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  • Review | Os Jovens Titãs

    Review | Os Jovens Titãs

    Após o sucesso decorrido do Universo Animado Compartilhado da DC, algumas outras animações envolvendo os heróis da editora ocorreram, entre elas, Os Jovens Titãs, ou Teen Titans, iniciada em 2003, com cinco temporadas. A primeira delas começa mostrando uma escola de super dotados, chamada de A Academia, sendo esse um paralelo bastante curioso pela semelhança que tem com os X-Men, equipe que alegavam ser plágio dos Titãs. O fato dessa força-tarefa se opor aos heróis faz a comparação ganhar ainda mais força.

    O programa que David Slack produzia tinha um traço semelhante aos desenhos animados japonesas e uma aura mais infantil que Batman – A Série Animada e Liga da Justiça Sem Limites. O grupo formado por Robin, Estelar, Cyborg, Ravena e Mutano já vivem juntos na Torre Titã desde o início dos episódios, e não se perde tempo mostrando a origem do grupo. Aqui também se estabelece O Exterminador – ou Slade, como é chamado na dublagem brasileira – como o grande vilão do grupo.

    Já no primeiro dos 65 capítulos, Robin é raptado e isso ajuda a pavimenta-lo como o personagem que concentra o foco dramático dessa primeira temporada, inclusive no fato dele ser um par com a princesa Estelar, que inclusive, foi um dos pilares do bom desempenho de Marv Wolfman e George Perez à frente do título. Esse primeiro tomo é marcado por sentimentos muito conflitantes, entre eles a liderança de Robin é discutida, pois para Estelar ele não confia nos seus companheiros para valer. É curioso notar como, apesar de mal se citar a figura do Batman, o seu pupilo na encarnação de Dick Grayson (que também não é citado como identidade secreta do herói, mas se intui isso por mostra-lo como Asa Noturna em versões alternativas do futuro) guarda e herda boa parte das obsessões e defeitos do seu mentor. Ainda que Slack não tenha intenção de seguir no trabalho de Bruce Timm e Paul Dini na série animada de Batman, claramente há a exploração de boa parte dos mesmos dramas, e para quem é aficionado por este universo, tais coisas fazem um enorme sentido.

    Ainda nesses primeiros arcos há uma micro ideia de continuidade, mesmo sendo essa uma serie quase procedural, e boa parte da narrativa é mostrada baseada nos conflitos entre os heróis, que em suma, são o resumo da fase conturbada e difícil da adolescência e puberdade. Fora isso, há também algumas boas participações, como a de Aqualad  ainda na primeira temporada, que tem uma rivalidade inicial com Mutano, apelando mais uma vez para o clichê da aparição de super-seres novos e o confronto iminente de alguns deles.

    Os últimos capítulos desse primeiro ano põem o Exterminador e Robin frente à frente, comparando suas semelhanças e brincando até com a situação de manipulação e legado, com o herói sendo usado pelo bandido, que o faz de herdeiro de sua carreira como malfeitor, e essa dicotomia faz um sentido enorme dentro da trama, surpreendentemente madura para um programa infantil, isso tudo sem sequer mencionar o Batman, trabalhando uma nova relação de aprendiz-mestre com um rival.

    O primeiro capítulo da segunda temporada mostra Estelar lidando com uma viagem no tempo, ao tentar deter o vilão Warp, aqui se vê o futuro dos Titãs, com Ravena se isolando a luz, Cyborg necessitando de muitas manutenções, Mutano como atração circense se colocando em uma jaula para não ser incomodado e Robin como Asa Noturna. Vinte anos faz uma diferença terrível e praticamente só o líder do quinteto consegue driblar a decadência. O arco mais famoso dos Titãs certamente é O Contrato de Judas e os últimos episódios da segunda temporada se dedicam a adapta-lo, mostrando o acréscimo de Terra ao time e consequentemente, sua traição. Apesar de tentar ser fiel, não há tantra dramaticidade quanto a versão original mas ainda assim é bem marcante.

    A maior parte da terceira temporada é descompromissada com cronologia, mas nos dois últimos capítulos são mostrados os Titãs da Costa Leste, formados por Ricardito, Aqualad, Abelha, Más e Menos, um grupo que está tentando se entrosar para agir tal qual o outro quinteto. Eles recebem a visita do Cyborg, a fim de se aprimorarem e de lidar com o vilão Irmão Sangue. Eles de certa forma repetem alguns dos estereótipos, Aqualad não aceita comer nada derivado de peixe, os gêmeos corredores Más e Menos são o alivio cômico (papel de Mutano e Estelar), Abellha é a personagem negra super responsável como Cyborg e Ricardito se acha autossuficiente, assim como o Robin quando mais imaturo.

    Cyborg decide ficar com a  nova equipe, para só depois perceber que isso era na verdade uma ardil do vilão, Irmão Sangue, que fez seduzir o rapaz meio-homem, meio-máquina para que tivesse uma crise de vaidade, criando o desejo de liderar seu próprio grupo de heróis. Pode parecer bobo, mas o tema é tratado de um modo maduro em comparação ao restante da obra, pois trata de egocentrismo, necessidades familiares e trabalho em equipe. Os episódios, escritos por Marv Wolfman captam bem o espírito por trás do grupo de adolescentes super-poderosos.

    As influencias de animes e mangás não se veem somente no traço dos personagens ou na música de abertura, mas também em algumas figuras de inspiração. Em The Quest, mostra o garoto prodígio indo na direção de um grande mestre, após perder uma batalha para o vilão Kitarou, e nesse ínterim ele tem uma jornada rumo a um novo treinamento diferenciado, que faz paralelos com o visto em Yoda, de Star Wars, e Pai Mei, de Kill Bill.

    Os momentos finais da quarta temporada, mostram o retorno de Trigon e a consequente chegada do fim do mundo, através de sua filha, Ravena. Robin e os outros querem proteger a amiga tentando isola-la para que não se torne o portal que traria de volta esse demônio, mas obviamente ela não permite isso, acreditando piamente que o destino pré-estabelecido acontecerá. Mesmo com a recusa da menina, a ideia por trás dos três episódios nomeados The End é voltada para o espírito de equipe, explicitando que ele é a chave para resolução dos problemas. Trigon só poderia ser enfrentado por Cyborg, Estelar, Mutano e Robin, que possuem um pouco do poder dela, e se potencializa quando reunidos, e nem mesmo em Liga da Justiça Sem Limites se viu um drama de equipe tão bem explorado, talvez seja aqui o maior exito da DC nesse quesito.

    Cada uma das temporadas focou em ao menos um personagem, primeiro Robin, depois Terra, Cyborg, Ravena e a quinta em Mutano. Já no início é mostrada a Patrulha do Destino, grupo do qual ele fazia parte e onde foi rejeitado pelo mentor. As gracinhas que o garoto faz claramente são um mecanismo de defesa, um modo de esconder sua insegurança por ter sido descartado antes, e mesmo que guarde algumas semelhanças com o que já havia ocorrido com Ravena, há muitos acertos ao dar um plano de fundo para o personagem cômico. Há ainda outros momentos bem legais, como quando os Titãs vão atrás da Irmandade Negra, os Titãs da Costa Leste cuidam da cidade , enquanto o Maluco do Controle invade a Torre dos heróis. O combate é divertido e finalmente pode-se ver mais desses personagens tão carismáticos.

    Próximo do final, em Go, é mostrado uma versão do que seria o primeiro encontro do grupo sem que nenhum deles se conhecesse previamente. Estelar aparece com algemas de Tamaran, seu povo, Mutano ainda é somente um ex-membro da Patrulha, Cyborg usa um moletom escondendo sua identidade. A mais próxima da atualidade da série é Ravena, que se sente monstruosa, mas nada que não fosse condizente com o já visto. Aqui acontece algo que não havia acontecido no decorrer das dezenas de episódios que apareceram: Estelar beija Robin quando ele a ajuda a se livrar das algemas. Em comum todos os personagens tem a questão de serem párias, distantes das expectativas que o mundo adulto tem sobre eles, são flagelados cada um a seu modo e a gravidade das situações pontua bem a intenção de David Slack ao fazer esse programa.

    Calling all Titans mostra uma convocação de todos os personagens mirins que apareceram e até alguns que eram inéditos até aqui, uma reunião que visa se unir contra a Irmandade Negra. Apesar de meio desimportante é obviamente bem divertido ver tantos personagens famosos juntos, mas o ponto alto realmente ficou por conta da exploração da origem do grupo.

    Houve ainda um longa, chamado Missão Tokyo, de 2007, que visava fechar algumas pontas soltas da quinta e última temporada. As forças das circunstâncias fazem os heróis viajarem até o Japão, e sem ter um tradutor, Estelar decide beijar os lábios de um menino, assim aprendendo instantaneamente o idioma. Isso explica porque Robin foi beijado por ela, na primeira vez que se encontraram, e faz todo esse pretenso romance se tornar ainda mais complexo. O filme é divertido, mas parece de fato uma colagem de episódios, não resolve e sequer cita a questão da Irmandade Negra, mas serve para pavimentar a relação de Robin e Estelar.

    Os Jovens Titãs foi descontinuado por motivos até hoje não muito claros, há quem diga que era por conta da baixa venda de brinquedos, mas verdade é que Slack fez um trabalho potente no programa que propôs, traduzindo bem a ideia por trás dos quadrinhos clássico de Marv Wolfman e George Perez, acertando em cheio no que diz respeito ao trabalho de equipe e as discussões de aceitação. Titãs sempre foi uma publicação que discutiu tais coisas e quando seus personagens cresciam, substituíam boa parte deles para reprisar esses dramas, e mesmo sem ter a pretensão de ser um programa adulto, esta versão acerta e entretém tanto na parte lúdica, como em suas tramas mais elaboradas.

    https://www.youtube.com/watch?v=7e_GM7XLdlc

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  • Resenha Batman: Arkham Knight – Marv Wolfman

    Resenha Batman: Arkham Knight – Marv Wolfman

    batman-arkham-knight-darkside-capa-webBatman: Arkham Knight é uma dramatização do jogo homônimo mais aguardado de 2015. Escrito por Marv Wolfman, a história segue Batman em sua tentativa de frustrar os planos do Espantalho, um dos mais famosos criminosos de sua galeria de vilões. Ao mesmo tempo em que se vê assombrado pelo o fantasma do falecido Coringa, além de ser perseguido por um novo vilão intitulado Cavaleiro de Arkham.

    A pungente história começa com Espantalho fazendo uma oferta pelo o controle de Gotham City, logo após a cremação do Coringa. Batman, o eterno protetor de Gotham, está no caso, com ajuda de Barbara Gordon, conhecida como Oráculo e Lucius Fox, CEO da Wayne Enterprises.

    Infelizmente, o livro sofre por ser uma adaptação. Com frequência enquanto estamos lendo-o, reconhecemos quais momentos eram originalmente uma cena de luta ou uma cut-scene do jogo. As vezes, senti como se a narrativa fosse mais uma transcrição do que um produto novo contendo um enredo. Se compararmos com outras obras adaptadas, observamos que a elaboração de uma história a partir de um material existente não é tarefa fácil. A maioria dos autores falha por apenas descrever o que foi apresentado nas telas. Os melhores autores, no entanto, são capazes de expandir e aprofundar a experiência do original, levando os leitores a outros lugares além daqueles vistos no jogo.

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    Outra falha do livro é a falta de aprofundamento em outros vilões da vasta galeria do morcego. Tanto a trama desta história quanto a do jogo é genérica e não explora-os adequadamente. Porém, muitos vilões ao menos são citados no livro, enquanto no jogo se apresentando somente em missões secundárias. Resultando em uma história confusa em que, por exemplo, Duas-Caras e Pinguim aparecem abruptamente e desaparecem de maneira rápida. Hera Venenosa é parte integrante da ação mas também é deixada de lado mesmo sendo um personagem importante.

    Outros vilões são mencionados no início do livro, como Falcone e Moroni, mas depois nunca mais são citados no decorrer da história. Até mesmo o vilão que dá nome ao livro, nome mantido no original, Arkham Knight, é pouco explorado. A identidade do vilão é fraca, sendo possível descobri-la sem muito esforço.

    Mesmo que consideremos que o livro é baseado em jogo de videogame, era possível realizar uma narrativa melhor, ainda mais em um mundo rico como o universo do Homem-Morcego e a franquia rentável dos jogos da série Arkham. Infelizmente, o resultado é confuso e frustrante para quem deseja uma boa história com grande vilões sendo derrotados pelo Cavaleiro das Trevas.

    Texto de autoria de Tiago Cesar.

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  • Resenha | A História do Universo DC

    Resenha | A História do Universo DC

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    Pensado originalmente para ser os números 11 e 12 do evento Crise nas Infinitas Terras, misturando conteúdo enciclopédico com o estilo prosaico de Marv Wolfman e George Perez – co-autores da mega saga – A História do Universo DC é uma espécie de epílogo da história que modificou todo o multiverso da DC Comics, nas palavras de Wolfman, já no interessante prefácio Imprimindo a Lenda. A conclusão do roteirista é de que esta era um retrato de um período da editora.

    Os bastidores da criação da história foram os mesmos de Crise e dos Titãs dos dois autores, com Perez desenhando primeiramente os quadros para inserção das falas de Wolfman após. A diferença está na estrutura, uma vez que para contar todas as conclusões da personagem Precursora, seria preciso mais campo, usando-se as bordas das páginas para explicitar a origem dos universos, usando as imagens como gravuras de uma publicação literária com edição ilustrada.

    A narração da Precursora visa recolher a verdade, passando por diversos períodos históricos e eventos envolvendo os personagens da editora, contando a origem dos Oanos, explicando a ideologia e função dos guardiões ao tentar patrulhar todo o universo primeiro com os Caçadores e depois com a Tropa dos Lanternas Verdes. A memória passa pelos tempos mitológicos gregos, depois pelo Império Romano e pela lenda do Rei Arthur. Também discorre sobre a Atlântida pré Arthur Curry (Aquaman) além do Egito de Thet Adam (Adão Negro), além dos mitos gregos, romanos e saxões.

    O desenrolar dos fatos emenda a realidade fora das revistas com outros setores universais, comoa a Nova Gênese de Jack Kirby, a Cidade Gorila e o velho oeste de Jonah Rex. De certa forma, a publicação faz o mesmo exercício que Superdeuses de Grant Morrison faria no futuro, apesar de ser menos didático e antropológico e mais dramatúrgico, organizando como uma bela desculpa para contar tudo como um último relatório para o mentor dela, o Monitor através da descoberta do viés heroico.

    Além da questão de catalogar todas as eras heroicas, A Historia do Universo DC também faz um comentário político ao passant, associando a dissolução da Sociedade da Justiça da America com o que viria a acontecer com Watchmen e a famigerada Lei Keane, que proibia o vigilantismo. Ainda há a preocupação em estabelecer a Mulher Maravilha como um evento recente, já que ocorria a reformulação de George Perez.

    Na revista publicado pela Panini, há duas histórias extras, uma chamada  A História de UDC, onde Dan Jurgens faz roteiro e esboços, auxiliado por denhistas diversos. O apêndice  mostra Donna Troy perdida no espaço tempo, explorando as incongruências do universo pós crise e contando do mesmo modo que a outra história tudo o que ocorreu após os eventos pós morte do Monitor, resumindo sagas como Lendas, Zero Hora, Crise Infinita etc. Também há como material extra, historias de apenas duas páginas, escritas por Mark Waid e desenhadas por grandes nomes da industria, como Ivan Reis, Andy Kubert e Adam Hughes. Esta versão do compilado visa trazer um panorama completo sobre os eventos ocorridos na historiografia da editora, atinge esse objetivo de maneira inventiva e inteligente, ainda que burocrática e corrida em certos pontos.

  • Resenha | Ducktales: Os Caçadores de Aventuras (1)

    Resenha | Ducktales: Os Caçadores de Aventuras (1)

    Duck-Tales-Caçadores-de-Aventuras - vortex

    Entre 1987 e 1990, a Disney produziu aquela que viria a ser sua mais famosa série animada, estrelada por ninguém menos que o velho sovina Tio Patinhas e seus sobrinhos-netos Huguinho, Zezinho e Luisinho. Ducktales é ainda hoje lembrada com muito carinho por quem foi criança na época, e grande parte do seu sucesso foi devido à capacidade dos produtores em manterem-se fiéis às histórias em quadrinhos. Mesmo com algumas criações exclusivas para a série e algumas licenças poéticas que mudariam personagens já consagrados, o espírito aventureiro das obras clássicas de Carl Barks estava presente em cada episódio.

    Não demorou muito para que a transição inversa de mídia acontecesse: uma série baseada em quadrinhos acabou baseando, também, histórias em quadrinhos! Esses quadrinhos diferiam das habituais por incorporarem elementos antes exclusivos da série, como personalidades diferentes para cada um dos Irmãos Metralhas ou a origem escocesa do Pão-Duro MacMônei, que nos quadrinhos era sul-africano. Além de uma revista mensal, os patos tiveram algumas minisséries publicadas pela Editora Abril, sendo que três delas estão reunidas nesse volume de capa dura intitulado apenas Ducktales: Os Caçadores de Aventuras.

    Em busca da Número Um

    A primeira saga do volume é também a melhor das três e tem o roteiro assinado pelo consagrado escritor Marv Wolfman, conhecido pelo seu trabalho na DC Comics com os Novos Titãs e a maxissérie Crise nas Infinitas Terras. Wolfman resgata a atmosfera aventureira das histórias de Barks e demonstra um grande cuidado na caracterização de cada personagem. A história em sete partes começa com a vilã Maga Patalójika sequestrando a patinha Patrícia – neta da governanta Madame Patilda e para a qual Patinhas demonstra o mesmo carinho que tem pelos seus sobrinhos. Pelo resgate de Patrícia, Maga obriga Patinhas a entregar sua moedinha da sorte, a Número Um. Essa moeda foi a primeira que ele ganhou na vida e tem para ele um grande valor sentimental.

    O Tio Patinhas de Marv Wolfman é muito menos sovina e tem um coração muito mais mole do que as versões com as quais estamos acostumados por aqui – principalmente se comparado às hqs italianas ou mesmo brasileiras. Embora ainda tenha uma enorme sede por acumular riquezas, o velho não se importa em desfazer delas se isso significar o bem de seus entes queridos. Assim, vemos Patinhas abrindo mão de sua moedinha para resgatar a querida Patrícia, mas acaba caindo em um golpe sujo da bruxa.

    A saga então passa a ser sobre o resgate dessa moedinha e a busca pela Maga Patalójika, levando a família de patos e seus amigos a aventuras ao redor do mundo, tal qual na série animada. Destaque para o Capitão Bóing, que aqui aparece caracterizado como na primeira temporada da série animada: meio atrapalhado, porém valente e aventureiro. Paralela à história da moedinha, temos uma outra trama envolvendo o Pão-Duro MacMônei (que nessa história teve seu nome traduzido como MacMônei Coração-de-Pedra) na qual o rival se apropria das empresas Patinhas através de golpes financeiros. Patópolis é rebatizada como MacMópolis, e vemos a total ausência do poder público na cidade, sendo que todos os bens e serviços são advindos da iniciativa privada (asfalto, iluminação pública, saneamento básico…).

    Maga Patalójika está muito mais poderosa do que o habitual e sua presença é realmente assustadora. A habilidade de Wolfman de contar uma grande história, com muitos personagens, é visível e tudo se encaixa com sagacidade. Personagens como Madame Patilda, Asnésio, Professor Pardal e Leopoldo, embora não sejam importantes para a trama e alguns sequer tenham fala, marcam presença e garantem a atmosfera do desenho na saga, fazendo parte do cenário. Carl Barks também faz uma aparição na história como um aliado do vilão, e é uma bela homenagem ao Homem dos Patos.

    A odisseia do ouro

    A segunda saga do volume, com roteiro de Bob Langhans, trata de um meteoro de ouro descoberto por Patinhas e MacMônei e uma viagem pelo espaço para tomar posse dele. O clima de aventura também permeia toda a história e alguns momentos são bem divertidos. Asnésio, o patinho escoteiro rechonchudo, ganha uma importância maior, tendo um arco focado nele. Incomoda um pouco o uso de “ganchos” pelo roteirista a cada final de capítulo, que parece não ser usado de forma muito inteligente. Esses ganchos dão a impressão de que os capítulos simplesmente acabam “pela metade”, e a resolução na próxima parte soa corrida. Mais uma vez, vemos um Patinhas não muito apegado aos seus tesouros, e isso contrasta com a personalidade de MacMônei na história. Capitão Bóing continua aventureiro, porém mais falastrão do que na primeira saga.

    Alguns cuidados por parte da equipe de tradução foram negligenciados, e temos balões trocados em um quadro, assim como o nome de um dos sobrinhos em uma parte da história. Além disso, o topete do Bóing aparece sem cor em vários quadros, o que embora não atrapalhe o entendimento da história, causa certa estranheza ao leitor mais atento.

    Legítimos donos

    A terceira e última saga do volume é uma pena. Escrita por Warren Spector, designer do jogo Epic Mickey, a premissa é muito interessante, mas desperdiçada de uma forma tão inacreditável que chega a dar dó! A história parte do princípio de que muitos dos tesouros do Patinhas foram adquiridos através de apropriação cultural e, portanto, devem ser devolvidos aos seus legítimos donos. Uma excelente ideia, mas muito mal desenvolvida.

    Mesmo assim, temos alguns pontos pertinentes. A arte é bem diferente das duas séries anteriores, mais moderna e flertando com o estilo Disney italiano. Embora seja boa, não se mantém constante e as proporções dos personagens mudam muito de um capítulo para outro. As cores são definitivamente a melhor parte, e é a única coisa na história superior ao resto do volume.

    A história começa com uma exibição no museu de Patópolis dedicada às aventuras de seu mais notável cidadão. Assim, os tesouros conquistados por Patinhas em diversas ocasiões são expostos orgulhosamente, o que causa um certo constrangimento em Patrícia, que acaba convencendo o tio a devolvê-los. Junto a isso, o também ricaço esbanjador Patacôncio faz uma aposta com o velho Patinhas “nos termos de sempre”, o que significa que o perdedor deverá comer seu chapéu. Assim inicia-se uma jornada à tribos remotas para a devolução dos pertences.

    Mas o roteiro não funciona direito. A começar com a escolha do rival Patacôncio, que nunca sequer apareceu na série animada e não é tão popular nos Estados Unidos quanto no Brasil ou Itália. Peninha faz uma ponta que poderia passar despercebida, e Donald, apesar de citado e de aparecer em dois quadros, não teve nenhuma notoriedade na história – diferente do que a condução do roteiro parecia sugerir. Margarida – outra que nunca apareceu no desenho – surge como repórter, talvez uma referência à série Quack Pack, e o Capitão Bóing está muito diferente das histórias anteriores. Menos aventureiro e muito mais abobalhado, Bóing lembra mais sua versão no spin-off Darkwing Duck, inclusive citando sua temporada em St. Canard. Muitas e muitas referências às aventuras passadas são simplesmente jogadas na história, sem causar empatia a leitores que não as conhecem, e nem nostalgia aos fãs antigos. O desenvolvimento da primeira parte não se mantém no mesmo ritmo, forçando a história a correr na última parte, atropelando a narrativa. E ainda se encerra com um gancho forçado, que em nada contribui para o entendimento da trama. O resultado é uma história confusa, fraca, com personagens rasos e que mais parece uma fanfic do que um produto oficial.

    Acabamento de luxo

    Embora tenha seus problemas, o volume é muito bom. A capa dura com reserva de verniz tem a aparência de uma peça de pedra de algum templo antigo e é realmente muito bonita. Impossível não comprar com a arte dos filmes de Indiana Jones, clara inspiração para a série. O material extra traz um excelente texto contando a trajetória dos Caçadores de Aventuras em diversas mídias, e é realmente muito bom. As páginas em couché dão um brilho às histórias e a encadernação é perfeita, como vem sendo nas outras edições de capa dura da editora. É uma peça para se guardar na coleção e, mesmo com seus problemas, no coração de quem já cantou a música tema de Ducktales com empolgação um dia!

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