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  • Resenha | Prince of Thorns – Mark Lawrence

    Resenha | Prince of Thorns – Mark Lawrence

    Quando lemos um livro, logo de cara queremos nos identificar com o protagonista da história, por pior que ele seja. Buscamos em suas atitudes, sejam elas certas ou erradas, algo em que acabamos por nos espelhar ou ao menos refletir o que faríamos se estivéssemos na mesma situação. Essa empatia, esse sentimento de ter algo em comum com o personagem que nos é apresentado em uma história, é um dos fatores essenciais para que o leitor se sinta preso à narrativa e compartilhe das emoções que o autor quer passar através de sua obra. Mas como isso pode acontecer quando o protagonista é simplesmente asqueroso, ao ponto de não causar sequer um momento dessa identificação com o leitor?

    Prince of Thorns é o primeiro livro da Trilogia dos Espinhos, lançada pela Darkside Books, editora especializada em livros com temática mais sombria e violenta. Escrito por Mark Lawrence, esse primeiro volume nos apresenta o jovem príncipe Honório Jorg Ancrath e sua escalada obsessiva ao poder. Jorg foge de casa muito novo após uma tragédia familiar que o traumatizou. Sua mãe e irmão mais novo foram brutalmente assassinados e ele foi deixado à beira da morte em meio aos espinhos de uma roseira. A ira em sua mente cresce ainda mais ao perceber que seu pai nada fez para evitar o massacre (encabeçado por um rei rival) devido a questões políticas. Isso é parte do que faz dele um ser tão amargurado e sedento por sangue. Ainda criança, Jorg liberta os piores prisoneiros do castelo e junta-se a esse grupo de homens que guerreiam através de vários vilarejos em busca de poder. O que vemos a partir de então é uma pessoa sem qualquer moralidade cometendo os mais cruéis atos de barbárie e liderando um bando de homens bem mais velhos que ele.

    Jorg tem 14 anos no desenrolar da história, mas é inescrupuloso e sua ambição é se tornar rei aos 15 anos, mesmo que se utilize dos mais cruéis meios para atingir seu objetivo. Quando a idade limite auto imposta começa a chegar, o Prince dos Espinhos decide que é hora de enfrentar seu pai e tomar o trono para si. É interessante notar como no gênero dark fantasy, o foco é na violência crua e intrigas políticas, embora também exista magia no mundo, mas não tão colorida como em outros universos literários young adult. Aqui, tudo é sombrio e violento ao extremo, fazendo com que Game of Thrones pareça uma peça infantil em comparação. Jorg é psicopata, violento, estuprador, e não há remissão alguma para o protagonista na história. Essa é o principal motivo de não nos identificarmos com ele. Diferente de outros vilões da cultura pop, não existe nenhum momento em que podemos dar razão a ele, mesmo a história sendo contada em primeira pessoa e todas as motivações de Jorg nos sendo apresentadas tão explicitamente.

    O livro tem uma excelente qualidade técnica, com uma excelente encadernação em capa dura e papel de miolo com ótima gramatura. A leitura acaba sendo facilitada pelo formato do capítulos, geralmente bastante curtos e separados por páginas pretas com citações que nos dão uma pista do que irá acontecer em seguida. Obviamente, não é uma leitura que agrade a qualquer pessoa, e para aproveitar ao máximo a história o leitor deve deixar de lado a estranheza que um protagonista amoral e nada ambíguo pode causar. E esse é apenas o primeiro volume…

    Compre: Prince of Thorns – Mark Lawrence.

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  • Agenda Cultural 64 | Pantera Negra, Filmes do Oscar e Meu Amigo Dahmer

    Agenda Cultural 64 | Pantera Negra, Filmes do Oscar e Meu Amigo Dahmer

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Filipe Pereira (@filipepereiral) e o convidado Matheus Fiore (@matheuusfiore) retornam para mais um episódio da Agenda Cultural, e comentam sobre os principais lançamentos de cinema no mês de fevereiro — com diversas indicações de filmes do Oscar —, o programa de entrevistas de Jerry Seinfeld e o quadrinho Meu Amigo Dahmer, publicação da DarkSide Books.

    Duração: 94 min.
    Edição: Julio Assano Junior
    Trilha Sonora: Flávio Vieira
    Arte do Banner: 
    Bruno Gaspar

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    Meu Amigo Dahmer – Compre aqui

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  • Resenha | Creepshow

    Resenha | Creepshow

    Creepshow foi um projeto que homenageou os quadrinhos de terror dos anos 1950, especialmente aqueles publicados pela EC Comics, como Contos da Cripta. O resultado foi o lançamento simultâneo de um filme (leia nossa crítica aqui) e um quadrinho, ambos com o mesmo nome e as mesmas cinco histórias. Apesar das semelhanças, cada obra merece atenção, pois carregam algumas particularidades.

    Vamos falar da história em quadrinhos, publicada recentemente no Brasil pela DarkSide Books.

    A obra traz cinco histórias curtas escritas pelo mestre Stephen King, que envolve temáticas variadas, mas sempre focada no terror. E tendo em vista que a intenção era homenagear os quadrinhos de terror de época, nada melhor que trazer artistas envolvidos com o gênero. A capa ficou a cargo de Jack Kamen — já conhecido por seu trabalho como desenhista de histórias de suspense, terror e ficção científica da EC Comics —, que faz referência ao filme, pois mostra o garoto com a revista em mãos. Já as histórias ficaram sob a responsabilidade de Bernie Wrightson, com uma carreira extensa e renomada nos quadrinhos, tendo trabalhado nas principais editoras americanas, inclusive cocriando o personagem Monstro do Pântano, ao lado de Len Wein, na DC Comics. Wrightson faz um traço realista e detalhado, que remete ao estilo dos quadrinhos de época da EC. As cenas são bem construídas, e algumas delas ficarão na sua memória por muito tempo. Uma pena que ambos os artistas já se foram.

    Dia dos Pais, inicia o álbum e mostra uma senhora de idade que visita o túmulo de seu genitor todos os anos na referida data. O túmulo está na propriedade da família, e esta aproveita a ocasião para se reunir. Os fatos envolvendo a morte do pai são repugnantes e o desfecho é maravilhosamente trash.

    A Solitária Morte de Jordy Verrill nos apresenta um caipira que vive imaginando as situações antes que elas aconteçam. É a típica pessoa que imagina todas as possibilidades antes de tomar uma atitude, e fica sonhando acordado. Certo dia, um pequeno meteorito cai em sua propriedade, localizada na zona rural. Mas a falta de cuidado de Jordy com o material alienígena trará consequências inesperadas.

    A Caixa gira em torno de uma… caixa. Na verdade, uma grande caixa de madeira encontrada pelo zelador da universidade. Nela está escrito Expedição ao Ártico (seria uma referência indireta ao conto Nas Montanhas da Loucura, de H.P. Lovecraft?), e seu conteúdo permanece um mistério até que o professor Dexter Stanley é chamado para averiguar o objeto. O que tem dentro dela?

    Indo com a Maré já se inicia com alguém enterrado numa praia, apenas com a cabeça exposta. Ele implora que o tirem dali. O responsável está diante dele, e não demonstra compaixão alguma. Por que ele está enterrado? Este, provavelmente, é o conto mais George Romero da obra.

    E por fim, Vingança Barata revela um sujeito que tem sérios problemas com uma infestação de baratas. Se por um lado é a história menos interessante, por outro traz aspectos visuais bacanas que reforçam o traço fantástico de Wrightson, onde a enorme quantidade de baratas causa sentimentos de repulsa.

    Interessante notar que o som tem um papel importante em vários seguimentos, onde as onomatopeias fluem pela arte sequencial, causando um efeito narrativo bem legal, uma espécie de agonia, com o som repetindo de novo e de novo enquanto as coisas acontecem. Quando o som é bem usado em uma mídia sem som, nota-se a qualidade dos artistas envolvidos.

    Vale dizer que a obra se aproxima mais do “terrir” do que do terror, como acontecia com diversas publicações do gênero. O próprio narrador, exclusivo da versão em quadrinhos, deixa bem claro que a obra não se leva a sério ao se dirigir ao leitor, em uma quebra da quarta parede e utilizar uma linguagem sarcástica e bem humorada ao comentar os acontecimentos de cada uma das cinco histórias. Os diálogos dos personagens também optam pela linguagem coloquial, cheio de gírias e palavras propositalmente erradas para caracterizar alguns personagens (por exemplo, o zelador chamar o professor de “dotor”). Tudo isso gera uma atmosfera mais descontraída à obra.

    Em suma, um quadrinho que não vai te aterrorizar, mas sim divertir. Algumas cenas são perturbadoras, sim, e ficarão cravadas na memória, mas nada que irá te traumatizar. Tudo isso, aliada à excelente qualidade do material (capa dura com verniz localizado, tamanho grande, boa impressão e papel grosso) fazem de Creepshow um belo lançamento da DarkSide. Recomendado aos fãs de histórias pulp de terror e o cinema trash e, claro, a todos que gostaram da versão cinematográfica dirigida pelo mestre George Romero ou são fãs de Stephen King e Bernie Wrightson.

    Compre: Creepshow.

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  • Resenha | Hex – Thomas Olde Heuvelt

    Resenha | Hex – Thomas Olde Heuvelt

    A minúscula Black Spring parece um lugar agradável. Natureza em abundância, crianças brincando nas ruas, contando em tons de segredos as velhas histórias que tomam conta de qualquer cidade pequena, em qualquer lugar do mundo: histórias de bêbados locais, do estilo de vida do açougueiro e quem está dormindo com quem, talvez até mesmo um detalhe apimentado de qualquer pseudo-celebridade ou pessoa de visibilidade pública. Black Spring é uma cidade rica em História, uma cidade que tem vários séculos de existência e que procura manter-se relativamente isolada de seus vizinhos, ainda que mantenha um diálogo aberto, até mesmo um festival anual para injetar um pouco de vida no comércio local; uma cidade com mais História, mitologia e personagens de notável importância do que seus visitantes poderiam imaginar.

    O que difere Black Spring de tantas outras cidades é uma herança da Caça às Bruxas: Katherine, uma horripilante bruxa de olhos e boca costurados, que vaga pela cidade a seu bel prazer, sem realmente se importar com trancas ou fechaduras. A bruxa pode, afinal, desaparecer para então surgir onde quiser, em qualquer lugar da cidade. O que seria de uma bruxa sem uma maldição? O grande mistério de Black Spring é que, se você nascer dentro de seus limites ou até mesmo passar um noite no lugar, uma pessoa jamais poderá se afastar por muito tempo: depois de dias longe da cidade, uma silenciosa depressão se instala, tão sutil e fatal que é percebida somente quando a corda já está amarrada em seu pescoço e a cadeira balançando por baixo de seus pés.

    Thomas Olde Heuvelt criou uma história de premissa interessante, com ares de um clássico contemporâneo instantâneo, um título que entrega ao livro a ilusão de que basta acrescentar água quente e esperar três minutos para consumi-lo sem moderação. Não é o caso. Apesar da interessante premissa, HEX toma rumos que, inesperados e esquivos do meio comum, falham em entregar uma trama profunda, escolhendo temas que fogem dos clichês ao trazer modernidade ao cenário até então medievalesco, mas que se tornam ralos, tão superficiais quantas tantas outras histórias de bruxa, só que com cores diferentes. HEX se inspira no contemporânea para criar um senso de relacionamento com o leitor. Como, afinal, proteger o segredo de alguns milhares de pessoas na Idade Facebookerna? Como impedir que as crianças deem com as línguas nos dentes ao invocar – 140 caracteres por vez – nas redes sociais a verdade sobre a bruxa de Black Spring, um ser com mais de quatro centenários de existência e que deve, acima de tudo, continuar com boca e olhos costurados?

    O romance nos mostra em poucos pontos de vista o cotidiano da cidade, sempre girando ao redor da bruxa enquanto procura qualquer aspecto de normalidade que consiga agarrar pelo caminho. Depois das devidas apresentações, Heulvelt logo centra a escrita ao redor de um pequeno grupo de garotos que pretendem se rebelar contra ambos, a bruxa e a própria cidade.

    Enquanto pertencer ao local começa a ganhar vapor nas páginas de HEX, o foco logo se transforma para a quebra entre gerações, para o mal que uma sociedade levada ao extremo pode cometer. HEX, então, se transforma numa história corrida, que consegue prender o leitor sem nunca realmente grudar seus olhos. Quase como se eles estivessem costurados.

    Talvez seja um problema da versão que chega para o mundo em que o Holandês não é língua comum. A versão de HEX que chega às Américas é uma reconstrução do original, onde Heulvelt muda o cenário da exótica Holando para a mistura de clichê que encontramos em um romance norte-americano. Vá na sua prateleira e puxe um livro que se passa nos Estados Unidos e que tenham sido escritos depois de 1980. Os personagens serão bem parecidos com os de HEX. É irônico que, ao tentar se aproximar de uma nova gama de leitores, o livro possa ter perdido todas as características que apelariam a eles, o público alvo.

    É uma história que perdeu a chance de ser um clássico, essa é a impressão que fica depois que a última página já ficou para trás. Ao tentar fugir do meio comum, Heuvelt lançou ao ar mais bolas do que conseguiria manejar. São tópicos interessantes e que tomam rumos que lhe farão espiar o próximo capítulo, mas que nunca entregam tudo o que prometeram ao dar as caras. De novo, é uma pena. De verdade. De quebrar o coração. Isso porque a história é interessante. Com o desenvolvimento fraco, deixa na boca o fantasma de um gosto difícil de comparar, impossível de completar. Katherine, a bruxa que amaldiçoa a cidade é uma das personagens mais sinistras da literatura, no sentido literal da palavra, já que sua presença é o presságio de páginas funestas. Ela tem todo o direito de tirar o seu sono, de agarrar os dedos de seu pé assim que eles ficarem descobertos. A boca firmemente costurada, que deixa apenas escapar um murmúrio que tornaria os campos estéreis e secaria o leite nas tetas de qualquer vaca, deveria assombrar seus próximos anos, mas não vai.

    HEX é apenas a promessa de um grande livro. Uma leitura boa, por vezes mediana, mas que tinha o potencial de fazer muita gente perder o sono. O mais engraçado é que, na tentativa de abordar temas grandiosos e que, de forma maestral, encaixariam tão bem na absurda história de Black Spring, HEX acaba com costuras feias em seu corpo, linhas pretas que prendem partes diferentes e que não deixam a história enxergar para onde deveria ir. E nem mesmo protestar por conta disso.

    Compre: Hex – Thomas Olde Heuvelt.

    Maurício Ieiri é um historiador que não faz História. Atualmente, tentando descobrir o que fazer com sua vida, partindo deste exato momento até o dia em que morrer. No meio tempo, escreve ficções. Participou do blog coletivo Os Caras do Clube e recentemente lançou seu primeiro romance, Incursões. 

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  • Resenha | Star Wars: A Trilogia – Special Edition

    Resenha | Star Wars: A Trilogia – Special Edition

    Inicio essa minha primeira resenha de livro dizendo que essa edição confeccionada pela Darkside Books tem uma capa belíssima. Me atrevo a dizer que é tão bonita quanto o primeiro box de DVDs da trilogia lançado aqui no Brasil, cuja arte também era toda em prata e preto. É algo de encher os olhos.

    Não compre esse livro achando que vai ler algo diferente do que viu nas telas. A narrativa descreve exatamente o que se passa nos filmes, sem nenhuma alteração ou acréscimo de novos eventos, mas notamos um aprofundamento e um melhor desenvolvimento psicológico dos personagens, o que é bem interessante. Um deleite para quem já assistiu a trilogia conhecer um pouco mais sobre a psique de seus heróis (e vilões). Para quem não é tão familiarizado com a saga, o resultado é positivo, pois por ser uma narrativa um tanto detalhada, a leitura facilita a imersão.

    As novelizações foram feitas por três autores diferentes: Alan Dean Foster ficou responsável por Uma Nova Esperança, Donald F. Glut por O Império Contra-Ataca e O Retorno de Jedi ficou nas mãos de James Kahn. Como disse no parágrafo anterior, os autores investem no desenvolvimento psicológico dos personagens. Foster é o que mais escapa do roteiro original, pois explora a relação de amizade de Luke e Biggs, chega a alterar um pouco da personalidade de Obi-Wan o tornando um pouco mais violento, além de descrever Palpatine muito mais como um político, dando a entender que ele não é um Sith e deixa evidente uma atração sexual de Luke por Leia. Glut investe nos sentimentos e emoções de Luke durante o treinamento Jedi e sua narrativa é mais ágil, fazendo com que seu romance seja o menor dos livros. Já James Kahn não consegue escapar do tom mais infantil do último filme da trilogia clássica. O autor chega ao ponto de traduzir os bips de R2-D2 e os grunhidos de Chewbacca, o que provoca certa estranheza.

    Um ponto bem interessante é a tradução das emoções e sentimentos de Darth Vader. Ao vermos somente sua máscara durante praticamente todos os três filmes, apenas supomos e imaginamos o que se passa em sua mente naquele momento. Nas novelizações, tudo que se passa por baixo da máscara é descrito, ajudando a compreender melhor o personagem.

    Ainda que não sejam sensacionais, as adaptações são muito boas e de fácil leitura, tornando a obra indispensável para quem deseja um panorama um pouco diferente do que é visto nos filmes. Já pra quem não é familiarizado com a saga nos cinemas, Star Wars: A Trilogia – Special Edition é uma excelente porta de entrada para todo o universo criado por George Lucas.

    Compre: Star Wars: A Trilogia – Special Edition.

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  • Resenha | O Circo Mecânico Tresaulti – Genevieve Valentine

    Resenha | O Circo Mecânico Tresaulti – Genevieve Valentine


    Circo fantástico de engrenagens incongruentes

    Respeitáveis leitores, O Circo Mecânico Tresaulti, de Genevieve Valentine (Darkside Books), é um livro de fantasia ambientado durante um período de guerra. Não se trata de uma distopia (aos fanáticos por conspirações), mas de uma história em que componentes mágicos de caráter lúdico coexistem despercebidos ao conflito.  De forma geral, a narrativa não alcança pleno entretenimento por conta de incongruências que saltam aos olhos de uma boa leitura.

    Valentine utiliza dois narradores: um em terceira pessoa, ou narrador-observador, e outro em primeira pessoa, ou narrador-personagem, o segurança e faz-tudo do circo, George. Aqui começam os primeiros deslizes. Utilizar dois narradores é sempre um desafio por conta da alternância de vozes; ou seja, fica fácil do leitor confundi-los se eles não possuem características distintas ao contar a história. E eles não têm.

    Trocando em miúdos, o livro começa dando a entender que George está escrevendo um diário sobre o Circo Tresaulti e os espetáculos, mas logo nos deparamos com cenas detalhadas em que ele não está presente. Ou seja, não fica explícita a troca de narradores porque os dois soam idênticos. Assim, por vezes algumas passagens dão a entender que George está falando dele na terceira pessoa, ou que tem algum poder de adivinhação não explícito na trama.

    Enfim, vá lá que George além de ser segurança também faça bicos de médium, poderia ser uma incongruência para não despertar muito incômodo ao leitor menos preocupado. Dirão que o leitor quer trama, entretenimento. Para este leitor, em síntese, o livro acompanha as apresentações do circo, mas não em caráter temporal, ou seja, os capítulos são intercalados entre presente e passado. Por vezes estamos lendo sobre o que acontece no presente, e de repente George fura a continuação da história para tratar sobre eventos antigos, sobre os velhos artistas que passaram pelo circo ou sobre figurino, música de apresentação, roupa etc.

    Pessoalmente, acredito que faltou um pouco mais de parcimônia em utilizar o flashback para aprofundar os personagens, pois o enredo do presente não caminhava a qualquer intensidade ou desenvolvimento da trama (principalmente na metade do livro). O passado pesa ao circo mais que o presente, contudo não é suficiente para manter a leitura em expectativa constante.

    Quanto aos personagens, por serem muitos, é natural que apenas uma parte merecesse atenção dos narradores (outros tiveram o passado reduzido a quatro ou cinco linhas). Mas vá lá, dirá algum leitor, que realmente não nos interesse o passado de personagens secundários como por vezes nós, pessoalmente, deixamos de conhecer quem habita o nosso cotidiano, a pergunta é: os mais citados carregam o livro? Aqui cabe outra dúvida porque a personagem principal, Boss, a matrona que capitaneia o circo, é cercada de mistério.

    Boss foi uma cantora de ópera antes da guerra começar. Mas não era uma principal, apenas secundária. O maior papel dela foi a assistente da rainha na ópera Rainha Tresaulta. É narrado que na noite de um espetáculo a cantora principal encantou os presentes a tal ponto de silenciá-los. No momento seguinte uma bomba estoura no teatro e mata todos, exceto Boss. Ela se ergue no meio dos escombros e, carregando pedaços de instrumentos dos músicos mortos, cria para si um assistente mecânico, um homem (ciborgue?) composto de vários instrumentos que futuramente encarna o arauto e orquestra-de-um-homem-só do Circo Tresaulti. Não é dito o que ela emprega para criar o servo, apenas que a “habilidade” desperta e, por conseguinte, Boss adquire o poder de implantar engrenagens nos corpos das pessoas.

    Com esse poder, Boss incrementa os artistas do próprio circo: aos acrobatas e malabaristas implanta ossos ocos e articulações de metais para os deixarem mais leves e fortes; implanta engrenagens para força e braços mecânicos em outros; engrenagens diversas dependendo dos casos que aparecem; e cria um par de asas mecânicas que implanta em um artista especial.

    Uma vez recebidas essas próteses, os artistas não podem se distanciar de Boss, porque sugere-se que ela cria um vínculo com as engrenagens implantadas, as quais podem parar se não ficarem perto da dona. Boss também pode consertar os artistas e as engrenagens, chegando a ponto de ressuscitá-los (você não leu errado). Isto é o Circo Tresaulti: artistas-meio-ciborgues-meio-imortais.

    O antagonista da história é o “homem do governo”. Basicamente ele quer recrutar Boss para que ela utilize a sua habilidade nas tropas em guerra para criar soldados-ciborgues-meio-imortais. Enquanto isso não acontece, o circo sobrevive levando certa esperança nas cidades em guerra. Isto ainda é uma resenha sem spoiler.

    A despeito da trama do circo-meio-ciborgue-meio-imortal espalhando esperança no mundo contaminado com bombas e guerra, a autora dá pouca ênfase ao cenário e muito aos personagens. Mas, apesar de alguns bem construídos, como dito acima, por vezes os artistas do circo se mostram vagos, com ações simbolistas, alguns diálogos muito parecidos em que não distinguimos uma personalidade por trás do personagem. Mesmo George, o narrador-personagem, por vezes fica mais preocupado em criar insinuações que contar o desenvolvimento da história.

    Na literatura, é uma tendência contemporânea deixar sugestões na narrativa como forma de simular a experiência de vida de quem lê, mas em excesso, como George utiliza sugestões para endossar o comportamento rude ou violento de outros personagens, é apelar demais para a complacência do público, e, ao mesmo tempo, se eximir de contar fundamentos da história. Novamente houve falta de parcimônia da autora.

    As ilustrações presentes no livro são muito bem feitas e transmitem uma atmosfera meio decadente com enlaces de esperança aos integrantes do circo. A edição da Dark Side é muito boa e encontramos um ou outro erro de revisão que não tem o poder de prejudicar muito a leitura. Ao fim, a impressão é que O Circo Mecânico Tresaulti é um espetáculo pela metade onde as engrenagens presentes nos personagens faltaram à história.

    Texto de autoria de José Fontenele.

    Compre: O Circo Mecânico Tresaulti.

  • Resenha Batman: Arkham Knight – Marv Wolfman

    Resenha Batman: Arkham Knight – Marv Wolfman

    batman-arkham-knight-darkside-capa-webBatman: Arkham Knight é uma dramatização do jogo homônimo mais aguardado de 2015. Escrito por Marv Wolfman, a história segue Batman em sua tentativa de frustrar os planos do Espantalho, um dos mais famosos criminosos de sua galeria de vilões. Ao mesmo tempo em que se vê assombrado pelo o fantasma do falecido Coringa, além de ser perseguido por um novo vilão intitulado Cavaleiro de Arkham.

    A pungente história começa com Espantalho fazendo uma oferta pelo o controle de Gotham City, logo após a cremação do Coringa. Batman, o eterno protetor de Gotham, está no caso, com ajuda de Barbara Gordon, conhecida como Oráculo e Lucius Fox, CEO da Wayne Enterprises.

    Infelizmente, o livro sofre por ser uma adaptação. Com frequência enquanto estamos lendo-o, reconhecemos quais momentos eram originalmente uma cena de luta ou uma cut-scene do jogo. As vezes, senti como se a narrativa fosse mais uma transcrição do que um produto novo contendo um enredo. Se compararmos com outras obras adaptadas, observamos que a elaboração de uma história a partir de um material existente não é tarefa fácil. A maioria dos autores falha por apenas descrever o que foi apresentado nas telas. Os melhores autores, no entanto, são capazes de expandir e aprofundar a experiência do original, levando os leitores a outros lugares além daqueles vistos no jogo.

    batmanarkham

    Outra falha do livro é a falta de aprofundamento em outros vilões da vasta galeria do morcego. Tanto a trama desta história quanto a do jogo é genérica e não explora-os adequadamente. Porém, muitos vilões ao menos são citados no livro, enquanto no jogo se apresentando somente em missões secundárias. Resultando em uma história confusa em que, por exemplo, Duas-Caras e Pinguim aparecem abruptamente e desaparecem de maneira rápida. Hera Venenosa é parte integrante da ação mas também é deixada de lado mesmo sendo um personagem importante.

    Outros vilões são mencionados no início do livro, como Falcone e Moroni, mas depois nunca mais são citados no decorrer da história. Até mesmo o vilão que dá nome ao livro, nome mantido no original, Arkham Knight, é pouco explorado. A identidade do vilão é fraca, sendo possível descobri-la sem muito esforço.

    Mesmo que consideremos que o livro é baseado em jogo de videogame, era possível realizar uma narrativa melhor, ainda mais em um mundo rico como o universo do Homem-Morcego e a franquia rentável dos jogos da série Arkham. Infelizmente, o resultado é confuso e frustrante para quem deseja uma boa história com grande vilões sendo derrotados pelo Cavaleiro das Trevas.

    Texto de autoria de Tiago Cesar.

    Compre: Batman: Arkham Knight – Marv Wolfman.

  • Resenha | A Noite dos Mortos-Vivos e A Volta dos Mortos-Vivos – John Russo

    Resenha | A Noite dos Mortos-Vivos e A Volta dos Mortos-Vivos – John Russo

    A Noite dos Mortos-Vivos é um título que dispensa apresentações. O filme de 1968, o “Avô de Todos” os produtos culturais estrelando zumbis, influenciou o cinema de horror como um todo e gravou na História o nome do cineasta George Romero. Menos famoso, seu colega John Russo foi corroteirista do longa e também pautou sua carreira com este tema. Ele adaptou A Noite dos Mortos-Vivos em versão literária, em 1973, e posteriormente lançou A Volta dos Mortos-Vivos, continuação idealizada, mas nunca produzida, para a telona (sem nenhuma relação com o filme homônimo de 1985). Agora as duas histórias foram reunidas em publicação da editora Darkside, dando aos fãs brasileiros a chance de conhecerem um dos clássicos do gênero.

    Retornar à fonte, no caso uma obra tão referenciada e cujos conceitos foram tão difundidos e reinterpretados ao longo dos anos, é uma experiência curiosa. Em A Noite dos Mortos-Vivos, é possível perceber o nascimento de ideias que se tornaram padrão: a incerteza sobre a origem do problema; o destaque às pessoas; a urgente e quase irracional luta pela sobrevivência; e, principalmente, a crítica social mediante a análise do comportamento humano em situações extremas. Sob esse prisma, certos elementos podem ter seu peso ignorado, caso a contextualização não seja considerada: o americano médio retratado como covarde; o negro sendo o protagonista e macho alfa; a jovem garota surtando e sendo um fardo para todos (item apontado, na época, como uma crítica ao feminismo). Tudo isso altamente transgressor nos anos 60. Atualmente, nem tanto.

    Outros aspectos soam estranhos hoje em dia, quando a palavra “zumbi” está quase sempre atrelada ao “apocalipse”: aqui, a ideia não é o fim da civilização, mas sim uma crise momentânea que pode ser controlada pelas autoridades, com algum esforço, e que atinge principalmente isoladas áreas rurais. Uma provável explicação para esse direcionamento é bastante óbvia: a limitação técnica e de recursos para a produção do filme forçou o roteiro a percorrer caminhos mais simples. Corroborando essa teoria, apenas os mortos recentes e bem preservados se erguem – não complicando demais o trabalho da maquiagem. Além disso, a trama se concentra em um pequeno grupo de sobreviventes resistindo em uma casa, trabalhando mais a tensão de pessoas normais numa situação inimaginável (de maneira muito eficiente, aliás) do que a exploração gore dos cadáveres ambulantes.

    Mais ambiciosa é a trama de A Volta dos Mortos-Vivos, situada dez anos depois do primeiro evento. A mesma região, o Meio-Oeste dos EUA, volta a sofrer com uma infestação dos desmortos canibais. Mais movimentada e pesada, a história acompanha famílias de caipiras, um perverso bando de saqueadores, além de heroicos, porém azarados, policiais. Aqui surgem elementos familiares, como perseguições e fugas desesperadas, o sentimento de desesperança diante da situação (o desapego a personagens é digno de George R. R. Martin) e a confirmação de que o verdadeiro problema são os vivos.

    Com um texto seco e direto, condizente com o conteúdo e com o belo trabalho gráfico característico da editora, A Noite dos Mortos-Vivos e A Volta dos Mortos-Vivos é um livro instigante, com pouco mais de 300 páginas de rápida leitura. Já que a moda, ou modinha, de zumbis parece longe de acabar, é uma boa pedida deixar de ser bazingueiro e conhecer a origem de tudo.

    Texto de autoria de Jackson Good.

    Compre aqui: Edição Limitada Encadernada

  • Resenha | A Menina Submersa – Caitlín R. Kiernan

    Resenha | A Menina Submersa – Caitlín R. Kiernan

    Indicada e premiada por obras de ficção científica e fantasia, a autora Caitlín R. Kiernan estreia no país com uma edição, lançada pela Darkside Books, de uma premiada obra vencedora do Bram Stoker Awards de 2013.

    Elogiada pelo estimado Neil Gaiman – um dos mais populares autores do gênero e nome que se destaca na capa brasileira –, a narrativa de A Menina Submersa se expande além do limite dos gêneros por meio do uso de uma linguagem não-usual. Trata-se de uma história que utiliza o registro pessoal de memórias como estilo. Um recurso que permite a parcialidade entrecortada e desvia-se de regras rígidas ditadas por estruturas convencionais da literatura. Ao mesmo tempo, o diálogo direto mantém a intimidade com o leitor, uma espécie de confidente destas memórias.

    A personagem central, India Morgan Phelps, conhecida como I. M. P., dialoga tanto com este leitor aleatório e imaginário quanto com a composição de seu próprio texto. Personagem/autora reconhecem a parcialidade da narrativa e sabem modificar os fios lineares da história para potencializar ganchos e revelações, apresentando-os em momentos oportunos. Dessa forma, elas dão voltas em si mesmas e na própria trama para revelá-la de maneira propositadamente emaranhada.

    Kiernan introduz em sua narrativa fantástica um recurso literário que revolucionou a narrativa no século XIX, fundamentado por grandes autores, como James Joyce, Virginia Woolf e, no Brasil, Clarice Lispector. O fluxo de consciência da personagem dá vazão à multiplicidade de pensamentos e se torna uma boa escolha estilística para apresentar a psiquê fragmentada de I.M.P.

    Se considerarmos que toda lembrança passa por uma natural releitura mental e, mesmo inconscientemente, é modificada ao relembrarmos, há um fio delicado entre o que se sabe de fato e o que se acredita saber. Conforme o leitor adentra as memórias da personagem, somos levados a acreditar que um elemento sobrenatural modificou a vida da garota.

    Porém, nem todas as pressuposições são, de fato, um reflexo fiel da verdade. A narrativa lida pelo leitor está sendo filtrada e manipulada por uma mulher adulta, solitária, tímida, e diante de uma doença psíquica grave, a esquizofrenia, capaz de injetar acontecimentos, cenas e fatos em contato com a realidade. Diante desta narradora, a veracidade dos fatos torna-se oscilante, e o leitor acompanha a desconstrução e reconstrução memorialísticas de I. M. P.

    O predomínio do fantástico e da fantasia se destaca como recurso que situa o drama interno da personagem. Um drama que reconhece o desvio da doença psicológica à procura da reconstrução real do passado e, consequentemente, da identidade. A experimentação híbrida entre elementos fantásticos e de fantasia, ao lado de um fluxo narrativo, intensifica ao leitor o mecanismo por trás de uma mente esquizofrênica, que considera natural e coerente a pluralidade simultânea de ações diante de um mesmo fato ou acontecimento.

    Mesmo situando-se como obra sobrenatural, vencedor de prêmios voltados à fantasia, a narrativa de Menina Submersa é uma desconstrução, de uma doença invisível, feita por uma personagem suscetível, inserida neste difícil paradoxo entre a realidade visível e o real, a partir da própria imaginação.

  • Resenha | Evil Dead:  A Morte do Demônio – Bill Warren

    Resenha | Evil Dead: A Morte do Demônio – Bill Warren

    Em 1981, chegava aos cinemas o cultuado A Morte do Demônio (The Evil Dead), dirigido pelo novato Sam Raimi, com a colaboração de Rob Tapert, produtor, e, claro, de Bruce Campbell, astro da série e co-produtor. Todos os amigos do trio se revezavam entre tarefas nos bastidores, elenco e pós-produção e contribuíram para a realização do longa-metragem, que, após todas as limitações, tornou-se um cult do gênero, conquistando seguidores ao redor do mundo.

    Décadas depois, mal sabiam os criadores da série que Evil Dead renderia duas sequências, um musical na Broadway, games, um remake, diversos sites dedicados a destrinchar todos os seus detalhes, e como não poderia deixar de ser, este livro. Escrito pelo crítico de cinema Bill Warren, conta com uma riqueza de documentos, detalhes de bastidores, entrevistas, fotografias e muito mais.

    O livro reúne em suas páginas detalhes de toda a trilogia original, contando ainda com dois capítulos extras dedicados especificamente ao musical da Broadway e ao remake de 2013, dirigido por Fede Alvarez (leia nossa crítica aqui). Contudo, o foco do livro é dedicado principalmente ao primeiro filme e a cada detalhe, da concepção do roteiro até a recepção do público e da crítica.

    Os capítulos iniciais são dedicados a figuras centrais na criação da série, Sam Raimi, Robert Tapert e Bruce Campbell, estabelecendo assim o elo de amizade, que existe até hoje, entre eles. Ademais, conhecemos um pouco do passado dos realizadores, suas experiências com cinema, como filmagens de aniversários, trabalhos de escola, pequenos curtas, e, por fim, o amadurecimento profissional de cada um.

    O longa-metragem Evil Dead é marcado por ser um grande filme cult do gênero e que revelou um grande diretor para o mundo. Mais que isso: conta a história de um grupo de jovens cheios de imaginação e talento, além, é claro, de insistência para o projeto ser concretizado. Essa perseverança já é marcada nos primeiros curtas, principalmente em Within the Woods, um filme de pouco mais de 30 minutos, com Bruce Campbell como protagonista se tornando um zumbi que passa a perseguir sua namorada. O curta de poucos recursos rendeu ótimas críticas a Raimi e sua trupe e preparou terreno para o que viria a se tornar Evil Dead.

    Outro ponto interessante da leitura são as influências que permearam a carreira de Raimi: muito longe de ser um aficionado pelo terror, o diretor sempre foi muito mais influenciado pela comédia (principalmente Os Três Patetas, que ele e Campbell adoravam) do que necessariamente por outros gêneros. Essa influência fica bem clara em Evil Dead. Contudo, após muitas conversas com Rob Tapert e o fracasso do curta It’s Murder, entendeu que o terror seria a melhor maneira de lhe abrir uma porta inicialmente, haja vista o baixo custo de produções como O Massacre da Serra Elétrica, de Tope HopperA Noite dos Mortos Vivos, de George Romero; O Aniversário Macabro, de Wes Craven; Halloween – A Noite do Terror, de John Carpenter, todos bem recebidos pelo público e de diretores em início de carreira.

    Dessa forma, Raimi passou a estudar o gênero e esses estudos encontram-se na sua série e em toda a sua filmografia. Um trabalho competentíssimo de resgate não só de filmes clássicos, como também de filmes b, trash’s e cult’s, denotando o compromisso e a paixão de Raimi pelo cinema. Outro ponto importante em toda a obra é a forma como ele encara sua técnica como cineasta, sempre buscando novas formas de filmar por meio de diferentes ângulos, equipamentos e outras tecnologias.

    O processo de criação de toda a série é minuciosamente detalhado pelo autor, desde a dificuldade em levantar o dinheiro da produção; as filmagens; a problemática montagem do filme, já que Raimi e seu perfeccionismo deixou Evil Dead com dezenas de horas de filmagem (Joel Coen e Edna Paul foram os responsáveis pela montagem do primeiro filme); todos os problemas de censura que o filme passou; como também a sua distribuição.

    O livro conta ainda com dezenas de imagens de bastidores, entrevistas, além de três capítulos finais com os comentários de Bruce Campbell sobre cada obra da série, uma espécie de versão comentada. Por isso, aconselho o leitor a rever os filmes acompanhado do livro, já que Campbell revela vários detalhes e segredos de como as cenas foram concebidas.

    Evil Dead – A Morte do Demônio, da editora Darkside Books, é um livro surpreendente não apenas para fãs da série e de filmes de terror trash, mas também para os fãs do cinema, e fundamental para entender um pouco a cabeça de um grande diretor. Admirável.

    Compre aqui: Edição Simples | Limited Edition.

  • Resenha | Black Sabbath: Destruição Desencadeada – Martin Popoff

    Resenha | Black Sabbath: Destruição Desencadeada – Martin Popoff

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    Considerado uma das grandes referências sobre o assunto, o canadense Martin Popoff tem no currículo mais de 40 livros sobre o heavy metal. Organizou listas de grandes álbuns, biografou a fundo diversas bandas, demonstrando um título merecido de biógrafo do rock.

    A Darkside Books, em uma oportuna hora, lançou a biografia Black Sabbath – Destruição Desencadeada, escrita originalmente em 2002, e lançada no país em outubro, mês em que uma das bandas mais influentes da história do rock realizou quatro incríveis shows – com sua formação original – nas terras tupiniquins.

    Como a banda de Tony Iommi, Ozzy Osbourne, Geeze Buttler e Bill Ward, a narrativa tem o peso que se tornou uma das maiores características sonoras do quarteto, uma sensação paquidérmica que faz o leitor imergir na história. A obra possui estrutura de uma biografia tradicional, partindo de um primeiro capítulo em que situa os elementos que convergiram para a união da banda e, a cada capítulo, analisa álbum a álbum e o sucesso e desventuras do Sabbath.

    O talento e o conhecimento ímpar de Popoff, que pesquisou a fundo a história da banda, além de realizar uma série de entrevistas com cada integrante, produzem uma narrativa com ritmo, pontuada entre a própria apresentação das histórias e citações diretas dos acontecimentos, pelos próprios músicos, técnicos, e empresários envolvidos. Dando vozes a diferentes personalidades em uma mesma linha narrativa tão imagética que impulsiona um documentário imaginário.

    Formada em 1968, o Sabbath modificou o estilo de rock´n roll da época, sendo pai do chamado heavy metal. Foi a união de quatro talentos excepcionais que produziram ano após ano discos que estiveram nas listas de mais vendidos tanto na Inglaterra, país natal, quanto nos Estados Unidos (entre outros países além destes dois polos). Uma banda que sempre esteve ativa e com diversas formações, ainda que as mais conhecidas sejam a de Osbourne e Ronnie James Dio nos vocais.

    Popoff acompanha cada álbum com uma crítica afiada, situando como a banda, os empresários e o ânimo geral estavam em cada lançamento. As observações sobre as faixas de cada disco são inspiradas, trazem um conhecimento profundo do assunto com um toque poético de um apaixonado pela música. Resultando em um panorama volumoso sobre a banda, não poupando seus momentos mais baixos e as diversas vezes em que, mesmo com incredulidade, ela conseguiu se reerguer.

    A edição da Darkside mantém a qualidade diferenciada de seus lançamentos, com um acabamento em capa dura, diversas fotografias no final da edição, além de páginas especiais em roxo. Se há uma crítica a ser feita, deve-se à diagramação em duas colunas na maioria das páginas do livro, com letras um pouco miúdas, mas que são compreensíveis devido ao tamanho da obra.

    A biografia original termina na reunião da banda em 1998 que originou o cd duplo Reunion. A edição brasileira ganha um posfácio extra escrito por um dos dois tradutores da obra, Antonio Tibau; apoiando-se no estilo de Popoff, articulando entrevistas, análises do autor original e comentários próprios para apresentar a história após a história. Neste posfácio, Tibau também explana sobre um disco ao vivo, e depois outro de inéditas feito com Dio, na época em que a banda assinava como Heaven & Hell, e o retorno – quase completo – da formação original que resultou no álbum 13. Fechando em definitivo a história da banda e fazendo desta biografia uma bíblia que narra a história sabbáthica desde sua gênese até o apocalipse entre diversas ressurreições com riffs incríveis de Tony Iommi.

    A edição, além das fotografias citadas, traz a lista de todos os álbuns oficiais da banda e a equipe envolvida no processo, além de um prefácio do sepultura Andreas Kisser. Uma biografia musical à altura da banda que a inspirou e que pode ser ainda melhor saboreada se cada capítulo for acompanhado de seu álbum específico, compreendendo as nuances levantadas pela aguda observação do biógrafo a respeito do talento destes incríveis gigantes do metal.

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