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  • Resenha | Shazam!: O Poder da Esperança

    Resenha | Shazam!: O Poder da Esperança

    A Humanidade trava uma eterna guerra contras as forças soturnas que almejam destruí-la. Durante milhares de anos, empreguei os poderes de deuses e heróis ancestrais na luta pela virtude. Porém, quando meu tempo no plano mortal tornou-se escasso, procurei um novo campeão para me substituir.

    O monólogo de Paul Dini no início de Shazam! – O Poder da Esperança resume maravilhosamente bem a busca do mago por um campeão. A arte de Alex Ross torna angustiante a vida do órfão Billy Batson, ainda que brevemente, e dá um tom poético, tornando grandiosos os feitos do personagem mágico. Além disso, ele é tratado como onipresente, já que salva muitas vezes o dia em lugares diferentes, desde momentos mais simples até os mais complexos.

    Billy é um radialista, repórter da Radio Whizz em referência a uma das revistas que compilavam as histórias clássicas do personagem (Whizz Comics), e seu dia-a-dia é bem mostrado aqui, variando entre os momentos como civil e super-herói, e nessa dicotomia, se brinca com a situação de onipotência do Capitão e as fragilidades de Billy. É engraçado como mesmo não revelando ser uma criança, ele se torna um exemplo para elas. O Capitão visita um hospital infantil, e suas palavras são encorajadoras. É nesse momento que Ross dá sua versão para a Sociedade do Mal, além de alguns robôs de aspecto retrô, lembrando um pouco Metropolis e Gigante de Ferro, referências que situam o leitor no clima original das histórias que C.C. Beck e Bill Parker pensaram nos anos 1930 e 1940.

    Há boas semelhanças com Superman: Paz Na Terra, entre outras coisas, pela grandiosidade dos atos do herói. Por mais que seja forte e poderoso, seu gesto mais notável é o de transportar um médico japonês para operar os olhos da pequena Nádia, uma vez que poucos médicos podem fazer a operação e ela estava frágil demais para viajar. As crianças parecem saber que Shazam é alguém que não esquece como é ser criança.

    Shazam! – O Poder da Esperança é uma das historias mais equilibradas entre as figuras do herói e do pequeno Billy e foi lançada pela Editora Abril em 2001 e republicada numa compilação intitulada Os Maiores Super-Heróis do Mundo, pela Editora Panini, que reuniu outras histórias da dupla Alex Ross e Paul Dini.

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  • Review | Shazam! (The Kid Super Hour With Shazam)

    Review | Shazam! (The Kid Super Hour With Shazam)

    Exibido no canal NBC no ano de 1981, Shazam! era um desenho animado que mostrava a Família Marvel, chamada na versão dublada de “Os Poderosos Marvels”. O desenho passava em um dos blocos do programa de auditório da Filmation, The Kid Super Hour With Shazam, junto a outra série animada chamada Hero High. Aqui no Brasil ele foi distribuído pela Focus Filmes, primeiro na extinta Rede Manchete e depois no SBT. Tal qual outros seriados da Filmation, Shazam! era mal animado, utilizando rotocospia – técnica que desenha em cima de filmagens feita por atores reais – e muita repetição de quadros.

    Na trama, Billy Batson era um repórter que apresentava um programa na TV Whiz, e contava no elenco fixo com sua irmã, Mary, e o jornaleiro, Freddy Freeman, amigo dos dois. Juntos eles formavam a família Marvel. O tom dos episódios era bastante infantil. Em quase todos os doze episódios, os vilões chamam o Capitão de Grande Queijo Vermelho.

    Na abertura dublada se detalha cada um dos poderes do Capitão, mas quando se trata de Mary, só se “nomeia” a letra H, falando que ela tem a beleza de Helena e os demais poderes de deusas cujas iniciais formam Shazam. Isso soa ridículo, mesmo se tratando de um desenho para crianças, nem mesmo Superamigos soava tão bobo, mesmo sendo de décadas antes. O teor do seriado é bastante bobo, com os vilões sabendo a identidade dos Marvels e tendo diálogos bastante expositivos. Na maior parte das vezes a série lembra os antigos cartoons baseados nas histórias da Archie Comics, mas sem o mesmo charme que essas produções possuíam.

    Um dos episódios mais interessantes traz a origem do Adão Negro de Black Adam, explicando um pouco de quem era Tet Adam, discípulo antigo do Mago Shazam e que acabou cinco mil anos aprisionado, no fim do universo e voltou a Terra para ressuscitar sua amada, a princesa Jamai. Anos mais tarde, Paul Dini ficaria famoso por produzir os desenhos animados da DC, com Batman – The Animated Series e seus derivados, mas ele também escreveu alguns roteiros dessa série, curiosamente os que mais se aproximam de não serem medíocres.

    De resto, aparecem outros vilões, os heróis vão até o Rio de Janeiro e cruzam o Brasil como se ele fosse do tamanho de Macaé, e ainda há um crossover com Hero High. Se ao menos tivessem mais orçamento para variar os quadros, certamente Shazam seria melhor. Ainda assim, esta é uma versão bem semelhante aos quadrinhos clássicos, e reúne vários dos elementos que fizeram do personagem algo popular nos anos 40, mas sem revitaliza-lo para épocas mais recentes, como foi com Batman, Superman e outros ícones da cultura pop.

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  • Shazam | As Aparições do Capitão Marvel Original no Audiovisual

    Shazam | As Aparições do Capitão Marvel Original no Audiovisual

    O personagem de C.C. Beck e Bill Parker publicado nas páginas da Fawcett Comics rivalizou demais com o Superman em popularidade, vendeu mais que o Azulão da National Comics (antiga DC Comics) e se tornou um fenômeno de popularidade, e é totalmente natural que ganhasse espaço fora dos quadrinhos. É sobre elas que falaremos agora.

    (leia também nosso artigo Desvendando as Origens do Capitão Marvel Original)

    As Aventuras do Capitão Marvel ou O Homem de Aço (1941)

    Adventures of Captain Marvel foi um seriado de doze capítulos, curiosamente chamado no Brasil de Homem de Aço. Era produzido pela Republic Pictures e teve 12 capítulos. A narrativa era bem fiel as histórias originais e o principal inimigo era um ser mágico chamado Escorpião, que tirava seus poderes de uma estatueta mágica. Tom Tyler vivia o Capitão Marvel, e Frank Coghlan Jr. fazia Billy, que não era uma criança e sim um radialista.

    Shazam (1974)

    Este foi um pouco mais conhecido que o original, teve três temporadas, um total de 28 capítulos e era exibido na rede de televisão CBS. O herói teve dois intérpretes, Jackson Bostwick (17 episódios) e John Davey (11 episódios), mas Billy foi sempre feito por Michael Gray. A principal diferença do programa para os quadrinhos é a inexistência do Mago Shazam. O garoto conversava diretamente com as entidades que lhe conferiam seus poderes. Davey também apareceu em um crossover no seriado Poderosa Ísis, que é de certa forma um spinoff de Shazam, e teve inclusive uma bela audiência, os episódio são Funny Gal (décimo segundo episódio da primeira temporada), Now You See It… e …And Now You Don’t (sexto e sétimo episódio da segunda temporada).

    Legends of Super Heroes (1979)

    Este foi um caso estranho… um programa de auditório comandado por Adam West e Burt Ward como Batman e Robin. Existiam alguns personagens da DC, como Caçadora, Gavião Negro, Lanterna Verde, e também, o Capitão Marvel, interpretado por Garret Graig. O programa era para ser um revival, mas não fez sucesso, tendo só três capítulos, e pudera, já que a qualidade era terrível.

    The Kid Super Power Hour With Shazam (1981)

    O Capitão teve seu próprio programa de auditório da TV dos Estados Unidos, em 1981, produzido no estúdio Filmation, o mesmo de He-Man e She-Ra. Uma parte do show mostrava a série Shazam!, um desenho com 12 episódios. A (des)animação era dublada por Barry Gordon, como Capitão Marvel, e Billy por Burr Middleton. O programa também passava Hero High, um desenho com uma escola de super-heróis.

    Alive (1999)

    No clipe Alive, dos Beastie Boys, o rapper Mike D resolveu homenagear o herói Capitão Marvel. É curioso como mesmo não sendo super popular naquele momento, o personagem estava impresso na cultura pop, e lembrar disso faz também resgatar da memória que Elvis Presley utilizava uma roupa que usava boa parte dos elementos do Capitão Marvel Jr. quando estava já no auge de sua carreira como rei do rock.

    The Drew Carey Show (2001)

    The Drew Carey Show era uma sitcom que foi ao ar na ABC de 13 de setembro de 1995 a 8 de setembro de 2004, ambientada em Cleveland, Ohio, e girava em torno do escritório de varejo e da vida doméstica de Drew Carey, uma versão ficcional do ator. Em 2001, o personagem principal faz um voo (bem mal feito, por sinal, como elemento cômico tipico do seriado) e encontra o Capitão Marvel, vivido por John Valdetero, que era um ator gordinho, tal qual o protagonista. Essa participação é bem curiosa, tal qual a última citada.

    Liga da Justiça Sem Limites (2005) 

    No episódio Clash, de Liga da Justiça Sem Limites, aparece o Capitão Marvel em uma interação bem legal, onde o personagem tem alguns atritos com o Superman – isso se tornou um clichê nas animações da DC Warner, com o personagem quase sempre lutando contra o azulão. Ele é dublado por Jerry O’Connell, que também dublou o Superman em algumas animações, como Liga da Justiça e Jovens Titãs, e fez também Elektron em Justice League Action.

    DC: A Nova Fronteira (2008)

    Como o personagem não teve grande participação na adaptação da revista que resgata os elementos da Era de Prata e que se baseia nos quadrinhos de Darwyn Cooke, o personagem acaba tendo uma pequena ponta sem falas em um dos quadros com outros tantos personagens do universo DC.

    Superman e Batman: Inimigos Públicos (2009)

    Apesar do filme ser sobre Superman e Batman, o Capitão Marvel faz uma aparição para ser um rival físico do Super. Na animação ele é dublado por Corey Burton e a luta entre os dois personagens é bem feita. Um duelo de titãs muito bem encaixado.

    Batman: Os Bravos e Destemidos (2010)

    Este era um desenho animado bem legal, que colocava o Morcego com outros personagens históricos da DC Comics, assim como a premissa da revista homônima que reunia muitos crossovers de personagens da editora. Jeff Bennett faz o Capitão e Tara Strong fazia a voz de Billy. O personagem apareceu em sete episódios da animação.

    Superman/Shazam: O Retorno de Adão Negro (2010)

    Dirigido pelo português Joaquim dos Santos, o curta traz Clark Kent fazendo uma matéria com o pequeno Billy Batson, que é um rapaz abandonado em Fawcett City, e que de repente, se vê em apuros por conta da chegada do Adão Negro, que precisa matá-lo para roubar seus poderes. O filme é direto, divertido e muito bem feito. Os dubladores do protagonista são James Garner (Shazam) e Zach Callison (Billy) e o clima é bem parecido com o que Bruce W. Timm e companhia faziam no Universo DC Animado.

    Young Justice (2011)

    Ainda na primeira temporada, um plot bem interessante envolvendo o personagem e sua participação na Liga da Justiça e a Justiça Jovem. Ele apareceu em seis episódios. Billy era dublado por Robert Ochoa e Shazam por Chad Lowe.

    Ponto de Ignição (2013)

    A saga Ponto de Ignição ou Flashpoint Paradox foi adaptado para um longa-animado, e o Shazam (já era utilizado esse nome) aparece com toda a família reunida, como na imagem acima. Jennifer Hale fazia a voz de Billy (além de também dublar Iris) e o herói era feito por Steve Blum, que na verdade, faz o Capitão Trovão, que tem uma luta voraz com a Mulher-Maravilha.

    Liga da Justiça: Guerra (2014)

    Outra adaptação de arco dos Novos 52, Liga da Justiça: Guerra mostra uma das primeiras histórias da Liga de Geoff Johns, e curiosamente, introduz o Shazam como nas histórias backups que o próprio Johns escreveu, ainda utilizando o capuz no personagem. Sean Astin (o Sam, de Senhor dos Anéis) faz Shazam e Zach Callison dubla Billy Batson.

    DC Nation Shorts (2014)

    Em 2011, a Cartoon Network produziu alguns curtas da DC, com seus personagens clássicos em versões miniaturizadas e mega infantis. O episódio do Shazam foi exibido em 2014 e foi um dos melhor encaixados dada o clima ultra escapista do personagem nos quadrinhos. Tara Strong fez de novo a voz de Billy e Shazam foi dublado por David Kaye.

    Liga da Justiça: Trono de Atlantis (2015)

    No longa que adapta histórias do Aquaman e da Liga, Shazam tem uma participação pequena, quase sem ação, onde ele basicamente gasta um bom tempo conversando com o Cyborg. Incrivelmente com tantos longas animados da DC/Warner, ainda não houve um em que o herói tenha algum destaque ou protagonismo, ao contrário, só o curta do DC Showcase tem esse caráter e ele ainda divide o heroísmo com o Superman. Mais uma vez Astin dubla o personagem.

    Justice League Action (2016)

    O novo desenho da Liga traz os personagens em um traço mais minimalista, e o Shazam funciona bem com o estilo, em atenção as revistas clássicas da época da Fawcett. Astin faz a voz do herói novamente, e o clima mais juvenil da série combinaria bastante com o personagem, que foi de certa forma sub-utilizado, o que é uma pena, pois no pouco que apareceu, funcionou muito bem.

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  • Shazam | Desvendando as Origens do Capitão Marvel Original

    Shazam | Desvendando as Origens do Capitão Marvel Original

    Quando Billy Batson encontrou o mago Shazam, após perseguir um homem misterioso no metrô, encontrando-se  rumo à Pedra de Eternidade, nem a Editora Fawcett e nem seus criadores C.C. Beck e Bill Parker imaginavam o rebuliço que Capitão Marvel faria na cultura pop e no consumo de revistas em quadrinhos. Shazam se tornava um fenômeno, marcando tanto o nome da revista do herói e seu mentor, como recentemente se tornou o nome do personagem, reunindo um conjunto de poderes singulares: Salomão, a força de Hércules, o vigor de Atlas, o poder de Zeus, a coragem de Aquiles e a velocidade de Mercúrio.

    Mais do que o apego a mitos e a magia, havia uma ligação diferente do personagem com o público por Billy Batson, sua contraparte, ser uma criança. Um feito realizado muito antes do adventos dos sidekicks como Robin ou dos personagens humanizados na Marvel de Stan Lee. Lançado em 1940 (na verdade em 1939, dado o atraso comum a essas publicações, ou seja, o herói completa 80 anos) o personagem símbolo da Fawcett teve sua vida útil abreviada em 1953, após uma série de brigas jurídicas com a Nacional Comics (antiga alcunha da DC Comics) que usava sua força e dinheiro para mover um processo por plágio, acusando o estúdio de realizar uma cópia do Superman. Todo o imbróglio aconteceu pelo sucesso do herói, pois, Marvel era mais popular, ganhando até mesmo uma produção em live action antes do Azulão, enquanto as vendas continuavam em alta.

    Em 1942, nascia o conceito da Família Marvel, que na época só com Mary Marvel, irmã gêmea de Billy, e o Capitão Marvel Jr., que invocava o nome Capitão Marvel e ganhava poderes. Este último era tão popular que inspirou boa parte do visual do rei do rock, Elvis Presley. Mary foi uma das primeiras personagens femininas heroicas, antes de Supergirl, e só um ano mais velha que a Mulher Maravilha. Além dessa composição, a família teve outras encarnações, como os Tenentes Marvel, e a participação do bonachão tio Dudley, da California, que  fingia ter poderes e usava um roupa igual a do Capitão.

    Sobre o personagem no Brasil, pelos anos de 1950, a revista Shazam, composta por uma antologia de historias antigas, tinha em seu mix Capitão Marvel e, pasmem, Namor. Depois, a edição se fundiu com a Revista Biriba e. a partir de entãoa, lançada com o nome (terrível, por sinal) de Biriba Shazam, reunindo historias da Jane das Selvas e outros personagens. Estranhamente não havia histórias do Capitão Marvel, essas estavam na Marvel Magazine, também publicada pela RGE (antigo nome da Editora Globo de Roberto Marinho). Na época, o nome do empresário era tão forte que sustentava as duas publicações em banca.

    Por ironia do destino foi a DC que relançou, em 1972, historias licenciadas do personagem, ainda sem propriedade intelectual. O personagem havia parado no tempo, tal qual Capitão America de Jack Apenas em 1991 a empresa teve os direitos do personagem, fato que explica a ausência de uma revista própria, ainda que os motivos para a baixa de sua popularidade sejam discutíveis até hoje. Como é natural nos quadrinhos, diversas histórias foram lançadas como base para uma nova cronologia. Analisamos algumas dessas histórias de origem do personagem e suas reformulações.

    The New Beginning, de Roy Thomas

    Minissérie de origem do Capitão Marvel, escrita por Roy Thomas e desenhada por Tom Mandrake, Shazam! The New Beginning jamais foi publicada no Brasil. Trata-se da primeira reformulação do personagem pós Crise. Os principais destaques da publicação são a presença de Doutor Silvana (ou Sivana, no original) tanto como vilão, como tio de Billy, fazendo com que o garoto procure uma família. Esse conceito é bem mal explorado, hiper dramático, mas ao menos alude aos hieróglifos como vínculo mágico e mitológico da origem do Capitão.

    Billy se transforma na frente de Silvana em uma referência a Era de Ouro, em que o vilão descobre sua identidade. Fora isso, é difícil falar desta origem por conta da dificuldade de acha-la (somente em edições gringas, tanto soltas como na edição de 30 anos), além de ter uma arte um pouco peculiar de Mandrake, em alguns momentos, bem feia.

    O Poder de Shazam, de Jerry Ordway

    Publicado em 1994 (1996 no Brasil), O Poder de Shazam é uma revista bem legal, de temática leve e divertida.  Escrita e desenha por Jerry Ordway (que arte finalizou  com George Perez em Crise nas Infinitas Terras e também acumulou função de texto e arte de Superman entre 1986 e 1989, além de ser um dos artistas por trás de Zero Hora). A história tem pouco menos que 100 páginas e começa no Egito com uma equipe de arqueologia.  Aqui há um elemento um polêmico, envolvendo o passado do Senhor Batson, o pai de Billy, com o Silvana e com o outro arqui rival do Capitão Marvel, Adão Negro, colocando o vilão na escavação do pai para, em seguida matá-lo, em ação semelhante a que Tim Burton fez em seu Batman, pegando algumas das coincidências de New Beginning.

    Tirando essa estranheza, a historia é bem legal. O traço de Ordway combina com o clima de aventura super otimista  do herói. Billy é mostrado como um menino pobre e necessitado que vende jornais nos sinais de transito. Ao ser encontrado por uma figura misteriosa, passa por uma caverna, onde há estatuas dos inimigos mortais do homem: Orgulho, Inveja, Cobiça, Ódio, Egoísmo, Preguiça, Injustiça, resgatando visualmente o que os criadores fizeram e lançando moda, pois quase toda origem repetiria esses conceitos.

    Um fato interessante e inesperado na historia, é que Billy ao  ganhar os poderes fica ressabiado e nervoso, não aceita a “dádiva” como algo bom, por não ter estrutura enquanto criança para lidar com tamanho poder e conhecimento, afinal a mudança é radical demais e repentina. Mais poder não significa mais equilíbrio emocional.

    Há momentos curiosos, como quando ao pegar um grupo de criminosos ele vira o carro, tal qual a capa clássica de Action Comics em uma piada visual com o Super Homem, bem como com a mania do personagem durante a Era de Ouro de ser o justiceiro dos pobres. O embate entre o heroi e Adão Negro fluí e toda a sequência a partir daí funciona como o regaste da memória do pai de Billy e a definição de Adão como o nêmese de Shazam. A arte de Ordway é uma grande homenagem aos quadrinhos dos anos 40. O sucesso fez com que estivesse a frente do título por um bom tempo.

    Primeiro Trovão e Os Desafios de Shazam, de Judd Winick

    Judd Winick se dedicou a duas histórias com o personagem entre 2006 e 2007. Na primeira, chamada Superman e Shazam: Primeiro Trovão, com arte de Josh Middleton, a narrativa parte do principio que  Superman e Batman acabaram de começar a nova era heroica enquanto o Capitão Marvel realiza suas primeiras ações, Acompanhado por seu mentor, o Mago Shazam. Para muitos esse é o equivalente ao Ano Um do personagem.  Apesar de não ser exatamente uma origem, os elementos clássicos do personagem estão lá: o clima dos anos 40, o escapismo e o traço de Middleton, mesmo sem ser primoroso, tem um ar de coisa antiga. Seu Capitão Marvel parece mesmo uma criança em tamanho grande. O contraponto entre o Capitão e o Superman é gritante e a dinâmica de herói novato e o veterano funciona bem.

    Silvana é um magnata poderoso e chefe de uma corporação maligna e criminosa. O Capitão se  descontrola e quase mata o capanga que disparou um tiro contra seu amigo, o pequeno Scott. É natural que aja assim, pois é uma criança para todos os efeitos, sem um código ético definido. O paradoxo é curioso. Marvel quase mata o vilão para evitar que ele assassine mais pessoas. Porém, sem coragem de dar cabo dele, decide se isolar no Everest, onde Superman o encontra. Nesse momento, acontece algo bem incomum: uma reclamação do kriptoniano com o Mago, por ter escolhido um menino para usar seu manto, dizendo que as atribuições de salvar as pessoas não deveriam ser destinadas a uma criança. Afinal, o peso do mundo não é compatível com seus ombros. É incrível como se demorou tanto a ter essa reflexão nos quadrinhos, e essa conclusão surgir do Super faz todo sentido, pois, seu destino inicial como salvador também era assim.

    A segunda história do roteirista foi uma minissérie em 12 edições, Os Desafios de Shazam, com arte de Howard Porter. A trama é polêmica por substituir Billy como herói, mas foi importante pra a cronologia do personagem. Porém, ao meu ver, o fato mais polêmica está em sua qualidade. A arte é estranha, com uma coloração que emula aquarela mas que parece feia. Além disso, a série tentou ser ambiciosa ao reorganizar a face página do Universo DC pós Crise Infinita. Com direito a presença de outros personagens mágicos, como Zatanna, mas que não tem nenhuma importância à trama.

    Na história, o Mago morre e o Capitão assume seu lugar e convoca Freddy Freeman, (Capitão Marvel Jr.) para ser o herdeiro do manto, tornando-se o novo Shazam. Alcunha utilizada para evitar problemas judiciais com a Marvel que se apossou do nome do personagem enquanto ele estava no limbo de publicações. O grande problema é o descarte de personagens clássicos como Mary Marvel, mostrada como deficiente, para deixar o caminho livre para Freddy. A série é prolixa, mastiga demais o universo mágico, e mesmo que tenha conceitos legais como o herói de legado (com uma década de atraso, diga-se de passagem), e a busca pelos paralelos dos personagens míticos do nome SHAZAM, não é o suficiente para salvar a publicação. A arte nas ultimas edições é assinada por Mauco Cascioli mas só melhora o quadro ligeiramente, pois as cores seguem terríveis. Na narrativa não há melhora, seguindo atrapalhada até o final com uma vilã que lembra o Adão Negro (Sabina), mas que não tem o mesmo peso, além da participação da Liga da Justiça de uma forma Deus Ex Machina. Neste ponto, Primeiro Trovão é bem mais reverencial.

    A Sociedade dos Monstros, de Jeff Smith

    O criador de Bone escreveu em 2007 Shazam! E a Sociedade dos Monstros, uma revista que equilibra um pouco de caráter autoral com apego a cronologia. Nela, Billy é um menino bem pequeno, abandonado, que sofre perseguição. O tom do quadrinho é bem infantil e fofo. Lembra em alguns momentos O Poder de Shazam de Ordway, mas tem sua própria identidade, especialmente visual, em muito tempo não havia historia cujo contraponto de Billy e Capitão são igualmente especiais e importantes.

    A figura de Marvel/Shazam é carismática, em especial por conta de detalhes pequenos, como seu gosto por hot dogs e seus inimigos, monstros animalescos comandados pelo Senhor Cérebro, um vilão clássico da época da Fawcett Comics. Além disso, o gibi contrapõe o desprezo de todos ao Billy, por ele ser um menino em situação de rua, e traz uma repaginação da sua irmã Mary e do  senhor Malhado tão legais quanto a versão de Billy. O clima da revista é bem fantasioso, infantil, mas também é sério quando precisa, e principalmente, lisérgico quando é mostrado Sr. Cérebro em ação.

    É engraçado como o Silvana de Smith lembra levemente a figura física de Robert Crumb, ainda que ele seja careca enquanto o quadrinista anarquista não seja. Também é legal que os antagonistas sejam mais pueris, em uma versão parecida com a dos desenhos do Super Homem dos irmãos Fleischer e dos quadrinhos pulp. O final da revista é otimista e combina demais com a docilidade de seu autor que ainda repagina Shazam também em um tamanho gigante emulando os tokusatsus.

    Com Uma Palavra Mágica, de Geoff Johns

    A versão de Geoff Johns e Gary Frank foi introduzida nos backups da revista da Liga e tem como principal diferença o fato de Billy ser um adolescente problemático, em sintonia com um rapaz sozinho vivendo a puberdade. As primeiras aparições são bem curtas, fundamentando a origem do personagem em paralelo a acontecimentos da fase Novos 52, reciclando conceitos de um jeito que o roteirista é especialista. A trama começa de maneira despretensiosa, apresentando a procura do Mago por um hospedeiro de seus poderes, encontrando no jovem disperso seu representante. Ao ser adotado pela família Vasquez, Billy encontra uma nova família e, aos poucos, afeiçoa-se a eles.

    O Doutor Silvana é um estudioso obcecado nas lendas antigas, reprisando de certa forma o que o autor fez com seu Lex Luthor em Superman: Origens Secretas, substituindo a questão de Kripton pelo Adão Negro. A forma como se lida com a família Marvel é bem legal, expandindo-se a mitologia, a partir de Freddy Freeman. Além disso, é mostrado também o tigre Tawny como uma das poucas lembranças dos pais de Billy. Apesar de demorar a engrenar, a ação da revista é bem fundamentada, não é extraordinária, mas repagina bem a maior parte dos conceitos, seja com o Mago, com os vilões, a questão do Relâmpago Vivo.  O momento em que Billy e Freddy lidam com os poderes no começo é interessante, e a motivação do Adão Negro também é bem construída.  Esta deve ser a origem que ganhará destaque no roteiro de Henry Gayden no filme de David F. Sandberg. Momentos vistos no trailer como a sobrecarga de materiais com eletricidade ou a recompensa de muitos doces por salvar um lojista de um assalto vieram direto dessa aventura e, como outros filmes da Dc Comics já se pautaram na fase Novos 52, é natural que esta trama sirva de nova versão do herói, por estar mais alinhada com o cânone atual.

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