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  • Resenha | Arlequina & Hera Venenosa: Paixões Violentas

    Resenha | Arlequina & Hera Venenosa: Paixões Violentas

    Em Batman: A Série Animada, desenvolvida por Bruce Timm, já havia um esboço de parceira (e até alguma tensão sexual mínima) entre as personagens Hera Venenosa e Arlequina. Diante disso, o roteirista Chuck Dixon ao lado do artista Joe Chiodo decidem explorar um pouco dessa interação entre as personagens na curta história Arlequina e Hera Venenosa: Paixões Violentas.

    Publicada há alguns anos pela Editora Mythos, e ainda que seja uma história curta, merecia uma edição mais caprichada. A arte de Chiodo emula o traço da animação dos anos 90 sem deixar de lado seu caráter próprio, apesar de apelar à sexualidade das personagens. O trabalho de cor realmente chama a atenção, se assemelhando a tintas de aquarela, infelizmente, pouco valorizado no papel desta edição.

    Na trama, Coringa expulsa a namorada após um assalto que dá errado. Ao invés dela perceber a relação abusiva existente, ela resolve obedecer sua ordem autoritária, acreditando que caso consiga se virar sozinha, ele a aceitaria de volta. Esse fato certamente serve de paralelo com a realidade de muitas mulheres abusadas física e emocionalmente, assim como a personagem.

    Há uma máxima falaciosa de que a DC Comics só começou a sexualizar a personagem após mudar seu uniforme, perto da época dos Novos 52, tal qual se vê em Batman: Assalto em Arkham e Esquadrão Suicida. Nessa história, publicada em 2001, ela luta contra a dupla dinâmica em poses praticamente impossíveis de ocorrer para uma mulher normal, faz às vezes de pinup, como um objeto sexual, assim como outras personagens.

    Em À Prova de Morte, filme  dirigido por Quentin Tarantino, há uma fala que conversa bem com a premissa desse gibi. O personagem assassino de Kurt Russell diz “existem poucas coisas mais atraentes que o ego amargurado de um anjo”, e isso combina com a postura da personagem após romper com o Palhaço do Crime. Embora Quinzel não tenha uma consciência sã de que sofria assédios constantes por parte de quem ela tinha como parceiro, enfim ela passou a ter uma postura resoluta quando tomou noção da rejeição que sofreu.

    Dixon apresenta uma história simples, com momentos de ação bem pensados e sem grandes arcos dramáticos. A temática é igualmente simples, o que mais faz brilhar certamente é o subtexto contestador de Hera reclamando que Harley que é submissa demais, ainda assim não lhe negando ajuda, seja por amizade ou por segundas intenções. Mesmo sendo uma história breve Paixões Violentas faz refletir, diferente de boa parte dos produtos da cultura pop, e isso se torna ainda mais válido quando reflete a realidade de violência doméstica existente em diversos lares.

  • Resenha | Batman: A Queda do Morcego – Volume 1

    Resenha | Batman: A Queda do Morcego – Volume 1

    Quem não gosta de um bom arco de personagem? Ainda mais quando ele é um vilão, sejamos honestos. Na terra do Batman, o Coringa sempre ganha os holofotes, trabalhado em oitenta anos por uma miríade impressionante de talentos. Mas em 2012, Christopher Nolan (após ter entregue o mais inesquecível dos palhaços do crime) teve a chance de mudar isso, e nos entregar um Bane a altura do Cavaleiro das Trevas – não como o seu oposto, brincando com todo esse maniqueísmo da cultura pop, mas ameaçador o bastante para, literalmente, quebrar o guardião de Gotham. Falhou, e nas suas mãos Bane virou apenas um terrorista egocêntrico falando igual o Darth Vader. Na sua abordagem hiper-realista, Nolan não se permitiu explorar pra valer um dos mais interessantes antagonistas do Batman, mas está tudo bem: temos um A Queda do Morcego para chamar de nosso.

    Neste primeiro volume publicado pela Panini Comics no Brasil, nota-se o esforço bem-sucedido de se criar um A Piada Mortal mais colorida e aventuresca para Bane. Em suas profundas origens escritas por Chuck Dixon e outros, o arquétipo do vilão é moldado para justificar o seu caráter não-diabólico por natureza, e sim o puro reflexo de toda a dor e tortura que o garoto, e depois o homem, passou. Em A Queda do Morcego, temos menos Batman e mais Bane, desde o seu nascimento na prisão de Pena Duro, em um país caribenho esquecido por Deus. Crescido entre os piores tipos, o menino viu a cara da morte muito antes de ter pelo no peito e viu também a ruindade como única moeda quando se mora no inferno. Enclausurado, Bane atingiu o limite do físico e do intelectual, exercitando a mente e envenenando seu corpo ao máximo. E de desafio a desafio, finalmente Gotham City o atraiu pelo maior de todos, no horizonte: capturar o incapturável. E dobrá-lo.

    Desafio aceito. Desta forma, Bane promove o caos na mais violenta das cidades, libertando os doentes do asilo Arkham e usando, um a um, para se voltarem contra Batman e Robin sem dó. Exaurindo-os. Desesperando-os. Estratégico, e muito além de ser uma mera massa de músculos, Bane espera até a carne ser amassada pelo Coringa, Charada, Mulher-Gato e outros vilões para, então, desferir o nocaute final e comandar Gotham a punhos de ferro, na maior vitória de todas. Mas o destino, sempre ele, traz reviravoltas que o grandalhão mascarado jamais esperaria – e nem nós. Em vinte e duas histórias construídas a base de muita ação e momentos eletrizantes (incluindo o mais assustador Espantalho já visto), A Queda do Morcego glorifica os ícones imortais dos quadrinhos em um belo arco central de ascensão e danação, ao ilustrar com força e adrenalina um dos eventos mais clássicos e mais comentados da história do Batman.

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  • Resenha | A Morte de Batman: O Filme

    Resenha | A Morte de Batman: O Filme

    Há certo tempo, os quadrinhos da DC Comics – bem como da Marvel – se desenvolvem em histórias seriadas, normalmente, dividas em sagas com desdobramentos e sub-tramas. Após a saga A Queda do Morcego, responsável pela literal destruição do Cavaleiro das Trevas, o arco A Cruzada marcou a fase de um novo Batman, Jean Paul Valley, um personagem mais violento e agressivo que o morcego original. Tanto essa saga quanto A Morte do Superman foram lançadas na mesma época, demonstrando a intenção do estúdio em movimentar o mercado editorial com severas modificações em seus principais heróis.

    Lançado na era do formatinho na revista Super Powers 36, A Morte do Batman – O Filme introduz o Coringa em conflito com esse novo Homem-Morcego. Mesmo situado dentro do segundo ato da Queda, a trama funciona mais como um respiro dentro da longa saga, trazendo em cena uma das personificações desse vilão definitivo. A ação se centraliza no desejo de Coringa em assassinar Batman, produzindo in loco um filme sobre o feito.

    A faceta do vilão é apoiada mais em sua composição galhofeira e nonsense. Sem intenção de conectar essa história ao arco central, o roteirista Chuck Dixon opta por uma trama apoiada em referências cinematográficas e em um Coringa menos ensandecido, mais cômico do que violento.  O humor ridículo do vilão se alia a um estilo mais hippie nos desenhos de Graham Nolan, demonstrando como a década de 90 também se marcou pela errônea tentativa de revitalizar personagens modificando-o pequenos detalhes de seus traços, fato que, posteriormente, só destacou a estranheza que essa época foi para os quadrinhos.

    Se a dinâmica entre Batman e Coringa sempre funcionou como um certo respeito entre arqui-inimigo, essa trama demonstra que a tônica não se estrutura da mesma forma com Jean Paul Valley.  Demonstrando-se um morcego mais violento e menos racional, o novo Batman deseja mata-lo de uma vez por todas e, claro, é impedido pela polícia de Gotham. O leitor sabe que a intenção é somente um conflito superficial, que proporciona as diferenças de um herói a outro e serve, apenas, para preservar o vilão para outro embate.

    Mesmo sendo funcional como história fechada, ainda mais devido a presença do vilão definitivo do personagem, A Morte do Batman – O Filme não se destaca como uma história significativa. Talvez na época de seu lançamento, funcionasse para desenvolver melhor o novo morcego. Vista com distanciamento, como não interfere na saga em si, se pauta somente como uma leitura divertida pela veia mais cômica do vilão e com as diversas referências ao universo cinematográfico.

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  • Resenha | Justiceiro: O Homem da Máfia

    Resenha | Justiceiro: O Homem da Máfia

    Na década de 90, o Justiceiro, um dos paladinos da Marvel Comics, atingiu o ápice de sua popularidade. Desde a minissérie Círculo de Sangue, resgatando o personagem criado como um coadjuvante na revista do Homem-Aranha, o vigilante ganhava cada vez mais leitores e, por consequência, novas revistas: The Punisher foi lançado em 1987 e The Punisher: War Jornal no ano seguinte.

    Não bastando o lançamento consecutivo de suas edições mensais, uma terceira foi colocada no mercado apenas três anos depois. Lançada em 1992, The Punisher: War Zone continuava a explorar a recente credibilidade da personagem, ainda que em 1995, o Justiceiro entraria em declínio com todas revistas canceladas pela editora. Mesmo se tratando de um material inicial da personagem, a série foi lançada no país com poucas edições em formatinho. O primeiro arco intitulado O Homem da Máfia reúne as seis primeiras histórias e foi publicado no país em 1995, em Grandes Herois Márvel nº50, seguindo a tônica da editora em redesenhar alguns quadros e cortar algumas páginas do original.

    O time que assina a trama é de peso. Chuck Dixon nos roteiros, John Romita Jr. Nos desenhos com Klaus Janson que trabalha com a personagem anteriormente em The Punisher, na arte final. Na Trama, Frank Castle prossegue com sua cruzada contra o crime. Para destruir a família de mafiosos Carbone, infiltra-se como um capanga dentro da equipe. Em paralelo a essa trama, o hacker Micro (visto recentemente na série homônima da Netflix), insatisfeito com os métodos do vigilante, decide abandoná-lo como parceiro.

    Como desenvolvido desde a citada saga Círculo de Sangue, Justiceiro é um antiheroi impiodoso. A aplicação da violência nos quadrinhos sempre é imaginada como um fato contemporâneo, porém, mesmo se uma violência física explícita, é perceptível os métodos da personagem. A diferença é que na época o estilo visual era diferente. Neste caso, marcado por um excesso de cores se comparado com a paleta atual mais sombria, principalmente nas histórias do personagem. A violência se mantém presente de qualquer maneira com o vigilante não poupando ninguém de sua jornada.

    Justiceiro – O Homem da Máfia é uma trama eficiente, demonstrando a sempre boa qualidade das histórias da personagem, principalmente quando o enfoque não explora nenhum fator comum do universo da Marvel, focando-se em uma narrativa realista na medida do possível em comparação a outros heróis da casa.

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  • Resenha | Batman: Contágio

    Resenha | Batman: Contágio

    Batman Contagion

    Lançado em 12 partes nas revistas mensais de Batman e seus aliados, Contágio foi publicado no país em quatro edições pela Editora Abril, entre março e abril de 1998, em Batman – Vigilantes de Gotham #17 e #18 e Batman #17 e #18. O arco nunca foi relançado no país, mas, como é costume nos Estados Unidos, a saga foi republicada em uma edição compilada .

    A intenção de Contágio é apresentar um elemento a mais nas tradicionais aventuras do Morcego. Em uma época em que Batman sofreu um grave acidente e sobreviveu à lesão na espinha, escolher como vilão um vírus com alto potencial destrutivo apresenta um novo elemento capaz de sobrepujar o herói e, talvez, amenizar os exageros cometidos dois anos antes na saga A Queda do Morcego.

    Tratando-se de um herói que conquistou a fama de indestrutível por conta da capacidade estratégica, física e de arsenal ilimitado, um vírus letal é uma dimensão nova que vai além das tradicionais brigas com vilões. Vista com distanciamento temporal, a saga parece antecipar outras duas grandes histórias interligadas entre si: Terremoto e Terra de Ninguém, excelentes arcos publicados dois anos depois desta.

    A narrativa inicia-se indo direto ao ponto. Azrael, um dos aliados do morcego – e quem veste o manto na época do acidente quase fatal – informa que um vírus letal, uma variante do Ebola, chegará a Gotham City através de um homem infectado. A personagem em questão é um rico empresário que deseja construir um condomínio de luxo autossustentável. Ironicamente, o ambiente controlado acaba sendo o ponto de partida da infecção na cidade. Tentando impedir o contágio, Batman e seu esquadrão assumem frontes distintas para descobrir a origem do vírus e procurar sobreviventes de uma epidemia anterior, ocorrida no Alaska. Por ser uma narrativa que atravessa as revistas de todos os personagens do universo do Morcego, Robin é o herói que mais se destaca, tendo como missão a busca e resgate de um sobrevivente de um contágio ocorrido anteriormente. No local, o menino prodígio conta com a ajuda de Mulher-Gato, vivendo, na época, uma relação conturbada com os vigilantes de Gotham.

    A urgência prometida pelo tempo escasso não aparece nos quadrinhos. Como um líder informal da cidade, Batman pouco aparece no início da trama. Sua presença é inferida pelos personagens e não está ligado diretamente com a ação. A história desenvolve-se com seu esquadrão, Robin, Mulher-Gato e Azrael, procurando por sobreviventes. Enfocando mais a busca por uma vacina do que a destruição de Gotham, a dimensão da epidemia é diminuída, e a figura do morcego fica sem uma função específica na história. Por que sua presença na cidade é tão importante quando deveria ser ele o líder à procura da cura?

    Para manter o ritmo narrativo das doze partes, surgem mais ganchos do que o necessário. Um esforço para acelerar um início levemente arrastado e sem uma tensão iminente devido ao contágio. Somente quando um dos heróis é afetado pelo vírus, a urgência aumenta e a trama torna-se mais ágil, dividindo-se entra a histeria coletiva da cidade, os vigilantes tentando proteger a população e um Batman ciente de que a cidade pode sucumbir a qualquer momento e nada fazendo para ajudá-la. A trama também traz o retorno de Gordon como Comissário no comando da polícia, em uma bonita cena em que ele e o Morcego discorrem sobre o amor e ódio que sentem pela amaldiçoada Gotham.

    Mesmo não sendo um arco brilhante, Batman – Contágio demonstra a possibilidade de inserir novos elementos nas tradicionais tramas de heróis sem que estas se tornem destoantes. Uma vertente utilizada em grandes sagas pela DC Comics na década seguinte.