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  • Resenha | Batman: De Volta à Sanidade

    Resenha | Batman: De Volta à Sanidade

    A tensão existente entre o Cavaleiro das Trevas e o Coringa, seu arqui-inimigo, é uma das estruturas mais sólidas do universo do morcego. O peso do vilão sempre o transforma em uma grande estrela narrativa com ausências e retornos esporádicos. Entre uma saga e outra, cada roteirista específica uma métrica na abordagem.

    Há aparições definitivas estruturadas desde o início como eventos épicos, caso de A Piada Mortal de Allan Moore, outras que causaram polêmica na época de seu lançamento e marcaram as revistas mensais (A Morte de Robin) e assim seguem outros exemplos como A Morte da Família e o recente a Guerra dos Coringas.

    De Volta à Sanidade, com roteiro de J.M. DeMatteis é um bom produto de sua época. Lançado em 1994, os quadrinhos ainda não seguiam o hiper-realismo vigente e promovia elementos mais divertidos sem perder as estruturas dos personagens.

    A história faz parte da revista Batman: Legends of The Dark Knight publicada no país em edições especiais intituladas Um Conto de Batman ainda pela Abril. Na época, o formato americano era um grande destaque que diferenciava as histórias, fato coerente com a proposta de Legends, dedicadas a narrativas diferentes ou fora da cronologia comum.

    A grande vantagem dessa narrativa é sua condução breve, em apenas quatro partes. Na trama, narrada inicialmente tanto pelo Coringa quanto pelo Batman, o vilão organiza mais um plano anárquico contra a cidade e uma de suas vereadoras. No embate com o morcego, aparentemente, Batman morre. Reconhecendo a necessidade de que um coringa precisa de seu Batman, se completando e se retroalimentando, o personagem conclui que sua vida não faz mais sentido com o morcego morto e parte para um tratamento focado em sua loucura.

    Após esses acontecimentos, a narrativa promove um salto mostrando um homem comum, vivendo uma vida pacata, com breves lembranças estranhas que não se recorda ao certo. Paralelamente, Bruce Wayne está vivo e escondido, cuidado por uma médica local.

    A tensão promovida pela história parte de dois polos. A recuperação lenta de um Batman debilitado e a queda da sanidade de um homem recém curado. Curiosamente, o retorno do morcego será realizado quase em simultâneo com a volta da insanidade do Coringa. Mas quem se importa com essa coincidência?

    A vertente mais simples e, de certa forma, mais aventureira, faz com que deixemos de lado a rigidez da verossimilhança. O que importa que seus retornos são ao mesmo tempo se o embate é bem trabalhado na tensão? Como DeMatteis apresenta a narrativa de ambos, destaca-se a estranha amizade dos inimigos, um desejando impedi-lo e outro se divertindo pelo caos. O embate é simples, mas preciso. Sem nenhuma narrativa elaborada se não “Batman versus Coringa”. Destacando que ambos são personagens necessários como antíteses, a loucura e a razão, o caos e a justiça. 

  • Resenha | Batman: Duas-Caras Ataca Duas Vezes!

    Resenha | Batman: Duas-Caras Ataca Duas Vezes!

    Um herói (seja lá o que for isso, em 2021) não é nada sem seus vilões, o incômodo que o faz se mexer. Incômodo este que, na ética do Batman, não merece ser morto, apenas preso, excluído da sociedade. Em Duas-Caras Ataca Duas Vezes!, isso fica claro desde o início, com o Cavaleiro das Trevas tendo diversas oportunidades de cortar o mal pela raiz, mas ele não é o juiz da Terra, ou o Duas-Caras, para decidir quem merece viver ou morrer. Consumido por esse complexo assassino, Harvey Dent faz do mundo o seu próprio “cara ou coroa”, deixando sua moeda falar por si. Imoral e capaz de tudo por dinheiro (muito dinheiro), o louco deformado é um dos mais clássicos antagonistas do Batman, uma de suas principais pedras no sapato, e que em 1995, conquistou um conto de duas histórias paralelas, simbolizando sua total bipolaridade num par de estórias que se completam.

    Seja para roubar obras de arte de luxo, seja para sequestrar os bebês gêmeos de sua ex-esposa, o Duas-Caras não tem escrúpulos, nem medo do Batman. E não apenas porque sabe que o herói não mata, mas porque subestima o seu intelecto, sendo este o seu erro fatal e recorrente. Em duas HQ’s publicadas no Brasil pela editora Abril, vemos mais uma vez os “planos infalíveis” do ex-promotor público, transformado em monstro do crime, indo por água abaixo devido a sua ganância. Por isso mesmo, o roteirista Mike W. Barr e os ilustradores Joe Staton e Daerick Gross criam uma aventura juvenil repleta de ação e suspense para explorar as contradições desse vilão cujo maior inimigo, é ele mesmo.

    Afinal, qual a maior humilhação para esses arquétipos do mal, do que prender o herói numa armadilha espalhafatosa, e ele se soltar? Um ser inútil, e que vive para evitar os seus fracassos, falhando inclusive nisso também. Duas Caras Ataca Duas Vezes!, publicado no Brasil uma única vez pela Editora Abril no distante ano de 1995, deixa claro que, em Gotham City, o cara não passa de um aquecimento para Batman e Robin enfrentarem os seus verdadeiros desafios. Assim, as duas histórias despertam no leitor um sentimento de urgência, mas sobretudo dó sobre o vilão, incapaz de controlar seus instintos de roubo e morte, mas que no final, ainda guarda dentro de si uns farelos da humanidade e do amor que sobrou nele, embaixo de sua pele meio branca, meio corroída. Nota-se que esta edição dupla também foi uma das inspirações básicas para o personagem, em Batman: O Cavaleiro das Trevas, filme de 2008, inserindo nele uma densidade e uma obsessão doentia por julgamentos, aqui. Vale a pena conferir.

  • Resenha | Batman Nº 25 (Abril Jovem – 3ª série)

    Resenha | Batman Nº 25 (Abril Jovem – 3ª série)

    Falou de vilão do Batman, falou de Coringa. Pelo menos é assim que funciona, no imaginário popular. Assim, por melhor que seja uma grande história do Charada ou do Pinguim, as pessoas sempre acharão que uma história banal do Palhaço do Crime sempre será mais interessante – o peso da fama. Munidos deste desafio, o roteirista Alan Grant e o desenhista Norm Breyfogle criaram em 92 um grande conto de horror juvenil do Espantalho, construindo aqui uma grande influência criativa para tudo o que acontece no clímax de Batman Begins, o filme de 2005. Se o Batman é o guardião da sanidade, e da coragem, o Espantalho é o puro medo que faria até o Coringa chorar, encolhido no chão, imaginando aranhas subindo pelos seus membros.

    Sua toxina é implacável, e o vilão sempre dá um jeito de escapar do asilo Arkham e ganhar de assalto as ruas, já violentas e sombrias de Gotham City. Mas nunca o Espantalho foi tão sórdido e maníaco quanto Nas Garras do Pavor, atacando Gotham na véspera de natal, e subvertendo as comemorações pelas alucinações de seu gás do terror. E não demora para o caos se instalar, a polícia fica desesperada, e cabe ao Cavaleiro das Trevas esquecer a ceia de natal, e lutar contra o crime. Sozinho, e sem a ajuda do Robin para não colocar a vida do menino em risco. Mas o Espantalho prova, ao infectar Gotham de todo jeito, que não está para brincadeira, e que às vezes é bom contar com uma “luz extra” quando se está perdido nas sombras.

    É curioso notar como os gibis mensais da DC e Marvel, com suas histórias rápidas, e uma ou outra reviravolta, ficaram mais “soltinhos” nos anos 90, logo após a revolução adulta dos anos 80. Mesmo voltado para crianças e adolescentes, as HQ’s começaram a flertar com temas policiais, e a ingenuidade de antes realmente se perdeu. Bom para as histórias do Batman, sombrias por natureza, e que agora podiam contar com uma violência 1% mais pesada, enfatizadas por sequências de pesadelo bem alucinógenas, e uma linguagem mais informal, e moderna. Publicada em nº 25 da terceira série de revistas mensais do Batman da Editora Abril, Nas Garras do Medo ainda explora o lado detetivesco, maduro e consequente de Tim Drake, o terceiro Robin, e um Batman mais impulsivo do que de costume. Um bom equilíbrio de personalidades numa história cheia de perigos, cativante e colorida como se pede.

  • Resenha | Pato Donald por Carl Barks: A Mina Perdida do Perneta

    Resenha | Pato Donald por Carl Barks: A Mina Perdida do Perneta

    Pato Donald: A Mina Perdida do Perneta é um dos volumes que a Editora Abril lançou com foco na compilação das historias clássicas e originais de Carl Barks. Esse volume é escrito e desenhado pelo autor com um trabalho de cores assinada por  Tom Ziuko e em outras historias por Rich Tommaso. Essa coleção tinha um bonito visual com capa dura, verniz localizado, com os personagens em destaque. Foi descontinuada por motivos comerciais da Abril Jovem e retomada depois pela Panini Comics mantendo o design. As historias são bem curtas, em torno de 10 páginas cada, a maioria com Donald como protagonista com seus sobrinhos trigêmeos Huguinho, Zezinho e Luisinho e algumas contando com o Tio Patinhas.

    Barks foi mais que apenas um ilustrador da Disney. Apesar de Donald não ser uma criação sua (assim como os sobrinhos) é dele a autoria a respeito de Patópolis, onde se passam as aventuras, além da maioria dos seus habitantes como Patinhas, Gastão, Irmãos Metralha, Professor Pardal e Maga Patalójika. Ou seja, boa parte da mitologia dos patos é inventada por ele, como visto também em A Coroa Perdida de Gengis Khan e A Cidade Fantasma. Nestas histórias se percebe alguns eventos bem curiosos, como Donald se referindo a si mesmo como um homem e não um pato, fato que fortalece de certa forma a Teoria do Filtro, conceito criado por fãs que consiste em afirmar que os animais antropomorfizados são humanos na verdade, e que têm um “filtro” de animais como aparência. Isso explicaria por exemplo Pluto ser um animal de estimação e Pateta um ser bípede e inteligente. Mas há tantas outras possíveis razões para Donald se enxergar como mais esperto e soberano sobre os animais irracionais, basicamente como se nesse universo fossem os patos e outros mamíferos que evoluíram a condição humanoide, e não os símios.

    Outro aspecto digno de nota é a inventividade e engenhosidade dos meninos, que resolvem questões adultas bem sérias, pensam em trabalhar e se mostram muito preparados para além do que segue o famoso Manual do Escoteiro Mirim. Eles são bem mais espertos que seu tutor. Na maior parte das vezes, isso é tratado bem ao estilo dos quadrinhos Disney, de forma engraçada, bem humorada e obviamente escapista.

    As diferenças de personalidade e conduta entre Gastão e Donald são bem exemplificadas nas histórias protagonizadas pelos dois. Além da óbvia rivalidade entre os primos, é ressaltada a diferença de personalidade, com um sendo mostrado como um sortudo e preguiçoso, sem mérito algum, enquanto Donald é esforçado e obstinado, apesar de ser resmungão. A expansão dessa personalidade e caráter é muito bem vinda, pois nos curtas produzidos por Walt Disney ele não tem tanto espaço para mostrar quem realmente é. E aqui ele fala tanto que chega a ser verborrágico em alguns pontos. Barks o mostra como alguém articulado, diferente do visto nos curtas.

    O roteirista-ilustrador trabalha muito bem a relação de desentendimento entre tio e sobrinhos,  e faz isso de maneira leve e convidativa para possíveis novos leitores. As revistas dessa coleção são um bom ponto de partida para quem quer conhecer ou meros leitores casuais. Além das histórias, há um bom número de extras no final, com textos complementares de professores e especialistas em quadrinhos da Disney, enquanto na narrativa, não há sequer uma história que não seja pelo menos engraçada e incapaz de alegrar quem as lê.

  • Resenha | Super-Homem: Morcego de Aço

    Resenha | Super-Homem: Morcego de Aço

    Quem nunca se perguntou: “e se o Batman tivesse poderes?”. Não que o melhor super-herói precise disso para ser quem é, mas voar e levantar alguns prédios poderia render ótimos momentos para o Cavaleiro das Trevas. Mas essa não é a razão para Super-Homem: Morcego de Aço (Superman: Speeding Bullets) existir, e sim, a sua consequência. Aqui, na coleção “Túnel do Tempo” publicada pela DC nos anos 1990, universos paralelos são criados em função de novos horizontes, e no encanto que isso pode oferecer aos fãs. Assim, os autores J.M. DeMatteis e Eduardo Barreto recriam mitologias, e vêm com novas propostas: agora, Kal-El vem de Krypton e cai na violenta Gotham City, e não na calmaria rural de Kansas. Longe dos amáveis fazendeiros que o adotaram, Kal-El é criado então pela bilionária família Wayne, e seu fiel mordomo Alfred, e nunca conheceria a paz de uma fazenda, ou o motor de um trator.

    Os autores exploram com muita ação e suspense as hipóteses de um “novo” lar para o Clark Kent que nunca existiu, pois agora seu nome é Bruce Wayne. Perturbado tanto pelo assassinato de seus pais (que ele não conseguiu evitar, mesmo fritando depois com sua visão de raio-laser o atirador de Martha e Thomas Wayne), quanto por seus poderes sobre humanos, Bruce vira um Batman menos estratégico, e mais casca grossa, já que não precisa ser detetive para ouvir, a quilômetros, ações violentas de criminosos em Gotham City. Se o Batman de verdade precisou aprender 150 tipos de artes marciais, esse Batman resolve tudo com 2 socos, e um super-sopro bem dado. E se todo herói precisa de um inimigo, nesse eterno maniqueísmo das HQ’s, Superman: Morcego de Aço revela um Coringa com mentalidade de Lex Luthor, juntando os dois vilões em um só. Um símbolo único de destruição para lembrar esse Super Batman de não se igualar com a mentalidade desses tipos.

    Nesse evento “What If…?” da DC, em que a editora reimagina novas possibilidades, podemos cogitar também o que aconteceria se a nave de Kal-El caísse, também, no Brasil. Quais valores ele teria, qual sotaque falando em português, e qual seria sua opinião sobre os Estados Unidos pertencendo a um país de terceiro mundo? Certamente, o Super-Homem nacional protegeria a Amazônia, e ficaria surpreso com o nível de corrupção da política brasileira – há muitos Lex Luthor, muitos mais do que um só. Talvez o destino estivesse certo, afinal, e a nave de Krypton, com seu último habitante que para nós é um Deus, não caiu em Brasília, nem mesmo em Gotham, e sim no pobre e pacato Kansas, no meio de um humilde milharal. Talvez o bem precise ser estimulado no começo, para só depois ser testado, afinal.

  • Resenha | Peninha: Coleção Completa das Histórias Feitas por Seus Criadores – Volume 1 de 2

    Resenha | Peninha: Coleção Completa das Histórias Feitas por Seus Criadores – Volume 1 de 2

    Se Hollywood hoje aposta tudo e mais um pouco em caríssimos derivados de sagas consolidadas, os quadrinhos já fazem isso desde o início dos tempos, e talvez o super carismático Peninha seja um dos exemplos mais bem sucedidos. Para quem não sabe, um derivado (ou spin-off, no termo original) é aproveitar um personagem que deu certo em uma franquia, como Star Wars e Harry Potter, e colocá-lo em arcos próprios de histórias em que finalmente pode ser o protagonista. Para as icônicas criações de Carl Barks, todas dentro do universo do Pato Donald na sua bela cidade de Patópolis, a Disney sempre tentou expandir a família, dando prioridade para o Tio Patinhas, o professor Pardal, Gastão e cia., sempre sob o ponto de vista de uma família divertida, e mais ou menos tradicional. Não havia nenhum elemento estranho na mesa. Não havia nenhum, digamos, subversivo na mais famosa árvore genealógica dos gibis.

    Mas o mundo muda, e encontrar uma fórmula para agradar a todos os tipos de públicos sempre foi prioridade nos quadrinhos que, nas suas historinhas irreverentes, conseguiam dialogar entre gregos e troianos nessa tão ampla linguagem universal da diversão. Confiantes disso nos anos 1960, o roteirista Dick Kinney e o desenhista Al Hubbard ajudaram a Disney a criar personagens para o mercado internacional, com atenção especial para a Europa e América Latina. É claro que o amalucado Peninha foi o primeiro a cair no gosto de todos, pois era o símbolo catártico do anticonvencional que já começava a surgir com força nas sociedades dos anos 60. Aquele parente típico que chega para fazer tudo virar de perna para os ares, revolucionar, revirar, e ir embora após servir a seu motivo de desestabilizar a normalidade. Peninha vestia esse manto junto dos seus inconfundíveis suéter e gorrinho vermelhos, e através de suas invenções doidas que faziam o pobre pato Donald e seu gatinho Ronrom querer escapar de Patópolis – sem olhar para trás.

    Ninguém está seguro com o primo Peninha por perto, ele e suas “geniais” ideias mirabolantes. Tal qual um Professor Pardal imaturo e inconsequente, quando ele não chega para fazer magia e apavorar geral no mais banal dos dias, Peninha se mete na carreira de costureiro, de taxista, de advogado, e bota tudo a perder – ou a explodir. O engraçado é que ele sempre convence Donald a participar de suas loucuras, pois como bom malandro, Peninha é um manipulador nato. Assim, ele faz seu reservado primo mergulhar em mil confusões na cidade, na praia e no campo, sendo que sua primeira aventura publicada no Brasil em 1965 foi justamente um corre-corre danado no velho-oeste americano, com direito a chapéu de cowboy e uma inesperada perseguição cheia de perigos. E Donald achou que aquele seria um passeio calmo e tranquilo. Seria mais fácil esperar isso junto de Huguinho, Zezinho e Luisinho. Afinal de contas, Peninha não é para amadores, e mesmo assim o amamos como qualquer outro parente da família dos patos.

    De qualquer forma, em uma visão mais aprofundada às histórias coloridas e eletrizantes de Kinney e Hubbard, nota-se o quanto Peninha representa o futuro caótico que é sempre especulado pelo público mais saudosista e conservador, de cada época. A dupla de artistas criou um personagem que é a causa da insegurança das pessoas, uma vez que o amanhã é imprevisível e causa desconforto para quem não gosta nem de pensar em mudanças. Em outra análise deste compilado de histórias do Peninha, publicadas entre 1964 e 1965 em um belíssimo trabalho gráfico da editora Abril, evidencia-se que, mesmo visando (e talvez exatamente por isso) o público fora dos Estados Unidos, em um período pré-globalização na indústria do entretenimento, a glorificação da cultura dos EUA se intensificou em seus processos de exportação, em algo que pode ser chamado de “imperialismo cultural”, um conceito que o país do Capitão América sabe reproduzir como nenhum outro. E Peninha foi um dos veículos perfeitos para isso já que todo mundo tem um parente maluquinho desses para amar, mesmo após tantas ciladas homéricas. Família é família.

    Compre: Peninha – Volume 1 de 2.

  • Resenha | Ducktales: Os Caçadores de Aventuras (2)

    Resenha | Ducktales: Os Caçadores de Aventuras (2)

    Originalmente concebido como uma telessérie em 1987, Ducktales: Os Caçadores de Aventuras foi uma estratégia da Disney para popularizar seus famosos personagens que, nos anos 80, já não tinham mais um grande apelo com o público. Agora, junto do quaquilionário tio Patinhas, o sovina mais adorável e detestável de toda a Patolândia, e seus sobrinhos Huguinho, Zezinho e Luisinho, a TV ficaria pequena para tanto corre-corre ao redor do mundo – quase sempre motivado no começo por dinheiro, e no final, pelo amor que Patinhas sente por seus sobrinhos, sempre metidos em mil e uma peripécias. A série foi um enorme sucesso nos Estados Unidos, e logo retornou para os quadrinhos, agora com o grupo de aventureiros mais unidos do que nunca, enfrentando velhos e novos inimigos, e contando com novas caras para figurar uma nostalgia e uma diversão que Walt Disney criou e tanto priorizou, junto do seu lendário time de talentos herculanos.

    Temos em mãos uma trinca de aventuras á lá Indiana Jones inesquecíveis, para todas as idades, em um belíssimo encadernado que a editora Abril lança no Brasil, em um trabalho gráfico caprichado para todos os gostos, em especial dos colecionadores, com uma bela capa dura e um relevo impressionantes. Neste encadernado, as histórias selecionadas fazem justiça ao título da coletânea, ao invocarem principalmente no primeiro e segundo arcos toda a chama e a graça de uma ação sem fôlego que o muquirana tio Patinhas, seus sobrinhos e o atrapalhado capitão Boing sempre se metem, hora para salvar a pele da jovem Patrícia (sua nova sobrinha, criada para a série) de um grande e perigoso sequestro, hora arriscando tudo e mais um pouco para conquistarem um meteoro de ouro maciço que caiu numa floresta, e agora é mais cobiçado que água no deserto. Nisso, é claro que o vilão MacMônei, ainda mais ganancioso que Patinhas, fará todo o necessário para chegar ao meteoro primeiro.

    Reviravoltas dão o tom das histórias, em tramas de narrativa super ágil que remetem a dinâmica eletrizante dos desenhos animados, e aprendemos que a verdadeira piscina de ouro se faz presente para o tio Patinhas na forma de seus sobrinhos, por mais que ele jamais admita isso, uma vez que ele troca até sua moeda da sorte para recuperar Patrícia das garras da cruel bruxa Patalójika – outra antiga antagonista do ícone mais rico do mundo da ficção. Aqui, nota-se a homenagem as clássicas HQ’s escritas pelo mestre Carl Barks do Tio Patinhas, e companhia, na maravilhosa saga A Odisseia do Ouro, de 1991, na qual os heróis e vilões reconhecem que o céu não é o limite para suas confusões. Dividida em sete capítulos como foi publicada no original, a saga se destaca entre Em Busca da Número Um e Legítimos Donos por ser um exemplar perfeito do mais puro e sagaz entretenimento, abrangendo do polo norte aos confins do espaço todo o potencial que existe em uma aventura com essas figuras emblemáticas da cultura pop universal.

    Se a palavra-chave na série era “revitalização” desses personagens, a ausência de Donald e Margarida em Os Caçadores de Aventuras, nesse retorno aos quadrinhos dos anos 80, é justificada pela necessidade de se introduzir uma novidade bem-sucedida as tramas, mas sem perder a irreverência das primeiras histórias ancestrais. No caso, nos é apresentado o hilário capitão Boing, um garanhão que se acha o máximo e sempre comete os maiores erros no céu, no mar, ou em alguma ilha misteriosa. São estes e muitos outros elementos que tornam esta leitura bem mais que um mero passatempo, mas um atestado colorido do que há de melhor na alma das criações atemporais de Walt Disney. Reverenciadas por um sem-número de brilhantes roteiristas e ilustradores a carregar, com absoluto êxito, o legado do mestre através de uma mitologia absolutamente cativante para pais e filhos, ao longo dos séculos.

  • Resenha | Arqueiro Verde: Os Caçadores

    Resenha | Arqueiro Verde: Os Caçadores

    Os Caçadores é uma das histórias clássicas e mais elogiadas do Arqueiro Verde, junto à união dele com Hal Jordan em Lanterna Verde e Arqueiro Verde. Lançada em 1987, com roteiro e arte de Mike Grell, com o auxílio de Lurene Hainrd, e as cores de Julia Lacquement, resultando num trabalho visual e dramático sem igual.

    Em 1987, a mega-saga Crise nas Infinitas Terras já havia revolucionado a cronologia da DC, e as influências nas histórias e ontologias dos personagens já havia ocorrido. Batman: O Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller, abriu as portas para que obras com uma temática mais adulta pudessem ocorrer, e Os Caçadores vai nesse sentido, buscando temas pesados e discussões político-sociais.

    A riqueza da história mora em representar, através dos vilões, realidades muito fáceis de encontrar nas áreas urbanas de qualquer grande cidade do mundo. A abordagem busca algum nível de realismo, com questões abrangendo assassinatos, estupros, tráfico de entorpecentes, e isso se reflete na própria arte. Engraçado como há um número grande de semelhanças com Watchmen, não só na abordagem mais adulta de Alan Moore, mas também pelos desenhos, que remete ao traço de Dave Gibbons.

    Grell não esquece de referenciar os elementos clássicos do herói, toda a parte que relembra as histórias do Arqueiro e a introdução da Canário Negro é simplesmente deslumbrante, não só pela beleza de Dinah Lance, mas também por sua presença impor um respeito não apenas artístico, mas pelo texto e diálogos escritos. Além disso, o roteiro também lida com questões envolvendo o casal, como receio de qualquer relação duradoura, desde convivência, casamento, filhos, etc.

    O modo como o gibi lida com Shado, a vilã asiática é um conceito muito bem utilizado. Até na versão audiovisual de Arrow, que por acaso teve em Grell o desenhista das adaptações para os quadrinhos, ela também é bastante importante. Além disso, esta versão lembra bastante O-Ren-Ishii, personagem de Lucy Liu em Kill Bill, e não surpreenderia se Quentin Tarantino tivesse a usado como uma das fontes de inspiração para a personagem, uma vez que até o Superman foi referenciado por David Carradine no segundo volume.

    A contraposição de Shado e do Arqueiro produz quadros incríveis, é como se o traço tradicional do Superman de Curt Swan se encontrasse com o quadrinho marginal europeu. As flechas cortando os bandidos, banhadas em sangue dão um efeito gráfico interessante, e por um momento, colocam em cheque a honra do herói. Parte da essência do Arqueiro Verde é o fato dele perverter o uso de flechas para um alvo não letal. O arco e a flecha são armas ideais para acertar um inimigo forte, sem barulhos estrondosos e sem maiores consequências, mas ele as usa para atordoar, já Shado é o inverso, um anjo vingativo que sucumbe ao pecado da vaidade e da vingança, e essa comparação ajuda a compor todo o código ético do personagem. Queen passa por problemas, encara os bandidos como eles são, e ao ver o torpor de sentir que eles estão mortos e que pagaram por seus atos maus, ele sente um pouco do que é o prazer de ser o juiz, o juri e o carrasco, e isso envolve dilemas morais e éticos dentro da história.

    Muitos fãs gostam de afirmar que essa é o equivalente ao Cavaleiro das Trevas do Arqueiro Verde. Isso até soa reducionista, mas não é totalmente sem cabimento ao menos em um ângulo, dado que ambas tem um tom mais maduro que as histórias comuns de super-heróis e elevam para outro patamar esses personagens. Uma grande história para um grande personagem, que felizmente foi republicada na coleção de Graphic Novels da editora Eaglemoss, depois de mais de décadas fora do mercado, quando a editora Abril a publicou no distante ano de 1989 em três partes.

  • Resenha | Mulher-Maravilha: O Espírito da Verdade

    Resenha | Mulher-Maravilha: O Espírito da Verdade

    Como parte da iniciativa de Paul Dini e Alex Ross em catalogar historias que emulam o clássico dos personagens icônicos da DC – compiladas em Os Maiores Super-Heróis do MundoMulher Maravilha: O Espírito da Verdade é mais um exemplar da boa parceria da dupla, que escreveu o argumento junto e deu a luz a mais uma aventura da amazona poderosa de Themyscera.

    A historia em si começa com um monologo mental da heroína, pouco antes de atacar um grupo terrorista na parte continental do mundo, que ela chamava de terra dos homens.Logo depois seguem duas splash pages fabulosas, uma da ação em si, outra com Diana como figura central em meio a lembranças de outras figuras vilanescas, com quem teve embates no passado.

    A revista é praticamente toda narrada pela personagem central, e parte de sua rotina e cotidiano são mostradas de modo bem natural, sem glamour, fato que a humaniza acima de tudo. Poder ver os efeitos visuais provenientes das portas do Jato Invisível é curioso, com um relevo mais colorido para identificar um veículo que normalmente não se vê

    Por mais invasivo que possa parecer os métodos da Mulher Maravilha, ela não julga os bandidos que captura, deixa para corte e juiz decidirem, se ausenta e tem consciência o suficiente de que os bandidos mais perigosos são os que usam um verniz de normalidade para cometer seus atos maus, em um discurso central contra a corrupção. O roteiro dribla bem questões genéricas normalmente atribuídas a esse tipo de discurso, não há nada derivativo, e sim  reflexões consideravelmente profundas, guardas as devidas proporções claro, sobre o papel dos super humanos na política e contexto social do mundo, em especial sobre evitar guerras e ajudar feridos e necessitados.

    A sensação do passar do tempo é para Diana, mas ficar longe do seu lugar de origem faz tudo parecer ir mais devagar. As partes passadas na ilha das amazonas mostram um equilíbrio praticamente perfeito entre ciência, tecnologia e natureza. Um dos poucos momentos que Diana não faz um monologo, é em uma conversa com Clark Kent, o alter ego do Super Homem, e nesse ponto a historia se conecta bastante com Superman: Paz na Terra, no sentido da heroína se vestir como uma civil comum, para ajudar o povo por dentro, sem ostentar seus brasões e cores comuns, como uma humana comum.

    Ainda que haja um belo enfoque no modo de operar da heroína como pessoa anônima, quando ela se mostra para a ação o mundo para, e Ross é muito reverencial a figura mítica que é a guerreira amazona, seja com ela largando as roupas civis, ou mesmo nas páginas duplas a frente de uma explosão. Mesmo que na descrição a “cena” possa parecer clichê, aqui é muito bonita e simbólica, compondo um quadro quase divino, descobrindo que poderia ser uma guerreira, uma mulher de paz e uma fonte de inspiração, tudo na mesma carne, entendendo também o quanto de maniqueísmo terá que driblar para ser todas essas mulheres ao mesmo tempo.

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  • Resenha | Os Anos de Ouro de Mickey: 1931-1932 – Mickey no Circo e Outras Histórias

    Resenha | Os Anos de Ouro de Mickey: 1931-1932 – Mickey no Circo e Outras Histórias

    Como é possível um rato, um ser repugnante do esgoto, servir de inspiração para um personagem que deve ser um sucesso entre todas as pessoas? Tornando-o mais que divertido, amigável, icônico em sua aparência e nas amizades e desavenças que encontra pelo caminho, Walt Disney e Ub Iwerks não apenas deram-lhe a alcunha de símbolo pop universal, como principalmente fizeram do curioso e destemido Mickey Mouse a síntese substancial de tudo e todos que viriam após a sua criação, ainda na aurora dos antigos estúdios Disney. O namorado de Minnie já passou pelas mãos dos mais diversos e talentosos desenhistas da casa de Branca de Neve e Dumbo, mas nunca lhe foi permitido perder sua essência primordial – no início, Mickey muitas vezes foi apresentado como um artista, literalmente fazendo as pessoas felizes enquanto escapava ou se metia em mil encrencas.

    A jovialidade aqui presente é latente, e todas essas características muito bem asseguradas desde o começo por sua dupla criadora fazem deste personagem inconfundível um clássico que sempre uniu gregos e troianos para participar de suas façanhas, e irresistível estripulias. Porém, algo precisava ser feito para ajudar um artista solitário. Estamos falando de Floyd Gottfredson, cartunista de grande aptidão que substituiu no começo de 1930 Ub Iwerks, este indo embora com seus próprios projetos. Gottfredson se viu sozinho para comandar um ícone cada vez mais amado pelo público, e uma vez que “ostra feliz não produz pérolas”, a óbvia pressão impulsionou a criatividade de um dos principais colaboradores de Mickey a expandir as possibilidades. A responsabilidade era enorme, mas se distanciar do que já tinha sido estabelecido estava fora de questão. A missão, portanto, era abraçar um passado recente, e abrir novas portas para novas ideias.

    Assim, Gottfredson não apenas continuou com as qualidades originais do ratinho espoleta, como deu-lhe um ar mais detetivesco nas histórias de perseguição e crime (lembre-se que estamos aqui nos tempos da Grande crise econômica americana, dos anos 1920/30), e concedeu-lhe também seus populares companheiros de aventura para ressaltar os pontos mais forte de Mickey, com muito humor e irreverência típicos de uma época mais simples, doce e ingênua do entretenimento. Ao imprimir elementos reais em histórias fantásticas, Gottfredson se mostrou absolutamente habilidoso nas divertidas metáforas que produziu, sugerindo o charlatanismo, a malandragem e o altruísmo de um povo largado a própria sorte – ou azar. Percebemos isso claramente em duas brilhantes e longas histórias reunidas, entre outras, neste segundo volume dos Anos de Ouro de Mickey, publicado no Brasil pela editora Abril, em um trabalho gráfico de esplendorosa excelência.

    Em “Mickey e os Ciganos”, na qual Minnie viajando com seu namorado e amigos é sequestrada por ladrões atrapalhados, podemos sentir o forte sentimento de impunidade que nasce dessa situação, refletindo (in)diretamente o espírito da época. Também retratando as dificuldades socioeconômicas do seu tempo, “Mickey e O Grande Roubo do Orfanato” talvez seja uma das melhores histórias já criadas para o personagem. Nela, ao saber da miséria de uma instituição que acolhe jovens desamparados, o ratinho e seu amigo Horácio armam uma peça de teatro para angariar fundos ao orfanato, mas quando todo o dinheiro é roubado, a polícia acha que os dois são os principais culpados. Agindo então como detetive em um contexto tanto urbano, quanto rural, Mickey começou nos anos de 1931/32 a ser agraciado com histórias levemente mais complexas e até mesmo mais ousadas que as aventuras de seus primeiros anos de publicação, em tiras semanais ou em desenhos animados.

    Com vários arquétipos ainda presentes em certos momentos desses Anos de Ouro, como a representação estereotipada de negros e mulheres, por exemplos, os estúdios Disney já se mostravam hábeis o bastante para evoluir suas ideias sem perder qualquer traço de familiaridade. Universais e tão icônicos como podem ser, nenhuma outra criação oriunda do estúdio foi tão perfeita sendo seu porta-voz essencial quanto Mickey, e isso podemos atestar em cada tirinha reunida nesta impagável coletânea, perfeita para qualquer estante.

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  • Resenha | Os Anos de Ouro de Mickey: 1930-1931 – Mickey na Ilha Misteriosa e Outras Histórias

    Resenha | Os Anos de Ouro de Mickey: 1930-1931 – Mickey na Ilha Misteriosa e Outras Histórias

    É dito que abrir um livro reitera não só a magia da experiência puramente imersiva de se voltar no tempo, e acompanhar aqui as primeiras aventuras de Mickey Mouse ainda sem a sua turma, logo quando foi criado, como também reforça a importância da literatura, no caso a mídia dos quadrinhos, em emoldurar e artisticamente simbolizar a época em que se está presente, e faz retratar. Seja por meio da arte das gags, em que se provoca o riso e a descontração por meio da irreverência de piadas visuais, ou por evidenciar um zeitgeist, em certos momentos, que nos parece totalmente ultrapassado, com suas normalidades e seus preconceitos, é indiscutível o prazer de viajarmos a idos mais simples, em que o humor ainda tinha na sua simplicidade histriônica, suas cores, sua diversão e nas suas onomatopeias os seus principais triunfos de grande e duradoura paixão.

    Os Anos de Ouro de Mickey – Volume 1 chegou tal um monumento da nostalgia para conservar o encanto (e a importância para a cultura pop) de um dos personagens norte-americanos mais populares e amados do século XX, sendo este a criação máxima tanto do famoso Walt Disney, quanto de seu co-criador, o igualmente genial Ub Iwerks. Diz-se também que a genialidade apenas surge através do trabalho duro, e desde 1929, ambos trabalharam juntos na sementinha de um império que, em 2019, se consolida como uma das dez maiores marcas do mundo. Ainda nos primórdios de um entretenimento já muito remodelado, Disney e Iwerks foram parceiros por poucos anos nos estúdios Disney, antes do segundo seguir seu rumo. Contudo, a breve combinação de talentos deixou sua marca histórica em tiras de quadrinhos que serviram de base do que chamamos de cultura popular. Mickey já passou pelas mãos de diversos artistas, cada um com seu traço e sua visão de mundo, mas nunca com o mesmo senso de forte liberdade criativa que o começo dos anos de 1930 tão bem permitiam.

    Isso porque a Disney não se orgulha, hoje, de certos desenhos ou tiras ancestrais cujos temas são percebidos como polêmicos e até mesmo ofensivos, sendo parte então de sua extensa cronologia, e mesmo que representativos a mentalidade de uma época que ficou para trás. As primeiras histórias de Mickey, por outro lado, usam e abusam de outras características relativas ao tempo que foram criadas, tais como a crise na economia dos EUA após o grande desastre na bolsa de valores de Nova York, em 1929, e a hostilidade entre as pessoas que deixam de se respeitar, muitas vezes, para conseguirem sobreviver no cenário da Grande Depressão, em que muitos cidadãos americanos estavam literalmente passando fome. Sem achar graça deste contexto, mas aproveitando-se do drama da situação, vemos neste primeiro volume dos seus Anos de Ouro o valente e astuto Mickey enfrentando problemas e caindo em artimanhas que muitos dos seus leitores também passavam, mas achando no poder do riso o melhor remédio para se enfrentar uma dura realidade, impossível de se ignorar.

    Afinal, como representar melhor a sensação de desespero das pessoas diante da miséria financeira, na primeira grande crise do capitalismo, do que colocar Mickey sendo cozinhado num caldeirão de canibais, como vemos na ótima história Mickey na Ilha Misteriosa, ou ainda, sendo enganado de várias formas, junto de sua namorada Minnie, pelo cafajeste Chico Charlatão, no delicioso conto homônimo de 1930? Isso porque a arte não precisa ser óbvia ou apolítica, e seus leitores tampouco ingênuos. Assim, acompanhamos os primeiros passos de um rato desde sempre visto como um jovem adulto ultra curioso, e que se mete em mil confusões para tentar se livrar delas logo em seguida com seu grande coração, e a esperteza que os destemidos sempre carregam mundo afora. Em uma coletânea primorosa neste primeiro volume da editora Abril, lançado no Brasil em 2017, notamos o quanto o personagem, seus amigos e vilões, todos icônicos o suficiente para serem amados por todos os públicos, e gerações, leva consigo também a essência da empresa Disney, e de tudo o que viria em quase cem anos de história a ser produzido, e aprimorado, por uma marca brilhante o bastante para habitar os corações do passado, presente e futuro.

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  • Resenha | O Manual do Mickey

    Resenha | O Manual do Mickey

    O fato é que Walt Disney, o menino sonhador do estado do Kansas, nos Estados Unidos, pode ser considerado um dos grandes autores do Séc. XX. E até mesmo o mais querido, vide suas criações que até hoje conquistam as novas gerações com uma naturalidade e aclamação universal imbatível. Surpreendente mesmo é que seu personagem mais popular não seja uma bela princesa, ou um grande herói de estilo europeu, e sim um rato, uma criatura asquerosa que nas mãos de Disney, desde 1928, virou sinônimo de magia, encantamento, e grandes aventuras.

    Com O Manual do Mickey (nome este dado a emblemática figura pela esposa de Walt, diante de outros nomes bem menos interessantes que ele bolou, na época), é junto de Mickey, sua namorada Minnie e o cachorro Pluto que passeamos pelos mais diversos cenários, idos e lendas, enfrentando com muita diversão e alegria as mais malucas situações. Sejam no mar ou em terra firme, sejam no espaço ou ainda em alguma dimensão criada sob medida para nos divertir, é claro, mas também, para tirarmos algum proveito intelectual desta experiência enriquecedora.

    Aliás, Disney pode também ser considerado um dos grandes e poucos criadores de conteúdo em Hollywood a se preocupar mais com a qualidade autêntica desse conteúdo, do que com o lucro que deveria obter através de sua imaginação. Muito mais que Donald ou Pateta, percebemos como Mickey Mouse foi moldado para ser o porta-voz oficial da criatividade inesgotável do corajoso empreendedor que foi Walt, representando então a personalidade para sempre jovial de seu prolífico e incansável criador norte-americano.

    Sempre visando o público infantil, tal um “professor pardal” da garotada de verdade, o inventor pretendia transmitir conhecimento para a turminha através das aventuras irresistíveis que ele, e seu departamento criativo, bolavam para uma mídia em especial: o cinema. E muitos anos depois, em O Manual do Mickey, conhecemos mais a fundo a dinâmica do velho oeste americano, os fundamentos da lei e da ordem sociais pós-revolução industrial, e os grandes aventureiros de antigamente, como se o nosso avô estivesse contando essas histórias para nós, numa tarde ensolarada de domingo.

    É justamente essa a sensação pretendida, aqui, e plenamente alcançada. Assim, O Manual do Mickey reúne literalmente essa nobre ambição de Walt Disney em usar um dos mais famosos personagens da cultura pop que tanto ajudou a construir, desde seus primórdios, para nos deixar por dentro das grandes odisseias da humanidade e suas consequências para a evolução do homem, enquanto indivíduo, e das sociedades em si, desde o tempo das cavernas até os grandes roubos de bancos nas grandes cidades do mundo civilizado.

    A publicação da editora Abril é um relançamento da obra de 1973, e chegou caprichada em 2016 no Brasil, repleta de desenhos originais, uma bela capa dura e com um acabamento gráfico impecável, garantindo por sua estética uma leitura mais que agradável a todos os públicos que se propõe a investigar a história dos gregos e troianos, da conquista dos polos, das Américas e até mesmo do nosso brilhante satélite lunar, e muito, muito mais. Tudo pela ótica mais amável possível: brincando, sorrindo, e se sentindo parte cativa dessa atemporal turminha do Mickey Mouse.

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  • Resenha | Manual do Prof. Pardal

    Resenha | Manual do Prof. Pardal

    Para o adorável professor Pardal, há magia na tecnologia, sendo que ambas não tem muita diferença para o inventor que faz acontecer, e traz a sua imaginação mirabolante para uma realidade utilitária. Pardal é a versão infantil de Da Vinci, Santos Dumont e Benjamin Franklin, que aliás são lembrados neste Manual do Prof. Pardal junto de muitos outros gênios da humanidade que, um dia, já viveram sob a alcunha de “malucos”. Se já acharam que era impossível o homem ganhar os céus, se comunicar a grandes distâncias, e ter uma chama eterna em cada casa, chamada de eletricidade (é só pagar a conta, todo mês), alguém precisava ser ‘doido’ o suficiente para tornar tudo isso tangível, e patentear as utopias que já foram impossíveis. Algo que, para nosso personagem, um dos melhores já criados por Walt Disney, sempre faz parte da rotina.

    É por isso que, em Monotonópolis, o povo não se acostumou com as grandes invenções revolucionárias da família Pardal – uma vertente criadora herdada desde o vovô Pardal, quando este já deixava a cidade inteira maluca de tanto dançar com seu “dançofone”, um instrumento que emitia sons irresistíveis! Anos depois, em Patópolis (a família foi expulsa de Monotonópolis, porque será?), Pardal cresceu sabendo que atrapalhar os outros com suas invenções não era nem um pouco legal. Portanto, para ajudá-lo a trazer seus projetos para o dia a dia das pessoas, ele logo tratou de montar um ajudante com suas próprias mãos: o Lampadinha, um mini robô tão inteligente que, quando sua lâmpada queima um fuzil, ele mesmo troca sua “cabeça”. Papo de louco? Não, apenas mais um dia no laboratório do bom e velho Pardal.

    Disney também sonhava com um mundo melhor, e mais fácil, e nos convida ao mesmo com uma graça ímpar. Um pó que faz chover, um carro que pula para escapar do trânsito local de Patópolis, um destorcedor de ciclones (um objeto que inverte a direção dos ventos de um furacão, acabando assim com o fenômeno)… Tudo isso e muito mais podemos desfrutar neste Manual do Prof. Pardal, um verdadeiro tesouro criativo que permite, a todos os públicos e idades, viajar pela história dos grandes inventos, indo do telefone ao foguete, da luneta ao submarino. O livro, dotado de um texto delicioso e irreverente, e desenhos coloridos mais que divertidos, nos instiga a pensar e achar soluções graciosas para os problemas do nosso dia a dia, da mesma forma como os grandes inventores do passado um dia também se questionaram. Isso explica porque o primeiro mandamento do inventor, segundo Walt Disney, é: “Preocupar-se com seus semelhantes, a fim de descobrir quais são suas necessidades”.

    Mas Pardal e Lampadinha não estão cercados apenas de máquinas malucas, e tubos de ensaio, não. Eles dividem suas aventuras com o pato Donald e seus três jovens sobrinhos, afinal de contas, em Patópolis moram todos eles – para o stress de Donald, sempre ranzinza. Ou melhor, quase sempre: um dia, para ajudar um navio que naufragou na cidade, os sobrinhos de Donald deram ao tio um grande motivo de orgulho, usando bolinhas de tênis para puxar o navio de volta à superfície. A ideia não só deu certo nas histórias em quadrinhos de 1952, como em 1964, quando o Al Kuwait realmente afundou, usaram essa ideia para trazê-lo à tona com bolinhas de plástico, ainda mais leves… e não é que deu certo?! Donald deve estar até hoje contando essa história para todo mundo em Patópolis, a cidade oficial dos grandes criadores. Quem não estaria? A editora Abril acertou em cheio em republicar o Manual do Prof. Pardal em 2016, apresentando-o para uma nova geração de leitores a ser os nossos Pardais, de amanhã.

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  • Resenha | Tesouros Disney

    Resenha | Tesouros Disney

    Seguindo a onda de encadernados luxuosos de capa dura para um público de nicho, a Editora Abril lançou em 2017 o volume intitulado Tesouros Disney, que se propunha a publicar histórias raras e inéditas no Brasil. A publicação acabou sendo um tanto confusa. Afinal, o que faz de uma história em quadrinhos um “tesouro”: sua raridade ou a qualidade do conteúdo?

    Entre as escolhas editoriais do volume que podem gerar certa confusão temos, logo de cara, a pintura à óleo sobre tela de Carl Barks representada na capa. Embora a arte seja belíssima e tenha ficado ótima com a reserva de verniz, nada tem a ver com o conteúdo do miolo, que não apresenta nenhuma história do Homem dos Patos. Ao invés disso, temos várias histórias comerciais, criadas para promover o turismo nos parques temáticos de Walt Disney, crossovers pouco ortodoxos e uma história que causou um incidente diplomático no mundo real. Tudo isso em quase 400 páginas de quadrinhos em um excelente papel couché – que infelizmente é subaproveitado devido a decisão de manter as cores originais de época, claramente inferiores ao potencial da obra.

    A história que abre a edição, O fantasma da Montanha Canibal, apresenta Mickey e Pateta numa clássica aventura de mistério. Publicada originalmente em 1951, não escapa aos clichés da época sobre o funcionamento de materiais radioativos, mas tem uma ou outra solução criativa tanto para o roteiro quanto para os desenhos (representar as silhuetas dos personagens no escuro quase como em um anúncio de neon foi uma sacada genial!). Em seguida, temos a primeira história de Pluto como protagonista, que acaba sendo longa demais para o que se propõe. Pluto funciona melhor com histórias mais curtas, mas isso acabou sendo desenvolvido com o tempo a partir dessa primeira empreitada, que já apresentava os elementos clássicos das hqs do cachorro do Mickey (narração em off, Pluto como personagem mudo, agindo como um cão agiria em diferentes situações). A edição tem mais algumas histórias do Mickey com o Pateta que seguem mais ou menos o mesmo padrão, sempre com João Bafo-de-Onça como antagonista.

    Os crossovers da edição são bastante estranhos. Branca de Neve e Pinóquio se encontram numa história na qual não fica claro em que tempo/espaço ocorreu. Ela ainda mora com os anões e Pinóquio ainda é um boneco de madeira e isso foge do que foi estabelecido para os personagens em seus próprios filmes. Também é estranho ver na mesma história o Capitão Gancho, Tio Patinhas e Irmãos Metralha, ou o grande encontro de vilões que une esses a João Bafo-de-Onça e Lobão, de forma totalmente aleatória. Provavelmente um fan-service da época, já que essas são histórias que servem pra apresentar elementos da Disneyland. Além disso, como foram extraídas de uma revista específica, essas histórias contam com a apresentação da fada Sininho (nessa edição, traduzida como Tinker Bell para se adequar ao mercado atual) ou de uma página com Donald e seus sobrinhos de férias comentando a história antes dela começar. É estranho notar que, após essa miscelânea, temos duas ótimas histórias do Peninha escritas por Dick Kinney, seguida por uma das primeiras histórias do Donald desenhadas pelo mestre Giorgio Cavazzano.

    A última e mais longa história da edição é uma adaptação para o formato revista da série de tirinhas do Mickey Mouse de 1937, o Monarca de Medioka. Nessa aventura, após ganhar uma fortuna em dinheiro, Mickey acaba substituindo o rei de um país europeu falido. Como carapuças sempre servem em alguém, o governo da antiga Iugoslávia se sentiu profundamente ofendido e a história levou à proibição do camundongo no país! A história é bem divertida e realmente brinca com vários estereótipos da época, mas a polarização política da Europa de então viu a obra como subversiva e perigosa num mundo às portas da Segunda Guerra. Vale notar que essa mesma história foi republicada cerca de sete meses depois no nono volume da coleção Os Anos de Ouro de Mickey, no formato original. Por mais que a história seja boa, é impossível não pensar que as mais de cem páginas foram desperdiçadas com um material que já estava nos planos de ser publicado em outra coleção.

    Tesouros Disney é uma edição com altos e baixos, que pode decepcionar quem espera encontrar as melhores histórias da casa do Mickey em um volume, mas apresenta material raro e curioso que muito provavelmente não será republicado nas décadas vindouras.

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  • Resenha | A Nova História e Glória da Dinastia Pato

    Resenha | A Nova História e Glória da Dinastia Pato

    Pouco antes de perder os direitos de publicação dos quadrinhos Disney no Brasil, a Editora Abril lançou o primeiro e único volume de uma série que seria trimestral mas acabou morrendo na praia: tratava-se de Disney Saga, apresentando as seis partes da inédita minissérie intitulada A Nova História e Glória da Dinastia Pato. Continuação da saga italiana semi-homônima dos anos 1970 que mostrava os antepassados do Tio Patinhas, a nova história apresenta seus futuros descendentes.

    Na saga original, Patinhas e seus sobrinhos descobrem um baú com moedas mágicas pertencentes aos seus antepassados e cunhadas em diferentes eras, que ofereciam aos patos um vislumbre do passado ao serem esfregadas com os dedos. Essa premissa se mantém na nova história, porém com o misterioso surgimento de novas e estranhas moedas vindas do futuro. Assim, cada capítulo da série mostra um salto de cem anos pra frente, e acompanhamos o surgimento de novas tecnologias, bem como o avanço da sociedade rumo à colonização do espaço sideral. A cada novo século o valor do dinheiro vai mudando de importância, bem como a forma de se ocupar os espaços – seja na terra, no mar ou por todo o sistema solar.

    A qualidade dos desenhos de Claudio Sciarrone nos salta aos olhos logo de cara. Não temos aqui um traço clássico para os personagens, como os de Don Rosa ou do próprio Carl Barks, mas também não é caricato ao extremo como muitas das produções italianas. Embora em alguns momentos pareça estilizado, não chega a ser desproporcional e a leveza da arte-final combinada com as cores e o enquadramento das cenas dá uma dinâmica ao roteiro invejável a outras produções contemporâneas. Infelizmente, não podemos dizer o mesmo do roteiro em si. Os personagens que deveriam ser descendentes do Tio Patinhas, Pato Donald e dos trigêmeos Huguinho, Zezinho e Luisinho acabam sendo nada mais do que os próprios personagens com roupas diferentes. Não existe nenhum desenvolvimento das personalidades deles, de forma que lá pela metade da edição o leitor percebe ser inútil tentar aprender seus nomes – basta chamá-los pelos nomes clássicos mesmo e está resolvido!

    É evidente que os autores italianos tenham maior liberdade criativa com os personagens Disney, mas chega a incomodar a falta de uma árvore genealógica coerente (como a de Don Rosa). Isso já era sentido na saga original, mas na nova história fica muito estranho. É impossível não se questionar sobre a linhagem de cada um. Como exemplo, podemos observar a primeira história, que se passa no ano 2118. MacPat é o “bisneto” do Tio Patinhas (embora mantenha todas as características do próprio), mas não sabemos mais nada dele. O Tio Patinhas teve filhos então? Com quem? Foi na velhice? O mesmo questionamento vale pros sobrinhos, mas fica ainda mais estranho quando pensamos em Huguinho, Zezinho e Luisinho: os três patinhos nas eras futuras são trigêmeos também ou cada um descende de um dos irmãos? Não sabemos. Não faz diferença, já que todos são, basicamente, os mesmos personagens.

    Lá pelo meio da história temos uma participação especial inusitada do Ultracomissário Mick-Maus que, bem, é basicamente o Mickey mesmo. É interessante vê-lo na história, pois geralmente os universo dos patos não se mistura com o dos ratos, mas aqui o crossover ocorre de forma bastante natural.

    Quanto aos vilões da história, temos a participação dos Metralhas e do Bafo de Onça (como chefe do Mickey), mas o principal é mesmo o Patacôncio, em suas diferentes encarnações. O desfecho da saga retoma algo do começo que, sinceramente, pode passar batido ao leitor casual menos atento (vale até a pena retomar as primeiras páginas para compreender melhor), pois se desenvolveu de forma corrida e pouco original. Ao terminar a leitura, fica aquela sensação de que poderia ter sido melhor, mas os desenhos, cores e enquadramentos são tão agradáveis aos olhos que uma crítica mais pesada pode até parecer injusta. Deve ser a tal da “Magia Disney”, que carrega uma grande carga de nostalgia e permite que relevemos alguns erros em troca da experiência de uma leitura leve e descompromissada.

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  • Resenha | Lendas Disney n°01 – Superpato Original

    Resenha | Lendas Disney n°01 – Superpato Original

    Em janeiro de 2018, a Editora Abril lançou o que seria uma nova série dedicada aos maiores personagens dos quadrinhos Disney. Com capa cartonada e formato diferenciado, a série não chegou sequer ao seu segundo número – que seria dedicado aos 70 anos do Ganso Gastão – graças à crise editorial e perda dos direitos de publicação dos quadrinhos Disney no Brasil. Contudo, o primeiro e único volume da série mostra que a premissa seria bem interessante se não fosse interrompida por questões contratuais da empresa. Lendas Disney n°01 – Superpato Original apresentou as três primeiras histórias do personagem, sem cortes e sem censura, reunidas em uma só edição.

    Antes de falar sobre as histórias em si, cabe aqui uma contextualização histórica. As histórias em quadrinhos Disney são produzidas em diversos países, como Itália, Dinamarca, Holanda e Brasil (embora hoje não exista mais produção nacional, esta foi muito forte nos anos 1980), e o Superpato é uma criação da Disney italiana, fruto de uma ideia da editora Elisa Penna e do roteiro de Guido Martina, com desenhos de Giovan Battista Carpi em 1969. Em terras brasileiras, a publicação do personagem se deu pela primeira vez em 1973, porém sofreu diversos cortes e alterações, tanto na arte quanto nos roteiros, tendo páginas suprimidas e final totalmente refeito no Brasil. Isso se deu por conta da forte censura da ditadura militar, na época sob o comando do general Emílio Garrastazu Médici. Nas histórias publicadas na íntegra nessa edição, vemos um Donald bastante diferente do que conhecemos, com caráter mais do que duvidoso, infringindo a lei e agredindo policiais – coisa que jamais passaria pelos censores dos anos de chumbo no Brasil. Quem leu essas histórias na época, no saudoso Almanaque Disney, pode entender nesse volume o motivo de tantas incongruências entre elas. Aqui, vemos em ordem cronológica e com um certo respeito à linha narrativa, tendo um background bem estabelecido para o alter ego do Pato Donald.

    A primeira história se chama Superpato, o diabólico vingador. Nela vemos a origem do herói – opa! Herói não! Em seus primórdios, Superpato nada mais era do que um fora-da-lei, uma persona criada por Donald para se vingar dos desmandos de seu tio muquirana (que nas histórias italianas é ainda mais sovina e até mesmo cruel do que o Tio Patinhas retratado por Barks e Rosa). Cansado de ser humilhado, Donald se apropria indevidamente de uma vila nas colinas com um casarão abandonado (que deveria ter sido doada a seu primo Gastão). Ali ele conhece a história de Fantomius, um fora-da-lei do passado e usa sua vestimenta e apetrechos para se vingar do seu tio pão-duro, roubando-lhe o colchão recheado de dinheiro enquanto o velho pato dormia. O interessante nessa história de origem é ver o quanto Martina retrata Donald como mau-caráter e aproveitador, incriminando pessoas inocentes apenas para atingir seus objetivos mesquinhos, muito diferente do personagem que conhecemos.

    Em A fabulosa noite do Superpato, também de Martina mas com desenhos de Romano Scarpa e arte-final de Giorgio Cavazzano, vemos o desenrolar dos eventos ocorridos na história anterior. É interessante notar uma certa preocupação com fatos estabelecidos anteriormente, principalmente o destino da Vila Rosa no desfecho da história anterior. Donald continua obcecado por vingança, e está disposto até mesmo a roubar todo o dinheiro arrecadado em um baile filantrópico para atingir seus objetivos. Merece destaque a participação do Professor Pardal, que não só prepara um arsenal e um bunker para o vingador mascarado como também cria um álibi perfeito para si próprio ao desenvolver o caramelo cancelador de memórias.

    O museu de cera é a terceira e última história da edição, produzida pelo mesmo trio da anterior, e continuamos vendo o Superpato como um bandido, porém seu desfecho é um pouquinho mais altruísta do que nas outras duas. Chega a ser irritante ver a hipocrisia de Donald quando ele se indispõe com quem desconfia de que ele seja o Superpato, chegando até mesmo a agredir seus sobrinhos fisicamente por simplesmente estarem certos. Dessa vez, inconformado por ver seu tio se apropriar de uma ideia sua, o herói rouba o museu de cera do milionário. Sem dúvida alguma Donald é um criminoso nessas HQs, mas ao menos em seu desfecho o roteiro começa a sinalizar uma mudança no status quo do personagem, que de tanto sucesso passou a ser realmente um super-heróis nas histórias vindouras.

    Superpato Original nos apresenta um personagem totalmente diferente daquele que conhecemos. Inicialmente uma paródia de um personagem famoso na Itália (Diabolik, de onde vem o nome original italiano Paperinik), ganhou público e crítica, mudou seu conceito, teve reboot e séries mensais dignas de heróis da Marvel ou DC e conquistou gerações. Uma pena que Lendas Disney tenha sido interrompida tão precocemente em sua primeira edição.

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  • Resenha | Tio Patinhas e Pato Donald: “Volta a Quadradópolis” – Biblioteca Don Rosa

    Resenha | Tio Patinhas e Pato Donald: “Volta a Quadradópolis” – Biblioteca Don Rosa

    O segundo volume da série Biblioteca Don Rosa, Tio Patinhas e Pato Donald: “Volta a Quadradópolis” é um dos livros mais interessantes publicados pela recém-extinta divisão de quadrinhos Disney da Editora Abril. Nele, vemos uma época da carreira de Keno Don Rosa em que embora ele estivesse mais confortável com os personagens, histórias e arte, também precisou passar por questões editoriais alheias à sua vontade. As histórias desse volume datam de outubro de 1988 até junho de 1990, e foram publicadas por editoras diferentes e em países diferentes, o que fez com que o autor tivesse que se submeter a alguns contratempos que, mais tarde com a carreira já consolidada, ele provavelmente não aceitaria. Assim, temos histórias que contam com o talento de outros artistas e escritores, em uma co-produção inclusive com o próprio Carl Barks!

    A primeira história, “O caçador de crocodilos”, segue a fórmula favorita de Don Rosa, que é a de aventuras de exploração e caça ao tesouro. A trama contém várias referências às histórias antigas de Barks, incluindo o incrível zoológico do Tio Patinhas mostrado na edição Em Busca do Unicórnio,  da coleção O Pato Donald por Carl Barks, publicada pela mesma editora. Na trama, baseada em uma ilustração de capa feita por Barks, Donald e os sobrinhos partem em uma aventura no Egito para encontrar um raríssimo crocodilo. Em seguida, temos Fortuna nas rochas, uma história curta em que Don Rosa usa seu conhecimento sobre geologia adquirido na faculdade para fazer piadas e trocadilhos com pedras (que se perdem na tradução). Mas a terceira história é a que, de longe, chama mais a atenção!

    Volta à Quadradópolis é a primeira continuação direta de uma obra de Barks, dando sequência à história Perdido nos Andes (também publicada na outra coleção). Vale notar o cuidado da tradução em manter os mesmos termos usados na coleção Carl Barks, incluindo a música que Donald havia ensinado aos nativos de Quadradópolis (corrigindo um equívoco ocorrido na última republicação das duas histórias, em Disney Big nº 05). A família Pato retorna aos Andes – dessa vez acompanhados de seu rico tio – para devolver as galinhas quadradas ao seu habitat natural, mas são perseguidos pelo Pão-Duro Mac Mônei, mais uma vez brilhantemente usado como vilão da história. É interessante a forma como Don Rosa representa o impacto cultural que pode ser gerado quando uma inóspita tribo é visitada por membros do chamado “mundo civilizado”, e o quanto de aculturação pode resultar do processo.

    Entre as outras histórias do volume (algumas curtas, centradas em uma piada), vale destacar mais quatro: Um pato vendo estrelas, Sua majestade Patinhas, Viagem no tempo e Ratos, sigam-me!, cada uma por um motivo diferente e igualmente interessante.

    Um pato vendo estrelas nunca foi finalizada, e é apresentada em sua forma de roteiro, com os esboços do próprio Don Rosa. Trata-se de uma peça publicitária, onde Donald e os Sobrinhos visitam o parque Disney-MGM. É a única história de Don Rosa em que Mickey aparece, aqui como uma celebridade dos cinemas (o universo do camundongo não existe nas histórias de Rosa). A história foi engavetada na época e é apresentada de forma crua, possibilitando ao leitor entender como o autor trabalha seus roteiros.

    Sua majestade, Patinhas mostra um pouco do passado de Patópolis quando o Tio Patinhas resolve transformar o Morro Matamotor, onde reside sua Caixa-Forte, em um país independente. A história lida com questões de imigração e impostos, e embora sua premissa seja ingênua à princípio, vemos várias camadas de assuntos sérios e relevantes sobre economia, geopolítica e sociedade, disfarçados de piadas infantis. Alguns elementos dessa história seriam reapresentados mais tarde na épica Saga do Tio Patinhas.

    Viagem no tempo é  uma história bobinha de quatro páginas que merece atenção por algumas curiosidades. Primeiro: não foi desenhada por Barks, o que nos salta logo de cara. Segundo: carrega a marca DuckTales, e apresenta os personagens de uma forma muito diferente do que Don Rosa estabeleceu em suas publicações. Em várias entrevistas e em matérias autobiográficas, Rosa afirma que apenas escreve histórias que possam ser uma continuidade do que Barks fez, recusando a desenhar personagens como o Peninha, por exemplo, que não foi criado pelo Homem dos Patos. Pois bem: nesta história ele escreve para nada menos do que TRÊS personagens criados para a série de TV! O mordomo Leopoldo, o garoto pré-histórico Bubba e o atrapalhado Capitão Bóing, além da Mansão Patinhas abrigar os sobrinhos como estabelecido na série. Aparentemente, Don Rosa é um homem de plenas convicções artísticas apenas quando não precisa de dinheiro…

    Em Ratos, sigam-me!, vemos algo singular: o autor se apropria de um antigo roteiro não finalizado de Carl Barks e desenvolve sua trama, baseada no clássico O flautista de Hamelin. Assim, essa é a única história feita, de certa forma, em conjunto pelos dois grandes artistas!

    Tio Patinhas e Pato Donald: “Volta a Quadradópolis” é um daqueles volumes cheios de gratas surpresas e curiosidades, que remonta a uma fase um tanto conturbada na carreira do autor e mesmo assim prende nossa atenção, tanto pelas ótimas histórias quanto pelas curiosidades de bastidores.

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  • Resenha | A Morte de Batman: O Filme

    Resenha | A Morte de Batman: O Filme

    Há certo tempo, os quadrinhos da DC Comics – bem como da Marvel – se desenvolvem em histórias seriadas, normalmente, dividas em sagas com desdobramentos e sub-tramas. Após a saga A Queda do Morcego, responsável pela literal destruição do Cavaleiro das Trevas, o arco A Cruzada marcou a fase de um novo Batman, Jean Paul Valley, um personagem mais violento e agressivo que o morcego original. Tanto essa saga quanto A Morte do Superman foram lançadas na mesma época, demonstrando a intenção do estúdio em movimentar o mercado editorial com severas modificações em seus principais heróis.

    Lançado na era do formatinho na revista Super Powers 36, A Morte do Batman – O Filme introduz o Coringa em conflito com esse novo Homem-Morcego. Mesmo situado dentro do segundo ato da Queda, a trama funciona mais como um respiro dentro da longa saga, trazendo em cena uma das personificações desse vilão definitivo. A ação se centraliza no desejo de Coringa em assassinar Batman, produzindo in loco um filme sobre o feito.

    A faceta do vilão é apoiada mais em sua composição galhofeira e nonsense. Sem intenção de conectar essa história ao arco central, o roteirista Chuck Dixon opta por uma trama apoiada em referências cinematográficas e em um Coringa menos ensandecido, mais cômico do que violento.  O humor ridículo do vilão se alia a um estilo mais hippie nos desenhos de Graham Nolan, demonstrando como a década de 90 também se marcou pela errônea tentativa de revitalizar personagens modificando-o pequenos detalhes de seus traços, fato que, posteriormente, só destacou a estranheza que essa época foi para os quadrinhos.

    Se a dinâmica entre Batman e Coringa sempre funcionou como um certo respeito entre arqui-inimigo, essa trama demonstra que a tônica não se estrutura da mesma forma com Jean Paul Valley.  Demonstrando-se um morcego mais violento e menos racional, o novo Batman deseja mata-lo de uma vez por todas e, claro, é impedido pela polícia de Gotham. O leitor sabe que a intenção é somente um conflito superficial, que proporciona as diferenças de um herói a outro e serve, apenas, para preservar o vilão para outro embate.

    Mesmo sendo funcional como história fechada, ainda mais devido a presença do vilão definitivo do personagem, A Morte do Batman – O Filme não se destaca como uma história significativa. Talvez na época de seu lançamento, funcionasse para desenvolver melhor o novo morcego. Vista com distanciamento, como não interfere na saga em si, se pauta somente como uma leitura divertida pela veia mais cômica do vilão e com as diversas referências ao universo cinematográfico.

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  • Resenha | Cruzada Infinita

    Resenha | Cruzada Infinita

    Terceira e última parte da Trilogia do Infinito (ainda que mais tarde tenha havido Abismo Infinito, que dava continuidade aos acontecimentos), Cruzada Infinita segue escrita e desenhada por Jim Starlin e Ron Lim, respectivamente, e fecha o arco iniciado em Desafio Infinito e seguido em Guerra Infinita, mostrando Adam Warlock e sua Guarda Do Infinito interagindo, ainda que o personagem principal pareça distraído. Depois de conversar com um ser eterno, Warlock diz perceber a presença de um ser poderoso vindo em sua direção, e não demora para se revelar quem é.

    Deusa é o inverso de Magus, é a parte benévola de Warlock, liberada de seu corpo e alma. Ela passa a tentar recrutar membros para as suas forças, e convoca muitas heroínas e alguns homens que tem em comum a espiritualidade em algum nível de consciência e motivação. O método que a personagem usa para o convencimento é de conversão inevitável – uma espécie de lavagem cerebral.

    Um embate começa, entre os que seguem e os que não seguem a Deusa, basicamente porque os primeiros se recusam a detalhar o motivo que os fez buscar a tal nova divindade. O conflito é chamado de Guerra Santa e se torna um entrave no mínimo estranho, já que as motivações dos mandantes desse certame não são claros quanto aos seus desejos e ambições de poder.

    Há um claro declínio, narrativo e artístico nesse fim de trilogia. A trama é mais comum que em seus anteriores, e até a arte de Ron Lim é menos inspirada, embora ainda tenha momentos em que o seu traço se torne o maior diferencial positivo na obra. Ao menos a faceta de Thanos, calculista e ardiloso, é bem demonstrada na história, mas a sensação de mais do mesmo ainda impera.

    Claramente a fórmula de destruição cósmica revertida após uma tática inteligente se satura nas histórias de Starlin, fazendo com que Cruzada Infinita não seja tão impactante quanto as versões anteriores,  ainda há um bocado de lutas divertidas e quadros em página dupla bem elaborados. O problema consiste no vilão, uma versão muito parecida com Magus mas menos imponente, além do que o subtexto deixa a desejar, resumindo todos os problemas  a uma batalha maniqueísta que se acha inteligente, unicamente, por demonstrar o antagonista como um ser que tem a virtude e bondade dentro de si, provando que até a bondade pode ser corrompida e ter suas próprias facetas subjetivas. No final das contas, a obra conta com muito pouco para acrescentar ao todo da trilogia do infinito, sendo este seu capitulo menos épico de toda a mega saga.

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  • Resenha |  Batman Nº 1 (Abril Jovem – 3ª série)

    Resenha | Batman Nº 1 (Abril Jovem – 3ª série)

    As dinâmicas diferentes entre o mercado americano de quadrinhos em comparação ao brasileiro inviabilizam certas opções editoriais. Salvo exceções pontuais como algumas edições da Image na época da Abril e, recentemente, The Walking Dead republicado pela HQM em edições únicas, nossas revistas sempre se formaram pelos mixes. Ainda hoje, o custo-benefício de um mix permite a leitura de mais de uma revista a um preço ainda atrativo. Se há pontos positivos como o preço, há arbitrariedades negativas que sempre incomodaram os leitores como a escolha dos títulos bem como uma arbitrariedade para publicação de novas revistas.

    Ainda hoje, a Panini Comics compõe suas revistas mensais – tanto mix quanto as revistas lançadas no mês – de uma maneira difícil de compreender, para dizer o mínimo. Muitas vezes, certos títulos se iniciam em algum mix e depois de alguns arcos ganham revistas próprias (dois exemplos, um de cada casa: Deadpool da Nova Marvel, lançado inicialmente em X-Men Extra, antes de ganhar revista própria, e Esquadrão Suicida dos Novos 52, lançado primeiro em uma edição conjunta com a Aves de Rapina, depois em três encadernados solo, em seguida para a revista do Arqueiro Verde, finalizando suas edições em uma revista própria, ufa.).

    A prática, porém, não é somente da atual editora. Desde a Abril, a escolha de novas edições e novos números fundamentavam pontos de partida ao leitor, sempre promovendo novas revistas com o atrativo nº1 na capa. A 3ª série de Batman lançada a partir de 1990 pela editora representa esta afirmação. A nova revista em um espantoso formato americano, foi arbitrariamente lançada sem nenhuma mudança editorial vinda de fora. Observando com distanciamento, a primeira edição de Batman apresentava o que hoje a Panini segue tanto em formato quanto em número de páginas. (Desde o Renascimento, as edições mensais tem saído com 50 páginas, com duas histórias por mês. A exceção é o tipo de papel atual em couchê ou alguma variação brilhante).

    A primeira edição da nova revista apresenta uma boa fase do Morcego reunindo um time de ouro: John Byrne e Jim Aparo compondo uma aventura em três partes intitulada As Muitas Mortes de Batman. Se hoje o processo de fortificação do personagem o faz um humano quase perfeito (um contrassenso que os leitores não ligam porque, afinal, trata-se do Batman), é interessante observar uma abordagem mais leve, tanto na narrativa que não abusa do fator-morcego como nos traços ainda sem uso excessivo de cores pretas e sombreamentos.

    A trama se inicia com uma possível morte de Batman. Uma cena do crime em que o morcego é encontrado crucificado. Aos poucos, percebe-se que há um assassino na cidade que traveste seus mortos com o uniforme do herói. Byrne mostra sua excelência narrativa ao compor um primeiro ato sem nenhuma fala. Apenas desenvolvendo as cenas para que Aparo desenhe com a qualidade costumeira. Assim, o primeiro ato marca a urgência da morte do Morcego, bem como mostra a reação dos personagens queridos do público a essa notícia. O herói só aparece de fato na trama na segunda parte.

    Seguindo uma estrutura narrativa tradicional dos quadrinhos com um narrador em terceira pessoa desenvolvendo o enfoque da trama – um resquício literário presente na nona arte – se debruçar sobre histórias antigas sempre evocam as comparações sobre as diferentes formas de se compor uma HQ e, ainda assim, produzir uma trama eficiente. Se hoje há um excesso de sagas e prolongamentos desnecessários, com histórias normalmente com 4 a 6 partes no mínimo, é sempre positivo observar como, ainda que seja uma frase exageradamente batida, o menos é mais. Em somente três partes, a dupla cria uma boa trama investigativa, explora os conceitos tradicionais da personagem e ainda não se prolonga além do necessário, resultando em uma história robusta que se não tem certa visão cerebral como se tem dos quadrinhos atuais, é divertida ao extremo.

  • Resenha | O Mistério dos Signos

    Resenha | O Mistério dos Signos

    Fazia um boa tempo que não lia uma história em quadrinhos da Disney. Para ser bem sincero, não tenho memória de quando sentei e li uma HQ do Mickey ou Pato Donald antes de ler O Mistério dos Signos, lançado pela Abril Jovem em Janeiro de 2014. Talvez por esse fato, minha leitura tenha sido um tanto quanto imparcial, o que não significa que não tenha gostado da trama. Aliás, adorei a história.

    Concebida por Bruno Sarda, O Mistério dos Signos foi durante um bom tempo a maior saga em quadrinhos da Disney, posto depois tomado por Era Uma Vez na América. Publicada ao longo de 12 edições do gibi Topolino, a história narra a busca pela Pedra Zodiacal, artefato mágico dividido em 12 pedaços que revela seu poder quando é unificado.

    A trama começa quando Pateta e Mickey descobrem a existência do artefato durante uma viagem ao passado. A dupla acaba dando de cara com um grupo, liderado pelo Professor Zodiacus, que acredita que a pedra possui poderes extraordinários e dá ao seu possuidor a capacidade de enxergar o futuro. Ao voltarem para o presente, a dupla começa uma busca pelas doze peças que compõe a Pedra. Ela foi dividida pelo professor para que seus herdeiros transmitissem a cultura e o respeito pela Astrologia. A trama vai ficando mais interessante à medida que Tio Patinhas, Donald e seus sobrinhos se unem à dupla e ao professor na procura das peças. Patinhas quer usar a pedra para seu lucro próprio, enquanto Mickey, Pateta e Zapotec querem a peça por seu valor histórico. Mas, espere! Tem mais! Bafo de Onça, o arqui-inimigo de Mickey também está ciente da Pedra Zodiacal e parte em sua busca própria para ter em suas mãos a relíquia.

    Parece confusa? Só parece. O roteiro de é muito bem escrito e faz com que a trama se desenrole de forma muito natural, dividindo-se entre os eventos presentes e flashbacks que contam como funciona história das 12 peças que compõe a Pedra Zodiacal. Outro ponto positivo é a interação entre os personagens. Mickey, Donald, Tio Patinhas, Bafo, Mancha Negra, Vovó Donalda, Gansolino, Huguinho, Zezinho, Luisinho, Maga Patalójika e até o Super Pato desfilam pela história, sempre interagindo em cena e com funções importantes na trama. Geralmente, excesso de personagens ocasiona problemas narrativos, mas aqui é uma das melhores soluções. Os desenhos de Massimo de Vita e Franco Valussi também ajudam na fluidez da história, pois criam um visual agradável aos olhos.

    Essa edição da Abril também é digna de elogios porque conta com um especial sobre todo o processo de criação da saga e ainda com um breve guia de astrologia, extras que fazem a leitura ser mais prazerosa. Em resumo, O Mistério dos Signos é uma dessas deliciosas histórias que divertem tanto aos leitores novos quanto aos mais velhos.

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