então é mergulhado em uma paranoia arrebatadora, e toma ares de anti heroísmo ao ter que defender o possível Satã, dormindo em seus braços, de todos que representam uma possível ameaça ao “sono dos anjos”. Neste conflito, uma organização religiosa aparece para reclamar essa entidade demoníaca em forma de bebê, e quando lhe é negada a criança, tudo piora ainda mais.

    Quando Kevin Smith foi para a Marvel, em 1998, a desculpa que o diretor de O Balconista tinha lhe garantiu um arco só dele do Demolidor. Assim, o herói ganhou pelas mãos de Smith uma profundidade que só um fã apaixonado pelo personagem, e verdadeiramente imaginativo seria capaz de alcançar, temperando com o inferno e o paraíso os passos de um homem atormentado cujos poderes rivalizam, nas palavras do próprio Stan Lee, com o sentido-aranha de Peter Parker. Na aclamada série O Diabo da Guarda, somos inseridos numa corrida contra o tempo que faz o Demolidor duvidar de seus aliados mais próximos, devido ao desespero do fim do mundo, e da morte dos que Matt realmente ama (o fim do mundo dele, também). De repente, ninguém é mais confiável, mesmo sendo capaz de se ouvir um batimento cardíaco a quarteirões de distância, e detectar a mentira na voz de alguém como se fosse o som de uma bomba atômica na esquina. De repente, o mundo que já era de incertezas se torna o inferno na Terra para aquele que, um dia, foi louco o bastante para ousar limpar as coisas.

    Com participações especiais do Dr. Estranho, Homem-Aranha e até da Viúva Negra, a quem Matt mantém aquela paixão platônica de adolescente (e a ele é retribuída), temos aqui um arco de histórias que arrastam o Demolidor ao sete círculos da danação, ainda vivo, numa verdadeira crise existencial que, para quem a vive, parece interminável. Nos anos 1990, o ritmo das histórias em quadrinhos mudou drasticamente, e a leitura de fato ficou mais ágil e dinâmica, mais sombria e cética também, nesse período pós-Watchmen e O Cavaleiro das Trevas. Smith entendeu isso de uma forma muito engenhosa, e contando com desenhistas do naipe de Joe Quesada e Jimmy Palmiotti, tratou de rejuvenescer uma personagem fascinante (em uma época que a editora Marvel estava falindo), atribuindo novos contornos, dilemas e tentações a um clássico herói cuja mitologia já foi estabelecida há décadas, e mesmo assim, foi tanto homenageada quanto fortalecida em O Diabo da Guarda, até a grande revelação final. Poucas vezes, o Demolidor pareceu tão interessante – e tão vulnerável e humano, quanto aqui. Stan Lee certamente ficou orgulhoso.

    Compre: Demolidor – O Diabo da Guarda.

  • VortCast 71 | Diários de Quarentena I

    VortCast 71 | Diários de Quarentena I

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Filipe PereiraJackson Good (@jacksgood) e Rafael Moreira (@_rmc) se reúnem para comentar sobre os seus dias na quarentena em um bate-papo descompromissado sobre reality shows, lives e muito mais.

    Duração: 110 min.
    Edição: Julio Assano Júnior
    Trilha Sonora: Julio Assano Júnior
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  • Agenda Cultural 69 | Nova Era, esquenta Pré-Oscar e mais Aquaman

    Agenda Cultural 69 | Nova Era, esquenta Pré-Oscar e mais Aquaman

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Filipe Pereira, Jackson Good (@jacksgood) e Rafael Moreira (@_rmc) se reúnem para a primeira Agenda Cultural da Nova Era, talkei? Nesta edição, comentamos um pouco sobre as novas polêmicas envolvendo Lars von Trier, o novo filme do Harry Potter sem Harry Potter (é golpe?), como se balançar com fluidez no novo jogo do Homem-Aranha e muito mais.

    Duração: 123 min.
    Edição: Julio Assano Junior
    Trilha Sonora: Flávio Vieira e Julio Assano Junior
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    Bruno Gaspar

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    Comentados na Edição

    Cinema

    Crítica Nasce uma Estrela
    Crítica O Primeiro Homem
    Crítica Halloween
    Crítica A Casa que Jack Construiu
    Crítica Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald
    Crítica As Viúvas
    Crítica Aquaman
    Crítica Bohemian Rhapsody

    Séries

    Review Demolidor – 3ª Temporada

    Literatura

    Mistborn: Nascidos da Bruma – Brandon Sanderson (compre aqui)

    Games

    Spider-Man (compre aqui)

    Quadrinhos

    Imperdoável (compre aqui)
    Wytches (compre aqui)

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  • Review | Os Defensores – 1ª Temporada

    Review | Os Defensores – 1ª Temporada

    Após a estreia de Agentes da S.H.I.E.L.D, a primeira vez que se teve notícia de um novo seriado em que heróis da Marvel que não apareceriam no UCM – Universo Cinematográfico Marvel foi em 2013, quando foi anunciada uma parceria entre a Disney e a Netflix. Seria produzido então, uma temporada para maiores com um dos heróis mais queridos da Marvel: o Demolidor. A ideia era desenvolver a série do homem sem medo, respeitando a sua essência apresentada nos quadrinhos, se afastando e colocando, de vez, uma pá de cal por cima do túmulo da adaptação estrelada por Ben Affleck. Obviamente, o projeto não era simplesmente trazer o Demolidor para as telas, mas fazer com a Netflix o mesmo que a Marvel fez nos cinemas, criando um bloco maciço de heróis, com seus filmes solo e, consequentemente, colocando esses heróis juntos em tela, como aconteceu com os Vingadores. Tinha como objetivo reunir os Defensores para uma grande temporada. Além de Demolidor, que, à época, ganhou duas temporadas, Jessica Jones teve seus momentos de glória, assim como Luke Cage e, posteriormente, Punho de Ferro.

    Os primeiros trailers levaram o público à loucura, principalmente por causa da trilha sonora, embalada pelo contrabaixo e guitarra característicos, somada à voz única de Kurt Cobain em Come As You Are, uma clássico do Nirvana, e também pela interação entre Matt Murdock, Jessica Jones, Luke Cage e Danny Rand, personagens com características e humores extremamente heterogêneos, que nas imagens rendiam diversas alfinetadas e zoações, principalmente vindas de Jones, que quem a conhece sabe que se trata de um ser insuportável (no bom sentido).

    Era tudo tão promissor que a decepção, infelizmente foi alta.

    Os personagens seguem suas vidas exatamente dos pontos em que elas pararam em seus próprios seriados. Danny Rand, o Punho de Ferro (Finn Jones), continua viajando pelo mundo, junto de sua escudeira, Colleen Wing (Jessica Henwick), caçando o Tentáculo, sendo que, em sua última empreitada, o coloca de volta a Nova Iorque para uma investigação. Luke Cage (Mike Colter) deixa a prisão e volta para o Harlem, onde fica sabendo que jovens do bairro estão desaparecendo misteriosamente. A detetive particular Jessica Jones (Kristen Ritter) recebe uma ligação misteriosa sobre o desaparecimento de um funcionário de uma empresa que pode estar metida num perigoso empreendimento. Tudo isso acaba chamando a atenção da policial Misty Knight (Simone Missick), que prende Jones. É quando o advogado Matthew Murdock (Charlie Cox) entra em cena para defender a heroína mal humorada. Enquanto isso, somos apresentados a quem parece ser a principal vilã da série, Alexandra, vivida de maneira espetacular por Sigourney Weaver, e que parece ser a líder do Tentáculo, que até então não tinha aparecido em cena.

    Infelizmente demora para vermos todos os heróis juntos em cena. Claro que eles se encontram de maneira separada e isso rende bons momentos, como a primeira vez que Luke Cage enfrenta o Punho de Ferro, mas não demora muito para percebermos que os quatro, na verdade, estão investigando o mesmo assunto, que envolve aquele enorme buraco no chão que vimos na segunda temporada de Demolidor.

    Infelizmente, a série tem sérios problemas de ritmo e se torna muito arrastada em diversos momentos, tendo como seu melhor momento a primeira vez que os quatro se encontram, o que rende uma pancadaria em modo cooperativo, pois precisam fugir de um determinado local. Nem mesmo o retorno de Stick (Scott Glenn), enche de esperança os mais otimistas. Os ótimos trechos do trailer aparecem numa única cena e as piadas e alfinetadas mencionadas acima, já nem possuem tanto peso e graça. Outro ponto que deixou a desejar, foi em algo em que todos os heróis tem de melhor: a luta. Ora, Murdock é praticamente um ninja sinistro, tendo habilidades absurdas na luta, assim como Rand na arte do Kung Fu, aliado com seu punho, somados a Cage e Jones que sempre foram bons de briga. Mas em Os Defensores, as lutas são todas sem graças e muito mal feitas. Ok, não seria justo falar mal feitas, mas totalmente aquém do que se espera quando se trata desses personagens, principalmente quando se trata do Demolidor, cujas as sequências de luta da primeira temporada são fantásticas. Outro ponto que atrapalha e que é algo perdoável é a ausência de uniformes, o que limita a interatividade de Murdock com o restante do elenco, uma vez que o Demolidor é o único de fato a usar um traje de herói.

    Na série, não sobrou espaço para os coadjuvantes. Misty (que aqui tem uma história de origem) e Colleen são os mais acionados e possuem bons tempos de tela, ao contrário dos queridos Claire Temple (Rosario Dawson), Foggy Nelson (Elden Henson), Karen Page (Deborah Ann Woll), Trish Walker (Rachael Taylor) e Malcolm Ducasse (Eka Darville), que ficam boa parte do tempo escondidos no departamento de polícia para que se mantenham seguros.

    E para piorar a situação, a Disney está desenvolvendo seu próprio serviço de streaming e os seriados solo vem sendo cancelados de maneira implacável e será muito difícil ver os Defensores em tela novamente. Precisamos torcer para que haja uma espécie de migração dos atores, saindo da Netflix e indo para a casa do Mickey Mouse. Só assim para vermos os heróis reunidos novamente, numa, quem sabe, segunda chance. Ainda assim, é uma série que vale a pena ser conferida.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Review | Demolidor – 3ª Temporada

    Review | Demolidor – 3ª Temporada

    O começo da terceira temporada de Demolidor se inicia com Matt Murdock (Charlie Cox) machucado, no chão, após os últimos eventos de Os Defensores. Esse talvez seja um dos maiores problemas das series Netflix, a influencia externa das outras, considerando que a maior parte desses shows tiveram momentos ou desfechos negativos e mal lembrados por crítica e publico. Ao menos, com o Homem sem Medo as influencias são menores, uma vez que ele é o carro chefe da plataforma.

    Incrivelmente essa temporada é a com menos gordura, apesar de ainda possuir 13 episódios e de alguns desses terem perto de uma de duração cada. O maior apelo que esta terceira e última temporada, já que a Netflix cancelou o programa, são as relações entre personagens. Karen Page (Deborah Ann Woll) que havia sido sub aproveitada em Justiceiro aqui tem uma função inteligente e condizente com sua contra parte quadrinhos, fazendo o que Matt Murdock não pode fazer, ainda que isso só ocorra por que o herói está combalido.

    Matt é um homem falível. Logo após se recuperar, conseguindo ficar em pé ele decide treinar para aprimorar sua forma física, mas ele apanha de um adversário mais fraco que si, por conta das limitações que tem por conta de suas faculdades mentais não estarem perfeitas. Essa construção de sua humanidade é algo raro nem só nos seriados da Marvel, mas também em seus filmes mais recentes, e há mais acertos aqui  por exemplo do que em Homem Aranha De Volta ao Lar, que deveria ser sobre o herói mais humano da Casa das Ideias, mas que soa apenas como um filme genérico sobre adolescentes.

    Há semelhanças claras desta temporada com A Queda de Murdock, ainda mais quando mostra Matt como um clandestino, um homem abandonado por tudo e todos, desesperado para viver sem seus fantasmas e atormentado por uma obsessão ligada ao Wilson Fisk de Vincent D’Onofrio. O Rei do Crime é aliás outro bom acerto do programa. A jornada rumo a liberdade é mostrada em detalhes, desde o acidente que ocorre quando ele é transferido de prisão até a retomada de seu império de crimes, que resulta na contratação de Benjamin “Dex” Poindexter (Wilson Bethel), o Mercenário, que tenta incriminar o diabo de Hells Kitchen usando seu uniforme vermelho, enquanto o advogado reutiliza  o preto mais básico.

    Mais uma vez D’Onofrio executa magistralmente seu papel, dessa vez mostrando uma faceta mais amedrontadora do Rei do Crime, capaz de dominar a psique de seu rival. A construção mental que o vigilante tem a respeito do seu opositor faz ele  soar ainda mais capaz de causar mal, a força que o antagonista tem dentro da mente do herói parece mais palpável até do que o que se via anteriormente quando ele era violento, o fato de Fisk construir uma faceta falsa do personagem principal o deixa ainda mais poderoso.

    A luta final entre os dois antagonistas é violenta, repleta de escoriações e sangue, remete aos bons momentos de John Romita Junior como artista dos números de Demolidor de Frank Miller. Os simbolismos do embate fazem com que a força dos personagens sejam maximizadas. Uma pena que o programa tenha sido encerrado com algumas pontas soltas, especialmente no que toca Karen e Foggy Nelson (Elden Henson), mas ao menos seus últimos momentos são bem contados, tal qual toda a primeira jornada de Jessica Jones, sendo essa talvez a mais importante e forte historia da Marvel Netflix.

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  • Resenha | Demolidor – Vol. 3

    Resenha | Demolidor – Vol. 3

    Demolidor 3

    Neste terceiro volume compilando a fase de Mark Waid como roteirista da revista Demolidor, premiada com o Eisner de Best Continuing Series além da premiação de Single Issue para a edição #7 (compilada em Demolidor nº 2), a Panini Comics dá sequência ao lançamento em encadernações em lombada quadrada, uma das primeiras a reunir edições mensais de um personagem em vez de inseri-lo em um mix. Padrão que hoje se tornou uma das frontes da editora.

    Diferentemente da versão original americana, este terceiro volume não apresenta uma história em três partes com Demolidor, Justiceiro e Homem-Aranha em um crossover intitulado Ponto Ômega. A trama foi  publicada no país no compilado do Justiceiro, em seu segundo volume da fase de Greg Rucka. Considerando que as personagens possuem histórias anteriores em comum, a editora optou como estratégia a publicação na íntegra em uma única revista, para que leitores comprassem um novo título e, se possível, continuassem a lê-lo além da saga com o Homem Sem Medo. Esta trama dividida em três partes publicadas originalmente em Avenging Spider -Man 6, Punisher (2011) 10 e Daredevil 11, apresenta um novo ato da narrativa desenvolvida pelo autor a longo prazo, envolvendo o Omegadrive e os cinco grupos criminosos que tentam roubá-lo de Murdock.

    O volume 3 compila as edições 12 a 18 de Daredevil  – Vol. 3. A primeira história apresenta um entreato desta grande trama e enfoca a promotora Kirsten McDuffie. Em um primeiro encontro com ela, Matt retoma uma aventura do passado para explicar a amizade com Foggy Nelson, demonstrando como os amigos foram um apoio mútuo desde o início. Uma trama leve e bem delineada ressaltando a amizade para causar maior impacto no conflito dramático a seguir.

    Waid mantém seu tom diferenciado em relação ao anos anteriores de Demolidor, em histórias menores e com maior leveza diante do realismo explícito e a vertente urbana de seus predecessores. Os traços de Chris Samnee e as cores de Javier Rodriguez e Laura Allred, aliadas à arte-final de Tom Palmer, casam com esta versão, bem como a composição de quadros se mantém tradicional com uso da borda branca, algo que, atualmente, é quase inexistente. Além desta primeira e bonita história que apresenta um descanso para a personagem, duas tramas se desenvolvem a seguir.

    A primeira a partir do arco do Omegadrive: o herói é sequestrado na Latvéria para ser estudado e pesquisado a pedido de Victor Vom Doom. Mesmo nesta roupagem mais leve da personagem, a desconstrução de Murdock se tornou uma de suas características fundamentais. Assim, conforme as experiências examinam minuciosamente seu corpo à procura de uma maneira de replicar seu radar, a personagem perde lentamente os sentidos e lida com o inconsciente interno e, consequentemente, seus traumas.

    Após o salvamento pelos Vingadores em uma história em que Doutor Estranho, Hank Pym e Tony Stark tentam amenizar os danos causados na Latvéria, o embate do advogado cego é focado em Foggy Nelson. Durante a trajetória da dupla, em movimento comum a qualquer relação de amizade longeva, muitas brigas fizeram parte de sua história. Depois do grande conflito que levou Murdock à loucura e proporcionou a saga Terra das Sombras, Foggy tem dúvidas em relação à sanidade do amigo, e quando encontra indícios incoerentes com a afirmação do advogado, rompe novamente a parceria no escritório de advogacia.

    Mais uma vez, Demolidor se encontra à deriva. Mesmo com roteiristas diversos, suas tramas sempre projetam urgência e, como apresentam tanto a faceta do herói como a do advogado, produzem uma composição de alta credulidade em que um homem tenta fazer tudo o que for necessário para manter seus universos harmônicos mas, naturalmente, falha. Suas relações e seus afetos sempre se modificam em quedas. A própria construção da personagem vem dessa força de sobrepujar o caos e se reerguer com ousadia. Um fato que sempre proporciona uma potência em suas histórias.

    Demolidor  n° 3 mantém a tônica das edições anteriores em uma qualidade exemplar na narrativa, trabalhando elementos clássicos e novos conceitos em grandes histórias as quais, como sempre acontece com Demolidor, nascem com grandes conflitos.

    Demolidor 3 - Mark Waid

  • Resenha | Demolidor: O Homem Sem Medo

    Resenha | Demolidor: O Homem Sem Medo

    demolidor-o-homem-sem-medo-panini 1

    A fase de Frank Miller à frente do título do Demolidor é um clássico indiscutível na jornada do vigilante, exemplificado nos recentes volumes um e dois por Klaus Janson e pelo próprio Miller. Após um exitoso retorno, em Queda de Murdock, houve uma demandada por um novo enfoque do personagem, o que ocorreu através de um retorno às origens ao estilo do que a DC Comics já havia feito em Batman: Ano Um, também com outro artista nos desenhos, cabendo a John Romita Jr. o lápis de O Homem Sem Medo, lançado em 1993.

    Matt Murdock ainda é um menino, que assiste a Cozinha do Inferno de um lugar privilegiado, acima das cabeças das pessoas. Sua rotina inclui pequenas contravenções, como interferência no trabalho de policiais de rua, com pequenos furtos de cassetetes em plena luz do dia, munido com uma máscara preta que protege sua identidade. Seu lugar preferido é o ginásio onde seu pai Jack Murdock treinava, nos tempos áureos como lutador de boxe.

    O garoto já tem contato direto com a extorsão e criminalidade, uma vez que seu pai é obrigado sob ameaça a trabalhar para o Arranjador, após ter ameaçado sua vida e a de seu filho. Esse fator serve para quebrar o maniqueísmo normalmente encarado pelos heróis paladinos, mostrando que o embrião do Demolidor tem muito mais relação com o lado sujo de Nova York e o caráter humano do que qualquer discurso adocicado a respeito do vigilantismo.

    Neste início, o fator mais interessante certamente é a construção em volta de Jack Murdock, que prima pela simplicidade e pela sinceridade. O drama do pai solitário é de fácil identificação e todos os seus pecados são explicáveis, uma vez que sua motivação é proteger a criança que está sob seus cuidados. Sua bebedeira é o artifício covarde tomado para esquecer seus momentos inglórios, e o soco que desfere no filho é a reação ao asco que tem por si, e que amaldiçoadamente está sendo seguido por seu herdeiro. O desejo de que Matt tenha outro rumo de vida faz o boxer se cegar até para o bom senso, fazendo-o agir com uma violência instintiva até em seu lugar de conforto, em casa.

    A mostra do incidente que cegou o garoto é conduzido por um modo bastante emocional, desde os pequenos detalhes, a respeito da matéria radioativa que acertou o proto-herói da Marvel, até a origem do evento, quando o jovem salva um idoso cego de ser atropelado. A inserção de Stick é providencial, servindo de contraponto a autocomiseração que o infante sente, dando mostras de sua evolução, de um lutador em início de carreira para se tornar também um acrobata.

    Os últimos momentos de Jack são melancólicos, mas vitoriosos, reprisados no filme do Demolidor de 2003, ainda que na revista o momento seja bem menos melodramático, assim como as ações que seguem o evento. Matt inverte o paradigma de seu pai e começa a ir atrás dos malfeitores para fazer justiça com as próprias mãos. Apesar de comedida, a violência gráfica de Romita Jr. começa a ser mostrada de maneira interessante, aplacada um pouco pela arte-final de Art Williamson. A agressividade tem um preço alto e justifica, entre outros fatores, o asco do personagem pelo homicídio, além de amarrar a origem de seu mestre aos futuros opositores.

    A transição para a fase adulta é rápida, assim como a introdução ao curso de Direito e a amizade com Foggy Nelson. O sentimentalismo é dedicado à apresentação de Elektra, que mistura sensualidade natural, feminilidade e nenhum receio de se apresentar de modo sexual. As origens do herói são muito bem amarradas às aparições dos vilões, de aliados e possíveis pares amorosos, em doses homeopáticas, gradualmente pontuando o cânone do personagem, incluindo a evolução de seu traje, o mesmo uniforme negro que inspirou a primeira temporada de Demolidor da Netflix, em 2015.

    A edição, repleta de extras, faz valorizar ainda mais os últimos momentos da revista, que por sua vez não são totalmente conclusivos, reforçando a ideia de prequence, que em sua essência acerta em quase todas as introduções. O enfoque no nome de Demolidor – no original Daredevil – é uma saída inteligente e emotiva, que se torna ainda mais simbólica com o mergulho no ar que o vigilante, já paramentado, executa e no valor às cores de Christie Scheele, também aludindo ao uniforme amarelado original, finalizando com o traje escarlate. A amálgama entre fúria da corrupção e justiça cega que se veem no ideal do Homem sem Medo.

    Compre aqui: Demolidor – O Homem Sem Medo (Salvat)

    demolidor-o-homem-sem-medo-panini 3

  • Especial | Demolidor

    Especial | Demolidor

    Demolidor Especial

    Criado por Stan Lee e Bill Everett, Demolidor, O Homem Sem Medo, fez sua estreia em abril de 1964, em Daredevil #1, e desde então, permanece como um dos principais personagens urbanos da editora. Na época de seu lançamento, o personagem se destacou entre as diversas criações da Marvel ao escolher como alter-ego um homem cego, conquistando leitores e ganhando status de representante dos leitores cegos que o admiravam pela força de superar problemas.

    Representante da faceta urbana do estúdio, Demolidor é um herói solitário. Trabalha sempre a favor da Cozinha do Inferno e raramente participa de grandes grupos. Um isolamento que proporciona um senso de urgência em suas histórias. Alguns períodos se destacam em sua trajetória, entre eles as fases de Frank Miller e Ann Nocenti, responsáveis por desenvolver bases importantes para a personagem, como também outros roteiristas como Brian Michael Bendis, Ed Brubaker, Karl Kesel, DG Chichester e Kevin Smith desenvolveram uma visão realista da personagem em tramas que situavam tanto o herói quando o alter ego Matt Murdock. Em seguida, coube a Mark Waid dar um novo tom ao personagem, em uma elogiada fase que voltava a uma faceta aventureira e mais bem-humorada que remetia as fases  clássicas de Marv Wolfman e Gerry Conway. O Homem Sem Medo se mantém coeso, com grandes momentos nos quadrinhos.

    Quadrinhos

    (1964 – 1965) Biblioteca Histórica Marvel: Demolidor – Volume 1
    (1979 – 1971) Demolidor – Por Klaus Janson e Frank Miller – Volume 1
    (1981 – 1982) Demolidor – Por Klaus Janson e Frank Miller – Volume 2
    (1993) Demolidor: O Homem Sem Medo
    (2001) Demolidor: Amarelo (Jeph Loeb e Tim Sale)
    (2001) Demolidor: Revelado (Brian Michael Bendis e Alex Maleev)
    (2004) Mercenário: Anatomia de Um Assassino
    (2009) Demolidor Noir
    (2011) Demolidor #1 (Mark Waid)
    (2011) Demolidor #2 (Mark Waid)
    (2011) Demolidor #3 (Mark Waid)
    (2012) Demolidor – Fim Dos Dias

    Filmes e Seriados

    (2003) Demolidor – Versão do Diretor
    (2015) Demolidor 1ª Temporada
    (2017) Os Defensores 1ª Temporada
    (2018) Demolidor – 3ª Temporada

    Podcasts

    VortCast 05 | Filmes da Marvel
    VortCast 22 | Ben Affleck
    Agenda Cultural 53 | Angeli, Demolidor e Guerra Mundial Z

  • Resenha | Demolidor: Amarelo

    Resenha | Demolidor: Amarelo

    Demolidor - Amarelo - Tim Sale Jeph Loeb

    Diante de grandes publicações, a dupla Tim Sale e Jeph Loeb se tornou uma representação contemporânea de parceria de sucesso nos quadrinhos. Iniciada na DC Comics, em histórias solos que compuseram a coletânea Dia das Bruxas, a equipe produziu grandes narrativas fechadas focadas em aspectos distintos de personagens do estúdio, como O Longo Dia das Bruxas e Vitória Sombria para Batman e As Quatro Estações para Superman. Na Marvel, desenvolveram uma trilogia de cores – agora acrescida de uma nova aventura com Capitão América – retomando a origem fundamental de três personagens e compondo uma trama sentimental e dramática sobre suas trajetórias.

    Em geral, as narrativas de cores formadas por Demolidor: Amarelo, Homem-Aranha: Azul, Hulk: Cinza e o recém-lançado Capitão América: Branco, retornam ao início das personagens, a partir de definições feitas por Stan Lee, para uma história de cunho mais pessoal, centrada em acontecimentos chave, narrados pela própria personagem. Trabalhando com um histórico de acontecimentos, a trama vai além de uma releitura de fatos, reordenando, com qualidade, as tensões da biografia do herói em uma nova visão.

    Demolidor: Amarelo foi o primeiro destes lançamentos em uma minissérie em seis edições publicada originalmente entre 2001 e 2002. No país, três edições foram publicadas com toda a série, no formato Panini, maior do que o americano. Loeb reordena o passado de Matt Murdock a partir de acontecimentos recentes da personagem. Assim, dialoga tanto com um drama atual das histórias como retoma seus primeiros dias. O ponto de partida se situa na morte de Karen Page, um acontecimento narrado por Kevin Smith em Demônio da Guarda, primeira história do Volume 2 de Daredevil. A narração é composta por uma carta escrita para a falecida Karen, repassando os primeiros momentos em que tiveram contato em uma época a qual o Homem Sem Medo ainda utilizava o manto amarelo em homenagem ao pai – um figurino modificado a partir de Daredevil #8, em agosto de 1965, o que prova a abordagem em momento precoce na carreira.

    A releitura adquire maior cunho dramático, perpassando acontecimentos do início da carreira, revivendo o trauma de outra namorada perdida. Ao dialogar com um personagem morto, a carga dramática se eleva e produz uma composição sensível que corrompe a estrutura de um herói perfeito. A morte nas tramas de Murdock sempre desenvolveram um conceito trágico na personagem, e o efeito causado por ela, sempre realista, é apoiado em dor e luto. O que o mantém como um representante heroico é a forte personalidade e o senso de obrigação moral de fazer o bem. Feitos que se sobrepõe e sempre abrandam as perdas violentas de Murdock desde a infância com a morte do pai, um traço psicológico que, desde sua fundamentação, foi inserido com precisão.

    Loeb  e Sale trabalham em sincronia, entrelaçando roteiro e imagens, desenvolvendo uma obra que ambos os aspectos se completam. Loeb inicialmente desenvolvia os roteiros com sugestões para o desenhista que expandia as informações, melhorando a visão artística em belos quadros. A edição também apresenta um novo estilo de colorização por computador, a partir das imagens preto e branco de Sale.

    Cada capítulo retoma um aspecto diferente da vida de Murdock explorando a trajetória anterior, os momentos iniciais, a luta com os primeiros vilões, o amigo Foggy Nelson e a tensão amorosa existente entre ambos na relação com Karen Page. Uma retomada memorial que adquire tom pessoal em uma estética impecável, homenageando artistas que passaram pela primeira longeva série da personagem encerrada em Outubro de 1998 para um novo grandioso inicio com Smith que se manteve em qualidade com David Maack, Brian Michael BendisEd Brubaker, Andy Diggle e Mark Waid nos roteiros.

    Demolidor: Amarelo nunca foi relançado no país e se trata de uma história cuja reedição é necessária, pelo bom conteúdo além do natural pedido dos leitores, ainda mais considerando o novo formato estabelecido pela editora em edições capa dura. Nos Estados Unidos, há tanto uma reedição solo quanto uma contendo as três histórias, uma edição defasada devido ao lançamento de Capitão América.

    Daredevil - Yellow - Tim Sale

  • Resenha | Demolidor Por Frank Miller & Klaus Johnson – Volume 2

    Resenha | Demolidor Por Frank Miller & Klaus Johnson – Volume 2

    Demolidor - Frank Miller - Volume 2 - Panini Comics

    Após se responsabilizar pela identidade visual de Demolidor, Frank Miller assume também os roteiros e inicia sua revolução narrativa na história da personagem. Demolidor – Por Frank Miller & Klaus Janson – Volume 2 representa um dos ápices da composição do autor pelo título, destacando-se, sem dúvida, a morte de Elektra Natchios.

    O Volume 1 termina após uma história em três partes envolvendo um grande conflito entre O Rei do Crime e Demolidor. Nas cinco edições desenhadas e escritas por Miller, a personagem de Elektra surge, o Mercenário se envolve em um grande embate com o Homem sem Medo, e o Rei do Crime demonstra sua força como um vilão cerebral. Miller realiza desde o início um planejamento com o protagonista e, neste número, dá prosseguimento a histórias breves, desenvolvendo outros vilões, enquanto trabalha em paralelo com a presença de Elektra na cidade.

    Como o roteirista havia desenvolvido recentemente mudanças significativas no universo do herói, as tramas deste segundo volume se baseiam nestas circunstâncias anteriores, sem nenhum novo personagem como gancho. Há uma habilidade ímpar em conduzir o roteiro tanto em sua ação quanto no drama, uma agilidade que se equipara na composição dos quadros, nos desenhos e cores que evitam excesso de informação.

    Miller parece compreender Matt Murdock, tanto o herói quanto seus medos internos, oriundos da perda do pai e da visão na infância. Enquanto a cada edição desenvolve uma aventura específica, tangenciando o conflito com Elektra bem como a relação amigável entre dois personagens em lados opostos da lei, os medos inconscientes são explorados na trama, resultando em uma excelente história na qual Demolidor procura novamente Stick, após um acidente que o faz perder seu radar. O mestre conduz Murdock a um labirinto interno de culpas e dores, aspectos que seriam responsáveis por seu desequilíbrio. Uma narrativa que resume a trajetória do protagonista e demonstra como, por si só, a figura do advogado é trágica e carregada de bom material para uma trama.

    A amada Elektra permanece presente na maioria das histórias, mesmo quando não é personagem central. Inicialmente, age a favor do herói às escondidas, até ser contratada pelo Rei do Crime como sua nova assassina, já que Mercenário está encarcerado após um surto psicótico. Quando ela retorna à sociedade após uma fuga, o encontro de vilões resulta em uma das cenas mais clássicas da trajetória de Demolidor, uma morte causada por raiva pura, demonstrando que não há nenhuma psicologia por trás de Mercenário se não a loucura. Mesmo em batalha com uma ninja mortal, o roteiro desenvolve a luta de maneira crível, com subterfúgios que dão vantagem a cada um, equilibrando as cenas até a investida final.

    Explorando também o viés urbano e político, o Rei retorna em cena tentando eleger um prefeito corrupto, popular por conta de campanhas fraudulentas e um sistema de corrupção e lavagem de dinheiro. Tentando eliminar vestígios e provas do crime, cabe a Demolidor, com a ajuda do amigo jornalista Ben Urich, a investigação para derrubar o prefeito antes de sua eleição. A atenção equilibrada entre Murdock e Demolidor é evidente e demonstra a intenção do roteiro em nunca transformar a personagem central em um homem com uma única faceta. Ainda que em outros quadrinhos o herói se sobressaia, ambos os lados são fundamentais na história, tanto como base quanto em argumento para dramas diversos.

    Demolidor Por Frank Miller & Klaus Janson – Volume 2 mantém a qualidade narrativa em suas frontes e demonstra, mais uma vez, a importância de seus autores no cenário dos quadrinhos e diante desta grande personagem da Marvel. Um terceiro volume ainda será lançado, finalizando a primeira passagem de Miller na revista, um volume que se inicia colocando frente a frente o Homem sem Medo e Justiceiro, o embate central da segunda temporada da série da Netfix.

    Compre: Demolidor Por Frank Miller & Klaus Janson – Volume 2

    Demolidor - Miller Jansen - Vol 2

  • Melhores Leituras de 2015

    Melhores Leituras de 2015

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    Devido ao maior tempo dedicado a uma leitura do que assistir a um filme ou a episódios seriados de uma temporada, é natural que uma lista de Melhores Leituras seja um tanto anacrônica aos lançamentos. A isso soma-se o fato de que, ao encerrar 2014, planejei a leitura de alguns autores que desejava conhecer ou me aprofundar em suas obras, e assim chegamos às edições selecionadas abaixo como as melhores leituras do ano passado.

    Como não havia número suficiente para formatar uma única lista de livros, decidi pela abordagem mista ao introduzir e pontuar os bons quadrinhos lidos no ano. Neste aspecto, é evidente que foquei as leituras no eixo tradicional da Marvel/DC Comics, um aspecto que pretendo evitar este ano, realizando a leitura de outras obras mais autorais (possivelmente veremos esse impacto em uma futura lista deste ano, a ser publicada em 2017).

    Explicitando a falta de sincronia com lançamentos e formatos, a lista nem mesmo se ajusta à tradicional recomendação de dez itens selecionados. Mas sim doze obras, seis livros e seis HQs, para que nenhuma das boas leituras ficasse de fora. Algumas dessas indicações também foram analisadas no site logo após a leitura, dessa forma peço desculpas aos leitores por eventuais repetições de abordagem.

    Manual de Pintura e Caligrafia – José Saramago (Companhia das Letras)

    Manual de Pintura e Caligrafia - Saramago

    Narrativa de estreia do lusitano José Saramago – posteriormente, uma obra anterior seria lançada após sua morte – Manual de Pintura e Caligrafia é um vigoroso romance de estreia. O autor inverte a lógica sobre a carreira e descreve sua proposta literária logo no primeiro lançamento, contrariando manuais tradicionais de autores que sempre, em um estágio avançado da carreira, versam sobre o ofício. Misturando duas narrativas, a personagem atravessa a arte da pintura rumo à escrita, uma transição feita pelo próprio autor, transformando esta obra em um misto de metalinguagem e tese literária, ainda que os elementos narrativos que o consagraram ainda não estivessem presentes.

    Demolidor – Fim Dos Dias (Panini Comics)

    Demolidor - Fim dos Dias

    Inserido na série O Fim da Marvel Comics, Fim dos Dias é uma clara homenagem à trajetória do Homem Sem Medo. Sob a batuta de Brian Michael Bendis, a história leva Ben Ulrich a uma última reportagem quando os heróis perderam sua força como defensores. A equipe de primeira linha desenvolve uma história sem igual, simultaneamente apresentando grandes momentos e figuras de Demolidor ao mesmo tempo em que se configura como mais uma grande história de um dos personagens mais coesos do estúdio.

    Romeu e Julieta – William Shakespeare (Saraiva de Bolso, tradução de Bárbara Heliodora)

    Romeu e Julieta - Shakespeare

    Casal mais conhecido da dramaturgia de William Shakespeare, Romeu e Julieta são símbolo de amor universal, representado, transcrito e transformado em um amor perfeito. A peça considerada uma das mais líricas do autor é fundamental para destruir o conceito das personagens através dos tempos, evidenciando que o amor de dois adolescentes termina de maneira trágica devido ao frenesi impulsivo e a imaturidade. Versando com qualidade sobre a agressividade desse amor, o casal permanece no imaginário coletivo em uma bonita história trágica.

    Pantera Negra – Quem é o Pantera Negra? (Salvat / Panini Comics)

    Pantera Negra - John Romita Jr - destaque

    Anterior a modificações estruturais de personagens representativos de uma causa, a Marvel fundamentou, dois anos após a nova lei de direitos civis nos Estados Unidos, um personagem negro com uma bela mitologia. Erigido como um deus no coração de um país futurista na África, local que nunca cedeu a colonizadores, a concepção do Pantera Negra atinge versão definitiva na narrativa de Reginald Hudlin. Retomando conceitos de tradições africanas, T’Challa adquire simultaneamente uma história coesa e uma tradição tribal forte, tornando-se um importante e imponente personagem político no cenário da editora.

    O Silêncio do Túmulo – Arnaldur Indridason (Companhia das Letras)

    O Silêncio do Tumulo - Arnaldur Indridason

    Impressiona que em uma literatura normalmente considerada formulaica como a narrativa policial se possam desenvolver tantos estilos diferentes e histórias genuinamente interessantes a partir de um crime. Arnaldur Indridason compõe sua narrativa a partir de dois focos: a investigação de um esqueleto encontrado nas imediações da Reykjavík, Islândia e uma trama familiar sobre um pai abusivo. O leitor reconhece de imediato que as narrativas iram se entrecruzar e, mesmo enfocando tais tramas de modo diferente, o autor é capaz de mantê-las em um mesmo tom que, quando chega em seu ápice, desvenda o crime e revela um aspecto crítico sobre a condição social e psicológica que fomentou o assassinato. É a partir desta obra que Indridason alcança sua melhor forma.

    Gotham DPGC: No Cumprimento do Dever (Panini Comics)

    Gotham GPGC

    Ed Brubaker e Greg Rucka partiram de uma premissa interessante ao indagar como seria o contingente policial de Gotham City vivendo à sombra do Homem-Morcego. O resultado é uma revista que destaca personagens comuns vivendo em um cotidiano padrão, no qual a figura de Batman é vista com mística, sem explorar a personagem interiormente como em suas revistas mensais. A partir de dramas pessoais em meio a atentados e crimes de grandes vilões e bandidos comuns, a equipe de crimes hediondos de Gotham sobrevive diariamente nesta pesada rotina criminal. Com uma vertente narrativa genuína de histórias policiais, a equipe apresenta uma visão diferente deste universo tão explorado e querido do público.

    Here, There And Everywhere: Minha Vida Gravando os Beatles – Geoff Emerick e Howard Massey (Novo Século)

    Here There Everywhere - Minha vida gravando os beatles

    Na vasta bibliografia sobre The Beatles, dividida entre obras de jornalistas experientes, críticos renomados e personagens que pontualmente passaram pela carreira da banda, a biografia de Geoff Emerick é fundamental como uma figura de autoridade intrinsecamente ligada à banda. Responsável pela formatação da fase mais prolífica da carreira do quarteto, Emerick narra brevemente sua trajetória até conhecer a banda e nos brindar com informações daquilo que fizeram dos Beatles a banda por excelência: sua qualidade musical. Detalhes técnicos, informações e curiosidades são costuradas em uma prosa suave que nos coloca ao lado da intimidade do Fab Four sob a visão daquele que esteve acompanhando a progressão a cada ensaio e moldando o som da banda. A obra é prazerosa e nos aguça a ouvir de maneira diferente a discografia do quarteto.

    Superman – A Queda de Camelot (Panini Comics)

    Superman - A Queda de Camelot

    Publicada simultaneamente a outra grande saga de Superman, O Último Filho, esta Queda de Camelot é um longo épico dividido em duas partes. Conduzida por Kurt Busiek, um dos responsáveis pelas revistas do herói ao lado de Geoff Johns na época pós Crise Infinita no projeto Um Ano Depois. Trabalhando em linhas temporais de passado, presente e futuro, o autor cria uma história provável sobre um futuro apocalíptico ao mesmo tempo em que desenvolve o passado do vilão Arion e as crescentes ameaças do presente conhecido. O tamanho da série cria uma narrativa aventureira cíclica, composta de diversos ganchos e conduzida pela aventura, dando sequência à explícita homenagem a Era de Prata desenvolvida desde o primeiro arco de Um Ano Depois. Se O Último Filho é uma reflexão pretensiosa e fabular sobre passado e descendência, A Queda de Camelot faz da aventura o fio condutor.

    Dragão Vermelho – Thomas Harris (Record)

    Dragão Vermelho - Thomas Harris

    Um dos grandes vilões do cinema, Hannibal Lecter inicia sua trajetória nesta narrativa escrita em 1988. Thomas Harris explora com eficiência a psicologia de seu assassino e compõe um interessante laço entre o investigador Will Graham e o psicanalista canibal, o qual colabora no caso. Em um thriller psicológico aclamado por James Ellroy como um dos grandes livros do gênero, a história é pautada no desenvolvimento do caso e no suspense, demonstrando talento na composição narrativa ao criar densos personagens bizarros, inovando ao introduzir com esmero a mente criminosa em cena. Mais impressionante que esta trama é o fato do autor, após a sequência O Silêncio dos Inocentes, ter produzido duas obras sobre a personagem sem nenhum apelo e vigor equivalentes a esta obra inicial. Mesmo com uma carreira desequilibrada, Dragão Vermelho é uma narrativa impecável.

    Os Vingadores – O Mundo Dos Vingadores (Panini Comics)

    Vingadores - n 1 - Avengers World

    Responsável por assumir duas revistas dos Vingadores após oito anos sob comando de Brian Michael Bendis, Jonathan Hickman iniciava um novo ponto de partida para os Heróis Mais Poderosos da Terra, reconfigurando a equipe em sintonia com o novo processo editorial intitulado Nova Marvel. O Mundo dos Vingadores alinha novos e antigos personagens em uma renovada formação da equipe, ao mesmo tempo em que introduz novos vilões que seriam fundamentais para futuras sagas da editora. Sem medo da sombra do sucesso da passagem de Bendis, o arco é simultaneamente uma boa história como também funciona como um início para novos leitores.

    A Ditadura Envergonhada – Elio Gaspari (Intrínseca)

    Ditadura Envergonhada - Elio Gaspari

    Com intensa pesquisa em fontes diversas e uma prosa ensaística de primeira qualidade, Elio Gaspari produz uma das obras definitivas sobre a ditadura militar brasileira. Indo além da formalidade dos fatos, o autor insere um estilo narrativo próprio que aviva a época e os dramas dos conflitos vividos e seus delicados detalhes. Traçando um panorama da sociedade, observando tanto o movimento militar como os levantes contra o golpe, este é o primeiro volume de uma vasta obra sobre o período que, ainda este ano, ganha o último e definitivo desfecho.

    Batman: Cidade Castigada (Panini Comics)

    Batman - Cidade Castigada

    A saga Silêncio, anterior a Cidade Castigada, talvez tenha eclipsado a atenção voltada a esta história escrita por dois grandes parceiros: Brian Azzarello e Eduardo Risso. Se a anterior pretendia ser um grande épico em doze partes, apresentando diversões heróis e a galeria de vilões do Morcego, Cidade Castigada enfoca o Batman investigador em uma história mais eficiente e coesa que a de Jim Lee e Jeph Loeb. Gotham adquire contornos noir entre poesia e corrupção enquanto o roteiro foge de uma tradicional narrativa feita pelo morcego, acrescentando tanto uma reflexão erudita sobre a cidade quanto ampliando a limitação física do herói, sem contar uma improvável cena em que Bruce Wayne faz seu próprio jantar, desmitificando, com certo humor sem perder o tom sério da narrativa, os fatos cotidianos que o personagem, como um reflexo de um ser humano normal, executa todos os dias.

    Cidades de Papel - John GreenMenção Honrosa: Cidades de Papel – John Green. Considerando o público-alvo de sua narrativa, Green surpreende com uma história pontual sobre a transição entre a adolescência e o mundo adulto e uma percepção madura de um grupo de amigos. Um romance de formação que tem potencial para se tornar significativo no crescimento do leitor jovem.

  • Resenha | Alias

    Resenha | Alias

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    Comandado por Brian Michael Bendis, em uma das iniciativas adultas da Casa das Ideias através do selo que estreava Marvel Max, as histórias de Jessica Jones à frente do título Alias começariam viscerais, agressivas e maduras, já evocando palavras de baixo calão no primeiro quadro sequencial. A primeira interação de Jones com outros personagens estabelece quase todo seu ideário, como investigadora particular, sem freios na língua, de métodos violentos e intolerante a sexismos, fatores que fariam dela uma personagem interessantíssima e alinhada com o novo milênio.

    O trabalho que Jessica executa como detetive particular incorre segredos agressivos revelados, o que faz um dos seus clientes surtar com um ideário machista, tentando agredi-la a troco de nada. O fracasso de seu trabalho atual, tendo que lidar quase sempre com policiais de pensamento tacanho e tosco, e clientes tão grosseiros quanto o primeiro, faz ela se frustrar, fazendo até relembrar sua vida pregressa como agente que usava collant colorido com um pouco de arrependimento, ao contrário de seu discurso pseudo maduro.

    Entre devaneios, entregas sexuais intensas, dúvidas e tédio causado pela natureza de seu trabalho, Jones é franca em sua narração, explicando já no episódio primordial o modo  como opera suas procuras, destacando que gasta mais tempo verificando se o que o cliente fala é verdade do que realizando o trabalho pedido. Os desenhos de Michael Gaydos são um pouco inusuais para quem não está acostumado, ajudando a construir uma atmosfera que mistura a podridão de espírito e caráter, dos que habitam aquele sujo mundo, além de fazer preconizar a aura noir que faria da série algo único.

    O arco Codinome Investigações – nome também da agência autônoma da personagem – é interessante por estabelecer uma relação nada maniqueísta entre Luke Cage e Jones, envolvendo um sujeito que cede às tentações mesmo tendo um relacionamento solidificado. A confusão da moça em estar em uma convivência tão complicada faz com que não enxergue o óbvio, não tendo clarividência sobre a armadilha que a cerca. O aspecto visa gerar humanidade na personagem, mostrando-a como um ser falho.

    Apesar de algumas menções a heróis do mainstream da Marvel, como Capitão America e Matt Murdock, o enfoque é na construção da personagem, que brilha praticamente sozinha, em sua visão tão particular no ínterim da violência que ocorre na cidade de Nova York. Alias demonstra o quão rico é o universo utilizado pela Marvel, sem apelar para fórmulas fáceis, explorando os arredores do micro mundo dos super-seres, focando em quem vive à margem dessa fábula escapista, dando gravidade a esta parcela de seres.

    O segundo arco, Nível B, explora ainda mais a metalinguagem do mundo dos super-heróis, a começar pelo superado “trauma” da protagonista ao estabelecer contato com Carol Danvers, àquela altura detentora da alcunha de Miss Marvel. A partir dali, Jessica se sente mal por ter se envolvido com Cage, e a ainda recebe missões secundárias para encontrar o marido de uma mulher pobre e desconsolada. O alvo era Rick Jones, o sidekick e correspondente ao Forrest Gump do universo Marvel.

    Há uma profundidade em alguns pontos específicos da história que fazem sentir saudade da época em que Bendis escrevia mais despretensiosamente, sem tentar tornar suas histórias produtos populares e grandiloquentes. Alias é repleta de pequenas discussões filosóficas sobre humanidade, simplicidade e notoriedade por motivos fantásticos. Jones é um bom personagem-orelha, o meio-termo entre o homem comum e o meta-humano mega-poderoso, um pária num mundo que se divide entre semi-deuses e meros mortais, tentando a sobrevivência por meio de eventos patéticos e curiosos.

    A Panini lançou uma edição encadernada, que continha os primeiros nove volumes, mas não deu prosseguimento aos outros números lançados no Brasil apenas na revista Marvel Max. A próxima história é curta e brinca com o estilo jornalistico do Clarim Diário em uma entrevista de J. Jonah Jameson com a moça, para então desembocar em um novo arco, sobre desaparecimento de uma mutante, que termina de maneira muito trágica, tão catastrófica que a faz aceitar as investidas do Homem Formiga II, detentor também da alcunha no universo cinematográfico da Marvel, Scott Lang.

    Após aceitar o trabalho de guarda-costas de Matt Murdock, após ele ser acusado de ser o Demolidor, como visto em Queda de Murdock, Jessica passa a discutir com Cage o que houve naquela fatídica noite com ele ao dividir a função de protetor do advogado. Não se tem muito pudor em tratar das carências e da incidência de parceiros sexuais da personagem, tratando-a como normalmente se trata um personagem masculino, sem medo de mostrar um indivíduo sexualmente ativo e falho, viciado em drogas legais, mais humana do que super.

    Intimidade é um arco que começa muito bem, fazendo lembrar o porquê da personagem principal ter se eximido do maniqueísmo presente na vida dos heróis normativos ao se deparar com uma demonstração simples do quanto os populares podem ser mesquinhos. A história se torna interessante pela presença de Mattie Franklin, uma moça que se veste de Mulher-Aranha e que tem uma intensa ligação com J. Jonah Jameson, pessoal o suficiente para fortalecer ataques de seus inimigos profissionais, e emocional a ponto de fazê-lo sentir-se parente sanguíneo da garota que adotaram, apesar de ele e a esposa serem claramente distantes da moça adotada.

    A Origem Secreta de Jessica Jones é uma história curta, mas interessante. Gaydos emula o traço de Steve Ditko e Jack Kirby ao associar o passado de sua personagem com o de Peter Parker, antes de ele ser picado por uma aranha em um acidente radioativo. Seria em uma inocente viagem que sua vida mudaria, com um acidente com as mesmas causas que deram ao Aranha seus poderes, e que cercearam a vida de toda sua família, o que explica o azedume em que a ex-heroína Safira (e Paladina durante um tempo) se insere.

    Os elementos utilizados para remontar a origem da personagem demonstra como seria se o Homem Aranha fosse um personagem voltado para um publico mais adulto, ainda mais repleto de camadas e verossimilhança. A problemática de Jones é bem mais grave, pois lhe falta uma figura de mentor, como era tio Bem com o jovem Peter.

    O último arco, Púrpura, introduz Killgrave, também chamado de Homem Púrpura, o vilão que seria utilizado no seriado da Netflix. As histórias de Bendis só funcionaram pela utilização de suas páginas para construção do ethos da protagonista, só inserindo um antagonista à altura após 23 números. Killgrave parecia já espreitar Jessica antes, além de ter um episódio anterior ligando a heroína a sua derrota.

    A natureza do poder do opositor, de convencer as pessoas a fazer o que ele queria,  não é tão assombrosa quanto seres cósmicos, mas é mortal e atemorizadora no ambiente em que Alias se alastra. As inserções dos desenhos de Mark Bagley deveriam remeter a tempos mais simples e heroicos, mas revelam a manipulação que a então Safira sofria ao tentar enfrentar seu antagonista, dominada facilmente, servindo o tom mais leve de total contraponto à gravidade da perda de controle que a mulher possui.

    A arte de Gaydos prima pelas sombras e por uma rusticidade que ajuda a evocar os sentimentos adultos, tão diferenciados do escapismo que normalmente incorre sobre os quadrinhos da Marvel. Alias só poderia ser tão genial graças ao trabalho do desenhista, que conseguiu inaugurar bem a personagem que ajudou a criar. Toda a ambiguidade vista no personagem vilanesco só funciona pelos tons escolhidos pelo artista, que adere muitas camadas de profundidade na história.

    O destempero da personagem, ao se deparar com o homem que lhe fez mal, a faz rever todo o seu convívio, recorrendo ao mesmo Cage que ela quis longe, aproveitando da companhia dele para desabafar e situar o leitor na grave situação que passou. Apesar do Selo Max ter em seu caráter a temática adulta, o conteúdo contestatório foge da obviedade. Ao tocar no estupro, há um cuidado para não banalizar a questão, tanto que o abuso sexual que a moça sofreu não foi físico, e sim uma violação mental, de consequências tão graves quanto o defloramento carnal, ainda mais grave para a psique da vigilante. O assédio incluía a total perversão das vontades, traição de seus ideais e apelo à degradação moral ao longo dos oito meses em que o vilão fez da moça, refém de suas luxúrias.

    É em um dos episódios de domínio que Jessica quase morre ao defrontar-se com os Vingadores, tentando encontrar o Demolidor, inimigo íntimo do “dominador”, numa confusão mental e de ocaso que quase lhe custou a vida, e que também ambienta sua fobia por collants coloridos. Jones aceita então a missão que seria a de conversar com Zebediah Killgrave, a fim de fazê-lo confessar o assassinato de algumas de suas vítimas fatais. A situação, que se enquadraria somente em um embate filosófico, ganha contornos agressivos quando o “doutor” consegue fugir do encarceramento.

    Púrpura trata o antagonismo com uma arrogância muito carismática, comentando tudo de modo metalinguístico, quase estabelecendo um diálogo com o leitor. O que falta a Jessica em magnetismo visual, sobra a ele, graças principalmente a sua postura charmosa. O modo como ele conduz sua vítima é de uma maestria impressionante, e a construção em cima de um personagem tão antigo impressiona pela criatividade de Bendis em retratar todo o terror que Killgrave exala.

    Ao contrário do primeiro abuso, este é solucionado por escolha e ação da própria Jessica, que consegue, através de uma ação de prevenção, retomar o controle mental de si mesma. O ciclo finalmente se fecha e a redenção de Jones ocorre por seus próprios méritos, em uma atitude que faz alegoria à superação óbvia do trauma, mas não só da questão com Killgrave, também da trajetória torpe que vinha ocorrendo desde a puberdade. O final poderia facilmente incorrer em uma pieguice extrema e adocicada, mas a questão é driblada, fortificada pela falta de cores que Bendis e Gaydos sempre deixaram predominar.

    Apesar de otimista, o desfecho da revista não dá garantias de um futuro fácil para Jessica Jones, ao contrário, acrescenta tons de gravidade, mostrando que seu destino poderia seguir tão trôpego quanto antes. O sucesso de crítica não garantiu uma vida longa à publicação, logo cancelada, tendo ao menos uma história que finda de maneira digna e condizente toda a jornada da vigilante contratada. A trama condiz ao underground do universo mágico da Marvel, e dá vazão a temáticas controversas ligadas ao feminismo, sexualidade e à independência do espírito feminino, em uma atmosfera urbana, crua e visceral que resgata elementos que há muito não eram utilizados e que funcionam inclusive para plateias mais novas.

  • Agenda Cultural 60 | Demolidor, David Cronenberg e Paul Thomas Anderson

    Agenda Cultural 60 | Demolidor, David Cronenberg e Paul Thomas Anderson

    agenda60

    Bem-vindos a bordoFilipe Pereira e Marcos Paulo recebem os companheiros do Cine Masmorra, Marcos Noriega e Angélica Hellish para comentar um pouco sobre cinema e a série Demolidor.

    Duração: 104 min.
    Edição: Wilker Medeiros
    Trilha Sonora: Wilker Medeiros
    Arte do Banner: 
    Bruno Gaspar

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    Série

    Review Demolidor – 1ª Temporada

  • Resenha | Demolidor: Fim Dos Dias

    Resenha | Demolidor: Fim Dos Dias

    Demolidor - Fim Dos Dias - Vol 1

    Lançado pela Panini Comics em dois volumes, cada um compilando quatro edições da minissérie, Demolidor – Fim dos Dias dá prosseguimento a “The End” da Marvel, apresentando um fim definitivo para grandes personagens em um futuro provável. Nessa edição, a obra sobre o fim do Homem Sem Medo reúne um grande time de roteiristas e quadrinistas, que passaram pelo título e se destacam entre as grandes fases da personagem. Brian Michael Bendis e David Mack assinam em conjunto o roteiro, enquanto Klaus Janson desenha e Bill Sienkiewicz se responsabiliza pelas cores. As capas principais são assinadas por Alex Maleev (que também é responsável por algumas páginas específicas da história), e há versões alternativas com Mack e Sienkiewicz. Um grupo excelente para a suposta última história de Matthew Murdock.

    O universo situado é um ambiente hostil em que a maioria dos heróis se aposentou ou retornou à vida normal. As grandes representações de outrora se tornaram subprodutos da indústria de marketing em lanchonetes e afins que utilizam os nomes da era heroica como razão para a credibilidade. A trama é narrada por Ben Ulrich, um dos personagens mais significativos na evolução da personagem, representando, simultaneamente, o homem comum e a força da imprensa, o quarto poder. O jornalista será responsável por uma reportagem final sobre o Homem Sem Medo, integrante da última edição impressa do Clarim Diário, jornal de J.J. Jameson que, mesmo resiliente, tirará seu jornal de circulação.

    Bendis e Mack sempre utilizaram em suas histórias a potência de Demolidor como um herói urbano, flertando com uma narrativa policial de crimes e contrabando. Novamente a estética policial é utilizada no enredo, dessa vez de maneira mais pura, com um mistério a ser desvendado por Ulrich. O repórter parte em uma jornada investigativa para descobrir por que, prestes a ser morto, Matt Murdock sussurrou a ele uma palavra desconhecida. A trama parte da mesma referência do clássico do cinema Cidadão Kane: uma figura notória da sociedade, prestes a morrer, diz uma palavra incompreensível e um repórter que, a partir de então, reconstrói a história desse personagem enquanto procura o significado desse último ato.

    A escolha de um viés policial como propósito narrativo é coerente e justifica a presença de grandes personagens do universo do protagonista: Elektra, Mary Tifóide, Justiceiro, Foggy Nelson, entre outros que recebem a visita do jornalista. Metódico e dedicado em sua reportagem, Ulrich busca informações de todos os associados conhecidos, conectando uma teia de personagens que, não fosse a estrutura de uma investigação, seriam presenças aleatórias dentro desta trama-homenagem.

    Em um início de alto impacto, com a luta derradeira entre Demolidor e Mercenário, Ulrich expõe a importância de Murdock como um justiceiro ao mesmo tempo em que estabelece a mudança em um mundo sem heróis aparentes. Será dele a função de transitar entre diversos amigos e vilões do Homem Sem Medo, colhendo dados e procurando informações que justifiquem a ausência de Murdock nos últimos anos e o porquê da palavra misteriosa.

    Antes de sua morte, Murdock havia estabelecido uma conduta diferente daquela conhecida pelos leitores, ultrapassando limites de sua jornada e, portanto, colocando em xeque sua função como vigilante. Um drama interno desenvolvido através do desgaste emocional extremo de anos em combate, além da redução das habilidades físicas após um longo período de intensa atividade física. A queda da personagem, desta vez eterna, simboliza a decadência do próprio conceito de herói e dialoga com a base argumentativa de Bendis dentro da Marvel, injetando um conceito realista com o qual assumiu o título de Demolidor e Os Vingadores.

    O ritmo narrativo se mantém na maioria dos oito volumes da série, mas o desfecho se revela levemente mais fraco do que o excelente início. Em parte devido às pistas que os roteiristas deixam no decorrer da trama, as quais um leitor mais atento percebe acompanhando a investigação ao lado de Ulrich (por consequência, tentando desvendar as pistas descobertas).

    O leve desequilíbrio entre começo e fim não reduz a qualidade da história. Fim do Dias é eficiente como narrativa final de um grande personagem, promovendo uma bela homenagem sobre sua trajetória, ao mesmo tempo em que transforma este possível fim em mais um momento para figurar nas listas de grandes histórias de Demolidor.

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  • Resenha | Demolidor Noir

    Resenha | Demolidor Noir

    Demolidor - Noir - Capa

    Dando prosseguimento à coleção Noir da Marvel, na qual heróis da Casa das Ideias são inseridos em um contexto policial, o escritor Alexander C. Irvine e os artistas Tomm Coker e Daniel Freedman apresentam a versão do herói da Cozinha do Inferno, Demolidor, em sombras, realismo, mulheres fatais situados no período da Lei Seca americana.

    Nesta série, a estética noir é delimitada como uma narrativa composta por parâmetros específicos como regras institucionais necessárias para a trama. Apesar do aparente esvaziamento para adequar personagens em uma roupagem diferente, o noir é um estilo rico dentro do gênero policial. O desenvolvimento da história importa menos do que a construção das personagens. Uma inversão em relação às investigações de enigma em que o crime era tão importante quanto o detetive.

    A maioria dos roteiros da série preenche uma lista simples do que deve ou não conter um noir para adequá-lo ao estilo. Porém, é difícil retrabalhar personagens para inseri-los em outros contextos sem deslocá-los completamente das características originais. No caso de Demolidor, um personagem urbano que há muito tempo dialoga com uma estética realista e crua, não há uma grande recriação e, por consequência, um impacto menor em diversificar o herói.

    Matt Murdock mantém a parceria com Foggy Nelson, mas se torna um investigador informal da Cozinha do Inverno. Um vigilante que perdeu a visão quando seu pai boxeador foi assassinado e reaprendeu a utilizar seus outros sentidos, incluindo uma passagem na infância por um circo da cidade. O roteiro enfoca a mudança que a cegueira trouxe ao garoto, destacando com dubiedade as novas percepções apuradas. Ao mesmo tempo que Murdock se torna mais atento ao mundo a sua volta e conquista vantagens naturais sobre outras pessoas, sua habilidade lhe impede momentos de tranquilidade e solidão.

    Iniciada in media res – estilo de narrativa que começa no meio da história –, a trama mostra o herói invadindo a casa de Wilson Fisk para um embate. Fisk e Murdock dialogam e estabelecem a origem que promoveu este encontro. Na Cozinha do Inferno, um novo assassino começa a assassinar capangas rivais de Fisk, e Demolidor investiga tais acontecimentos. Ao mesmo tempo, uma mulher misteriosa pede apoio a Foggy e Murdock por seu envolvimento com um mafioso local.

    A narrativa de Irvine se sustenta bem com um bom personagem central narrador da história. Porém, nada acrescenta ao personagem urbano, nem mesmo em relação a reflexões metafísicas sobre sua condição. Fosse uma trama sem nenhum herói, talvez seria mais funcional. A maior diferença entre o protagonista original e esta versão é deixar a inferência de que Murdock escolheu formas definitivas de diminuir a corrupção do local ao matar os vilões. Porém, o próprio roteirista afirma que essa percepção foi deixada em aberto para interpretação de cada leitor. Dois grandes personagens, Elektra e Mercenário, foram transformados em um só na figura da femme fatale Eliza. Uma mulher que desde o primeiro encontro deixa Matthew apaixonado, mesmo que em nenhum momento da história se estabeleça alguma cena de afeição entre ambos.

    A composição inicial e o desfecho da série realizam um bom recorte que representa a continuidade da luta do herói contra a corrupção do local. Mas dentro de um projeto cuja temática é a releitura narrativa, a história falha por não conseguir ir além da excelente representação tradicional, modificando pouco de suas estruturas, como se preenchendo os requisitos mencionados apenas para se adequar ao contexto.

    Especialmente para a edição nacional, Irvine escreveu um prefácio exclusivo, presente na publicação da Panini Comics. O quadrinho mantém o padrão das edições anteriores, com capa dura e um preço acessível, e ainda contém uma breve entrevista com o desenhista e as diversas capas originais.

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  • Agenda Cultural 59 | Luther King, Sniper Americano e Demolidor

    Agenda Cultural 59 | Luther King, Sniper Americano e Demolidor

    agenda59

    Bem-vindos a bordoFlávio Vieira (@flaviopvieira), Filipe Pereira, Carlos Brito, Wilker Medeiros (@willtage) e Douglas Fricke (@dwfricke) se reúnem para comentar o que rolou nos cinemas em fevereiro e ainda comentam sobre alguns lançamentos de quadrinhos, música e literatura.

    Duração: 120 min.
    Edição: Wilker Medeiros
    Trilha Sonora: Wilker Medeiros
    Arte do Banner: 
    Bruno Gaspar

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    The Dark One – Podtrash
    Cine Alerta

    Comentados na Edição

    Matéria de Carlos Brito sobre os lançamentos da Editora Aleph
    Entrevista de Carlos Brito com Timothy Zahn, autor de “Star Wars – Os Herdeiros do Império”

    Cinema

    Literatura

    Os Demônios de Loudun – Aldous Huxley – Compre Aqui

    Quadrinhos

    Resenha Demolidor – Fim dos Dias (2 edições) – Compre Aqui
    Os Invisíveis Vol. 4: Infernos Unidos da América – Compre Aqui
    Bone 1 -Fora de Boneville – Compre Aqui
    Saga – Volume 1 – Compre Aqui

    Música

    Blind Guardian – Beyond the Red Mirror
    Dr. Sin – Intactus

  • Resenha | Demolidor Por Frank Miller & Klaus Janson – Volume 1

    Resenha | Demolidor Por Frank Miller & Klaus Janson – Volume 1

    Demolidor Por Frank Miller & Klaus Janson - Volume 1

    Antes da cidade do pecado, anterior à releitura sobre passado e um futuro possível para o Homem-Morcego, Frank Miller era um desenhista em início de carreira, trabalhando como freelancer para a Marvel e a DC Comics. Ao desenhar duas histórias para a revista de Homem-Aranha, recebeu certo destaque e aproveitou o prestígio dessas edições para pedir ao editor-chefe da Marvel na época, Jim Shooter, uma participação na revista de Demolidor, como desenhista. Em maio de 1979, chegava às bancas Daredevil #158, a primeira edição do Homem Sem Medo composta com os traços de Miller. Talvez nem mesmo o desenhista soubesse que essa edição seria o primeiro movimento de uma de suas grandes obras da carreira.

    A passagem de Frank Miller e Klaus Janson pelo universo do herói realizou-se em três edições especiais no exterior e posteriormente em uma versão onmibus. A Panini Comics lançou no mercado brasileiro em dezembro de 2014 o primeiro volume desses encadernados, compilando 14 edições (Daredevil #158 a #172) desta fase que se consagrou como referência para o personagem e foi fundamental na carreira de Miller, inicialmente assinando somente os desenhos e assumindo depois também os roteiros. Antes da chegada do desenhista ao título, as vendas de Demolidor estavam em baixa, e uma renovação era bem-vinda para apresentar uma nova visão do personagem. Acima de tudo, Miller estava interessado em desenhá-lo e admirava o conceito de uma figura que subjugava a deficiência tornando-se um defensor.

    O encadernado apresenta cronologicamente as histórias do período, iniciando-se com duas edições de Peter Parker, The Spectacular Spider-Man feitas meses antes de sua passagem por Demolidor, um registro da primeira vez que desenhou o Homem Sem Medo. As histórias valem mais pelo registro histórico, pois, como eram partes de uma saga maior do Aracnídeo não desenhadas por Miller, estão inseridas parcialmente no volume, sem o desfecho da trama. Na edição americana da obra compilada em uma única edição omnibus, estas duas histórias foram retiradas do volume e inseridas em um companion extra que reunia os demais materiais de Miller em edições isoladas do personagem, além de especiais como A Queda de Murdock.

    O primeiro volume é o início da transformação narrativa de Demolidor que, nas palavras do próprio autor, foi imaginado como um conceito policial dentro de um personagem heroico. Como em décadas anteriores, as tramas não se prolongavam em mais de uma edição, e havia uma dinamicidade maior entre desenhos e narração, um progresso natural de evolução dos quadrinhos. Neste momento da saga, Mathew Murdock era um advogado de sucesso, e o escritório de advocacia Nelson e Murdock ajudava Hell´s Kitchen dando assistência a um centro social dedicado aos necessitados. A secretária Karen Page, e interesse amoroso dos dois associados, estava fora de cena, mas outras mulheres rodeavam seu ambiente: Heather Green e Natasha Romanoff, a Víuva Negra, dividiam a atenção amorosa do advogado, além de conhecerem sua identidade secreta; também há a presença da secretária Rebecca Blake, outra personagem que mantém, como Karen inicialmente, um amor platônico pelo charmoso cego.

    Os roteiros de Roger McKenzie, os traços de Miller e as cores de Janson seriam o começo de uma revolução para o personagem. Nestas primeiras histórias, vilões se destacam em ações contra o Demolidor, bem como participações especiais de outros personagens, como Dr. Octopus e Hulk. Além disso, há uma ênfase nas relações humanas de Matthew, entre o passado traumático com a morte do pai e o relacionamento com novos amigos, como Ben Ulrich, jornalista que investiga Demolidor e que tem pistas de sua identidade. Uma das melhores histórias da fase de McKenzie é Revelado, narrativa que compreende o momento posterior de um confronto quase mortal entre Demolidor e Hulk, com o protagonista recuperando-se no hospital. O roteiro não só enfatiza a origem do personagem como também estabelece um diálogo franco entre Murdock e Ulrich, que apresenta sua tese sobre o Diabo da Guarda e conhece a origem do advogado desde sua infância até o momento em que fica cego após um acidente. Destaca-se, assim, o caráter do repórter, que opta por não divulgar a história para não destruir o herói e seu alterego.

    Demolidor 160 - Mercenario - Viuva Negra

    O momento mais aguardado do encadernado é quando Miller assume o roteiro das histórias, indo além da responsabilidade de produzir a identidade gráfica do personagem. As cinco últimas histórias do volume são apenas um preâmbulo da grandiosidade que está por vir e o começo de grandes bases da vida do Demolidor. Miller utiliza a reconstrução do passado narrativo – o famoso retcon, que hoje se tornou um clichê quase obrigatório em sagas – para criar a personagem Elektra, uma garota que foi namorada de Matthew enquanto ele estava na universidade. Elektra aparece primeiramente em cena como uma vilã mercenária, e o leitor relembra com o bacharel a época de faculdade, o grande amor entre o casal e o desfecho trágico de um sequestro que terminou com a morte do pai de Elektra, fazendo-a voltar para a Europa e distanciar-se do amado. Ao se reencontrarem no presente, ainda sentem a chama do amor, mas agora estão divididos em lados opostos da lei. Curiosamente, ambos os personagens tiveram o mesmo passado trágico mas caminharam em direções diferentes: Mathew se torna um vigilante, e ela a mortal mercenária.

    A história seguinte intensifica a rivalidade com Mercenário em uma trama na qual o vilão sequestra a Viúva Negra, na edição #161, terceira parte da história Como demolir o demônio, que se finaliza com a prisão do homem da pontaria mortal. Em Demônios, a sanidade de Mercenário é estudada por médicos que encontram um tumor cerebral responsável por alucinações e, consequentemente, um dos possíveis motivos de sua violência e raiva contra Demolidor. Miller segue explorando grandes acontecimentos, e nesta história é colocado em xeque o caráter de Mathew, que, seguindo a cartilha heroica, salva o vilão de uma morte brutal, mesmo reconhecendo que futuramente este pode atacá-lo de novo.

    A última trama é um épico formado por três partes e reconstrói aquele que se tornou um dos maiores vilões humanos do personagem. Presente em histórias anteriores, como nas do Justiceiro e do Homem-Aranha, o Rei do Crime adquire em Demolidor a postura de um homem de negócios ilegais, sem escrúpulos, representando um vilão real que lucra de maneira indevida diante das adversidades de Hell´s Kitchen.

    Aposentado no Japão e vivendo com sua mulher Vanessa, Wilson Fisk havia deixado de lado a vida de crimes ao encontrar o amor. Porém, após o sequestro e morte da esposa em Nova York, o vilão retorna à cidade, assume seu manto e promove uma guerra contra toda facção criminosa da cidade. Ao lado de Mercenário, que se torna um de seus capangas, a ascensão do Rei será um dos elementos criminais e urbanos da narrativa, a replicação da realidade dentro do universo heroico do personagem, que lidará, simultaneamente, com vilões tradicionais e esse em especial, cuja vilania está nos atos escusos, refletindo o lado obscuro da sociedade.

    Os primeiros momentos de Miller à frente do roteiro e desenho elevam as histórias e conduzem o personagem a um novo patamar dramático no qual apresentariam-se grandes mudanças em sua vida. Um primeiro volume incrível de uma passagem revolucionária de Frank Miller dentro de uma edição mensal, inserindo uma camada real nas histórias de uma época ainda mais lúdica dos quadrinhos. O autor insere-se em um contexto à frente de seu tempo e torna-se, assim, revolucionário.

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  • Resenha | Biblioteca Histórica Marvel: Demolidor – Volume 1

    Resenha | Biblioteca Histórica Marvel: Demolidor – Volume 1

    Demolidor - Biblioteca Histórica Marvel

    Em abril de 1964, o mercado editorial de quadrinhos americano ainda mantinha-se aquecido com revistas recém-lançadas pela Marvel Comics e um universo novo com grandes personagens criadas por Stan Lee. A estreia de Quarteto Fantástico ocorrera três anos antes e, desde então, novas criações surgiam anualmente em publicações da Casa das Ideias, apresentando heróis mundialmente canônicos.

    Lançado no país em 2001, Biblioteca Histórica Marvel: Demolidor – Volume 1 é a única edição dedicada ao Homem Sem Medo dentre os poucos volumes da “Biblioteca”, lançados no Brasil pela Panini Comics com base na incrível e longa série original que compila o início criativo da Marvel Comics. Nesta edição em capa dura, os 11 primeiros números de Demolidor fundamentam a origem de um herói que, mesmo nunca citado no panteão da Marvel, protagoniza uma das obras mais coesas dos quadrinhos, com Stan Lee, Frank Miller, Kevin Smith, Brian Michael Bendis e Ed Brubaker entre roteiristas que passaram pelo título e que comprovam essa afirmação.

    Em um prefácio assinado por Lee, o autor analisa a criação demonstrando carinho pela personagem e recepção positiva dos leitores. A composição de Mathew Murdock transcendia as origens criadas anteriormente nas quais personagens ordinários adquiriam poderes sobre-humanos. Ao impedir um atropelamento de um senhor cego, Murdock perde a visão e descobre sentidos mais apurados devido ao seu acidente. Um drama que potencializa sua força heroica fazendo da personagem um representante de bravura diante de uma adversidade.

    Lee, The Man, demonstra habilidade narrativa ao fundamentar com cuidado a origem do herói. Na época, cada edição apresentava uma história fechada, denotando uma economia pontual para a trama ser desenvolvida e finalizada em aproximadamente 25 páginas. Em comparação com histórias atuais que se baseiam em arcos narrativos longos e, portanto, com um número maior de páginas, é significativo o uso da maior quantidade de informações condensadas em uma única revista.

    A edição inicial é um desses impecáveis trabalhos de narrativa, inserindo as tensões fundamentais para se compreender a personagem. A infância de Murdock em um bairro difícil; a admiração pelo pai lutador rumo à decadência e o caráter do garoto ao lidar com adversidades; o apuro técnico para compreender melhor os sentidos aguçados; o luto pelo pai; o desejo de justiça. O autor sempre caracteriza personagens capazes de lidar com os obstáculos da vida, dando-lhes um senso de dignidade que potencializa o caráter heroico. Além do ritmo narrativo, o roteirista possui criatividade apurada, justificando as peripécias de suas personagens com situações plausíveis que, mesmo exageradas, são aceitas pelo leitor sem questionamento.

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    Nas histórias, há um narrador-observador que apresenta cada acontecimento produzindo mais uma linha narrativa, ao mesmo tempo que balões de pensamento dão vazão ao interior das personagens. Atualmente, a pluralidade narrativa foi quase extinta, prevalecendo narradores-personagens ou observadores, apenas. Lee compõe um narrador empolgado, dialogando com o público com entusiasmo e muitos adjetivos. O estilo aumenta a credibilidade de suas tramas e reveste-as de um tom épico.

    Cada história apresenta uma aventura isolada, consagrando a ação enquanto oferece dimensão humana às personagens, com destaque ao possível triângulo amoroso entre Murdock, o parceiro advogado Foggy Nelson e a secretária Karen Page. A relação inicial dos três permanece na possibilidade e na tensão natural de quem não revela os sentimentos.

    Nesta onze edições, Demolidor passa pelo traço de três desenhistas, Bill Everett, Joe Orlando e Wally Wood, que permaneceram como convidados até a série encontrar um ilustrador oficial, Bob Powell, cuja primeira modificação foi adicionar outro D no peito do uniforme, compondo o conhecido DD entrelaçado dando destaque ao Daredevil no original, algo que no país ganhou uma interessante versão do Demolidor mantendo a força das consoantes. Além disso, em uma edição após a estreia de Powell, o desenhista e roteirista modificam o uniforme para o tradicional manto vermelho.

    Dentre as evoluções da personagem, nota-se como os quadrinhos brincavam com muitas evoluções tecnológicas que aprimoram o herói fisicamente e lhe dão diversos aparatos que o ajudam. Além da bengala que inicialmente funciona como uma arma para a luta, Murdock insere um microfone no objeto, posteriormente um rádio para escuta policial, além de outros recursos que fazem parte da mítica heroica, equilibrando a trama em conveniências que extrapolam a realidade mas são plausíveis graças à força de Stan Lee como criador e roteirista.

    É notável a evolução narrativa dos quadrinhos da época em comparação com obras anteriores, como nos primórdios de Batman e Superman. Nesta década, já havia a percepção de que quadrinhos significavam tanto uma narrativa imagética quanto escrita. Sendo assim, imagem e texto são alinhados com maior proximidade, resultando em um impressionante ritmo narrativo. Trabalhando sensações primárias como tensão, ação e adrenalina aventureira, as primeiras histórias do Demolidor entregam um grande personagem, equilibrado entre a luta com inimigos e tensões internas do alterego advogado, sedimentando bases que seriam levadas a outros patamares por roteiristas e desenhistas futuros.

    Demolidor - n 10

  • Agenda Cultural 58 | Whiplash, Birdman, Lionélson e Alan Moore

    Agenda Cultural 58 | Whiplash, Birdman, Lionélson e Alan Moore

    agenda58

    Bem vindos a bordoFlávio Vieira (@flaviopvieira), Filipe Pereira, Carlos Brito e Wilker Medeiros (@willtage) se juntam para comentar sobre os principais filmes lançados em janeiro, além de alguns dos quadrinhos publicados nos últimos meses.

    Duração: 93 min.
    Edição: Wilker Medeiros
    Trilha Sonora: Wilker Medeiros
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    Bruno Gaspar

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  • Resenha | Mercenário: Anatomia de um Assassino

    Resenha | Mercenário: Anatomia de um Assassino

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    Personagem pertencente à galeria de vilões de Demolidor, Mercenário foi criado por Marv Wolvman e estreou em março de 1976 na revista homônima do Homem sem Medo. O vilão capaz de usar qualquer objeto como um projétil letal foi parte integrante da fase áurea assinada por Frank Miller e responsável pela morte de um dos grandes amores de Matt Murdock.

    Trabalhando para Wilson Filk, o Rei do Crime, o vilão também participa de histórias do Justiceiro e em um breve resumo de sua carreira foi responsável por mais um assassinato envolvendo as paixões de Murdock, integrou o Thunderbolts, atuou como um falso Gavião Arqueiro em Reino Sombrio e saiu temporariamente de cena em Terra das Sombras.

    Lançado pela Panini Comics em edição encadernada com capa dura, Mercenário – Anatomia de um Assassino compila uma minissérie em cinco partes, lançadas originalmente no país na revista Demolidor – O Homem Sem Medo nas edições de 19 a 23. A história trabalha duas linhas narrativas paralelas: um pano de fundo situado no presente com o vilão aprisionado e interrogado sobre o paradeiro de bombas nucleares, e sua história passada, vista desde a infância, a partir de diálogos surgidos no interrogatório.

    A intenção do roteiro de Daniel Way é ampliar a mitologia da personagem, discutindo a origem de sua mira certeira – desenvolvida por um talento natural ou fruto de algum poder meta-humano? – e apresentar uma base para justificar sua psicopatia. A cada edição, momentos distintos do passado são apresentados: a infância com o pai abusador, uma carreira breve como jogador de baseball, um trabalho para a NSA em missões de grande risco, até se tornar o vilão conhecido pelo público e destacado por Miller em sua brilhante passagem pelas histórias de Demolidor.

    Os recortes do passado são costurados com o interrogatório realizado, no presente, por dois agentes em uma prisão exclusiva para contê-lo, ou seja, sem nenhum material disponível que lhe forneça o potencial para se transformar em projétil. Boa parte do interrogatório se compõe de forma satisfatória na tensão entre mocinhos e vilão. Mas o desfecho demonstra claramente que esta trama funciona somente como conectivo para apresentar um breve resumo do passado pregresso da personagem.

    As capas assinadas por Mike Deodato Jr. são de grande contraste em comparação com a arte de Steve Dillon. A arte do primeiro é exageradamente impactante e representa o vilão sempre com excesso de músculos; enquanto Dillon, que assinou os traços de grandes fases de Hellblazer e Justiceiro, além da saga Preacher, possui um estilo artístico mais tradicional, e trabalha com eficiência traços simples e breves que caracterizam personagens com perfeição, mas cujos recursos dependem do uso da coloração para uma representação iconográfica completa.

    A edição da Panini apresenta bom acabamento e dá vazão ao movimento recente de utilizar capas duras nas publicações do país, presentes tanto em livros quanto nos quadrinhos. Dessa maneira, a editora publica material relativamente antigo, ou compilados inéditos, em uma edição que chama atenção do público pela qualidade e, neste caso, com um bom custo benefício para o bolso do leitor.

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