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  • Melhores Leituras de 2015

    Melhores Leituras de 2015

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    Devido ao maior tempo dedicado a uma leitura do que assistir a um filme ou a episódios seriados de uma temporada, é natural que uma lista de Melhores Leituras seja um tanto anacrônica aos lançamentos. A isso soma-se o fato de que, ao encerrar 2014, planejei a leitura de alguns autores que desejava conhecer ou me aprofundar em suas obras, e assim chegamos às edições selecionadas abaixo como as melhores leituras do ano passado.

    Como não havia número suficiente para formatar uma única lista de livros, decidi pela abordagem mista ao introduzir e pontuar os bons quadrinhos lidos no ano. Neste aspecto, é evidente que foquei as leituras no eixo tradicional da Marvel/DC Comics, um aspecto que pretendo evitar este ano, realizando a leitura de outras obras mais autorais (possivelmente veremos esse impacto em uma futura lista deste ano, a ser publicada em 2017).

    Explicitando a falta de sincronia com lançamentos e formatos, a lista nem mesmo se ajusta à tradicional recomendação de dez itens selecionados. Mas sim doze obras, seis livros e seis HQs, para que nenhuma das boas leituras ficasse de fora. Algumas dessas indicações também foram analisadas no site logo após a leitura, dessa forma peço desculpas aos leitores por eventuais repetições de abordagem.

    Manual de Pintura e Caligrafia – José Saramago (Companhia das Letras)

    Manual de Pintura e Caligrafia - Saramago

    Narrativa de estreia do lusitano José Saramago – posteriormente, uma obra anterior seria lançada após sua morte – Manual de Pintura e Caligrafia é um vigoroso romance de estreia. O autor inverte a lógica sobre a carreira e descreve sua proposta literária logo no primeiro lançamento, contrariando manuais tradicionais de autores que sempre, em um estágio avançado da carreira, versam sobre o ofício. Misturando duas narrativas, a personagem atravessa a arte da pintura rumo à escrita, uma transição feita pelo próprio autor, transformando esta obra em um misto de metalinguagem e tese literária, ainda que os elementos narrativos que o consagraram ainda não estivessem presentes.

    Demolidor – Fim Dos Dias (Panini Comics)

    Demolidor - Fim dos Dias

    Inserido na série O Fim da Marvel Comics, Fim dos Dias é uma clara homenagem à trajetória do Homem Sem Medo. Sob a batuta de Brian Michael Bendis, a história leva Ben Ulrich a uma última reportagem quando os heróis perderam sua força como defensores. A equipe de primeira linha desenvolve uma história sem igual, simultaneamente apresentando grandes momentos e figuras de Demolidor ao mesmo tempo em que se configura como mais uma grande história de um dos personagens mais coesos do estúdio.

    Romeu e Julieta – William Shakespeare (Saraiva de Bolso, tradução de Bárbara Heliodora)

    Romeu e Julieta - Shakespeare

    Casal mais conhecido da dramaturgia de William Shakespeare, Romeu e Julieta são símbolo de amor universal, representado, transcrito e transformado em um amor perfeito. A peça considerada uma das mais líricas do autor é fundamental para destruir o conceito das personagens através dos tempos, evidenciando que o amor de dois adolescentes termina de maneira trágica devido ao frenesi impulsivo e a imaturidade. Versando com qualidade sobre a agressividade desse amor, o casal permanece no imaginário coletivo em uma bonita história trágica.

    Pantera Negra – Quem é o Pantera Negra? (Salvat / Panini Comics)

    Pantera Negra - John Romita Jr - destaque

    Anterior a modificações estruturais de personagens representativos de uma causa, a Marvel fundamentou, dois anos após a nova lei de direitos civis nos Estados Unidos, um personagem negro com uma bela mitologia. Erigido como um deus no coração de um país futurista na África, local que nunca cedeu a colonizadores, a concepção do Pantera Negra atinge versão definitiva na narrativa de Reginald Hudlin. Retomando conceitos de tradições africanas, T’Challa adquire simultaneamente uma história coesa e uma tradição tribal forte, tornando-se um importante e imponente personagem político no cenário da editora.

    O Silêncio do Túmulo – Arnaldur Indridason (Companhia das Letras)

    O Silêncio do Tumulo - Arnaldur Indridason

    Impressiona que em uma literatura normalmente considerada formulaica como a narrativa policial se possam desenvolver tantos estilos diferentes e histórias genuinamente interessantes a partir de um crime. Arnaldur Indridason compõe sua narrativa a partir de dois focos: a investigação de um esqueleto encontrado nas imediações da Reykjavík, Islândia e uma trama familiar sobre um pai abusivo. O leitor reconhece de imediato que as narrativas iram se entrecruzar e, mesmo enfocando tais tramas de modo diferente, o autor é capaz de mantê-las em um mesmo tom que, quando chega em seu ápice, desvenda o crime e revela um aspecto crítico sobre a condição social e psicológica que fomentou o assassinato. É a partir desta obra que Indridason alcança sua melhor forma.

    Gotham DPGC: No Cumprimento do Dever (Panini Comics)

    Gotham GPGC

    Ed Brubaker e Greg Rucka partiram de uma premissa interessante ao indagar como seria o contingente policial de Gotham City vivendo à sombra do Homem-Morcego. O resultado é uma revista que destaca personagens comuns vivendo em um cotidiano padrão, no qual a figura de Batman é vista com mística, sem explorar a personagem interiormente como em suas revistas mensais. A partir de dramas pessoais em meio a atentados e crimes de grandes vilões e bandidos comuns, a equipe de crimes hediondos de Gotham sobrevive diariamente nesta pesada rotina criminal. Com uma vertente narrativa genuína de histórias policiais, a equipe apresenta uma visão diferente deste universo tão explorado e querido do público.

    Here, There And Everywhere: Minha Vida Gravando os Beatles – Geoff Emerick e Howard Massey (Novo Século)

    Here There Everywhere - Minha vida gravando os beatles

    Na vasta bibliografia sobre The Beatles, dividida entre obras de jornalistas experientes, críticos renomados e personagens que pontualmente passaram pela carreira da banda, a biografia de Geoff Emerick é fundamental como uma figura de autoridade intrinsecamente ligada à banda. Responsável pela formatação da fase mais prolífica da carreira do quarteto, Emerick narra brevemente sua trajetória até conhecer a banda e nos brindar com informações daquilo que fizeram dos Beatles a banda por excelência: sua qualidade musical. Detalhes técnicos, informações e curiosidades são costuradas em uma prosa suave que nos coloca ao lado da intimidade do Fab Four sob a visão daquele que esteve acompanhando a progressão a cada ensaio e moldando o som da banda. A obra é prazerosa e nos aguça a ouvir de maneira diferente a discografia do quarteto.

    Superman – A Queda de Camelot (Panini Comics)

    Superman - A Queda de Camelot

    Publicada simultaneamente a outra grande saga de Superman, O Último Filho, esta Queda de Camelot é um longo épico dividido em duas partes. Conduzida por Kurt Busiek, um dos responsáveis pelas revistas do herói ao lado de Geoff Johns na época pós Crise Infinita no projeto Um Ano Depois. Trabalhando em linhas temporais de passado, presente e futuro, o autor cria uma história provável sobre um futuro apocalíptico ao mesmo tempo em que desenvolve o passado do vilão Arion e as crescentes ameaças do presente conhecido. O tamanho da série cria uma narrativa aventureira cíclica, composta de diversos ganchos e conduzida pela aventura, dando sequência à explícita homenagem a Era de Prata desenvolvida desde o primeiro arco de Um Ano Depois. Se O Último Filho é uma reflexão pretensiosa e fabular sobre passado e descendência, A Queda de Camelot faz da aventura o fio condutor.

    Dragão Vermelho – Thomas Harris (Record)

    Dragão Vermelho - Thomas Harris

    Um dos grandes vilões do cinema, Hannibal Lecter inicia sua trajetória nesta narrativa escrita em 1988. Thomas Harris explora com eficiência a psicologia de seu assassino e compõe um interessante laço entre o investigador Will Graham e o psicanalista canibal, o qual colabora no caso. Em um thriller psicológico aclamado por James Ellroy como um dos grandes livros do gênero, a história é pautada no desenvolvimento do caso e no suspense, demonstrando talento na composição narrativa ao criar densos personagens bizarros, inovando ao introduzir com esmero a mente criminosa em cena. Mais impressionante que esta trama é o fato do autor, após a sequência O Silêncio dos Inocentes, ter produzido duas obras sobre a personagem sem nenhum apelo e vigor equivalentes a esta obra inicial. Mesmo com uma carreira desequilibrada, Dragão Vermelho é uma narrativa impecável.

    Os Vingadores – O Mundo Dos Vingadores (Panini Comics)

    Vingadores - n 1 - Avengers World

    Responsável por assumir duas revistas dos Vingadores após oito anos sob comando de Brian Michael Bendis, Jonathan Hickman iniciava um novo ponto de partida para os Heróis Mais Poderosos da Terra, reconfigurando a equipe em sintonia com o novo processo editorial intitulado Nova Marvel. O Mundo dos Vingadores alinha novos e antigos personagens em uma renovada formação da equipe, ao mesmo tempo em que introduz novos vilões que seriam fundamentais para futuras sagas da editora. Sem medo da sombra do sucesso da passagem de Bendis, o arco é simultaneamente uma boa história como também funciona como um início para novos leitores.

    A Ditadura Envergonhada – Elio Gaspari (Intrínseca)

    Ditadura Envergonhada - Elio Gaspari

    Com intensa pesquisa em fontes diversas e uma prosa ensaística de primeira qualidade, Elio Gaspari produz uma das obras definitivas sobre a ditadura militar brasileira. Indo além da formalidade dos fatos, o autor insere um estilo narrativo próprio que aviva a época e os dramas dos conflitos vividos e seus delicados detalhes. Traçando um panorama da sociedade, observando tanto o movimento militar como os levantes contra o golpe, este é o primeiro volume de uma vasta obra sobre o período que, ainda este ano, ganha o último e definitivo desfecho.

    Batman: Cidade Castigada (Panini Comics)

    Batman - Cidade Castigada

    A saga Silêncio, anterior a Cidade Castigada, talvez tenha eclipsado a atenção voltada a esta história escrita por dois grandes parceiros: Brian Azzarello e Eduardo Risso. Se a anterior pretendia ser um grande épico em doze partes, apresentando diversões heróis e a galeria de vilões do Morcego, Cidade Castigada enfoca o Batman investigador em uma história mais eficiente e coesa que a de Jim Lee e Jeph Loeb. Gotham adquire contornos noir entre poesia e corrupção enquanto o roteiro foge de uma tradicional narrativa feita pelo morcego, acrescentando tanto uma reflexão erudita sobre a cidade quanto ampliando a limitação física do herói, sem contar uma improvável cena em que Bruce Wayne faz seu próprio jantar, desmitificando, com certo humor sem perder o tom sério da narrativa, os fatos cotidianos que o personagem, como um reflexo de um ser humano normal, executa todos os dias.

    Cidades de Papel - John GreenMenção Honrosa: Cidades de Papel – John Green. Considerando o público-alvo de sua narrativa, Green surpreende com uma história pontual sobre a transição entre a adolescência e o mundo adulto e uma percepção madura de um grupo de amigos. Um romance de formação que tem potencial para se tornar significativo no crescimento do leitor jovem.

  • Review | Gotham – 1ª Temporada

    Review | Gotham – 1ª Temporada

    gotham-posterPensado anteriormente sob a premissa de adaptar uma fase bastante específica dos quadrinhos do universo de Batman, cujo caráter foi mudado estrategicamente para arrebatar ainda mais os fãs do Morcego, Gotham deveria ter sido baseado nas aventuras dos policias que protagonizavam Gotham Central – ou Gotham City Contra o Crime -, uma revista pensada por Ed Brubaker e Greg Rucka, e levada por um grupo de policiais secundários.

    O protagonismo da série produzida por Bruno Heller seria do jovem James Gordon, vivido pelo eterno Ryan de OC – Um Estranho no Paraíso, Ben McKenzie, como o único jovem policial incorruptível da cidade, que tem em seu comportamento um quê de justiçamento forçado, semelhante ao dos anti-heróis clichês dos anos 90. Seu papel no início é servir de suporte ao menino Bruce Wayne (David Mazouz), que acabou de perder seus pais, e que graças ao “talento” do ator, seria um personagem recorrente na cidade, onde seria o paladino da luta contra o crime.

    Sua perseverança esbarra na burocracia do policial, avisado pelo veterano parceiro de James, o detetive Harvey Bullock (Donal Logue), um sujeito que não parece ser corrupto, a princípio, mas que claramente se mostra desacreditado no sistema judicial da cidade, e com a demora com que os culpados têm em ser encarcerados. Desiludido, ele mantém contato com os principais marginais da cidade, especialmente Fish Mooney (Jada Pinkett), uma negra, chefe de uma das gangues do submundo, que tem em seu plantel Oswald Cobblepot (Robin Lord Taylor), entre outras tantas referências a vilões e personagens canônicos das histórias do Batman.

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    Mesmo no começo da sua trajetória, Jim encontra enormes percalços, não só entre seus opositores, mas também entre os outros policiais que não toleram suas atitudes, especialmente Rene Montoya (Victoria Cartagena) e seu parceiro Crispus Allen (Andrew Stewart-Jones). A pressão em cima dele é grande. Obrigado a assassinar um opositor, claro, recusando tal ato, Gordon usa sua astúcia para fugir do ato fatal, atitude que faz dele um proto-Batman, para nenhum espectador desavisado reclamar.

    Os pontos mais irritantes no decorrer da série são as concessões que desnecessariamente descaracterizam os personagens famosos nos quadrinhos de maneira absolutamente gratuita. Sarah Essen, que na história mais famosa foi amante de James Gordon em Batman – Ano Um, é apresentada como chefe do Departamento de Polícia. De loura fatal, semelhante às coadjuvantes de filme noir, passou a ser uma negra de meia-idade e amarga. Vivida por Zabryna Guevara, a personagem é absolutamente genérica e não necessitava de qualquer menção. Nem a beleza da atriz rivaliza com a da dondoca Barbara Kean (Erin Richards), com quem o tenente é amasiado.

    O roteiro parece mais preocupado em bradar que há mil personagens conhecidos do que se preocupar em contar uma história minimamente decente, se valendo de romances que evadem o conservadorismo unicamente para prender o espectador sob uma aura de polêmica que nada tem a ver com o clima do seriado, o qual já havia aberto mão do estilo noir na concepção de suas figuras retratadas.

    A quantidade de tramas paralelas é absurda. Há desde a pequena Selina Kyle (Camren Bicondova), que já na faixa de uma década de vida pula de prédio em prédio, como um gato, roubando quem se permite roubar, além de munir Gordon de algumas informações sobre o assassinato dos Wayne, investigação que se mistura ao principal plot explorado. Cory Michael Smith vive o auxiliar de mistérios do Departamento, Edward Nygma, desde já muito afeito a crimes cujas soluções fogem da ortodoxia pragmática comum do “tira e bandido”. Mas é o desaparecimento e reaparição do Coblepott que concentra a maior parte das atenções do espectador, questão piorada pela quantidade de assassinatos que comete a sangue frio, aproximando-o mais do arquétipo do Coringa do que do vilão ornitólogo. É deste núcleo do qual aparece a primeira figura vilanesca, que apresenta mais do que a simples vilania, pois é ao menos um clichê bem construído. O Sal Maroni de David Zayas ao menos inspira medo, aspecto que difere de Pinguim, Fishmoney e mesmo de seu rival, Carmine Falcone (John Doman) – o qual parece estar mais envolto em questões burocráticas do  que na busca por mais poder e expansão no submundo de Gotham. Maroni é o exato contraponto de Falcone: violento, cruel, arrogante e com uma megalomania que transcende a condição de vilão comum, aproximando-o do que deveria ser um bandido preso no Arkham.

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    A primeira virada realmente importante no combalido texto de Gotham acompanha a perseguição de Fish Mooney a Gordon, após descobrir que o policial foi honesto demais ao não assassinar Oswald. Além da óbvia perseguição dos malfeitores, há um sério problema de confiança entre o protagonista e Bullock, além de revelar que ambos estavam envolvidos com os contraventores de Gotham.

    Em determinado momento, os personagens passam a ser mais interessantes, autônomos, além da clara alusão às suas contrapartes quadrinísticas, mas ainda assim pecam demais na concepção. A mudança das indiscrições conjugais de James faz do personagem, apresentado em Ano Um como um homem repleto de falhas, um paladino gratuito, cujo monopólio da virtude é evidente, empobrecido em essência a troco de nada, fugindo mesmo das questões complicadas de modo demasiado fácil.

    A midseason se encerra com a derrocada de Gordon, já sem sua esposa, perdendo os direitos que tinha enquanto policial, gradativamente até se rebelar contra a figura do prefeito James Aubrey (Richard Kind), que usa seus contatos para rebaixar o detetive à guarda dos corredores da “nova” instituição que reabilita criminosos insanos. Trabalhar em Arkham é um dos poucos pontos irônicos do roteiro do seriado. A mudança serve basicamente para inserir a personagem Leslie Thompkins, e sua voluptuosa intérprete Morena Baccarin, uma vez que Gordon consegue através de manobras ardilosas retornar ao Departamento de Polícia, aumentando seus feitos ao faturar a bela mulher para si, a despeito de sua “separação” traumática.

    Constrangedoras são as interações de Selina com Bruce, quando a menina ensina o milionário a se equilibrar. Mais e mais aspectos toscos são levantados, como a origem do soro do medo usado pelo Espantalho, além da crescente interferência na disputa de poder do submundo do crime, mostrando uma estranha harmonia entre Maroni e Falcone, tendo em Fish Mooney a persona non grata. Cada um destes quatro pilares se arranja ao seu modo para permanecer vivo e prosseguir mandando em alguns aspectos da criminalidade urbana, ainda que os lucros estejam longe de ser prioridades para eles.

    A falta de apuro e verossimilhança no texto final trazem momentos completamente confusos, como o retorno de Barbara Gordon a sua casa, e a convivência pacífica da garota com Selina e Ivy Papper (Clare Foley), chegando a ponto dela se consultar com duas crianças a respeito de moda. Próxima do final do ano, há uma tentativa falha de amadurecer o plot ao mostrar o destino esquisito de Fish Mooney, apresentar uma nova faceta ciumenta para Barbara, e a apresentação de um serial killer, fazendo desse um dos poucos plots realmente interessantes em todo o folhetim. No entanto, mesmo os bons conceitos se perdem em meio aos acontecimentos chocantes, que não guardam qualquer possibilidade de seriedade, envolvendo tanto a dificuldade de Nygma em se relacionar com mulheres, e sua consequente agressividade, assim como o namorico entre os pequenos Bruce e Selina, com uma reedição da dança de Batman – O Retorno, ainda que em uma versão teletubizada.

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    Grande parte do mote de O Longo Dia das Bruxas é referenciada, com as inserções de guerras ente grupos mafiosos, que finalmente têm um embate minimamente interessante, apesar dos muitos problemas de amnésia do roteiro, que simplesmente ignora. Infelizmente, tais aspectos positivos ficam para trás, não só para os cosplayers mal desenvolvidos, como para a tramoia imbecil.

    Mais assustador ainda é notar que a guerra entre Maroni e Falcone, unido a traição de Cobleppot consegue ser jogada para o lado, em nome do ressurgimento de Fish Mooney, que pratica uma ressurreição com a imitação dos Morlocks. A profusão de plots mal concebidos faz com que uma porção de mortes desnecessárias ocorram, inclusive de personagens que um dia enfrentariam o Batman. A confusão do roteiro faz com que mesmo o protagonismo entre os vilões não seja claro, ao contrário; tudo soa falso, estúpido e vazio.

    As relações de amor e ciúmes se confundem, e as conclusões emocionais são catastróficas e sem sentido, especialmente as envolvendo James Gordon. Nada no combalido seriado é tão mal feito e chocante negativamente quanto o dos últimos vinte minutos da temporada, com reviravoltas infantis e trocas de lado que não fazem qualquer sentido, com direito a redenção de vilões e ataques de insanidade vindos de personagens que eram canonicamente inofensivos. Não há problema algum em se adaptar personagens, inverter falas ou fatos, desde que haja a manutenção da essência da atmosfera de Gotham City, o que definitivamente não ocorre no seriado homônimo.

    O destino dado às personagens, na imitação barata da sequência batismal de O Poderoso Chefão, revela o quanto Gotham é acéfala em matéria de vilões. A fala do Coringa de Heath Ledger em Cavaleiro das Trevas serve ao propósito, fazendo da afirmação de que “Essa cidade merece um tipo melhor de criminoso” estende-se, inclusive, aos arquétipos dos heróis, visto que não há como acreditar que um policial honesto como Gordon seria seduzido e inspirado por um mafioso, tampouco há graça na indicação premonitória do falecido patriarca Wayne, intuindo que seu filho precisaria de uma entrada secreta na mansão, preparada atrás de uma lareira. Gotham consegue deturpar, de uma maneira quase tão patética quanto os filmes de Joel Schumacher, os preceitos de Batman – Ano Um e de tantos outro clássicos do Morcego, possuindo pouquíssimos acertos, mesmo que o elenco não seja ruim.

  • Resenha | Batman: Pulp Fiction

    Resenha | Batman: Pulp Fiction

    Batman - Pulp Fiction

    A série Túnel do Tempo costuma colocar os personagens canônicos da DC Comics em diferentes linhas temporais, mostrando a rotina de suas aventuras em uma nova ambientação, algumas vezes no mesmo local, mas sempre em épocas diferentes. A terceira (de quatro) edição do especial Batman 70 Anos contém duas boas aventuras: Gotham City 1889, em meio a Era Vitoriana, com a sensacional arte de Mike Mignola, explorando o personagem com figuras históricas, como Sigmund Freud e Jack Estripador, e Batman Pulp Fiction, ambientada nos anos 1960, em meio a Guerra Fria. Basicamente, esta é mais um demonstração da atuação do Morcego em seu cenário, fazendo de Gotham City o palco perfeito para as suas atuações de amedrontamento dos criminosos e malfeitores supersticiosos.

    Batman – Pulp Fiction foi publicada em Thrillkiller 1 a partir de janeiro de 1997, e conta com roteiros de Howard Chaykin e arte de Dan Brereton. A história explora uma Gotham situada no ano de 1961, época pós-geração beat, pós-macarthismo, e recém retirada do período de Einsehower na presidência da América.

    O narrador da história desdenha do otimismo psicodélico que envolve os habitantes da gótica cidade. Os tempos eram outros, sombras pairavam sobre a nação e ainda mais sobre Gotham City. O ultramoralismo predominava no pensamento geral, mesmo no comportamento da classe criminosa. Os homossexuais eram restritos a guetos e os bandidos eram organizados. Duas Caras — que supostamente não é Harvey Dent, visto que ele age como promotor da cidade — trabalha como um mafioso que extorque dos comerciantes locais uma substancial parcela dos lucros, até que é impedido por dois vigilantes fora da lei: Robin e Batgirl. Uma nova ideia de dupla dinâmica e com visual bem mais adulto que suas contrapartes do universo DC regular.

    O departamento de polícia é composto pelo rebelde e antiquado James Gordon, que neste universo paralelo também tem de lidar com a corrupção dentro do batalhão, e seu (praticamente) único aliado é a “mosca branca” anti-corrupção avatarizada na figura do detetive Bruce Wayne, herdeiro da tradicional e falida família Wayne. O mesmo senso de justiça é presente nesta contraparte, mas, graças também à falta de recursos, sua forma de combate ao crime é uma aposta mais baixa e modesta.

    A corrupção atinge os maiores pontos da alta roda da cidade. Há um conluio dos mais escusos entre o prefeito e alguns dos malfeitores e ex-detentos do Arkham. O envolvimento entre eles esconde crimes como assassinatos de pessoas influentes, quase sempre visando culpar os poucos “cavaleiros brancos” de Gotham. Como nas histórias noir, há um triangulo amoroso entre os heróis envolvendo Barbara Gordon, em sua dúvida entre ter como par Dick Grayson ou Bruce Wayne. O curioso é que mesmo com os antagonistas famosos presentes, ainda que em versões diferentes, é notório o envolvimento do prefeito Ryan na conspiração, que concentra muita influência política e, claro, muito poder dentro do cenário de vilania do município.

    Uma reviravolta após o fim da terceira edição rearranja os principais personagens. Wayne torna-se fugitivo, graças à falsa acusação de assassinato de Selina Kyle, e abraça o manto do morcego finalmente. A dupla dinâmica muda, e as coisas começam a ficar mais cruéis e sinceras, além do aumento da violência. É curioso o retorno de Bruce à mansão e a escolha pelo vigilantismo, pois estes revelam o retorno ao seu estado de espírito preferido e é uma reafirmação de sua natureza. Apesar de ter sido um policial, não poderia negar o próprio ethos e seu entendimento de justiça singular, muito mais intervencionista do que o de um tira comum.

    Apesar de ser repleto de boas referências, o roteiro torna-se secundário diante da arte surrealista de Dan Brereton; a anarquia de seu lápis combina demais com as cores, e as curvas femininas ficam muitíssimo bem grafadas, sensualidade essa que é uma das mais importantes na tônica de toda a trama. O fim da história principal guarda alguns fatos interessantes, mas não faz da revista algo totalmente indispensável ou acima da média. Além do já citado desenho de Brereton, Batman: Pulp Fiction pouco acrescenta ao leitor experiente das aventuras do Morcego.