Tag: Superman

  • VortCast 110 | Zack Snyder, James Gunn e o Futuro da DC

    VortCast 110 | Zack Snyder, James Gunn e o Futuro da DC

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (Twitter | Instagram), Filipe Pereira (TwitterInstagram), Bernardo Mazzei (Twitter | Instagram) e Jackson Good (Twitter) se reúnem para comentar sobre as últimas notícias envolvendo o universo cinemático da DC, desde o malfadado Snyderverso ao futuro imprevisível envolvendo James Gunn e Peter Safran.

    Duração: 65 min.
    Edição:
     Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira
    Arte do Banner:
     Bruno Gaspar

    Agregadores do Podcast

    Feed Completo
    iTunes
    Spotify

    Contato

    Elogios, Críticas ou Sugestões: [email protected].
    Facebook — Página e Grupo | Twitter Instagram

    Links dos Sites e Podcasts

    Agenda Cultural
    Marxismo Cultural
    Anotações na Agenda
    Deviantart | Bruno Gaspar
    Cine Alerta

    Ouça e avalie-nos: iTunes Store | Spotify.

  • Resenha | Pancadaria: Por Dentro do Épico Conflito Marvel vs. DC – Reed Tucker

    Resenha | Pancadaria: Por Dentro do Épico Conflito Marvel vs. DC – Reed Tucker

    Pancadaria: Por Dentro do Épico Conflito Marvel vs. DC é um livro de estudo de caso sobre a rivalidade entre as duas maiores editoras mainstream dos Estados Unidos, escrito pelo jornalista Reed Tucker. A publicação é parte da cena de bons livros que se voltam para o universo dos quadrinhos no Brasil e no mundo.

    Ainda na introdução o escritor tira algumas conclusões sobre o choque entre editoras e as diferenças entre elas, destacando a capacidade da Marvel Comics se renovar enquanto a DC Comics se assemelha a uma reunião de idosos incapazes de retratar algo fora de suas zonas de conforto.

    Os capítulos iniciais destacam o pioneirismo da DC quando ainda era chamada National Comics, primeiro com reunião de heróis em grupos, como também em iniciativas editoriais que popularizavam os personagens de maneira unida e organizada. Um bom retrato da chamada Era de Ouro e pelos fatores que ajudaram a formar o que se entendia por quadrinhos de heróis. O tradutor, Guilherme Kroll faz um ótimo trabalho, o livro é repleto de notas de rodapé envolvendo contexto das publicações lá fora e no Brasil, como, por exemplo, as traduções nacionais envolvendo mudanças de nomes — Lois Lane para Mirian Lane, Átomo para Eléktron, etc.

    Fato é que Marvel e DC eram bem diferentes desde sua concepção, ainda que a temática das aventuras nas revistas coincidisse. A Marvel, inicialmente, variava entre a mera replicação do que fazia sucesso nos quadrinhos populares da concorrente, com destaque de uma fala de Stan Lee:

    “éramos uma empresa de macacos de imitação”

    Enquanto sua concorrente era predatória, comprando todas as pequenas concorrentes — boatos no livro dão conta que até se cogitou a compra dos direitos do Príncipe Namor e Tocha Humana original, obviamente não confirmado pelas partes.

    A maior riqueza do livro são os detalhes da indústria, como a função de Stan Lee de estagiário, responsável por entregas, servir café e demais serviços auxiliares enquanto sonhava em se tornar romancista, já que encarava os quadrinhos como uma arte menor. Além disso, o livro se debruça bastante sobre a Marvel, desde a importância e decadência de Jack Kirby, como também da ascensão de Stan Lee.

    Reed tem uma escrita prosaica que prende o leitor, além disso, há muita fluidez e inteligência em transições de temas e assuntos. É tudo muito orgânico e o escritor não tem receio em expor a supressão dos artistas por parte da DC e as constantes brigas de Lee na Marvel para serem dados os legítimos créditos aos artistas e escritores no início da segunda metade do século XX.

    Acompanhar os rumos que cada um dos personagens da indústria traçam neste livro faz o leitor buscar as histórias retratadas ali, seja dos personagens do Quarto Mundo quanto o primeiro crossover entre as editoras: Superman x Homem Aranha. O autor detalha tudo muito bem os crossovers dos anos 90, as tentativas de adaptação para televisão e cinema, e as principais disputas. O mesmo ocorre nas referências à era das  graphic novels, e em como a DC foi pioneira no formato de venda de “livros”, enquanto a Marvel não pensou tanto nisso, fato que foi importante para a falência da editora, que chegou a vender os direitos de seus personagens.

    A leitura de Tucker é convidativa, especialmente pela riqueza de detalhes dos bastidores da indústria de quadrinhos, tudo é bem explorado, tanto para o leitor não habituado a esse universo, quanto aos mais experientes. Pancadaria é uma leitura rica sobre esse subgênero e muito complementar a outros estudos sobre o tema.

  • Resenha | Crise Final

    Resenha | Crise Final

    Quando um dos novos deuses aparece morto e os céus mudam de cor, os heróis começam a desconfiar de que algo está errado. O que eles não imaginavam é o quão crítica a situação já era, e “algo errado” se torna um eufemismo de péssimo gosto, diante do caos que se avizinha no horizonte.

    Ao se infiltrar na Terra, Darkseid e seus asseclas prepararam o estratagema definitivo, o plano dos planos, e assim deflagram uma crise de proporções monumentais, sem qualquer precedente, e opõem Vida e Antivida, fragmentando tempo e espaço por todo o Multiverso, com consequências imprevisíveis.

    Diante de uma ameaça tão grande e tão inesperada, talvez nem mesmo a força combinada de todos os heróis seja o bastante para vencer a batalha das batalhas, um embate decisivo pela existência, que leva o conflito de “bem versus mal” a um patamar inimaginável. Exigidos ao máximo de suas forças, os heróis do multiverso DC se colocam contra deuses, em uma guerra definitiva dos paladinos da justiça contra os arautos da morte, servos de Darkseid.

    Grant Morrison concebe em Crise Final uma saga hermética e envolvente, que capta a essência dos personagens da editora das Lendas. O autor escocês aplica na saga conceitos que lhe renderam fama ao longo dos anos, como viagens no tempo, conflitos multiversais e narrativas em paralelo que posteriormente se perpassam e assim tecem uma intrincada colcha de retalhos, cuja significação só se mostra possível em sua plenitude ao final da trama, quando tudo se encaixa e começa a fazer sentido.

    Tal como num épico de guerra tradicional, a crise intercala diferentes focos narrativos, múltiplos frontes de batalha, dando urgência para os eventos e espaço para que os personagens se desenvolvam em cena. A diferença, contudo, reside no forte apelo da ficção científica que recai sobre a narrativa e lhe dá um charme incomum.

    Como de costume, o roteirista concebe sua trama trafegando por referências incontáveis à mitologia DC, muitas delas somente reconhecíveis para o leitor médio com o auxílio do Google, mas que se transformam em um deleite para o fã de longa data, que imerge na história tanto a nível diegético quanto na caça desenfreada a referências, das mais sutis às mais evidentes.

    Acompanhado de diversos artistas de alto calibre como J.G. Jones, Doug Mahnke, Carlos Pacheco entre outros, a trama se resulta em um trabalho de difícil fruição mas cuja experiência de leitura é bastante recompensadora.

    A edição definitiva de Crise Final publicada pela Panini Comics reúne as sete edições de “Final Crisis”, originalmente publicadas em 2008, além de “Final Crisis: Submit #1”, “Final Crisis: Superman Beyond #1” e “Final Crisis: Superman Beyond #2”. Com tradução de Jotapê Martins, o encadernado merece um maior apuro na revisão para as próximas reimpressões, pois apresenta muitos erros diminutos, que quando lidos em sequência acabam chamando a atenção.

  • Resenha | Lex Luthor: Biografia Não Autorizada

    Resenha | Lex Luthor: Biografia Não Autorizada

    Lex Luthor é um personagem cujo caráter e código ético sempre foram complexos. Mesmo quando apresentava uma faceta maquiavélica era um homem diferenciado, como há de lembrar que, em meio as suas tantas origens, há sempre a obsessão com o alienígena onipotente, mas não há somente isso, e Lex Luthor: Biografia Não Autorizada explora um pouco dessas questões. Os roteiros de James D. Hudnall mostram uma história de investigação semelhante aos livros de detetive, acompanhados da arte do uruguaio Eduardo Barreto, cujo traço característico torna ainda mais singular por conta das cores de Adam Kubert.

    A revista é bem curta, tem apenas 92 páginas. A narrativa se dá pelas palavras do biógrafo e personagem Peter Sands. No começo se desconstrói até a figura pacata do alter ego do Superman, colocando-0 como suspeito de um assassinato. Há muitos elementos de literatura noir e de filmes de suspense, Metrópolis é mostrada em sua fase mais suja e menos higienizada, não é o perfeito lugar pra morar como na maioria das historias do Super.

    O herói, aliás, mal é mencionado e isso reforça o tom e espírito da história bem adulta, surpreendentemente madura. Aqui Lex tem origem humilde, um passado que envolve teorias da conspiração em relação ao fato de ser órfão. E envolve também delinquência juvenil e bullying sofrido e implicado. Adulto, ele é acusado de assédio moral, perseguição a quem se opõe a ele e de violência até com parceiros sexuais e amantes.

    No encadernado da Panini há também outras duas histórias, uma da Action Comics 23 e outra em Man of Steel 4 de John Byrne. A presença dessas duas origens diferentes ajuda a concluir como funciona a vida de Luthor, que variava entre o cientista louco e o mafioso que parecia uma cópia do Rei do Crime/Wilson Fisk da Marvel, mesmo sendo mais antigo que esse personagem. Na história de Barreto e Hudnall ele tem personalidade própria, embora reúna elementos desses dois estereótipos. O que se vê em Lex Luthor: Biografia não autorizada é uma história de inconsequência e sociopatia, aspectos subalternos à vaidade de seu personagem central, tudo muito bem explorado, certeiro e condizente com as outras contrapartes do vilão e além disso, a capa da revista ainda seria profética, como visto abaixo, com a coincidência de ter a imitação de uma biografia de outro ex-presidente dos Estados Unidos, muito antes de Donald Trump e o próprio Lex Luthor chegarem ao posto de comandante em chefe da nação que “se diz” América.

  • VortCast 95 | Diários de Quarentena XX

    VortCast 95 | Diários de Quarentena XX

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Filipe Pereira (@filipepereiral), Bruno Gaspar, Bernardo Mazzei, Jackson Good (@jacksgood) e Rafael Moreira (@_rmc) se reúnem para comentar um pouco sobre as bizarrices de Junji Ito, a visão de Zack Snyder e o sucesso das séries Marvel.

    Duração: 97 min.
    Edição: Rafael Moreira e Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Rafael Moreira e Flávio Vieira
    Arte do Banner:
     Bruno Gaspar

    Agregadores do Podcast

    Feed Completo
    iTunes
    Spotify

    Acompanhe-nos na Twitch

    Contato

    Elogios, Críticas ou Sugestões: [email protected].
    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram

    Materiais Relacionados

    VortCast 94 | Liga da Justiça de Zack Snyder
    VortCast 49 | Liga da Justiça
    VortCast 26 | Zack Snyder
    Precisamos de uma nova série do Superman?

    Links dos Podcasts e Parceiros

    Agenda Cultural
    Marxismo Cultural
    Anotações na Agenda
    Cine Alerta

    Avalie-nos na iTunes Store | Ouça-nos no Spotify.



  • VortCast 94 | Liga da Justiça de Zack Snyder

    VortCast 94 | Liga da Justiça de Zack Snyder

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Bruno Gaspar (@hecatesgaspar), Jackson Good (@jacksgood) recebem Hell (@ivokleber | @helluniverses) do Melhores do Mundo batem um papo sobre a Liga da Justiça de Zack Snyder, e ainda contamos com o retorno de Mario Abbade com sua crítica sobre o filme. Por isso, venha conosco e descubra se o Snyder é um bom diretor, qual a importância da crítica e que diabos o Caçador de Marte estava fazendo nesse filme.

    Duração: 121 min.
    Edição: Rafael Moreira e Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Rafael Moreira e Flávio Vieira
    Arte do Banner:
     Bruno Gaspar

    Agregadores do Podcast

    Feed Completo
    iTunes
    Spotify

    Contato

    Elogios, Críticas ou Sugestões: [email protected].
    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram

    Materiais Relacionados

    VortCast 26 | Zack Snyder
    VortCast 49 | Liga da Justiça
    VortCast 87 | Mulher-Maravilha 1984

    Links dos Podcasts e Parceiros

    Agenda Cultural
    Marxismo Cultural
    Anotações na Agenda
    Cine Alerta
    Mundo Freak
    ArgCast

    Avalie-nos na iTunes Store | Ouça-nos no Spotify.

  • Precisamos de uma nova série do Superman?

    Precisamos de uma nova série do Superman?

    Em meio as dificuldades que a Warner Bros e Walter Hamada têm em produzir um novo filme protagonizado pelo Superman, o anúncio de que a CW faria uma série focada na relação de Lois Lane e Clark Kent causou certa rejeição por parte dos fãs, especialmente porque quem acompanha os filmes da DC não costuma levar a sério The Flash, Legends of Tomorrow e demais séries do Arrowverse.

    A nova série também é produzida por Greg Berlanti, assinada também por Geoff Johns e tem como showrunner Todd Helbing, produtor de Mortal Kombat Legacy e Black Sails. O elenco é formado pelos mesmos Tyler Hoechlin e Elizabeth Tulloch que fizeram Clark e Lois na série da Supergirl. Os dois personagens têm filhos adolescentes, cada um com um pano de fundo e índole diferente: Jordan (Alex Garfin) e Jonathan (Jordan Elsass). Para esclarecer ao leitor, elencamos aqui alguns bons motivos para acompanhar essa nova história da DC. Sim, precisamos de uma nova série do Superman.

    Uniforme da animação clássica

    Logo no início do piloto, Hoechlin é mostrado salvando um carro verde semelhante ao que é visto na capa da Action Comics, a primeira revista do herói. Além disso, a eterna (e necessária) busca por refazer o clássico herói se lembra tanto a versão de Jerry Siegel e Joe Shuster, como a dos desenhos dos irmãos Fleischer que passava nos cinemas em 1941 e que ainda surpreende os espectadores pela qualidade visual e pela fluidez dos movimentos. A série era feita com rotoscopia, criada pelos irmãos alemães judeus que produziram anteriormente as primeiras animações de Betty Boop e Popeye.

    Visual do Superman dos anos quarenta. Imagem: Paramount Pictures

    Por mais que possa parecer boba, a referencia ultrapassa o aspecto visual e ressalta a ideia clássica do personagem, em contraposição a versão de Zack Snyder em que é um assassino a sangue frio em determinado momento.

    Identidade Secreta

    Recentemente fizemos um podcast, Vortcast: Identidade Secreta, que além de homenagear nosso grande camarada Felipe Morcelli, serviu também para discutir a ótima historia Identidade Secreta de Kurt Busiek e Stuart Immonem. Especialmente nas duas últimas edições, o personagem principal, mais velho e com família, teme o futuro de suas filhas, refletindo se elas teriam os mesmos poderes e problemas que teve quando o mundo o recebeu como herói.

    No caso de Superman e Lois, eles suspeitam que um dos filhos possa ter herdado os poderes kriptonianos. Enquanto o herói tem receio de falar sobre isso, sua esposa quer dialogar sobre a questão primordial, o segredo que o mundo gostaria de saber. Isso é tratado de maneira incrivelmente emocional, aprofundada por questões envolvendo pessoas queridas a Clark;

    A depressão em cena

    Esse talvez seja o maior diferencial do roteiro até aqui. O modo como o programa lida com a questão do transtorno de ansiedade social é bastante sério, ainda mais em comparação com outras adaptações de comics. Até os episódios exibidos pelo menos, a pessoa que sofre disso não é mostrada como uma coitada. Lidar com novas descobertas e uma condição clínica complicada certamente não é comum em obras da cultura pop, ainda mais dentro de versões de heróis em quadrinhos. Sempre quando foi abordado houve controvérsia, como com Thor em Vingadores: Ultimato ou com a Feiticeira Escarlate em Wandavision. Ainda assim, a abordagem em Superman e Lois é bem diferenciada pelo cuidado.

     

    Retorno ao herói clássico

    a dimensão do Super como um sujeito bom em essência pode parecer datada, mas está longe de ser assim de fato. Uma das primeiras ações do Super no primeiro episódio, quando precisa resolver um problema com uma caldeira, é grandiosa. Utiliza bem o cuidado em não atingir civis com uma boa estratégia heróica.

    Super levantando um bloco de gelo para resolver o problema da caldeira
    Imagem: CW

    Ainda assim é simples, fácil de compreender e até de associar ao personagem. Remonta aos melhores momentos dos quadrinhos e até de outras obras como Superman – O Filme e Superman – O Retorno, e não se parece em nada com a cena da destruição em massa em Metrópolis vista em Homem de Aço, ou outros momentos em que o Superman age mais como um agente do caos.

    Humor bem encaixado

    Programas sobre heróis normalmente tem como base a aventura e ação, mas não é incomum que tenham uma carga humorística considerável, seja nos filmes da Marvel, repletos de piadas em absolutamente qualquer produção, ou nos programas da CW, em um tom mais infantil. Claramente essa não é uma série para crianças mesmo com certos momentos que agradariam os mais jovens. O humor do personagem funciona como um alívio cômico necessário.

    Evolução de Smallville

    Por mais que boa parte dos fãs do Superman não gostem, Smallville foi um marco para o personagem e para o segmento de super heróis no audiovisual. O programa de Alfred Gough e Miles Millar manteve o Homem do Amanhã em horário nobre na tv,por dez longos anos e em alguns momentos a série acertou no tom, especialmente nas referencias do universo DC que brotavam nos roteiros de Geoff Johns. No entanto, o tom familiar era algo muito forte no programa dos anos 2000, especialmente na questão da paternidade. John Schneider e Annette O’Toole tinham uma relação muito próxima e intensa com o Clark de Tom Welling, e isso  também é bem desenvolvido aqui. Além disso, o fato de Pequenópolis ser o cenário principal da nova produção faz lembrar muito o seriado anterior, especialmente na fazenda dos Kent.

    É curioso como a maioria das pessoas imaginavam que a maior referência do novo materia seria Lois e Clark, mas claramente evitaram uma comparação direta. Em narrativa, lembra a premissa de Raio Negro com um fino equilíbrio entre ser um vigilante herói e um pai de família.

    Superman e Lois já foi renovada para uma segunda temporada, terá 16 episódios nesse primeiro ano e deverá seguir as historias de Clark, Jordan, Jonathan e Lois, variando entre a aventura comum aos gibis e histórias em quadrinhos com o clima familiar conturbado. Após explorarem outros personagens de sucesso, ter o azulão de volta como série é um retorno merecido.

  • Crítica | Liga da Justiça de Zack Snyder

    Crítica | Liga da Justiça de Zack Snyder

    Parece que uma eternidade se passou entre o Liga da Justiça lançado nos cinemas e a Liga da Justiça de Zack Snyder veiculado pela HBO Max. Bem mais que o tempo cronológico entre 2017 e 2021. Houve clamor dos fãs, de gente da indústria e, finalmente, algo próximo do que seria a visão real de Zack Snyder chegou ao público: o tão falado Snydercut, que já começa bem diferente da outra versão, com uso largo de CGI e slow motion já nas primeiras cenas e em momentos estendidos nas sequências de ação.

    Esta versão se assemelha ao monstro de Frankenstein. É um ajuntamento de vários elementos que estariam no filme da Liga, outros que poderiam estar na parte 2 de uma saga, e ainda momentos que claramente foram pensados e amadurecidos depois, como partes mortas formando um ser vivo. É curioso como boa parte dos que defendem esta versão falam a mesma coisa: que esse não é um filme de cinema, basicamente para tentar blindar a obra e a própria carreira do diretor, sempre criticado por ter dificuldades em conectar as partes diferentes de suas histórias. Isso não exime o produto de parecer gorduroso, nem justifica o início arrastado, mesmo quando remonta o final de Batman vs Superman e boa parte do universo compartilhado. Se a ideia ao lançar esse corte em formato de minissérie fosse para frente, certamente seria uma opção mais inteligente.

    Snyder mira na versão estendida da trilogia Senhor dos Anéis, mas esses são produtos bem diferentes entre si. Os filmes de Peter Jackson são obviamente voltados para os fãs, mas o espectador comum certamente apreciaria tais versões de forma mais palatável que este novo Liga da Justiça. Um filme de orçamento tão grandioso não poderia ser tão voltado para nicho.

    Em questões musicais, a trilha sonora é mal encaixada principalmente nos momentos em que não há tanta ação. O uso é piegas, e casa muito mal com os momentos explicativos. O filme parece uma tentativa de transformar um produto heroico em uma ópera. As batalhas são artificiais, as frases de efeito não convencem, os conflitos empolgam menos que as lutas pseudo-realistas da trilogia Batman de Christopher Nolan, e tem a qualidade dramática do pior dos seriados CW da DC, fora a fotografia e o uso excessivo de câmera lenta. Mal parece que as gravações seriam destinadas a tela grande.

    O visual do Lobo da Estepe é arrojado, mas funciona de jeitos distintos quando o personagem está em ação ou apenas parado em cena. Ao menos a razão de entrar na Terra atrás das caixas maternas faz mais sentido, como um filho rebelde que busca a aprovação do pai, Darkseid. Já a participação dos vilões do Quarto Mundo é fraca. A batalha antiga entre a humanidade e os asseclas de Apokolips é cheia de bonecos digitais que fazem de 300 um filme ultra realista. Os atores rejuvenescidos parecem retirados de cutscenes de jogos de 64 bits e não casam bem com o clima proposto.

    A partir daqui, a análise conterá spoilers

    Toda a segunda parte do filme é bem melhor desenvolvida. A historia é mais fluida, há mais inserção de material inédito e não meras variantes do antigo. Se há algo positivo nesta nova visão do diretor é o tom heroico, após muitos tropeços, ele entendeu que não há motivo para deixar todos os personagens como versões sisudas e obscuras deles mesmos. Mesmo o Superman tem uma abordagem diferente, que claramente não combina com Homem de Aço, e sim com um resgate às origens do herói. Henry Cavill parece mais uma versão do desenho antigo do DCAU ou do seriado de cinema dos irmãos Fleischer, não é exatamente o Superman de Christopher Reeve, mas possui boa parte do espírito, e sua experiência de pós morte pode ser uma boa explicação para encontrar essa persona. Não há motivo para reclamar de um retorno ao correto estilo da personagem, mesmo que seja tardio.

    Outra conclusão difícil de analisar é saber se foi essa versão que a Warner recusou anos atrás. Até porque o valor para a gravação de novas cenas foi aumentando ao longo da produção, claramente não influenciou só cenas de CGI (até porque esses efeitos são ruins, na maioria do filme). Mas como faltavam cenas, foram feitas refilmagens mesmo que Snyder e a produção negasse a princípio. Além disso, a culpa sobre o corte cinematográfico de Joss Wheddon é incalculável também, uma vez que não se sabe em detalhes qual foi o pedido do estúdio para ele. Seu crédito oficial foi de roteirista, mas sabe-se que ele dirigiu cenas extras, incluiu momentos diferentes do conceito de Snyder, adicionou humor e cenas como a do Flash em seu primeiro salvamento e Aquaman confessando a realidade de seus pensamentos por conta do laço da verdade que, obviamente, não estão aqui. Para além de cenas machistas conduzidas por Wheddon em Liga ou Vingadores: Era de Ultron, há de se lembrar que essa visão já foi abordada por Snyder, autor do filme autoral Sucker Punch em que moças andam de espartilho em cenários nerds fetichistas. Além, é claro, de cenas da Mulher Maravilha em poses exageradas ao laçar o Apocalipse em BvS.

    Além do arco do Cyborg, o de Superman é bem diferenciado, para além da mudança da cor de sua roupa. Mesmo que brevemente, Snyder remete ao melhor que seu filme de 2013 teve: as origens alienígenas do herói onipotente. Surpreendentemente, o diretor opta por um uso de cores mais variado fugindo da velha piada de filtros do Instagram que fazia com seu cinema. As sequencias de batalha no final tem bons momentos, com uso de veículos, gadgets e tudo que um filme de ação super heroica precisa para agradar crianças e vender brinquedos. Ao contrário do que supunha, as lutas não são super violentas, nesse ponto, entram no patamar dos filmes da Marvel de Kevin Feige.

    O diretor pôde amadurecer seu tom, que realmente só é estragado pela música que foi uma constante negativa do filme, assim como o cenário de Apokolips que aparece timidamente, mesmo que esse tenha um aspecto visual estranho. Assim como o epílogo que parece um amontoado de cenas excluídas e desconexas que lembram os sonhos do Batman. A maioria delas é despropositada, servem com teasers de arcos futuros que dificilmente serão filmadas. O Snydercut é uma realidade.

  • Resenha | Super-Homem: Morcego de Aço

    Resenha | Super-Homem: Morcego de Aço

    Quem nunca se perguntou: “e se o Batman tivesse poderes?”. Não que o melhor super-herói precise disso para ser quem é, mas voar e levantar alguns prédios poderia render ótimos momentos para o Cavaleiro das Trevas. Mas essa não é a razão para Super-Homem: Morcego de Aço (Superman: Speeding Bullets) existir, e sim, a sua consequência. Aqui, na coleção “Túnel do Tempo” publicada pela DC nos anos 1990, universos paralelos são criados em função de novos horizontes, e no encanto que isso pode oferecer aos fãs. Assim, os autores J.M. DeMatteis e Eduardo Barreto recriam mitologias, e vêm com novas propostas: agora, Kal-El vem de Krypton e cai na violenta Gotham City, e não na calmaria rural de Kansas. Longe dos amáveis fazendeiros que o adotaram, Kal-El é criado então pela bilionária família Wayne, e seu fiel mordomo Alfred, e nunca conheceria a paz de uma fazenda, ou o motor de um trator.

    Os autores exploram com muita ação e suspense as hipóteses de um “novo” lar para o Clark Kent que nunca existiu, pois agora seu nome é Bruce Wayne. Perturbado tanto pelo assassinato de seus pais (que ele não conseguiu evitar, mesmo fritando depois com sua visão de raio-laser o atirador de Martha e Thomas Wayne), quanto por seus poderes sobre humanos, Bruce vira um Batman menos estratégico, e mais casca grossa, já que não precisa ser detetive para ouvir, a quilômetros, ações violentas de criminosos em Gotham City. Se o Batman de verdade precisou aprender 150 tipos de artes marciais, esse Batman resolve tudo com 2 socos, e um super-sopro bem dado. E se todo herói precisa de um inimigo, nesse eterno maniqueísmo das HQ’s, Superman: Morcego de Aço revela um Coringa com mentalidade de Lex Luthor, juntando os dois vilões em um só. Um símbolo único de destruição para lembrar esse Super Batman de não se igualar com a mentalidade desses tipos.

    Nesse evento “What If…?” da DC, em que a editora reimagina novas possibilidades, podemos cogitar também o que aconteceria se a nave de Kal-El caísse, também, no Brasil. Quais valores ele teria, qual sotaque falando em português, e qual seria sua opinião sobre os Estados Unidos pertencendo a um país de terceiro mundo? Certamente, o Super-Homem nacional protegeria a Amazônia, e ficaria surpreso com o nível de corrupção da política brasileira – há muitos Lex Luthor, muitos mais do que um só. Talvez o destino estivesse certo, afinal, e a nave de Krypton, com seu último habitante que para nós é um Deus, não caiu em Brasília, nem mesmo em Gotham, e sim no pobre e pacato Kansas, no meio de um humilde milharal. Talvez o bem precise ser estimulado no começo, para só depois ser testado, afinal.

  • Resenha | Superman: Identidade Secreta

    Resenha | Superman: Identidade Secreta

    Ouça nosso podcast sobre Superman: Identidade Secreta.

    Como seria a sua vida se você tivesse o mesmo nome do mais famoso super-herói da ficção de todos os tempos? Ou ainda: o que aconteceria se, por motivos desconhecidos, você acabasse descobrindo ter os poderes desse super-herói? Essa é a premissa básica da minissérie Superman: Identidade secreta, de Kurt Busiek e Stuart Immonen. Clark Kent é um adolescente de Picketsville, Kansas, que cresceu tendo seu nome associado aos gibis do Superman, ganhando brinquedos e todos os tipos de quinquilharias com o personagem estampado em todos os seus aniversários. Clark nunca gostou de ter o mesmo nome do personagem, nunca se sentiu à vontade com as piadas que faziam no colégio e até mesmo sofria bullying por isso. Assim, o garoto se tornou bastante reservado e apreciava mais redigir ensaios em uma velha máquina de escrever do que socializar com outros de sua idade. Até o dia que o impensável acontece: Clark descobre, em meio a um isolado acampamento, que tem exatamente os mesmos poderes do personagem fictício que lhe emprestava nome e sobrenome!

    A história de Busiek e Immoen procura emular o mundo real, no qual vivemos, e como um adolescente tímido agiria nessa descabida situação. Clark tem muitas dúvidas sobre a origem de seus poderes, mas ainda assim os esconde da melhor forma que pode, a fim de evitar problemas para as pessoas ao seu redor. O jovem passa a usar suas extraordinárias habilidades para fazer o bem, salvar pessoas, evitar catástrofes – mas atuando nas sombras e nunca se revelando. Até o dia em que uma grande enchente assola o Kansas, e ele se vê obrigado a agir em plena luz do dia. As pessoas passam a falar sobre ele nas ruas e nos jornais, muitos e muitos boatos são espalhados e o xará do Superboy precisa tomar uma decisão: mostrar-se ao mundo ou continuar nas sombras.

    Se essa primeira parte da história mostra sua adolescência no Kansas (e por isso o capítulo é sabiamente intitulado Smallville), a segunda parte mostra sua vida numa grande metrópole. Seja por ironia do destino ou não, Clark se torna um grande escritor – embora não queira ser repórter – e vai trabalhar numa redação. Os paralelos com a vida do Superman continuam, quando ele conhece Lois Chaudhari (mais uma piada de seus amigos tentando formar um casal “Lois & Clark”). Contudo, Lois se torna realmente sua companheira, melhor amiga, namorada e por fim, esposa, tendo com ela uma vida longa e feliz. É realmente muito bonito vermos, em um quadrinho adulto, um casamento longevo baseado no amor, na confiança e no respeito mútuo dessa forma. O casal se mostra muito bem entrosado nos capítulos a seguir criando suas filhas gêmeas com amor e dedicação.

    Durante toda a história, existe obviamente um conflito de bastidores. Afinal, de onde veem os poderes de Clark? O governo norte-americano parece muito interessado em capturá-lo, e as maiores cenas de ação da HQ consiste nas tentativas dos militares de alvejá-lo, com armamento cada vez maior. Clark, já assumindo o manto do kryptoniano como sua identidade secreta, precisa enfrentar bombas e mísseis, burlar radares e satélites. Mesmo quando capturado, Busiek não nos dá muita pistas de como os poderes surgiram. Vemos um laboratório bastante suspeito, corpos de possíveis outros “supermen” (inclusive bebês), mas nada de concreto. O mistério na história é acertado, e não faz diferença para a trama não termos tudo mastigado. Deixar a origem em aberto foi uma excelente decisão do autor.

    Em uma trama bastante introspectiva, vemos esse super-homem envelhecer com suas dúvidas, incertezas – mas também mantendo-se íntegro e fiel aos seus princípios. A arte de Immonen é impressionante ao passar para o leitor essa atmosfera de “mundo real”, ainda que bastante estilizada em vários momentos. As páginas duplas são impressionantes, e diferente de outras obras da DC Comics que mostram vários personagens ao mesmo tempo lutando entre si, aqui Immonen se empenha em refletir na paisagem a solidão de Clark Kent. Não temos um grande vilão como Lex Luthor, Brainiac ou Sr. Mxyzptlk para enfrentar o personagem, mas eles não fazem falta nessa história. Temos sim, um antagonista, mas nem de longe um vilão burlesco com planos mirabolantes. Tanto que seu relacionamento com Clark acaba sendo um acordo de cavalheiros em determinado momento. Vemos um Superman muito realista, humano e sentimental, em uma história bastante contemplativa que faz justiça ao nome do maior super-herói de todos os tempos.

    Superman: Identidade Secreta já foi publicado no Brasil em três momentos diferentes. Em sua primeira versão, em 2005, a Panini lançou a HQ na forma de minissérie em quatro edições, encadernada em uma única edição no ano seguinte. Já no aniversário de 80 anos do personagem, a obra ganhou um encadernado de capa dura à altura de sua grandeza, com um selo comemorativo e cartões especiais acompanhando a edição.

  • VortCast 88 | Superman: Identidade Secreta

    VortCast 88 | Superman: Identidade Secreta

    Este podcast é dedicado à memória do amigo Felipe Morcelli.

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Filipe Pereira (@filipepereiral), Dan Cruz (@DancruzDm), Jackson Good e Thiago Augusto Corrêa recebem Delfin (@DelReyDelfin), do site e podcast Terra Zero/ComicPod e da rádio online Ninho do Coruja, para comentar sobre o trabalho de Kurt Busiek e Stuart Immonen à frente do Superman, em Identidade Secreta.

    Duração: 130 min.
    Edição: Rafael Moreira e Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Rafael Moreira e Flávio Vieira
    Arte do Banner:
     Bruno Gaspar

    Agregadores do Podcast

    Feed Completo
    iTunes
    Spotify

    Contato

    Elogios, Críticas ou Sugestões: [email protected].
    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram

    Lista de Sugestões de Compras

    Materiais Relacionados

    Especial | Superman
    VortCast 01 | A História da DC Comics – Parte 1
    VortCast 07 | Os Novos Rumos da DC Comics
    VortCast 22 | Ben Affleck
    VortCast 26 | Zack Snyder
    VortCast 39 | Batman vs Superman: A Origem da Justiça
    VortCast 42 | O que esperar da DC nos cinemas (ou ‘saudades do Nolan’)
    VortCast 49 | Liga da Justiça
    VortCast 53 | Trindade (DC Comics)

    Links dos Podcasts e Parceiros

    Agenda Cultural
    Marxismo Cultural
    Anotações na Agenda
    Cine Alerta

    Avalie-nos na iTunes Store | Ouça-nos no Spotify.

  • Resenha | O Relógio do Juízo Final

    Resenha | O Relógio do Juízo Final

    Para além de todas as brigas do autor Alan Moore com a DC e Marvel, e a óbvia rejeição que ele passou a ter pelos quadrinhos mainstream de super heróis e pela industria, O Relógio do Juízo é uma saga em doze capítulos, cuja intenção é confrontar o universo de Watchmen com a linha comum da DC. A história escrita por Geoff Johns e desenhada pelo seu parceiro de longa data Gary Frank começa dentro da linha dos quadrinhos de Moore e Dave Gibbons em 1992, após o apoteótico final onde o mundo se reuniu para enfrentar o mal arquitetado pelo homem mais inteligente do mundo, Ozymandias, e o mostra já em derrocada, tentando viver apesar da culpa por conta de milhares de mortes.

    Watchmen é uma revista com muitas camadas. O mesmo não se pode dizer dessa tentativa de continuação, embora a leitura resulte em uma homenagem digna não só à obra original, mas também ao legado do Superman e aos heróis clássicos. A trama inicial reúne alguns personagens clássicos e novos dentro desse mesmo universo e estética, além de outros que fazem parte do legado de alguns vigilantes e personagens que já se foram. O Dr.Manhattan aparentemente foi para outra dimensão, e Ozymandias, o novo Rorschach, Mímico e Marionete (esses dois, personagens novos) vão atrás dele para tentar consertar o seu mundo.

    Para entender esta historia é bom acompanhar duas outras publicações antigas, primeiro, a saga do Renascimento DC, depois Batman e Flash: o Bóton, mas não há elementos nessas interseções que tornem a apreciação desta. O que se vê logo nas primeiras páginas é uma linguagem gráfica e verbal bem violenta, com uso de palavreado torpe, mutilações e muito sangue, mas nada que seja exagerado, Johns tem cuidado para que nada soe gratuito, e para que a história vá tomando gravidade de maneira gradual, com um desenrolar de fatos que condiz com isso.

    O roteiro acerta demais ao associar personagens dos dois universos que de certa forma, são contrapartes um do outro, para além da óbvia comparação entre os personagens que Moore criou e os da Charlton Comics, (estes aliás, tem uma breve aparição como curiosidade). A união entre Adrian Veidt e Lex Luthor faz sentido, sobretudo nas traições que um comete contra o outro, além é claro da inteiração entre o Homem Morcego e uma das novas versões do personagem, no caso, o Rorschach. A edição que conta a origem do novo vigilante beira o sensacional, expande bem um dos elementos propostos na história clássica e dá novos significados. Outros personagens secundários também têm boas aparições, com participações tão boas que a melhor apreciação ao leitor seria a de não saber sobre a presença deles até a hora de ler a edição correspondente.

    Da parte do “universo DC”, a Guerra Fria retorna agora envolvendo Estados Unidos e a Rússia de Vladimir Putin. Além disso, há uma trama de teoria da conspiração, que atribui a quantidade enorme de meta-humanos em solo americano a um possível experimento do governo, e no meio dessa paranoia, os personagens da Liga da Justiça se vêem com a credibilidade abalada, sobretudo o personagem mega poderoso chamado Nuclear. O sujeito que está acima desse sistema é o herói mais poderoso da Terra, o último filho de Krypton. O texto repete a pecha de que o homem mais poderoso vivo é o fiel da balança de um mundo em ebulição, e de fato o paralelo entre Manhatan e Superman faz muito sentido.

    Gary Frank utiliza um traço semelhante ao de Gibbons ao referenciar momentos clássicos da HQ original, isso acrescenta um grande charme a Relógio. Além disso, os novos “substitutos” ao Cargueiro Negro tem um elemento de metalinguagem muito bem pensado e encaixado, e esse ciclo de repetições aumenta a ideia de que o universo tende a se limitar a ciclos redundantes, mesmo o Metaverso  que é apresentado nesta história.

    A ideia do herói desumanizado, que por conta  da onipotência se torna insensível e imprevisível também foi abordada na versão da HBO e de Damon Lindelof para Watchmen, embora as duas produções não tivessem qualquer envolvimento de idealizadores, tudo por pura coincidência.

    De certa forma, a proposta de que Relógio do Juízo Final uniria dois universos distintos não é sincera, afinal, o argumento de Johns mira um belíssimo crossover, como se os antigos Marvel x DC tivessem peso político pragmático em suas histórias. Essa é  sobretudo uma aventura solo de Jon Osterman, quase como um O Que Aconteceria Se o Dr. Manhattan encontrasse o Superman. A historia de Johns e Frank se prova mais uma vez uma bela homenagem aos quadrinhos clássicos da DC e aos seus maiores ícones, amarrando bem ao menos o ideal do Super Homem com a capacidade de poder e grandiosidade quase infinitas de Manhattan, além de não tentar ressignificar narrativamente a historia de Alan Moore, embora  acrescente alguns elementos de discussão pertinentes aos personagens secundários de Watchmen, soando enfim como uma boa alternativa ao futuro dos tão adorados entes da graphic novel de 1986.

     

  • O que Aconteceu com o Superman Elétrico?

    O que Aconteceu com o Superman Elétrico?

    Os anos noventa foram bem curiosos em matéria de qualidade de roteiros em quadrinhos, especialmente no que toca os super heróis. Enquanto boas iniciativas e sagas ocorreram, como a Liga da Justiça de Grant Morrison, os runs do Homem Morcego e boa parte da invasão britânica, também ocorreu nessa época o boom da Image Comics, em sua fase mais massa veio. Dentre os vários momentos sensacionalistas, houveram sagas que variavam de qualidade, como as polêmicas A Queda do Morcego e A Morte do Superman. Obviamente, seu retorno não muito tempo depois, e o uso de pochetes, trabucos e armas de fogo enormes começaram a invadir até os gibis de heróis super poderosos, que não precisariam dar tiros para sobreviver, e isso evidentemente tocou o kriptoniano.

    Pouco depois que retornou a vida, o Super-Homem apareceu com poderes diminuídos, usando cabelos grandes, roupa preta e repaginada, sem capa e com emblema prateado, num visual que demonstrava que a fase do roteirista e desenhista Dan Jurgens era bem diferente da série de John Byrne, ou as anteriores com Curt Swan e outros artistas. No entanto, essa mudanças apesar de chocarem alguns leitores, não causaram tanto furor como quando ele apareceu com poderes elétricos, mudando completamente seu estilo, visual e até as habilidades sobre-humanas.

    Alguns dos visuais do herói ao longo das décadas.* 

    No Brasil, a fase foi toda publicada pela Editora Abril, e dificilmente será reeditada e republicada por aqui. A historia é longa, reunindo mais de 70 revistas entre Action Comics, Superman, Adventures of Superman e outras, excluindo aí revistas de grupo como a da Liga da Justiça, e toda essa fase é bem presa à cronologia.

    Esta versão do personagem, embora se alardeasse que era definitiva, claramente não teve um planejamento tão forte. Entre as diferenças entre o clássico e esta nova configuração, há o fato de quando se desmagnetiza, fica vulnerável, como um humano comum. Além disso, o personagem tem uma estranha sinergia com objetos eletrônicos (chega ao cúmulo de entrar em um computador, onde se percebe até linguagem binária em suas pupilas). As balas atravessam seu corpo, que portanto fica intangível quando ativo. Esta nova função é mostrada de maneira estranha, um bocado incongruente, pois funciona ao gosto dos artistas e roteiristas, já os outros poderes são descobertos aos poucos, e incluem teleporte, variação da densidade corporal (pode crescer e diminuir conforme quiser), além da estranha condição de viajar por linhas telefônicas. Além disso, Clark precisa utilizar roupas de isolamento. Das habilidades que perdeu, há a super velocidade, visão de raio x, visão de calor, que tem a compensação de lançar raios. Além disso, embora siga voando e permaneça super forte, a kryptonita não o afeta mais.

    O slogan que fala que o Super está pronto para o próximo século não é dito apenas pelo material de propaganda, mas também pelo próprio Clark. A forma como os personagens secundários o enxergam é artificial demais. Nem seus pais parecem ser os mesmos, e há um exagero para demonstrar que está ainda mais poderoso, obviamente um fato muito contestável. Fora essas conveniências capitaneadas por Jurgens, há uma participação muito boa dos desenhistas, entre eles Stuart Immonen (que fez anos mais tarde a belíssima Superman: Identidade Secreta),  Jon Bogdanove (artista cujo traço é bruto e característico) e Tom Grummet (famoso por desenhar o Superboy em suas primeiras revistas). Esses estilos, bem diferentes entre si, produzem ótimos momentos da família Super, resgatando a dignidade perdida nesta fase graças aos textos.

    Propaganda dentro das revistas da Abril, anunciando as mudanças de paradigma do kryptoniano.

    Existem historias paralelas que poderiam ser bem exploradas, como o tratamento de câncer de Perry White e a editoria que Clark faz no Planeta Diário na ausência por saúde de seu velho amigo. Mas isso é mal explorado do ponto de vista emocional e parece gratuito. Em compensação, a estranha condição de Jimmy Olsen como apresentador de programas de auditórios é constante, tem certa importância dramática mas não é bem trabalhada dramaticamente também.

    Essa fase é bem característica de seu tempo. Os vilões clássicos também aparecem em alguns pontos, mas mesmo a motivação deles parece estranha. Uma das explicações para a troca de poderes do Super seria por uma interferência de Lex Luthor. No entanto, as razões que teriam feito o vilão cometer tais atos não se encaixam. Seu plano aconteceu devido ao futuro nascimento de seu filho. Mas tentar diminuir os poderes de seu antagonista não parece ser imporante para o nascimento de um novo Luthor.

    Além disso, há a repetição de outros conceitos como as  tentativas de substituir o Superman como o resgate de dois Superman, o azul e o vermelho, uma duplicidade gerada após estranhas experiência envolvendo o Homem dos Brinquedos e o Super Ciborgue. A referência claramente traz uma nova versão do conceito de 1963 em Superman #162, embora aqui não haja o mesmo contexto e comentário político da historia antiga. Há um bom artigo sobre isso, chamado Guerras Frias e a história dos Supermen Azul e Vermelho, do grande Felipe Morcelli, que explica essa versão antiga com boa pesquisa e ótima contextualização.

    Os Superman de cores diferente, nos anos 60

    Se a qualidade dos roteiros não é  positiva, ao menos se tenta humanizar o sujeito. Clar Kent não sabe lidar com duas copias idênticas de si. Como herói funciona bem, pois pode se desdobrar e ajudar a Liga, os Titãs e outras cidades além de Metrópolis. Mas Lois sofre muito, não sabendo como conviver com dois maridos ao invés de um. Nunca se soube qual era a verdadeira extensão de poder das partes nessa nova configuração. Embora a situação intentasse ser definitiva, era natural que em algum momento a estruturação do personagem voltaria ao normal.

    Como já era esperado, o Super-Homem voltou a ser quem era, unico, com as cores da bandeira americana ostentadas em seu peito e músculos. Misteriosamente ele repete o clichê de cair nu, em uma área rural do Kansas (no caso, em Pequenópolis) na fazenda dos Kent. A sua entrega para salvar a Terra o teria feito mudar as moléculas de seu corpo, e isso restaurou sua antiga identidade, unindo os dois para voltar a ser somente um e igual ao que o status quo sempre pregou no que era conhecido na Era de Ouro e de Prata. Fica um bocado dúbia a questão relativa a possivelmente um deles – o vermelho – ter se sacrificado. Ou se por um milagre um absorveu o outro, literalmente ou energeticamente. Como boa baboseira dos anos noventa, a fase do herói termina assim sem nem sequer uma reflexão sobre o outro ou uma explicação de que os dois se unificaram.  O resultado é uma breve lembrança na memória dos leitores mais preocupados com cronologia, mas sem causar grandes efeitos ou sequelas nas vidas do personagem e na ambientação de suas aventuras.

  • Crítica | Superman: O Homem do Amanhã

    Crítica | Superman: O Homem do Amanhã

    Liga da Justiça Sombria: A Guerra de Apokolips terminou bem o universo de animações baseada nos Novos 52. Com a promessa de que os novos longa metragens seriam feitos sem estar necessariamente presos a mesma cronologia, Superman: O Homem do Amanhã é o pioneiro dessa nova empreitada. A história mostra o início da trajetória do herói, incluindo sua infância e mudança para a cidade de Metrópolis.

    A direção fica a cargo de Chris Palmer, estreante em filmes, enquanto o roteiro é de Tim Sheridam, responsável pelo competente O Reino do Superman. Já se nota logo no início uma grande diferença para as outras animações, nos momentos estáticos o traço tem muito mais detalhes, ainda que o desenho das faces do herói, vilões e coadjuvantes seja mais limpo. Os movimentos são mais fluidos, ainda que as lutas possuam momentos mais lentos.

    O roteiro tem uma narrativa solta, mostrando as origens do Superman sem repetir os clichês de Krypton explodindo com Kal-El. Sheridan utiliza a HQ Superman: Alienígena Americano para mostrar uma jornada de rejeição natural às habilidades sobre-humanas e a tudo aquilo que é diferente dos outros. A saída dele da pequena cidade para uma megalópole é bem construída, assim como sua introdução no Planeta Diário e a relação com Lois Lane, aliás, uma das versões mais fortes e inteligentes da personagem em anos de abordagem.

    As participações de coadjuvantes do universo DC são bem encaixadas e não roubam o protagonismo do kryptoniano. O fato dele ainda ter dúvidas sobre usar ou não seus poderes faz a potência das participações do Lobo e do Caçador de Marte serem muito pontuais.

    As escolhas originais do filme são inteligentes, mas carregam em si alguns problemas sérios. A vilania do Parasita, ainda que funciona visualmente, faz todo o espírito de complexidade da identidade do Super se perder. A mensagem mostra a luta de um herói super poderoso e que ainda não sabe lidar com a sua onipotência, tentando defender uma cidade indefesa de um monstro gigante semelhante a Godzilla e isso é muito pouco, o roteiro não tem de longe o mesmo sentimento presente nos quadrinhos que inspiraram o filme. No final, o que se percebe é como um ano zero do herói, e nisso, Superman: O Homem do Amanhã funciona, além de ser muito superior em personalidade às animações anteriores dos Novos 52.

  • Resenha | DC: A Nova Fronteira (2)

    Resenha | DC: A Nova Fronteira (2)

    No mundo do entretenimento, a nostalgia vende e contagia, tal qual o medo e a desconfiança no teatro político. Atualmente, ninguém entende disso nas indústrias da informação melhor do que a Disney, ao promover infinitos remakes de animações que todos já amamos, e assim, garimpando mais dinheiro do que se pode contar – com exceção do live-action Mulan de 2020, mas essa é uma outra história. Nostalgia é apelativa, recorre a assuntos do coração sobre ideias que já somos apegados a gerações, e tão saudoso quanto princesas encantadas, na cultura pop, é o universo colorido e exagerado dos super-heróis, seus vilões e suas aventuras de planetas em perigo, pedras mágicas, caixas malucas e por ai vai. DC e Marvel sempre se orgulharam disso, e quase ao mesmo tempo, criaram um novo Olimpo quase sempre, não resiste a virar um playground onde deus e o diabo se enfrentam.

    Entre palhaços e monstros gigantes vindos do centro da Terra, a DC Comics (e sua eterna concorrente) alimenta há quase um século uma mitologia repleta de ícones mundialmente aclamados, figuras aladas e destemidas que nunca salvam o planeta, e sim, os Estados Unidos; a águia. E é justamente esse o motivo da minissérie A Nova Fronteira precisar existir: em 1952, todos os super-heróis foram proibidos de agir na América por serem um segundo poder não-oficial, fora de controle, e que muitas vezes só atraíam ameaças que só causavam transtorno. Tirando Superman e a Mulher-Maravilha, ninguém podia voar entre Nova York e Califórnia exceto quem se vendeu em prol da segurança nacional, e os agentes da Aeronáutica – como o famoso piloto de caças Hal Jordan, o futuro Lanterna Verde. Num país totalmente traumatizado pelo fim ainda muito recente da Segunda Guerra Mundial, minimizar perigos era uma cláusula pétrea que todos deveriam se submeter, em busca da liberdade. Mas tudo é político, e nada escapa do seu espectro.

    Com Superman e Mulher-Maravilha sendo mascotes militares do país que os acolheu (um vindo do espaço, e a outra de Themyscira), Batman é um mero marginal, e o Flash só corre para livrar sua namorada de um assalto. A Liga da Justiça ainda é um delírio distante na Parte 1, e o foco principal é em Hal Jordan, o ex-soldado de guerra e abalado com as mortes que fez, para sobreviver. Jordan é envolvido nos planos dos EUA em alcançar o espaço antes da União Soviética, sem jamais desconfiar do que o destino vindo do espaço lhe reserva – e que um marciano transmorfo já está na Terra, aprendendo escondido o comportamento do ser-humano pela TV, a mídia de massa que perpetua o american way of life desde 1954, quando ocorreu a primeira transmissão comercial pela NBC. Se só o que é americano é aceitável, o Caçador de Marte aprende isso na prática. A crítica a esse imperialismo ideológico é tão crua nas duas partes de A Nova Fronteira que impressiona, e nos faz pensar o que há por trás desses paladinos, ou seja, ferramentas de uma máquina de publicidade governamental.

    Talvez Alan Moore estava certo, e na vida real, o Dr. Manhattan iria servir a América feito um Deus azul que nasceu nesse solo. Através do entretenimento, esse patriotismo americano é polvilhado ao redor do mundo com grande facilidade (o chamado soft power, ou seja, uma conquista política que não precisa ser alcançada com armas), e nada melhor que os super-heróis para garantir a missão. Na ágil e dramática trama roteirizada e ilustrada por Darwyn Cooke e as cores de Dave Stewart, vivemos os anos embrionários para que a Liga da Justiça fique unida, afinal, enquanto mergulhamos de cabeça no que faz cada um dos seus ícones ser tão especial. Ironicamente, A Nova Fronteira é ousada o bastante para expor essas “entidades” como a grande contradição que elas são, tratando ainda de questões sociais pertinentes aos anos 50, como a paranoia do cidadão comum com medo de novas guerras, e a segregação racial no sul. Escravizados pelo governo e fadados a lutar contra monstros primitivos que os unem, na Parte 2, os heróis lutam pela liberdade como se esta fosse um conceito vazio para eles mesmos. Justo eles, os peões da nação Coca-Cola.

    Super-heróis não são a extensão do homem, como eram na Grécia antiga Zeus, Atena, Hércules e Poseidon, e sim a extensão do ‘homem americano’. Fruto direto do imperialismo dos Estados Unidos, não é à toa que o Homem de Aço ainda é um símbolo supremo do gênero (por mais que Batman e Homem-Aranha sejam mais legais que ele): o cara É a América, o país acolhedor dos campos de trigo, de uma gente esforçada e que nunca teve medo de enfrentar ninguém, nem mesmo os ingleses para garantir sua independência. Superman incorpora isso com perfeição, imbatível como a América cuja kriptonita (terrorismo, crises econômicas) quando lhe atinge, sempre consegue superar. Flash, Capitão América, Aquaman e X-Men: tudo uma propaganda política e das mais espertas, vale dizer. Quando os Vingadores partiram para cima de Thanos em Vingadores: Ultimato, e quando a Mulher-Maravilha entrou no campo de batalha contra os nazistas, não estávamos aplaudindo nossos ídolos: nós estávamos aplaudindo a águia.

    Compre: DC – A Nova Fronteira.

  • VortCast 82 | Diários de Quarentena XII

    VortCast 82 | Diários de Quarentena XII

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Bruno GasparJackson Good (@jacksgood) e Rafael Moreira (@_rmc) retornam em mais uma edição para bater um papo sobre quadrinhos, política, séries e muito mais.

    Duração: 107 min.
    Edição: Rafael Moreira e Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Rafael Moreira e Flávio Vieira
    Arte do Banner:
     Bruno Gaspar

    Agregadores do Podcast

    Feed Completo
    iTunes
    Spotify

    Contato

    Elogios, Críticas ou Sugestões: [email protected].
    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram

    Acessem

    Brisa de Cultura
    Cine Alerta
    PQPCast

    Conheça nossos outros Podcasts

    Agenda Cultural
    Marxismo Cultural
    Anotações na Agenda

    Avalie-nos na iTunes Store | Ouça-nos no Spotify.

  • Review | Lois & Clark: As Novas Aventuras do Superman

    Review | Lois & Clark: As Novas Aventuras do Superman

    Lois e Clark: As Novas Aventuras do Superman foi uma serie exibida a partir de Setembro de 1993, criada por Deborah Joy LeVine. Sua trama era bastante focada no dia a dia do Planeta Diário e na construção do romance dos personagens de Teri Hatcher e Dean Cain, tendo como pano de fundo obviamente as aparições do herói, sendo esse realmente um aspecto subalterno ao romance.

    O tom da série é leve, escapista, com tramas bem desimportantes, tudo para dar vazão a uma abordagem que atraísse mais o público feminino, já que quadrinhos e filmes do Super Homem sempre miraram mais homens e meninos. Ainda no piloto, se estabelece a sensação de que a redação do jornal é como uma família, comanda pelo divertido e pilhado editor chefe Perry White (Lane Smith) que está sempre nervoso, só conseguindo relaxar quando escuta os discos antigos de Elvis Presley. A colunista de costumes Catherine Grant de Tracy Scoggins serve de contraponto idealista de Lois, como uma mulher fogosa, estereotipada, que imita os clichês das artistas pop como Madonna, em contraponto a mulher mais recatada e sonhadora da protagonista. Fora eles, faz parte também do elenco fixo o jovem estagiário, Jimmy Olsen, feito primeiro por Michael Landes e depois por Justin Whalin. Essa mudança incomoda um bocado, já que o tom do personagem muda, e aos poucos, personagens clássicos são deixados de lado, como Grant, que só dura uma temporada, assim como o vilão que John Shea faz, como um Lex Luthor magnata e de moral dúbia. A realidade é que a primeira temporada mirava um potencial de explorar as idas e vindas do casal correndo junto aos primeiros anos de ação do herói em Metrópolis e nela, há muito sucesso, o problema é quando a série se estica.

    Há alguns momentos marcantes em suas quatro temporadas, como CK criando com sua mãe Martha (K.Callan) o seu traje, ou as ligações que ele fazia para o Kansas, onde Jonathan (Eddie Jones) e ela atendiam juntos o filho. A maioria das atuações são marcantes, tendo certamente em Hatcher a Lois Lane definitiva e e em Smith o Perry White mais marcante até as adaptações atuais. Mesmo os pais do herói tem participações bem carismáticas e divertidas, quase tão boas quanto as contra partes de Smallville: As Novas Aventuras do Superboy.

    Os anos noventa eram tempos mais simples no quesito adaptação de quadrinhos.  As cenas de voo colocam Cain em chroma key de qualidade duvidosa, que são aplacadas pelo tom bobo dos vilões. O kriptoniano até tem algumas aventuras mais elaboradas e um vilão a altura em Luthor, mas fora isso, quando não há vilões com poderes, como a Intergangue de Jack Kirby,  a presença dos vilões são genéricos. Os poucos acertos com antagonistas se situam nas tentativas de emular Metallo, o Homem dos Brinquedos ou o Homem Nuclear, o obscuro antagonista de Superman IV – Em Busca da Paz. Até há algumas participações legais como de Bruce Campbell como Bill Church, o chefe da Intergangue, mas nem essa participação dura muito.

    Após o sucesso da primeira temporada, Levine tentou utilizar a figura de Lex Luthor como uma sombra sobre os protagonistas, mas em todas essas tentativas o que se viu foram tramas cansativas, seja nas pretensas ressurreições ou no uso do clichê de parente perdido que busca vingança. O programa poderia ser mais fiel, ou ao menos lançar mão de mais vilões que pudessem ser páreos para o Azulão ou que ao menos dessem algum trabalho para ele. Os roteiros são presos demais a formula de garota em apuros nas primeiras temporadas, restando depois as dificuldades que os dois passam a ter em se casar. A insistência nisso gera enfado, como se a ideia da série tivesse trama para pouco mais de uma temporada e fosse esticada para quatro. Os plots das últimas temporadas são infantis, Clark carece de personalidade e pulso, embora não seja tão capacho quanto a versão de Christopher Reeve em Superman – O Filme. Em alguns pontos até assusta como Lois se apaixona por ele, e não dá seguimento ao romance com o vilão Lex Luthor, visto no primeiro ano.

    Uma coisa é certa sobre o roteiro, por mais que ele possa parecer bobo e infantil, sua exposição acaba sendo acertada na maior parte das vezes. Kal El descobre suas origens com o publico, mesmo seu passado alienígena. O modo como se é mostrado é bem legal, mistura elementos de Superman: As Quatro Estações e lembra até revistas  posteriores como Superman: Legado das Estrelas.

    As  grandes mudanças do seriado miram o visual dos personagens. Hatcher, que troca de penteado algumas vezes, em uma tola tentativa de mostrar visualmente que ela evoluiu. A composição da personagem é estranha, pois mesmo sendo inteligente, apaixonante e independente posa de boa moça, deixando a entender que se guardou sexualmente para o casamento. Esse tabu celibatário era uma preocupação de roteiristas em alertar sobre doenças venéreas, mas o exagero no recato não faz sentido com todo o comportamento da repórter intrépida.

    Smallville tem durante seus dez anos de exibição a pretensão de explorar os mitos kriptonianos. Aqui também se explora um pouco isso, mas de maneira tão apressada que mal é digna de nota. Nesta época, na mini saga que envolve Sarah e Ching há um plot envolvendo outros pretensos sobreviventes do planeta explodido, mas a importância dada a isso é quase nula. De marcante há só o uso de um uniforme preto pelo Superman, bem mais fiel aliás que o visto no material de divulgação da Liga da Justiça – Snydercut.

    Entre questões moralistas, como o Super pensando em abrir mão de sua identidade secreta para não ser encarado como corno (um chantagista fotografou Lois beijando o herói), ou como em outro momento em que Lois torce para que um vilão consiga tirar sua habilidade de envelhecer lentamente, a quarta e última temporada enfatiza uma face egoísta da mulher e outra completamente abnegada do homem.  Tentando deixar os personagens em pé de igualdade, Levine acaba maltratando Lois, fazendo o sub texto soar machista.

    Lois e Clark marcou época, teve um sucesso considerável no Brasil e por muito tempo foi uma grande versão do Superman no áudio visual, tanto que influenciou até os quadrinhos, apressando o casamento dos dois nos gibis. Mesmo com essa recepção positiva do publico o programa foi abreviado, terminando com um gancho envolvendo a chegada de um bebê possivelmente kriptoniano. Os motivos para esse fim abrupto não são conhecidos, por mais que a audiência tenha caído e o dia de exibição tenha mudado no último ano, ainda assim, o fim era tão inesperado que sequer os produtores puderam remendar os últimos episódios. Ainda assim, o seriado conseguiu trazer o mito do Superman para um publico diferente, causando curiosidade em um novo público, mesmo com os roteiros tão fracos como são, ainda possui atuações marcantes dos personagens humanos, além de mostrar que havia sim uma curiosidade sobre historias em quadrinhos adaptadas para a televisão.

  • Resenha | Lendas do Homem de Aço: Curt Swan – Volume 1

    Resenha | Lendas do Homem de Aço: Curt Swan – Volume 1

    Curt Swan talvez seja entre os autores de quadrinhos o mais fortemente ligado ao Superman, excluindo obviamente autores que fazem a maioria das historias de seus personagens como Mike Mignola com Hellboy. Swan foi o desenhista que basicamente fundou a imagem do herói na Era de Prata, e Lendas do Homem de Aço: Curt Swan – Volume 1 encaderna algumas historias do ano 1971, com roteiro de Dennis O’Neil e arte final de Murphy Anderson, das revistas Superman 233-38, 240-42, reunindo toda uma mini saga, em nove partes, chamada A Saga do Homem de Areia (Kriptonita Nunca Mais).

    Na primeira historia, os poderes do herói são descritos em uma silhueta escurecida do personagem. O tom do texto é bem primário, quase infantil, mas ainda guarda alguns elementos de maturidade, introduzidos por O’Neil, que difere bem seu texto de seus trabalhos mais sérios, no Batman e a fase do Lanterna Verde e Arqueiro Verde, cujos temas eram mais obscuros e adultos.

    Nesse encadernado, Clark Kent era âncora de um jornal televisivo local, enquanto o Super-Homem, por sua vez, tem uma forma de lidar com seus inimigos bem diferente do comum, bem semelhante ao clima camp dos seriados do Batman da década anterior. É incrível como O’Neill faz uma revista tão fora de tom das suas outras obras, com um maniqueísmo bem enquadrado pelo traço de Swan, que vai ficando cada vez mais à vontade como desenhista do personagem.

    As histórias têm um tom meio bobo, embora haja uma certa conspiração, com uma cópia do Super-Homem surgindo de maneira misteriosa e que se revela gradativamente. Em uma das histórias, Super lida com o Batman, e como era típico das histórias da  Era de Prata, havia algo de pueril ali, mas ainda assim há reflexões, como a inveja que o alienígena tem com o seu amigo morcego por conta da sua condição humana. O Superman chega ao cúmulo de querer dormir e não conseguir devido a sua  eterna vigilância proveniente de uma quase onipotência.

    A composição do quadros de Swan vai aos poucos melhorando e se sofisticando ao longo da saga. A medida que a trama evolui, passa a brincar com a formação dos quadros e com a fluidez das imagens. As batalhas também vão melhorando, a ação das lutas é muito boa. As histórias têm alguns momentos mais maduros, como no final em que o herói, num balão pensativo, afirma que não teve confiança para agir, graças aos fatos passados e ao encontro com um personagem que é como uma cópia mal feita sua. O problema muito sério são os erros de português nessa edição da Panini, com uma revisão pouco acurada, repleta de erros de digitação que um olhar mais atento resolveria.

    É engraçado como o nível de poderes do Super-Homem não parece tão grandioso no decorrer d’A Saga do Homem de Areia, pois na Era de Prata se dava toda sorte de poderes e novas habilidades ao personagem, ao ponto de ser quase um deus. Apesar do roteiro não ser muito desenvolvido, a arte de Swan é bem mostrada. Uma pena que até agora somente este volume foi lançado, e a colorização da época acaba por datar a edição, sendo esse possivelmente o principal fator para a que revista não tenha alcançado os números esperados pela Panini. Em tempos de largo uso de coloração digital, ver um produto cujas cores são tão saturadas realmente não é algo agradável aos olhos.

    Desde a publicação original, em 2018, não há sinalização para um volume dois, o que é uma pena, pois a participação de Swan é ótima a frente do personagem, para além do clássico de Alan Moore e O Que Aconteceu com o Homem de Aço, já que ele é um dos mais longevos artistas do personagem, com uma carreira e um legado inegáveis, impressos na trajetória do kryptoniano símbolo de uma das maiores editoras de quadrinhos do mundo.

    Compre: Lendas do Homem de Aço: Curt Swan – Volume 1

  • VortCast 77 | Diários de Quarentena VII

    VortCast 77 | Diários de Quarentena VII

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Filipe Pereira (@filipepereiral), Jackson Good (@jacksgood) e Rafael Moreira (@_rmc) retornam em mais uma edição para bater um papo sobre a DC Fandome, quadrinhos, games e muito mais.

    Duração: 105 min.
    Edição: Rafael Moreira e Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Rafael Moreira e Flávio Vieira
    Arte do Banner:
     Bruno Gaspar

    Agregadores do Podcast

    Feed Completo
    iTunes
    Spotify

    Contato

    Elogios, Críticas ou Sugestões: [email protected].
    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram

    Acessem

    Brisa de Cultura
    Cine Alerta
    PQPCast

    Conheça nossos outros Podcasts

    Agenda Cultural
    Marxismo Cultural
    Anotações na Agenda

    Podcasts Relacionados

    VortCast 71 | Diários de Quarentena I
    VortCast 72 | Diários de Quarentena II
    VortCast 73 | Diários de Quarentena III
    VortCast 74 | Diários de Quarentena IV
    VortCast 75 | Diários de Quarentena V
    VortCast 76 | Diários de Quarentena VI

    Avalie-nos na iTunes Store | Ouça-nos no Spotify.

  • Resenha | Os Maiores Super-Heróis do Mundo

    Resenha | Os Maiores Super-Heróis do Mundo

    A grandiosidade da publicação que reúne as parcerias de Paul Dini e Alex Ross não poderia ter um nome mais simbólico, afinal, Os Maiores Super-Heróis do Mundo não exagera em seu título, independente do leitor achar hiperbólico, já que os autores captam em sua essência tudo aquilo que representam as histórias do Superman, Batman, Mulher Maravilha, Shazam e Liga da Justiça contidas neste álbum.

    O compilado da Editora Panini foi lançado em formato grande e luxuoso, com páginas que emulam o tamanho das telas utilizadas pelo artista, embora ainda sejam evidentemente menores que os quadros do Ross. O álbum reúne seis histórias: Batman: Guerra ao Crime, Shazam: O Poder da Esperança, Superman: Paz Na Terra, Mulher-Maravilha: O Espírito da Verdade, e pela Liga da Justiça, Origens Secretas e Liberdade e Justiça.

    Paul Dini ficou famoso por seu trabalho com animação, primeiro nos desenhos da Warner Animation, depois mais especificamente nas adaptações de heróis, com os desenhos de Batman, Superman e Liga da Justiça, ao lado de Bruce Timm, Dwayne McDuffie e tantos outros.

    Da parte das histórias da Liga da Justiça, Origens Secretas se dedica a mostrar os momentos de Gênesis dos heróis, falando rapidamente de Batman, Flash, Aquaman e os quadros clássicos da Liga, mas com enfoque maior em personagens como Arqueiro Verde, Gavião Negro, Átomo, Homem-Borracha e Caçador de Marte. Cada um tem seu momento de brilho, com páginas dedicadas a sua rotina e a origem.

    O uso das cores é um absurdo, Ross emprega todo seu talento para mostrar não só os momentos clássicos do começo da carreira desses heróis, como dá um novo e poético significado mesmo para as mais ordinários e óbvios detalhes de sua composição. Tudo aqui é bem fluído e divertido, escapista e heroico, como os melhores quadrinhos da Era de Ouro e Prata, período este bastante caro ao artista.

    Antes de Liberdade e Justiça, são aludidos também Adam Strange, Zatanna, Homem-Elástico, Metamorfo, Tornado Vermelho e Vingador Fantasma, de maneira mais breve que os anteriormente citados. A história em si é deslumbrante, e como não poderia deixar de ser, Ross traz artes dignas de quadros para exposição. A história é longa, beira centenas de páginas, e mostra o Pentágono apelando para os heróis mais poderosos da Terra. Há momentos curiosos, que revelam boas sacadas, especialmente de Batman, que ao ver o envolvimento do governo na tal aventura, diz que talvez Oliver Queen tivesse uma luz sobre a questão graças ao seu posicionamento político – que ao ver do Morcego, às vezes acerta no julgamento –, quanto na liderança e comportamento épico do Caçador de Marte.

    A ação conjunta, onde cada um dos heróis tem uma função específica de acordo com os seus talentos,  dá uma bela importância aos heróis, fazendo eles evoluírem de simples bonecos de ação para pessoas de carne e osso, que apesar de heroicos, tem preocupações mundanas e comuns. Poucas histórias da Liga da Justiça capturam isso tão bem, especialmente no trato aos civis. As demais histórias foram analisadas individualmente quando publicadas pela Editora Abril, e podem ser lidas nos links acima.

    Na publicação, existe ainda um belo posfácio que inclui detalhes de cada uma das obras. Nesse espaço são mostrados os métodos de trabalho de Alex Ross, e o quão mágico é o processo artístico dele. Os Maiores Super-Heróis do Mundo captura bem a essência das lendas da DC Comics, com histórias diversas, em várias frentes, mas que primam pelo comportamento exemplar e retilíneo de seus personagens clássicos.

    Compre: Os Maiores Super-Heróis do Mundo.

  • O Que Esperar de “Liga da Justiça – Snydercut”?

    O Que Esperar de “Liga da Justiça – Snydercut”?

    Na época do primeiro trailer de Sonic: O Filme, nos primeiros meses 2019, os fãs reclamaram muito da aparência do personagem. Isso gerou tal comoção que a Paramount e o diretor Jeff Fowler resolveram se recolher, adiaram o filme e o reformularam com novos efeitos especiais e design, e agora, se fala até em produzir uma nova franquia de mundo compartilhado da Sega. Talvez esse episódio tenha ajudado a reavivar uma história que até então era encarada de maneira jocosa: o tal Snydercut, de Liga da Justiça, sem a entrada de Joss Whedon, e sob as rédeas exclusivas de Zack Snyder.

    Essa questão não é um evento ou um factoide recente. Após revelar o grave problema familiar que fez Snyder não dirigir as novas tomadas de Liga, e após uma recepção mista da crítica e pouco amena da parte dos fãs, o realizador de Watchmen começou a soltar nas redes sociais imagens, de artes conceituais e outras bem acabadas, de personagens em situações diferentes, de outros heróis que sequer apareceram, e outras tantas. Aos poucos, membros do elenco engrossaram o coro, em especial Ray Fisher, que fez o Cyborg, que teria uma participação bem maior pelo que se diz, e com o tempo, praticamente todos os interpretes falaram a esse respeito, apoiando o diretor, para que tivesse a chance de editar o material que já tinha em mãos.

    Alguns fatos precisam ser postos em perspectivas, sobre a atração que chegará ao catálogo da HBOMax em 2021, ainda sem uma data exata. O primeiro deles é que a Warner não lançou este anúncio por ser justa, “boazinha” ou não egoísta, o motivo principal é um só: dinheiro. Se eles realmente acreditassem no potencial e visão de Snyder, dariam liberdade a ele, ou esperariam passar o luto do realizador para que ele fizesse as alterações necessárias, e não chamariam um substituto.

    O segundo fato é que, mesmo que o diretor tivesse a sua sonhada liberdade, não necessariamente sairia um filme irretocável. Batman vs Superman: A Origem da Justiça foi massacrado pela crítica e não foi o êxito financeiro (nem Liga foi) e nem e Batman vs Superman: A Origem da Justiça – Versão Estendida também não salvou o conteúdo, tampouco resgatou a ideia heroica em torno do Superman.

    O terceiro fator que faz essa versão se tornar real é ainda comercial, pois no meio da pandemia de Covid-19 não se sabe quando o setor audiovisual poderá realizar coisas inéditas, e lançar algo com potencial financeiro atrativo, ainda mais em uma época em que o streaming é o principal modo de consumir cultura. A Netflix tem disputado com a Disneyplus e o Prime Video a preferência do público, e ter algo portentoso colocaria a marca da Warner no ramo de modo robusto. Isso aliás é mais uma prova de que a DC Universe está para ser extinta a qualquer momento, podendo ser agregada a HBOMax.

    Ainda existem muitos mistérios sobre o roteiro e a forma de lançamento – diz-se que pode ser como um filme, ou como uma minissérie – mas o pouco que se sabe é que a Warner não daria muito dinheiro nas mãos de Snyder, além disso, dificilmente ocorrerão novas filmagens, até porque  além da epidemia de coronavírus, o elenco mudou muito, e Ben Affleck dificilmente retornará como Batman, ainda que tenha demonstrado empolgação com o lançamento da versão do diretor. O que pode ser feito são redublagens de cenas, o que sempre pode dar errado, tal qual aparentemente ocorreu com o criticado Star Wars: A Ascensão Skywalker.

    A questão maior aparentemente é o que ocorrerá após o lançamento do produto. Se for bom, a Warner certamente não hesitará em assumir seu erro na substituição de Snyder por Whedon da forma conturbada como se deu, pois a possibilidade de finalmente fazer muito dinheiro com esses produtos é algo que todos almejam. Mais uma vez isso esbarra no diretor, que já provou não ser um produtor de cinema tão bom quanto ele próprio pensa, uma vez que sua versão foi ignorada pelos mesmos executivos que lhe deram a franquia da DC, e isso contaminou outros tantos filmes, entre eles, o Esquadrão Suicida de David Ayer.

    Se considerar que Snyder não mentiu a respeito de sua história, provavelmente Darkseid aparecerá nesta versão, se não em todo seu esplendor, ao menos como o mandante dos crimes do Lobo da Estepe. Os outros volumes mostrariam ele esmigalhando os heróis, e isso certamente tornaria todos os filmes posteriores confusos, podendo inclusive inviabilizar projetos futuros como The Batman, de Matt Reeves.

    Enfim, o fato de não ser conclusivo a princípio, poderia colocar esta versão em um patamar narrativo semelhante ao de Guerra Infinita na Marvel, fato que faz perguntar, se houver êxito, se a Warner dar prosseguimento ao universo compartilhado DC, ainda valerá a lógica de lançar via HBOMax, ou será no cinema? Pois uma série de orçamento semelhante ao do filme, com 300 milhões de dólares (a serem corrigidos pela inflação, ainda) é caro demais para TV, ainda mais em um mundo pós-pandemia.

    Outra questão são os precedentes. Mal foi anunciado o SnyderCut e David Ayer começou a jogar nas redes foto de Jared Leto não utilizadas no corte de Esquadrão Suicida. Se esta “aventura” der certo, poderá gerar uma demanda ainda mais fútil por refazer filmes acabados, e ela simplesmente não será concluído em outras mídias, como gibis ou animações, ao menos não com toda a pompa que se espera de uma produção hollywoodiana.

    De novidades, se espera um arco maior para o Cyborg, já que sua origem tem tudo a ver com as caixas maternas e outros elementos do Quarto Mundo, aparições breves de Átomo, Iris West, e talvez, Supergirl, já que há uma pequena menção a outro kriptoniano em O Homem de Aço. Também se espera algo a mais do Lanterna Verde, além do visto na antiga guerra das amazonas contra as forças de Apokolips, talvez até com aparição de Hal Jordan –  Kevin Smith bate nessa tecla até hoje, dizendo que ao visitar o set viu Jordan como Lanterna, embora já tenha sido desmentido por gente da produção. Além disso, a participação do Exterminador de Joe Manganiello seria diferente da cena pós-crédito, com uma referencia até a uma disputa com o Batman, possivelmente referenciando o filme solo do Morcego.

    Outra questão pequena, porém digna de nota mora na aparição cortada do General Swanwick, personagem de Harry Lennix, que seria uma versão do Caçador de Marte, embora ele tenha aparecido nos dois filmes anteriores de Snyder, sem nenhuma dica disso. Ele apareceria para Lois Lane e continuaria escondendo sua real forma, por conta da rejeição dada ao Superman. Por outro lado, alguns equívocos certamente não ocorrerão neste corte, como o bigode apagado de Henry Cavill – que estava, durante o anúncio do SC, ostentando a mesma pelugem facial que utilizava em Missão Impossível: Efeito Fallout – e possivelmente ele usará o traje preto pós-ressurreição.

    Fora isso, diz se que coadjuvantes do filme do Aquaman teriam suas primeiras aparições, e a Mulher-Maravilha encontrando pistas sobre Darkseid. A grande e persistente dúvida é, os fatos nos (supostos) dois filmes posteriores, com o segundo mostrando uma invasão terráquea a Apokolips que dá errado, e a distopia presente no pesadelo de Batman em BvS se tornando real serão aludidas? Haverá um cliffhanger barato (minha aposta…) que visa forçar a Warner liberar dinheiro para Snyder fazer isso e consequentemente reativar o universo compartilhado da DC nos cinemas (ou streaming)? Isso somente o tempo dirá, enquanto isso, o fã ardoroso por histórias mais sombrias e mal pensadas aguarda feliz pela possibilidade quase nula de vir uma obra digna de nota, redentora de toda a péssima concepção de Zack Snyder a respeito do universo de heróis da DC Comics. É aguardar a desilusão ou a surpresa.