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  • Review | Ash Vs Evil Dead – 3ª Temporada

    Review | Ash Vs Evil Dead – 3ª Temporada

    Terceira e aparentemente última temporada de Ash Vs Evil Dead começa mostrando Ash (Bruce Campbell) e Pablo (Ray Santiago) trabalhando em uma loja de quinquilharias do primeiro personagem, que alem de comandar o comercio, ainda protagoniza estranhos comerciais da mesma. A série volta quase dois anos após a segunda temporada, terminada em dezembro de 2016, e continua muito bem toda a galhofa que mistura terror, comédia e drama que já eram comuns a A Morte do Demônio, EUma Noite Alucinante 2 e Uma Noite Alucinante 3.

    Antes até de anunciar os créditos iniciais, uma das versões de Ruby (Lucy Lawless) aparece socando o rosto de um sujeito comum, a fim de pegar o livro Necronomicon de suas mãos, esfarelando o rosto do sujeito e encharcando a tela com o sangue que dali sai. Infelizmente a personagem que normalmente fazia muita diferença na primeira e segunda temporada, aqui está um pouco apagada, tendo poucos momentos realmente épicos. Essa temporada começa após os personagens voltarem no tempo, até a cabana onde ocorreram os fatos do primeiro filme. A partir dali mostra-se Ash virando um herói  adorado por todos, ao invés da figura de ódio que ele sempre foi.

    Há cenas memoráveis, como a revolta de uma mulher que é “homenageada” por Ash, em um revista pornográfica quando o mesmo tentar doar esperma. O mal se manifesta a fim de impedir essa doação, uma vez que caso tivesse filhos, seria inconveniente para a criatura maligna, e faz a mão da moça que posou sair da revista enquanto o protagonista está se aliviando. A cena seguinte é uma briga em meio ao laboratório, com direito a efeitos de congelamento de materiais anti incêndio.

    A cidade de Elk Grove é bem diferente do que se via antes, não só em relação ao heroísmo de Ash, mas também a incidência de ataques do Mal. Quando voltam a acontecer esses rompantes, normalmente é Kelly (Dana DeLorenzo ) quem segura a barra, ainda que sua presença também seja discutível quanto a sua filiação, uma vez que não se define completamente se ela está do lado dos mocinhos ou da coisa maligna.

    O seriado continua com cenas asquerosas — no melhor sentido do termo —, e a diversão também extrapola os limites do “politicamente correto”. A quantidade de lutas que envolvem dilacerações, amputamento de membros e decapitações é praticamente incontável, há pelo menos uma por episódio e o desrespeito com as regras físicas e espirituais é enorme, tudo em nome do nonsense. Toda essa extrapolação só funciona obviamente graças a presença canastrona e carismática de Campbell,

    Para variar o ano termina com mais uma versão do apocalipse, dessa vez apelando para um visual que lembra demais o que está na literatura de H. G. Wells, em especial Guerra dos Mundos, com monstros gigantes que parecem vindos de outro mundo. Ash deixa seus amigos distantes, junto com sua filha Brandy Barr (Arielle Carver-O’Neill), para tentar enfrentar essa nova versão do mal sozinho.

    Ash Vs Evil continua divertida como sempre, e repleta de fan service para quem gosta de cinema trash e também de uma diversão descompromissada com sub textos. O fato de Ash ser o escolhido para lidar com o maior mal que o planeta já viu é no mínimo intrigante, visto as falhas enormes de caráter que o mesmo tem, além é claro de sua infantilidade tradicional. Alem disso, o protagonista é um sujeito falho e extremamente humano, fato que conversa demais com o público alvo, em especial com os de meia idade, que como Ash, tendem a aceitar melhor seus próprios defeitos sem receio de serem tachados de estagnados ou resignados, tendo então empatia natural por  aqueles que abraçam seu destino, independente do quão trágicos e tortuosos possam ser esses caminhos, e claro, o vislumbre do que viria numa quarta temporada, em um futuro pós apocalíptico e arenoso como em Mad Max cria obviamente uma expectativa enorme em cima do que poderia vir antes do cancelamento precoce, restando apenas a esperança de que algum outro serviço (de streaming ou outro canal) salvem a série de um destino sem desfecho.

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  • Crítica | Uma Noite Alucinante III

    Crítica | Uma Noite Alucinante III

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    Em 1992, após muita insistência dos produtores – em especial Dino DeLaurentisSam Raimi retornaria a franquia Evil Dead, em Uma Noite Alucinante 3, iniciando seu longa de modo diferenciado, primeiro com uma narração ainda mais elucidativa do que a executada e Uma Noite Alucinante 2, o que já ajuda a montar o quadro de um produto mais palatável ao grande público, fazendo deste capítulo o mais familiar dos filmes da saga.

    Ash (Bruce Campbell) volta no tempo, caindo do céu em meio a época dos templários, sendo mal compreendido pelos cavaleiros de armadura que o acham e o levam como cativo. A inteligência superior e conhecimento que tem do presente – na tela, futuro – o faz subir degraus facilmente, se elevando a um patamar de nobre, após vencer criaturas monstruosas, passando pelas circunstâncias contrarias que lhe são impostas, revelando um comportamento dúbio de sua parte, longe da honradez mostrada nos episódios anteriores.

    A transformação em anti herói se dá automaticamente, aludindo a mudança de caráter graças a situação limite e desesperança pela qual passa Ashley. Não preocupação de sua parte sequer em economizar cartuchos de bala para sua escopeta. A preparação para o campo de batalha emula o filme dois, na construção de armas para seu manuseio do (agora desde o início do filme) protagonista maneta.

    O ideal do personagem está bem diferente, passado o luto pela perda de Linda, finalmente ele segue em frente, encontrando sossego nos braços de Sheila (Embeth Davidtz). A jornada rumo a versão do Necromicon da época o faz ter um embate novamente com a estranha criatura que segue perseguindo-o na floresta. No entanto, nem esta aparição faz retornar o tom mais sério, já que Uma Noite Alucinante III é de fato o episódio mais jocoso e parodial da cinessérie.

    Raimi dá espaço para seu astro brilhar, em cenas de embate terrivelmente construídas com cenas em CGI vagabundas ao extremo, fazendo lembrar o orçamento irrisório dos seriados mexicanos do Chapolin Colorado. O combate com suas contra partes diminutas sequer tem encaixe físico, e constituem mas uma das loucas encarnações pensadas pela dupla de amigos Campbell e Raimi para representar a dupla personalidade do personagem, fator que piora a evolução da dualidade de caráter do personagem, já citada no segundo filme aqui evoluída a questão de Evil Ash.

    A transição de filme de horror para aventura escapista de capa e espada talvez faça estranhar quem somente assistiu a Uma Noite Alucinante: A Morte do Demônio, especialmente nas drásticas mudanças de personalidade e reações de Ashley. Claramente seu personagem deixou de ser um mocinho genérico dos filmes de horror B para se tornar algo muito maior, uma figura de desdém ao herói clássico, que deturpa o arquétipo do paladino, fazendo dele uma piada enorme.

    Noite Alucinante 3 reverencia filmes clássicos e recentes nos anos noventa, desde As Viagens de Gulliver até Highlander, tanto no visual quanto nas situações mostradas em tela. De certa forma, a preguiça que acometeu Sam e Ivan Raimi em seu roteiro serviu para aludir a paralelos mais recentes, renovando sua temática. A batalha final com a contra parte maligna é digna de risos em praticamente todas as consequências, desde o embate em si, envolvendo dezenas de figurantes e cenários, até a luta corpo a corpo do personagem principal e sua versão putrefata, que se decompõe cada vez mais durante o certame. A maquiagem de Greg Nicotero faz jus aos seus momentos áureos, e consegue elevar a galhofa ao nível máximo, amarrada muito bem ao desfecho da história, que mostra um futuro apocalíptico terrível na versão estendida e o retorno do protagonista aos dias atuais, fator que daria lastro para o seriado vindouro Ash vs Evil Dead, além claro de marcar época como umas das mais criativas tentativas de misturar humor e horror no cinema moderno.

  • Crítica | Uma Noite Alucinante II

    Crítica | Uma Noite Alucinante II

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    Lançado quatro anos após Uma Noite Alucinante: A Morte do Demônio, a continuação também conduzida por Sam Raimi tem um aviso para a plateia de que as cenas mostradas a seguir talvez sejam ofensivas para alguns. Os primeiros minutos fazem uma introdução do que seria o Necromicon, chamado também de O Livro do Mortos, em uma tradução aproximada. O caráter deste Uma Noite Alucinante 2 já se mostra diferente na maneira de filmar uma vez que a fotografia, figurino e ambientação parecem muito mais clean do que a rusticidade do filme original, o que faz perguntar qual seria a real intenção de seu realizador.

    Há muitas coincidências fatuais entre a história deste e do outro filme, a começar pelo protagonismo de Ash (Bruce Campbell), pela viagem que faz com sua amada Linda (dessa vez interpretada por Denise Bixler), até a ida a mesma cabana do outro capítulo, agora chamada de Knowby. Não há menção a desventura anterior, mas não fica exatamente claro se ocorreram ou não os fatos, uma vez que o primeiro contato de Ashley com as criatura maligna se dá em uma cena que parece misturar realidade com fantasia.

    Há um cuidado em explicitar o que antes era um mistério. A tal gravação que acompanhava o livro agora ganha um narrador de nome de Raymond Knowby (John Peaks), que teria encontrado o tal Morturum Demonton em uma ruína antiga, chamada de Castelo de Candar. A trama se bifurca, entre os momentos da origem desse artefato e os da interação do casal na cabana. Tudo que envolve a reaparição de Linda após ser decapitada tem um uma abordagem assumidamente trash e jocosa, sendo esta a maior mudança na postura da abordagem de Raimi. Toda essa ideia serve muito bem ao desígnio de mostrar a confusão mental pela qual passa o herói, em um momento de extrema crise, existencial.

    A divisão das intenções de Ashley se dão através de cenas hilárias, em que ele começa a lutar consigo mesmo, tentando resistir a dominação que foi imposta aos outros personagens e que finalmente chegou a si. A mão putrefata que lhe inflige dor e agonia faz com que se desperte toda a genial canastrice de Campbell, uma vez que seu personagem precisa demonstrar uma duplicidade espiritual clara.

    O show de horrores ocorrido através do banho de sangue e sujeira com Ash é interrompido pela chegada de Annie (Sarah Berry) a herdeira da casa e filha do doutor, Jake (Dan Hicks), Bobby Joe (Kassie Wesley) e Ed (Richard Domeier), que iriam ao encontro do falecido e desalmado arqueólogo. Os eventos clássicos passam a se repetir, incluindo a cena de violência sexual. O personagem principal é tomado pela coisa, o que prova que nem mesmo ele está imune aos poderes do opositor, sensação maximizada pela entrada e saída dos transes que tem.

    Toda a seriedade que habitava os primeiros momentos do filme é deixada de lado passada uma hora, durante a preparação para enfrentar as bestas incorporadas. Como em Evil Dead, este número dois também serve de inspiração para outros tantos produtos do sub gênero terror, que imitam tanto o uso de criaturas animatrônicas, quanto o uso indiscriminado de armas improvisadas como suplemento corporal, com serras elétricas dando lugar a membros efetivos, fato que seria mencionado no filme Planeta Terror de Robert Rodriguez décadas depois.

    A condução do filme é interessante, por conseguir reunir toda a bagunça que é mistura de elementos nos instantes finais reunindo o pós apocalíptico ao estilo Mad Max com viagem no tempo a era do medievo, desafiando os limites narrativos que um filme de terror pode se permitir. Uma Noite Alucinante 2 perde um pouco em qualidade ao seu original, e é claramente um arremedo de ideias inspiradas no primeiro volume, mas é ainda é caro graças a entrega total de Cambell, que conquista o publico mesmo em suas limitações dramatúrgicas, fazendo de seu carisma a liga que mantém unidos todos os elementos dissonantes do confuso e jocoso argumento.

  • Crítica | Uma Noite Alucinante: A Morte do Demônio

    Crítica | Uma Noite Alucinante: A Morte do Demônio

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    A história de terror presente em Uma Noite Alucinante: A Morte do Demônio (ou Evil Dead: A Morte do Demônio) é bem comum, sem muitos floreios ou invencionices. O roteiro de Sam Raimi é um aspecto secundário, que dá vazão para a inventividade visual de seu realizador, que teria na construção de tensão, clima no manejo da câmera um diferencial não só em relação ao gênero de horror como para todo o cinema contemporâneo.

    Evil Dead não é o primeiro longa-metragem de Sam Raimi, antes dele veio It’s Murder, também com colaboração de seu astro e amigo Bruce Campbell, e onde o cineasta já pôde experimentar alguns dos maneirismos empregados no clássico de 1981. A história mostra um quinteto de moços e moças, que vão até uma cabana na floresta. Como é esperado, os hormônios afloram e o tempo inteiro eles deixam suas imaginações fluírem em torno da sexualidade que lhes era reprimida na cidade grande, além de desfrutar de uma imensa curiosidade pelo desconhecido, que se manifesta através de um livro que se encontra no porão da casa, chamado Necromicon.

    Mesmo antes de liberar qualquer mal, o filme já usa de closes rápidos típicos dos clássicos de Mario Bava e Lucio Fulci para estabelecer a relação entre Ash (Campbell) e sua amada Linda (Betsy Baker), ao focar nos olhos dele e dela ao tentar descobrir o que está dentro da pequena caixinha de joias que o protagonista carrega. O filme ainda guarda em seu início, passados pouco mais de um terço de filme, uma cena violenta e aterrorizadora para o espectador feminino, usando Cheryl (Ellen Sandweiss) como espécime básico do clichê ‘mulher solteira procura’, sendo ela perseguida pelo monstro que habita a câmera, nos moldes de uma escola de terror tipicamente americana, vista em Tubarão e Halloween: A Noite do Terror, e usada dessa vez para denunciar os maus tratos a mulher, normalmente ignorados por uma grande parcela do público.

    O infortúnio de Ash e dos seus se manifesta a partir de eventos inesperados, começando pela localidade da cabana, envolvendo depois as gravações do arqueólogo que era o antigo dono do casebre em que habitam. Apesar do caráter barato da produção, as cenas mais violentas são bem executadas, e os temas discutidos fazem paralelos fortes com a proibição e punição a quem desfruta das formas de prazer inerentes ao desabrochar da líbido, tomando prioritariamente os pares dos meninos, tornando o belo sexo no motivo de tormento dos homens, aludindo a misoginia que se vê em muitos dos contos bíblicos.

    A possessão dá vazão a elementos gore diversos, desde a putrefação instantânea da bela pele dos jovens personagens, até o canibalismo como forma de sobrevivência dos contaminados. Uma vez tomados, as vítimas passam a atacar os que não foram tomados pelo mal, obrigando mesmo esses a cometerem o pecado do homicídio, ainda que a culpa destes atos seja plenamente discutível, vista principalmente no receio de Ash em executar Shelly (Theresa Tilly), e na certeza de Scott (Richard Demanincor) na hora de mutilar seu antigo par, percebendo que se não fizesse isso, seria ele a perecer.

    Ashley é o típico menino covarde, que se auto engana através da aparência rude que ostenta, unida ao amor que tem por sua namorada e por sua irmã Cherryl, sendo torturado e aterrorizado pelas criaturas espirituais que as dominam. Analisando friamente todo a problemática envolvendo os cinco, fica a dúvida se os dominados pelo demônio não teriam forças suficientes para se libertar das amarras que improvisadas que lhe eram impostas e portanto estavam tentando convencer o herói a se reunir com eles ou se eles realmente tem seu poderes limitados pela humanidade não deturpada.

    A ambiguidade habita o longa e o torna ainda mais assustador. A versão estendida do filme possui apenas 85 minutos, mas exibida em condições cinematográficas, aparenta ter uma duração muito maior, dado o desespero causado no espectador. A técnica em stop motion serve muito bem ao filme, exceto em uma das cenas finais onde o mal finalmente sucumbe e se deteriora. O artifício acaba servindo, não intencionalmente, para relembrar ao público que a história se trata de um ficção e que os agouros ali não são reais.

    A tranquilidade aparente que acompanha a manhã é falsa e faz enganar o pobre Ash, que termina a tal Noite Alucinante sozinho, desamparado e aliviado por muito pouco tempo, sentimento este que não dura sequer até o início dos créditos. A rusticidade e criatividade de Raimi a frente desse filme serviria como marco para um cinema independente de horror, possibilitando a uma nova geração de filmmakers seguirem os passos de Wes Craven, Tobe Hooper, John Carpenter e afins, unindo elementos do mainstream com o cinema B tradicionalmente rústico, ajudando este filão a sair do gueto e se popularizar entre outras plateias cinéfilas.

  • Resenha | Evil Dead:  A Morte do Demônio – Bill Warren

    Resenha | Evil Dead: A Morte do Demônio – Bill Warren

    Em 1981, chegava aos cinemas o cultuado A Morte do Demônio (The Evil Dead), dirigido pelo novato Sam Raimi, com a colaboração de Rob Tapert, produtor, e, claro, de Bruce Campbell, astro da série e co-produtor. Todos os amigos do trio se revezavam entre tarefas nos bastidores, elenco e pós-produção e contribuíram para a realização do longa-metragem, que, após todas as limitações, tornou-se um cult do gênero, conquistando seguidores ao redor do mundo.

    Décadas depois, mal sabiam os criadores da série que Evil Dead renderia duas sequências, um musical na Broadway, games, um remake, diversos sites dedicados a destrinchar todos os seus detalhes, e como não poderia deixar de ser, este livro. Escrito pelo crítico de cinema Bill Warren, conta com uma riqueza de documentos, detalhes de bastidores, entrevistas, fotografias e muito mais.

    O livro reúne em suas páginas detalhes de toda a trilogia original, contando ainda com dois capítulos extras dedicados especificamente ao musical da Broadway e ao remake de 2013, dirigido por Fede Alvarez (leia nossa crítica aqui). Contudo, o foco do livro é dedicado principalmente ao primeiro filme e a cada detalhe, da concepção do roteiro até a recepção do público e da crítica.

    Os capítulos iniciais são dedicados a figuras centrais na criação da série, Sam Raimi, Robert Tapert e Bruce Campbell, estabelecendo assim o elo de amizade, que existe até hoje, entre eles. Ademais, conhecemos um pouco do passado dos realizadores, suas experiências com cinema, como filmagens de aniversários, trabalhos de escola, pequenos curtas, e, por fim, o amadurecimento profissional de cada um.

    O longa-metragem Evil Dead é marcado por ser um grande filme cult do gênero e que revelou um grande diretor para o mundo. Mais que isso: conta a história de um grupo de jovens cheios de imaginação e talento, além, é claro, de insistência para o projeto ser concretizado. Essa perseverança já é marcada nos primeiros curtas, principalmente em Within the Woods, um filme de pouco mais de 30 minutos, com Bruce Campbell como protagonista se tornando um zumbi que passa a perseguir sua namorada. O curta de poucos recursos rendeu ótimas críticas a Raimi e sua trupe e preparou terreno para o que viria a se tornar Evil Dead.

    Outro ponto interessante da leitura são as influências que permearam a carreira de Raimi: muito longe de ser um aficionado pelo terror, o diretor sempre foi muito mais influenciado pela comédia (principalmente Os Três Patetas, que ele e Campbell adoravam) do que necessariamente por outros gêneros. Essa influência fica bem clara em Evil Dead. Contudo, após muitas conversas com Rob Tapert e o fracasso do curta It’s Murder, entendeu que o terror seria a melhor maneira de lhe abrir uma porta inicialmente, haja vista o baixo custo de produções como O Massacre da Serra Elétrica, de Tope HopperA Noite dos Mortos Vivos, de George Romero; O Aniversário Macabro, de Wes Craven; Halloween – A Noite do Terror, de John Carpenter, todos bem recebidos pelo público e de diretores em início de carreira.

    Dessa forma, Raimi passou a estudar o gênero e esses estudos encontram-se na sua série e em toda a sua filmografia. Um trabalho competentíssimo de resgate não só de filmes clássicos, como também de filmes b, trash’s e cult’s, denotando o compromisso e a paixão de Raimi pelo cinema. Outro ponto importante em toda a obra é a forma como ele encara sua técnica como cineasta, sempre buscando novas formas de filmar por meio de diferentes ângulos, equipamentos e outras tecnologias.

    O processo de criação de toda a série é minuciosamente detalhado pelo autor, desde a dificuldade em levantar o dinheiro da produção; as filmagens; a problemática montagem do filme, já que Raimi e seu perfeccionismo deixou Evil Dead com dezenas de horas de filmagem (Joel Coen e Edna Paul foram os responsáveis pela montagem do primeiro filme); todos os problemas de censura que o filme passou; como também a sua distribuição.

    O livro conta ainda com dezenas de imagens de bastidores, entrevistas, além de três capítulos finais com os comentários de Bruce Campbell sobre cada obra da série, uma espécie de versão comentada. Por isso, aconselho o leitor a rever os filmes acompanhado do livro, já que Campbell revela vários detalhes e segredos de como as cenas foram concebidas.

    Evil Dead – A Morte do Demônio, da editora Darkside Books, é um livro surpreendente não apenas para fãs da série e de filmes de terror trash, mas também para os fãs do cinema, e fundamental para entender um pouco a cabeça de um grande diretor. Admirável.

    Compre aqui: Edição Simples | Limited Edition.

  • Crítica | A Morte do Demônio

    Crítica | A Morte do Demônio

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    Remakes podem ter diversas motivações para serem feitos: quando um filme europeu ou latino-americano faz um sucesso inesperado e Hollywood aproveita para vender a ideia ao público americano que não vê filmes com legendas, porque um diretor quer revisitar sua própria obra ou porque parece rentável atualizar um clássico de outras épocas e vende-lo para novas gerações. A Morte do Demônio é sem dúvida o último caso: o filme que lançou Sam Raimi não foi exatamente refeito, mas relido, adaptado ao paladar de uma geração acostumada a zumbis realistas e computação gráfica.

    A história sofreu algumas alterações: agora o filme se centra em Mia, uma jovem que decide largar as drogas e para isso convoca seu irmão e melhores amigos para se internar em uma cabana enquanto ela passa pela abstinência. A tentativa de tornar os personagens mais profundos, mais dramáticos, faz com que o filme comece clichê, mas é um acerto de Fede Alvarez (o estreante que dirige o filme, produzido pelo próprio Raimi) manter essa história apenas como pano de fundo e usa-la quando convém para amarrar a trama dos demônios.

    O que se segue é a mesma coisa: os jovens encontram um livro encapado em pele no porão, sem querer liberam os demônios que habitam a floresta e durante 40 minutos os sobreviventes lutam por suas vidas. A Morte do Demônio sem dúvidas começa fraco, uma explicação desnecessária para os demônios na floresta, a menina viciada, o drama entre ela e o irmão, as atuações ruins, tudo isso soa como Stigmata, Na Companhia do Medo, ou qualquer filme de terror supostamente profundo e sem graça, mas quando o sangue começa a jorrar na tela, Alvarez se encontra.

    Se havia algo de genuinamente perturbador na artificialidade do primeiro filme, aqui, ao menos em um primeiro momento, o terror vem por meio do realismo. As feridas e o sangue são realistas suficiente para que o espectador se incomode, a dor dos personagens causa uma reação real e por vezes a sala toda interage em expressões de nojo e aflição. Funciona, incomoda, mas falta charme, ironia, aquilo que tornou tão emblemático o original.

    Mas a violência escala rapidamente e o que era realista vai se tornando absurdo. Os personagens decepam os próprios membros sem qualquer apego e em jatos de sangue dignos de Tarantino, o filme assume definitivamente sua veia trash e demonstra porque é um remake que funciona.

    A Morte do Demônio não é fiel ao original, mas o tem sempre em mente: há pequenas referências divertidas, como um moletom da Michigan University, a personagem que desenha e mesmo a forma do colar que o irmão de Mia dá de presente a ela. E se por um lado existem alterações de roteiro, por outro Alvarez chega até a repetir planos de Raimi e toda sua decupagem é uma homenagem ao cineasta. A consciência que o diretor tem de seu trabalho e do objetivo de seu filme também ajudam.

    Alvarez sabe que precisa vender, sabe que o que está fazendo é tentar atrair uma audiência fascinada com The Walking Dead para os filmes de terror e quem sabe dar novo fôlego comercial ao gênero e ironiza suas próprias saídas fáceis. Ele dá uma trilha sonora brega e planos com cara de anos 80 a cena mais emocionalmente dramática do filme, faz sua protagonista arrancar o braço de baixo de um carro como se fosse borracha e termina tudo com uma chuva (literalmente) de sangue. É nojento, irreal e sim, ruim, mas é exatamente isso que se espera de A Morte do Demônio e funciona.

    No fim, o remake não é inventivo, ou original como o filme de Sam Raimi, mas não o perde de vista, honra sua memória e assume com dignidade o trabalho de atualiza-l0 e devolve-lo a vida. Cumpre sua função de incomodar, entrega a quantidade de sangue esperada e, mesmo sem a ironia fina do primeiro, diverte.

    Texto de autoria de Isadora Sinay.

  • Crítica | Arraste-me para o Inferno

    Crítica | Arraste-me para o Inferno

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    Sam Raimi é um desses diretores que alçou o seu lugar na indústria pela criatividade empreendida em seus trabalhos, isso está explícito em sua série que o tornou visível para a Hollywood. Evil Dead ou Uma noite Alucinante, como ficou conhecida por aqui, era uma filme de terror que mesclava efeitos especiais paupérrimos, com um roteiro de terror simples mas extremamente funcional, tudo isso somado a doses de humor que beiravam o ridículo, e assim tornou-se um dos grandes nomes do chamado cinema “Terrir”.

    Com o tempo, Raimi abandonou o seu cultuado Evil Dead e foi se aproximando cada vez mais a um cinema hollywoodiano sem deixar sua veia autoral de lado, mas abandonando um pouco o gênero que o havia sido consagrado, porém, em 2009 ele retorna com Arraste-me Para o Inferno, um retorno ao passado em grande estilo.

    A história do filme é focada em Christine Brown (Alison Lohman), uma jovem simpática que trabalha em uma instituição financeira que com o tempo se vê obrigada a mudar o rumo de sua vida e se tornar uma pessoa mais ambiciosa, após seu chefe colocá-la em uma competição direta com seu colega de trabalho para uma oportunidade de promoção em seu emprego. Após ser pressionada pelo seu chefe de não conseguir tomar decisões difíceis, Christine nega um crédito para uma senhora idosa, e com isso faz com que ela perca seu imóvel.

    O que Christine não sabia era que essa senhora na realidade era uma feiticeira cigana, e que após se humilhar e ter seu crédito negado, um feitiço é preparado para a jovem. A maldição da Lâmia, que consiste em três dias de tormentos e ao fim desse terceiro dia, ela seria arrastada para o Inferno de onde não sairia mais.

    Raimi acerta em cheio, ao utilizar um tema que está tão em voga nos dias atuais como uma metáfora em seu filme. O capitalismo desenfreado, o desapego ao próximo e a crise econômica que tem assolado o mundo são colocados nas entrelinhas do longa, acrescentando um ponto para reflexão, que os mais atentos não deixarão passar despercebido. E tudo isso fica claro quando o banco em que a protagonista trabalha nega o crédito para a senhora, tomando seu imóvel e em decorrência disso, sua vida. O desespero da cigana em perder sua casa é o mesmo de Christine em lutar pela sua vida, custe o que custar.

    O trabalho de direção de Raimi é impecável, usando planos originais e com precisão, com um destaque para a cena entre o duelo entre dois carros, além de tantas outras tomadas que utilizam do clima sombrio na medida exata, e esse é o grande mérito do diretor, saber que o terror está em criar o clima proporcionando uma tensão que acarretará no susto, e não abusando de efeitos especiais e cenas de violência desmedidas.

    O elenco funciona muito bem, principalmente com sua protagonista, Alison, que funciona perfeitamente como a típica heroína de filmes de terror, porém, com personalidade, repleta de ambições e frustraçoes, defeitos e qualidades, enfim, uma personagem de verdade, não os estereótipos das atrizes de terror. O filme ainda arruma espaço de destaque para os coadjuvantes, entre eles, Justin Long, que interpreta o namorado de Christine, tendo uma boa química com o personagem. Lorna Raver interpreta a Sra. Ganush, a cigana/bruxa que faz o papel da antagonista da história, simplesmente medonha.

    Arraste-me para o Inferno prova para àqueles que não acreditavam que Sam Raimi teria a mesma vitalidade de antes e vem como um dos principais filmes de terror de 2009, não deixando de lado sua mescla de cenas assustadores e beirando ao gore, para logo depois dar uma aliviada com algo engraçado. Que Sam Raimi nos surpreenda dessa forma sempre.