Tag: Geoff Johns

  • Precisamos de uma nova série do Superman?

    Precisamos de uma nova série do Superman?

    Em meio as dificuldades que a Warner Bros e Walter Hamada têm em produzir um novo filme protagonizado pelo Superman, o anúncio de que a CW faria uma série focada na relação de Lois Lane e Clark Kent causou certa rejeição por parte dos fãs, especialmente porque quem acompanha os filmes da DC não costuma levar a sério The Flash, Legends of Tomorrow e demais séries do Arrowverse.

    A nova série também é produzida por Greg Berlanti, assinada também por Geoff Johns e tem como showrunner Todd Helbing, produtor de Mortal Kombat Legacy e Black Sails. O elenco é formado pelos mesmos Tyler Hoechlin e Elizabeth Tulloch que fizeram Clark e Lois na série da Supergirl. Os dois personagens têm filhos adolescentes, cada um com um pano de fundo e índole diferente: Jordan (Alex Garfin) e Jonathan (Jordan Elsass). Para esclarecer ao leitor, elencamos aqui alguns bons motivos para acompanhar essa nova história da DC. Sim, precisamos de uma nova série do Superman.

    Uniforme da animação clássica

    Logo no início do piloto, Hoechlin é mostrado salvando um carro verde semelhante ao que é visto na capa da Action Comics, a primeira revista do herói. Além disso, a eterna (e necessária) busca por refazer o clássico herói se lembra tanto a versão de Jerry Siegel e Joe Shuster, como a dos desenhos dos irmãos Fleischer que passava nos cinemas em 1941 e que ainda surpreende os espectadores pela qualidade visual e pela fluidez dos movimentos. A série era feita com rotoscopia, criada pelos irmãos alemães judeus que produziram anteriormente as primeiras animações de Betty Boop e Popeye.

    Visual do Superman dos anos quarenta. Imagem: Paramount Pictures

    Por mais que possa parecer boba, a referencia ultrapassa o aspecto visual e ressalta a ideia clássica do personagem, em contraposição a versão de Zack Snyder em que é um assassino a sangue frio em determinado momento.

    Identidade Secreta

    Recentemente fizemos um podcast, Vortcast: Identidade Secreta, que além de homenagear nosso grande camarada Felipe Morcelli, serviu também para discutir a ótima historia Identidade Secreta de Kurt Busiek e Stuart Immonem. Especialmente nas duas últimas edições, o personagem principal, mais velho e com família, teme o futuro de suas filhas, refletindo se elas teriam os mesmos poderes e problemas que teve quando o mundo o recebeu como herói.

    No caso de Superman e Lois, eles suspeitam que um dos filhos possa ter herdado os poderes kriptonianos. Enquanto o herói tem receio de falar sobre isso, sua esposa quer dialogar sobre a questão primordial, o segredo que o mundo gostaria de saber. Isso é tratado de maneira incrivelmente emocional, aprofundada por questões envolvendo pessoas queridas a Clark;

    A depressão em cena

    Esse talvez seja o maior diferencial do roteiro até aqui. O modo como o programa lida com a questão do transtorno de ansiedade social é bastante sério, ainda mais em comparação com outras adaptações de comics. Até os episódios exibidos pelo menos, a pessoa que sofre disso não é mostrada como uma coitada. Lidar com novas descobertas e uma condição clínica complicada certamente não é comum em obras da cultura pop, ainda mais dentro de versões de heróis em quadrinhos. Sempre quando foi abordado houve controvérsia, como com Thor em Vingadores: Ultimato ou com a Feiticeira Escarlate em Wandavision. Ainda assim, a abordagem em Superman e Lois é bem diferenciada pelo cuidado.

     

    Retorno ao herói clássico

    a dimensão do Super como um sujeito bom em essência pode parecer datada, mas está longe de ser assim de fato. Uma das primeiras ações do Super no primeiro episódio, quando precisa resolver um problema com uma caldeira, é grandiosa. Utiliza bem o cuidado em não atingir civis com uma boa estratégia heróica.

    Super levantando um bloco de gelo para resolver o problema da caldeira
    Imagem: CW

    Ainda assim é simples, fácil de compreender e até de associar ao personagem. Remonta aos melhores momentos dos quadrinhos e até de outras obras como Superman – O Filme e Superman – O Retorno, e não se parece em nada com a cena da destruição em massa em Metrópolis vista em Homem de Aço, ou outros momentos em que o Superman age mais como um agente do caos.

    Humor bem encaixado

    Programas sobre heróis normalmente tem como base a aventura e ação, mas não é incomum que tenham uma carga humorística considerável, seja nos filmes da Marvel, repletos de piadas em absolutamente qualquer produção, ou nos programas da CW, em um tom mais infantil. Claramente essa não é uma série para crianças mesmo com certos momentos que agradariam os mais jovens. O humor do personagem funciona como um alívio cômico necessário.

    Evolução de Smallville

    Por mais que boa parte dos fãs do Superman não gostem, Smallville foi um marco para o personagem e para o segmento de super heróis no audiovisual. O programa de Alfred Gough e Miles Millar manteve o Homem do Amanhã em horário nobre na tv,por dez longos anos e em alguns momentos a série acertou no tom, especialmente nas referencias do universo DC que brotavam nos roteiros de Geoff Johns. No entanto, o tom familiar era algo muito forte no programa dos anos 2000, especialmente na questão da paternidade. John Schneider e Annette O’Toole tinham uma relação muito próxima e intensa com o Clark de Tom Welling, e isso  também é bem desenvolvido aqui. Além disso, o fato de Pequenópolis ser o cenário principal da nova produção faz lembrar muito o seriado anterior, especialmente na fazenda dos Kent.

    É curioso como a maioria das pessoas imaginavam que a maior referência do novo materia seria Lois e Clark, mas claramente evitaram uma comparação direta. Em narrativa, lembra a premissa de Raio Negro com um fino equilíbrio entre ser um vigilante herói e um pai de família.

    Superman e Lois já foi renovada para uma segunda temporada, terá 16 episódios nesse primeiro ano e deverá seguir as historias de Clark, Jordan, Jonathan e Lois, variando entre a aventura comum aos gibis e histórias em quadrinhos com o clima familiar conturbado. Após explorarem outros personagens de sucesso, ter o azulão de volta como série é um retorno merecido.

  • Resenha | O Relógio do Juízo Final

    Resenha | O Relógio do Juízo Final

    Para além de todas as brigas do autor Alan Moore com a DC e Marvel, e a óbvia rejeição que ele passou a ter pelos quadrinhos mainstream de super heróis e pela industria, O Relógio do Juízo é uma saga em doze capítulos, cuja intenção é confrontar o universo de Watchmen com a linha comum da DC. A história escrita por Geoff Johns e desenhada pelo seu parceiro de longa data Gary Frank começa dentro da linha dos quadrinhos de Moore e Dave Gibbons em 1992, após o apoteótico final onde o mundo se reuniu para enfrentar o mal arquitetado pelo homem mais inteligente do mundo, Ozymandias, e o mostra já em derrocada, tentando viver apesar da culpa por conta de milhares de mortes.

    Watchmen é uma revista com muitas camadas. O mesmo não se pode dizer dessa tentativa de continuação, embora a leitura resulte em uma homenagem digna não só à obra original, mas também ao legado do Superman e aos heróis clássicos. A trama inicial reúne alguns personagens clássicos e novos dentro desse mesmo universo e estética, além de outros que fazem parte do legado de alguns vigilantes e personagens que já se foram. O Dr.Manhattan aparentemente foi para outra dimensão, e Ozymandias, o novo Rorschach, Mímico e Marionete (esses dois, personagens novos) vão atrás dele para tentar consertar o seu mundo.

    Para entender esta historia é bom acompanhar duas outras publicações antigas, primeiro, a saga do Renascimento DC, depois Batman e Flash: o Bóton, mas não há elementos nessas interseções que tornem a apreciação desta. O que se vê logo nas primeiras páginas é uma linguagem gráfica e verbal bem violenta, com uso de palavreado torpe, mutilações e muito sangue, mas nada que seja exagerado, Johns tem cuidado para que nada soe gratuito, e para que a história vá tomando gravidade de maneira gradual, com um desenrolar de fatos que condiz com isso.

    O roteiro acerta demais ao associar personagens dos dois universos que de certa forma, são contrapartes um do outro, para além da óbvia comparação entre os personagens que Moore criou e os da Charlton Comics, (estes aliás, tem uma breve aparição como curiosidade). A união entre Adrian Veidt e Lex Luthor faz sentido, sobretudo nas traições que um comete contra o outro, além é claro da inteiração entre o Homem Morcego e uma das novas versões do personagem, no caso, o Rorschach. A edição que conta a origem do novo vigilante beira o sensacional, expande bem um dos elementos propostos na história clássica e dá novos significados. Outros personagens secundários também têm boas aparições, com participações tão boas que a melhor apreciação ao leitor seria a de não saber sobre a presença deles até a hora de ler a edição correspondente.

    Da parte do “universo DC”, a Guerra Fria retorna agora envolvendo Estados Unidos e a Rússia de Vladimir Putin. Além disso, há uma trama de teoria da conspiração, que atribui a quantidade enorme de meta-humanos em solo americano a um possível experimento do governo, e no meio dessa paranoia, os personagens da Liga da Justiça se vêem com a credibilidade abalada, sobretudo o personagem mega poderoso chamado Nuclear. O sujeito que está acima desse sistema é o herói mais poderoso da Terra, o último filho de Krypton. O texto repete a pecha de que o homem mais poderoso vivo é o fiel da balança de um mundo em ebulição, e de fato o paralelo entre Manhatan e Superman faz muito sentido.

    Gary Frank utiliza um traço semelhante ao de Gibbons ao referenciar momentos clássicos da HQ original, isso acrescenta um grande charme a Relógio. Além disso, os novos “substitutos” ao Cargueiro Negro tem um elemento de metalinguagem muito bem pensado e encaixado, e esse ciclo de repetições aumenta a ideia de que o universo tende a se limitar a ciclos redundantes, mesmo o Metaverso  que é apresentado nesta história.

    A ideia do herói desumanizado, que por conta  da onipotência se torna insensível e imprevisível também foi abordada na versão da HBO e de Damon Lindelof para Watchmen, embora as duas produções não tivessem qualquer envolvimento de idealizadores, tudo por pura coincidência.

    De certa forma, a proposta de que Relógio do Juízo Final uniria dois universos distintos não é sincera, afinal, o argumento de Johns mira um belíssimo crossover, como se os antigos Marvel x DC tivessem peso político pragmático em suas histórias. Essa é  sobretudo uma aventura solo de Jon Osterman, quase como um O Que Aconteceria Se o Dr. Manhattan encontrasse o Superman. A historia de Johns e Frank se prova mais uma vez uma bela homenagem aos quadrinhos clássicos da DC e aos seus maiores ícones, amarrando bem ao menos o ideal do Super Homem com a capacidade de poder e grandiosidade quase infinitas de Manhattan, além de não tentar ressignificar narrativamente a historia de Alan Moore, embora  acrescente alguns elementos de discussão pertinentes aos personagens secundários de Watchmen, soando enfim como uma boa alternativa ao futuro dos tão adorados entes da graphic novel de 1986.

     

  • VortCast 87 | Mulher-Maravilha 1984

    VortCast 87 | Mulher-Maravilha 1984

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Dan Cruz (@DancruzDm), Thiago Augusto Corrêa, Filipe Pereira (@filipepereiral) e Rafael Moreira (@_rmc) se reúnem para comentar suas impressões sobre o mais recente filme da DC/Warner: Mulher-Maravilha 1984.

    Duração: 92 min.
    Edição: Rafael Moreira e Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Rafael Moreira e Flávio Vieira
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  • Crítica | Mulher-Maravilha 1984

    Crítica | Mulher-Maravilha 1984

    Mulher-Maravilha 1984 se tornou uma das esperanças da Warner Bros. e DC Comics para retomar o sucesso do universo cinematográfico dos super-heróis da casa, após a recepção morna da Liga da Justiça. Além disso, era também aguardado que, após o fechamento forçado dos cinemas devido a pandemia, o filme, cuja estreia foi programada para dezembro, traria um retorno aceitável de bilheteria, mesmo que sua exibição fosse simultânea com o streaming da HBO Max.

    Novamente conduzido por Patty Jenkins, o início do filme marca um retorno a ilha das amazonas, Themyscera, resgatando boa parte do que deu certo em Mulher-Maravilha em 2017, com o caráter épico do filme solo da heroína. Essa sequencia em particular dura onze minutos, e logo a linha do tempo vai para o presente, os super coloridos anos oitenta do século XX. O segundo filme protagonizado por Gal Gadot faz lembrar seu par da editora concorrente, Capitã Marvel, que brincava com clichês de 1990, mas com diferenças cabais entre as narrativas e a necessidade de se apelar para outra época.

    O elenco é estrelado com destaque especial para Pedro Pascal fazendo o canastrão Maxwell Lord. Nos quadrinhos, surgiu como um ganancioso empresário da Liga da Justiça da fase J.M. Demattheis e Keith Giffen, mas que sempre que vai para outras mídia é retratado como um vilão puro e simples. Os problemas do filme começam justamente na hora de desenvolver as relações entre personagens. O exemplo disso é visto entre a doutora e especialista em geologia Barbara Minerva (Kristen Wiig) e a princesa amazona, uma relação cujo roteiro guarda semelhanças com Batman Eternamente, entre Edward Nygma e Bruce Wayne, mas sem ser tão caricatural. Fora isso, as intimidades dos personagens não parecem realistas, e sim um pastiche do que seriam os relacionamento entre pessoas reais. Ao menos a dinâmica e química entre Gadot e Chris Pine segue bem e firme, as piadas que funcionam são exatamente as que invertem os papeis da pessoa em um mundo novo, que antes contemplava Diana e agora, acometem Steve Trevor.

    Porém, o retorno do par romântico da heroína, ajuda a deflagrar um dos defeitos do filme: a conveniência do roteiro de Geoff Johns, David Callaham e Jenkins. O que incomoda é o apelo a suspensão de descrença. Em alguns pontos é bem comum os exageros nas historias em quadrinhos, mas aqui há também excessos e muita convenviências narrativa. Em especial ao artifício do objeto mágico de desejo, que muda suas regras a todo momento. Além disso, os personagens são quase todos muito genéricos, e as cenas de ação são artificiais e muito mal pensadas. As que ocorrem no deserto variam entre momentos com uma iluminação nada realista, unido a resgate de crianças que são feitas por bonecos tão fajutos quanto os vistos em Sniper Americano.

    Outra questão complicada é a participação da Mulher Leopardo. Sua versão é bem diferente dos gibis, e isso não necessariamente é um fator negativo. O problema mesmo é ela ser cercada de clichês, igual a tantos outros opositores de filmes de herói,  movido por algo maligno e ancestral, representando o esteriótipo de uma pessoa boa mas que é corrompida.

    Já o drama de Lord, no final, por mais bizarro que seja, ainda guarda boas surpresas, ao refletir sobre o apego ao poder absoluto, mostra como um homem comum pode se corromper. Os momentos finais guardam momentos grotescos e soluções que não fazem sentido, envolvendo os dois opositores, cujos fins são vergonhosos, assim como a utilização da tão esperada armadura da heroína em O Reino do Amanhã aqui sub aproveitada.

    Apesar de Deborah e Zack Snyder assinarem como produtores executivos, claramente se ignora completamente as falas sobre Diana estar escondida desde a Primeira Guerra Mundial, como é aludido em Batman VS Superman e Liga da Justiça (a saber se no vindouro Snydercut da Liga, haverá alguma explicação a respeito). Na verdade, James Wan já havia ignorado fatos sobre o rei atlante em seu Aquaman, mas aqui não há qualquer pudor da heroína em se expor, mesmo que fiquem dúvidas na imprensa sobre suas intenções e origens.

    Os aspectos visuais também são estranhos. Sai a fotografia super escura para uma clara e esquisita, em um trabalho assinado por Mathew Jansen, bem diferente do que havia feito em Poder Sem Limites, Game Of Thornes e The Mandalorian e até mesmo no primeiro filme. Ao menos a música de Hans Zimmer não interfere tanto na trama como em outros de seus trabalhos.

    Jenkins apresenta um filme desequilibrado, que faz lembrar os momentos mais atrozes de Mulher Gato, A Ascensão Skywalker ou A Torre Negra. Os poucos momentos que são inspirados ficam isolados, como ilhas no meio do oceano, soterradas por uma tempestade marinha capaz devastar tudo, incluindo as boas qualidades. Nem o sacrifício de heroísmo de Diana faz sentido, e a mensagem presente no diálogo entre ela e Lord é tão barata e piegas que faz temer pelos próximos trabalhos dos envolvidos. Naturalmente, já há uma parte três confirmada pelo estúdio.

  • VortCast 79 | Diários de Quarentena IX

    VortCast 79 | Diários de Quarentena IX

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Filipe Pereira (@filipepereiral), Jackson Good (@jacksgood) e Rafael Moreira (@_rmc) retornam em mais uma edição para bater um papo sobre redes sociais, quadrinhos, séries e muito mais.

    Duração: 103 min.
    Edição: Rafael Moreira e Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Rafael Moreira e Flávio Vieira
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  • Review | Patrulha do Destino – 1ª Temporada

    Review | Patrulha do Destino – 1ª Temporada

    A primeira temporada de Patrulha do Destino prometia traduzir em tela todo o nonsense dos quadrinhos da equipe, sobretudo da fase de Grant Morrison à frente dos roteiros. A série capitaneada por Jeremy Carver e produzida Greg Berlanti, Geoff Johns e outros, tem 15 episódios nesse primeiro ano, e mostra um grupo de desajustados com poderes.

    O episódio piloto estabelece a mitologia, introduz o personagem de Timothy Dalton, chamado apenas de “O Chefe” e todos os seres estranhos que o cercam. Após essa gênese, o que se vê é uma batalha cósmica, que abusa de efeitos especiais, muito bem trabalhados. O turbilhão que se contrapõe aos quatros meta humanos – Crazy Jane (Diane Guerrero), Mulher Elástica (April Bowlby), Homem-Robô (dublado por Brendan Fraser e manipulado por Riley Shanahan) e  Homem-Negativo (Matthew Zuk) – é seguido de reações diversas, variando entre a histeria pela surpresa do possível fim da vida e tentativas vazias de controlar o ímpeto, afinal, o que se vê é algo grande demais para ser ignorado.

    Boa parte do acerto do seriado é que seus personagens mesmo sendo sobre-humanos, são imperfeitos, são repletos de complexos e se autossabotam o tempo inteiro. Cada um deles têm algum momento em que se torna o herói de sua própria jornada, com tempo e desenvolvimento que certamente fazem inveja a Chris Terrio, David S. Goyer e demais roteiristas da DC nos cinemas. Mesmo quando tem partes narradas, há um bom motivo para acontecer, normalmente movido pela metalinguagem de ser feita por Alan Tudyk, que interpreta o Sr. Ninguém.

    Uma das dúvidas em relação a composição do grupo era a presença do Cyborg (Joivan Wade) que jamais fez parte do grupo, e que não esteve no seriado dos Titans. Sua origem é a mais graficamente pesada da série, não há medo ou receio de parecer adulta e é muito mais bem resolvida que outras adaptações envolvendo o personagem.

    A primeira temporada tem como temática principal as obsessões. Victor tenta não ser manipulado, seja por vilões ou pelos laboratórios Star, Jane busca desesperadamente um equilíbrio, Cliff tem que lidar com a substituição parental que sua filha fez da figura paterna e Rita tenta se reinventar mesmo tendo perdido o aspecto físico que a tornava especial décadas atrás. Eles são na verdade um grupo de freaks, que precisam conviver, como forma de terapia.

    Não há um episódio que o espectador não se assuste com algum um aspecto dramático ou visual, sempre há surpresas tresloucadas, tão irreais que soam charmosas. O estranhamento que a série causa se assemelha ao visto em Legion, ainda que a abordagem se dê por um viés diferente, com camadas mais profundas.

    O elenco tem um desempenho primoroso, Tudyk e Dalton desempenham magistralmente as figuras arquétipo do vilão e mentor, enquanto Fraser, Guerrero e Bowlby estão afiadíssimos. O fato do trio não ter pudor em se apresentar como figuras jocosas só acrescenta à trama. A intérprete da Mulher Elástica surpreende, pois foge da simples figura de mulher linda que foi coadjuvante em Two And a Half Men para se tornar frustrada, complexa, e ainda assim, apaixonante. Sua Rita Farr é incrível, mesmo sendo digna de pena, seu drama é de fácil compreensão, bem como sua vocação para ser uma espécie de mentora do grupo de desajustados, na ausência de Dalton.

    Mesmo as coisas implausíveis fazem sentido. Todas as razões mesquinhas são lógicas, e mostram que os heróis podem ter ações canalhas e anti-éticas, para além da construção do anti-herói clássico, ou dos comentários ácidos de materiais que visam parodiar mais incisivamente o conceito dos quadrinhos da Marvel e DC, como Garth Ennis fez em The Boys. O resultado final de Patrulha do Destino em seu primeiro ano é algo seminal, não subestima os seus espectadores e mostra uma história onde praticamente todos os personagens odeiam a si mesmo e ainda assim tem de conviver com essa situação.

     

  • Review | Stargirl (Episódio Piloto)

    Review | Stargirl (Episódio Piloto)

    Com produção executiva do autor de quadrinhos Geoff Johns, Stargirl é uma serie que tenta ser um hibrido entre o que fizeram no streaming Dc Universe e no Canal CW, -inclusive passando nos dois, em streaming e em tv – reunindo características típicas de ambas adaptações, tendo mais semelhanças com Doom Patrol e Monstro do Pantano do que com o que se vê no Arrowverse.

    No Brasil, a personagem era chamada também Sideral, herdando o nome de um heroi antigo – o Starman primário – esta versão, cujo alter ego é Courtney Whitmore foi introduzida por Johns em 1999, em homenagem a sua irmã, recém falecida, e por isso, há muito carinho do autor / produtor pela jovem heroína. A interprete dela na série é Brec Bassinger, que faz a moça já mais velha, uma vez que a sua primeira aparição ela ainda é uma criança.

    Os letreiros explicativos  posicionam o epílogo em uma aventura perigosa uma década atrás, nele se percebe referencias as revistas Era de Ouro, de James Robinson (roteirista que deu as primeiras oportunidades a Geoff Johns) e Paul Smith, e os seis primeiro minutos, que não dão qualquer mostra da protagonista e personagem-título, ambientam o espectador em uma outra época, tão escapista e fantasiosa quanto as aventuras dos Minutemen em Watchmen.

    Caso fosse lançado esse epílogo, de maneira solitária, certamente faria sucesso como um belíssimo curta da DC Comics. O escapismo clássico dos heróis retrata maravilhosamente os heróis da DC do passado, com um visual estonteante e um clima fantástico único. O espectador dificilmente não será pego aqui, deixando inclusive a incógnita do nível de investimento financeiro nesse piloto, pois até as cenas em CGI são bem feitas, diferente do que é comum em produções de TV, especialmente se comparar com Flash e Arrow.

    Esse período ainda permite um bom dueto, entre Joel McHale (o Starman) e Luke Wilson, que faz Pat Dugan, seu parceiro e ajudante, incluindo ai uma breve discussão sobre o legado dos heróis, repleta de ironias típicas do humor de McHale. Esses seis minutos estonteantes, dariam o tom a ser seguido dali para frente, ao menos, é o que se espera.

    Courtney é introduzida como uma menina que cresce sem a presença do pai, ela vai se mudar, porque sua mãe se casará com Pat,  ele alias é o arquétipo do bom moço encarnado, ele tenta quebrar o gelo com sua enteada, está quase sempre clamando por carência, tentando ser um mentor ou um pai postiço, ainda de certa forma emulando a sua própria tentativa de se igualar ao Starman, sempre tentando alcançar seu status de fonte de inspiração para o heroísmo.

    A trama envolvendo Courtney não consegue liberar tanta noção do que virá nos próximos episódios, o que se espera é que tenha alguma trama adolescente no colégio, dela lidando com o heroísmo e com a vida comum, o que não é necessariamente algo ruim. A problemática na verdade mora nos detalhes, pois parte dos rapazes que a importunam, são da linhagem do vilão Onda Mental.

    O que se viu até este capítulo é um potencial tremendo, seja na evolução da relação da protagonista com seu padrasto, ou o destino inevitável dela como pretensa heroína. Bassinger é carismática, e seu elenco de apoio também, não só Wilson, mas também Amy Smart, que faz Barbara, a sua mãe, claro que se espera que esses personagens tenham mais espaço ao longo, além é claro de mais aparições de personagens clássicos dos quadrinhos, como o Faixa e a velha guarda de heróis. Stargirl começa muito bem, bastante colorido, divertido, com doses de humor bem medidas, longe do exagero típico da Marvel e com uma identidade bem própria, além de um cuidado estético grandioso demais em comparação com seriados de tv.

  • Resenha | Superman 80 Anos: Action Comics Especial

    Resenha | Superman 80 Anos: Action Comics Especial

    Em junho de 2018 a revista norte-americana Action Comics atingiu a incrível marca de mil edições além de completar 80 anos em que o Superman surgiu em suas páginas, já no primeiro número. a DC Comics então a publicou como uma edição especial comemorativa, com mais páginas e histórias que o habitual, com muitas capas variantes feitas por diversos artistas que trabalharam com o personagem ao longo dos anos. Pouco tempo depois, em dezembro do mesmo ano, a Panini lança no Brasil Superman 80 Anos: Action Comics Especial, que seria a versão nacional de Action Comics #1000.

    Em 132 páginas e capa cartão com reserva em verniz, a edição embora histórica não apresenta nada muito importante ou novo. Logo de cara, vemos a republicação da primeira história história do herói, vista em 1938 na lendária Action Comics #1, que é um tanto confusa por começar da metade da história (apenas um ano depois, em Superman #1,  a história seria reeditada de forma correta). A seguir começam as histórias inéditas do volume, sendo a primeira delas escrita e desenhada por Dan Jurgens – veterano do meio que vem trabalhando com o Azulão desde os anos 1990 – e mostra um evento em Metrópolis em homenagem ao Superman. É estranho ver a reação de Clark, que mesmo após tantos anos não se sente confortável nessa situação. Era de se supor que ele já estivesse acostumado e entendesse principalmente o quanto esse reconhecimento é importante para as pessoas de Metrópolis. Jurgens mantém seu belo traço, embora em alguns momentos pareça bastante apressado e cometa alguns deslizes, típico das vezes em que o autor acumula as funções de desenhista e roteirista.

    A terceira história é interessante por se valer de diversos pin-ups de página inteira, retratando diferentes épocas e visões do Superman, para costurar uma história em que Kal-El enfrenta o vilão Vandal Savage através do Hipertempo. Peter J. Tomasi engana bem no fim das contas, e a miscelânea acaba parecendo uma história bem construída, mesmo quando as imagens não conversam entre si e dependem exclusivamente do texto para fazer algum sentido dentro da trama. Mesmo assim, os desenhos de Patrick Gleason são muito bonitos e conseguem emular de forma satisfatória os diferentes períodos que retratou.

    Em seguida temos mais algumas histórias curtas, sendo que uma delas utiliza-se da arte de Curt Swan para uma remontagem inédita. Na história de Loise Simonson e Jerry Ordway temos o exato clima dos anos 1980, na fase logo após a saída de John Byrne do título do personagem. Temos também uma história sobre o carro verde que ilustra a icônica página da primeira edição e algumas histórias mais intimistas, que explora a psiquê do personagem e uma divertida aparição de Sr. Mxyzptlk de Paul Dini e José Luis García-López.

    A parte mais esperada da edição é a estreia de Brian Michael Bendis no roteiro da última história, que pareceu bastante jogada na edição. Começa já no meio e termina antes do fim, mas deixa ao leitor um aperitivo do que há por vir na nova minissérie O Homem de Aço – que seria publicada nas revistas mensais do personagem por aqui.

    Fechando a edição, uma galeria com todas as capas variantes lançadas nos Estados Unidos. Infelizmente, falta material adicional e a revista não parece estar ao alcance da importância da sua marca histórica. A redação brasileira da Panini se limitou a colocar um selo de 80 anos na capa. A edição vale mais pelos pin-ups e fac-símiles das capas do que pelas histórias em si, mas ainda é uma edição histórica que fãs e colecionadores não podem deixar de fora.

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  • Resenha | Shazam!: Com Uma Palavra Mágica

    Resenha | Shazam!: Com Uma Palavra Mágica

    A fase da DC chamada Os Novos 52 representou um movimento de extrema mudança no universo dos heróis clássicos, chamado por  uns de reboot e por outros de uma “pequena reformulação, acabou por gerar muita discussão e claro, alguns recuos  por parte da editora. Nesse cenário, algumas origens de personagens foram alteradas e recontadas, entre elas a do antigo Capitão Marvel e atual Shazam. Lançada depois em encadernado, Shazam! Com Uma Palavra Mágica foi originalmente publicada como backups da revista da Liga da Justiça, pela dupla Geoff Johns e Gary Frank, a mesma que já havia feito bons trabalhos em Superman, Batman Terra Um e coisas mais recentes como Dooms Day Clock.

    A historia se diferencia das outras origens (analisadas por nós em Shazam: Desvendando as Origens do Capitão Marvel Original) na composição de quem é Billy Batson, o menino que é o alter ego do homem poderoso e que recebe as dádivas do Mago Shazam. Billy é um adolescente problema, fato que antes era pouco explorado e obviamente faz muto sentido, pois ele é um rapaz na puberdade, sem pais, desamparado e que convive em um orfanato em que só lhe causam enfado.

    Até por serem estas historias backup, as primeiras aparições do personagem e da mitologia que cerca Shazam são bem curtas, reciclando conceitos de um jeito que Johns é especialista, começando de maneira despretensiosa a procura do Mago por um hospedeiro de seus poderes, tendo esse processo apressado após mostrar um dos vilões, o doutor Silvana procurando  itens mágicos, que leu ao se aprofundar na lenda do Adão Negro. A obsessão do sujeito o faz reprisar outras figuras vilanescas também, parecido demais com o Lex Luthor de Superman- Origens Secretas, e isso faz a revista cair um pouco de qualidade, pois parece um prato requentado.

    Billy é um orfão disperso, que não consegue ser adotado por ser um pré adolescente, mas  ele consegue fingir não ser um rapaz genioso. Ao encontrar os Vasquez, sua futura nova família, ele diz gostar de ler e fazer podcasts, e se surpreende ao receber uma resposta afirmativa. Na verdade isso era um teatro, ele não queria ser adotado por achar o casal idiota, mas sua vontade de se distanciar do orfanato era maior. Ao ir para a sua nova casa, é estabelecida uma rivalidade com Freddy, que vem a ser a contra parte antiga do Capitão Marvel Jr., e fora o rapaz loiro, todas as outras crianças são bem receptivas a ele, desde Mary (que carrega o nome de sua antiga irmã gêmea) até Pedro, Billy e Darla.

    Os elementos clássicos da mitologia de Marvel estão lá, como o tigre Tawny. A historia demora um pouco a engrenar, muito por conta desse clima de teaser, mas isso tem seu lado positivo, pois a problemática de Billy ser um párea é bem sentida, assim como os laços sentimentais que ele vai fazendo com Freddy e seus novos irmãos. A questão envolvendo os filhos do homem mais rico da Filadelfia o senhor Bryer também fazem sentido, afinal, é um drama pequeno para um adulto, mas grande o suficiente para um adolescente.

    Quando Silvana finalmente retorna, ele acha a tumba do Adão Negro, e magicamente fala a língua dele, dominado por uma força maligna maior e isso apressa o senso de urgência do Mago, que ao ver seu antigo pupilo ressurgir, se apressa em fazer de Billy o detentor de seu poder. Isso é uma boa explicação para a escolha do rapaz, pois o tempo se esgotando faz primar por uma solução veloz mesmo.

    O Mago Shazam é o ultimo dos vivos que foram do conselho de Magos antigos e embora não se aprofunde muito nessa questão, esse pano de fundo dá ao mentor um ar de importância. Billy recebe o poder do Relâmpago Vivo mesmo não sendo uma criança fofa e puramente boa, basicamente para ser o sujeito que derrotaria o Adão Negro, e a partir daí começa uma corrida contra o tempo para o rapaz se tornar um sujeito exímio no que faz. Esta não é uma historia extraordinária como O Poder de Shazam de Jerry Ordway ou Shazam e a Sociedade Monstruosa do Mal do Jeff Smith, mas é bem legal em boa parte da exploração do mito que a Fawcett publicava nas revistas antigas.

    No entanto, em algo a  publicação acerta demais, que é na composição das crianças. Billy e Freddy se contentam com pouco, salvam pessoas, recebem vinte dólares e ficam felizes demais, e essa atmosfera juvenil é muito bem vinda dada as características do personagem. Até o fato delas desejarem cerveja, desistindo na hora  da compra por não saber qual comprar faz muito sentido. Já a obsessão do Adão Negro em aumentar seu poder roubando o do Mago é  explicada como um paralelo entre Caim e Abel, o mito bíblico em que o irmão primogênito canibaliza o caçula, e obviamente é repaginado a um novo estilo aqui, mais moderno e parecido com o ideal da DC Comics do século XXI.

    Da parte dos outros antagonistas, mesmo com Silvana sendo um pouco descartável, a reunião dos Sete Pecados encarnados é bem legal, e conversa com  Superman/Shazam: O Primeiro Trovão, de Judd Winnick, e a solução final de Shazam com relação ao poder do relâmpago enganando seu inimigo é uma boa sacada, e mesmo que beire o artificial, a ideia em si é bem executada, em especial porque as crianças se doam de fato umas para as outras. Apesar de o final ser parecido demais com os de outras origens, Shazam: Com Uma Palavra Mágica é uma boa reimaginação do personagem, contando com um roteiro de Johns muito correto, divertido e juvenil.

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  • Shazam | Desvendando as Origens do Capitão Marvel Original

    Shazam | Desvendando as Origens do Capitão Marvel Original

    Quando Billy Batson encontrou o mago Shazam, após perseguir um homem misterioso no metrô, encontrando-se  rumo à Pedra de Eternidade, nem a Editora Fawcett e nem seus criadores C.C. Beck e Bill Parker imaginavam o rebuliço que Capitão Marvel faria na cultura pop e no consumo de revistas em quadrinhos. Shazam se tornava um fenômeno, marcando tanto o nome da revista do herói e seu mentor, como recentemente se tornou o nome do personagem, reunindo um conjunto de poderes singulares: Salomão, a força de Hércules, o vigor de Atlas, o poder de Zeus, a coragem de Aquiles e a velocidade de Mercúrio.

    Mais do que o apego a mitos e a magia, havia uma ligação diferente do personagem com o público por Billy Batson, sua contraparte, ser uma criança. Um feito realizado muito antes do adventos dos sidekicks como Robin ou dos personagens humanizados na Marvel de Stan Lee. Lançado em 1940 (na verdade em 1939, dado o atraso comum a essas publicações, ou seja, o herói completa 80 anos) o personagem símbolo da Fawcett teve sua vida útil abreviada em 1953, após uma série de brigas jurídicas com a Nacional Comics (antiga alcunha da DC Comics) que usava sua força e dinheiro para mover um processo por plágio, acusando o estúdio de realizar uma cópia do Superman. Todo o imbróglio aconteceu pelo sucesso do herói, pois, Marvel era mais popular, ganhando até mesmo uma produção em live action antes do Azulão, enquanto as vendas continuavam em alta.

    Em 1942, nascia o conceito da Família Marvel, que na época só com Mary Marvel, irmã gêmea de Billy, e o Capitão Marvel Jr., que invocava o nome Capitão Marvel e ganhava poderes. Este último era tão popular que inspirou boa parte do visual do rei do rock, Elvis Presley. Mary foi uma das primeiras personagens femininas heroicas, antes de Supergirl, e só um ano mais velha que a Mulher Maravilha. Além dessa composição, a família teve outras encarnações, como os Tenentes Marvel, e a participação do bonachão tio Dudley, da California, que  fingia ter poderes e usava um roupa igual a do Capitão.

    Sobre o personagem no Brasil, pelos anos de 1950, a revista Shazam, composta por uma antologia de historias antigas, tinha em seu mix Capitão Marvel e, pasmem, Namor. Depois, a edição se fundiu com a Revista Biriba e. a partir de entãoa, lançada com o nome (terrível, por sinal) de Biriba Shazam, reunindo historias da Jane das Selvas e outros personagens. Estranhamente não havia histórias do Capitão Marvel, essas estavam na Marvel Magazine, também publicada pela RGE (antigo nome da Editora Globo de Roberto Marinho). Na época, o nome do empresário era tão forte que sustentava as duas publicações em banca.

    Por ironia do destino foi a DC que relançou, em 1972, historias licenciadas do personagem, ainda sem propriedade intelectual. O personagem havia parado no tempo, tal qual Capitão America de Jack Apenas em 1991 a empresa teve os direitos do personagem, fato que explica a ausência de uma revista própria, ainda que os motivos para a baixa de sua popularidade sejam discutíveis até hoje. Como é natural nos quadrinhos, diversas histórias foram lançadas como base para uma nova cronologia. Analisamos algumas dessas histórias de origem do personagem e suas reformulações.

    The New Beginning, de Roy Thomas

    Minissérie de origem do Capitão Marvel, escrita por Roy Thomas e desenhada por Tom Mandrake, Shazam! The New Beginning jamais foi publicada no Brasil. Trata-se da primeira reformulação do personagem pós Crise. Os principais destaques da publicação são a presença de Doutor Silvana (ou Sivana, no original) tanto como vilão, como tio de Billy, fazendo com que o garoto procure uma família. Esse conceito é bem mal explorado, hiper dramático, mas ao menos alude aos hieróglifos como vínculo mágico e mitológico da origem do Capitão.

    Billy se transforma na frente de Silvana em uma referência a Era de Ouro, em que o vilão descobre sua identidade. Fora isso, é difícil falar desta origem por conta da dificuldade de acha-la (somente em edições gringas, tanto soltas como na edição de 30 anos), além de ter uma arte um pouco peculiar de Mandrake, em alguns momentos, bem feia.

    O Poder de Shazam, de Jerry Ordway

    Publicado em 1994 (1996 no Brasil), O Poder de Shazam é uma revista bem legal, de temática leve e divertida.  Escrita e desenha por Jerry Ordway (que arte finalizou  com George Perez em Crise nas Infinitas Terras e também acumulou função de texto e arte de Superman entre 1986 e 1989, além de ser um dos artistas por trás de Zero Hora). A história tem pouco menos que 100 páginas e começa no Egito com uma equipe de arqueologia.  Aqui há um elemento um polêmico, envolvendo o passado do Senhor Batson, o pai de Billy, com o Silvana e com o outro arqui rival do Capitão Marvel, Adão Negro, colocando o vilão na escavação do pai para, em seguida matá-lo, em ação semelhante a que Tim Burton fez em seu Batman, pegando algumas das coincidências de New Beginning.

    Tirando essa estranheza, a historia é bem legal. O traço de Ordway combina com o clima de aventura super otimista  do herói. Billy é mostrado como um menino pobre e necessitado que vende jornais nos sinais de transito. Ao ser encontrado por uma figura misteriosa, passa por uma caverna, onde há estatuas dos inimigos mortais do homem: Orgulho, Inveja, Cobiça, Ódio, Egoísmo, Preguiça, Injustiça, resgatando visualmente o que os criadores fizeram e lançando moda, pois quase toda origem repetiria esses conceitos.

    Um fato interessante e inesperado na historia, é que Billy ao  ganhar os poderes fica ressabiado e nervoso, não aceita a “dádiva” como algo bom, por não ter estrutura enquanto criança para lidar com tamanho poder e conhecimento, afinal a mudança é radical demais e repentina. Mais poder não significa mais equilíbrio emocional.

    Há momentos curiosos, como quando ao pegar um grupo de criminosos ele vira o carro, tal qual a capa clássica de Action Comics em uma piada visual com o Super Homem, bem como com a mania do personagem durante a Era de Ouro de ser o justiceiro dos pobres. O embate entre o heroi e Adão Negro fluí e toda a sequência a partir daí funciona como o regaste da memória do pai de Billy e a definição de Adão como o nêmese de Shazam. A arte de Ordway é uma grande homenagem aos quadrinhos dos anos 40. O sucesso fez com que estivesse a frente do título por um bom tempo.

    Primeiro Trovão e Os Desafios de Shazam, de Judd Winick

    Judd Winick se dedicou a duas histórias com o personagem entre 2006 e 2007. Na primeira, chamada Superman e Shazam: Primeiro Trovão, com arte de Josh Middleton, a narrativa parte do principio que  Superman e Batman acabaram de começar a nova era heroica enquanto o Capitão Marvel realiza suas primeiras ações, Acompanhado por seu mentor, o Mago Shazam. Para muitos esse é o equivalente ao Ano Um do personagem.  Apesar de não ser exatamente uma origem, os elementos clássicos do personagem estão lá: o clima dos anos 40, o escapismo e o traço de Middleton, mesmo sem ser primoroso, tem um ar de coisa antiga. Seu Capitão Marvel parece mesmo uma criança em tamanho grande. O contraponto entre o Capitão e o Superman é gritante e a dinâmica de herói novato e o veterano funciona bem.

    Silvana é um magnata poderoso e chefe de uma corporação maligna e criminosa. O Capitão se  descontrola e quase mata o capanga que disparou um tiro contra seu amigo, o pequeno Scott. É natural que aja assim, pois é uma criança para todos os efeitos, sem um código ético definido. O paradoxo é curioso. Marvel quase mata o vilão para evitar que ele assassine mais pessoas. Porém, sem coragem de dar cabo dele, decide se isolar no Everest, onde Superman o encontra. Nesse momento, acontece algo bem incomum: uma reclamação do kriptoniano com o Mago, por ter escolhido um menino para usar seu manto, dizendo que as atribuições de salvar as pessoas não deveriam ser destinadas a uma criança. Afinal, o peso do mundo não é compatível com seus ombros. É incrível como se demorou tanto a ter essa reflexão nos quadrinhos, e essa conclusão surgir do Super faz todo sentido, pois, seu destino inicial como salvador também era assim.

    A segunda história do roteirista foi uma minissérie em 12 edições, Os Desafios de Shazam, com arte de Howard Porter. A trama é polêmica por substituir Billy como herói, mas foi importante pra a cronologia do personagem. Porém, ao meu ver, o fato mais polêmica está em sua qualidade. A arte é estranha, com uma coloração que emula aquarela mas que parece feia. Além disso, a série tentou ser ambiciosa ao reorganizar a face página do Universo DC pós Crise Infinita. Com direito a presença de outros personagens mágicos, como Zatanna, mas que não tem nenhuma importância à trama.

    Na história, o Mago morre e o Capitão assume seu lugar e convoca Freddy Freeman, (Capitão Marvel Jr.) para ser o herdeiro do manto, tornando-se o novo Shazam. Alcunha utilizada para evitar problemas judiciais com a Marvel que se apossou do nome do personagem enquanto ele estava no limbo de publicações. O grande problema é o descarte de personagens clássicos como Mary Marvel, mostrada como deficiente, para deixar o caminho livre para Freddy. A série é prolixa, mastiga demais o universo mágico, e mesmo que tenha conceitos legais como o herói de legado (com uma década de atraso, diga-se de passagem), e a busca pelos paralelos dos personagens míticos do nome SHAZAM, não é o suficiente para salvar a publicação. A arte nas ultimas edições é assinada por Mauco Cascioli mas só melhora o quadro ligeiramente, pois as cores seguem terríveis. Na narrativa não há melhora, seguindo atrapalhada até o final com uma vilã que lembra o Adão Negro (Sabina), mas que não tem o mesmo peso, além da participação da Liga da Justiça de uma forma Deus Ex Machina. Neste ponto, Primeiro Trovão é bem mais reverencial.

    A Sociedade dos Monstros, de Jeff Smith

    O criador de Bone escreveu em 2007 Shazam! E a Sociedade dos Monstros, uma revista que equilibra um pouco de caráter autoral com apego a cronologia. Nela, Billy é um menino bem pequeno, abandonado, que sofre perseguição. O tom do quadrinho é bem infantil e fofo. Lembra em alguns momentos O Poder de Shazam de Ordway, mas tem sua própria identidade, especialmente visual, em muito tempo não havia historia cujo contraponto de Billy e Capitão são igualmente especiais e importantes.

    A figura de Marvel/Shazam é carismática, em especial por conta de detalhes pequenos, como seu gosto por hot dogs e seus inimigos, monstros animalescos comandados pelo Senhor Cérebro, um vilão clássico da época da Fawcett Comics. Além disso, o gibi contrapõe o desprezo de todos ao Billy, por ele ser um menino em situação de rua, e traz uma repaginação da sua irmã Mary e do  senhor Malhado tão legais quanto a versão de Billy. O clima da revista é bem fantasioso, infantil, mas também é sério quando precisa, e principalmente, lisérgico quando é mostrado Sr. Cérebro em ação.

    É engraçado como o Silvana de Smith lembra levemente a figura física de Robert Crumb, ainda que ele seja careca enquanto o quadrinista anarquista não seja. Também é legal que os antagonistas sejam mais pueris, em uma versão parecida com a dos desenhos do Super Homem dos irmãos Fleischer e dos quadrinhos pulp. O final da revista é otimista e combina demais com a docilidade de seu autor que ainda repagina Shazam também em um tamanho gigante emulando os tokusatsus.

    Com Uma Palavra Mágica, de Geoff Johns

    A versão de Geoff Johns e Gary Frank foi introduzida nos backups da revista da Liga e tem como principal diferença o fato de Billy ser um adolescente problemático, em sintonia com um rapaz sozinho vivendo a puberdade. As primeiras aparições são bem curtas, fundamentando a origem do personagem em paralelo a acontecimentos da fase Novos 52, reciclando conceitos de um jeito que o roteirista é especialista. A trama começa de maneira despretensiosa, apresentando a procura do Mago por um hospedeiro de seus poderes, encontrando no jovem disperso seu representante. Ao ser adotado pela família Vasquez, Billy encontra uma nova família e, aos poucos, afeiçoa-se a eles.

    O Doutor Silvana é um estudioso obcecado nas lendas antigas, reprisando de certa forma o que o autor fez com seu Lex Luthor em Superman: Origens Secretas, substituindo a questão de Kripton pelo Adão Negro. A forma como se lida com a família Marvel é bem legal, expandindo-se a mitologia, a partir de Freddy Freeman. Além disso, é mostrado também o tigre Tawny como uma das poucas lembranças dos pais de Billy. Apesar de demorar a engrenar, a ação da revista é bem fundamentada, não é extraordinária, mas repagina bem a maior parte dos conceitos, seja com o Mago, com os vilões, a questão do Relâmpago Vivo.  O momento em que Billy e Freddy lidam com os poderes no começo é interessante, e a motivação do Adão Negro também é bem construída.  Esta deve ser a origem que ganhará destaque no roteiro de Henry Gayden no filme de David F. Sandberg. Momentos vistos no trailer como a sobrecarga de materiais com eletricidade ou a recompensa de muitos doces por salvar um lojista de um assalto vieram direto dessa aventura e, como outros filmes da Dc Comics já se pautaram na fase Novos 52, é natural que esta trama sirva de nova versão do herói, por estar mais alinhada com o cânone atual.

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  • Resenha | Universo DC: Renascimento

    Resenha | Universo DC: Renascimento

    Após o fim da fase conhecida como Novos 52 e uma breve passagem como DC & Você, a Editora das Lendas resolveu passar um pano em suas publicações, porém sem a obrigatoriedade de um novo reboot. Assim, teve início uma nova fase editorial que prometia trazer de volta toda a grandeza de seus mais icônicos personagens, e seu pontapé inicial deu-se com a publicação do especial Universo DC: Renascimento. Assim, todas as publicações posteriores carregariam o selo “Renascimento” nas capas, e deveriam acertar os ponteiros da bagunçada cronologia da editora.

    O especial em si não traz exatamente uma história, mas apresenta os rumos que o Universo DC iria tomar a partir desse ponto. A história começa com uma clara referência à clássica graphic novel de Alan Moore e Dave Gibbons, Watchmen, que até então nunca havia sido parte oficial do Universo DC (coisa que, alguns anos depois do lançamento desse especial, já sabemos que se alterou). Temos uma narração em off de uma figura misteriosa que parece observar de fora os acontecimentos recentes, e vemos o Batman em sua soturna caverna tentando desvendar o mistério que lhe fora parcialmente revelado em uma saga anterior, a ideia de que existem três Coringas no mundo. Logo descobrimos que o observador (e narrador) misterioso é ninguém menos que Wally West, o terceiro Flash, em sua clássica versão anterior ao reboot. Wally parece estar preso no tecido entre as realidades, e ao se revelar ao Homem-Morcego, começa a desaparecer na Força da Aceleração, pois Batman não se lembra dele.

    Vemos então uma recapitulação da origem de Wally West, com direito a lembranças da primeira formação da Turma Titã e da morte de Barry Allen em Crise nas Infinitas Terras, além de boa parte da aclamada (e negligenciada pela editora) fase do roteirista Mark Waid pelo título do personagem. Wally então percebe toda a mudança ocorrida no evento Ponto de Ignição (Flashpoint), que deu origem ao reboot do universo, e sente que dez anos foram apagados da história.

    A história começa então a nos mostrar pequenos eventos acontecendo com alguns personagens-chave, como Jonny Trovoada, Satúrnia, Átomo e seu pupilo, além de mostrar Ted Kord vivo e sendo mentor de Jaime Reiyes como Besouro Azul. Ficam também estabelecidos conceitos como a sexualidade de Aqualad, a idade do Robin (13 anos), e o início do relacionamento amoroso entre Arqueiro Verde e Canário Negro. Vemos também a personagem Pandora (que permeava toda a fase dos Novos 52) ser desintegrada num beco por uma figura misteriosa. Wally chega à conclusão que, além do tempo, o amor também foi roubado desse universo e sai à procura de Linda Parker, sua esposa na linha temporal anterior. Após muitas idas e vindas, Wally consegue fazer com Barry Allen se lembre dele, o retirando da Força da Aceleração segundos antes de seu completo desaparecimento.

    A história deixa então várias pistas do que viria a acontecer na editora nos anos vindouros. Batman encontra o bótom do Comediante (de Watchmen) na parede da Batcaverna após reler a carta de Thomas Wayne, ou melhor, de sua versão do Flashpoint. Isso e outros acontecimentos teriam repercussão mais pra frente, e o final da edição reproduzindo o diálogo entre o Dr. Manhatan e Ozzymandias preparam o caminho para a saga que possivelmente vai redefinir novamente a editora, a vindoura Doomsday Clock.

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  • Review | Titãs – 1ª Temporada

    Review | Titãs – 1ª Temporada

    Titans inaugurou o serviço de streaming da Warner como uma novidade em matéria de conteúdo original. O trio de produtores Geoff Johns (escritor de quadrinhos e envolvido com Richard Donner na produção de Superman O Filme), Greg Berlanti e Akiva Goldsman (dono do roteiro de pérolas como a franquia Transformers e Torre Negra) resolveu trazer a luz uma versão sombria dos Jovens Titãs, onde Dick Grayson (Brenton Thwaites) evita agir como Robin, já que agora é um policial de Detroit, que basicamente encontra a jovem perturbada Rachel Roth (Teagan Croft), que é a contra parte de Ravena, e logo depois encontra também a prostituta alienígena Koriand’r (Anna Diop), que é a Estelar, e também Garfield Longa (Ryan Potter), o Mutano.

    Nós já analisamos o piloto da série, e Titans prosseguiu sendo exibida, mostrando a inteiração do grupo de pessoas super poderosas ainda que claramente eles não sejam exatamente um grupo como nas historias clássicas de Marv Wolfman e George Perez, talvez o motivo disso seja exatamente fortificar a ideia de que essa uma serie de conteúdo adulto, mas a vagarosidade dela em reunir os personagens faz tudo ficar enfadonho.

    No segundo episodio são introduzidos Rapina e Columba, feitos por Minka Kelly e Alan Ritchson, que nessa versão são namorados, e tem as identidades civis de Dawn Granger e Hank Hall. Aqui se percebe que Grayson e Granger já se envolveram emocionalmente no passado, e as cenas em flashback são usadas bastante, de uma maneira até exagerada. Ao menos, já no começo se percebe que por mais que o antigo Robin tenha deixado de lado seu mentor, sua mentalidade é parecida com a do Morcego, pois ele também acolhe uma criança em apuros, mostrando uma senso de paternidade muito forte.

    A parte adulta da série, que mereceu elogios no piloto e que parecia ser uma boa e nova exploração de paradigma novo vai aos poucos se perdendo. Estelar encontra Ravena basicamente por que são ambas excluídas, e isso faz sentido, mas a sensação de pertencimento que os personagens tinham em outras encarnações inexiste aqui, eles tem em comum a rejeição, mas são unidos por isso. Talvez o ideal fosse que o grupo já estivesse estabelecido, afinal os fatos poderiam desenvolver melhor e de forma menos lenta.

    O desenrolar da trama é meio mecânico, os encontros não parecem acontecerem por mero acaso e se realmente a ideia era deixar um clima de destino conspirando pela união, deveria ser mais explicito o texto de Akiva Goldman. O que o produtor acertou em não se envolver com  os produtos spin offs de Transformers – Bumblebee foi muito bem sem ele – não acontece aqui.

    Os demônios que atormentam Rachel não assustam, a serie ao tentar ser hiper madura soa apenas cafona e desequilibrada. No entanto, há alguns pequenos acertos, como o episodio com a Patrulha do Destino, que apesar de ser meio como um filler, é absolutamente divertido, seu problema na verdade é o modo como termina, de maneira brusca a apressada.

    Ao menos em uma coisa o publico nerd mais chato e conservador estava errado, o visual e poderes de Estelar não comprometem em nada, são bem utilizados até, assim como a transformação de Mutano em tigre. Não se sabe se o alienígena pode se transformar em outros animais e ao menos nessa temporada ele só vira o felino, graças claro a um orçamento de TV, que é reduzido, mesmo que essa seja bem cara. A grande questão é o tom mesmo, por mais que em boa parte dos  momentos de interação do personagens hajam eventos e situações interessantes e bem filmadas, não há muita justificativa para uma abordagem tão obscura e com tendências adultas, tampouco há como explorar boa parte dos poderes dos heróis, claramente esse era um projeto para ser feito no cinema, com orçamento mais pomposo e robusto, onde Garfield poderia se transformar em outros animais e ser totalmente verde, onde Estelar poderia ter as cores laranja o tempo inteiro e onde Ravena poderia liberar seus demônios quando  precisasse de fato, contra inimigos que não fossem necessariamente os seus parentes, em mais um evento genérico envolvendo daddy issues.

    Há algumas apelações meio desnecessárias, cenas de sexo genéricas, unicamente propostas porque pretende-se atingir um público mais velho, mas em alguns pontos o seriado tenta lidar com outras formas de discutir ciclos, como quando é introduzido Jason Todd (Curra Walters) e há uma relação de mentor e pupilo entre o antigo garoto prodígio e o atual, embora Dick não tenha aposentado seu manto. A rejeição do Morcego nem é um assunto muito discutido, e sim o legado de um sidekick, Thwaites consegue surpreender com uma atuação sóbria e austera, de um homem que quer demonstrar que superou o vigilantismo – afinal virou detetive – mas que se vê tendo sua vocação reavivada com união que faz aos Titãs, ainda com o grupo em formação.

    Incrivelmente Akiva Goldsman introduz bons conceitos, como essa relação de Todd e Grayson, e a Patrulha do Destino (que obviamente está lá só para fazer propaganda da futura série) mas também é incrível como falta foco narrativo a série, que varia entre a trama principal e investigação que Richard Grayson faz e esses capítulos stand alone, envolvendo Rapina e Columba, o segundo Robin e ate Donna Troy. Falta identidade a Titans, eles não sabem escolher nem entre ser uma série de conseqüências tradicionais e historia retilínea ou se é procedural.

    A luta entre Donna Troy (Conor Leslie), a antiga Moça Maravilha e Estelar é muito bem coreografada, apesar de bastante curta. Donna tem uma maturidade que Grayson não tem, ela já entendeu que o vigilantismo não é um estilo de vida para ela, ao contrário do antigo pupilo do Batman, que já acha que não há mais como ser o Robin, mas também não consegue largar o manto. Nesses últimos episódios claramente se nota uma propensão a se tornar finalmente o Asa Noturna, mas se demora tanto em verbalizar quanto em ser colocado em prática.

    Como era esperado, o ultimo episódio (11º) é chamado Dick Grayson, e começa alegre, em um dia ensolarado na California, com o personagem que dá nome ao capítulo relaxando, enquanto brinca com seu filho, Johnny. Fica claro em todo esse desenrolar que aquilo não corresponde a realidade, pois todo o status de comercial de margarina não combina em nada com as encarnações do Titãs, nem a vista em Titans. O começo da ruptura com a perfeição começa quando Jason Todd aparece na casa do antigo Robin, em uma cadeira de rodas, dizendo que seu mentor enlouqueceu.

    Esse episodio é dirigido por Glen Winter e escrito por Richard Hatem, e a construção da tensão e do futuro alternativo de Dick não é ruim, enquanto ele se propõe a explorar os detalhes dessa versão alternativa há muitos acertos, talvez os mais meritosos de todo o programa, mas os momentos finais são tão apelativos e de certa forma covarde, que fazem lembrar os season finales de The Walking Dead, não pela temática, obviamente, e sim pelo adiamento da resolução do conflito, para algo que só estreará ano que vem.

    É difícil avaliar o que Goldsman, Johns e Berlanti quiseram traduzir nesta primeira temporada de Titans, é tudo tão diferente iconograficamente de tudo que se conhece sobre Robin, Mutano, Estelar, Ravena, e até de Moça maravilha, Rapina e Columba e do grupo de heróis como um todo. Akiva foi um dos escritores de Batman e Robin, e retorna aqui para mais uma vez demonstrar que não entende muito como funciona a psique e comportamento do antigo garoto prodígio, e dessa vez nem com o auxilio de um roteirista experiente como Johns ele conseguiu criar algo nem ligeiramente semelhante (talvez Johns tenha aparado alguns excessos, vá saber), fato é que esta parece mais uma versão genérica, tirada de qualquer Revista Elseworld da DC, onde sequer a cena pós crédito envolvendo personagens do universo do Superman salva o programa da mediocridade. Espera-se que a segunda temporada corrija alguns equívocos, mas a vocação dos personagens certamente seguirá a mesma

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  • VortCast 59 | Aquaman: O Filme

    VortCast 59 | Aquaman: O Filme

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira) e Filipe Pereira (@filipepereiral) batem um papo sobre o novo filme da DC Comics/Warner Bros: Aquaman. Neste podcast, saiba o que esperar do filme do Rei dos Mares, qual a melhor fase do personagem nos quadrinhos e como podemos vencer o monopólio da Disney/Marvel nos cinemas.

    Duração: 46 min.
    Edição: Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira
    Arte do Banner: 
    Bruno Gaspar

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  • Crítica | Aquaman

    Crítica | Aquaman

    O futuro da DC no cinema é uma incógnita, mais por conta dos bastidores do que pela recepção dos filmes. Tal qual foi com Mulher-Maravilha de Patty Jenkins, a versão de Aquaman de James Wan gerou muita expectativa e o resultado como  stand alone é muito bom, principalmente por essa historia ter fôlego independente de Liga da Justiça e Batman vs Superman onde Jason Momoa já havia interpretado Arthur Curry.

    A história começa mostrando a origem do personagem, narrado pelo próprio Aquaman, que descreve como Tom Curry (Temuera Morrison) conhece Atlanna (Nicole Kidman), em uma situação que soa um pouco bizarra pela configuração do encontro, assim como também causa estranheza os efeitos especiais que não conseguem se encarregar da tarefa de rejuvenescimento de Morrison. Após uma separação forçada dos pais, Arthur segue na superfície. Não demora para a ação se desenrolar, e Wan não tem vergonha alguma de se assumir como um filme despretensioso e canastrão, pois sempre que o vigilante é acertado e não cai, toca-se um riff de guitarra ao estilo rock and roll, e nesse ínterim, se introduz a figura vilanesca do Arraia Negra (Yahya Abdul-Mateen II), um personagem que age de maneira raivosa e unidimensional, mas que tem uma boa justificativa para ter ressentimento com o personagem-título.

    As partes abaixo da água fazem lembrar o carnaval de cores de Fúria de Titãs e sua continuação, em especial com as cenas envolvendo a nobreza atlante. Demora a acostumar com o visual, mas depois do estranhamento as reuniões entre o rei Orm (Patrick Wilson), irmão e filho legítimo daquele povo e Nereus, interpretado por Dolph Lundgren que ostenta uma belíssima peruca digital. As batalhas na água são muito bem feitas e a física faz muito sentido. Um dos maiores receios dos fãs era em relação a esses combates se dava na utilização dos efeitos especiais, o que se mostrou totalmente infundada.

    A psicodelia do visual das cidades submarinas é bem explicada pelo mentor Vulko (Willem Dafoe), que ao treinar o futuro herói, diz que a visão dos atlantes é mais aguçada e por isso se nota uma textura de luz diferente da superfície. Da parte do texto, há alguns problemas com a insistência no clichê de homem ressentido que culpa todo um povo pela exclusão de sua mãe, e essa questão mesmo no final não faz muito sentido, em especial com o rumo que as coisas tomam.

    Outra questão um pouco incômoda é em relação a aliança dos vilões, não há preocupação em criar uma dualidade neles, são maniqueístas e mal intencionados ao extremo e isso não combina por exemplo com a vingança eco-terrorista de devolver à terra o lixo produzido pela superfície. Mas tecnicamente o filme é muito bem construído, as referências steampunk no visual da Atlântida quando ainda estava na superfície é absurda, assim como a justificativa para a alta tecnologia, como eram com as amazonas de Themyscera. Ao mostrar o exemplo de Mera e Atlanna há uma boa exposição de como o machismo e o patriarcado funcionam no reino dos homens seja em terra ou em mar. Apesar de não haver tanto aprofundamento dessa questão, a discussão sobre mestiços e imigrantes é muito bem explicitada.

    As cenas de ação poderiam ter ficado mais reservadas ao filme, muito do impacto na parte inicial e no meio é perdido por conta do material de divulgação, mas no final as sequências inéditas são eletrizantes. As criaturas selvagens do Reino do Fosso são visualmente assustadoras, e funcionam quase como um legado de horror de Wan. Toda a mitologia do personagem é muito bem explorada  apesar de não gastar muito tempo explicando.

    A luta final peca um pouco por soar genérica, com muito slow motion entre o Aquaman já todo paramentado e com o Mestre dos Oceanos. Aquaman é divertido como se espera de um filme escapista de herói, que obviamente tem preocupações mercadológicas em vender merchandising mas que ainda arruma tempo para dar vazão a algumas discussões.

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  • Review | Titans (Episódio Piloto)

    Review | Titans (Episódio Piloto)

    Quase tudo que envolveu a série live-action dos Titãs tem relação com a polêmica, primeiro por conta da escalação da bela atriz negra Anna Diop como Estelar, o que não faz sentido algum, já que a alienígena não tem etnia terráquea, depois, ocorreram críticas ao material de divulgação, excessivamente dark. Pois bem, Titans estreou no dia doze de outubro de 2018, e começa mostrando Ravena (Teagan Croft) lidando com sonhos estranhos. A jovem Rachel sonha com a tragédia dos Grayson Voadores, mas percebe que é só um pesadelo, ainda que isso não fique exatamente claro.

    Não demora até o Detetive Richard ‘Dick’ Grayson ser mostrado, como um policial de Detroit, cidade conhecida pela violência. Brenton Thwaites compõe um personagem tímido e sombrio que se mudou para respirar novos ares e agir de maneira solo. Na sua primeira ação ele é debochado pelos malfeitores, que esperam o Morcego, e responde a esses estímulos com muita violência, e cenas em slow motion dignas da filmografia de Zack Snyder. Aparentemente a influência nefasta do diretor segue viva.

    Aliás, a violência é algo bem comum nesse universo. Rachel, quando decide sair de sua cidade Traverse City e ir para Detroit, se depara com a violência extrema ao ser perseguida por assaltantes, mas também sendo encarada pelos demônios que a cercam nos quadrinhos. Enquanto isso, Koriand’r, uma prostituta que usa cores fortes em seus cabelos e em suas vestes – além de ter olhos verdes-claros, que chamam muita atenção – é mostrada ao lado de um homem morto, no banco do motorista de um carro. O nome que usa, Kory Anders, serve como identidade civil desse ente misterioso e extra-terrestre.

    Ao menos na intimidade da personagem, se vê prosperidade, pois esta contraparte humana estava alocada na cobertura de um hotel luxuoso, por conta da natureza do trabalho que exerce como garota de programa. Ainda assim, esses detalhes são sugeridos e não jogados de forma didática, aliás, ao menos nesse começo, todo o desenrolar dramático é gradativo, o encontro entre os personagens centrais demora a acontecer e ao menos até aqui tudo funciona de forma fluida.

    O capítulo é conduzido por Brad Anderson, acostumado a dirigir longa-metragens em Hollywood como O Operário e Chamada de Emergência. Anderson esbarra nas limitações orçamentárias televisivas, em especial quando coloca Koriand’r/Estelar expelindo seus poderes cósmicos. Soa falso, mas em comparação com outras séries de heróis, não deixa a desejar. No final do episódio há outro uso de efeitos especiais, dessa vez mais acertado, com uma fotografia escurecida que favorece a dificuldade orçamentária típica de alguns programas de TV.

    Mesmo com os pontos positivos, ainda soa estranho apreciar as aventuras dos Titãs com um tom tão violento e sombrio, diferente demais do visto em Os Jovens Titãs, primeira série animada, além de Jovens Titas em Ação! Nos Cinemas. Ao menos se a toada seguir tão bem construída quanto nesse episódio inicial, terá sido essa uma boa e grata surpresa.  No final do episódio, há uma introdução bem legal de Mutano, de forma curiosa e até engraçada, e que deverá ser explorada mais à frente. Até aqui, a parceria de Akiva Goldsman, Greg Berlanti e Geoff Johns conseguiu manter os pés no chão e usar um pouco dos quadrinhos como base de uma discussão bem diferente da proposta clássica de Marv Wolfman e George Perez.

    https://www.youtube.com/watch?v=-PPofXaJ4go

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  • Resenha | Aquaman: As Profundezas

    Resenha | Aquaman: As Profundezas

    A quantidade de personagens no universo da Dc Comics não é proporcional a quantidade de roteiristas da casa que entregam narrativas acima da média geral. Um fator que resulta em um movimento natural em que personagens oscilam dependendo do texto. Sem dúvida, grandes personagens são dedicados aos roteiristas de renome, ainda que novos talentos em alta recebam novas revistas como uma espécie de desafio, para provar a criatividade. Assim como há roteiristas que se destacam por se manterem na média, sem poucas histórias significativas no currículo, mas com tramas divertidas. Não há como suprir uma demanda alta sempre a procura de grandes histórias.

    Dentre os personagens de grande destaque do estúdio, principalmente os que participam ou participaram da Liga da Justiça, Aquaman sempre foi um motivo de piada. O riso retoma uma época antiga em que o desenho Super-Amigos e sua abordagem infantil ajudou a popularizar e ridicularizar o herói. Como poucos autores investiram em uma boa história para a personagem, o herói nunca ganhou o destaque merecido. A fase de Peter David, lançada em 1994 a 1998, é uma dessas exceções. Porém, no Brasil, as histórias foram lançadas no mix da Melhores do Mundo, na época dos formatinhos da Abril, e nunca relançada. Em 2006, na fase Um Ano Depois da casa, Kurt Busiek tentou recriar a personagem, mas a série foi logo cancelada.

    A chegada dos Novos 52 ao menos trouxe a possibilidade de analisar alguns personagens que há tempos não obtiam destaque e reconfigura-los. Com essa fase encerrada, resultando no distanciamento necessário para análise, é possível observar novos bons personagens como Batwing e Batman e autores que, em meio a uma fase criticada pela ideia de reboot, trouxeram um bom material como Flash de Francis Manapul e Aquaman escrito por Geoff Johns.

    Relançado pela Panini Comics em edição encadernada em 2015, As Profundezas compila os seis primeiros números de Aquaman, apresentando três histórias iniciais: a incrível O Fosso, demonstrando como um bom roteirista não precisa de longas sagas para uma trama competente, e Perdido e Abandonado, focados em Mera.

    Johns trabalha a própria má-fama do herói dentro da história: um homem, rei dos mares, considerado motivo de riso pela população por ser considerado alguém sem nenhum poder bem delineado. A situação se modifica quando seres humanoides surgem do mar e a polícia pede ajuda do soberano para o caso. Ao contrário das megas sagas, em apenas quatro partes, o roteirista demostra a renovação de seu Aquaman e a qualidade de sua obra. Apresentando um soberano cansado por não ser considerado heroico, ao mesmo tempo em que, durante a ação, demonstra habilidades além da malfalada telepatia marítima. Justificando porquê o personagem integrou diversas formações da Liga da Justiça. Assim como mostra a potência de Arthur, também desenvolve Mera no mesmo patamar, uma rainha poderosa, capaz de controlar a própria água.

    As cenas de ação na trama são pontuais, realizadas com qualidade a favor da narrativa, uma boa história contrapondo o herói e o vilão de maneira tradicional. Ao inserir a trama em primeiro plano, o próprio leitor vai reconstruindo o Aquaman de acordo com as ações em cena observando sua inteligência, a superforça e outras características capazes de derrubar o mito de um herói bobo.

    Aquaman – As Profundezas é um dos melhores inícios da fase Novos 52, capaz de reescrever a personagem, inserindo-a no merecido panteão de grandes heróis da Dc Comics. Geoff Johns faz jus ao seu sucesso, demonstrando conhecimento da personagem e domínio narrativo para criar uma história inicial robusta com uma trama simples, mas eficiente, e cenas de ação pontuais que demonstram que a fase do Aquaman perdedor foi deixada de lado.

    Compre: Aquaman – As Profundezas.

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  • Resenha | Superman: Brainiac

    Resenha | Superman: Brainiac

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    Durante grande parte da primeira década do novo milênio, a DC Comics investiu em novas formas de reformular seu universo de super-heróis sem necessariamente zerar sua continuidade, como já havia feito antes com a saga Crise nas Infinitas Terras. Assim, o recurso utilizado com frequência era o retcon, histórias que contavam detalhes “esquecidos” das origens dos heróis ou alteravam completamente alguma coisa que fosse necessária. Com a saga Crise Infinita a editora deu uma explicação de dentro do universo para esses retcons: uma versão do Superboy de uma Terra paralela literalmente esmurrava as paredes da realidade, mudando assim a continuidade de tempos em tempos sem precisar passar uma borracha em tudo. Sim, era uma explicação bem esdrúxula, mas parece ter funcionado. Com isso, Superman teve sua origem pós-Crise alterada várias vezes, tornando a narrativa de John ByrneO Homem de Aço, obsoleta.

    Geoff Johns foi responsável por grande parte dessa fase, deixando sua marca de “reparador de danos” nos gibis do Superman. Assim, dentre muitas coisas que escreveu, o arco Brainiac tem um grande destaque por resgatar elementos clássicos das histórias do herói.

    Assim como a Supergirl havia sido reintroduzida nas histórias do Azulão, com uma história de origem mais próxima da sua primeira aparição, na Era de Prata, Johns reapresenta o vilão Brainiac tal qual sua primeira aparição. Assim, fica estabelecido através da Supergirl que ele já era uma ameaça no passado, e que as outras versões do tirano confrontadas pelo Superman não eram “reais”. Brainiac era um conquistador de mundos, que absorvia toda a informação possível sobre civilizações planetárias, miniaturizava suas principais cidades e destruía o resto. Assim, em uma terrível lembrança de seu tempo em Krypton, a prima do Superman revela como a importante cidade de Kandor foi subjugada e engarrafada, com seus prédios e habitantes em forma diminuta, e armazenada na nave do vilão.

    Quando Brainiac ataca a Terra, diminuindo e engarrafando a cidade de Metrópolis, Superman o enfrenta em uma batalha épica para trazer de volta aqueles que ama. O enredo é basicamente o mesmo da história de 1958 na qual o vilão surgiu, porém trabalhado de forma quase cinematográfica, explorando diferentes facetas de personagens já há muito conhecidos do público.

    A arte de Gary Frank é de uma riqueza de detalhes impressionante. Seu Superman e Clark Kent realmente parecem pessoas distintas, e visivelmente emulam os traços característicos do ator Christopher Reeve, que imortalizou o herói nas telas do cinema por quatro filmes. Sua Lois Lane é uma versão mais jovem de Margot Kidder, que contracenou com Reeve nos filmes clássicos, e os personagens do Planeta Diário também apresentam traços marcantes que refletem suas personalidades. Cat Grant lembra muito a sua representação na série noventista Lois & Clark, com uma atitude ao mesmo tempo sexy e vulgar, muito diferente da mãe solteira que teve o filho de oito anos assassinado, na versão anterior dos quadrinhos. Grant não parece carregar a perda nos ombros como antes, e até mesmo Clark parece perceber isso. Assim, sua nova atitude seria decorrente do trauma, uma forma de abafar a dor. Infelizmente, isso fica apenas subentendido pela fala do repórter e não é explorado na história. Steve Lombard é o repórter de esportes, e se nos anos 70 era retratado como um galhofeiro que vivia pregando peças em seus colegas, aqui ele se torna um “tiozão do pavê”, completamente deslocado com suas piadas sem graça em um mundo que não mais admite seus preconceitos. Ron Troupe, Jimmy Olsen e Perry White permanecem basicamente os mesmos que já conhecemos de versões anteriores. Frank se utiliza de seu fino traço para fazer com que as expressões faciais desses personagens nos mostrem cada sentimento, cada interação entre eles, cada pequeno gesto, de forma a esquecermos um pouco dos vilões intergaláticos e possamos nos identificar com as “pessoas normais” da história.

    A relação de Clark com seus pais é explorada de uma forma como jamais viria a ser novamente nos quadrinhos posteriores. A vida no campo moldou a personalidade de Kent, e vemos em flashbacks momentos de sua educação que o levaram a ser quem ele é. O final trágico da história remete justamente a isso: Superman precisa fazer duras escolhas pelo bem maior, mesmo que isso pese sobre seus ombros por não conseguir salvar a todos ao mesmo tempo.

    Se as cenas de ação são muito bem desenvolvidas, as cenas do cotidiano não ficam longe. Em uma época em que as relações entre os personagens de Metrópolis estavam sendo quase que ignoradas, Superman: Brainiac as traz de volta de forma simples, porém certeira. Talvez seja isso que faz desse arco algo digno de figurar, no Brasil, duas versões encadernadas de capa dura ao mesmo tempo, por editoras diferentes.

    A importância dessa história também está em suas consequências nas revistas do Superman nos anos seguintes, já que o destino de Kandor e de seus habitantes kryptonianos seria o fio condutor da grande saga Nova Krypton, que tomaria as páginas das revistas de aço no meses posteriores. Também virou filme animado da DC Entertainment, com o título de Superman Sem Limites. Ainda assim, Superman: Brainiac apresenta uma grande aventura, com aquilo que pode ser considerado a essência do Homem de Aço, de uma forma moderna e ao mesmo tempo, clássica.

    Compre: Superman: Brainiac

  • Rebirth: O Renascimento da DC Comics – Parte 1

    Rebirth: O Renascimento da DC Comics – Parte 1

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    A polêmica a respeito do reboot dos quadrinhos da DC Comics produziu em público e crítica uma enorme discussão tanto em relação aos motivos desse acontecimento quanto à qualidade dos textos e artes dos Novos 52. Como consequência, aliada a reclamações constantes dos artistas – entre eles Geoff Johns, que foi um dos poucos roteiristas medalhões que permaneceram na casa – ensaiou-se uma saída deste paradigma, e o evento de grandes proporções, chamado de Rebirth ou Renascimento, possivelmente procura retomar origens.

    Renascimento usa o mesmo nome dado às revistas que trouxeram tanto Hal Jordan quanto Barry Allen ao posto de Lanterna Verde e Flash, com roteiros de Johns e desenhos de Ethan Van Sciver. Após um remendo de qualidade discutível, e rumos do já antigo reboot, finalmente se dá vazão a essa história, que traria novos visuais, conceitos antigos e um possível ensaio para uma volta ao universo pós-Crise nas Infinitas Terras.

    Se Renascimento é ou não um reboot, o tempo dirá, fato é que a saga veio para mudar os paradigmas editoriais, sendo esta a despedida de Johns da linha regular de histórias e o início de uma participação mais ativa nos bastidores de quadrinhos e áudio visual, a fim de auxiliar Zack Snyder no cinema. Abaixo, uma breve análise das primeiras publicações desde junho, com os especiais já lançados:

    Universo DC – Renascimento #01

    DC Rebirth 2

    Talvez seja a mais polêmica revista dessa primeira fase, uma vez que trabalha com uma situação clássica, esquecida por muitos. O pivô desta saga é Wally West, que após a Crise de Marv Wolfman e George Pérez, se tornou o Flash. A primeira aparição do personagem é com o Batman, como seu tio fez outrora, mas evidenciando o fato de vestir o traje de Kid Flash e a memória existente antes de Ponto de Ignição, acusando outros personagens, e ele mesmo, de estarem bem mais jovens.

    Este artifício metalinguístico, com West simbolizando o leitor antigo, não desconsidera o novo fã do universo DC, uma vez que há uma pequena explicação tanto sobre a Força de Aceleração, que dá aos velocistas poderosos suas habilidades – inclusive a de viajar no tempo – quanto sobre o começo da carreira de West como vigilante e como fã do Flash da Era de Prata. A publicação é um arremedo e introduz muitos elementos do passado, como a relação do Arqueiro Verde e Canário Negro, esquecida nesta versão, e outros elementos da relação de mentor e pupilo entre Barry Allen e Wally West.

    Pontos Positivos: Há muitas referências à trágica morte do Flash Barry Allen, através de seu sucessor, e é bastante interessante e saudosista vê-lo tentando entrar em contato com seus antigos amigos dos Titãs, entre eles Asa Noturna, Cyborg e Arsenal. Os desenhos emulam, inclusive, o traço de Pérez em Crise nas Infinitas Terras, e compõem quadros belíssimos.

    Pontos Negativos: a tola necessidade de novamente tentar mesclar o universo comum da DC e Watchmen, justificando o conceito levantado por Alan Moore de que a indústria de quadrinhos atual resgata suas ideias como guaxinins vasculhando seu lixo na calada da noite.

    Lanterna Verde – Renascimento #01

    DC Rebirth 5

    Conduzida por Johns e Sam Humphries no roteiro e desenhos de Van Sciver e do brasileiro Ed Benes, a publicação do Gladiador Esmeralda inicia-se tratando rapidamente sobre a sucessão dos Lanternas terráqueos, Hal Jordan, John Stewart, Guy Gardner e Kyle Rayner, ainda que a primeira narração direta seja feita por Simon Baz, o lanterna árabe, que tem de lidar com a islamofobia já no primeiro quadro em que aparece. Logo, este se encontra com outra versão do herói, feminina e latina, chamada de Jessica Cruz, também introduzida na época pós-Novos 52. Os eventos culminam na chegada de Hal, afirmando o quão crus estão os dois atuais representantes da Terra, mas sem esclarecer onde estão Rayner, Garner e outros. Ao final, os destinos dos dois novos heróis se alinham aos vilões lanternas vermelhos, referenciando A Noite Mais Densa, mega-saga do Universo DC comandada por Johns.

    Prós: Ingresso dos mais recentes membros da tropa, destacam-se duas minorias normalmente perseguidas nos Estados Unidos, um islâmico residente na América e uma mulher latino-americana, evocando o clássico lema da tropa de inclusão e representação de povos diversos. Outro ponto curioso é a capa de Van Sciver homenageando a própria arte antiga de Lanterna Verde: Renascimento, trocando Jordan pelas duas novas encarnações do herói.

    Contras: A história em si soa genérica. A ideia de inserir um dos caçadores é até esperta, mas seu resultado final é óbvio, como um preparativo do velho Jordan, que testava os dois recrutas. O didatismo exacerbado faz a história perder um pouco do caráter de introdução, ainda que o saldo seja positivo.

    Arqueiro Verde - Rebirth

    Arqueiro Verde – Renascimento #01

    Bastante diferente do visto nos Novos 52 – que, por sua vez, baseava-se na versão do personagem em Smallville – O Arqueiro Verde segue estilizado e semelhante à sua real origem. A aventura, escrita por Benjamin Percy e desenhada magistralmente por Otto Schmidt, se passa nesse início em Seattle, e não em Star City, o que faz lembrar uma das características de Oliver Queen há muito esquecida. A participação da Canário Negro oferece um ar nostálgico, fazendo um paralelo com a antiga minissérie Caçadores. Ao final, a dupla de vigilantes enfrenta os estranhos opositores, e dá vazão ao romance que antes existia, e que nesta versão parece muito mais subliminar do que qualquer outra coisa.

    Prós: Arte estilizada de Schmidt é bastante bonita, modernizando os temas clássicos do herói. Outro ponto que favorece a publicação é o grato retorno à essência contestadora do personagem, apresentado como um sujeito ranzinza e ligado ao pensamento progressista. Além disso, é charmoso o reatar do interesse amoroso dos dois protagonistas.

    Contras: A origem dos vilões enfrentados é pouco trabalhada, e tanto visual quanto atitudes pouco fazem lembrar os antagonistas tradicionais do arqueiro, fator que deixa o real antagonismo por parte das circunstâncias comuns a um relacionamento amoroso.

    DC Rebirth Bat

    Batman – Renascimento #01

    A história de Scott Snyder – que escreve a saga Noite das Corujas, e demais arcos que iniciaram o Morcego nos Novos 52 – e Tom King mostra um Bruce Wayne enrolando Lucius Fox em uma versão tão despreocupada quanto sua persona em Batman Begins. A Arte de Mikel Janín pressupõe momentos grandiosos, com cenários gigantes explorados por um protagonista diminuto, apelando para a extrema humanidade do Cruzado Encapuzado diante de um mundo de semi-deuses, aspecto antes explorado em algumas revistas da Liga da Justiça e agora trabalhada em sua revista solo.

    Prós: Os desenhos de Janín são belíssimos e fazem lembrar a arquitetura da Gotham que Tim Burton pensou para o morcego em Batman, de 1989, além de inúmeros elementos da animação de Bruce W. Timm.

    Contras: Falta emoção no arco, já que as conclusões seriam deixadas para os momentos posteriores. Mesmo diante desse adiamento, que haveria como ser contornado, Snyder não se esforça para tal, defeito que carrega desde suas fases antigas com o herói.

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    Superman – Renascimento #01

    O começo da história é melancólico, narrando a morte do Super-Homem e trazendo um retorno imediato de uma figura intitulada com a alcunha do herói, mas misteriosamente sem a identidade dupla de Clark Kent. A história de Peter J. Tomasi e Patrick Gleason é quase um remake dos eventos da A Morte do Superman e O Retorno de Superman, referenciando cenas inteiras e uniformes iguais. O desfecho é otimista, apesar de pouco revelar o entorno do herói-ícone da editora.

    Prós: Os desenhos de Doug Mahnke são muito bons, agregando um valor que a história simplesmente não consegue equiparar. Mesmo os quadros copiados de Dan Jurgens são mais bem feitos e mais significativos se comparados com a saga original.

    Contras: Mais decepcionante dentre as primeiras histórias, principalmente por ser necessária uma longa leitura anterior para entender o contexto histórico, o que atrapalha o ingresso de novos leitores.

    Aquaman - Rebirth

    Aquaman – Renascimento #01

    Apesar de sempre ser relegado ao arquétipo de alívio cômico e consequente piada – como visto nos arcos de Johns e Ivan Reis no ultimo reboot – o rei de Atlantis Aquaman tem uma versão mais séria e condizente com o papel de fundador da Liga da Justiça e de poderoso governante de dois terços do mundo. A história de Dan Abnett mostra Arthur Curry após o pedido de casamento a Mera, usando a tradição dos homens da superfície e a figura heroica como uma ameaça para os homens comuns, fato alardeado, inclusive pela imprensa especializada, como uma espécie de terrorista, o que garante um tom adulto à trama, ainda que moderado.

    Prós: A revista não perde tempo com enrolações, ao contrário, a ação inicial é desenfreada e fortificada pela bela arte de Scott Eaton e Oscar Jiménez, trazendo à tona parte dos melhores momentos de Liga da Justiça: Guerra.

    Contras: Assim como Superman, é necessário um pouco mais de contexto para entender o mote da história, ainda que a introdução à catástrofe de 2013 seja melhor explicitada neste do que na revista do Super. Outro problema é a tentativa de fazer humor, não exitosa como o arco de Johns e Reis lá atrás.

    Mulher Maravilha - Rebirth

    Mulher-Maravilha – Renascimento #01

    Mais uma vez coube à amazona de Themyscira a incumbência de ter em seu argumento o melhor dos artistas da editora. Nos Novos 52 foi Brian Azzarello, e nesta versão, Greg Rucka, que faz outra vez uma reimaginação da origem de Diana, resgatando o romance de Hipólita antes do nascimento de sua herdeira. Mathew Clark traz em sua arte um uniforme mais clássico, bastante parecido com o traje que George Pérez idealizou, passando também pelo utilizado por Gal Gadot em Batman vs Superman: A Origem da Justiça. A história é direta e repleta de ação, e em seus easter eggs promete ser divertido acompanhar as publicações.

    Prós: Mulher-Maravilha é uma personagem inteligente e sagaz, fator comumente esquecido pelos escritores, e na revista ela chega a conclusões brilhantes sobre o mote do mega evento, com uma clarividência até inédita para os padrões desses arcos. A conclusão à qual ela chega não é acompanhada da ajuda de nenhum personagem externo, e, assim que percebe isso, Diana muda de postura e passa por fortes lutas em ambiente olímpico, fato que reata suas origens aos mitos gregos.

    Contras: O visual planejado pela equipe criativa de Azzarello era funcional e abraçava a ideia de leitoras mais atentas a temas feministas, uma vez que Diana Prince era bem menos fetichizada do que o tradicional registro da heroína, e isso não se repete nesta edição, com a exclusão de suas calças compridas.

    DC Rebirth Flash

    Flash – Renascimento #01

    Novamente começando sob uma premissa policial, parecida com as séries televisivas que mostram cenas de crime, Flash é escrito por Joshua Williamson com uma pegada mais adulta e violenta, em um contraponto que faz equilibrar e harmonizar o escapismo heroico resgatado em uma aura mais madura. Este é um título enigmático que promete grandes mudanças, possivelmente com o retorno do Barry Allen, clássico mega poderoso, apesar de não ter sido permitido ao roteirista falar muito sobre sua revista. Ao final da publicação, permanece um clima profético, parecendo que a origem do problema recairá sobre esse número, como ocorreu com Flashpoint.

    Prós: Desenhada por Carmine di Giandomenico, a edição é bem interessante e ácida, com uma arte fluida e interessante narrativamente. O desenhista consegue emular estilos bem diferentes e todos de maneira bem competente. Outro fator excepcional é a ligação afetiva bem elaborada entre Wally e Barry, fazendo lembrar uma remontagem da Era de Prata ainda mais interessante.

    Contras: A ausência de respostas incomoda um pouco, e a aparição dos elementos ligados ao Comediante em Watchmen também faz irritar pela insistência em um argumento que dificilmente não soará pueril e ofensivo para os fãs de Moore, além de ajudar a fortalecer o conceito de que a DC tenta se vingar do escritor.

    Titans - Rebirth

    Titãs – Renascimento #01

    Também narrada por Wally West, a história começa com uma lembrança da Turma Titã e da evolução do grupo pairando sobre o presente, em que o herói esquecido muda de uniforme, retornando ao vermelho para obter contato com seu antigo amigo, Asa Noturna (Dick Grayson). Com texto de Dan Abnett e arte de Bret Booth, Titãs também tem em seu cerne o resgate às origens .

    Prós: Apesar do começo em meio às catástrofes, o desfecho é bem otimista para West, que finalmente retoma suas antigas parcerias e seu lugar de direito junto aos antigos sidekicks, para construir a partir dali uma relação mais sólida.

    Contras: com toda a confusão envolvendo os membros dos Titãs originais nos últimos tempos, é bem difícil tratar de Donna Troy, Roy Harper, Dick Grayson, Garth (Tempest) e Lilith. Este número não é diferente, e trabalha tudo de forma “zerada”, sem muitas explicações por parte de Abnett

    Conclusão:

    O lançamento das edições até aqui é bastante conservador, visando agradar tanto ao publico mais antigo – ávido pelo retorno de uma era heroica mais clássica –  quanto aos vendedores consignados, apelando para os clichês mais populares. As equipes criativas não são lotadas de medalhões até o momento, e há uma preocupação em não ousar tanto, apostando em um feijão com arroz bem medroso, abusando do “mais do mesmo”.

    Rebirth ainda se desenrolará, mas seu primeiros momentos já reúnem alguns bons argumentos. Porém, ainda engatinha em sua fórmula, causando no leitor a mesma sensação de bom começo em grandes sagas anteriores, mas que não necessariamente terminaram bem.

  • Melhores Leituras de 2015

    Melhores Leituras de 2015

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    Devido ao maior tempo dedicado a uma leitura do que assistir a um filme ou a episódios seriados de uma temporada, é natural que uma lista de Melhores Leituras seja um tanto anacrônica aos lançamentos. A isso soma-se o fato de que, ao encerrar 2014, planejei a leitura de alguns autores que desejava conhecer ou me aprofundar em suas obras, e assim chegamos às edições selecionadas abaixo como as melhores leituras do ano passado.

    Como não havia número suficiente para formatar uma única lista de livros, decidi pela abordagem mista ao introduzir e pontuar os bons quadrinhos lidos no ano. Neste aspecto, é evidente que foquei as leituras no eixo tradicional da Marvel/DC Comics, um aspecto que pretendo evitar este ano, realizando a leitura de outras obras mais autorais (possivelmente veremos esse impacto em uma futura lista deste ano, a ser publicada em 2017).

    Explicitando a falta de sincronia com lançamentos e formatos, a lista nem mesmo se ajusta à tradicional recomendação de dez itens selecionados. Mas sim doze obras, seis livros e seis HQs, para que nenhuma das boas leituras ficasse de fora. Algumas dessas indicações também foram analisadas no site logo após a leitura, dessa forma peço desculpas aos leitores por eventuais repetições de abordagem.

    Manual de Pintura e Caligrafia – José Saramago (Companhia das Letras)

    Manual de Pintura e Caligrafia - Saramago

    Narrativa de estreia do lusitano José Saramago – posteriormente, uma obra anterior seria lançada após sua morte – Manual de Pintura e Caligrafia é um vigoroso romance de estreia. O autor inverte a lógica sobre a carreira e descreve sua proposta literária logo no primeiro lançamento, contrariando manuais tradicionais de autores que sempre, em um estágio avançado da carreira, versam sobre o ofício. Misturando duas narrativas, a personagem atravessa a arte da pintura rumo à escrita, uma transição feita pelo próprio autor, transformando esta obra em um misto de metalinguagem e tese literária, ainda que os elementos narrativos que o consagraram ainda não estivessem presentes.

    Demolidor – Fim Dos Dias (Panini Comics)

    Demolidor - Fim dos Dias

    Inserido na série O Fim da Marvel Comics, Fim dos Dias é uma clara homenagem à trajetória do Homem Sem Medo. Sob a batuta de Brian Michael Bendis, a história leva Ben Ulrich a uma última reportagem quando os heróis perderam sua força como defensores. A equipe de primeira linha desenvolve uma história sem igual, simultaneamente apresentando grandes momentos e figuras de Demolidor ao mesmo tempo em que se configura como mais uma grande história de um dos personagens mais coesos do estúdio.

    Romeu e Julieta – William Shakespeare (Saraiva de Bolso, tradução de Bárbara Heliodora)

    Romeu e Julieta - Shakespeare

    Casal mais conhecido da dramaturgia de William Shakespeare, Romeu e Julieta são símbolo de amor universal, representado, transcrito e transformado em um amor perfeito. A peça considerada uma das mais líricas do autor é fundamental para destruir o conceito das personagens através dos tempos, evidenciando que o amor de dois adolescentes termina de maneira trágica devido ao frenesi impulsivo e a imaturidade. Versando com qualidade sobre a agressividade desse amor, o casal permanece no imaginário coletivo em uma bonita história trágica.

    Pantera Negra – Quem é o Pantera Negra? (Salvat / Panini Comics)

    Pantera Negra - John Romita Jr - destaque

    Anterior a modificações estruturais de personagens representativos de uma causa, a Marvel fundamentou, dois anos após a nova lei de direitos civis nos Estados Unidos, um personagem negro com uma bela mitologia. Erigido como um deus no coração de um país futurista na África, local que nunca cedeu a colonizadores, a concepção do Pantera Negra atinge versão definitiva na narrativa de Reginald Hudlin. Retomando conceitos de tradições africanas, T’Challa adquire simultaneamente uma história coesa e uma tradição tribal forte, tornando-se um importante e imponente personagem político no cenário da editora.

    O Silêncio do Túmulo – Arnaldur Indridason (Companhia das Letras)

    O Silêncio do Tumulo - Arnaldur Indridason

    Impressiona que em uma literatura normalmente considerada formulaica como a narrativa policial se possam desenvolver tantos estilos diferentes e histórias genuinamente interessantes a partir de um crime. Arnaldur Indridason compõe sua narrativa a partir de dois focos: a investigação de um esqueleto encontrado nas imediações da Reykjavík, Islândia e uma trama familiar sobre um pai abusivo. O leitor reconhece de imediato que as narrativas iram se entrecruzar e, mesmo enfocando tais tramas de modo diferente, o autor é capaz de mantê-las em um mesmo tom que, quando chega em seu ápice, desvenda o crime e revela um aspecto crítico sobre a condição social e psicológica que fomentou o assassinato. É a partir desta obra que Indridason alcança sua melhor forma.

    Gotham DPGC: No Cumprimento do Dever (Panini Comics)

    Gotham GPGC

    Ed Brubaker e Greg Rucka partiram de uma premissa interessante ao indagar como seria o contingente policial de Gotham City vivendo à sombra do Homem-Morcego. O resultado é uma revista que destaca personagens comuns vivendo em um cotidiano padrão, no qual a figura de Batman é vista com mística, sem explorar a personagem interiormente como em suas revistas mensais. A partir de dramas pessoais em meio a atentados e crimes de grandes vilões e bandidos comuns, a equipe de crimes hediondos de Gotham sobrevive diariamente nesta pesada rotina criminal. Com uma vertente narrativa genuína de histórias policiais, a equipe apresenta uma visão diferente deste universo tão explorado e querido do público.

    Here, There And Everywhere: Minha Vida Gravando os Beatles – Geoff Emerick e Howard Massey (Novo Século)

    Here There Everywhere - Minha vida gravando os beatles

    Na vasta bibliografia sobre The Beatles, dividida entre obras de jornalistas experientes, críticos renomados e personagens que pontualmente passaram pela carreira da banda, a biografia de Geoff Emerick é fundamental como uma figura de autoridade intrinsecamente ligada à banda. Responsável pela formatação da fase mais prolífica da carreira do quarteto, Emerick narra brevemente sua trajetória até conhecer a banda e nos brindar com informações daquilo que fizeram dos Beatles a banda por excelência: sua qualidade musical. Detalhes técnicos, informações e curiosidades são costuradas em uma prosa suave que nos coloca ao lado da intimidade do Fab Four sob a visão daquele que esteve acompanhando a progressão a cada ensaio e moldando o som da banda. A obra é prazerosa e nos aguça a ouvir de maneira diferente a discografia do quarteto.

    Superman – A Queda de Camelot (Panini Comics)

    Superman - A Queda de Camelot

    Publicada simultaneamente a outra grande saga de Superman, O Último Filho, esta Queda de Camelot é um longo épico dividido em duas partes. Conduzida por Kurt Busiek, um dos responsáveis pelas revistas do herói ao lado de Geoff Johns na época pós Crise Infinita no projeto Um Ano Depois. Trabalhando em linhas temporais de passado, presente e futuro, o autor cria uma história provável sobre um futuro apocalíptico ao mesmo tempo em que desenvolve o passado do vilão Arion e as crescentes ameaças do presente conhecido. O tamanho da série cria uma narrativa aventureira cíclica, composta de diversos ganchos e conduzida pela aventura, dando sequência à explícita homenagem a Era de Prata desenvolvida desde o primeiro arco de Um Ano Depois. Se O Último Filho é uma reflexão pretensiosa e fabular sobre passado e descendência, A Queda de Camelot faz da aventura o fio condutor.

    Dragão Vermelho – Thomas Harris (Record)

    Dragão Vermelho - Thomas Harris

    Um dos grandes vilões do cinema, Hannibal Lecter inicia sua trajetória nesta narrativa escrita em 1988. Thomas Harris explora com eficiência a psicologia de seu assassino e compõe um interessante laço entre o investigador Will Graham e o psicanalista canibal, o qual colabora no caso. Em um thriller psicológico aclamado por James Ellroy como um dos grandes livros do gênero, a história é pautada no desenvolvimento do caso e no suspense, demonstrando talento na composição narrativa ao criar densos personagens bizarros, inovando ao introduzir com esmero a mente criminosa em cena. Mais impressionante que esta trama é o fato do autor, após a sequência O Silêncio dos Inocentes, ter produzido duas obras sobre a personagem sem nenhum apelo e vigor equivalentes a esta obra inicial. Mesmo com uma carreira desequilibrada, Dragão Vermelho é uma narrativa impecável.

    Os Vingadores – O Mundo Dos Vingadores (Panini Comics)

    Vingadores - n 1 - Avengers World

    Responsável por assumir duas revistas dos Vingadores após oito anos sob comando de Brian Michael Bendis, Jonathan Hickman iniciava um novo ponto de partida para os Heróis Mais Poderosos da Terra, reconfigurando a equipe em sintonia com o novo processo editorial intitulado Nova Marvel. O Mundo dos Vingadores alinha novos e antigos personagens em uma renovada formação da equipe, ao mesmo tempo em que introduz novos vilões que seriam fundamentais para futuras sagas da editora. Sem medo da sombra do sucesso da passagem de Bendis, o arco é simultaneamente uma boa história como também funciona como um início para novos leitores.

    A Ditadura Envergonhada – Elio Gaspari (Intrínseca)

    Ditadura Envergonhada - Elio Gaspari

    Com intensa pesquisa em fontes diversas e uma prosa ensaística de primeira qualidade, Elio Gaspari produz uma das obras definitivas sobre a ditadura militar brasileira. Indo além da formalidade dos fatos, o autor insere um estilo narrativo próprio que aviva a época e os dramas dos conflitos vividos e seus delicados detalhes. Traçando um panorama da sociedade, observando tanto o movimento militar como os levantes contra o golpe, este é o primeiro volume de uma vasta obra sobre o período que, ainda este ano, ganha o último e definitivo desfecho.

    Batman: Cidade Castigada (Panini Comics)

    Batman - Cidade Castigada

    A saga Silêncio, anterior a Cidade Castigada, talvez tenha eclipsado a atenção voltada a esta história escrita por dois grandes parceiros: Brian Azzarello e Eduardo Risso. Se a anterior pretendia ser um grande épico em doze partes, apresentando diversões heróis e a galeria de vilões do Morcego, Cidade Castigada enfoca o Batman investigador em uma história mais eficiente e coesa que a de Jim Lee e Jeph Loeb. Gotham adquire contornos noir entre poesia e corrupção enquanto o roteiro foge de uma tradicional narrativa feita pelo morcego, acrescentando tanto uma reflexão erudita sobre a cidade quanto ampliando a limitação física do herói, sem contar uma improvável cena em que Bruce Wayne faz seu próprio jantar, desmitificando, com certo humor sem perder o tom sério da narrativa, os fatos cotidianos que o personagem, como um reflexo de um ser humano normal, executa todos os dias.

    Cidades de Papel - John GreenMenção Honrosa: Cidades de Papel – John Green. Considerando o público-alvo de sua narrativa, Green surpreende com uma história pontual sobre a transição entre a adolescência e o mundo adulto e uma percepção madura de um grupo de amigos. Um romance de formação que tem potencial para se tornar significativo no crescimento do leitor jovem.

  • Resenha | Batman: Terra Um – Volume 2

    Resenha | Batman: Terra Um – Volume 2

    Batman - Terra Um - Volume 2 - capa

    O sucesso do primeiro volume de Terra Um de Superman e, posteriormente, Batman, promoveu continuações para esta nova cronologia. História ainda inédita no país, com lançamento futuro pela Panini Comics, Batman: Terra Um – Volume 2 dá continuidade aos acontecimentos vistos no primeiro volume, uma reinvenção de Geoff Johns equilibrando 75 anos de narrativas do Morcego através de uma visão própria.

    Apoiado em um conceito mais realista, o roteirista explora um Bruce Wayne diferente. Como esta realidade é uma versão dentre os Multiversos da DC Comics, é interessante como esta trama, que se passa nos primórdios da carreira de Batman, se difere do canônico Batman – Ano Um de Frank Miller. Wayne é bem-sucedido somente em seu treinamento físico, faltando-lhe ainda técnica nas artes marciais e estratégia para abordar bandidos e investigar cenas do crime. Um espaço que permite maior presença de Alfred em cada incursão, como um guia que permanece na caverna dando-lhe apoio tático. Reconhecendo também sua ineficiência como detetive, a personagem pede ajuda a Gordon. Aspectos que diferem do Batman composto quase como um homem perfeito, dono de uma sabedoria e de um estudo quase infinito. O morcego se mostra motivado por sua missão, mas ainda limitado nas técnicas.

    Batman - Terra Um Volume 2

    Neste encadernado, dois movimentos conduzem a trama: surge em cena um novo personagem causando atentados em Gotham, sempre deixando uma charada no local, e a presença da família Harvey, representada pelo conhecido promotor distrital, Harvey Dent, e sua contra-parte, a irmã gêmea prefeita da cidade, formando uma dupla que deseja diminuir a criminalidade no município. Como Johns seleciona momentos específicos da mitologia do herói para sua trama, modificações estruturais podem ser inseridas para diferenciar-se das histórias tradicionais do Batman. Projetando uma série de referências para os leitores que conhecem tais histórias irem reconhecendo as fontes escolhidas para sua releitura. Os vilões que surgem parecem impressionar o Morcego, como se ele não estivesse totalmente preparado para personagens específicos focados em causar o caos. Um fator que promove maior insegurança para o Maior Detetive do Mundo.

    Os desenhos de Gary Frank se destacam como na edição anterior, tanto no uso de cores bem equilibradas em cada cena, como nas sequências de luta, compostas com cuidado para que se compreenda cada movimento e também seja perceptível o quanto o repertório de Batman como um lutador ainda é limitado com os mesmos truques de sempre, evidenciando que o herói ainda precisa de maior treinamento com Alfred.

    Sem a necessidade de fundamentar a origem como primeiro volume, a trama flui com melhor qualidade, apresentando novas personagens que terão maior participação em outros encadernados. Esta nova linha narrativa parece feita para leitores tradicionais e não necessariamente um novo público. Afinal, os leitores habituais reconheceram o rearranjo de Johns diante da mitologia para compor uma jornada diferente daquela que acompanhamos em diversas revistas, e parte do brilho da trama é a observação de que as próprias histórias da personagem são reinventadas em uma linha estrutural diferente, bem como em seu formato físico, com edições contendo uma história completa, e formato especial em capa dura (posteriormente, foram lançadas no exterior versões paperback em capa mole).

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  • Crítica | Liga da Justiça: Guerra

    Crítica | Liga da Justiça: Guerra

    leaguejustice

    Iniciando o reboot das animações do DCAU (DC Animated Universe), Liga da Justiça: Guerra adapta o primeiro arco de histórias de Geoff Johns à frente do título dos Novos 52. O início, introduzindo Batman – até então uma lenda urbana – e o Lanterna Verde (Hal Jordan) mostra uma das primeiras ações conjuntas dos heróis mascarados, ainda bastante desentrosados. A cena em si pouco inspira entusiasmo e quase não diz nada ao espectador.

    A personalidade dos vigilantes é fraca, sua constituição é vazia e não permite nuances, é quase como se o poder fosse a personalidade deles. Quase não há variações e o nível de ação sem propósito é grande, no sentido de não explorar grandes motivações. O erro seria até perdoável, caso as cenas de ação fossem bem feitas e plásticas, mas isso não ocorre com frequência. As animações da DC jamais foram um primor quanto ao roteiro, mas sempre foram redondas, algumas vezes até se saindo melhor que as sagas originais, vide Liga da Jusiça: A Legião do Mal por exemplo. Este sucesso não se repete nesta obra.

    O foco maior das ações dos seres superpoderosos é em atos isolados dos feitos dantescos, quebrados no máximo por ações em dupla com outros vigilantes coloridos. O quadro muda decorridos 60 minutos de exibição, especialmente com a presença do opositor, o soberano de Apokolips: Darkseid. O ruim é que o excessivo tempo gasto em piadas desvirtua a atenção do público, e a falta de exploração dos dramas dos personagens causa uma total falta de empatia por seus caracteres.

    A equipe de dublagem não é ruim, mas está muito aquém dos antigos castings de Andrea Romano. Vozes como as de Kevin Conroy, Tim Daly, Michael Ironside e tantos outros fazem uma falta considerável, visto que estes encarnaram os heróis mais famosos dos comics por muitos anos. Outro inconveniente é o opositor. Antes retratado como um inimigo imponente de discurso orgulhoso e bravo, é mostrado como uma ameaça física unicamente, se importar com si é praticamente impossível pois sua faceta não tem o mínimo apelo ou carisma.

    Justice League War inicia mal a nova seara de animações da DC Comics. Tem um caráter ordinário, falha em produzir algo novo, em rememorar os bons momentos da editora e tampouco revitaliza o tema de modo competente. Jay Oliva traz uma fita insossa e apática, muito inferior a sua anterior, Liga da Justiça: Ponto de Ignição mesmo quando apela para a violência pueril e tudo isso é ainda mais lamentável quando percebe-se que acabaram com a equipe criativa antiga para trazer isso à tona. A cena pós créditos dá um gancho para continuações vindouras, mas é tão gratuito que mal justifica a menção.