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  • Crítica | Homem-Aranha 3

    Crítica | Homem-Aranha 3

    Homem-Aranha 3 fecha a trilogia de Sam Raimi sobre o herói tangível e cheio de defeitos criado por Steve Ditko e Stan Lee, mas não sem trazer consigo uma infinidade de reclamações sobre os rumos que a franquia tomou. Na trama, Peter Parker (Tobey Maguire) tem de enfrentar uma crise na relação com Mary Jane (Kirsten Dunst), além de três vilões diferentes.

    No início do filme há uma clara diferença desse para Homem-Aranha 2, o recapitular das aventuras anteriores se dá com arte de Alex Ross e aqui estão apenas as cenas conduzidas por Raimi, sem qualquer tratamento de imagem, como um resumo de capítulos anteriores de uma série barata, o cuidado com a cinessérie mudou e, além disso, se nota uma diferença no tema orquestrado, com tons e acordes diferentes, já que Danny Elfman dá lugar a  Christopher Young na trilha sonora. Esse tom obscuro deveria passar para a abordagem da personalidade de Peter, mas isso não ocorre, necessariamente.

     

    Homem-Aranha 3 é muitas vezes injustamente  criticado, no entanto, uma reclamação justa é o comportamento que o personagem de Maguire tem no início do filme, antes mesmo de ter contato com o “alienígena” que daria origem a Venom. Ele é impulsivo, se deslumbra com a aceitação que o povo lhe confere finalmente, após dois filmes com histórias conturbadas, e age de maneira brutalmente insensível, em especial com MJ. A vida pessoal de Peter finalmente se ajeita, ele está feliz, tanto como Aranha quanto Peter Parker, mas como se trata de um personagem trágico (aos menos aos olhos do diretor), não há como seguir assim por tanto tempo.

    Raimi é um cineasta muito fiel às suas raízes, mesmo quando faz obras mais voltadas para o público mainstream. Desse modo, é natural que existam cenas que remetam ao cinema de horror. E aqui a manifestação se dá no entorno do Homem Areia, tanto na transformação que Flint Marko (Thomas Haden Church) sofre, quanto nos momentos finais. Além de ter um visual arrebatador em ambos momentos, há significados que remetem aos monstros clássicos, em especial na sua gênese. Marko tem características da criatura de Frankenstein de Boris Karloff, e certamente essa referência seria melhor encaixada caso o roteiro fosse mais sólido, pois o evento que transforma o personagem é completamente avulso à trama, sem repercussão antes ou depois do ocorrido.

    As tramas secundárias também variam de qualidade. James Franco está bastante canastrão, não consegue dar camadas ao seu personagem, sua motivação não faz sentido por não ter tempo de tela, sem falar que expõe um dos defeitos do filme, os efeitos visuais primários. Dunst está muito bem, consegue trabalhar bem com o que é lhe dado, mesmo sendo pouco. Já a introdução dos personagens novos, como Gwen (Bryce Dallas Howard), Eddie Brock (Topher Grace) e o Capitão Stacy (James Cromwell) é gratuita ao extremo. Não há desenvolvimento mínimo de nenhum deles, e até os coadjuvantes do Clarim Diário parecem mais sólidos e profundos que o trio, fato que gera até incongruências, já que o J.J. Jameson de J.K. Simmons não sabe quem é Brock, mesmo com uma citação a ele em Homem-Aranha. O personagem é tão irrelevante para Raimi que a direção deliberadamente não o leva a sério.

    Entre as reclamações mais comuns ao filme está a personalidade de Peter modificada pelo simbionte, que muitos atribuíam ao comportamento dos fãs de emocore. Ora, na época, os meninos comuns que usavam esse visual diferia de Peter. Eram introspectivos, gostavam de parecer sombrios, já Parker é o oposto disso, espalhafatoso, inconsequente e age até como um bully em alguns momentos, com uma personalidade tão baixa quanto a do seu nêmese escolar Flash Thompson. Ele claramente não era Emo, só pegou emprestado desse estilo o cabelo e a maquiagem um pouco mais forte, comparar o Andrew Garfield em O Espetacular Homem-Aranha com o estereótipo do hipster até faz algum sentido, mas o Peter de Tobey de emo tinha apenas o visual.

    Parker parece governado unicamente pelo id (parte da mente que quer gratificação imediata de todos os seus desejos e necessidades, segundo o conceito freudiano), e dito assim, esses momentos não parecem tão erráticos, especialmente a cena “musical”, já que é o símbolo maior da breguice que Raimi sempre impôs a sua versão do Cabeça de Teia.

    A reunião dos antagonistas não tem nenhuma força, é um pretexto pobre que está lá para justificar uma ação entre amigos com Harry e Peter juntando as forças, que só não é mais vergonhosa do que o momento de retorno do uniforme clássico, ao lado de uma bandeira dos EUA tremulando, que faz automaticamente o povo esquecer dos maus atos do Aranha. Além dessas questões, boa parte da imaturidade de Peter também não cabe, já que ele aprendeu ou deveria ter aprendido com seus erros do passado, e justificar esses atos pelo simbionte também não faz sentido, visto que sua personalidade já havia se transformado antes mesmo dele utiliza-lo.

    Raimi saiu reclamando de interferência dos estúdios, seu desejo seria explorar personagens como o Abutre e a Gata Negra, mas por influência de Avi Arad, teve que fazer o filme com Venom. Desse modo,  Homem-Aranha 4 previsto para 2011 foi abortado, assim como uma segunda trilogia. Ainda assim Homem-Aranha 3 parece mais com o ideal de Ditko e Lee, por ser senhor de sua própria história e seguir dando camadas trágicas, mas humanas ao personagem. Peter segue falho, tolo, mas capaz de se sacrificar e tentar evoluir, mesmo que a mão invisível do roteiro o faça agir como alguém que não digeriu bem seus problemas.

  • Os 10 Grandes Beijos do Cinema

    Os 10 Grandes Beijos do Cinema

    Segundo o antropólogo inglês Desmond Morris, foi o costume materno de se mastigar a alimentação antes de passar à boca da prole, em tempos mais ancestrais, que provavelmente derivou o hábito do que, no Brasil, é nome até de doce. Nada romântico, não é mesmo? Mas todo mundo lembra quando foi seu primeiro beijo, talvez até o gosto dela, se rolou um frenesi, ou não. Poucos filmes conseguiram traduzir na tela a sensação desse momento. Listamos alguns que chegaram lá.

    Branca de Neve e os Sete Anões (William Cottrell, David Hand, Wilfred Jackson, Larry Morey, Perce Pearce e Ben Sharpsteen, 1937)

    O beijo que vence a morte, num clássico memorável dos estúdios de Walt Disney além de qualquer relatividade sobre grado ou agrado. Saber que a maioria de nós estará viva para atestar novamente sua qualidade no centenário da obra já seria algo maravilhoso.

    O Demônio das Onze Horas (Jean-Luc Godard,1965)

    O beijo desesperado que vence as guerras, pura poesia convertida em imagens, algo que os cinéfilos mais jovens não tem nem paciência pra experimentar. Uma pena. O Demônio das Onze Horas é um clássico forrado de exuberância e um gosto embriagante de Cinema.

    Meu Primeiro Amor (Howard Zieff, 1991)

    O beijo inocente que começa as guerras. É o beijo que solidifica a infância como fase da descoberta sobre quase tudo o que nos faz ser quem somos. É em Meu Primeiro Amor que o toque labial ganha sentidos tão primordiais e sensíveis que nenhum outro filme americano ou não, até hoje, conseguiu expressar tão bem.

    O Guarda-Costas (Mick Jackson, 1992)

    O beijo da impossibilidade de dois corpos ficarem separados. Beijo cafona e deselegante, caso não fosse o ângulo apropriado e a trilha-sonora composta para um filme mais vendida da história, mas como não sentir a vibração da cantora e do seu segurança correndo, de braços abertos, contra a iminência da separação?

    Ghost: Do Outro Lado da Vida (Jerry Zucker, 1990)

    O beijo de alma. Sam e Molly foram um dos grandes casais dos anos 90, rivalizando talvez com o Jack e a Rose de Titanic, só que nem o icônico beijo abraçado na proa do fatídico transatlântico consegue ser mais simbólico a um esperado amor eterno que o beijo etéreo de dois espíritos, absoluta e infinitamente apaixonados.

    Beleza Americana (Sam Mendes, 1999)

    O beijo da culpa. O beijo do racista branco na negra que o criou, ou, no caso, de um coronel homofóbico na boca do vizinho que almeja e não se permite ter, além da carne, por inúmeros motivos secretos. Beleza Americana busca, sobretudo, a união entre céu e inferno num país dividido em todos os sentidos chamado América.

    Homem-Aranha (Sam Raimi, 2002)

    O beijo da juventude. Uma sessão da tarde frenética interrompida logo após uma cena de ação do herói com bandidos, num beco escuro, salvando a mocinha quando esta lhe tasca um beijo irresistível, de ponta-cabeça. Mais contextual não dá, não só ao herói aracnídeo dos quadrinhos, mas ao próprio revirar hormonal da molecada.

    A Cruz dos Anos (Leo McCarey, 1937)

    O beijo da despedida, por uma vida inteira. Como o próprio cineasta Stanley Kubrick apontou, eis um filme que tira lágrima de pedra, e a cena final na estação de trem com o beijo dos dois idosos é destruidora, incidindo sobre a passagem do tempo, e como aquilo que é verdadeiro resiste diante do fim, diante de tudo.

    O Segredo de Brokeback Mountain (Ang Lee, 2005)

    O beijo da saudade, por uma vida inteira – e que quase quebrou o nariz de Heath Ledger. Brokeback Mountain, hoje merecidamente tido por clássico do século XX, é extremamente sutil em sua verdadeira mensagem de seguir o próprio coração mesmo, seguir o instinto natural e ver o que acontece a partir disso. Metáfora sobre os amores incompreendidos.

    A Um Passo da Eternidade (Fred Zinnemann, 1953)

    O beijo cinematográfico definitivo.

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  • Crítica | Darkman: Vingança Sem Rosto

    Crítica | Darkman: Vingança Sem Rosto

    Em 1990, doze anos antes do primeiro Homem-Aranha, Sam Raimi traria aos cinema um filme com muitos elementos de quadrinhos em um produto carismático e caricato na medida. Darkman: Vingança Sem Rosto começa com um prólogo, mostrando o passado de Peyton Westlake (Liam Neeson), um cientista que descobriu a fórmula para produzir pele sintética. Não demora até que surjam interessados para tomar o seu trabalho e fazer proveito financeiro dele, assassinando então o personagem, que milagrosamente sobrevive apesar de ser dado como falecido, se escondendo nos subterrâneos da cidade, graças a sua aparência grotesca.

    Após ocorrer o crime, ele decide lançar mão da própria invenção para desbaratar os planos dos bandidos, se fazendo passar pela maioria, obviamente com uma restrição, já que a imitação de pele só dura 99 minutos consecutivos quando é exposta a luz. Raimi dá vazão a um gore moderado, mostrando Weslake coberto de chagas e ataduras, com Neeson agindo como um bufão enlouquecido na maior parte do tempo, em uma performance divertidíssima, que por sua vez remete ao ocorrido nos seriados das antigas matinês.

    O clima de sensacionalismo é devido a dois aspectos principais, sendo um o modo que Raimi filma as situações ocorridas com o protagonista e com os que estão nos seus arredores, como também a direção de arte, que apela para um clima cartunesco. O suspense também é pontuado pela música de Danny Elfman, que dão a dose final para a equação de Darkman casar com perfeição com todo o clima pulp proposto.

    Raimi consegue entregar um filme conciso até em seus exageros visuais e temáticos, com um belo exemplar que ajudaria e muito a formar os clichês do sub-gênero dos filmes de super-heróis, ainda que tenha aqui uma carga autoral muito maior e um clima que remete demais ao ideário de filmes de terror do qual o diretor era especialista, provando também a versatilidade do cineasta em contar outros tipos de história, sem necessariamente se ver preso a sua zona de conforto.

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  • Crítica | Homem-Aranha 2

    Crítica | Homem-Aranha 2

    Dois anos depois do divertido Homem-Aranha, Sam Raimi retorna com uma das continuações mais eletrizantes entre o sub-gênero de filmes de super-heróis. Homem-Aranha 2 amadurece os conceitos já estabelecidos no primeiro, mostrando Peter Parker (Tobey Maguire) tendo problemas com seu tempo, dividindo-se entre a vida de universitário com pouco (ou nenhum) recurso e a vida de vigilante, além de ter de lidar com mil outros problemas, entre eles a distância que adquiriu junto à Mary Jane (Kirsten Dunst), o desprezo e desconfiança de seu melhor amigo Harry Osborn (James Franco) e as necessidades financeiras de sua tia May (Rosemarie Harris).

    O começo leve, mostra de maneira bem-humorada a dificuldade de Peter em conciliar todos os seus afazeres. Seu aluguel é cobrado constantemente, ele é despedido do bico que fazia como entregador de pizzas, sua paixão platônica e seu professor Curt Connors (Dylan Baker) se decepcionam por sua ausência constante. As diferenças básicas nesta versão e na inicial é que todos do núcleo de amigos conseguiram evoluir, com Mary Jane estrelando peças, e Harry comandando a empresa de seu pai completamente repaginada, trabalhando lado a lado com Otto Octavius (Alfred Molina), que seria a principal adição dramática a trama.

    A partir desse ponto, o filme dá uma guinada, largando a ideia de uma comédia adolescente com tons adultos, para assumir um caráter mais soturno, e em alguns momentos com influências dos filmes de terror trash. Nascia ali, o Dr. Octopus, uma fusão entre o cientista brilhante e a máquina que ele criou, agora, sem o inibidor neural que impedia que sua mente fosse dominada pelo artefato.

    Se em Homem-Aranha  havia um comentário sagaz e inteligente sobre a puberdade e as descobertas comuns a ela, já em sua continuação o destaque está na perda gradual dos poderes do protagonista, expondo então a impotência que normalmente ocorre com os sentimentos daqueles que têm de lidar com as agruras da vida adulta, se vendo muitas vezes de mãos atadas enquanto seus entes queridos correm perigo ou passam necessidades.

    Há um caminho inverso, de descoberta de perda dos poderes, e consequentemente uma reavaliação do herói no que concerne as responsabilidades com os seus e com a sua cidade. Aos poucos, Peter se deixa levar até pelas manchetes sensacionalistas de J. J. Jonah Jameson (J.K. Simmons, mais uma vez brilhante) no Clarim Diário, e aceita de bom grado sua limitação mental e quase psicossomática, de que o acontecido com a aranha radioativa simplesmente foi suprimido graças as tarefas que se avolumam sobre seus dias.

    O paradigma do amadurecimento tem seu ápice em uma cena de sonho, onde encontra seu mentor primordial, o tio Ben (Cliff Robertson), onde conversa sobre sua aposentadoria, relembrando até uma das capas clássicas de John Romita, onde o aracnídeo joga sua fantasia fora deixando de lado a ideia juvenil de acabar com o mal através de seu próprio esforço.

    Não demora para que os fantasmas voltem a assombrar o vigilante, com injustiças acontecendo ao seu redor o tempo inteiro e com a percepção de que já era tarde para abdicar de certos hábitos. A vida de todos seguia em frente e a tomada de decisão de Parker finalmente acontecia, ao mesmo tempo que o afastamento dos seu também ocorria, seja sua tia por conta das dificuldades financeiras, Harry pelo incidente envolvendo a Oscorp e Octopus ou mesmo MJ MJ se entregando a um pedido de casamento de outro homem.

    Apesar de pueril, a cena onde Peter revela a sua tia o que aconteceu após a luta de wrestiling, se nota um arrependimento genuíno e o tão desejado arrependimento buscado pelo herói da jornada, que finalmente entende que o assumir das suas responsabilidades não tem a ver necessariamente com as habilidades provindas da aranha radioativa, e sim a sua postura. Mesmo sem a plenitude de seus poderes, ele reprisa um momento do filme anterior, em um incêndio, onde salva uma criança em apuros, dessa vez sem a peça que seria pregada pelo Duende Verde, assim como o diretor já havia feito na franquia Evil Dead.

    O retorno do herói acontece gradativamente, mas é cena do metrô uma das mais icônicas, o herói que salva e é salvo por pessoas comuns. Apesar de um pouco piegas, todas as sequências posteriores a essa cena são carregadas de um sentimentalismo condizentes, com toda a atmosfera otimista da saga que Raimi propõe no cinema. Se tal proposta é atual ou não é uma outra discussão, o fato é que a concepção fantástica do universo do Aranha que o diretor pensou teve aqui o seu ápice, e ajudou a pavimentar o universo planejado por Kevin Feige e seus produtores anos depois, ainda que esse não seja um produto pasteurizado como os subsequentes.

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  • VortCast 47 | Homem-Aranha e o Cinema

    VortCast 47 | Homem-Aranha e o Cinema

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Fábio Candioto (@fabiozcan), Jackson Good (@jacksgood) e Filipe Pereira (@filipepereiral) se reúnem para comentar sobre o amigão da vizinhança e suas incursões em carreira solo nas telonas com os filmes de Sam Raimi, Marc Webb e Jon Watts.

    Duração: 97 min.
    Edição: Victor Marçon
    Trilha Sonora: Victor Marçon 
    Arte do Banner: 
    Bruno Gaspar

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    Filmografia Comentada

    Crítica Homem-Aranha (2002)
    Homem-Aranha 2 (2004)
    Homem-Aranha 3 (2007)
    Crítica O Espetacular Homem-Aranha (2012)
    Crítica O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro (2014)
    Crítica Homem-Aranha: De Volta ao Lar (2017)

    Séries de TV mencionadas

    Spider-Man – ABC (Série Animada – 1967-1970)
    The Amazing Spider-Man – CBS (Série de TV – 1977-1979)
    Supaidāman – Toei (Série de TV – 1978-1979)
    Homem-Aranha e Seus Amigos – ABC (Série Animada – 1981-1983)
    Homem-Aranha: A Série Animada – Fox (Série Animada – 1994-1998)
    Homem-Aranha: Sem Limites – Fox (Série Animada – 1999- 2000)
    Homem-Aranha Ultimate – ABC (Série Animada – 2012 – 2017)

    Materiais comentados e relacionados

    VortCast 05: Filmes Marvel

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  • Review | Ash vs Evil Dead – 2ª Temporada

    Review | Ash vs Evil Dead – 2ª Temporada

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    Após um season finale curioso na Ash vs Evil Dead – 1ª Temporada, a série retoma em duas frentes, sendo a primeira com Ruby (Lucy Lawless) combatendo o mal que havia libertado na cabana de Uma Noite Alucinante – A Morte do Demônio, e claro, a personagem de Bruce Campbell curtindo férias em Jacksonville, em meio a eventos como os spring breaks. Ao lado deles estão os já introduzidos Pablo (Ray Santiago) e  Kelly (Dana DeLorenzo), que compartilham dos mesmos infortúnios que o anti-herói carismático.

    O estado de paz é obviamente cortado pela ação das criaturas malignas liberadas no desfecho do último episódio. Após deliberar, o trio resolve ir até a cidade natal do anti-herói, em Elk Grove, e já no caminho o personagem latino dá mostras de que algo estranho lhe aconteceu. Ao retornar, ele é recepcionado por personagens do seu passado, como seu pai Brock Williams, interpretado por Lee Majors (famoso por ter estrelado O Homem de 6 Bilhões de Dólares), sua antiga namorada Linda Bates (Michelle Hurd) e um antigo colega de escola, Xerife Thomas Emery (Stephen Lovatt) sendo este vítima de bullying da personagem título quando eram mais jovens.

    Em Elk Grove, Ashley é chamado de Ash Slashy, por ter desmembrado seus amigos nos eventos da trilogia Evil Dead. No decorrer das investigações a fim de achar o Necronomicon, Ash se mete em um necrotério, onde o gore passa a ser mais escatológico e pornográfico do que sanguinário em si.

    O segundo ano é bem mais divertido que o primeiro, e contém uma exploração ainda maior das personagens. Kelly desenvolve uma personalidade muito além da garota refém ou menina durona, Ruby ganha muito mais força ao estar do lado dos bonzinhos, Pablo se torna importante graças ao livro – fato esse que acrescenta um senso de urgência muito grande a trama principal – e claro, o vilão Baal (Joe Tobeck), ameaçador, carismático e ainda provoca nos heróis uma paranoia imensa, abrindo espaço para que a série produzida de Craig di Gregorio, Ivan Raimi e Sam Raimi possa fazer referências ótimas aos mestres do horror, como Dario Argento, David Cronenberg, e em especial John Carpenter, que possui citações em quase todos os dez episódios, além de elementos visuais retirados da literatura de Clive Barker.

    Apesar dos roteiros não terem grandes discussões filosóficas profundas, o texto é prodigioso soando divertido o tempo inteiro. A execução das cenas de terror também são bem construídas, com truncagens de câmera que não deixam nada a desejar a outros filmes de Raimi. Também é curioso o fato de o programa trabalhar bastante com a morte de familiares que acabaram de ser apresentados, além de subverter a condição de Ash como protagonista/antagonista, sem apelar para o artifício do Evil Ash visto em Uma Noite Alucinante 3 – Army of Darkness.

    Ashley é uma personagem que apesar da mente vazia e jeitão simples, um sujeito rico e capaz de gerar grandes discussões éticas. A fotografia e cenários em que o predomínio de cor é o preto e o cinza, demonstrando representações gráficas da dicotomia espiritual da série. O destino do Necronomicon serve ao propósito de mostrar que Ash vs Evil Dead não se prenderá tanto aos filmes anteriores para mostrar sua história. A mitologia do programa já é independente por si mesma.

    A figura de Baal é misteriosa, pouco se sabe dela na série, exceto pela óbvia anedota bíblica que associava a divindade cananeia/fenícia a uma figura demoníaca. Sua aparência de homem caucasiano de cabelos longos e com visual gótico faz parecer que esse é o inverso do Deus que Alanis Morisette fez em Dogma, e nem é pelo visual que a comparação faz sentido já que o astral pop em volta das suas atitudes o faz guardar semelhanças também com a cantora. Ao mesmo tempo em que o mal se apresenta, os laços entre Kelly e Ash se estreitam, tornando ambos em quase uma família, fato que faz com que os infortúnios a Pablo sejam ainda mais sentidos por todos, com uma notícia visceral e agressiva logo após uma vitória parcial dos justiceiros.

    O retorno no tempo e a cabana onde o demônio kandariano atacou repete um pouco dos momentos finais da primeira temporada, ainda que o sentido dessa vez seja muito diferente, com a participação da possessa Henrietta, que aliás, é representada em forma monstruosa por um animatrônico dos mais bem construídos de toda a franquia, manipulado em um dos seus estágios por Ted Raimi. Ash está bem afiado quanto as piadas, mesmo em situações chave, onde vê seus amigos perecendo. A bordo do Delta, Ash e seus dois sidekicks brincam com a dobra temporal. Driblando alguns tropeços narrativos, essa segunda temporada consegue dar um encerramento de arco divertido para a maioria dos personagens, ainda que deixa rastro para mais uma virada, que será explorada em um eventual terceiro ano, a ocorrer no ano de 2017, e visto a independência com que correu o argumento de Ash vs Evil Dead, há de se esperar algo tão escapista, divertido e transgressor quanto o que se viu até agora.

  • Crítica | Uma Noite Alucinante III

    Crítica | Uma Noite Alucinante III

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    Em 1992, após muita insistência dos produtores – em especial Dino DeLaurentisSam Raimi retornaria a franquia Evil Dead, em Uma Noite Alucinante 3, iniciando seu longa de modo diferenciado, primeiro com uma narração ainda mais elucidativa do que a executada e Uma Noite Alucinante 2, o que já ajuda a montar o quadro de um produto mais palatável ao grande público, fazendo deste capítulo o mais familiar dos filmes da saga.

    Ash (Bruce Campbell) volta no tempo, caindo do céu em meio a época dos templários, sendo mal compreendido pelos cavaleiros de armadura que o acham e o levam como cativo. A inteligência superior e conhecimento que tem do presente – na tela, futuro – o faz subir degraus facilmente, se elevando a um patamar de nobre, após vencer criaturas monstruosas, passando pelas circunstâncias contrarias que lhe são impostas, revelando um comportamento dúbio de sua parte, longe da honradez mostrada nos episódios anteriores.

    A transformação em anti herói se dá automaticamente, aludindo a mudança de caráter graças a situação limite e desesperança pela qual passa Ashley. Não preocupação de sua parte sequer em economizar cartuchos de bala para sua escopeta. A preparação para o campo de batalha emula o filme dois, na construção de armas para seu manuseio do (agora desde o início do filme) protagonista maneta.

    O ideal do personagem está bem diferente, passado o luto pela perda de Linda, finalmente ele segue em frente, encontrando sossego nos braços de Sheila (Embeth Davidtz). A jornada rumo a versão do Necromicon da época o faz ter um embate novamente com a estranha criatura que segue perseguindo-o na floresta. No entanto, nem esta aparição faz retornar o tom mais sério, já que Uma Noite Alucinante III é de fato o episódio mais jocoso e parodial da cinessérie.

    Raimi dá espaço para seu astro brilhar, em cenas de embate terrivelmente construídas com cenas em CGI vagabundas ao extremo, fazendo lembrar o orçamento irrisório dos seriados mexicanos do Chapolin Colorado. O combate com suas contra partes diminutas sequer tem encaixe físico, e constituem mas uma das loucas encarnações pensadas pela dupla de amigos Campbell e Raimi para representar a dupla personalidade do personagem, fator que piora a evolução da dualidade de caráter do personagem, já citada no segundo filme aqui evoluída a questão de Evil Ash.

    A transição de filme de horror para aventura escapista de capa e espada talvez faça estranhar quem somente assistiu a Uma Noite Alucinante: A Morte do Demônio, especialmente nas drásticas mudanças de personalidade e reações de Ashley. Claramente seu personagem deixou de ser um mocinho genérico dos filmes de horror B para se tornar algo muito maior, uma figura de desdém ao herói clássico, que deturpa o arquétipo do paladino, fazendo dele uma piada enorme.

    Noite Alucinante 3 reverencia filmes clássicos e recentes nos anos noventa, desde As Viagens de Gulliver até Highlander, tanto no visual quanto nas situações mostradas em tela. De certa forma, a preguiça que acometeu Sam e Ivan Raimi em seu roteiro serviu para aludir a paralelos mais recentes, renovando sua temática. A batalha final com a contra parte maligna é digna de risos em praticamente todas as consequências, desde o embate em si, envolvendo dezenas de figurantes e cenários, até a luta corpo a corpo do personagem principal e sua versão putrefata, que se decompõe cada vez mais durante o certame. A maquiagem de Greg Nicotero faz jus aos seus momentos áureos, e consegue elevar a galhofa ao nível máximo, amarrada muito bem ao desfecho da história, que mostra um futuro apocalíptico terrível na versão estendida e o retorno do protagonista aos dias atuais, fator que daria lastro para o seriado vindouro Ash vs Evil Dead, além claro de marcar época como umas das mais criativas tentativas de misturar humor e horror no cinema moderno.

  • Crítica | Uma Noite Alucinante II

    Crítica | Uma Noite Alucinante II

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    Lançado quatro anos após Uma Noite Alucinante: A Morte do Demônio, a continuação também conduzida por Sam Raimi tem um aviso para a plateia de que as cenas mostradas a seguir talvez sejam ofensivas para alguns. Os primeiros minutos fazem uma introdução do que seria o Necromicon, chamado também de O Livro do Mortos, em uma tradução aproximada. O caráter deste Uma Noite Alucinante 2 já se mostra diferente na maneira de filmar uma vez que a fotografia, figurino e ambientação parecem muito mais clean do que a rusticidade do filme original, o que faz perguntar qual seria a real intenção de seu realizador.

    Há muitas coincidências fatuais entre a história deste e do outro filme, a começar pelo protagonismo de Ash (Bruce Campbell), pela viagem que faz com sua amada Linda (dessa vez interpretada por Denise Bixler), até a ida a mesma cabana do outro capítulo, agora chamada de Knowby. Não há menção a desventura anterior, mas não fica exatamente claro se ocorreram ou não os fatos, uma vez que o primeiro contato de Ashley com as criatura maligna se dá em uma cena que parece misturar realidade com fantasia.

    Há um cuidado em explicitar o que antes era um mistério. A tal gravação que acompanhava o livro agora ganha um narrador de nome de Raymond Knowby (John Peaks), que teria encontrado o tal Morturum Demonton em uma ruína antiga, chamada de Castelo de Candar. A trama se bifurca, entre os momentos da origem desse artefato e os da interação do casal na cabana. Tudo que envolve a reaparição de Linda após ser decapitada tem um uma abordagem assumidamente trash e jocosa, sendo esta a maior mudança na postura da abordagem de Raimi. Toda essa ideia serve muito bem ao desígnio de mostrar a confusão mental pela qual passa o herói, em um momento de extrema crise, existencial.

    A divisão das intenções de Ashley se dão através de cenas hilárias, em que ele começa a lutar consigo mesmo, tentando resistir a dominação que foi imposta aos outros personagens e que finalmente chegou a si. A mão putrefata que lhe inflige dor e agonia faz com que se desperte toda a genial canastrice de Campbell, uma vez que seu personagem precisa demonstrar uma duplicidade espiritual clara.

    O show de horrores ocorrido através do banho de sangue e sujeira com Ash é interrompido pela chegada de Annie (Sarah Berry) a herdeira da casa e filha do doutor, Jake (Dan Hicks), Bobby Joe (Kassie Wesley) e Ed (Richard Domeier), que iriam ao encontro do falecido e desalmado arqueólogo. Os eventos clássicos passam a se repetir, incluindo a cena de violência sexual. O personagem principal é tomado pela coisa, o que prova que nem mesmo ele está imune aos poderes do opositor, sensação maximizada pela entrada e saída dos transes que tem.

    Toda a seriedade que habitava os primeiros momentos do filme é deixada de lado passada uma hora, durante a preparação para enfrentar as bestas incorporadas. Como em Evil Dead, este número dois também serve de inspiração para outros tantos produtos do sub gênero terror, que imitam tanto o uso de criaturas animatrônicas, quanto o uso indiscriminado de armas improvisadas como suplemento corporal, com serras elétricas dando lugar a membros efetivos, fato que seria mencionado no filme Planeta Terror de Robert Rodriguez décadas depois.

    A condução do filme é interessante, por conseguir reunir toda a bagunça que é mistura de elementos nos instantes finais reunindo o pós apocalíptico ao estilo Mad Max com viagem no tempo a era do medievo, desafiando os limites narrativos que um filme de terror pode se permitir. Uma Noite Alucinante 2 perde um pouco em qualidade ao seu original, e é claramente um arremedo de ideias inspiradas no primeiro volume, mas é ainda é caro graças a entrega total de Cambell, que conquista o publico mesmo em suas limitações dramatúrgicas, fazendo de seu carisma a liga que mantém unidos todos os elementos dissonantes do confuso e jocoso argumento.

  • Crítica | Uma Noite Alucinante: A Morte do Demônio

    Crítica | Uma Noite Alucinante: A Morte do Demônio

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    A história de terror presente em Uma Noite Alucinante: A Morte do Demônio (ou Evil Dead: A Morte do Demônio) é bem comum, sem muitos floreios ou invencionices. O roteiro de Sam Raimi é um aspecto secundário, que dá vazão para a inventividade visual de seu realizador, que teria na construção de tensão, clima no manejo da câmera um diferencial não só em relação ao gênero de horror como para todo o cinema contemporâneo.

    Evil Dead não é o primeiro longa-metragem de Sam Raimi, antes dele veio It’s Murder, também com colaboração de seu astro e amigo Bruce Campbell, e onde o cineasta já pôde experimentar alguns dos maneirismos empregados no clássico de 1981. A história mostra um quinteto de moços e moças, que vão até uma cabana na floresta. Como é esperado, os hormônios afloram e o tempo inteiro eles deixam suas imaginações fluírem em torno da sexualidade que lhes era reprimida na cidade grande, além de desfrutar de uma imensa curiosidade pelo desconhecido, que se manifesta através de um livro que se encontra no porão da casa, chamado Necromicon.

    Mesmo antes de liberar qualquer mal, o filme já usa de closes rápidos típicos dos clássicos de Mario Bava e Lucio Fulci para estabelecer a relação entre Ash (Campbell) e sua amada Linda (Betsy Baker), ao focar nos olhos dele e dela ao tentar descobrir o que está dentro da pequena caixinha de joias que o protagonista carrega. O filme ainda guarda em seu início, passados pouco mais de um terço de filme, uma cena violenta e aterrorizadora para o espectador feminino, usando Cheryl (Ellen Sandweiss) como espécime básico do clichê ‘mulher solteira procura’, sendo ela perseguida pelo monstro que habita a câmera, nos moldes de uma escola de terror tipicamente americana, vista em Tubarão e Halloween: A Noite do Terror, e usada dessa vez para denunciar os maus tratos a mulher, normalmente ignorados por uma grande parcela do público.

    O infortúnio de Ash e dos seus se manifesta a partir de eventos inesperados, começando pela localidade da cabana, envolvendo depois as gravações do arqueólogo que era o antigo dono do casebre em que habitam. Apesar do caráter barato da produção, as cenas mais violentas são bem executadas, e os temas discutidos fazem paralelos fortes com a proibição e punição a quem desfruta das formas de prazer inerentes ao desabrochar da líbido, tomando prioritariamente os pares dos meninos, tornando o belo sexo no motivo de tormento dos homens, aludindo a misoginia que se vê em muitos dos contos bíblicos.

    A possessão dá vazão a elementos gore diversos, desde a putrefação instantânea da bela pele dos jovens personagens, até o canibalismo como forma de sobrevivência dos contaminados. Uma vez tomados, as vítimas passam a atacar os que não foram tomados pelo mal, obrigando mesmo esses a cometerem o pecado do homicídio, ainda que a culpa destes atos seja plenamente discutível, vista principalmente no receio de Ash em executar Shelly (Theresa Tilly), e na certeza de Scott (Richard Demanincor) na hora de mutilar seu antigo par, percebendo que se não fizesse isso, seria ele a perecer.

    Ashley é o típico menino covarde, que se auto engana através da aparência rude que ostenta, unida ao amor que tem por sua namorada e por sua irmã Cherryl, sendo torturado e aterrorizado pelas criaturas espirituais que as dominam. Analisando friamente todo a problemática envolvendo os cinco, fica a dúvida se os dominados pelo demônio não teriam forças suficientes para se libertar das amarras que improvisadas que lhe eram impostas e portanto estavam tentando convencer o herói a se reunir com eles ou se eles realmente tem seu poderes limitados pela humanidade não deturpada.

    A ambiguidade habita o longa e o torna ainda mais assustador. A versão estendida do filme possui apenas 85 minutos, mas exibida em condições cinematográficas, aparenta ter uma duração muito maior, dado o desespero causado no espectador. A técnica em stop motion serve muito bem ao filme, exceto em uma das cenas finais onde o mal finalmente sucumbe e se deteriora. O artifício acaba servindo, não intencionalmente, para relembrar ao público que a história se trata de um ficção e que os agouros ali não são reais.

    A tranquilidade aparente que acompanha a manhã é falsa e faz enganar o pobre Ash, que termina a tal Noite Alucinante sozinho, desamparado e aliviado por muito pouco tempo, sentimento este que não dura sequer até o início dos créditos. A rusticidade e criatividade de Raimi a frente desse filme serviria como marco para um cinema independente de horror, possibilitando a uma nova geração de filmmakers seguirem os passos de Wes Craven, Tobe Hooper, John Carpenter e afins, unindo elementos do mainstream com o cinema B tradicionalmente rústico, ajudando este filão a sair do gueto e se popularizar entre outras plateias cinéfilas.

  • Review | Ash vs Evil Dead – 1ª Temporada

    Review | Ash vs Evil Dead – 1ª Temporada

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    De volta ao papel mais conhecido de sua carreira, Bruce Campbell exibe uma bela forma física se espremendo em uma cinta de correção postural nas primeiras cenas de Ash vs The Evil Dead, ainda mais se levarmos em conta os eventos de Uma Noite Alucinante 3. Ainda que a produção tenha tido dois desfechos, um no cinema e outro diferente em home vídeo, a série leva em conta a versão de cinema e, depois de trinta anos, Ash vive sua pacata vida tendo uma rotina boemia, abordando mulheres de meia idade em bares sujos, transando nos banheiros desses estabelecimentos, mas sempre assombrado pelas lembranças demoníacas do passado, sem conseguir se livrar do inimigo que o persegue desde a juventude.

    Aos poucos descobrimos que o personagem ainda guarda consigo o Necronomicon, livro dos mortos, artefato usado para dar em cima de outras mulheres, e que acidentalmente foi aberto fazendo as possessões se manifestarem novamente. Transitando entre o real e o imaginário, as aparições demoníacas não são claras para a compreensão mental de Ash. No entanto no núcleo centrado na policial Amanda Fisher (Jill Marie Jones), a realidade é tangível e entrega boas cenas gore, em doses semelhantes ao remake A Morte do Demônio, evento mais recente da franquia.

    Ashley prossegue na mesma loja de departamentos e lá conhece Pablo Simon Bolivar (Ray Santiago), um latino que assiste a manifestação do mal em uma pequena boneca assassina que tenta dar cabo do protagonista, além de bela Kelly Maxwell (Dana DeLorenzo), alguém que também tem um contato com o maligno em seu seio familiar. O primeiro episódio, único dirigido por Sam Raimi, faz autorreferência a Uma Noite Alucinante: A Morte do Demônio, ainda que seu intuito mais trash como ocorre a partir de Uma Noite Alucinante 2.  Até mesmo na na música, o tom do seriado produzido pela Starz, emula alguns dos acordes de Joseph LoDuca em Uma Noite Alucinante 3.

    Há uma preocupação genuína dos roteiros em explicar a pseudo-ciência por trás dos possuídos, com Ash filosofando sobre a tomada de consciência que ocorre com as vítimas, ainda que não haja qualquer estudo profundo de sua parte, exceto a vivencia do passado. Afinal o único materia que aproxima as criaturas de suas origens obscuras e estão contidas em livro cuja linguagem está morta, sem falantes nativos. Também voltada para a caça do Mal está a bela e misteriosa Ruby Kowby (Lucy Lawless), herdeira dos Knowby vistos no segundo filme, também a procura do destino que o livro dos mortos revelaria.

    A galhofa de Ash vs The Evil Dead remete a um passado onde o audiovisual mambembe e paupérrimo era também inventivo, não descartável e bobo como os filmes da franquia Sharknado que, apesar de divertidos, não acrescentam em nada do ponto de vista técnico. Os 10 episódios não chegam próximo do primor que Raimi conduziu em seus três filmes. O gore é muito bem empregado dando aos roteiros de Sam e Ivan Raimi (unidos a Tom Spezialy) uma boa versão do que vinham fazendo Quentin Tarantino e Robert Rodriguez a partir do projeto Grindhouse, a lembrança mais próximo da intenção dos produtores da série, ainda que o projeto seja menos ambicioso em comparação a Planeta Terror e À Prova de Morte. De qualquer maneira, o roteiro é exagerado, e em meio a uma qualidade narrativa bastante irregular, apela para os velho clichês de gênero terror, mesmo que utilizando-os da maneira mais debochada e escrachada.

    Os últimos momentos deste primeiro ano reservam memórias para Ash, tanto no sentido de estabelecer um romance com uma personagem – um ponto de aproximação com o primeiro filme de 1981 – além de fazer um retorno a cabana onde tudo começou. Apesar de alguns tropeços e de uma visível queda na qualidade do roteiro, principalmente na solução vista no desfecho, com um falso cliffhanger, Ash vs The Evil Dead consegue se estabelecer como um programa nostálgico e emocionante para quem se interessa pela jornada do herói da trilogia Uma Noite Alucinante, preenchendo finalmente um vazio no imaginário desse mesmo público, com direito a novas desventuras.

  • Crítica | Homem-Aranha

    Crítica | Homem-Aranha

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    Há quase 15 anos, as histórias em quadrinhos eram consideradas um estilo inadaptável para o cinema. Porém, após o tímido sucesso de Blade: O Caçador de Vampiro e uma primeira grande produção de X-Men, com Bryan Singer na direção, um novo caminho foi sendo construído, e este se tornaria parte fundamental no cinema-pipoca atual.

    A vontade dos estúdios em produzir um filme do Homem-Aranha era uma antiga pauta fomentada por boatos e especulações. Somente após o sucesso das produções citadas foi possível um planejamento para que um dos heróis mais populares da Marvel Comics chegasse às telas.

    Com direção de Sam Raimi e roteiro de David Koepp, Homem-Aranha é uma produção bruta, não inserida na fórmula cinematográfica dos super-heróis, em que cada filme é trabalhado com base em um universo interligado. Como não havia nenhum plano a longo prazo com tais personagens, a produção foi uma das pioneiras, como uma espécie de teste para descobrir se a fórmula heroica funcionava.

    A origem do herói e o universo do estudante Peter Parker são apresentados de maneira simples, como o desenvolvimento do longa-metragem em geral. Não havia ainda a intenção de um relato explicitamente realista com uma abordagem mais adulta das personagens. As cores claras ressaltam-se na fotografia, mantendo a aura de ficção sem perder a percepção da realidade. Com uma personalidade semelhante à inicial proposta pelo criador Stan Lee, Peter Parker é um jovem nerd, estudioso, um tipo vivendo um mundo à parte, incapaz de se relacionar com outros além do amigo Harry Osborne. As cenas de origem, com a aranha modificada geneticamente – uma modificação da origem com aranha radioativa – que o morde, além de suas mudanças físicas, são apresentadas rapidamente, bem como a personalidade tímida e o amor pela vizinha Mary Jane Watson (Kirsten Dunst).

    Koepp escolheu como vilão desta primeira história o arqui-inimigo de Homem Aranha, o Duende Verde, incorporado pelo empresário Norman Osbourn após realizar experiências com um soro. Diante de um momento de incerteza dos sucessos de produções de quadrinhos, escolher um grande inimigo foi assertivo. Mesmo que a franquia falhasse, o público teria assistido em tela a um dos maiores embates dos quadrinhos. Ainda que uma das cenas chave entre Duende e Aranha tenha sido levemente modificada, é Mary Jane e não Gwen Stacy, como no original, que é arremessada de uma ponte pelo vilão.

    No papel de Norman Osborn, o ator Willem Dafoe foi uma boa escolha para trazer maior credibilidade ao filme e ao papel. Ainda que o uniforme do duende seja bem diferente do gibi, fato que dificultou qualquer expressão facial além da imposição de voz, Dafoe produz boas cenas demonstrando a loucura da personagem. Em destaque para a cena em que conversa no espelho com o duende, destacando as diferentes personalidades pelos olhos e expressões faciais, intensas, como de costume.

    As mudanças em relação ao quadrinho foram pontuais. Além da troca de Gwen Stacy por Mary Jane e das mudanças de uniforme, Peter Parker produzia teias naturais ao invés das feitas em laboratório. Na época, um dos produtores do longa alegou que esta era a saída mais verossímil para a história, afinal, como um jovem nerd seria capaz de inventar uma espécie de cola que nem mesmo as grandes indústrias haviam conseguido? Verossimilhança ou não, o assunto foi pauta para reclamações dos fãs, ainda que em arcos posteriores ao filme, e o Cabeça-de-Teia dos quadrinhos também começou a produzir teias naturalmente. A essência, porém, permaneceu intocada.

    Mesmo com 27 anos de idade na época, Tobey Maguire foi competente em compor seu personagem adolescente, mantendo a timidez no olhar e as características de Peter, sendo um Parker/Aranha melhor do que seu sucessor, Andrew Garfield. Se o envelhecimento de Maguire não foi um problema, o tempo natural transformou algumas cenas de ação mais precárias. É possível perceber com mais detalhe – ainda mais na edição em alta definição – o uso do CGI em algumas cenas de ação e uma composição mal executada do chroma key. Observações que não tiram o mérito da obra, mas que mostram a evolução da tecnologia nesta última década.

    Sem uma cartilha a seguir, a produção acertou na escolha de um bom roteiro, simples mas correto, para esta primeira aventura, obteve um grandioso resultado nas bilheterias e enfim houve a confirmação de que os heróis eram o novo pote de ouro da indústria cinematográfica. Homem-Aranha, ao lado de X-Men e Blade, marcou o primeiro momento dos heróis no cinema, representando uma linhagem heroica que hoje se tornou um dos lançamentos mais importantes  e esperados do cinema anualmente.

  • Resenha | Evil Dead:  A Morte do Demônio – Bill Warren

    Resenha | Evil Dead: A Morte do Demônio – Bill Warren

    Em 1981, chegava aos cinemas o cultuado A Morte do Demônio (The Evil Dead), dirigido pelo novato Sam Raimi, com a colaboração de Rob Tapert, produtor, e, claro, de Bruce Campbell, astro da série e co-produtor. Todos os amigos do trio se revezavam entre tarefas nos bastidores, elenco e pós-produção e contribuíram para a realização do longa-metragem, que, após todas as limitações, tornou-se um cult do gênero, conquistando seguidores ao redor do mundo.

    Décadas depois, mal sabiam os criadores da série que Evil Dead renderia duas sequências, um musical na Broadway, games, um remake, diversos sites dedicados a destrinchar todos os seus detalhes, e como não poderia deixar de ser, este livro. Escrito pelo crítico de cinema Bill Warren, conta com uma riqueza de documentos, detalhes de bastidores, entrevistas, fotografias e muito mais.

    O livro reúne em suas páginas detalhes de toda a trilogia original, contando ainda com dois capítulos extras dedicados especificamente ao musical da Broadway e ao remake de 2013, dirigido por Fede Alvarez (leia nossa crítica aqui). Contudo, o foco do livro é dedicado principalmente ao primeiro filme e a cada detalhe, da concepção do roteiro até a recepção do público e da crítica.

    Os capítulos iniciais são dedicados a figuras centrais na criação da série, Sam Raimi, Robert Tapert e Bruce Campbell, estabelecendo assim o elo de amizade, que existe até hoje, entre eles. Ademais, conhecemos um pouco do passado dos realizadores, suas experiências com cinema, como filmagens de aniversários, trabalhos de escola, pequenos curtas, e, por fim, o amadurecimento profissional de cada um.

    O longa-metragem Evil Dead é marcado por ser um grande filme cult do gênero e que revelou um grande diretor para o mundo. Mais que isso: conta a história de um grupo de jovens cheios de imaginação e talento, além, é claro, de insistência para o projeto ser concretizado. Essa perseverança já é marcada nos primeiros curtas, principalmente em Within the Woods, um filme de pouco mais de 30 minutos, com Bruce Campbell como protagonista se tornando um zumbi que passa a perseguir sua namorada. O curta de poucos recursos rendeu ótimas críticas a Raimi e sua trupe e preparou terreno para o que viria a se tornar Evil Dead.

    Outro ponto interessante da leitura são as influências que permearam a carreira de Raimi: muito longe de ser um aficionado pelo terror, o diretor sempre foi muito mais influenciado pela comédia (principalmente Os Três Patetas, que ele e Campbell adoravam) do que necessariamente por outros gêneros. Essa influência fica bem clara em Evil Dead. Contudo, após muitas conversas com Rob Tapert e o fracasso do curta It’s Murder, entendeu que o terror seria a melhor maneira de lhe abrir uma porta inicialmente, haja vista o baixo custo de produções como O Massacre da Serra Elétrica, de Tope HopperA Noite dos Mortos Vivos, de George Romero; O Aniversário Macabro, de Wes Craven; Halloween – A Noite do Terror, de John Carpenter, todos bem recebidos pelo público e de diretores em início de carreira.

    Dessa forma, Raimi passou a estudar o gênero e esses estudos encontram-se na sua série e em toda a sua filmografia. Um trabalho competentíssimo de resgate não só de filmes clássicos, como também de filmes b, trash’s e cult’s, denotando o compromisso e a paixão de Raimi pelo cinema. Outro ponto importante em toda a obra é a forma como ele encara sua técnica como cineasta, sempre buscando novas formas de filmar por meio de diferentes ângulos, equipamentos e outras tecnologias.

    O processo de criação de toda a série é minuciosamente detalhado pelo autor, desde a dificuldade em levantar o dinheiro da produção; as filmagens; a problemática montagem do filme, já que Raimi e seu perfeccionismo deixou Evil Dead com dezenas de horas de filmagem (Joel Coen e Edna Paul foram os responsáveis pela montagem do primeiro filme); todos os problemas de censura que o filme passou; como também a sua distribuição.

    O livro conta ainda com dezenas de imagens de bastidores, entrevistas, além de três capítulos finais com os comentários de Bruce Campbell sobre cada obra da série, uma espécie de versão comentada. Por isso, aconselho o leitor a rever os filmes acompanhado do livro, já que Campbell revela vários detalhes e segredos de como as cenas foram concebidas.

    Evil Dead – A Morte do Demônio, da editora Darkside Books, é um livro surpreendente não apenas para fãs da série e de filmes de terror trash, mas também para os fãs do cinema, e fundamental para entender um pouco a cabeça de um grande diretor. Admirável.

    Compre aqui: Edição Simples | Limited Edition.

  • Crítica | A Roda da Fortuna

    Crítica | A Roda da Fortuna

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    A Roda da Fortuna (The Hudsucker Proxy) é o quinto longa dirigido e roteirizado pelos irmãos Coen (Sam Raimi também tem crédito como roteirista), e também um dos menos lembrados da filmografia de Joel e Ethan.

    A história começa com a chegada de um jovem entusiasta e idealista, Norville Barnes (Tim Robbins) à Nova Iorque dos anos 50, no auge do capitalismo americano, onde o sonho de vencer na vida movia gerações esperançosas após o pesadelo da 2ª Guerra Mundial. Paul Newman interpreta magistralmente o vilão e diretor das Indústrias Hudsucker chamado Sidney J. Mussburger, cujo objetivo era substituir o presidente da empresa, Waring Hudsucker, que havia se suicidado. Porém, como a empresa era valiosíssima, Mussburger decide abaixar o valor de suas ações e assim compra-la a um preço baixo. A fim de atingir seus objetivos, coloca como presidente Barnes, recém-contratado pelas indústrias Hudsucker.

    O filme apresenta bem os personagens, porém, a dinâmica entre eles e a demora na execução de seus planos, objetivos e interações, faz a narrativa perder um pouco do clima inicial. Os arquétipos clássicos são muito bem representados, como o trabalhador comum, o jovem idealista, o vilão poderoso, o conselheiro, dentre outros.

    Os diálogos possuem uma rapidez e fluência que remete aos filmes dos anos 50, ainda mais caracterizada na jornalista Amy Archer (Jennifer Jason Leigh). A linguagem corporal e trejeitos dos personagens, retratados de forma fiel, mas caricata ao melhor estilo dos Coen, nos faz acreditar que a Nova Iorque dos anos 50 foi mesmo um período mágico. Ainda assim a obra apresenta uma crítica ao capitalismo selvagem, em cenas ótimas, como a que os trabalhadores fazem um minuto de silencio pela morte de Hudsucker, mas são imediatamente avisados de que esse minuto será descontado de seus pagamentos. Além, é claro, da estilização do vilão e capitalista sem escrúpulos Mussburger e dos acionistas, tratados como meros instrumentos em suas mãos.

    Visualmente o filme atinge seus objetivos, com uma perfeita montagem e fotografia que lembra o cinema glorioso dos anos 50, com um ar de pastiche e comédia. Mas o drama de ascensão e queda de Barnes soa um pouco forçado, pois suas realizações e compreensões não parecem nos convencer em momento algum de sua veracidade, tornando tudo um pouco artificial. O humor negro e direcionado dos irmãos Coen aqui parece um pouco fora de contexto, não encaixando na história e no tom que a narrativa do filme sugere. As reviravoltas acontecem de forma artificial e uma rapidez que não fluem de forma natural para o espectador, tornando a boa experiência visual de seu início um pouco cansativa e enjoativa no final.

    Apesar de alguns defeitos, A Roda da Fortuna é uma história que envolve a sua maneira, valendo a experiência. Os Coen mesmo quando aparentemente erram, conseguem realizar obras acima da média.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.

  • Crítica | Oz: Mágico e Poderoso

    Crítica | Oz: Mágico e Poderoso

    oz - magico e poderoso - poster brasileiro

    Produzir uma regravação ou reinventar uma história, ampliando o universo conhecido, sempre necessita de cuidado. Quando maior o afastamento do filme original, mais cultuado ele pode se tornar, e uma releitura nem sempre pode ser positiva.

    Tim Burton arriscou-se duas vezes nesse terreno com A Fantástica Fábrica de Chocolates e Alice No País das Maravilhas, saindo-se razoavelmente bem no primeiro e destruindo a história original de Lewis Carroll no outro – dois exemplos que, embora tenham gerado rentáveis bilheterias, poderiam permanecer no mundo de possíveis ideias apenas.

    A história de Dorothy e o Mágico de Oz faz parte dos primórdios do cinema e marca-se também como o primeiro filme colorido. Talvez hoje a produção não tenha a mesma aceitação entre as crianças, sendo hoje um material mais próximo da adoração cult do que do entretenimento infantil. Como a história é baseada em uma série de livros do autor Frank L. Baum, era quase inevitável que, em algum momento, o argumento fosse retomado.

    Oz – Mágico e Poderoso, com direção de Sam Raimi e produção da Disney, homenageia explicitamente o longa original. Seus minutos iniciais são filmados sem cor, retomando a intenção de seu autor ao compor a história do Mágico de Oz, contrapondo Kansas, um estado cinzento e sem brilho, às cores vivas de Oz.

    James Franco personifica o mágico do título, dando lhe imensa credibilidade como um mágico picareta de um circo que, para evitar cobradores, foge com um balão que, após um tufão, para na cidade colorida coincidentemente chamada Oz. Neste momento, os efeitos especiais transbordam, dando espaço para personagens como um macaco falante e uma boneca de porcelana.

    Elemento comum em histórias mágicas envolvendo estrangeiros de outro mundo, a terra de Oz tem como profecia a vinda de um mágico que chegará ao local para salvar todos da tirania da bruxa má. O que seu povo não sabe é que Oz é um mágico de araque, dono de truques simplistas como retirar pombas da cartola.

    A primeira hora da produção é mais interessante, concentrando-se no mágico até sua chegada a Oz, onde conhece uma das bruxas da história, interpretada por uma estranha Mila Kunis. É nesse ponto que descobre se encaixar na profecia citada e, por saber que a recompensa vem em ouro, aceita a missão. Evidente que este será um dos elementos de transformação da personagem.

    Quando a trama eclode no tradicional clichê de um mundo de fantasia em que bem e o mal estão prestes a entrar em uma guerra, os efeitos especiais e o senso comum dominam. De um lado, a bruxa interpretada por Rachel Weisz tentando manter a tirania; do outro, o mágico Oz utilizando de sua inteligência malandra para produzir ilusões que convençam de seu poder de mentira.

    A direção de Sam Raimi mal se faz presente: seu estilo é perceptível em poucas sequências e planos, como se se curvasse aos efeitos especiais em excesso. Tudo muito brilhante, colorido em excesso, não repetindo o mesmo estilo da produção de 1939, que, ainda que com cores berrantes, mantinha harmonia cênica.

    Raimi informou que não pretende dirigir a sequência do filme, que já foi confirmada pela produtora. De nada vale escolher um diretor renomado se ele não terá espaço para imprimir seu estilo ao realizar o longa.

    A primeira aventura da releitura do mundo de Oz sustenta-se apenas pela boa interpretação de James Franco. Há especulações sobre quais personagens estarão na continuação, mas, aparentemente, a Warner ainda é detentora dos direitos da personagem Dorothy; portanto, podemos ficar aliviados. Seria uma ideia infeliz trazer a garota novamente para o mundo de Oz e destruir dessa maneira o argumento do filme original. É torcer para que o estúdio saiba a bobagem que fez com a trama de Alice e não cometa o mesmo erro nesta nova franquia.

  • Crítica | A Morte do Demônio

    Crítica | A Morte do Demônio

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    Remakes podem ter diversas motivações para serem feitos: quando um filme europeu ou latino-americano faz um sucesso inesperado e Hollywood aproveita para vender a ideia ao público americano que não vê filmes com legendas, porque um diretor quer revisitar sua própria obra ou porque parece rentável atualizar um clássico de outras épocas e vende-lo para novas gerações. A Morte do Demônio é sem dúvida o último caso: o filme que lançou Sam Raimi não foi exatamente refeito, mas relido, adaptado ao paladar de uma geração acostumada a zumbis realistas e computação gráfica.

    A história sofreu algumas alterações: agora o filme se centra em Mia, uma jovem que decide largar as drogas e para isso convoca seu irmão e melhores amigos para se internar em uma cabana enquanto ela passa pela abstinência. A tentativa de tornar os personagens mais profundos, mais dramáticos, faz com que o filme comece clichê, mas é um acerto de Fede Alvarez (o estreante que dirige o filme, produzido pelo próprio Raimi) manter essa história apenas como pano de fundo e usa-la quando convém para amarrar a trama dos demônios.

    O que se segue é a mesma coisa: os jovens encontram um livro encapado em pele no porão, sem querer liberam os demônios que habitam a floresta e durante 40 minutos os sobreviventes lutam por suas vidas. A Morte do Demônio sem dúvidas começa fraco, uma explicação desnecessária para os demônios na floresta, a menina viciada, o drama entre ela e o irmão, as atuações ruins, tudo isso soa como Stigmata, Na Companhia do Medo, ou qualquer filme de terror supostamente profundo e sem graça, mas quando o sangue começa a jorrar na tela, Alvarez se encontra.

    Se havia algo de genuinamente perturbador na artificialidade do primeiro filme, aqui, ao menos em um primeiro momento, o terror vem por meio do realismo. As feridas e o sangue são realistas suficiente para que o espectador se incomode, a dor dos personagens causa uma reação real e por vezes a sala toda interage em expressões de nojo e aflição. Funciona, incomoda, mas falta charme, ironia, aquilo que tornou tão emblemático o original.

    Mas a violência escala rapidamente e o que era realista vai se tornando absurdo. Os personagens decepam os próprios membros sem qualquer apego e em jatos de sangue dignos de Tarantino, o filme assume definitivamente sua veia trash e demonstra porque é um remake que funciona.

    A Morte do Demônio não é fiel ao original, mas o tem sempre em mente: há pequenas referências divertidas, como um moletom da Michigan University, a personagem que desenha e mesmo a forma do colar que o irmão de Mia dá de presente a ela. E se por um lado existem alterações de roteiro, por outro Alvarez chega até a repetir planos de Raimi e toda sua decupagem é uma homenagem ao cineasta. A consciência que o diretor tem de seu trabalho e do objetivo de seu filme também ajudam.

    Alvarez sabe que precisa vender, sabe que o que está fazendo é tentar atrair uma audiência fascinada com The Walking Dead para os filmes de terror e quem sabe dar novo fôlego comercial ao gênero e ironiza suas próprias saídas fáceis. Ele dá uma trilha sonora brega e planos com cara de anos 80 a cena mais emocionalmente dramática do filme, faz sua protagonista arrancar o braço de baixo de um carro como se fosse borracha e termina tudo com uma chuva (literalmente) de sangue. É nojento, irreal e sim, ruim, mas é exatamente isso que se espera de A Morte do Demônio e funciona.

    No fim, o remake não é inventivo, ou original como o filme de Sam Raimi, mas não o perde de vista, honra sua memória e assume com dignidade o trabalho de atualiza-l0 e devolve-lo a vida. Cumpre sua função de incomodar, entrega a quantidade de sangue esperada e, mesmo sem a ironia fina do primeiro, diverte.

    Texto de autoria de Isadora Sinay.

  • Crítica | O Espetacular Homem-Aranha

    Crítica | O Espetacular Homem-Aranha

    Fazendo uma analogia bem óbvia, assistir O Espetacular Homem-Aranha pode ser comparado facilmente à experiência de andar numa montanha russa. Não pelas grandes variações dentro da trama – uma vez que não há muitas, já que se trata de mais um filme de origem – mas muito mais pelos altos e baixos da qualidade do roteiro, com um equilíbrio assustador entre os dois lados. Primeiro, vamos aos melhores momentos.

    Logo de cara, é possível fazer uma afirmação: a escolha de Andrew Garfield para o papel de Peter Parker foi um acerto superlativo. Em sua interpretação, ele concede fragilidade e senso de humor em níveis bem mais profundos que Tobey Maguire, protagonista da trilogia anterior, que também já havia feito um bom trabalho. Os momentos nos quais são mostrados o peso da responsabilidade que acompanha os poderes recém-adquiridos são particulamente interessantes na interpretação de Garfield.

    Se por um lado as cenas de ação perderam o tom épico impressos pelo trabalho de direção de Sam Raimi nos três primeiros filmes – quem não se lembra do momento no qual Tobey Maguire para um trem usando o próprio corpo em Homem-Aranha 2? – , as mesmas agora são mais frenéticas e cortadas num ritmo mais acelerado.

    Isso não acontece por acaso. Como se sabe, esse novo filme mira num público bem mais jovem, menos interessado em planos longos e demorados e bem mais ávido por ação desenfreada.

    Sim, a ação está lá. Mas o diretor Mark Webb (500 Dias com Ela) não comete o erro de focar a história apenas nela, dando boa profundidade emocional a Peter Parker; seja por meio do enigma que envolve o desaparecimento de seus pais, seja na relação não necessariamente tranquila com seus tios Ben (Martin Sheen) e May (Sally Field), seja na dificuldade de aproximação com seu interesse romântico, Gwen Stacy (Emma Stone).

    Infelizmente o mesmo não acontece com a representação do doutor Curt Connors (Rhys Ifans), alter ego do vilão deste episódio, o Lagarto. As variações motivacionais dele parecem muito mais fruto de um personagem mal construído que de um trabalho mais rico de caracterização. O vai-e-vem de sua postura em relação a Peter Parker e às circunstâncias que o cercam fragilizam a sua presença.

    A situação se agrava quando o próprio Lagarto surge em cena. A aproximação visual aos movimentos do réptil que lhe concedeu os poderes é um ponto positivo da produção. Mas paramos por aí. O inimigo do Homem-Aranha aqui é retratado de forma civilizada, reflexiva e até mesmo excessivamente estratégica. Ele fala, raciocina e planeja, uma postura muito mais próxima a um Doutor Destino que à natureza original do personagem.

    O Lagarto é – ou deveria ser – uma máquina assassina e devastadora, exatamente como nos quadrinhos. Para os que não o conhecem, vale a pena procurar por Tormento, microssérie (apenas dois episódios) do Homem-Aranha escrita por Todd Mcfarlane lançada aqui no Brasil na primeira metade dos anos 1990 pela Editora Abril. Ali, o Lagarto aparece em toda a sua natureza bestial.

    Da maneira como foi retratado no filme, entretanto, o personagem provoca muito mais simpatia que horror.

    Há furos de roteiro graves. Um dos piores ocorre numa constrangedora e forçada cena que envolve guindastes, já próximo ao fim do filme. Nela, numa tentativa desesperada de mostrar a simpatia e agradecimento que alguns habitantes de Nova York começam a demonstrar pelo cabeça de teia, os roteiristas extrapolam todos os limites da suspensão de descrença em favor de um momento “edificante”.

    Avaliando friamente – como, aliás, toda crítica a uma obra deveria ser – fica evidente que Sam Raimi possui muito mais recursos como cineasta que Mark Webb. Este último faz um bom trabalho. Mas a mão para composição e enquadramento de Raimi está anos-luz à frente do novo diretor.

    E já que mencionamos os dois realizadores, chegamos a um ponto igualmente importante: é muito difícil – na verdade, quase impossível – assistir o novo filme sem compará-lo à série anterior. E isso ocorre por um motivo bastante óbvio: além de ter sido bem realizada (com exceção da dispensável terceira parte, de 2007), a primeira trilogia é muito recente e, sem dúvida, ainda está impressa nas mentes dos fãs. Até mesmo porque seus episódios são repetidos exaustivamente nos canais de TV por assinatura.

    Em última análise, O Espetacular Homem-Aranha funciona bem para o que se propõe: um reboot da série do aracnídeo no cinema. No entanto, ao fim do filme, fica a sensação de que o que poderia ter sido ótimo foi apenas bom.

    Texto de autoria de Carlos Brito.

  • Crítica | Arraste-me para o Inferno

    Crítica | Arraste-me para o Inferno

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    Sam Raimi é um desses diretores que alçou o seu lugar na indústria pela criatividade empreendida em seus trabalhos, isso está explícito em sua série que o tornou visível para a Hollywood. Evil Dead ou Uma noite Alucinante, como ficou conhecida por aqui, era uma filme de terror que mesclava efeitos especiais paupérrimos, com um roteiro de terror simples mas extremamente funcional, tudo isso somado a doses de humor que beiravam o ridículo, e assim tornou-se um dos grandes nomes do chamado cinema “Terrir”.

    Com o tempo, Raimi abandonou o seu cultuado Evil Dead e foi se aproximando cada vez mais a um cinema hollywoodiano sem deixar sua veia autoral de lado, mas abandonando um pouco o gênero que o havia sido consagrado, porém, em 2009 ele retorna com Arraste-me Para o Inferno, um retorno ao passado em grande estilo.

    A história do filme é focada em Christine Brown (Alison Lohman), uma jovem simpática que trabalha em uma instituição financeira que com o tempo se vê obrigada a mudar o rumo de sua vida e se tornar uma pessoa mais ambiciosa, após seu chefe colocá-la em uma competição direta com seu colega de trabalho para uma oportunidade de promoção em seu emprego. Após ser pressionada pelo seu chefe de não conseguir tomar decisões difíceis, Christine nega um crédito para uma senhora idosa, e com isso faz com que ela perca seu imóvel.

    O que Christine não sabia era que essa senhora na realidade era uma feiticeira cigana, e que após se humilhar e ter seu crédito negado, um feitiço é preparado para a jovem. A maldição da Lâmia, que consiste em três dias de tormentos e ao fim desse terceiro dia, ela seria arrastada para o Inferno de onde não sairia mais.

    Raimi acerta em cheio, ao utilizar um tema que está tão em voga nos dias atuais como uma metáfora em seu filme. O capitalismo desenfreado, o desapego ao próximo e a crise econômica que tem assolado o mundo são colocados nas entrelinhas do longa, acrescentando um ponto para reflexão, que os mais atentos não deixarão passar despercebido. E tudo isso fica claro quando o banco em que a protagonista trabalha nega o crédito para a senhora, tomando seu imóvel e em decorrência disso, sua vida. O desespero da cigana em perder sua casa é o mesmo de Christine em lutar pela sua vida, custe o que custar.

    O trabalho de direção de Raimi é impecável, usando planos originais e com precisão, com um destaque para a cena entre o duelo entre dois carros, além de tantas outras tomadas que utilizam do clima sombrio na medida exata, e esse é o grande mérito do diretor, saber que o terror está em criar o clima proporcionando uma tensão que acarretará no susto, e não abusando de efeitos especiais e cenas de violência desmedidas.

    O elenco funciona muito bem, principalmente com sua protagonista, Alison, que funciona perfeitamente como a típica heroína de filmes de terror, porém, com personalidade, repleta de ambições e frustraçoes, defeitos e qualidades, enfim, uma personagem de verdade, não os estereótipos das atrizes de terror. O filme ainda arruma espaço de destaque para os coadjuvantes, entre eles, Justin Long, que interpreta o namorado de Christine, tendo uma boa química com o personagem. Lorna Raver interpreta a Sra. Ganush, a cigana/bruxa que faz o papel da antagonista da história, simplesmente medonha.

    Arraste-me para o Inferno prova para àqueles que não acreditavam que Sam Raimi teria a mesma vitalidade de antes e vem como um dos principais filmes de terror de 2009, não deixando de lado sua mescla de cenas assustadores e beirando ao gore, para logo depois dar uma aliviada com algo engraçado. Que Sam Raimi nos surpreenda dessa forma sempre.