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  • Resenha | Ducktales: Os Caçadores de Aventuras (2)

    Resenha | Ducktales: Os Caçadores de Aventuras (2)

    Originalmente concebido como uma telessérie em 1987, Ducktales: Os Caçadores de Aventuras foi uma estratégia da Disney para popularizar seus famosos personagens que, nos anos 80, já não tinham mais um grande apelo com o público. Agora, junto do quaquilionário tio Patinhas, o sovina mais adorável e detestável de toda a Patolândia, e seus sobrinhos Huguinho, Zezinho e Luisinho, a TV ficaria pequena para tanto corre-corre ao redor do mundo – quase sempre motivado no começo por dinheiro, e no final, pelo amor que Patinhas sente por seus sobrinhos, sempre metidos em mil e uma peripécias. A série foi um enorme sucesso nos Estados Unidos, e logo retornou para os quadrinhos, agora com o grupo de aventureiros mais unidos do que nunca, enfrentando velhos e novos inimigos, e contando com novas caras para figurar uma nostalgia e uma diversão que Walt Disney criou e tanto priorizou, junto do seu lendário time de talentos herculanos.

    Temos em mãos uma trinca de aventuras á lá Indiana Jones inesquecíveis, para todas as idades, em um belíssimo encadernado que a editora Abril lança no Brasil, em um trabalho gráfico caprichado para todos os gostos, em especial dos colecionadores, com uma bela capa dura e um relevo impressionantes. Neste encadernado, as histórias selecionadas fazem justiça ao título da coletânea, ao invocarem principalmente no primeiro e segundo arcos toda a chama e a graça de uma ação sem fôlego que o muquirana tio Patinhas, seus sobrinhos e o atrapalhado capitão Boing sempre se metem, hora para salvar a pele da jovem Patrícia (sua nova sobrinha, criada para a série) de um grande e perigoso sequestro, hora arriscando tudo e mais um pouco para conquistarem um meteoro de ouro maciço que caiu numa floresta, e agora é mais cobiçado que água no deserto. Nisso, é claro que o vilão MacMônei, ainda mais ganancioso que Patinhas, fará todo o necessário para chegar ao meteoro primeiro.

    Reviravoltas dão o tom das histórias, em tramas de narrativa super ágil que remetem a dinâmica eletrizante dos desenhos animados, e aprendemos que a verdadeira piscina de ouro se faz presente para o tio Patinhas na forma de seus sobrinhos, por mais que ele jamais admita isso, uma vez que ele troca até sua moeda da sorte para recuperar Patrícia das garras da cruel bruxa Patalójika – outra antiga antagonista do ícone mais rico do mundo da ficção. Aqui, nota-se a homenagem as clássicas HQ’s escritas pelo mestre Carl Barks do Tio Patinhas, e companhia, na maravilhosa saga A Odisseia do Ouro, de 1991, na qual os heróis e vilões reconhecem que o céu não é o limite para suas confusões. Dividida em sete capítulos como foi publicada no original, a saga se destaca entre Em Busca da Número Um e Legítimos Donos por ser um exemplar perfeito do mais puro e sagaz entretenimento, abrangendo do polo norte aos confins do espaço todo o potencial que existe em uma aventura com essas figuras emblemáticas da cultura pop universal.

    Se a palavra-chave na série era “revitalização” desses personagens, a ausência de Donald e Margarida em Os Caçadores de Aventuras, nesse retorno aos quadrinhos dos anos 80, é justificada pela necessidade de se introduzir uma novidade bem-sucedida as tramas, mas sem perder a irreverência das primeiras histórias ancestrais. No caso, nos é apresentado o hilário capitão Boing, um garanhão que se acha o máximo e sempre comete os maiores erros no céu, no mar, ou em alguma ilha misteriosa. São estes e muitos outros elementos que tornam esta leitura bem mais que um mero passatempo, mas um atestado colorido do que há de melhor na alma das criações atemporais de Walt Disney. Reverenciadas por um sem-número de brilhantes roteiristas e ilustradores a carregar, com absoluto êxito, o legado do mestre através de uma mitologia absolutamente cativante para pais e filhos, ao longo dos séculos.

  • Resenha | Ducktales: Os Caçadores de Aventuras (1)

    Resenha | Ducktales: Os Caçadores de Aventuras (1)

    Duck-Tales-Caçadores-de-Aventuras - vortex

    Entre 1987 e 1990, a Disney produziu aquela que viria a ser sua mais famosa série animada, estrelada por ninguém menos que o velho sovina Tio Patinhas e seus sobrinhos-netos Huguinho, Zezinho e Luisinho. Ducktales é ainda hoje lembrada com muito carinho por quem foi criança na época, e grande parte do seu sucesso foi devido à capacidade dos produtores em manterem-se fiéis às histórias em quadrinhos. Mesmo com algumas criações exclusivas para a série e algumas licenças poéticas que mudariam personagens já consagrados, o espírito aventureiro das obras clássicas de Carl Barks estava presente em cada episódio.

    Não demorou muito para que a transição inversa de mídia acontecesse: uma série baseada em quadrinhos acabou baseando, também, histórias em quadrinhos! Esses quadrinhos diferiam das habituais por incorporarem elementos antes exclusivos da série, como personalidades diferentes para cada um dos Irmãos Metralhas ou a origem escocesa do Pão-Duro MacMônei, que nos quadrinhos era sul-africano. Além de uma revista mensal, os patos tiveram algumas minisséries publicadas pela Editora Abril, sendo que três delas estão reunidas nesse volume de capa dura intitulado apenas Ducktales: Os Caçadores de Aventuras.

    Em busca da Número Um

    A primeira saga do volume é também a melhor das três e tem o roteiro assinado pelo consagrado escritor Marv Wolfman, conhecido pelo seu trabalho na DC Comics com os Novos Titãs e a maxissérie Crise nas Infinitas Terras. Wolfman resgata a atmosfera aventureira das histórias de Barks e demonstra um grande cuidado na caracterização de cada personagem. A história em sete partes começa com a vilã Maga Patalójika sequestrando a patinha Patrícia – neta da governanta Madame Patilda e para a qual Patinhas demonstra o mesmo carinho que tem pelos seus sobrinhos. Pelo resgate de Patrícia, Maga obriga Patinhas a entregar sua moedinha da sorte, a Número Um. Essa moeda foi a primeira que ele ganhou na vida e tem para ele um grande valor sentimental.

    O Tio Patinhas de Marv Wolfman é muito menos sovina e tem um coração muito mais mole do que as versões com as quais estamos acostumados por aqui – principalmente se comparado às hqs italianas ou mesmo brasileiras. Embora ainda tenha uma enorme sede por acumular riquezas, o velho não se importa em desfazer delas se isso significar o bem de seus entes queridos. Assim, vemos Patinhas abrindo mão de sua moedinha para resgatar a querida Patrícia, mas acaba caindo em um golpe sujo da bruxa.

    A saga então passa a ser sobre o resgate dessa moedinha e a busca pela Maga Patalójika, levando a família de patos e seus amigos a aventuras ao redor do mundo, tal qual na série animada. Destaque para o Capitão Bóing, que aqui aparece caracterizado como na primeira temporada da série animada: meio atrapalhado, porém valente e aventureiro. Paralela à história da moedinha, temos uma outra trama envolvendo o Pão-Duro MacMônei (que nessa história teve seu nome traduzido como MacMônei Coração-de-Pedra) na qual o rival se apropria das empresas Patinhas através de golpes financeiros. Patópolis é rebatizada como MacMópolis, e vemos a total ausência do poder público na cidade, sendo que todos os bens e serviços são advindos da iniciativa privada (asfalto, iluminação pública, saneamento básico…).

    Maga Patalójika está muito mais poderosa do que o habitual e sua presença é realmente assustadora. A habilidade de Wolfman de contar uma grande história, com muitos personagens, é visível e tudo se encaixa com sagacidade. Personagens como Madame Patilda, Asnésio, Professor Pardal e Leopoldo, embora não sejam importantes para a trama e alguns sequer tenham fala, marcam presença e garantem a atmosfera do desenho na saga, fazendo parte do cenário. Carl Barks também faz uma aparição na história como um aliado do vilão, e é uma bela homenagem ao Homem dos Patos.

    A odisseia do ouro

    A segunda saga do volume, com roteiro de Bob Langhans, trata de um meteoro de ouro descoberto por Patinhas e MacMônei e uma viagem pelo espaço para tomar posse dele. O clima de aventura também permeia toda a história e alguns momentos são bem divertidos. Asnésio, o patinho escoteiro rechonchudo, ganha uma importância maior, tendo um arco focado nele. Incomoda um pouco o uso de “ganchos” pelo roteirista a cada final de capítulo, que parece não ser usado de forma muito inteligente. Esses ganchos dão a impressão de que os capítulos simplesmente acabam “pela metade”, e a resolução na próxima parte soa corrida. Mais uma vez, vemos um Patinhas não muito apegado aos seus tesouros, e isso contrasta com a personalidade de MacMônei na história. Capitão Bóing continua aventureiro, porém mais falastrão do que na primeira saga.

    Alguns cuidados por parte da equipe de tradução foram negligenciados, e temos balões trocados em um quadro, assim como o nome de um dos sobrinhos em uma parte da história. Além disso, o topete do Bóing aparece sem cor em vários quadros, o que embora não atrapalhe o entendimento da história, causa certa estranheza ao leitor mais atento.

    Legítimos donos

    A terceira e última saga do volume é uma pena. Escrita por Warren Spector, designer do jogo Epic Mickey, a premissa é muito interessante, mas desperdiçada de uma forma tão inacreditável que chega a dar dó! A história parte do princípio de que muitos dos tesouros do Patinhas foram adquiridos através de apropriação cultural e, portanto, devem ser devolvidos aos seus legítimos donos. Uma excelente ideia, mas muito mal desenvolvida.

    Mesmo assim, temos alguns pontos pertinentes. A arte é bem diferente das duas séries anteriores, mais moderna e flertando com o estilo Disney italiano. Embora seja boa, não se mantém constante e as proporções dos personagens mudam muito de um capítulo para outro. As cores são definitivamente a melhor parte, e é a única coisa na história superior ao resto do volume.

    A história começa com uma exibição no museu de Patópolis dedicada às aventuras de seu mais notável cidadão. Assim, os tesouros conquistados por Patinhas em diversas ocasiões são expostos orgulhosamente, o que causa um certo constrangimento em Patrícia, que acaba convencendo o tio a devolvê-los. Junto a isso, o também ricaço esbanjador Patacôncio faz uma aposta com o velho Patinhas “nos termos de sempre”, o que significa que o perdedor deverá comer seu chapéu. Assim inicia-se uma jornada à tribos remotas para a devolução dos pertences.

    Mas o roteiro não funciona direito. A começar com a escolha do rival Patacôncio, que nunca sequer apareceu na série animada e não é tão popular nos Estados Unidos quanto no Brasil ou Itália. Peninha faz uma ponta que poderia passar despercebida, e Donald, apesar de citado e de aparecer em dois quadros, não teve nenhuma notoriedade na história – diferente do que a condução do roteiro parecia sugerir. Margarida – outra que nunca apareceu no desenho – surge como repórter, talvez uma referência à série Quack Pack, e o Capitão Bóing está muito diferente das histórias anteriores. Menos aventureiro e muito mais abobalhado, Bóing lembra mais sua versão no spin-off Darkwing Duck, inclusive citando sua temporada em St. Canard. Muitas e muitas referências às aventuras passadas são simplesmente jogadas na história, sem causar empatia a leitores que não as conhecem, e nem nostalgia aos fãs antigos. O desenvolvimento da primeira parte não se mantém no mesmo ritmo, forçando a história a correr na última parte, atropelando a narrativa. E ainda se encerra com um gancho forçado, que em nada contribui para o entendimento da trama. O resultado é uma história confusa, fraca, com personagens rasos e que mais parece uma fanfic do que um produto oficial.

    Acabamento de luxo

    Embora tenha seus problemas, o volume é muito bom. A capa dura com reserva de verniz tem a aparência de uma peça de pedra de algum templo antigo e é realmente muito bonita. Impossível não comprar com a arte dos filmes de Indiana Jones, clara inspiração para a série. O material extra traz um excelente texto contando a trajetória dos Caçadores de Aventuras em diversas mídias, e é realmente muito bom. As páginas em couché dão um brilho às histórias e a encadernação é perfeita, como vem sendo nas outras edições de capa dura da editora. É uma peça para se guardar na coleção e, mesmo com seus problemas, no coração de quem já cantou a música tema de Ducktales com empolgação um dia!

    Compre: Ducktales: Os Caçadores de Aventuras