Tag: Panini

  • Resenha | Opus

    Resenha | Opus

    O mangá Opus começa no capítulo 24 da parte 3 de Resonance. Uma mulher está apontando uma arma para a própria mãe quando, de repente, a cara desta começa a derreter, revelando ser o vilão mascarado.

    Calma. Respira. Do que diabos estamos falando? Na verdade, Resonance é o mangá que o protagonista de Opus está prestes a finalizar. O artista Nagai quer dar um desfecho X, porém seu editor gostaria do final Y. A partir daí, uma série de acontecimentos bizarros tomarão a vida de Nagai, pois a realidade se juntará à ficção que ele mesmo criou!

    A obra é uma aula de metalinguagem, e Satoshi Kon esbanja genialidade nesse aspecto. O saudoso mestre Kon mostra os embates internos de um artista em relação à própria obra, além de deixar muito claro que forças externas podem simplesmente encerrar uma obra de forma abrupta. E quanto mais você avança nos dois volumes do mangá, compostos de 20 capítulos no total, por vezes esquecemos o que é realidade e o que é ficção.

    Nagai encontrará seus próprios personagens, e estes acabarão se rebelando contra o roteiro já escrito. Daí teremos o início da fusão entre realidade e ficção, e o termo “furos de roteiro” ganhará um novo significado para todos nós (leia para descobrir do que estou falando). É realmente incrível a sagacidade de Kon ao trazer tantas alegorias e loucuras para retratar algo extremamente real: a dificuldade de um artista conceber uma obra e ter controle sobre ela. No caso de Nagai, a força externa é seu editor. Para os personagens de Resonance, essa força externa é o próprio Nagai. E agora as criaturas encontram seu criador e juntos tentarão mudar os rumos do roteiro. Ou será que não?

    Talvez o ponto mais genial desta obra seja a casualidade que envolve a criação do final. O último capítulo da obra não foi finalizado pelo autor. Isso mesmo, Opus tem o mesmo problema de Resonance. “Então estamos diante de um mangá sem final?”, você pergunta. Felizmente, não. A editora, ao publicar o mangá, teve acesso ao rascunho do capítulo final, e este pode ser conferido na íntegra aqui. Interessante que mantiveram o material 100% original, com a arte quase toda em lápis. Eu custo a acreditar que isso não foi uma jogada de mestre de Kon, pois conversa de forma perfeita com Opus. Basta notar que no primeiro capítulo Nagai entrega o capítulo final em rascunho. E agora, o próprio autor de Opus só possui o final do mangá em rascunho…

    Intencional ou não, Opus é uma obra fascinante que brinca com a própria realidade e retrata uma espécie de bastidores da alma de um artista. Satoshi Kon é um mestre imortal que merece ser apreciado sempre (assista a Perfect Blue e Paprika para notar algumas ideias que diretores de Holywood “pegaram emprestado”, só para citar dois exemplos). Pena que a Editora Panini não deu um tratamento melhor a edição brasileira. Uma obra desse calibre merecia, pelo menos, páginas com papel de melhor qualidade, que é o caso das páginas coloridas que abrem o volume 1. Vencido esse pequeno obstáculo, Opus é um grande mangá que merece pertencer à sua estante.

  • VortCast 104 | Diários de Quarentena XXII

    VortCast 104 | Diários de Quarentena XXII

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira | @flaviopvieira), Jackson Good (@jacksgood), Bruno Gaspar (@hecatesgaspar | @hecatesgaspar) e Nicholas “Aoshi” Prade (@nicprade) retornam para mais uma edição do “Diários de Quarentena” e se reúnem para comentar sobre Round 6, God of War, Mark Millar e muito mais.

    Duração: 95 min.
    Edição: Flávio Vieira e Rafael Moreira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira e Rafael Moreira
    Arte do Banner:
     Bruno Gaspar

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  • Resenha | Hulk: Futuro Imperfeito

    Resenha | Hulk: Futuro Imperfeito

    A cultura pop está repleta de histórias ambientadas em futuros pós-apocalípticos, seja na literatura, no cinema ou nos quadrinhos em geral. Em que pese as características basilares do gênero, algumas obras se destacaram ao longo dos anos, por diferentes fatores.

    Nos anos noventa, o prolífico artista George Pérez procurou Peter David para trabalharem juntos em algum projeto. Sendo David o maior escritor da história d’O Incrível Hulk, nada mais natural do que a parceria entre esses dois talentosos profissionais resultar em uma aventura do Golias Esmeralda.

    Assim nasceu Futuro Imperfeito, minissérie publicada originalmente em duas partes pela Marvel Comics nos últimos meses de 1992. Na HQ, David e Pérez concebem a cidade de Dystopia, um lugar superpovoado, cercado por desertos e erigido a partir de ruínas do que outrora foi uma metrópole civilizada.

    Nesse lugar em que vozes se confundem e pessoas vestidas em trapos fazem de tudo para sobreviver, rebeldes se camuflam no meio da multidão, enquanto organizam a resistência ao sombrio e monstruoso Maestro, tirânico líder da região. Nesse lugar em que o futuro parece se encontrar com um passado remoto, a esperança surge no verde da pele do Hulk, que é trazido de seu tempo até esse futuro absurdo para descobrir questões inconvenientes de sua vida e então se provar em batalha, pelo bem do que restou da humanidade.

    Elogiar a qualidade de escrita de David é chover no molhado. Tecer elogios à narrativa visual de Pérez seria igualmente redundante. Fenomenal, a dupla construiu de forma conjunta uma história tão simples quanto memorável para um dos personagens mais complicados de se compreender no Universo Marvel.

    Por ser o escritor da série mensal do Hulk à época, David possuía amplo domínio do background do personagem. Desse modo, o herói surge em Futuro Imperfeito da mesma forma com que vinha sendo representado em sua série solo daquele tempo: a consciência de Banner no corpo do Hulk, o que fazia do herói tão genial quanto poderoso, ao mesmo tempo.

    Assim, o maior inimigo possível para o Hulk debuta no Universo Marvel. O Maestro é tudo o que o Hulk pode vir a ser, e tal sombra paira a todo instante na HQ, que não perde tempo nem apresenta nenhuma barriga na execução de seu dinâmico enredo.

    Diálogos poderosos se intercalam entre cenas de ação ágeis e impactantes, que reafirmam a escala de poder na qual se inserem os protagonistas desse embate de iguais, tão desiguais quanto o tempo poderia tornar. Recheada de referências, a HQ entrega uma aventura distópica de primeira grandeza e se configura como uma das histórias mais emblemáticas do Gigante Verde.

    Complementando o encadernado publicado pela Panini Comics, a história O Último Titã é escrita também por David, mas ilustrada por outro parceiro seu dos tempos da série mensal: Dale Keown. Ambientada em um futuro ainda mais longevo, no qual somente o Hulk sobreviveu na Terra, vemos o dilema existencial entre Banner e Hulk novamente trabalhado, de forma diferente da vista em Futuro Imperfeito, já que agora as duas personas lutam por espaço e possuem desejos completamente diferentes para encararem o fim dos tempos.

    Com tradução de Jotapê Martins, Fernando Lopes e Marcelo Soares, o encadernado Hulk: Futuro Imperfeito aquece aquele coração marvete com sucesso e preenche a lacuna existente no mercado com a ausência inexplicável dessa HQ durante tantos anos, após uma republicação lá do comecinho dos anos 2000.

  • Resenha | Chainsaw Man – Volume 1

    Resenha | Chainsaw Man – Volume 1

    Denji é um jovem que herdou uma dívida gigantesca de seu falecido pai e acaba tendo que aceitar todo tipo de trabalho para focar no pagamento infindável do débito de seu progenitor. Junto com seu mascote demoníaco Pochita, uma espécie de cachorro com forma de motosserra, Denji vive numa situação miserável e tenta se sustentar como caçador de demônios, exterminando os seres sobrenaturais das mais diversas aparências e tipos que surgem cotidianamente. Acontece que Denji e Pochita caem numa armadilha de um demônio e acabam sendo mortos, esquartejados e jogados num container de lixo. A breve história do jovem parece ter sido encerrada, até que Pochita absorve seu sangue e se funde com seu dono, transformando Denji num demônio humanoide com braços e cabeças de motosserra, buscando vingança a quem o matou.

    Assim começa Chainsaw Man, o mangá sensação dos últimos anos da revista japonesa Shonen Jump, lançado de 2018 a 2020, que chegou ao Brasil pela editora Panini. Escrito por Tatsuki Fujimoto, Chainsaw Man tem uma característica comum dos mangás em tratar sobre uma organização antimonstros, mas ganha pontos por abordar um contexto social num Japão fictício horrorizado por uma catástrofe, tendo em Denji, um garoto que sai dos guetos e é conduzido para sociedade média, uma exposição do abismo socioeconômico que estamos inseridos. Além de mesclar vários gêneros, sendo o horror, o primordial e mais característico nas páginas do mangá. Repleto de gore nos seus traços, Fujimoto consegue transparecer seu estilo na violência e sangue através das serras de Denji.

    Após o ressuscitado Denji acabar com o demônio que o matou, ele é encontrado por Makima, a responsável pela 4ª Divisão Especial Antidemônios da Segurança Pública do Japão, sendo acolhido por ela e tendo seu primeiro laço verdadeiramente humano após vários anos. O protagonista, a partir desse momento, começa a criar suas relações na sociedade, interagindo em grupo, além de conhecer o próprio mundo que estava tão distante da sua situação de vida.

    Além de se tornar um caçador de demônios oficial do governo e por meio disso, conhecer os demais personagens recorrentes, como Aki Hayakawa, um caçador que logo se posta como o rival do Denji, e a infernal Power, uma mulher que teve sua cabeça dominada por um demônio. Os três dividem o mesmo apartamento, o que traz momentos descontraídos durante a leitura, entre diálogos sobre o cotidiano, com um toque de humor, com Hayakawa deixando explícito seu ódio por demônios, mas tendo que conviver com dois, Denji e seu despertar sexual e Power aprendendo a lidar com humanos.

    Durante os primeiros sete capítulos que compõem o volume 1 de Chainsaw Man, o básico do que se espera de um mangá da Shonen Jump é apresentado, ao mesmo tempo que somos apresentados a um enredo promissor e subtextos envolvendo geopolítica, armamento e desigualdade social. Enquanto Denji faz suas pequenas missões, Fujimoto vai apresentando o universo ao protagonista e ao leitor.

    Texto de autoria de Wedson Correia.

  • Resenha | Batman Extra N° 11: Terapia Mortal

    Resenha | Batman Extra N° 11: Terapia Mortal

    Hipnose, e piromania. Quantas vezes podemos nos dar ao luxo de ver esses temas tratados, num gibi mensal do Batman? Em Terapia Mortal, publicado em Batman Extra nº 11 da Editora Panini, Batman ainda está no começo do trabalho, e o jovem Bruce Wayne ainda está perdido, entendendo o que é ser o Cavaleiro das Trevas. A morte de seus pais ainda é muito recente, mas o mundo não tem dó, e o clima em Gotham já começa a sentir a influência do justiceiro. Cada vez mais, jovens alienados começam a se vestir de preto pra fazer justiça, e os Lordes do crime estudam a situação, com cuidado. E tudo seria bem mais simples, se apenas no submundo houvesse problemas: sem os Wayne pra comandar as empresas da família, os “lobos de wall street” dentro da companhia fazem de tudo agora para prejudicar o herdeiro, e tirar os privilégios do “jovem órfão”.

    Evitando o drama, e caindo de boca na ação e sua dinâmica, totalmente voltada para adolescentes com déficit de atenção (e quem não é assim, na era do Instagram?), Terapia Mortal explora a paranoia que existe sobre aquele cujo mundo virou as costas, e todos conspiram por sua queda. Aqui, Bruce Wayne é atacado por crianças que, misteriosamente, se unem para atear fogo em prédios públicos, enquanto os novos dirigentes das empresas Wayne querem tirá-lo da jogada, a qualquer custo. Mas Bruce ainda é um moleque aqui, e Alfred é o único que lhe mostra piedade, e amor, numa selva de pedra chamada Gotham City em que ninguém está a salvo, até que Bruce é finalmente pego e trancado no Arkham, condenado a escapar por conta própria. Talvez porque as ovelhas acham que os lobos terão pena delas.

    Mas eles nunca terão. Trancafiado no Arkham, Bruce entende que é prisioneiro de sua própria imaturidade, lidando com traidores de toda sorte que, justamente por isso, o fazem aprender a ser um homem responsável. A dor e o medo ensinam demais, e são elas que fazem Bruce fortalecer o seu Batman interior, através desses fatores “terapêuticos” que o destino o submete. O roteiro de Andrew Helfer é hábil o bastante para trilharmos esse caminho de escuridão e da loucura bem ao lado desse Homem Morcego iniciante, pelas trevas que fazem o jovem rapaz valorizar as virtudes de ser adulto caso ele sobreviva. Uma pena a arte de Tan Eng Huat não combinar com a qualidade da história, expressiva mas visualmente desagradável em diversos momentos que pedem uma sutileza que o ilustrador não consegue atingir. Nada que atrapalhe o resultado, e as intenções finais deste pequeno, grande história.

  • Resenha | Batman: O Último Cavaleiro da Terra

    Resenha | Batman: O Último Cavaleiro da Terra

    Assim como Zack Snyder, Scott Snyder divide opiniões. Há quem goste e há quem não goste de seu trabalho à frente dos roteiros das histórias do Batman. A principal queixa é a de que falta fôlego nas suas histórias, que se desenvolvem bem, mas não entregam finais à altura do que foi contado. Pois bem, O Último Cavaleiro da Terra é alardeada como aquela que poderia ser a última história da vida do Morcegão.

    Publicada em três edições, a minissérie começa com um jovem Bruce Wayne despertando no Asilo Arkham e sendo informado por Alfred e por um psiquiatra de que toda a sua vida tinha sido uma grande ilusão provocada por um coma de vários anos resultado de um colapso nervoso que ocorreu após Bruce ter assassinado seus próprios pais. Logicamente que Bruce não acredita naquilo e promove uma revolta dentro do hospital, derrotando um a um que resolve ficar no seu caminho. Ao chegar no último andar, Alfred o informa de que estão alguns anos no futuro e que nada do que conhecia existe mais. Após um abraço emocionado, Bruce segue seu caminho busca da verdade. Saindo dali, o Morcegão se depara com o Coringa, na verdade, sua cabeça preservada em uma pequena redoma. O vilão acorda e dali partem em direção à Gotham. Bruce descobre que aquele mundo pós-apocalíptico é governado com mão de ferro por alguém chamado Ômega.

    A primeira edição da história estabelece muito bem as bases daquele mundo, introduzindo personagens e os contextualizando. Nenhum deles aparece ali somente pelo fan service, todos tem uma razão para estar ali e o mais importante, fazem a história andar. Snyder ainda inclui uma intrigante trama paralela ocorrida algum tempo antes do evento apocalíptico, trama essa que em nenhum momento tira a atenção do leitor, pelo contrário, o torna cada vez mais investido na história. Porém, a grande sacada fica no uso do Coringa como narrador. Tal qual como um Virgílio bem humorado acompanhando um Dante vestido de morcego, o Palhaço do Crime é o guia na viagem para aquele inferno.

    Entretanto, a partir da segunda edição as coisas vão ficando um tanto apressadas. O roteiro de Snyder começa a andar a passos largos para o final, o que faz com que fatos e locais que renderiam bons e bizarros momentos sejam mencionados de forma breve, o que frustra um pouco o leitor, tendo em vista que despertam tremenda curiosidade de ver tudo aquilo retratado de alguma maneira. Sem falar na Gotham City distópica com ares de mega prisão que merecia mais atenção e desenvolvimento. Essa pressa aumenta na terceira edição, tendo em vista que uma complexa operação é executada de forma quase que intuitiva pelos personagens envolvidos. Porém, o plot twist sobre o vilão Ômega e suas motivações, além da brutal batalha final entre Batman e ele satisfazem o leitor, fazendo com que a experiência seja bem positiva ao final.

    Um ponto muito interessante a ser destacado é o tratamento que Snyder dá a vários personagens que desfilam na história. Os rumos de Lex Luthor e Superman são bem melancólicos, principalmente o de Luthor. Ver um astuto vilão sucumbir à própria megalomania tal como acontece aqui chega a ser comovente. A Mulher-Maravilha também ganha um tratamento bem interessante e funciona como uma das peças centrais para a trama andar e a Corte das Corujas ganha contornos surpreendentes. Já o destino do Flash é um dos mais tristes e bizarros que já apareceram nas histórias em quadrinhos. Tudo isso mencionado acima é muito bem retratado pela arte de Greg Capullo, ainda auxiliado por FCO Plascencia e Jonathan Glapion. Percebe-se a sintonia entre o roteirista e a equipe de arte para deixar todo aquele mundo e os personagens visualmente chocantes, porém sem que haja distorção de suas principais características.

    Enfim, O Último Cavaleiro da Terra é uma saga muito boa com uma versão interessante do Batman. Entretanto, infelizmente fica a sensação de que após uma introdução das mais intrigantes, o miolo da história foi apressado para que o épico final chegasse logo. Antes que eu me esqueça, o epílogo pode parecer absurdo, mas é coerente dentro do que foi apresentado.

  • Resenha | Homem de Ferro: O Homem Mais Procurado da Terra

    Resenha | Homem de Ferro: O Homem Mais Procurado da Terra

    Houve uma revolução na postura dos quadrinhos de heróis, nos anos 80. Se antes valia tudo, afinal o gibi era uma mídia sempre desprezada por ser “infantil” e “descartável”, o gênero ganhou um senso de maturidade com O Cavaleiro das Trevas, Sandman, ou ainda, Reino do Amanhã. Assim, se o Batman de Adam West era aceito nos anos 60, agora ele precisa lidar com terrorismo e geopolítica. A mesma coisa com (quase) todos os outros, já que a pegada ficou mais séria, sem espaço para um espírito de Sessão da Tarde – exceto para os títulos mais besteirol, como Deadpool e Shazam. Nos cinemas, a Marvel soube se atualizar para a seriedade do século XXI como ninguém, com a sorte de estar sob a tutela de Kevin Feige, o maior produtor da história de Hollywood, e assim, com o Homem de Ferro ficando cada vez mais popular, nada mais justo uma epopeia que, lá em 2008, na esteira do sucesso de Guerra Civil, ajudasse ainda mais a engrandecer o Ferroso.

    E assim, foi: a saga de dois anos do O Mais Procurado do Mundo, reunida e publicada no Brasil em 2017 pela Panini. Desde a primeira página do encadernado nota-se o ninho de inspiração que a saga dos quadrinhos foi para a trilogia do Homem de Ferro, em especial para o Homem de Ferro 3. Há uma caçada imoral a Tony Stark por erros que (caluniosamente) ele cometeu, num passado recente, e a tecnologia das empresas Stark começou a ser tão banalizada como os primeiros celulares da Nokia, mundo afora. Para piorar, os inventos de Tony caem nas mãos erradas, mortes começam a acontecer, e a difamação da figura do bilionário é inevitável. O Homem de Ferro ganha teto de vidro, e de repente, vira um câncer ao bem-estar da humanidade.

    Há um interessante debate aqui, escrito por Matt Fraction e desenhado por Salvador Larroca, levemente subvertido pela necessidade de ação e aventura colorida: o poder devastador da mentira, quando essa é muito grande e institucionalizada para a sociedade não acreditar nela. Se o empresário Norman Osborn, vulgo Duende Verde, arma um circo midiático e envenena a opinião pública, fazendo-a acreditar nas piores coisas sobre Tony, ninguém contesta, afinal, como o presidente de uma empresa gigantesca poderia mentir para o público? As pessoas comuns em sua ingenuidade rotineira esquecem que os lobos “acima” são capazes de tudo pelo poder, e Norman Osborn ama tudo isso. Ao tirar o Homem de Ferro da jogada, Osborn acha que venceu a batalha, mas esquece que Tony Stark não é só armas e mulheres: é um gênio de intelecto ímpar, que joga xadrez com o líder do Quarteto Fantástico, e quase sempre tem uma carta na manga. Várias, na verdade, a começar pela sua amada Pepper Potts e seus amigos de ouro.

    Tal uma clássica aventura de super-herói, e tão realista como só uma saga pós-Watchmen consegue ser nos quadrinhos, O Mais Procurado do Mundo reafirma tudo o que nos faz amar uma das criações máximas de Lee, Jack Kirby, Larry Lieber e Don Heck. Se falta ao personagem frases do tipo “Com grandes poderes, vem grandes responsabilidades”, sobra carisma e o senso de empreendedorismo pelo bom combate, pelo fazer a coisa certa, sem trilhar o caminho da maldade, e sim de uma engenhosidade altruísta, e forte. Por que há um mundo melhor a ser alcançado, por meio da tecnologia e da ciência neste caso, e da coragem do homem para consigo mesmo, e homens como Tony são precisos para isso. Eis um belo arco de histórias, bastante complementar e enriquecedor aos filmes, e que de tão bom (e visualmente lindo), não nos faz sentir falta de ver Robert Downey Jr. na pele do herói, ao virar as páginas. Pasmem!

  • VortCast 95 | Diários de Quarentena XX

    VortCast 95 | Diários de Quarentena XX

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Filipe Pereira (@filipepereiral), Bruno Gaspar, Bernardo Mazzei, Jackson Good (@jacksgood) e Rafael Moreira (@_rmc) se reúnem para comentar um pouco sobre as bizarrices de Junji Ito, a visão de Zack Snyder e o sucesso das séries Marvel.

    Duração: 97 min.
    Edição: Rafael Moreira e Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Rafael Moreira e Flávio Vieira
    Arte do Banner:
     Bruno Gaspar

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  • Resenha | Mulher-Maravilha: A Verdadeira Amazona

    Resenha | Mulher-Maravilha: A Verdadeira Amazona

    De Jill Thompson, Mulher-Maravilha: A Verdadeira Amazona é uma história bastante diferenciada da heroína, com enfoque nos primórdios da vida da personagem com uma Diana Prince passando pela infância e adolescência, que são inclusive reciclados no bom início do longa Mulher-Maravilha 1984 de Patty Jenkins.

    As cores aquareladas dão um ar ainda mais mitológico para as amazonas. Apesar de não ser exatamente uma história de origem como foi o run de Brian Azzarello nos Novos 52 ou o arco de George Pérez no pós-Crise nas Infinitas Terras, a gênese de Diana é abordada, de forma diferente, como uma pessoa repleta de falhas e problemas de caráter.

    Thompson consegue produzir uma história escapista, com um clima de aventura bem proeminente, mas sem abrir mão de temáticas mais sérias. Ao passo que fala das raízes mitológicas da ilha e da interferência dos deuses gregos na feitoria da filha de Hipólita, também mostra o mal que uma criação sem limites pode causar no caráter de uma pessoa.

    O tom do gibi é poético, mesmo com a simplicidade da história, e a utilização das divindades como Zeus, Hera, Poseidon e Herácles/Hércules tem características visuais bem diferenciadas. Nos extras, os esboços mostram o trabalho diferenciado da artista e roteirista, e é uma pena que a maioria dessas artes englobe só o visual de Diana, e não como ela conseguiu chegar à ideia sobre cada um dos deuses.

    As mulheres que Thompson registra em tela são belas e atléticas, tem curvas e sensualidade, mas não são fetichizadas, e isso posto em perspectiva junto com as primeiras histórias da personagem, assinadas por William Moulton Materston, causam um grande contraste. Além disso, o subtexto emotivo de Diana é um prato cheio para análises de psique, a presença da figura de Alethea, por exemplo, reúne a obsessão pelo proibido em múltiplos sentidos, os efeitos da ignorância sobre a pessoa que tem a atenção negada, a paixão não correspondida e um desestímulo ao caráter egóico de quem sempre teve absolutamente tudo.

    Mesmo quando a história apresenta obviedades dramáticas, a tragédia faz driblar os clichês mais rasteiros, e a carga emocional  envolvida neste texto deixa o leitor a par da gravidade dos atos. Há consequências graves para os atos da pretensa heroína. Por mais que fosse super-humana, Diana é refém das sensações e sentimentos comuns aos mortais, e isso se agrava ao perder quem ela tanto tentou cativar a atenção. Segundo Thompson, Diana e Mulher-Maravilha deveriam carregar para sempre sua culpa, deixando claro visualmente o que houve, rememorando a memória dos que partiram e sua culpa. A autora dá novas camadas à personagem, e faz isso de modo sóbrio e certeiro, sem deixar de lado o que é caro a quem gosta da heroína da DC Comics.

  • Resenha | Gavião Negro – Vol. 01

    Resenha | Gavião Negro – Vol. 01

    O Gavião Negro é um dos personagens da DC mais lembrados entre leitores casuais, e isso se dá basicamente graças ao seu visual. Suas histórias já foram populares, mas a quantidade grande de encarnações que teve torna a compreensão do grande público bem confusa. O herói variou entre um alienígena, um sujeito moderno, a reencarnação de um guerreiro do Egito Antigo, além de outras breves e menos conhecidas versões, e em Gavião Negro – Volume 01 se tenta resgatar um pouco da dignidade, com roteiro de Robert Venditti e desenhadas por Bryan Hitch.

    A história mostra primeiramente o historiador Carter Hall usando suas habilidades sobre-humanas já com seu alter-ego heróico, em busca da origem de seus poderes. A narrativa do gibi é linear, simples, e envolve elementos básicos de histórias com viagem no tempo. O clima e atmosfera são bem massa veio, mas reúnem momentos bem épicos, como o encontro das diferentes versões do personagem e o mergulho na cultura (ou nas culturas) do ser reencarnado.

    É uma pena que o desenhista em alguns pontos apresente a mesma preguiça que lhe rendeu tantas críticas em um passado recente. Os problemas aqui ocorrem em especial quando mostra homens, já que os cenários são bonitos e claramente a mudança de arte finalista ajudou demais, em alguns momentos as paisagens de Hitch rendem quadros soberbos, bem diferente da sua fase em Os Supremos, mas igualmente bem encaixados. Porém, em alguns combates, nota-se pouca inspiração do artista, o desenhos são bem irregulares.

    Essa publicação faz lembrar um pouco a revista Brave and The Bold, que reunia sempre Batman e mais algum personagem da DC, obviamente aqui substituindo o Morcego pelo Gavião. Há aparições de Xanadu, o Átomo de Ray Palmer (que inclusive, protagoniza uma boa ação entre amigos no microverso com o herói-título), as encarnações de Carter como o thanagariano Katar Hol ou o kryptoniano Catar-Ol, enfim, se explora bem o universo do vigilante alado.

    Das seis histórias compiladas, a mais inspirada sem dúvida é Despertar, que visa uma jornada de autoconhecimento, a qual combina belamente com a confusão cronológica do personagem, além da já citada. Gavião Negro – Volume 01 tem ganchos para mais aventuras, é escapista e divertido na medida, além de provocar curiosidade em usufruir de mais dessas histórias que miram apenas ser divertidas, enquanto lidam com os clichês dos personagens nascidos na Era de Prata.

  • Resenha | Surfista Prateado: Escuridão

    Resenha | Surfista Prateado: Escuridão

    Obra que reúne Donny Cates nos roteiros e Scott Moore nas ilustrações, Surfista Prateado: Escuridão é uma publicação que mistura elementos de ficção científica e filosofia em uma história de super-heróis, sendo uma das histórias recentes mais elogiadas do personagem. O quadrinho conta uma história reflexiva, que conversa bem com Surfista Prateado: Parábola de Stan Lee e Moebius, além de ser continuação da fase de Dan Slott.

    Cates se vale demais de autorreferência, e sua história se situa após a morte de Thanos. Aqui, é mostrado Norrin Radd, o filho órfão de Zenn-la, lidando com a culpa proveniente dos trabalhos que fez para o devorador de mundos, Galactus, além de mergulhar na culpa do personagem e outros problemas.

    A arte de Moore compensa a simplicidade textual da HQ, fazendo driblar até as amarras cronológicas. Há um bocado de surrealismo, onde se brinca com a forma do espaço e a densidade corporal e mental do Surfista. Os embates que ele por mais que contenham elementos óbvios, há um bom uso de personagens clássicos das histórias cósmicas.

    A aparição do planeta vivo Ego é superlativo e ainda mais lisérgico que os momentos anteriores. As cores e a psicodelia aumentam a sensação de que toda a história é baseada na insanidade. A relação entre Ego e herói se assemelha ao conto do pequeno animal que retira a farpa dos pés de um predador grande, e essa alegoria ajuda a mostrar outra dinâmica para o personagem, mas que ainda reforça a ideia de que ele está fadado ao fracasso moral. Norrin, mesmo sem Galactus, é prisioneiro de sua condição. Sua sina é ser ligado eternamente à morte de milhões, talvez bilhões. Nem dar fim ao seu algoz ele pode, sua maldição é ter retirado de si até mesmo o livre arbítrio.

    A arte resulta em um visual que deslumbra e lembra a arte de Moebius e seu parceiro de Metal Hurlan, Phillipe Druillet. Na edição da Panini há alguns poucos extras como a introdução de Paulo França e artes de capa alternativas de Ron Lim, Mike Zeck e outros artistas, e apesar de Surfista Prateado: Escuridão ser uma história repleta de referências, ainda possui identidade própria e qualidades para que seja uma leitura independente bastante rica, que referencia bem o trabalho antigo de Lee e Kirby, atualizando os clichês e arquétipos para algo mais atual e atrativo a novos leitores.

  • Resenha | Homem-Aranha: Carnificina Total

    Resenha | Homem-Aranha: Carnificina Total

    “Os demônios não precisam de motivos, Peter.”

    E tudo o que o Homem-Aranha não precisa, realmente, é de um Venom mais poderoso à solta, em Nova York. Mas como se tragédia pouca fosse bobagem, nem Mary Jane aguenta mais as aventuras do maridão Peter Parker, que nunca tem tempo pra ela, sempre sozinha. É curioso como, na década de 90 que a Marvel quase faliu, muitas histórias memoráveis surgiram para (tentar) salvar a editora, e melhorar a mitologia dos seus heróis – e vilões! Homem-Aranha – Carnificina Total é um desses arcos pouco lembrados, e que certamente merecem ser resgatados pelos fãs do Cabeça de Teia, ainda mais agora com Venom 2 prestes a ser lançado nos cinemas do mundo, se a Covid-19 permitir.

    A minissérie, lançada em 14 partes em 1996, reuniu quatro roteiristas de peso na época (Tom DeFalco, J.M. DeMatteis, Terry Kavanagh e David Michelinie), e uma arte de Mark Bagley e companhia bem típica dos anos 90: nada realista e bem expressiva, com cores chapadas e sem relevo de photoshop, nas quais o mundo dos super-heróis ficou tão reconhecido. O resultado não poderia ser mais épico e irreverente: quando o maníaco Cletus Kasady volta a ter consciência do seu monstro interior, o Carnificina (um simbionte feito do resto de Venom), ele escapa do cativeiro hospitalar em que estava preso, mais furioso e feroz do que nunca, e vira Nova York de ponta cabeça, a ponto de subjugar outros vilões e formar um grupo que deixa o Sexteto Sinistro comendo poeira.

    Nada parece interromper o rastro de sangue do vilão, uma ameaça vermelha e histérica à altura de Superman ou Thor. A destruição então é gigante, e o vilão insano se torna, rapidamente, o rei do pedaço. O Aranha falha miseravelmente em combatê-los, e a realidade é uma só: sem Venom (e até o vampiro Morbius, entre outras grandes surpresas) para lhe ajudar, em ótimas cenas de batalha, não há vitória possível contra a barbárie que o Carnificina faz, unicamente por fazer – uma loucura sem razão, mais ou menos igual o Coringa de Batman, muito mais selvagem que o palhaço. É admirável como Carnificina Total consegue mostrar várias vezes os massacres em Nova York, sendo um gibi para crianças, ao sugerir algumas mortes sem nunca mostrá-las de uma maneira chocante, a seu público alvo, nem deixar de explorar a crueldade sem limites do antagonista.

    Nota-se, sobretudo, o inebriante gosto da era de ouro dos quadrinhos que há, aqui, sem muita seriedade, e mais a fantasia que os gibis dos anos 40 e 50 tinham, no auge de Stan Lee e Jack Kirby. Entregando-se para a ação e o terror juvenil, com um drama integrado a urgência do momento, essa clássica HQ surpreende quem estava acostumado com o tom leve e descontraído de outras histórias clássicas da Marvel, já que a pegada é tão sombria quanto possível para uma publicação infantil. Nas duas partes publicadas no Brasil pela saudosa Editora Abril, agora publicado em edição encadernada pela Panini Comics, está armado portanto um dos maiores confrontos do símbolo supremo da Marvel, o seu maior ícone, imortalizado em todas as mídias, porque quando o Venom apanha de um oponente, e pede para sair, é porque a coisa está feia! Difícil acreditar que maníacos podem ser detidos, enquanto estão no poder.

     

  • O Abismo dos Quadrinhos em 2020

    O Abismo dos Quadrinhos em 2020

    Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você.

    2020 ficará marcado na história do mundo como um ano trágico, para dizer o mínimo. Ao longo de doze meses, estivemos próximos de ameaças de guerra, desastres naturais, ascensão da extrema direitae ,claro, uma pandemia em escala nunca antes vista na história.

    No meio disso tudo, em Terra Brasilis, a cultura segue relegada ainda que, mais do que nunca, tenha se mostrado essencial para que o ano se tornasse mais palatável em tempos de quarentena e distanciamento social. Não obstante, o mercado editorial sofreu bastante com o aumento do dólar, falta de insumos, ameaça de taxação de livros por parte do governo federal, recuperação judicial das gigantes Saraiva e Livraria Cultura, além do fechamento de diversas livrarias menores. E o que se avizinha para 2021 não é nada promissor.

    Desse modo, o mercado, aliado também a fatores externos, não colaboraram para que a vida do consumidor se tornasse mais fácil. Pelo contrário, o que observamos foram diversas decisões equivocadas. Ainda que os quadrinhos não girem em torno apenas de problemas, faremos um resgate de publicações decepcionantes e escolhas editoriais desacertadas ao longo do ano passado que pode (ou não) ter relação com o que falamos acima.

    Coleções Eaglemoss e Planeta Deagostini

    Os lombadeiros de plantão sofreram forte revés em 2020 com as coleções capitaneadas pela Planeta Deagostini e Eaglemoss. Se a concorrente Salvat iniciou o mês de janeiro com apenas a coleção Tex Gold (Coleção Definitiva Homem-Aranha planejada com 60 volumes foi prematuramente cancelada no volume 40, em março de 2019) na 43ª pelo preço de R$ 59,90 e encerrou na 60ª no valor de R$ 64,90 – um reajuste razoável –, o mesmo não pode ser dito das outras duas. A Eaglemoss iniciou o ano com três coleções: DC Comics – Coleção de Graphic Novels (iniciado em 2014 e até dezembro de 2020 conta com 128 volumes), DC Comics – Coleção de Graphic Novels: Sagas Definitivas (iniciada em junho de 2018 e com mais de 32 volumes) e DC Comics – A Lenda do Batman (iniciada em outubro de 2018 e 41 volumes). Já a Planeta Deagostini segue distribuindo a coleção A Lenda do Batman da Eaglemoss, além de duas coleções próprias: Príncipe Valente (iniciada em outubro de 2018 e até dezembro de 2020 com 66 volumes até o momento) e Snoopy, Charlie Brown & Friends – A Peanuts Collection (iniciada em setembro de 2020 e com 9 volumes até o momento).

    Já não é novidade que os valores praticados pela Eaglemoss não são nenhum pouco atrativos. Com aumentos frequentes e sem qualquer justificativa, a editora permaneceu com a mesma política de não dar a mínima para o seu consumidor. A Coleção A Lenda do Batman abriu o ano de 2020 com o volume 17º, Batman: Nascido Para Matar (156 páginas), com o preço de capa de R$ 49,99, e chegou em dezembro com o volume 41º, Mulher-Gato: Cidade Eterna (180 páginas), pelo preço módicos R$ 73,99. Em compensação, as coleções Graphic Novels e Sagas Definitivas mantiveram os preços congelados de R$ 79,99 e R$ 139,99. Verdadeiros heróis.

    A Planeta Deagostini seguiu com sua coleção de todas as tiras dominicais de Príncipe Valente, que contará com 82 volumes, e iniciou o mês de janeiro de 2020 com o 20º volume (76 páginas) que reúne as tiras de 1956, no preço de capa de R$ 49,99, e encerrou o ano com o 66º volume (64 páginas) reunindo as tiras do ano de 2002, pelo preço de capa de R$ 78,99. A coleção Snoopy, Charlie Brown & Friends – A Peanuts Collection que reúne as tiras dominicais desde 1950 até o ano 2000 em volumes de 64 páginas manteve o preço de R$ 49,99. Veremos o que 2021 nos reserva.

    A ausência da SESI-SP

    A SESI-SP surgiu como uma editora interessante dentro do mercado, publicando material estrangeiro (em especial, europeu) e nacional em formatos e preços convidativos, e claro, ótima qualidade. Por meio dela fomos apresentados (e em alguns casos reapresentados) às séries Valerian, Verões Felizes, Spirou, Gus, Blacksad, autores como Mathieu Bablet (A Bela Morte e Shangri-Lá), Juan Cavia e Filipe Melo (Os Vampiros), Gabriel Mourão e Olavo Costa (Paraíba), Marcelo Lelis (Anuí), Gidalti Jr. (Castanha do Pará), Orlandeli (SIC, O Mundo de Yang, Daruma, etc), Gustavo Tertoleone e João Gabriel (Nobre Lobo), Jennifer L. Holm e Matthew Holm (Sunny) e tantos outros.

    A publicações minguaram em 2019, se reservando apenas aos materiais já programados e anunciados ainda em 2018 e publicados em sua esmagadora maioria no primeiro semestre do referido ano. Se o ano anterior já foi péssimo, 2020 reservou o total de ZERO publicações.

    A explicação é simples: antes mesmo da posse do atual presidente da República, já havia sido declarado guerra ao Sistema S, conjunto de nove instituições de interesse de categorias profissionais – Sebrae, Senac, Senai, Senar, Senat, Sesc, Sescoop, Sesi e Sest – que promovem atividades sociais e de aprendizagem, e emprega mais de 150 mil funcionários, mantidas pelas contribuições, pagas compulsoriamente pelos empregadores. Em 2019, o governo federal fixou um corte compulsório de 30% no orçamento dessas instituições, e com a pandemia isso se agravou ainda mais com o corte de contribuições. Que dias melhores se anunciem para a editora.

    O descaso da L&PM com as tiras de Peanuts

    Em novembro de 2009, a L&PM publicou o primeiro volume de Peanuts Completo, que reuniu as tiras diárias e dominicais, de uma coletânea de 25 volumes lançada nos EUA pela Fantagraphics. A editora americana tem um planejamento de dois livros por ano durante 12 anos e meio do material completo do clássico de Charles M. Schulz, Peanuts. Um projeto ambicioso sem dúvida. E até maio de 2019 a L&PM seguiu com um álbum por ano, totalizando 10 volumes até então.

    Para surpresa de todos, em 2020 a editora decidiu reiniciar do primeiro volume por meio de outra coleção mais simples da Fantagraphics, o que não seria um problema se houvesse algum indicativo de continuidade da coleção antiga ou sequer qualquer comunicado oficial por parte dos editores do que motivaram tal decisão. Se isso não fosse o bastante, os últimos volumes da coleção antiga esgotaram rapidamente e não há previsão de novas tiragens, de modo que não me parece ser o caso de vendas baixas, como também não se sabe se a série continuará nesse novo formato. Só nos resta aguardar e torcer para que a série não seja descontinuada como já aconteceu com outras tiras (Hagar, Garfield etc).

    A gourmetização dos quadrinhos

    O processo de elitização dos quadrinhos não é algo novo, já se fala sobre esse desenvolvimento há muitos anos. Mas tem acelerado bastante nos últimos três anos. Com a crise do mercado editorial, as editoras perceberam que a idade média do seu leitor aumentou muito. Não se tem mais crianças consumindo como acontecia no passado. Se por um lado esse fator geracional proporciona maior liberdade criativa e variedade de estilos, por outro tem avançado por parte das editoras a publicação de materiais cada vez mais luxuosos, culminando nos fatídicos omnibus em 2020. O que, pra ser sincero, não vejo como um problema, desde que esses materiais publicados nesse formato tivessem opções mais acessíveis em um passado recente. Veja, Quarteto Fantástico do John Byrne é um material pedido por leitores há anos, mas quando colocado no mercado a Panini opta por uma tiragem pequena, com o preço de capa de R$ 349,00, atingindo apenas uma pequena parcela do seu mercado consumidor. Em contrapartida, não vejo problema da editora apostar em materiais de luxo como anunciou com Monstro do Pântano, Miracleman e Noites de Trevas Metal (arghh). Afinal, há pouco tempo atrás tivemos acesso a esses materiais em um formato econômico. Logicamente, o preço praticado é uma outra discussão, que evidentemente, não pode ser separada de temas como aumento do dólar, falta de matéria-prima e problemas de distribuição.

    No entanto, o que se vê entre o mercado consumidor e influencers digitais é um (quase) completo silêncio em relação aos preços, e muitas comemorações com formatos cada vez mais luxuosos. Enquanto isso, nós nos enganamos que existe um processo de democratização da leitura e a Panini, principal player do mercado editorial de quadrinhos, se engana que está renovando seu público com encadernados Kids e Teens por mais de R$ 30,00. A nossa única certeza é que muita gente que lê Turma da Mônica não vai migrar para outros produtos.

    A Maurício de Sousa, o Boldinho e a censura

    E por falar em Turma da Mônica…

    No final de 2020, fomos surpreendidos, negativamente, com a notícia de que a Maurício de Sousa Produções havia notificado extrajudicialmente o cartunista underground Daniel Paiva em razão de sua paródia da Turma da Mônica, por conta de seu personagem Boldinho. Sim, Maurício de Sousa, o homem que tanto parodiou outros personagens, obras e histórias decidiu ameaçar de processo quem o parodiava com base na Lei de Direitos Autorais.

    Segundo a empresa, o personagem Boldinho e os demais coadjuvantes associavam a MSP ao consumo de entorpecentes, entre outras coisas. Sim, o personagem lida com temas voltados às drogas e transversais, em especial, maconha. No entanto, esse material não é comercializado para o público infantil, e sequer circula nesse meio.

    Causa estranheza tais argumentos para quem acompanha a empresa, já que em 2013 o Cebolinha em uma propaganda da AMBEV ensinou as crianças que tomar cerveja era um hábito transgeracional, apenas ensinando as crianças que existia uma idade correta para consumir bebidas com álcool. Em 2018, a parceria se deu com a indústria armamentista brasileira. Pelo visto a preocupação com a defesa da infância se dá em maior ou menor grau conforme os dígitos que entram na conta bancária da empresa.

    As baixas tiragens de mangás da Panini

    Se o aumento de preço frequente já é fator fundamental no dia-a-dia de qualquer consumidor de quadrinhos, os leitores de mangás da Panini ainda precisam se preocupar com as tiragens limitadíssimas da editora. Em 2020, isso parece ter se agravado ainda mais com diversos mangás recém-lançados esgotados em semanas. Isso se deu com títulos dos mais diversos, desde os mais simples até os mais luxuosos. E nós, reles mortais que ficamos equilibrando nossas finanças para poder adquirir os quadrinhos do mês entre uma promoção e outra, ainda nos deparamos com buracos em nossas coleções pela completa falta de planejamento de uma editora que sequer faz ideia do público que possui.

    O cancelamento e adiamento das feiras e convenções de quadrinhos

    Não é novidade que cultura e arte são pouco valorizados por aqui. Com a chegada do governo Bolsonaro e da pandemia, o que vemos é um cenário caótico para muitos artistas. O Fundo Nacional da Cultura seria uma ferramenta para suprir esta demanda em um momento atípico como este parece inexistente, e muitos deles dependem da ajuda de amigos para subsistência. Na área de quadrinhos não poderia ser diferente.

    Após os cancelamentos de boa parte das feiras e convenções o cenário se tornou ainda mais difícil para artistas e pequenas editoras que dependem desses eventos segmentados como importante fonte de renda. Enquanto não existe uma política pública adequada, eles se viram como podem, seja por comissions, promoções, plataformas de financiamento coletivo, e em alguns casos, ajuda de amigos.

    A crise da distribuição

    Já não é novidade para ninguém da crise de distribuição existente em um país de escala continental como o Brasil. Contudo, a pandemia parece ter surgido para acelerar processos, para o bem e para o mal. Em 6 de novembro, a Dinap e a Treelog, empresas integrantes do Grupo Abril, informaram o rompimento de contratos, unilateralmente, com suas editoras-contratantes. O problema de distribuição e consignação tem se agravado nos últimos anos, principalmente com o processo de recuperação judicial do Grupo Abril, mas agora parece que a pandemia colocou a última pá de cal neste sistema.

    2021 será um desafio para as editoras que dependem da do Grupo Abril, como ocorre com a Mythos. Além disso, esperamos que os problemas de consignação não tragam mais problemas ainda para as editoras, como ocorreu com a inadimplência da Saraiva e Cultura, que além de não devolver os produtos consignados, ainda não pagou por eles. Hoje as editoras aguardam na fila de credores para receber uma parte do que é seu por direito.

    O retorno dos mixes

    Após alguns anos sem publicação de quadrinhos no formato mix nas publicações mensais, 2020 também ficou marcado pelo anúncio da Panini em uma live no YouTube na CCXP Worlds sobre o retorno desse tipo de compilação editorial.

    Obviamente, muitos fãs se decepcionaram com a editora (mais uma vez), já que há algum tempo podiam acompanhar seus personagens em revista solo mensais ou em encadernados que reuniam arcos de histórias sequenciadas, e esperavam acompanhar o Thor do Donny Cates, Capitão América do Ta-Nehisi Coates e etc. de forma individualizada. Pelo visto as vendas não estavam agradando e a Panini decidiu retomar a prática do mercado editorial brasileiro durante décadas.

    Aos que seguirão acompanhando, torço para que a editora ao menos faça um bom mix, o que sequer ocorreu na revista Batman & Superman (já cancelada pela Panini) que tinha tudo, menos Batman & Superman.

    A não-tradução do omnibus do Conan

    Neste mesmo ano a Panini decidiu colocar no mercado seu primeiro omnibus – diversas edições que foram publicados separadamente compiladas em um volume único – e o personagem escolhido foi o Conan. A edição de mais de 700 páginas reúne o material publicado pela Marvel Comics nos anos 1970 nas revistas Conan: The Barbarian e Savage Tales.

    Ainda que se trate de um material de luxo, com preço de capa de R$ 249,00 (duzentos e quarenta e nove reais), a editora achou que seria de bom tom não traduzir quase 70 páginas de material extra existente na edição, ou seja, aproximadamente 10% do material não é possível ler em português. Um completo desrespeito ao público brasileiro, mas que diz muito sobre nosso consumidor, já que em poucos dias o material já era impossível de ser encontrado para compra. A resposta da editora foi a pior possível, informando que outros países de língua não-inglesa, como Itália e Espanha, saiu da mesma forma. O que só deixa claro que o editorial da Panini nesses países é tão patético quanto no Brasil.

    É óbvio que os extras de uma edição como essa não seria lido por todos, no entanto, num país de língua portuguesa, o mínimo que se espera é que o material seja publicado em… língua portuguesa. Do contrário, você está segregando leitores. Para piorar, a editora anunciou o volume 2 e disparou que não traduziria todos os extras, mas apenas uma parte deles. O brasileiro merece a Panini.

    Destro

    Sem romantismos do tipo “quadrinhos são uma mídia progressista, criados e consumidos pela classe trabalhadora”. Qualquer discussão nesse sentido ignora o processo de elitização da mídia, não só no Brasil, mas no mundo, e ainda ignora que uma parcela da classe trabalhadora é conservadora. Ora, em um cenário onde o sistema hegemônico é o capitalismo e a filosofia social que rege boa parte do mundo é o conservadorismo ou o liberalismo, não me causa qualquer estranheza que quadrinhos de direita tenham crescido nos últimos anos. E Destro e seu autor é apenas um expoente desse movimento no Brasil. Importante lembrarmos que Stan Lee criou o Pantera Negra antes do Partido dos Panteras Negras e tentou de todas as formas que seu personagem fosse vinculado ao movimento, Steve Ditko era grande apaixonado pela obra e filosofia de Ayn Rand e isso se refletiu até mesmo no sobrenome do personagem Punho de Ferro, Frank Miller despejou xenofobia em um passado recente e criticou o movimento Occupy Wall Street, entre tantos outros autores controversos e de direita que fizeram falas problemáticas, como Chuck Dixon, John Byrne, Bill Willingham etc. Nem todos são Alan Moore.

    No Brasil, Luciano Cunha publicou os quadrinhos do Doutrinador em 2013, início do processo de efervescência política nas ruas e redes sociais. O personagem ganhou filme anos depois e com a crescente polarização o autor foi se movendo cada vez mais à direita no espectro político, deixando de lado o discurso de “Fora Todos” e contra corrupção e se posicionando favorável a movimentos de extrema-direita e ao próprio presidente Jair Bolsonaro. Toda essa mudança culminou no lançamento de Destro, em 2020, ao lado do ilustrador Michel Gomes. Por alguma razão, Cunha optou por lançar meio do pseudônimo Ed Campos.

    Na trama, conhecemos uma São Paulo distópica do ano de 2045 governada pelos comunistas globalistas, onde o “real” foi substituído pela moeda “real rubro”, com a figura de Che Guevara estampadas em suas células e a população precisa caçar ratos para se alimentar. Destro é nosso herói, um vigilante destinado a lutar por nossa liberdade e derrubar esse governo que impõe sua agenda progressista, anti-conservadora, anti-cristã e outras idiotices do gênero (risos).

    O projeto foi financiado pelo Catarse e alcançou uma marca impressionante de quase R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), algo bastante considerável neste meio, mas que não causa espanto para quem o acompanha. Com frequência acompanhamos o público conservador, no Brasil e no mundo, se mobilizando de forma contrária à qualquer menção progressista dentro dos quadrinhos de super-heróis, sendo taxada de “lacração”, “mimimi” e “politicamente correto”. Desse modo é natural que Destro atinja tal público e já tenha sido licenciada em vários países antes mesmo de seu lançamento, enquanto outros artistas ainda lutam por seu lugar ao sol. Talvez isso seja um reflexo de como esses leitores tem uma certa dificuldade em crescerem, como Moore gosta de lembrar.

    Se você acha pouco, o autor está trabalhando em uma sequência de Doutrinador, dessa vez contra o globalismo (e lá vamos nós) e o vírus chinês (Família Bolsonaro e Ernesto Araújo aprovam). Para finalizar, encerro este assunto com duas belas páginas de Destro matando ratos com sua pistola (?!) para se alimentar. Genial!

  • Resenha | Superman: Identidade Secreta

    Resenha | Superman: Identidade Secreta

    Ouça nosso podcast sobre Superman: Identidade Secreta.

    Como seria a sua vida se você tivesse o mesmo nome do mais famoso super-herói da ficção de todos os tempos? Ou ainda: o que aconteceria se, por motivos desconhecidos, você acabasse descobrindo ter os poderes desse super-herói? Essa é a premissa básica da minissérie Superman: Identidade secreta, de Kurt Busiek e Stuart Immonen. Clark Kent é um adolescente de Picketsville, Kansas, que cresceu tendo seu nome associado aos gibis do Superman, ganhando brinquedos e todos os tipos de quinquilharias com o personagem estampado em todos os seus aniversários. Clark nunca gostou de ter o mesmo nome do personagem, nunca se sentiu à vontade com as piadas que faziam no colégio e até mesmo sofria bullying por isso. Assim, o garoto se tornou bastante reservado e apreciava mais redigir ensaios em uma velha máquina de escrever do que socializar com outros de sua idade. Até o dia que o impensável acontece: Clark descobre, em meio a um isolado acampamento, que tem exatamente os mesmos poderes do personagem fictício que lhe emprestava nome e sobrenome!

    A história de Busiek e Immoen procura emular o mundo real, no qual vivemos, e como um adolescente tímido agiria nessa descabida situação. Clark tem muitas dúvidas sobre a origem de seus poderes, mas ainda assim os esconde da melhor forma que pode, a fim de evitar problemas para as pessoas ao seu redor. O jovem passa a usar suas extraordinárias habilidades para fazer o bem, salvar pessoas, evitar catástrofes – mas atuando nas sombras e nunca se revelando. Até o dia em que uma grande enchente assola o Kansas, e ele se vê obrigado a agir em plena luz do dia. As pessoas passam a falar sobre ele nas ruas e nos jornais, muitos e muitos boatos são espalhados e o xará do Superboy precisa tomar uma decisão: mostrar-se ao mundo ou continuar nas sombras.

    Se essa primeira parte da história mostra sua adolescência no Kansas (e por isso o capítulo é sabiamente intitulado Smallville), a segunda parte mostra sua vida numa grande metrópole. Seja por ironia do destino ou não, Clark se torna um grande escritor – embora não queira ser repórter – e vai trabalhar numa redação. Os paralelos com a vida do Superman continuam, quando ele conhece Lois Chaudhari (mais uma piada de seus amigos tentando formar um casal “Lois & Clark”). Contudo, Lois se torna realmente sua companheira, melhor amiga, namorada e por fim, esposa, tendo com ela uma vida longa e feliz. É realmente muito bonito vermos, em um quadrinho adulto, um casamento longevo baseado no amor, na confiança e no respeito mútuo dessa forma. O casal se mostra muito bem entrosado nos capítulos a seguir criando suas filhas gêmeas com amor e dedicação.

    Durante toda a história, existe obviamente um conflito de bastidores. Afinal, de onde veem os poderes de Clark? O governo norte-americano parece muito interessado em capturá-lo, e as maiores cenas de ação da HQ consiste nas tentativas dos militares de alvejá-lo, com armamento cada vez maior. Clark, já assumindo o manto do kryptoniano como sua identidade secreta, precisa enfrentar bombas e mísseis, burlar radares e satélites. Mesmo quando capturado, Busiek não nos dá muita pistas de como os poderes surgiram. Vemos um laboratório bastante suspeito, corpos de possíveis outros “supermen” (inclusive bebês), mas nada de concreto. O mistério na história é acertado, e não faz diferença para a trama não termos tudo mastigado. Deixar a origem em aberto foi uma excelente decisão do autor.

    Em uma trama bastante introspectiva, vemos esse super-homem envelhecer com suas dúvidas, incertezas – mas também mantendo-se íntegro e fiel aos seus princípios. A arte de Immonen é impressionante ao passar para o leitor essa atmosfera de “mundo real”, ainda que bastante estilizada em vários momentos. As páginas duplas são impressionantes, e diferente de outras obras da DC Comics que mostram vários personagens ao mesmo tempo lutando entre si, aqui Immonen se empenha em refletir na paisagem a solidão de Clark Kent. Não temos um grande vilão como Lex Luthor, Brainiac ou Sr. Mxyzptlk para enfrentar o personagem, mas eles não fazem falta nessa história. Temos sim, um antagonista, mas nem de longe um vilão burlesco com planos mirabolantes. Tanto que seu relacionamento com Clark acaba sendo um acordo de cavalheiros em determinado momento. Vemos um Superman muito realista, humano e sentimental, em uma história bastante contemplativa que faz justiça ao nome do maior super-herói de todos os tempos.

    Superman: Identidade Secreta já foi publicado no Brasil em três momentos diferentes. Em sua primeira versão, em 2005, a Panini lançou a HQ na forma de minissérie em quatro edições, encadernada em uma única edição no ano seguinte. Já no aniversário de 80 anos do personagem, a obra ganhou um encadernado de capa dura à altura de sua grandeza, com um selo comemorativo e cartões especiais acompanhando a edição.

  • Resenha | Y: O Último Homem – Volume 5

    Resenha | Y: O Último Homem – Volume 5

    Não há tempo a perder: o final é aqui. Yorick, seu macaco Ampe e a agente 355 precisam sair do Japão, e viajar até a China, antes que a Dra. Mann, mestre em clonagem e sequestrada, seja assassinada por inimigos ainda desconhecidos. No penúltimo arco da série, Pátria-Mãe, uma organização quer manter erradicada a existência dos homens ao acabar com os planos de clonagem da doutora, antes que hajam milhares de Yoricks povoando a Terra, e se reproduzindo à solta num mundo de mulheres. Agora, Y – O Último Homem, do selo adulto Vertigo da DC Comics, chega no auge da ação, descortinando todo o suspense tão bem arquitetado até então, em combates tanto físicos quanto dramáticos. Nenhum personagem, mesmo em situações limites, faz-se herói ou vilões, senão perdedores e vencedores de suas próprias causas, um tanto desesperadas. E não é assim mesmo no mundo real?

    Em Não Há Causa Sem Porquê, a narrativa segue, como sempre, fragmentada no presente e passado, a fim de nos embasar sobre as raízes, e ímpetos das figuras que aprendemos a gostar, acompanhando-as em sua odisseia coletiva em tempos sem lei, e de absoluta desvalorização da vida humana. Mas é nesse último arco em que fica estipulado, mesmo, o quanto a série de Brian K. Vaughan e da ilustradora Pia Guerra, publicada com êxito estético em 10 partes pela Panini, no Brasil, conseguiu naturalizar o desenvolvimento de suas subtramas tramas, mas é incapaz aqui, em seus momentos derradeiros, de dar um desfecho grandioso ou sequer equivalente ao bom gosto, e a força principal do enredo que veio antes. Deixamos até de sentir o peso de Yorick em ser o último do seu gênero, e ter sua cabeça posta a prêmio.

    Assim, o final de Y – O Último Homem não poderia ser mais agridoce, para muitos. Ao dividir a opinião dos leitores, a história se esquiva tanto em sanar as nossas expectativas, quanto em explicações racionais sobre a grande problemática da história: a extinção enigmática dos homens. De propósito, Vaughan idealiza duas opções plausíveis, e nos torna aptos a acreditar em dois possíveis motivos para o extermínio dos animais masculinos, bípedes ou quadrúpedes, na face da Terra. Nunca de fato sabemos a grande causa (se houver apenas uma), mas isso não importa: o alvo da novela gráfica sempre foi outro, e apenas nos seus finalmentes temos a certeza disso. A jornada portanto não busca por respostas, e sim o retrato do que a humanidade ganha e perde em tempos caóticos. Que Y fez história de 2002 a 2008, chega a ser indiscutível. Uma publicação vital para qualquer leitor casual de HQ’s – quanto mais aos colecionadores.

  • Resenha | Y: O Último Homem – Volume 4

    Resenha | Y: O Último Homem – Volume 4

    Para Yorick, O Último Homem, a pergunta acaba sendo sempre a mesma: o que sobra em ti, quando tudo é adversidade? Ele, o último, a vagar por ai, num mundo que não é mais dos homens, cármico ao que sobrou do gênero. Uma Terra de mulheres, que nunca parecem se acertar igual no tempo dos machos, na máxima ironia dessas utopias. A raça humana é errada nascendo ruim ou não, e Yorick, andando junto da Dra. Mann e sua amiga, a agente do governo 355, e viajam por entre seus cacos rumo a respostas. Entre suas leis que já não existem mais. Seu sistema, em chamas, e suas memórias, mais vivas do que eles mesmos. Brian K .Vaughan e Pia Guerra criaram uma saga épica das HQ’s que exclama questões filosóficas muito além da ação e das reviravoltas, sempre pontuais em todos os volumes. O que verte quando estamos totalmente livres? Para muitos, a barbárie, e para outros, a solidão.

    E engana-se quem acha que não há barbárie nos pequenos abusos entre as pessoas. Aqui, a jornalista Paloma West ouve os boatos de que um fóssil, ou melhor, um homem desembarcou na Austrália, e não mede esforços para chegar até ele, e garantir o furo jornalístico do ano! A ambição (e inteligência) de Paloma é desmedida, e nem com a ajuda de suas amigas Yorick tem a mínima chance de manter o anonimato. Assim, mesmo mais longo na duração do que poderia ser (eis um dilema na maioria dos volumes da série), o arco Bonecas de Papel discursa habilmente o papel construtivo e quiçá destruidor da mídia nas nossas vidas, e o preço que o ser humano paga por ser um animal social – para o bem, e para o mal. Em meio ao caos e a perseguição, e sem ousar confiar em ninguém, Yorick não desiste de viajar para o Japão, a fim de encontrar o seu macaco raptado, Ampe, antes que seja tarde demais para recuperar o símio que, muito provável, é a chave imunológica à sua sobrevivência.

    Mas é no Japão que a coisa pega, e sem ver a quem. Muitos mistérios já começam a ser revelados ao indicar os possíveis desfechos da trama – a narrativa de Vaughan reconhece os momentos perfeitos para desvendar os enigmas construídos pouco a pouco, e o leitor certamente agradece pelo nível da escrita. No arco Dragões de Quimono, as máscaras caem e traidores se expõem, subjugando os desavisados num terrível hotel de Tóquio, repleto de assassinos e mafiosos. O suspense aqui é pesado, rendendo momentos decisivos de pura tensão, redenção e até mesmo horror, para talvez Ampe voltar aos braços do dono – nada mais será normal após esta viagem. E o caminho para o fim já está traçado. Curioso notar como a evolução de Y – O Último Homem se dá, em todas as vertentes da revista, concebendo uma realidade e seus habitantes em constante transformação. A Terra sem homens é tridimensional, sai das páginas e se torna crível nas nossas mentes e corações, enquanto a natureza externa faz, o que ela deve fazer: ficar alheia ao Homem. É nós, por nós mesmos.

  • Resenha | Magneto: Atos de Terror

    Resenha | Magneto: Atos de Terror

    Magneto é dos personagem mutantes mais famosos entre os que participam das historias dos X-Men e derivados, seja como primeiro vilão do grupo X, como soberano da nação mutante localizada em Genosha por anos ou como líder ideológico revolucionário. Escrito por Skotti Young com desenhos de Clay Mann e Gabriel Hernandez Walta, em Magneto : Atos de Terror a trama começa com o personagem invadindo uma reunião de preconceituosos aos mutante e sua ideologia. O personagem ataca as pessoas, dizima-as e justifica bem o nome original da publicação, Not a Hero, não é um herói, uma vez que em suas atitudes não há espaço para lidar bem à intolerância alheia, nem truísmos dignos dos heróis.

    Essa primeira sequência logo se prova dúbia, é preciso verificar além das aparências. O status quo consiste na decisão de Erik Lehnsherr em ser um sujeito cordato, tanto que decidiu se unir aos X-Men liderados por Ciclope e Emma Frost. A publicação da historia data de 2012, e essa fase é bastante elogiada por leitores e pela crítica, mostram a escola de super dotados tendo que lidar com a ausência de poderosos mutantes, entre eles Jean Grey e Charles Xavier embora a leitura dessa historia em particular não envolva esses aspectos de maneira direta.

    A narrativa contém boas surpresas e inversões de expectativa, com participações pontuais de personagens novos para época, como a mutante Fada, e o retorno de outros antigos coadjuvantes, como Joseph e Astra. A arte de Mann resgata elementos típicos da fase de Jim Lee e Chris Claremont, embora o texto seja bem diferente dessa fase. Isso resulta em uma boa mistura, pois o sub texto é mais elaborado e adulto, resultando num estudo de personagem diferente do revolucionário quase sempre beligerante, com os desenhos que fazem lembrar fases mais clássicas. Ou seja, é fácil perceber que se trata do mesmíssimo Magneto das histórias antigas.

    A luta final é apoteótica, como uma batalha entre dois deuses semelhantes. Termina de maneira visceral, discute a respeito da índole de Magnus como líder mutante, como idealista e como ente de um mundo de super seres. O personagem tem defeitos, falhas morais e de comportamento, e para uma historia a respeito de Magneto, Young mostra um bom estudo de caso da figura dúbia que Erik sempre foi desde os anos 60 e a fase pós Claremont, até os dias atuais nos X-Men de Jonathan Hickman.

  • Resenha | X-Men: Grand Design – Volume 1

    Resenha | X-Men: Grand Design – Volume 1

    X-Men: Grand Design é uma revista especial, cujo formato peculiar mira recontar a cronologia das revistas mutantes da Marvel ao estilo do trabalho anterior de seu autor, Hip Hop Genealogia, dividida em dois números. Esta versão será lançada em três volumes e conta com o alto conhecimento de Ed Piskor, e seu traço peculiar, sobre as histórias dos portadores do Gene X.

    O início da historia se dá com o ser senciente conhecido como O Vigia, que grava suas palavras com um ser autômato que o auxilia em seus registros. Piskor tem total domínio sobre sua história, remete a momentos vistos nas revistas originais de Stan Lee e Jack Kirby, reunindo também os famigerados retcons, organizados como se fizessem parte das histórias desde o início.

    A gênese dos personagens mutantes cita rapidamente o príncipe submarino Namor, que por sua vez causa na humanidade o primeiro grande receio aos mutantes, e a consequente rejeição à raça como um todo. Depois aborda rapidamente a dupla que Capitão América e Wolverine formaram na Segunda Guerra Mundial, passando também pela infância de Magnus e Charles, as contrapartes de Magneto e Professor X, incluindo os problemas de perseguição nazista de um, e os muitos problemas familiares do outro.

    O modo de estabelecer a jornada é episódica. A arte cartunizada acrescenta uma inocência e ingenuidade muito bem vindas. As histórias dos X-Men abordando temas pesados como intolerância e segregação de raça e de minorias. Então, um estilo de imagem próximo aos desenhos animados antigos traz uma sensação de familiaridade que ajuda a aplacar o azedume da humanidade que insiste em perseguir o que não entende.

    O traço de Piskor é muito característico. Combina bem com os personagens tal qual era Mike Allred com X-Tatics e X-Force, embora haja claro diferenças infinitas entre os dois traços citados. As referências dos desenhos resgatam até mesmo o seriado animado de 1992 que passava na Fox Kids.

    Na versão que a Panini apresenta há uma introdução inédita do rapper Emicida, que além de fã de Piskor é também dos X-Men. Como fruto da cultura hip hop, o artista brasileiro destaca que Grand Design faz uso de samples, que são trechos no rap que reciclam partes de outras músicas, com novos significados que reúnem passado e presente em uma nova arte. Um bom resumo do espírito e caráter deste especial, que está longe de ser uma história para introdução de novos leitores, mas sim dedicada a quem já conhece a jornada dos alunos de Xavier e Lehnsherr. Um prato cheio, com homenagens lindas e muitas referências aos personagens clássicos e aos obscuros que povoavam as páginas dos mutantes.

    Das mais de 120 páginas do encadernado, a história vai até nonagésima primeira pagina. Depois aparecem escritos antigos de Piskor que revelam que aquele era o seu Projeto dos Sonhos, dada a obsessão pelos mutantes e pela cronologia da Marvel que tinha desde que era pequeno, enquanto aprendia com sua mãe a desenhar. O que se vê é muita paixão e conhecimento e embora o remanejar de fatos e pessoas não seja tão ousado em fatos inéditos, tem um propósito belo, inteligente e genial até em sua simplicidade.

  • Resenha | Y: O Último Homem – Volume 3

    Resenha | Y: O Último Homem – Volume 3

    “[…] Deus não nos escolheu.”

    E a religião depois do apocalipse? Ainda vale acreditar em salvação se você ficou pra trás? Aparentemente, o popular lema do Chapolim Colorado, célebre criação de Roberto Gómez Bolaños, vive uma crise de fé no dia seguinte ao arrebatamento individual – e em Y – O Último Homem, isso não poderia ser diferente. Sob a premissa do único representante masculino vivendo em meio a bilhões de mulheres, crenças antigas (católicas, muçulmanas) parecem estar ultrapassadas agora, com um simbolismo contestado pela revolta e a confusão das pessoas. Em tempos assim, o sagrado perde o peso e cede brilho ao ceticismo, ao carma, uma vez que o inferno está na Terra e não há mais nada para nos salvar de nós mesmos. Neste terceiro volume da saga, Deus está morto dentro ou fora da igreja. Sobrou a sobrevivência e, se bobear, a barbárie.

    É curioso como a publicação da Panini trata o fatalismo, no geral, como combustível para valorizar a vida, e as relações humanas. Agora que todos finalmente chegaram ao laboratório da Dr. Mann, para tentar encontrar a cura a extinção dos homens (não como raça, e sim o gênero), nada é mais precioso que as amizades e os laços das pessoas. Yorick, o último, já fala com Mann e a agente 355, designada pelo governo dos EUA para protegê-lo, como se os três fossem irmãos. Graças ao talento e ao timing criativo de Brian K. Vaughan, essa evolução das personagens é muito bem-sucedida na série, sempre apostando no drama e na ação para pautar a naturalidade das histórias, e manter o ritmo narrativo hipnotizante em O Anel da Verdade. Aqui, ficamos sabendo que pode ter sido um reles anel de mágico que Yorick usava pendurado no pescoço que pode ter evitado a sua morte, por alguma razão desconhecida, até que o seu macaco de estimação, Ampe, parece ser a chave real da preciosa imunidade dele.

    Sem limitar-se a provocações blasfêmicas, ou a explicações baratas que poderiam desmistificar os mistérios principais de Y – O Último Homem, esse acordo extermina qualquer noção de conforto na trama, e atira Yorick e suas grandes amigas numa perseguição para recuperar Ampe, pois outros já haviam descoberto o valor do macaquinho bem antes deles. Apesar do leve excesso de páginas que apresenta, O Anel da Verdade é o ponto de virada necessária na saga, bem antes de Menina com Menina, em que nossos “heróis” (várias aspas, por favor) se veem como forasteiros num navio rumo ao Japão, rumo ao salvador primata – por mais que ele não seja visto com essa aura imaculada, seja porque as religiões ficaram inúteis, ou porque é difícil enxergar o sagrado num animal que atira cocô em qualquer um, exceto no dono, Yorick. Questões como traição, memórias afetivas e, finalmente, lesbianismo são ilustradas com exuberância nos traços realistas de Pia Guerra, o que resulta em belos painéis coloridos e ótimas cenas – as lembranças de Yorick com sua eterna ex-namorada, Beth. Viva, talvez? Mas aonde?

    De frágil, o amor de verdade não tem nada. E essa, por incrível que pareça, é a mensagem mais forte da série.

  • Resenha | Y: O Último Homem – Volume 2

    Resenha | Y: O Último Homem – Volume 2

    “Você e eu, parceiro: à deriva num oceano de estrogênio.”

    Toda barba será castigada – ou, no mínimo, perseguida. No segundo volume da saga Y: O Último Homem, nota-se a necessidade de expandir a história e, com isso, enfraquecer sua narrativa central. Se antes o foco era em Yorick e seu macaco, os últimos mamíferos machos da face da Terra, e suas duas amigas vagando pelos Estados Unidos, até um refúgio para “a última fábrica ativa de espermatozoides do planeta”, agora há uma tentativa fraca de construir-se uma mitologia para a situação. Com a mulherada mandando no pedaço, e criando facções em diferentes estados do país, ninguém é de confiança em um cenário de puro suspense e retaliação, tenha você seios, ou não.

    A grande série de Brian K. Vaughan e Pia Guerra, devida e extremamente prestigiada entre críticos e leitores, continua a ser uma crítica surreal aos extremos que regem o ser humano, e como eles podem atrapalhar o progresso da nossa coletividade. Em O Último Homem, temos uma sociedade dividida negando qualquer harmonia utópica, para se rebelar em gangues e fortalecer seus poderes de sobrevivência paralelos, enquanto esperam os últimos homens (do espaço) caírem na Terra, e quem sabe, repovoarem a espécie – o que tira um peso enorme dos ombros de Yorick. De repente, o último macho humanoide pode não ser tão especial assim. Ou não, pois quando agentes militares israelenses descobrem que astronautas masculinos vão pousar em solo americano, tentarão de tudo para capturar os barbudos e garantirem a procriação em Israel.

    Longe de supervalorizar a figura masculina, Y – O Último Homem debate na ficção como os sonhos de Superman são impossíveis, e a paz mundial já foi condenada pela própria natureza caótica das pessoas. Há muito os menos hipócritas já sabem disso, e em A Senha, conhecemos mais a fundo o passado de Yorick, num mergulho existencial do mais normal dos rapazes, ou melhor: a última esperança viva das próximas gerações. Com suas amigas em sérios apuros na mão de assassinas brutais, uma ex-agente militar brinca com a mente de Yorick enquanto o faz ter alucinações perigosíssimas. Mas por quê? Há algo de podre no reino das amazonas, e a vida não parece mais valer muita coisa no Arizona, ou em qualquer lugar. Talvez porque a Mulher já tenha aceitado que, ao morrer, os golfinhos serão oficialmente os animais mais inteligentes da Terra.

    Mas saberão apreciar uma canção, um livro, construir pirâmides? Saberão eles ser racistas, homofóbicos, se matar porque um gosta de mar, e o outro gosta de viver em piscinas? Ou será que a natureza exterminou os homens para dar uma chance a mulher de melhorar as coisas com suas peculiaridades femininas? Os Volumes 3 e 4 ostentam essas e outras questões pela ótica da ação e da aventura, e mesmo ao assumirem-se como extensões um tanto dispensáveis do grande arco de histórias da série, as ilustrações seguem fortes o bastante para nos surpreender, em diversos momentos de pura adrenalina. Há um drama verdadeiro e bem difundido na revista, em uma realidade quase que pós-apocalíptica em que todos foram deixados a própria sorte, e o azar impera – ainda mais se você tiver um pênis e for tão imaturo quanto um homem pode ser.

    Compre: Y – O Último Homem – Volume 2.

  • Resenha | Batman: A Queda do Morcego – Volume 1

    Resenha | Batman: A Queda do Morcego – Volume 1

    Quem não gosta de um bom arco de personagem? Ainda mais quando ele é um vilão, sejamos honestos. Na terra do Batman, o Coringa sempre ganha os holofotes, trabalhado em oitenta anos por uma miríade impressionante de talentos. Mas em 2012, Christopher Nolan (após ter entregue o mais inesquecível dos palhaços do crime) teve a chance de mudar isso, e nos entregar um Bane a altura do Cavaleiro das Trevas – não como o seu oposto, brincando com todo esse maniqueísmo da cultura pop, mas ameaçador o bastante para, literalmente, quebrar o guardião de Gotham. Falhou, e nas suas mãos Bane virou apenas um terrorista egocêntrico falando igual o Darth Vader. Na sua abordagem hiper-realista, Nolan não se permitiu explorar pra valer um dos mais interessantes antagonistas do Batman, mas está tudo bem: temos um A Queda do Morcego para chamar de nosso.

    Neste primeiro volume publicado pela Panini Comics no Brasil, nota-se o esforço bem-sucedido de se criar um A Piada Mortal mais colorida e aventuresca para Bane. Em suas profundas origens escritas por Chuck Dixon e outros, o arquétipo do vilão é moldado para justificar o seu caráter não-diabólico por natureza, e sim o puro reflexo de toda a dor e tortura que o garoto, e depois o homem, passou. Em A Queda do Morcego, temos menos Batman e mais Bane, desde o seu nascimento na prisão de Pena Duro, em um país caribenho esquecido por Deus. Crescido entre os piores tipos, o menino viu a cara da morte muito antes de ter pelo no peito e viu também a ruindade como única moeda quando se mora no inferno. Enclausurado, Bane atingiu o limite do físico e do intelectual, exercitando a mente e envenenando seu corpo ao máximo. E de desafio a desafio, finalmente Gotham City o atraiu pelo maior de todos, no horizonte: capturar o incapturável. E dobrá-lo.

    Desafio aceito. Desta forma, Bane promove o caos na mais violenta das cidades, libertando os doentes do asilo Arkham e usando, um a um, para se voltarem contra Batman e Robin sem dó. Exaurindo-os. Desesperando-os. Estratégico, e muito além de ser uma mera massa de músculos, Bane espera até a carne ser amassada pelo Coringa, Charada, Mulher-Gato e outros vilões para, então, desferir o nocaute final e comandar Gotham a punhos de ferro, na maior vitória de todas. Mas o destino, sempre ele, traz reviravoltas que o grandalhão mascarado jamais esperaria – e nem nós. Em vinte e duas histórias construídas a base de muita ação e momentos eletrizantes (incluindo o mais assustador Espantalho já visto), A Queda do Morcego glorifica os ícones imortais dos quadrinhos em um belo arco central de ascensão e danação, ao ilustrar com força e adrenalina um dos eventos mais clássicos e mais comentados da história do Batman.

    Compre: Batman: A Queda do Morcego – Volume 1.