Tag: Jerry Ordway

  • Resenha | Zero Hora: Crise no tempo

    Resenha | Zero Hora: Crise no tempo

    Quando comecei a ler quadrinhos da DC Comics, lá pelos idos de 1994, uma das primeiras coisas que eu deveria saber era que uma tal Crise nas Infinitas Terras tinha acontecido. Um evento cósmico catastrófico que destruiu o Multiverso e reiniciou a cronologia dos super-heróis do zero. Como eu era uma criança de onze anos, achei o máximo! Não precisaria me importar com histórias de 50 anos atrás, tinha pouca coisa pra eu absorver. Então, quando Zero Hora – Crise no tempo foi anunciada, claro que fiquei bastante empolgado! Eu poderia acompanhar um evento parecido com a Crise, mas não em reedições ou por revistas velhas em sebos, e sim durante seu lançamento! A expectativa era grande!

    Zero Hora foi lançada pela editora Abril Jovem em cinco edições com numeração retroativa (começando no nº4 e terminando no zero) entre agosto e outubro de 1996. Além dessas edições, todas as revistas da casa tinham interligação com a trama principal (os chamados tie-ins), o que dava um sabor a mais no desenrolar do evento na época. A promessa era de que Zero Hora iria revolucionar a cronologia da DC da mesma forma que a Crise tinha feito. Olhando hoje em retrospecto, foi só decepção…

    A história de Zero Hora é bastante confusa. Começa com um vilão misterioso matando o Senhor do Tempo em um futuro distante. O vilão afirma ter poder para destruir o tempo e controlar a entropia e “endireitar as coisas”. Quem acompanhou as revistas mensais da época tinha visto o surgimento do vilão Extemporâneo, uma evolução do ex-herói Rapina, o Monarca de Armageddon 2001. Nos editorais, dizia-se que o vilão de Zero Hora seria um ex-herói, então fazia todo sentido imaginar que fosse o Extemporâneo. Surpreendentemente, fomos enganados! Extemporâneo estava sendo manipulado por um novo vilão, que se revela na penúltima edição. Até a grande revelação, a história é bastante confusa, com versões dos heróis de linhas do tempo diferente aparecendo e interagindo com suas versões da época. A linha do tempo estava sendo apagada com energia cronal (seja lá o que isso for), e todas essas versões dos personagens corriam o risco de desaparecer para sempre — algo muito parecido com as infinitas Terras da Crise original.

    Durante a Crise no Tempo, vemos o Flash/Wally West morrer quase da mesma forma que seu tio Barry, só que sem emoção e com fraco desenvolvimento de roteiro. A Sociedade da Justiça da América se desfaz, com vários membros morrendo de velhice, e o Gavião Negro… Ah, cara, melhor nem perguntar! Fizeram uma lambança com o Gavião que não levou a lugar nenhum! O importante é que descobrimos quem é o vilão: Hal Jordan, o ex-Lanterna Verde da Terra, agora assumindo o nome de Parallax. Jordan quer “consertar” o universo, mas para isso ele teria que destruí-lo primeiro. Ao absorver a energia da bateria central de Oa em Crepúsculo Esmeralda, Hal ganhou poderes semelhantes aos de um deus.

    Assim, os heróis da casa se unem pra derrotar o antigo aliado, com a interferência divida do Espectro, e Hal é alvejado no peito por uma flecha de seu melhor amigo, o Arqueiro Verde. Com a ajuda de Metron, Tempus e do Espectro, os heróis viajam no tempo até o Big Bang e assistem à recriação do Universo, seguindo a ordem natural das coisas, com mudanças sutis em alguns pontos. Ao final da história, temos pontos em aberto que levariam às edições mensais, como o destino amargurado de Oliver Queen, a viagem pela Força de Aceleração de Wally West e o novo staus quo do Lanterna Verde/Kyle Rayner.

    A minissérie é praticamente incompreensível sem a leitura dos tie-ins, e as mudanças editoriais que gerou duraram pouco tempo, com exceção da posição de Hal como vilão recorrente nos próximos anos e todo o pano de fundo da Tropa dos Lanternas Verdes (que foi extinta). A arte de Dan Jurgens oscila entre o espetacular e o regular, e vemos claramente a influência do arte-finalista Jerry Ordway nas melhores cenas. Zero hora completa 25 anos de sua publicação original nos EUA e ganha uma republicação pela primeira vez em capa dura no Brasil, mas não envelheceu bem e vale ser lida apenas como registro de uma época.

  • Resenha | Superman 80 Anos: Action Comics Especial

    Resenha | Superman 80 Anos: Action Comics Especial

    Em junho de 2018 a revista norte-americana Action Comics atingiu a incrível marca de mil edições além de completar 80 anos em que o Superman surgiu em suas páginas, já no primeiro número. a DC Comics então a publicou como uma edição especial comemorativa, com mais páginas e histórias que o habitual, com muitas capas variantes feitas por diversos artistas que trabalharam com o personagem ao longo dos anos. Pouco tempo depois, em dezembro do mesmo ano, a Panini lança no Brasil Superman 80 Anos: Action Comics Especial, que seria a versão nacional de Action Comics #1000.

    Em 132 páginas e capa cartão com reserva em verniz, a edição embora histórica não apresenta nada muito importante ou novo. Logo de cara, vemos a republicação da primeira história história do herói, vista em 1938 na lendária Action Comics #1, que é um tanto confusa por começar da metade da história (apenas um ano depois, em Superman #1,  a história seria reeditada de forma correta). A seguir começam as histórias inéditas do volume, sendo a primeira delas escrita e desenhada por Dan Jurgens – veterano do meio que vem trabalhando com o Azulão desde os anos 1990 – e mostra um evento em Metrópolis em homenagem ao Superman. É estranho ver a reação de Clark, que mesmo após tantos anos não se sente confortável nessa situação. Era de se supor que ele já estivesse acostumado e entendesse principalmente o quanto esse reconhecimento é importante para as pessoas de Metrópolis. Jurgens mantém seu belo traço, embora em alguns momentos pareça bastante apressado e cometa alguns deslizes, típico das vezes em que o autor acumula as funções de desenhista e roteirista.

    A terceira história é interessante por se valer de diversos pin-ups de página inteira, retratando diferentes épocas e visões do Superman, para costurar uma história em que Kal-El enfrenta o vilão Vandal Savage através do Hipertempo. Peter J. Tomasi engana bem no fim das contas, e a miscelânea acaba parecendo uma história bem construída, mesmo quando as imagens não conversam entre si e dependem exclusivamente do texto para fazer algum sentido dentro da trama. Mesmo assim, os desenhos de Patrick Gleason são muito bonitos e conseguem emular de forma satisfatória os diferentes períodos que retratou.

    Em seguida temos mais algumas histórias curtas, sendo que uma delas utiliza-se da arte de Curt Swan para uma remontagem inédita. Na história de Loise Simonson e Jerry Ordway temos o exato clima dos anos 1980, na fase logo após a saída de John Byrne do título do personagem. Temos também uma história sobre o carro verde que ilustra a icônica página da primeira edição e algumas histórias mais intimistas, que explora a psiquê do personagem e uma divertida aparição de Sr. Mxyzptlk de Paul Dini e José Luis García-López.

    A parte mais esperada da edição é a estreia de Brian Michael Bendis no roteiro da última história, que pareceu bastante jogada na edição. Começa já no meio e termina antes do fim, mas deixa ao leitor um aperitivo do que há por vir na nova minissérie O Homem de Aço – que seria publicada nas revistas mensais do personagem por aqui.

    Fechando a edição, uma galeria com todas as capas variantes lançadas nos Estados Unidos. Infelizmente, falta material adicional e a revista não parece estar ao alcance da importância da sua marca histórica. A redação brasileira da Panini se limitou a colocar um selo de 80 anos na capa. A edição vale mais pelos pin-ups e fac-símiles das capas do que pelas histórias em si, mas ainda é uma edição histórica que fãs e colecionadores não podem deixar de fora.

    Facebook – Página e Grupo | TwitterInstagram | Spotify.

  • Shazam | Desvendando as Origens do Capitão Marvel Original

    Shazam | Desvendando as Origens do Capitão Marvel Original

    Quando Billy Batson encontrou o mago Shazam, após perseguir um homem misterioso no metrô, encontrando-se  rumo à Pedra de Eternidade, nem a Editora Fawcett e nem seus criadores C.C. Beck e Bill Parker imaginavam o rebuliço que Capitão Marvel faria na cultura pop e no consumo de revistas em quadrinhos. Shazam se tornava um fenômeno, marcando tanto o nome da revista do herói e seu mentor, como recentemente se tornou o nome do personagem, reunindo um conjunto de poderes singulares: Salomão, a força de Hércules, o vigor de Atlas, o poder de Zeus, a coragem de Aquiles e a velocidade de Mercúrio.

    Mais do que o apego a mitos e a magia, havia uma ligação diferente do personagem com o público por Billy Batson, sua contraparte, ser uma criança. Um feito realizado muito antes do adventos dos sidekicks como Robin ou dos personagens humanizados na Marvel de Stan Lee. Lançado em 1940 (na verdade em 1939, dado o atraso comum a essas publicações, ou seja, o herói completa 80 anos) o personagem símbolo da Fawcett teve sua vida útil abreviada em 1953, após uma série de brigas jurídicas com a Nacional Comics (antiga alcunha da DC Comics) que usava sua força e dinheiro para mover um processo por plágio, acusando o estúdio de realizar uma cópia do Superman. Todo o imbróglio aconteceu pelo sucesso do herói, pois, Marvel era mais popular, ganhando até mesmo uma produção em live action antes do Azulão, enquanto as vendas continuavam em alta.

    Em 1942, nascia o conceito da Família Marvel, que na época só com Mary Marvel, irmã gêmea de Billy, e o Capitão Marvel Jr., que invocava o nome Capitão Marvel e ganhava poderes. Este último era tão popular que inspirou boa parte do visual do rei do rock, Elvis Presley. Mary foi uma das primeiras personagens femininas heroicas, antes de Supergirl, e só um ano mais velha que a Mulher Maravilha. Além dessa composição, a família teve outras encarnações, como os Tenentes Marvel, e a participação do bonachão tio Dudley, da California, que  fingia ter poderes e usava um roupa igual a do Capitão.

    Sobre o personagem no Brasil, pelos anos de 1950, a revista Shazam, composta por uma antologia de historias antigas, tinha em seu mix Capitão Marvel e, pasmem, Namor. Depois, a edição se fundiu com a Revista Biriba e. a partir de entãoa, lançada com o nome (terrível, por sinal) de Biriba Shazam, reunindo historias da Jane das Selvas e outros personagens. Estranhamente não havia histórias do Capitão Marvel, essas estavam na Marvel Magazine, também publicada pela RGE (antigo nome da Editora Globo de Roberto Marinho). Na época, o nome do empresário era tão forte que sustentava as duas publicações em banca.

    Por ironia do destino foi a DC que relançou, em 1972, historias licenciadas do personagem, ainda sem propriedade intelectual. O personagem havia parado no tempo, tal qual Capitão America de Jack Apenas em 1991 a empresa teve os direitos do personagem, fato que explica a ausência de uma revista própria, ainda que os motivos para a baixa de sua popularidade sejam discutíveis até hoje. Como é natural nos quadrinhos, diversas histórias foram lançadas como base para uma nova cronologia. Analisamos algumas dessas histórias de origem do personagem e suas reformulações.

    The New Beginning, de Roy Thomas

    Minissérie de origem do Capitão Marvel, escrita por Roy Thomas e desenhada por Tom Mandrake, Shazam! The New Beginning jamais foi publicada no Brasil. Trata-se da primeira reformulação do personagem pós Crise. Os principais destaques da publicação são a presença de Doutor Silvana (ou Sivana, no original) tanto como vilão, como tio de Billy, fazendo com que o garoto procure uma família. Esse conceito é bem mal explorado, hiper dramático, mas ao menos alude aos hieróglifos como vínculo mágico e mitológico da origem do Capitão.

    Billy se transforma na frente de Silvana em uma referência a Era de Ouro, em que o vilão descobre sua identidade. Fora isso, é difícil falar desta origem por conta da dificuldade de acha-la (somente em edições gringas, tanto soltas como na edição de 30 anos), além de ter uma arte um pouco peculiar de Mandrake, em alguns momentos, bem feia.

    O Poder de Shazam, de Jerry Ordway

    Publicado em 1994 (1996 no Brasil), O Poder de Shazam é uma revista bem legal, de temática leve e divertida.  Escrita e desenha por Jerry Ordway (que arte finalizou  com George Perez em Crise nas Infinitas Terras e também acumulou função de texto e arte de Superman entre 1986 e 1989, além de ser um dos artistas por trás de Zero Hora). A história tem pouco menos que 100 páginas e começa no Egito com uma equipe de arqueologia.  Aqui há um elemento um polêmico, envolvendo o passado do Senhor Batson, o pai de Billy, com o Silvana e com o outro arqui rival do Capitão Marvel, Adão Negro, colocando o vilão na escavação do pai para, em seguida matá-lo, em ação semelhante a que Tim Burton fez em seu Batman, pegando algumas das coincidências de New Beginning.

    Tirando essa estranheza, a historia é bem legal. O traço de Ordway combina com o clima de aventura super otimista  do herói. Billy é mostrado como um menino pobre e necessitado que vende jornais nos sinais de transito. Ao ser encontrado por uma figura misteriosa, passa por uma caverna, onde há estatuas dos inimigos mortais do homem: Orgulho, Inveja, Cobiça, Ódio, Egoísmo, Preguiça, Injustiça, resgatando visualmente o que os criadores fizeram e lançando moda, pois quase toda origem repetiria esses conceitos.

    Um fato interessante e inesperado na historia, é que Billy ao  ganhar os poderes fica ressabiado e nervoso, não aceita a “dádiva” como algo bom, por não ter estrutura enquanto criança para lidar com tamanho poder e conhecimento, afinal a mudança é radical demais e repentina. Mais poder não significa mais equilíbrio emocional.

    Há momentos curiosos, como quando ao pegar um grupo de criminosos ele vira o carro, tal qual a capa clássica de Action Comics em uma piada visual com o Super Homem, bem como com a mania do personagem durante a Era de Ouro de ser o justiceiro dos pobres. O embate entre o heroi e Adão Negro fluí e toda a sequência a partir daí funciona como o regaste da memória do pai de Billy e a definição de Adão como o nêmese de Shazam. A arte de Ordway é uma grande homenagem aos quadrinhos dos anos 40. O sucesso fez com que estivesse a frente do título por um bom tempo.

    Primeiro Trovão e Os Desafios de Shazam, de Judd Winick

    Judd Winick se dedicou a duas histórias com o personagem entre 2006 e 2007. Na primeira, chamada Superman e Shazam: Primeiro Trovão, com arte de Josh Middleton, a narrativa parte do principio que  Superman e Batman acabaram de começar a nova era heroica enquanto o Capitão Marvel realiza suas primeiras ações, Acompanhado por seu mentor, o Mago Shazam. Para muitos esse é o equivalente ao Ano Um do personagem.  Apesar de não ser exatamente uma origem, os elementos clássicos do personagem estão lá: o clima dos anos 40, o escapismo e o traço de Middleton, mesmo sem ser primoroso, tem um ar de coisa antiga. Seu Capitão Marvel parece mesmo uma criança em tamanho grande. O contraponto entre o Capitão e o Superman é gritante e a dinâmica de herói novato e o veterano funciona bem.

    Silvana é um magnata poderoso e chefe de uma corporação maligna e criminosa. O Capitão se  descontrola e quase mata o capanga que disparou um tiro contra seu amigo, o pequeno Scott. É natural que aja assim, pois é uma criança para todos os efeitos, sem um código ético definido. O paradoxo é curioso. Marvel quase mata o vilão para evitar que ele assassine mais pessoas. Porém, sem coragem de dar cabo dele, decide se isolar no Everest, onde Superman o encontra. Nesse momento, acontece algo bem incomum: uma reclamação do kriptoniano com o Mago, por ter escolhido um menino para usar seu manto, dizendo que as atribuições de salvar as pessoas não deveriam ser destinadas a uma criança. Afinal, o peso do mundo não é compatível com seus ombros. É incrível como se demorou tanto a ter essa reflexão nos quadrinhos, e essa conclusão surgir do Super faz todo sentido, pois, seu destino inicial como salvador também era assim.

    A segunda história do roteirista foi uma minissérie em 12 edições, Os Desafios de Shazam, com arte de Howard Porter. A trama é polêmica por substituir Billy como herói, mas foi importante pra a cronologia do personagem. Porém, ao meu ver, o fato mais polêmica está em sua qualidade. A arte é estranha, com uma coloração que emula aquarela mas que parece feia. Além disso, a série tentou ser ambiciosa ao reorganizar a face página do Universo DC pós Crise Infinita. Com direito a presença de outros personagens mágicos, como Zatanna, mas que não tem nenhuma importância à trama.

    Na história, o Mago morre e o Capitão assume seu lugar e convoca Freddy Freeman, (Capitão Marvel Jr.) para ser o herdeiro do manto, tornando-se o novo Shazam. Alcunha utilizada para evitar problemas judiciais com a Marvel que se apossou do nome do personagem enquanto ele estava no limbo de publicações. O grande problema é o descarte de personagens clássicos como Mary Marvel, mostrada como deficiente, para deixar o caminho livre para Freddy. A série é prolixa, mastiga demais o universo mágico, e mesmo que tenha conceitos legais como o herói de legado (com uma década de atraso, diga-se de passagem), e a busca pelos paralelos dos personagens míticos do nome SHAZAM, não é o suficiente para salvar a publicação. A arte nas ultimas edições é assinada por Mauco Cascioli mas só melhora o quadro ligeiramente, pois as cores seguem terríveis. Na narrativa não há melhora, seguindo atrapalhada até o final com uma vilã que lembra o Adão Negro (Sabina), mas que não tem o mesmo peso, além da participação da Liga da Justiça de uma forma Deus Ex Machina. Neste ponto, Primeiro Trovão é bem mais reverencial.

    A Sociedade dos Monstros, de Jeff Smith

    O criador de Bone escreveu em 2007 Shazam! E a Sociedade dos Monstros, uma revista que equilibra um pouco de caráter autoral com apego a cronologia. Nela, Billy é um menino bem pequeno, abandonado, que sofre perseguição. O tom do quadrinho é bem infantil e fofo. Lembra em alguns momentos O Poder de Shazam de Ordway, mas tem sua própria identidade, especialmente visual, em muito tempo não havia historia cujo contraponto de Billy e Capitão são igualmente especiais e importantes.

    A figura de Marvel/Shazam é carismática, em especial por conta de detalhes pequenos, como seu gosto por hot dogs e seus inimigos, monstros animalescos comandados pelo Senhor Cérebro, um vilão clássico da época da Fawcett Comics. Além disso, o gibi contrapõe o desprezo de todos ao Billy, por ele ser um menino em situação de rua, e traz uma repaginação da sua irmã Mary e do  senhor Malhado tão legais quanto a versão de Billy. O clima da revista é bem fantasioso, infantil, mas também é sério quando precisa, e principalmente, lisérgico quando é mostrado Sr. Cérebro em ação.

    É engraçado como o Silvana de Smith lembra levemente a figura física de Robert Crumb, ainda que ele seja careca enquanto o quadrinista anarquista não seja. Também é legal que os antagonistas sejam mais pueris, em uma versão parecida com a dos desenhos do Super Homem dos irmãos Fleischer e dos quadrinhos pulp. O final da revista é otimista e combina demais com a docilidade de seu autor que ainda repagina Shazam também em um tamanho gigante emulando os tokusatsus.

    Com Uma Palavra Mágica, de Geoff Johns

    A versão de Geoff Johns e Gary Frank foi introduzida nos backups da revista da Liga e tem como principal diferença o fato de Billy ser um adolescente problemático, em sintonia com um rapaz sozinho vivendo a puberdade. As primeiras aparições são bem curtas, fundamentando a origem do personagem em paralelo a acontecimentos da fase Novos 52, reciclando conceitos de um jeito que o roteirista é especialista. A trama começa de maneira despretensiosa, apresentando a procura do Mago por um hospedeiro de seus poderes, encontrando no jovem disperso seu representante. Ao ser adotado pela família Vasquez, Billy encontra uma nova família e, aos poucos, afeiçoa-se a eles.

    O Doutor Silvana é um estudioso obcecado nas lendas antigas, reprisando de certa forma o que o autor fez com seu Lex Luthor em Superman: Origens Secretas, substituindo a questão de Kripton pelo Adão Negro. A forma como se lida com a família Marvel é bem legal, expandindo-se a mitologia, a partir de Freddy Freeman. Além disso, é mostrado também o tigre Tawny como uma das poucas lembranças dos pais de Billy. Apesar de demorar a engrenar, a ação da revista é bem fundamentada, não é extraordinária, mas repagina bem a maior parte dos conceitos, seja com o Mago, com os vilões, a questão do Relâmpago Vivo.  O momento em que Billy e Freddy lidam com os poderes no começo é interessante, e a motivação do Adão Negro também é bem construída.  Esta deve ser a origem que ganhará destaque no roteiro de Henry Gayden no filme de David F. Sandberg. Momentos vistos no trailer como a sobrecarga de materiais com eletricidade ou a recompensa de muitos doces por salvar um lojista de um assalto vieram direto dessa aventura e, como outros filmes da Dc Comics já se pautaram na fase Novos 52, é natural que esta trama sirva de nova versão do herói, por estar mais alinhada com o cânone atual.

    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram | Spotify.