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  • Resenha | Quarteto Fantástico: Inconcebível

    Resenha | Quarteto Fantástico: Inconcebível

    Quarteto Fantástico - Inconcebível

    Após um início apresentando breves histórias aventureiras do Quarteto Fantástico – compilado recentemente no país sob o título ImaginautasMark Waid produz a primeira saga sob sua assinatura, desenvolvendo uma trama rompendo estruturas familiares da equipe e resgatando o arqui-inimigo Doutor Destino.

    Inconcebível foi recentemente publicado na Coleção de Graphic Novels da Salvat (Nº 30, lançado em fevereiro de 2015), e havia sido anteriormente lançado pela Panini Comics no mix de O Incrível Hulk. A série inicia-se com um prólogo intitulado Sob Sua Pele – edição publicada também na revista Marvel + Aventura nº4 em setembro de 2011 – focando em Victor Von Doom e em sua busca mundial por Valéria, amor do passado juvenil na Latvéria. Única mulher que ele amou além da mãe, Valéria seria a representação de sua humanidade, porém a procura demonstra, em maior escala, sua vilania. A amada é entregue para demônios em troca de maiores poderes sobre a magia e, para isso, atacar novamente o Quarteto Fantástico.

    A edição da Salvat apresenta uma introdução com os acontecimentos prévios que situam o leitor sobre a relação de Von Doom e a filha mais nova do Quarteto, Valéria Richards. Inicialmente, a personagem era fruto de uma gravidez abortada de Sue e, posteriormente, tornou-se oriunda de um futuro alternativo. Em uma saga em que o irmão e a garota unem os poderes, Valéria retornou ao útero de Sue para, finalmente, nascer. Um reajuste da cronologia perante o absurdo da viagem temporal que não impediu conflitos no nascimento do bebê. Na ocasião, Reed Richards resolvia uma crise mundial e Johnny Storm pedia ao inimigo Doom a ajuda com o parto. Destino presta auxílio com uma condição: batizar a garota, o que explica o nome de sua amada dado à filha de Richards/Storm.

    O background é retomado nesta narrativa com Von Doom, estabelecendo um contato psíquico com a garota desde seu batismo, e roubando-a do seio da família, ao mesmo tempo que coloca o primogênito Franklin no inferno. Mesmo responsável pelos atos mais vis dentro do universo Marvel, arquitetando planos contra o quarteto e o mundo em geral, o ditador amplia sua maldade ao selecionar como alvo as crianças da família para destruí-la: a justificativa para o “inconcebível” que marca o título.

    A trama mistura a composição familiar exposta desde o compilado anterior e acrescenta o confronto direto com o grande vilão como um marco comemorativo das 500 edições da revista. O desafio destrói a família pelos elos mais fracos e acrescenta uma nova camada à inteligência de Senhor Fantástico, desafiado e preso por Von Doom em uma biblioteca com livros de magia, obrigado a aprender uma arte não-científica para ser capaz de salvar os parentes. Com a ajuda de Doutor Estranho, Richards tem de subjugar a visão científica, desenvolvida desde a infância, para assumir a existência de planos superiores impossíveis de serem controlados.

    Ainda que a magia seja um dos argumentos mais difíceis de plena justificativa em histórias em quadrinhos – por funcionar, muitas vezes, como uma muleta de roteiros ruins –, neste arco ela é utilizada com uma carta na manga inesperada, provando o intelecto superior de Richards em relação a Doom, principalmente sobre a força de vontade, afinal a personagem luta também pela segurança familiar. Reconhecendo a derrota prévia, Destino ainda marca o inimigo com uma queimadura no rosto, semelhante a sua, como lembrança de sua existência.

    Inconcebível inicia mais uma crise dentro do Quarteto e, simultaneamente, comemora o longevo título da primeira equipe da Marvel. Mas Waid e o desenhista Mike Wieringo dariam mais um passo rumo a uma trama memorável no desenrolar das ações desta história em Ações Autoritárias.

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    Quarteto Fantástico - Inconcebível - 2

  • Resenha | Quarteto Fantástico: Imaginautas

    Resenha | Quarteto Fantástico: Imaginautas

    Quarteto Fantastico - Imaginautas - Capa

    Em sincronia com o lançamento do novo filme do Quarteto Fantástico, cuja estreia está programada para agosto, a Panini Comics lança no mercado uma edição especial reunindo as primeiras histórias da fase de Mark Waid, uma elogiada passagem no maior gibi do mundo – de acordo com Stan Lee – e um bom momento para novos leitores.

    Recentemente, dois arcos de Waid foram relançados na coleção de Graphic Novels da Salvat / Marvel: Inconcebível e Ações Autoritárias. Imaginautas marca o início de sua passagem pelo título e demonstra um acerto por parte da editora em lançar um conteúdo diferente ao invés de replicar em outro formato as histórias da Salvat. Reunindo tais arcos, temos metade da passagem de Waid pela revista em compilados.

    Primeiros volumes de novos roteiristas sempre seguem um padrão que introduz a narrativa do autor a um novo universo, ao mesmo tempo que incorpora argumentos anteriores, coerentes com a nova visão a ser explorada. Diferentemente de outros roteiristas, Waid não promove uma longa história em sua estreia. Mas se apoia em duas narrativas breves, de uma única edição, para introduzir bases da equipe, e ainda realiza um interessante jogo metalinguístico. Em Virado do Avesso, o grupo constata que está em baixa no mercado de super-heróis e contrata uma nova equipe de marketing para retrabalhar a imagem do Quarteto Fantástico. De certa maneira, o roteiro reflete as passagens de escritores por um título, muitas vezes convidados para alavancar vendas e atrair o público. Neste primeiro momento, Waid deixa de lado o lado heroico e enfoca a família. As brincadeiras entre Johnny Storm e Ben Grimm, o trabalho constante do cientista Reed Richards e como sua obsessão afeta a esposa Sue e seus filhos. Buscando maior responsabilidade para o sempre adolescente Tocha Humana, Sue promove-o, em 24 Quadras e Uma Quina, à equipe financeira da Quarteto Fantástico LTDA. Modificações simples na estrutura narrativa que reforçam a mensagem familiar do grupo, uma vertente existente desde sua criação.

    Os Imaginautas configuram a alcunha de equipe pioneira, não apenas por esta ser a primeira lançada pela Marvel, mas também por ser desbravadora de novos mundos e universos. A ficção científica e a aventura sempre foram fios condutores destas histórias. Dividida em três partes, Consciência é um bom exemplo da inovação aventureira, com uma narrativa plausível sobre uma equação viva que deseja encontrar em Richards um igual. Pequenas coisas… também transita neste mesmo tom, sem refletir o ideal realista que foi a base de muitos títulos da Casa das Ideias na última década. Trata-se de uma trama leve de ação e aventura sem um apoio fiel da realidade.

    Ao contrário do que informa a contra-capa, a edição reúne os números 57, 60 a 66 – e não 65 – e apresenta uma história curta do roteirista anterior, Karl Kesel, o qual trabalha posteriormente com Waid nos roteiros. Nesta história, Ben Grimm é a personagem central em retorno à mítica Rua Nancy e sua gangue. Em recortes do passado, o histórico pregresso do jovem Grimm é apresentado em contraposição ao presente em que, adulto, retorna ao local para reencontrar um dono de uma loja de penhores, tradicional na região. Uma trama poética que intensifica a vertente familiar e sensível vista, nesse caso, por outro roteirista.

    Com 196 páginas e capa cartonada, Imaginautas é um bom ponto de início aos novos leitores e um começo bem acertado ao fugir das tradicionais narrativas longas e situar as personagens em pequenas histórias fechadas, antes de partir para uma grande história. Quarteto Fantástico - Imaginautas

  • Resenha | Batman: Contágio

    Resenha | Batman: Contágio

    Batman Contagion

    Lançado em 12 partes nas revistas mensais de Batman e seus aliados, Contágio foi publicado no país em quatro edições pela Editora Abril, entre março e abril de 1998, em Batman – Vigilantes de Gotham #17 e #18 e Batman #17 e #18. O arco nunca foi relançado no país, mas, como é costume nos Estados Unidos, a saga foi republicada em uma edição compilada .

    A intenção de Contágio é apresentar um elemento a mais nas tradicionais aventuras do Morcego. Em uma época em que Batman sofreu um grave acidente e sobreviveu à lesão na espinha, escolher como vilão um vírus com alto potencial destrutivo apresenta um novo elemento capaz de sobrepujar o herói e, talvez, amenizar os exageros cometidos dois anos antes na saga A Queda do Morcego.

    Tratando-se de um herói que conquistou a fama de indestrutível por conta da capacidade estratégica, física e de arsenal ilimitado, um vírus letal é uma dimensão nova que vai além das tradicionais brigas com vilões. Vista com distanciamento temporal, a saga parece antecipar outras duas grandes histórias interligadas entre si: Terremoto e Terra de Ninguém, excelentes arcos publicados dois anos depois desta.

    A narrativa inicia-se indo direto ao ponto. Azrael, um dos aliados do morcego – e quem veste o manto na época do acidente quase fatal – informa que um vírus letal, uma variante do Ebola, chegará a Gotham City através de um homem infectado. A personagem em questão é um rico empresário que deseja construir um condomínio de luxo autossustentável. Ironicamente, o ambiente controlado acaba sendo o ponto de partida da infecção na cidade. Tentando impedir o contágio, Batman e seu esquadrão assumem frontes distintas para descobrir a origem do vírus e procurar sobreviventes de uma epidemia anterior, ocorrida no Alaska. Por ser uma narrativa que atravessa as revistas de todos os personagens do universo do Morcego, Robin é o herói que mais se destaca, tendo como missão a busca e resgate de um sobrevivente de um contágio ocorrido anteriormente. No local, o menino prodígio conta com a ajuda de Mulher-Gato, vivendo, na época, uma relação conturbada com os vigilantes de Gotham.

    A urgência prometida pelo tempo escasso não aparece nos quadrinhos. Como um líder informal da cidade, Batman pouco aparece no início da trama. Sua presença é inferida pelos personagens e não está ligado diretamente com a ação. A história desenvolve-se com seu esquadrão, Robin, Mulher-Gato e Azrael, procurando por sobreviventes. Enfocando mais a busca por uma vacina do que a destruição de Gotham, a dimensão da epidemia é diminuída, e a figura do morcego fica sem uma função específica na história. Por que sua presença na cidade é tão importante quando deveria ser ele o líder à procura da cura?

    Para manter o ritmo narrativo das doze partes, surgem mais ganchos do que o necessário. Um esforço para acelerar um início levemente arrastado e sem uma tensão iminente devido ao contágio. Somente quando um dos heróis é afetado pelo vírus, a urgência aumenta e a trama torna-se mais ágil, dividindo-se entra a histeria coletiva da cidade, os vigilantes tentando proteger a população e um Batman ciente de que a cidade pode sucumbir a qualquer momento e nada fazendo para ajudá-la. A trama também traz o retorno de Gordon como Comissário no comando da polícia, em uma bonita cena em que ele e o Morcego discorrem sobre o amor e ódio que sentem pela amaldiçoada Gotham.

    Mesmo não sendo um arco brilhante, Batman – Contágio demonstra a possibilidade de inserir novos elementos nas tradicionais tramas de heróis sem que estas se tornem destoantes. Uma vertente utilizada em grandes sagas pela DC Comics na década seguinte.