Tag: kurt busiek

  • Resenha | Superman: Identidade Secreta

    Resenha | Superman: Identidade Secreta

    Ouça nosso podcast sobre Superman: Identidade Secreta.

    Como seria a sua vida se você tivesse o mesmo nome do mais famoso super-herói da ficção de todos os tempos? Ou ainda: o que aconteceria se, por motivos desconhecidos, você acabasse descobrindo ter os poderes desse super-herói? Essa é a premissa básica da minissérie Superman: Identidade secreta, de Kurt Busiek e Stuart Immonen. Clark Kent é um adolescente de Picketsville, Kansas, que cresceu tendo seu nome associado aos gibis do Superman, ganhando brinquedos e todos os tipos de quinquilharias com o personagem estampado em todos os seus aniversários. Clark nunca gostou de ter o mesmo nome do personagem, nunca se sentiu à vontade com as piadas que faziam no colégio e até mesmo sofria bullying por isso. Assim, o garoto se tornou bastante reservado e apreciava mais redigir ensaios em uma velha máquina de escrever do que socializar com outros de sua idade. Até o dia que o impensável acontece: Clark descobre, em meio a um isolado acampamento, que tem exatamente os mesmos poderes do personagem fictício que lhe emprestava nome e sobrenome!

    A história de Busiek e Immoen procura emular o mundo real, no qual vivemos, e como um adolescente tímido agiria nessa descabida situação. Clark tem muitas dúvidas sobre a origem de seus poderes, mas ainda assim os esconde da melhor forma que pode, a fim de evitar problemas para as pessoas ao seu redor. O jovem passa a usar suas extraordinárias habilidades para fazer o bem, salvar pessoas, evitar catástrofes – mas atuando nas sombras e nunca se revelando. Até o dia em que uma grande enchente assola o Kansas, e ele se vê obrigado a agir em plena luz do dia. As pessoas passam a falar sobre ele nas ruas e nos jornais, muitos e muitos boatos são espalhados e o xará do Superboy precisa tomar uma decisão: mostrar-se ao mundo ou continuar nas sombras.

    Se essa primeira parte da história mostra sua adolescência no Kansas (e por isso o capítulo é sabiamente intitulado Smallville), a segunda parte mostra sua vida numa grande metrópole. Seja por ironia do destino ou não, Clark se torna um grande escritor – embora não queira ser repórter – e vai trabalhar numa redação. Os paralelos com a vida do Superman continuam, quando ele conhece Lois Chaudhari (mais uma piada de seus amigos tentando formar um casal “Lois & Clark”). Contudo, Lois se torna realmente sua companheira, melhor amiga, namorada e por fim, esposa, tendo com ela uma vida longa e feliz. É realmente muito bonito vermos, em um quadrinho adulto, um casamento longevo baseado no amor, na confiança e no respeito mútuo dessa forma. O casal se mostra muito bem entrosado nos capítulos a seguir criando suas filhas gêmeas com amor e dedicação.

    Durante toda a história, existe obviamente um conflito de bastidores. Afinal, de onde veem os poderes de Clark? O governo norte-americano parece muito interessado em capturá-lo, e as maiores cenas de ação da HQ consiste nas tentativas dos militares de alvejá-lo, com armamento cada vez maior. Clark, já assumindo o manto do kryptoniano como sua identidade secreta, precisa enfrentar bombas e mísseis, burlar radares e satélites. Mesmo quando capturado, Busiek não nos dá muita pistas de como os poderes surgiram. Vemos um laboratório bastante suspeito, corpos de possíveis outros “supermen” (inclusive bebês), mas nada de concreto. O mistério na história é acertado, e não faz diferença para a trama não termos tudo mastigado. Deixar a origem em aberto foi uma excelente decisão do autor.

    Em uma trama bastante introspectiva, vemos esse super-homem envelhecer com suas dúvidas, incertezas – mas também mantendo-se íntegro e fiel aos seus princípios. A arte de Immonen é impressionante ao passar para o leitor essa atmosfera de “mundo real”, ainda que bastante estilizada em vários momentos. As páginas duplas são impressionantes, e diferente de outras obras da DC Comics que mostram vários personagens ao mesmo tempo lutando entre si, aqui Immonen se empenha em refletir na paisagem a solidão de Clark Kent. Não temos um grande vilão como Lex Luthor, Brainiac ou Sr. Mxyzptlk para enfrentar o personagem, mas eles não fazem falta nessa história. Temos sim, um antagonista, mas nem de longe um vilão burlesco com planos mirabolantes. Tanto que seu relacionamento com Clark acaba sendo um acordo de cavalheiros em determinado momento. Vemos um Superman muito realista, humano e sentimental, em uma história bastante contemplativa que faz justiça ao nome do maior super-herói de todos os tempos.

    Superman: Identidade Secreta já foi publicado no Brasil em três momentos diferentes. Em sua primeira versão, em 2005, a Panini lançou a HQ na forma de minissérie em quatro edições, encadernada em uma única edição no ano seguinte. Já no aniversário de 80 anos do personagem, a obra ganhou um encadernado de capa dura à altura de sua grandeza, com um selo comemorativo e cartões especiais acompanhando a edição.

  • VortCast 88 | Superman: Identidade Secreta

    VortCast 88 | Superman: Identidade Secreta

    Este podcast é dedicado à memória do amigo Felipe Morcelli.

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Filipe Pereira (@filipepereiral), Dan Cruz (@DancruzDm), Jackson Good e Thiago Augusto Corrêa recebem Delfin (@DelReyDelfin), do site e podcast Terra Zero/ComicPod e da rádio online Ninho do Coruja, para comentar sobre o trabalho de Kurt Busiek e Stuart Immonen à frente do Superman, em Identidade Secreta.

    Duração: 130 min.
    Edição: Rafael Moreira e Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Rafael Moreira e Flávio Vieira
    Arte do Banner:
     Bruno Gaspar

    Agregadores do Podcast

    Feed Completo
    iTunes
    Spotify

    Contato

    Elogios, Críticas ou Sugestões: [email protected].
    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram

    Lista de Sugestões de Compras

    Materiais Relacionados

    Especial | Superman
    VortCast 01 | A História da DC Comics – Parte 1
    VortCast 07 | Os Novos Rumos da DC Comics
    VortCast 22 | Ben Affleck
    VortCast 26 | Zack Snyder
    VortCast 39 | Batman vs Superman: A Origem da Justiça
    VortCast 42 | O que esperar da DC nos cinemas (ou ‘saudades do Nolan’)
    VortCast 49 | Liga da Justiça
    VortCast 53 | Trindade (DC Comics)

    Links dos Podcasts e Parceiros

    Agenda Cultural
    Marxismo Cultural
    Anotações na Agenda
    Cine Alerta

    Avalie-nos na iTunes Store | Ouça-nos no Spotify.

  • Resenha | Shockrockets: Esquentando os Motores

    Resenha | Shockrockets: Esquentando os Motores

    shockrockets

    Originado na obra de Kurt Busiek, Shockrockets: Esquentando os Motores se localiza num cenário pós-guerra espacial, em um momento político catastrófico, quando um general despótico comanda os rumos dos territórios entre o México e Estados Unidos. O protagonismo cabe ao latino Alejandro Cruz, um sujeito que se vira como pode, com sua autocicleta, um veículo munido da tecnologia alien para se locomover e levar sua vida em tempos de crise e racionamento de comida.

    A dobradinha com Stuart Immonem – com quem fez uma dupla formidável em Superman: Identidade Secreta – ajuda a fortalecer o nível de qualidade alto da publicação, assim como estabelece um viés de contestação semelhante às outras parcerias dos dois. Cruz vive com sua família, diferente de tantos outros órfãos nesse mundo pós-calamidade, mas em si há um descontentamento que o faz recusar o trabalho terrível de buscar algas no fundo do mar, conceito que alude a indignidade e futilidade do trabalho comum e a vontade de fazer a diferença no ambiente usual.

    Apesar de tratar de um personagem de minorias, o cunho das aventuras é escapista ao misturar a utopia de união mundial, já referenciada em Jornada nas Estrelas, de Gene Ronddenberry, com o espírito massavéio das produções japonesas que colocavam, em contraponto, máquinas poderosas e monstros gigantes. As camadas superficiais e mais profundas são exploradas de uma forma fluida neste começo.

    A mistura de influências visuais de Capitão Sky e O Mundo do Amanhã e Rocketeer funciona ao juntarem-se com os elementos kubrickianos de Doutor Fantástico, resgatando para os quadrinhos parte dos elementos escapistas dos três filmes citados, servindo como uma rede de confluência curiosa e rica em detalhes temáticos.

    O modo de contar a história faz o leitor perder um pouco do interesse no sub-texto, em especial por causa do ritmo, que varia entre momentos estáticos narrativamente e ações desenfreadas. Sensação compartilhada em Shockrockets mescla escapismo e representatividade, sem deixar de lado a diversão, ainda que esteja longe de ser um produto de qualidade indiscutível.

    O desfecho mistura uma sequência de urgência enorme, que traz de volta a adrenalina perdida no decorrer da publicação, com um cliffhanger que determinaria um viés revolucionário, mas que não teve prosseguimento nem por parte dos autores, nem da Image Comics, infelizmente – ao menos para os amantes da arte de Busiek e Immonem.

    Compre: Shockrockets – Esquentando os Motores

  • Resenha | The Spirit: As Novas Aventuras

    Resenha | The Spirit: As Novas Aventuras

    the-spirit-as-novas-aventuras

    Criado por Will Eisner, o pai das graphic novelsThe Spirit surgiu na década de 1940 como produto do novo filão em voga, as revistas de histórias em quadrinhos, que desde o final da década anterior, com a criação de Superman e Batman, passavam a ganhar status com personagens heroicos, munidos de honra e bravura para enfrentarem inimigos. Inovador para a época, mesmo não possuindo poderes extra-terrenos ou armas poderosas como os heróis da então Action Comics e Detective Comics, The Spirit logo alcançou seu próprio público nos jornais como um inconfundível combatente do crime.

    Publicada inicialmente nas edições de domingo, a trama apresenta o criminólogo Denny Colt – nome verdadeiro do herói mascarado -, que descobre os planos de um inimigo em uma investigação e é assassinado no local. Mas, com o desenrolar da narrativa, descobre-se que o agente da lei estava em animação suspensa, e em segredo passa a usar um codinome e a combater o crime que aterroriza a cidade fictícia de Central City, vivendo escondido no subsolo do cemitério onde fora enterrado.

    Tomadas por uma atmosfera noir, as histórias de Spirit revolucionaram o estilo e a linguagem dos quadrinhos. Influenciado pelos filmes da década de 1940, Eisner dava preferência para o preto e branco, aliados a ângulos e quadros incomuns para os desenhos da época. O contraste em duas cores destaca um ambiente propício manipulado por criminosos malucos e mulheres fatais, combatido por um sujeito inteligente, trapalhão, corajoso e hábil em artes marciais. Como um Cary Grant armado com os próprios punhos para rechaçar os criminosos da cidade grande.

    Durante a Segunda Guerra Mundial, e a consequente convocação de Eisner pelo exército americano, o personagem foi deixado a cargo de outros artistas, mas já sem a identidade com a qual ficou conhecido. No retorno aos desenhos após o conflito bélico, o artista passou quase 10 anos se dedicando à sua criação e a consolidando, mas após essa época voltou-se à produção de material governamental e ilustrações, e não mais aos quadrinhos, aposentando o universo de Denny Colt. Muitas foram as tentativas de republicar a obra, entre elas um curto fôlego no final da década de 1960 com relançamentos de antigas histórias, agora em formato de revista, e a publicação de uma trama escrita novamente pelo próprio Eisner. A partir das três décadas seguintes, o herói passou por diversas editoras, como Kitchen Sink Press e DC Comics, sendo esta posteriormente, em 2007, retomado o personagem no volume único Batman & The Spirit, que o introduzia no universo DC através do roteiro de Jeph Loeb e arte de J. Bone e Darwyn Cooke, e logo após com uma revista própria guiada pela dupla Cooke/Bone.

    Assim como O Sombra – Vol. 1: O Fogo da Criação, outros personagens acabam voltando como revival, e com o detetive mascarado não foi diferente. The Spirit – As Novas Aventuras é o primeiro de dois volumes compilando histórias de uma curta série publicada em 1998 que buscava, ao mesmo tempo, homenagear o herói e renová-lo para os dias atuais a fim de conquistar um novo público. Lançada em 2010 em edição capa dura pela Devir Livraria, a obra é dividida em quatro partes, com capas produzidas pelo próprio Eisner ilustrando o início de cada história. Com artistas e roteiristas consagrados, a edição possui 11 tramas que mostram desde o surgimento do Spirit, até o embate com seus maiores inimigos, como Cobra, Sand Saref e Octopus.

    São histórias curtas a médias que retratam o modo com que Spirit atua como vigilante em Central City com apoio do Comissário Dolan, o único que conhece sua verdadeira identidade, e de seu interesse amoroso, Ellen Dolan. Apesar de contar com os personagens coadjuvantes, a maioria das histórias coloca Spirit como o centro da ação, mas sem a ajuda de Ebony White, o estereotipado sidekick negro retirado da obra provavelmente devido às críticas que recebeu sob alegação de racismo. Nesta obra, Alan Moore retoma com Dave Gibbons a parceria interrompida desde o lançamento de Watchmen e divide quatro histórias com o artista. Destacam-se as duas primeiras: A Refeição Mais Importante, que reprisa a origem do personagem, e Força dos Braços, que faz um diálogo metalinguístico com o Spirit do passado, além de Ontem à Noite Eu Sonhei com o Doutor Cobra, uma história hermética que mostra o herói em um futuro apocalíptico lidando com os monstros do passado – e novamente autor e criatura dialogando com as memórias extratexto. Ressalta-se também O Retorno de Estola de Vison, escrita por Neil Gaiman e ilustrada por Eddie Campbell. Na trama, um roteirista se hospeda em um hotel, presencia o mascarado em uma missão à procura de uma criminosa femme fatale, e se espanta com a realidade, tão inacreditável quanto uma cena escrita para o cinema.

    A homenagem se estende a cada balão de diálogo e em cada traço da edição, supervisionada pelo próprio Eister, que deu à época toda a liberdade para os artistas recriarem o personagem ao seu modo. Todas desenhadas em cores, as tramas diferem das de Eisner por terem cada uma um olhar gráfico próprio do artista e roteirista responsável e, portanto, sem a visão cinematográfica – e única – dos traços de seu criador. Porém, todos os desenhos evocam a dualidade dos traços realísticos, e ao mesmo tempo atrapalhados, que fizeram de The Spirit uma obra ímpar na história dos quadrinhos.

    Como homenagem, The Spirit – As Novas Aventuras trouxe um novo alento para o personagem, que por tantos anos sofreu apenas relançamentos e reimpressões – no Brasil as histórias assinadas por Eisner necessitam de reedição. Com um time de peso, a obra consegue impor qualidade e nostalgia em uma bela edição, que deu a oportunidade para muitos fãs de quadrinhos conhecerem melhor este grande personagem.

    Texto de autoria de Karina Audi.

    The Spirit - Novas Aventuras - Devir

  • Melhores Leituras de 2015

    Melhores Leituras de 2015

    melhores_leituras

    Devido ao maior tempo dedicado a uma leitura do que assistir a um filme ou a episódios seriados de uma temporada, é natural que uma lista de Melhores Leituras seja um tanto anacrônica aos lançamentos. A isso soma-se o fato de que, ao encerrar 2014, planejei a leitura de alguns autores que desejava conhecer ou me aprofundar em suas obras, e assim chegamos às edições selecionadas abaixo como as melhores leituras do ano passado.

    Como não havia número suficiente para formatar uma única lista de livros, decidi pela abordagem mista ao introduzir e pontuar os bons quadrinhos lidos no ano. Neste aspecto, é evidente que foquei as leituras no eixo tradicional da Marvel/DC Comics, um aspecto que pretendo evitar este ano, realizando a leitura de outras obras mais autorais (possivelmente veremos esse impacto em uma futura lista deste ano, a ser publicada em 2017).

    Explicitando a falta de sincronia com lançamentos e formatos, a lista nem mesmo se ajusta à tradicional recomendação de dez itens selecionados. Mas sim doze obras, seis livros e seis HQs, para que nenhuma das boas leituras ficasse de fora. Algumas dessas indicações também foram analisadas no site logo após a leitura, dessa forma peço desculpas aos leitores por eventuais repetições de abordagem.

    Manual de Pintura e Caligrafia – José Saramago (Companhia das Letras)

    Manual de Pintura e Caligrafia - Saramago

    Narrativa de estreia do lusitano José Saramago – posteriormente, uma obra anterior seria lançada após sua morte – Manual de Pintura e Caligrafia é um vigoroso romance de estreia. O autor inverte a lógica sobre a carreira e descreve sua proposta literária logo no primeiro lançamento, contrariando manuais tradicionais de autores que sempre, em um estágio avançado da carreira, versam sobre o ofício. Misturando duas narrativas, a personagem atravessa a arte da pintura rumo à escrita, uma transição feita pelo próprio autor, transformando esta obra em um misto de metalinguagem e tese literária, ainda que os elementos narrativos que o consagraram ainda não estivessem presentes.

    Demolidor – Fim Dos Dias (Panini Comics)

    Demolidor - Fim dos Dias

    Inserido na série O Fim da Marvel Comics, Fim dos Dias é uma clara homenagem à trajetória do Homem Sem Medo. Sob a batuta de Brian Michael Bendis, a história leva Ben Ulrich a uma última reportagem quando os heróis perderam sua força como defensores. A equipe de primeira linha desenvolve uma história sem igual, simultaneamente apresentando grandes momentos e figuras de Demolidor ao mesmo tempo em que se configura como mais uma grande história de um dos personagens mais coesos do estúdio.

    Romeu e Julieta – William Shakespeare (Saraiva de Bolso, tradução de Bárbara Heliodora)

    Romeu e Julieta - Shakespeare

    Casal mais conhecido da dramaturgia de William Shakespeare, Romeu e Julieta são símbolo de amor universal, representado, transcrito e transformado em um amor perfeito. A peça considerada uma das mais líricas do autor é fundamental para destruir o conceito das personagens através dos tempos, evidenciando que o amor de dois adolescentes termina de maneira trágica devido ao frenesi impulsivo e a imaturidade. Versando com qualidade sobre a agressividade desse amor, o casal permanece no imaginário coletivo em uma bonita história trágica.

    Pantera Negra – Quem é o Pantera Negra? (Salvat / Panini Comics)

    Pantera Negra - John Romita Jr - destaque

    Anterior a modificações estruturais de personagens representativos de uma causa, a Marvel fundamentou, dois anos após a nova lei de direitos civis nos Estados Unidos, um personagem negro com uma bela mitologia. Erigido como um deus no coração de um país futurista na África, local que nunca cedeu a colonizadores, a concepção do Pantera Negra atinge versão definitiva na narrativa de Reginald Hudlin. Retomando conceitos de tradições africanas, T’Challa adquire simultaneamente uma história coesa e uma tradição tribal forte, tornando-se um importante e imponente personagem político no cenário da editora.

    O Silêncio do Túmulo – Arnaldur Indridason (Companhia das Letras)

    O Silêncio do Tumulo - Arnaldur Indridason

    Impressiona que em uma literatura normalmente considerada formulaica como a narrativa policial se possam desenvolver tantos estilos diferentes e histórias genuinamente interessantes a partir de um crime. Arnaldur Indridason compõe sua narrativa a partir de dois focos: a investigação de um esqueleto encontrado nas imediações da Reykjavík, Islândia e uma trama familiar sobre um pai abusivo. O leitor reconhece de imediato que as narrativas iram se entrecruzar e, mesmo enfocando tais tramas de modo diferente, o autor é capaz de mantê-las em um mesmo tom que, quando chega em seu ápice, desvenda o crime e revela um aspecto crítico sobre a condição social e psicológica que fomentou o assassinato. É a partir desta obra que Indridason alcança sua melhor forma.

    Gotham DPGC: No Cumprimento do Dever (Panini Comics)

    Gotham GPGC

    Ed Brubaker e Greg Rucka partiram de uma premissa interessante ao indagar como seria o contingente policial de Gotham City vivendo à sombra do Homem-Morcego. O resultado é uma revista que destaca personagens comuns vivendo em um cotidiano padrão, no qual a figura de Batman é vista com mística, sem explorar a personagem interiormente como em suas revistas mensais. A partir de dramas pessoais em meio a atentados e crimes de grandes vilões e bandidos comuns, a equipe de crimes hediondos de Gotham sobrevive diariamente nesta pesada rotina criminal. Com uma vertente narrativa genuína de histórias policiais, a equipe apresenta uma visão diferente deste universo tão explorado e querido do público.

    Here, There And Everywhere: Minha Vida Gravando os Beatles – Geoff Emerick e Howard Massey (Novo Século)

    Here There Everywhere - Minha vida gravando os beatles

    Na vasta bibliografia sobre The Beatles, dividida entre obras de jornalistas experientes, críticos renomados e personagens que pontualmente passaram pela carreira da banda, a biografia de Geoff Emerick é fundamental como uma figura de autoridade intrinsecamente ligada à banda. Responsável pela formatação da fase mais prolífica da carreira do quarteto, Emerick narra brevemente sua trajetória até conhecer a banda e nos brindar com informações daquilo que fizeram dos Beatles a banda por excelência: sua qualidade musical. Detalhes técnicos, informações e curiosidades são costuradas em uma prosa suave que nos coloca ao lado da intimidade do Fab Four sob a visão daquele que esteve acompanhando a progressão a cada ensaio e moldando o som da banda. A obra é prazerosa e nos aguça a ouvir de maneira diferente a discografia do quarteto.

    Superman – A Queda de Camelot (Panini Comics)

    Superman - A Queda de Camelot

    Publicada simultaneamente a outra grande saga de Superman, O Último Filho, esta Queda de Camelot é um longo épico dividido em duas partes. Conduzida por Kurt Busiek, um dos responsáveis pelas revistas do herói ao lado de Geoff Johns na época pós Crise Infinita no projeto Um Ano Depois. Trabalhando em linhas temporais de passado, presente e futuro, o autor cria uma história provável sobre um futuro apocalíptico ao mesmo tempo em que desenvolve o passado do vilão Arion e as crescentes ameaças do presente conhecido. O tamanho da série cria uma narrativa aventureira cíclica, composta de diversos ganchos e conduzida pela aventura, dando sequência à explícita homenagem a Era de Prata desenvolvida desde o primeiro arco de Um Ano Depois. Se O Último Filho é uma reflexão pretensiosa e fabular sobre passado e descendência, A Queda de Camelot faz da aventura o fio condutor.

    Dragão Vermelho – Thomas Harris (Record)

    Dragão Vermelho - Thomas Harris

    Um dos grandes vilões do cinema, Hannibal Lecter inicia sua trajetória nesta narrativa escrita em 1988. Thomas Harris explora com eficiência a psicologia de seu assassino e compõe um interessante laço entre o investigador Will Graham e o psicanalista canibal, o qual colabora no caso. Em um thriller psicológico aclamado por James Ellroy como um dos grandes livros do gênero, a história é pautada no desenvolvimento do caso e no suspense, demonstrando talento na composição narrativa ao criar densos personagens bizarros, inovando ao introduzir com esmero a mente criminosa em cena. Mais impressionante que esta trama é o fato do autor, após a sequência O Silêncio dos Inocentes, ter produzido duas obras sobre a personagem sem nenhum apelo e vigor equivalentes a esta obra inicial. Mesmo com uma carreira desequilibrada, Dragão Vermelho é uma narrativa impecável.

    Os Vingadores – O Mundo Dos Vingadores (Panini Comics)

    Vingadores - n 1 - Avengers World

    Responsável por assumir duas revistas dos Vingadores após oito anos sob comando de Brian Michael Bendis, Jonathan Hickman iniciava um novo ponto de partida para os Heróis Mais Poderosos da Terra, reconfigurando a equipe em sintonia com o novo processo editorial intitulado Nova Marvel. O Mundo dos Vingadores alinha novos e antigos personagens em uma renovada formação da equipe, ao mesmo tempo em que introduz novos vilões que seriam fundamentais para futuras sagas da editora. Sem medo da sombra do sucesso da passagem de Bendis, o arco é simultaneamente uma boa história como também funciona como um início para novos leitores.

    A Ditadura Envergonhada – Elio Gaspari (Intrínseca)

    Ditadura Envergonhada - Elio Gaspari

    Com intensa pesquisa em fontes diversas e uma prosa ensaística de primeira qualidade, Elio Gaspari produz uma das obras definitivas sobre a ditadura militar brasileira. Indo além da formalidade dos fatos, o autor insere um estilo narrativo próprio que aviva a época e os dramas dos conflitos vividos e seus delicados detalhes. Traçando um panorama da sociedade, observando tanto o movimento militar como os levantes contra o golpe, este é o primeiro volume de uma vasta obra sobre o período que, ainda este ano, ganha o último e definitivo desfecho.

    Batman: Cidade Castigada (Panini Comics)

    Batman - Cidade Castigada

    A saga Silêncio, anterior a Cidade Castigada, talvez tenha eclipsado a atenção voltada a esta história escrita por dois grandes parceiros: Brian Azzarello e Eduardo Risso. Se a anterior pretendia ser um grande épico em doze partes, apresentando diversões heróis e a galeria de vilões do Morcego, Cidade Castigada enfoca o Batman investigador em uma história mais eficiente e coesa que a de Jim Lee e Jeph Loeb. Gotham adquire contornos noir entre poesia e corrupção enquanto o roteiro foge de uma tradicional narrativa feita pelo morcego, acrescentando tanto uma reflexão erudita sobre a cidade quanto ampliando a limitação física do herói, sem contar uma improvável cena em que Bruce Wayne faz seu próprio jantar, desmitificando, com certo humor sem perder o tom sério da narrativa, os fatos cotidianos que o personagem, como um reflexo de um ser humano normal, executa todos os dias.

    Cidades de Papel - John GreenMenção Honrosa: Cidades de Papel – John Green. Considerando o público-alvo de sua narrativa, Green surpreende com uma história pontual sobre a transição entre a adolescência e o mundo adulto e uma percepção madura de um grupo de amigos. Um romance de formação que tem potencial para se tornar significativo no crescimento do leitor jovem.

  • Resenha | Conan: A Filha do Gigante de Gelo e À Mercê dos Hiperbóreos

    Resenha | Conan: A Filha do Gigante de Gelo e À Mercê dos Hiperbóreos

    conan-a-filha-do-gigante-de-gelo

    A Mythos Editora já há algum tempo vem publicando materiais recentes envolvendo o Gigante de Bronze, o mais atual deles é o encadernado que reúne os arcos A Filha do Gigante de Gelo e À Mercê dos Hiperbóreos, com roteiro de Kurt Busiek, arte de Cary Nord e Thomas Yeates, além do premiado trabalho de cores de Dave Stewart. (mais…)