Tag: emma stone

  • Crítica | Cruella

    Crítica | Cruella

    Navegando na onda de live actions da Disney que adapta seus clássicos para novas versões, Cruella de Craig Gillespie mira remontar a história da Cruella De Vil, vilã do clássico 101 Dálmatas, como uma espécie de anti-heroína mal compreendida, tal qual ocorreu com Malévola anos antes. O filme protagonizado por Emma Stone é estiloso, tem uma edição semelhante aos populares videoclipes da MTV típicos dos anos 90, e se vale de uma trilha cheia de sucessos do rock e do pop para exibir a história de Estella, uma garota que ainda na infância, em 1964, perde sua mãe em um momento de confusão com a Baronesa (Emma Thompson).

    Narrado em primeira pessoa pela protagonista, o filme da um salto de dez anos e apresenta a personagem se dedicando ao sonho de ser estilista tal como a Baronesa, alguém que a antagoniza. Além disso, Estela passa o restante do tempo em trambiques com dois ladrões que conhece ainda criança, após se tornar órfã.

    O roteiro é simples. Apresenta-a negando a própria identidade, pintando seu cabelo bicolor de preto e branco, como era no desenho original de 1961, como um disfarce, fingindo-se de normal. Mostra o trauma sofrido ao lado da mãe e, lógico, trata de uma história de vingança de personagens bem parecidos. Porém, em nenhum momento ela é pintada como uma mulher má, maquiavélica ou algo que o valha, por mais que hajam algumas sugestões disso durante a história.

    Os aspectos negativos englobam a narração extremamente expositiva e irritante que Stone protagoniza. Além do excesso de efeitos digitais ao mostrar os animais. O intuito de não colocar pets em risco faz com que o filme soe artificial. Os cães se encaixam mal em cena, não tem consistência, parecem bonecos. Sob esse aspecto, o filme não fica bom nem quando é comparado ao recente A Dama e o Vagabundo, feito direto para o streaming no Disney +, com um orçamento mais enxuto.

    Além da questão visual, há outros elementos que comprometem a suspensão de descrença dentro da trama. No intuito de vingar sua mãe que morreu sendo acusada de roubar, Estella resolve roubar para sobreviver, trazendo a estranha mensagem de que a natureza de sua família é a contravenção. Outro grave pecado é fazer o publico simpatizar pela personagem e depois nos levar a acreditar que ela maltratou e assassinou os cães, para somente depois mostrar que isso era um despiste. Tudo é bastante inverossímil e barato e piora em perspectiva quando se percebe o amontoado de clichês que rodeiam os personagens periféricos.

    Apesar da beleza dos figurinos, cenários e fotografia do filme (afinal, se o foco narrativo é na moda, é preciso sim cuidar de aspectos de imagem do longa), e do desempenho carismático de Stone,  o texto não acompanha isso. Nada faz crer que a personagem da Baronesa, com os olhos meticulosos de uma estilista, não perceberia o ardil de Estella-Cruella. O passado da personagem central apela para a melancolia, e ainda se acovarda em unir o seu drama com a velha condição de filiação maldita, que piora ao ser comparada com a fracassada tentativa de Cruella em soar dicotômica.

    Thompson ao menos entrega uma boa vilã, mas o resto do elenco é sub aproveitado, incluindo ai Mark Strong que parece mais um substituto a Stanley Tucci no começo da carreira, como o bom mordomo inglês, outro jargão do cinema moderno. Cruella erra muito na pretensão. Seu texto é simples mas apegado demais a formulas. Tenta embalar sua história com músicas e narrações como as obras de Martin Scorsese e como foi com o recente Coringa, mas não tem peso ou consistência para sustentar essas comparações. Ao contrário, parece um pastiche de uma personagem icônica.

  • Crítica | Zumbilândia: Atire Duas Vezes

    Crítica | Zumbilândia: Atire Duas Vezes

    Dez anos atrás em 2009 estreava o surpreendente sucesso Zumbilândia, comédia rasgada e de humor negro que reciclava o exploitation recente de zumbis. O filme de Ruben Fleischer foi bem recebido e acabou ficando marcado por ter um elenco afiado e que faria muito sucesso, ao menos no caso de três de seus quatro protagonistas. Depois de uma série  que não passou de um piloto malfadado, finalmente o diretor de Venom retorna, para apresentar Zumbilândia Atire Duas Vezes, reforçando uma das regras estabelecidas por seu protagonistas, Columbus de Jesse Eisenberg.

    O quarteto está em crise. Wichita (Emma Stone) não quer desenvolver uma relação duradoura em meio a um mundo pós apocalíptico, Little Rock (Abigail Breslin) quer conhecer novas pessoas e encontrar um par e Talhahese (Woody Harrelson) tem um complexo paterno estranho em relação a LR, agindo como um pai super protetor e sufocante.

    É bem positivo que o roteiro sinalize que nem tudo está igual, ainda que as evoluções de drama dos personagens não escondam a reciclagem de conceitos. Columbus continua muito inseguro, as duas irmãs vivem fugindo e o homem de meia idade age como se estivesse sozinho, com dificuldades de socializar. Não há nada muito novo, mesmo os personagens novos são bem protocolares, exceção claro de Madison, uma bela menina vivida por Zoey Deutch que é bastante futil e burra, desafiando a ideia de que é preciso ser esperto para sobreviver.

    Há de destacar que os zumbis evoluíram, e ganharam novas classificações da parte  dos  heróis, e isso conversa diretamente com os últimos volumes da quadrilogia de George  A. Romero, em especial Dia dos Mortos e Terra dos Mortos. Há muitos momentos inspirados em matéria de “videoclipe”, como quando toca Master Of Puppets do Metallica, com cenas de violência em Slow Motion. Outros bons momentos incluem Columbus lendo as revistas de Robert Kirkman, The Walking Dead, e achando elas irreais demais. As alfinetadas em outros produtos de zumbis são bem encaixadas, assim como as brincadeiras com os doppelgangers dos personagens originais e a chacota com pacifistas e Justice Warriors.

    Em determinado ponto o longa se torna um road movie que visa a direção de uma adolescente confusa. A abordagem em cima das mudanças típicas da puberdade é apresentada de maneira bem engraçada.

    Há algumas coisas bem incomodas, como o fato das regras que Columbus estabeleceu pularem na tela de forma engraçadinha o tempo todo, fazendo lembrar os piores momentos do programa CQC, além é claro das referencias no final, com direito a Deus Ex Machina e desfecho típico de telenovela das sete, mas Zumbilândia: Atire Duas Vezes exagera o que deu certo no primeiro tomo, de maneira tão acertada que maximiza todas as boas sensações, com direito a uma cena pós crédito incrivelmente engraçada e esperada por quem curtiu o primeiro filme.

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  • Critica | A Favorita

    Critica | A Favorita

    Chega ao circuito brasileiro o filme A Favorita, do diretor grego Yorgos Lanthimos, o mesmo que há pouco tempo atrás lançou A Lagosta e O Sacrifício do Cervo Sagrado. Nesta nova historia, ele discorre sobre uma guerra de vaidades que ocorre entre duas mulheres que visam o posto de conselheira da rainha, isso tudo ocorrendo com uma bela reconstituição de época, com figurino, fotografia, direção de arte e afins dignas do clássico Barry Lyndon de Stanley Kubrick. No entanto, as semelhanças com o filme de 1975 param por ai, o que se vê é uma historia bem diferente, e um jeito de filmar igualmente diverso.

    Lady Sarah Churchill, interpretada por Rachel Weiss é, no momento que o filme retrata, a mulher mais próxima da rainha Ana (Olivia Calmon), seus dias se resumem a ter que aturar o mal gênio de sua majestade, enquanto manter seu posto como próxima dos nobres, papel esse obviamente bem pequeno e cordato. De viagem, chega a Abigail Masham de Emma Stone, uma criada que já nesse caminho é mostrada como uma personagem que não tem luxos, chegando ao palácio real em uma carroça apertada e repleta de gente. Quando se estabelece como serviçal ela passa mal enquanto aprende seu trabalho, e seu lamento casa com os choros mimados da rainha, que por sua vez, é capaz de um enorme chilique só por conta de um pesadelo.

    Lanthimos debocha dos ricos, mostra-os como mimados e usa ângulos de câmera diferenciados para registrar momentos comuns da vida de cada um dos personagens, há profundidade em momentos em que as pessoas andam a cavalo, varrem o chão ou simplesmente respiram, e esse exercício a principio parece despropositado mas valorizam os atos cotidianos de uma maneira ímpar exatamente para destacar esses como diferenciados que são . O cineasta busca a todo momento  retomar a forma diferenciada de contar historias, que basicamente encontra pouco eco em sua filmografia desde que fez Dente Canino dez anos atrás.

    Enquanto registra o desespero desnecessário da realeza, a trilha sonora tem músicas de sons agudos, que fazem lembrar as canções instrumentais dramáticas que permeavam o clássico remake de Scarface que Brian de Palma realizou. Essa sonoridade marca demais a rivalidade que aos poucos se estabelece entre Abigail e Sarah pela preferência da rainha, e na maioria dos momentos o que se vê é uma historia com um caráter bastante semelhante aos folhetins e as antigas radio novelas, com uma larga exploração da volúpia e de relações proibidas, onde as moças basicamente brigam para serem exploradas por uma pessoa poderosa e que ganhou suas regalias de maneira imerecida.

    Há momentos grotescos, não só envolvendo a figura do personagem de Calmon, mas também ao mostrar as manifestações de tesão da maioria dos poderosos. Por mais estranho que tudo isso soe, as lentes de Lanthimos parecem só se importar com as duas serviçais que disputam os anseios carnais da rainha, e nesse ponto mora o melhor do filme, pois tanto Weiss quanto Stone tem um desempenho excelente, ambas estão inspiradas e parecem mesmo desejar ter a atenção da soberana inglesa.

    Os  atos de crueldade  trocados entre as duas competidoras garantem um pouco de dinamismo a trama, e diferente do que havia feito em A Lagosta, Lanthimos não faz muitos rodeios e não tenta apelar para uma forma surrealista de contar historia, embora haja claro um bocado de imponderável nos fatos que ocorrem em A Favorita. Ao contrário do que muito se falou, esse é um filme bem menos arrogante e pretensioso que os anteriores, onde Lanthimos se permite usufruir de outras formulas, mesmo que a historia que tenho escolhido contar seja de pura frivolidade.

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  • Crítica | A Guerra dos Sexos

    Crítica | A Guerra dos Sexos

    A Guerra dos Sexos, novo filme de Jonathan Dayton e Valerie Faris, diretores de Ruby Sparks e Pequena Miss Sunshine traz consigo o ambiente do tênis profissional na biografia de Billy Jean King (Emma Stone), tenista multi-campeão de Grand Slams.

    O longa em suas mais de duas horas consegue reproduzir o esporte com bastante emoção, em sequências enquadradas em ângulos que dificilmente aparecem em produtos semelhantes. Os planos abertos só não são mais poderosos graças aos dublês que pouco parecem com os atores principais, mas ainda assim há um esforço enorme em situar visualmente o espectador no auge dos anos setenta, logo após a revolução sexual. Dessa forma, todo o discurso pró-igualdade entre os sexos se torna aceitável, mesmo para as platéias mais conservadoras.

    Talvez o problema maior do longa more exatamente nessa isenção, uma vez que ele tenta fugir tanto do discurso panfletário que aparenta estar em cima do muro o tempo inteiro. O mote em cima da partida entre o tenista aposentado e showman Bobby Riggs (Steve Carrell) é sub-aproveitado, basicamente porque não há um aprofundamento nem das questões graves que lhe ocorrem e nem das pessoas que orbitam ao redor dele.

    Ainda assim, há uma carga de diversão muito forte nos dramas mostrados, sem evidentemente desrespeitar as causas levantadas. A questão é que o abuso da linguagem arquetípica suaviza o viés libertário e simbólico do produto final, fato que o faz decrescer um pouco em qualidade aos temas propostos, o que é uma pena. Mesmo as razões que faziam Riggs ser arrogante em quadra são aproveitadas sem maiores potenciais, bem como a rivalidade da protagonista com o misógino John Kramer, interpretado por um Bill Pullman que aparenta ter vergonha de dizer o texto machista que lhe foi incumbido pelo roteiro. Nesse ponto, há de pelo menos se comemorar o quão repleto de barbaridades eram os assuntos e argumentos ditos nos anos setenta em relação a figura da mulher e as suas capacidades tanto de raciocínio quanto de competitividade, o que ainda assim é muito pouco para um projeto tão ambicioso.

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  • Crítica | La La Land: Cantando Estações

    Crítica | La La Land: Cantando Estações

    A carreira de Damien Chazelle ainda está no início. O musical La La Land: Cantando Estações é apenas o terceiro longa metragem até aqui, e o segundo no formato cantado, precedido pelo pulsante  Whiplash: Em Busca da Perfeição. A nova produção do diretor mira uma história metalinguística, levando em conta dois personagens bastante diferentes entre si mas com algo em comum: a paixão não correspondida pelas artes.

    O primeiro personagem mostrado é o pianista e aficionado por jazz, Sebastian (Ryan Gosling), um homem belo, talentoso e genioso, que anseia por construir seu próprio bar de jazz, para poder reverenciar em paz seus ídolos que ficaram no passado. Sua trajetória envolve a aceitação de empregos degradantes e supressão de seus sonhos e talentos em detrimento de ganhar dinheiro com o que gosta de fazer, fator que se repete também na jornada de Mia Dolan (Emma Stone), uma atriz também frustrada que sempre vai mal nas audições de dança e que trabalha em uma cafeteria.

    Já na primeira cena, em meio a estação invernal, há um número belíssimo de canto e dança, com as pessoas se retirando dos carros engarrafados em uma via de Los Angeles, celebrando um dia de sol em meio a estação que deveria ser a mais fria do ano. Nesse momento já se estabelece o cenário de muitas luzes, holofotes e contato direto com as celebridades e com as locações hollywoodianas, soando irônica essa proximidade, uma vez que o fato dos dois personagens – e de tantos outros que o cercam – viverem sob aquela localidade não garante a eles uma facilidade maior para a realização das suas aspirações.

    Diferente de Whiplash, a via crucis para o auge do artista não é mostrada sob um olhar megero e de extremo sacrifício, embora haja sim uma enorme dose de entrega dos protagonistas, que demoram inclusive a engrenar o romance entre ambos, a despeito até da química previamente estabelecida entre Stone e Gosling, que já contracenaram em Caça aos Gângsteres e Amor à Toda Prova. O enlace entre os dois somente ocorre após algumas insistências, dificuldades essas que facilitam a empatia do público com a dupla.

    Chazelle consegue misturar bem os elementos triviais com os mais rebuscados em seu roteiro. Ao mesmo tempo em que todas as coincidências soam naturais os comentários metalinguísticos também, em especial no destino reservado a Mia, trajetória essa que lembra demais a do próprio cineasta, que antes de conseguir elevar seus textos a um patamar premiável, teve que se submeter a trabalhar nos scripts de filmes visivelmente menos inspirados, como os de Toque de Mestre e O Último Exorcismo Parte 2. As ligações entre autor e obra se dão principalmente na parte final do caminho que Mia percorre, mas os acontecimentos não são descuidados ao ponto de deixar a série de eventos soar banal ou sem emoção, todo o percurso é extremamente cativante e surpreendente em cada fato.

    Muito se fala do desempenho de Stone, que normalmente é deixada de lado por grande parte da crítica por não ter uma beleza típica das mulheres fatais. De fato em La La Land todos os esforços de trabalho e feições da moça funcionam a perfeição, já que ela varia entre a menina comum e de repertório extraordinário e é bonita na medida para deixar qualquer homem encantado com sua docilidade. Mas é a Gosling que resta o melhor papel, e após um hiato de atuações arrebatadoras é muito gratificante observar os seus trejeitos e suas respostas rápidas para as mais diversas situações, principalmente as cômicas. Suas manias e obsessões o tornam um sujeito irresistível e carisma magnético. Apesar dos dois atores já terem uma história de trabalho em conjunto antiga, é aqui que ocorre o ápice da performance romântica, que varia entre o melodrama, a paixão gratuita e o agridoce típico do destino.

    Musicais normalmente tem uma dificuldade para findar suas histórias, e mais uma vez La La Land foge à regra, já que é nos momentos finais que se gera a discussão mais madura e poética do longa, pondo de lado a vaidade e os sonhos mais infantis em comparação com a obrigação adulta de ter uma renda. A aceitação do destino e a visão plena de que para se realizar a maioria dos sonhos é preciso ser pragmático e escolher vias menos agradáveis são elementos que tornam o argumento bem inteligente, tornando-o imune a maioria das críticas ranzinzas que sofreu no início das exibições testes. O modo como é conduzido a cisão com os sonhos idílicos mostra o quão cruel pode ser a vida, expondo uma realidade crua e que não permite que algumas idealizações andem lado a lado.

    A mensagem final é explicita de que é preciso escolher um rumo para prosseguir, e de que observar o passado com nostalgia pode até ser prazeroso, mas ainda assim é um exercício fútil e sem sentido. Impressiona como esse recado soa tão harmônico com uma proposta tão poética e doce, fazendo lembrar o espectador que apesar de doer deixar passar os sentimentos mais profundos da alma humana, ainda é possível suplantar esse vazio com outros suportes emocionais, sem necessariamente se apoiar em placebos ou em discursos fáceis de aceitação da dor e da perda.

  • Crítica | Homem Irracional

    Crítica | Homem Irracional

    Homem Irracional 1

    Baseado na aleatoriedade da filmografia recente de Woody Allen, que apresenta quase sempre um filme interessante seguido de um rançoso, Homem Irracional é tão assertivo quanto uma bala que penetra a testa após uma roleta russa. O trailer e materiais promocionais apontavam para mais uma simples história de superação, onde o deprimido e resignado escritor e mestre Abe Lucas – executado por Joaquin Phoenix em uma forma rotunda quase irreconhecível – chega a um novo ambiente: uma universidade pequena para lecionar, onde conhece a jovem e apaixonante Jill (Emma Stone), que provocaria nele uma virada de perspectivas, comum em tantas comédias românticas recentes.

    O fato da premissa se assemelhar com a do filme de Marc Lawrence, em seu  recente Virando a Página, quase fez o filme sofrer o mesmo estigma que A Origem sofreu quando teve seu drama comparado ao de A Ilha do Medo. Mas o paralelo só serviu de despiste, o primeiro de tantos outros, uma vez que o argumento não se rende a essa solução fácil de inspiração baseada em outrem para funcionar.

    A saída para a crise existencial de Abe não é ligada a libido, ou ao frescor causado pela volúpia de consumir “carne nova”. Pelo contrário. Suas mudanças posturais ocorrem em decorrer da nova motivação que toma para si e para os efeitos que seguem após suas atitudes mais enérgicas na tentativa de mudar o status quo – ou ao menos é esta a desculpa que o homem entrega para si.

    A escolha de Allen por um estilo diferenciado em Homem Irracional se prova uma saída excelente para a mesmice que sua filmografia insistia em cair, dando um motivo metalinguístico plausibilíssimo para a verborragia que normalmente permeia suas obras. Justifica até as narrações variadas entre Jill e Abe, em um resgate e quase homenagem  a tradição de Scorsese vista em Os Bons Companheiros, ainda que o mote e os significados sejam bastante diferentes neste do que foi no pretenso filme de máfia, guardando algumas poucas e notáveis semelhanças entre os dois produtos.

    O texto tem bastante do conteúdo ideológico de Um Homem Sério, ainda que as semelhanças pareçam muito mais ideias que ululam pela cabeça do roteirista do que influência direta. O caráter da discussão no entanto é muito parecido, como se fossem estes parentes distantes, cujo ideário cresceu similar apesar da gritante distância entre um e outro.

    O jogo de cores que Woody Allen escolhe tanto nos figurinos quanto nos cenários faz com que todo o falatório sirva apenas para explicar, para as plateias menos ávidas pela temática de mistério, o que transcorre na tela, como um autêntico mcguffin, tão comum nos filmes de suspense. A tonalidades das vestimentas de Abe evoluem para tons fortes, com o decorrer de sua mudança ideológica, passando de tons átonos para grafismos mais vívidos e claros, retornando a tons graves após as tomadas de decisões polêmicas que tomam. Todas as transformações espirituais que acometem o personagem são notadas pela sua mudança de vestuário, aspecto que também acolhe Jill.

    O estigma visual torna o roteiro ainda mais inteligente, valorizando o acaso primeiro em relação ao conteúdo teórico, e depois refutando a questão instintual, discussão esta tão repetida nos diálogos, mas que somente ganha contornos reais quando mostrado no ecrã, sem descrições de falas. Quando a imagem diz tudo por si só. Allen faz um brilhante retorno aos primórdios do cinema mudo, em que a narrativa imagética era o suficiente para entreter e embasbacar seu público, e no qual o inverter de expectativas era um aspecto básico da arte.

  • Crítica | Sob o Mesmo Céu

    Crítica | Sob o Mesmo Céu

    SOB O MESMO CÉU 1

    O começo da nova obra de Cameron Crowe, Sob o Mesmo Céu, remete a cenas gravadas por cinegrafistas amadores, revelando momentos de descontração na ilha do Havaí no descanso de férias, bem como a interação dos nativos com o belo lugar. O efeito seria de comoção e nostalgia, não fosse o tom exageradamente caricato piorado em muitos níveis pela narração intrepidamente óbvia, que discorre sobre a tardia corrida espacial dos anos 2010.

    O roteiro de Crowe apresenta uma quantidade enorme de clichês, desde a construção dos personagens até as situações comuns que vivem. Bradley Cooper vive o oficial Carson Welch, que vive sua rotina medíocre vendendo um estilo de vida essencialmente capitalista, negociando possíveis localidades para testes espaciais e já em uma fase decadente de sua carreira. Designada para “vigiar” Welch, a Capitã Ng (Emma Stone) exibe sua feminilidade jovial, escondida sob uma capa de militarismo poser, falsa em cada mínimo aspecto. Inicia-se, assim, uma interação romântica na qual a falta de química prevalece.

    A chegada à ilha paradisíaca faz lembrar o drama vivido em Os Descendentes, reprisando inclusive a questão da vivência dramática em um lugar onde memórias boas são geradas por turistas. Carson reencontra um grande amor, e se vê em uma posição espinhosa, mas toda a problemática sentimental apresentada é pobre e sem conteúdo, mesmo que a atmosfera construída seja a de um lar de rancores, tristezas, abandonos e ressentimentos. Falta alma e verve ao roteiro, que destoa de todo o panorama mostrado em tela, diferenciando-se até da bela fotografia de Eric Gautier, que consegue ser bela apesar da paleta de cores completamente tresloucada.

    Toda a questão ideológica relacionada ao engano aos nativos e os argumentos pró-armamentistas impulsionados por bilionários ficam em um plano subalterno para explorar o rocambole novelesco do trio (quarteto, se contar a personagem de Stone) entre Carson, Tracy (Rachel McAdams) e o atual marido desta, Woody (John Krasinski). Este último, curiosamente, é a personagem mais bem trabalhada e com nuances: não possuindo muitas falas, sua comunicação quase sempre é realizada através de gestos e olhares. Mesmo com todo o aspecto curioso, as situações são bastante frívolas e sem substância. Uma mensagem democrata barata, que acaba sendo apenas ideologicamente banal. Até se destacam momentos nobres, como a luta contra o avanço imperialista, mas estes se perdem por completo diante da barata tentativa de redenção moral de Sob o Mesmo Céu.

  • Crítica | Caça aos Gângsteres

    Crítica | Caça aos Gângsteres

    caca_aos_gangsteres

    Imagine-se em um bar. Daí aparece aquela mulher linda e maravilhosa. Você fica olhando de longe, admirando seu charme, seu sorriso, sua beleza estonteante e começa a achar que ela é especial. Única. Então você se aproxima e começa a conversar com ela. Em poucos minutos percebe que ela é superficial e comum. Essa é a sensação provocada por Caça aos Gângsteres. O filme tem muito estilo e apresentação pra pouco conteúdo.

    Passado em 1949, o impiedoso mafioso nova iorquino Mickey Cohen, vivido por Sean Penn, comanda com braço de ferro o crime organizado na cidade de Los Angeles. Sua influência vai além dos criminosos comuns, chegando ao escalão da polícia e aos políticos da região. Porém, um pequeno grupo de policiais liderados pelos sargentos John O’Mara e Jerry Wooters, vividos respectivamente por Josh Brolin e Ryan Gosling, resolve desmantelar a organização de Cohen.

    A trama é um completo decalque de Os Intocáveis, o já clássico filme dirigido por Brian De Palma. Porém, as semelhanças param por aí. Não vou comparar os dois filmes, vou apenas estabelecer alguns paralelos. Enquanto Eliot Ness e seus companheiros eram personagens bem delineados, com motivações profundas e críveis, nesse aqui as motivações são as mais mundanas possíveis. Um não quer que o filho ache que ele não fez nada enquanto a máfia dominava, o outro é o detetive que reluta em entrar no grupo e por aí a banda segue.

    O elenco estelar encabeçado por Gosling e Brolin tem atuações rasas, ainda que existam alguns breves momentos inspirados, mas nada além disso. Em nenhum momento o espectador consegue sentir empatia pelos heróis, chegando até mesmo a uma certa indiferença ser despertada.  É possível que os personagens profundos como um pires tenham influenciado nesse aspecto. Nem Sean Penn se destaca em meio às interpretações desfiladas na tela. Aliás, chega a dar pena a sequência em que o oscarizado ex-marido da Madonna tenta emular o icônico Tony Montana (Al Pacino em Scarface, outro filme do Brian De Palma). O diretor Ruben Fleischer não soube aproveitar o material humano que tinha em mãos. As cenas de ação são genéricas e não empolgam. Fora que a trilha sonora é completamente equivocada. Em vez de elevar a tensão da cena, dá nos nervos do espectador.

    O ritmo do filme é até interessante, sem muita enrolação, indo direto ao ponto. O diretor faz um uso interessante da câmera lenta em algumas cenas. Porém, os clichês vão se amontoando pelo caminho. Um fato é intrigante: os personagens são policiais, estão trabalhando à margem da lei, são conhecidos pelos bandidos da cidade, não usam máscaras pra fazer as batidas nos locais “secretos” onde a bandidagem opera, e custam a ser identificados mesmo frequentando bares e restaurantes apinhados de meliantes. É algo que não faz muito sentido e acaba passando batido no roteiro. Como ponto positivo, temos a impecável ambientação de época. A Los Angeles recriada é maravilhosa e os  figurinos são de encher os olhos. A direção de arte, de efeitos especiais e a cenografia merecem parabéns.

    Caça aos Gângsteres poderia ter sido um filmaço. Só conseguiu ser esteticamente lindo. Faltou cérebro nele. Cultuaram demais o corpo e esqueceram da mente.

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  • Crítica | Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)

    Crítica | Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)

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    Como é bonito ver uma câmera de Cinema, sendo que só ela atinge a magia a seguir, flutuando do palco aos bastidores num balé muito mais que espacial entre duas nebulosas paralelas – de certa maneira, após uma reflexão de ônibus – bastante inconfundíveis. Talvez seja o teatro, bom e velho reino que suporta e abranda, com uma concordância mais segura sobre todas as outras bases, a alma de um artista posto que venha a ser o que for, numa relação de amor e ódio, concebível e perpétua, refletindo a atração e a repulsa que, seja a vida, seja a arte, sente pelo oposto de cada uma desde eras paleolíticas. Se o Cinema não aguentou ficar no preto e branco e teve que buscar os matizes expansivos do CinemaScope em testamentos revolucionários (tal Os Sapatinhos Vermelhos (1948), um marco histórico de Michael Powell do uso colorido do sentido visual e inspiração de influências soberbas, tipo Os Amores de Pandora (1951), Delírio de Loucura (1956), A Balada de Narayama (1958), ou Yimou Zhang e seu quente O Sorgo Vermelho (1987), primeira empresa do artista chinês), que dirá quanto o artista, seja ela fotógrafo, seja ele músico ou um gari de sítio público, digno sempre de ser maior que sua arte: sua vil e incorruptível semelhança sempre à prova – sempre. Primeiro, à mercê da fome de se tornar artista, aprender o aflito equilíbrio na margem da dúvida se de dia ou se de noite, cedo ou tarde, irá ou não padecer na triste analogia ao conto de Franz Kafka; ser alguém na vida é difícil, mas na arte é delírio de amantes. É a loucura de abrir a caixa de Pandora e espiar com uma lupa o conteúdo do seu plexo solar em noites quentes, em especial de lua cheia. Ser arteiro é a inadvertida sentença de ser o que é.

    Eu queria ser Michael Keaton, ou melhor, o Batman. Eu queria ser o Keaton com a roupa do Batman ganhando aquele beijo (no mínimo) de Pfeiffer e sua clássica Catwoman nos longínquos anos 90 – e também para trabalhar com Tim Burton quando ele sabia usar o taco. Porque, sério, nem o Batman é tão legal quanto Keaton, tanto quanto a pele por trás da máscara. Pele, crise e humanidade a atormentar a intolerância do Coringa que vive em todos nós, dividido em psicanálise e danação para a carga ser mais leve.

    Após assistir à obra de Alejandro Inãrrìtu, a versão talvez mais próxima que o Cinema já chegou dos quadrinhos de Watchmen, todo mundo quer descobrir A Inesperada Virtude da Ignorância, procurando, assim e a partir disso, o sentido por trás dessa metalinguagem galopante e infinita de um teatro e adjacências em Nova York, cheia de seres que precisam se esforçar para serem humanos, às vezes. Lá, onde encontramos o símbolo e os sons simbólicos, a alegoria contextual e o frisson de adentrar um filme que não se sabe o que fala mais alto, se são as palavras ou as ações, pois, afinal, é Iñárrítu. Birdman, o alterego do verdadeiro herói, pouco importa, pois se Federico Fellini focou no Guido, homem e artista (em )Billy Wilder na Norma, mulher e artista (em Crepúsculo dos Deuses), e Werner Herzog e Klaus Kinski além do doméstico e cênico, já nascidos sob aquela sentença, então que mal faz a ambição aos holofotes, quando regidos por quem refina a luz de meia dúzia de vórtices ambulantes?

    O que concluir quanto ao sentimento inesquecível de uma cena inesquecível, em prol de Keaton, homem, ator e personagem, diante de seu esquecimento e agora retorno ao apogeu de Hollywood, quando encontra um ator amador na rua, persona síntese de seu céu e inferno, sendo livre como o ator não se permite ser, sereno em exercício como a pessoa do ator não se deixa, aliás, nem diante de sua imagem num espelho qualquer. Iñárrítu é o típico cineasta masoquista com os arquétipos de suas histórias, mas em seu melhor filme reconhece que a vida já é canalha demais e parte para juiz da partida, impedindo apenas que tudo fique ainda pior, já que o abismo que surge da colisão entre a Vida e a Arte mais inerente não pode ficar. Não é uma questão de profundidade, isso vai de cada um. É pavimentar o terreno, para tanto, com tudo o que há de melhor e conceitual a favor da reciclagem de valores e experimentações de causas epifânicas, sejam quais forem, deliberada a pluralidade de intenções que superam qualquer outra obra do cineasta. Tudo oriundo de uma simplicidade existencial em forma de incógnita quântica. É preciso saber assistir à obra.

    Uma vez que o bendito travelling é uma questão de moral, o “plano-sequência” é do quê? De ética? Precisamos ser tão previsíveis assim? É claro que não. A vida não para. Hoje se está lá, amanhã no purgatório e depois, no espaço. A virtude da grande sequência de consequências na qual Birdman é conjurado, com ótimos e poucos cortes de cena, não só remete à hipnose provocada pela continuidade sensorial no Cinema e Teatro, verdadeira homenagem objetiva aos nobres fundamentos das artes em seu porão compartilhado, mas sobretudo: 1) respira na metáfora intervisual do ritmo urbano moderno; 2) na própria visão continuada do real para a ficção de um preciso artesão artístico; e ainda: 3) na proporcionalmente irônica conexão entre a vontade de se perder para enfim se achar – no desabafo em um bar com uma crítica teatral, ou no enfrentamento ou suplício carnal, como aspectos do natural em um mundo de fantasia, tão almejada como irresistível.

    Em suma: Iñárrítu, mais bem-sucedido do que nunca, apresentando a bússola de orientação de homens e mulheres num cenário de pura desorientação, de fato não poderia ter achado técnica mais certeira que a sequência infinita pelas escadas e camarins onde lirismo e pressão comercial vivem juntos, muito mal, obrigado, como todo jogo de interesses nada pequenos. Birdman é de uma atuação espetacular enquanto coletivo de atores pulsante e inebriante. Obra livre, pássaro livre de qualquer explicação singular. Não é um filme completo, mas é um dos poucos filmes americanos recentes que são tão completos e interessantes de se revisar quanto poderia, por fim, se impor e vir a calhar a algo ou a alguém.

  • Crítica | Magia Ao Luar

    Crítica | Magia Ao Luar

    Após uma longa e prolífica carreira, é absolutamente impossível desassociar a audácia e ineditismo ao ideal de um cineasta. Experimentar novos espaços e desafios diferentes do habitual é algo sempre cobrado de artistas que executam suas funções há muito tempo. A filmografia de Woody Allen é um bom exemplo a ser analisado, uma vez que o diretor já vivenciou mil infâmias fora do escopo artístico e  tantas outras declarações de que seu trabalho deveria ser cessado. Todos esses comentários são de origem e consequências discutíveis, e também foram baseadas na suposta aposentadoria  do diretor por tempo de ofício. Magia ao Luar chega sem muita pompa após um premiadíssimo filme. Não que o sucesso faça qualquer diferença para o seu realizador, que gosta de manter a discrição a reconhecer toda e qualquer canonização de suas obras.

    A história de Magic in Moonlight envolve o misterioso mundo do ilusionismo, focado em Stanley (Colin Firth), cujo sobrenome de difícil pronúncia muda de acordo com a ocasião e ao seu bel prazer. Stanley é um britânico caucasiano que interpreta um mago chinês conhecido como Wei Ling Soo, que no palco é carismático ao extremo, mas que tem em sua contra-parte um sujeito pretensioso, inteligente, genial em sua área e asqueroso no trato com outros seres humanos. Em suma, um misantropo.

    O começo do filme é típico, com uma música instrumental que remete ao ano de 1928, quando Wei Ling faz um show em Berlim, e onde os préstimos de beleza surreal do personagem principal são exibidos. Após a apresentação, Howard Burkan (Simon McBurney), um velho amigo de Stanley, também mágico, vai cumprimentá-lo. Sua compleição e comportamento são o extremo inverso de Stanley, pois Howard é inseguro, tem as costas arqueadas demonstrando ser uma presa fácil se comparado com o mito que está a sua frente. Woody Allen continua com a mania de se inserir nas tramas, ainda que sua presença esteja diluída em vários personagens, com Stanley fazendo o diretor idealizado pelo público e por parte dos críticos, enquanto Howard simboliza a sua visão sobre si mesmo: um velho americano careca, que apesar de ter muito talento, não se destaca mais do que o necessário, e ainda guarda uma série de hesitações provenientes de uma autoestima bastante baixa.

    O encontro entre os dois é basicamente para bajulação por parte de Howard e para a realização de um pedido, pois o experiente ilusionista diz ao seu amigo famoso que ele presenciou uma sumidade, uma moça que parece ter poderes mediúnicos e que, mesmo com todo o conhecimento do mágico, ele não conseguiu provar que ela era uma fraude. Após a recusa em primeiro plano, Stanley resolve assumir o pedido do amigo, e vai ao encontro da suposta charlatã.

    Como era de se esperar, o protagonista exala um sarcasmo extremo ao chegar no local onde deveria começar sua investigação. Sua alcunha falsa é uma representação do desprazer dele em exercer este fútil esforço para desmascarar outrem, e sua misantropia consegue ser percebida por todos ao seu redor, que se mostram imediatamente descontentes com tal desprezo. No entanto, ele prossegue naquela empreitada.

    O fino semblante da suposta advinha também era esperado. Sophie é interpretada por Emma Stone, que apesar de não ser uma figura de beleza tão destacada quanto outras musas de Allen, ainda assim guarda uma aparência de docilidade extrema, condizente com seus poucos anos de idade e com seu jeito meigo de tratar seus clientes, o completo inverso do ilusionista disfarçado. No entanto, já no primeiro contato com o veterano, a moça se afeiçoa pela figura dele.

    Stanley é definido por Sophie como um pessimista que, como Freud, não gosta de respostas fáceis. Chega a ser neurótico e deveras derrotista. Suas crescentes piadas escondem uma enorme carência: uma vontade de ser reconhecido por seus préstimos, além do desejo de receber elogios da imprensa e de especialistas. Entre todas as revelações, a questão amorosa é a que verdadeiramente o incomoda, uma vez que ele se mostra insatisfeito sempre que se refere ao seu par. Ainda que sua fala pareça elogiosa, suas feições contradizem o discurso.

    O ceticismo de Stanley segue firme, apesar de esbarrar nos talentos dedutivos da jovem. Sua deprimente existência – e a de toda humanidade – faz  com que ele não creia nem um pouco em um mundo metafísico, onde ectoplasmas definem a subsistência das criaturas racionais. No decorrer da trama, ele fica irritadiço ao perceber cada vez mais os poderes dela. O intuito do cineasta é dar um tapa na face dos céticos pretensiosos que se consideram superiores somente por não terem fé em nada.

    Os olhos azuis da dupla contemplam o céu também azul. A noite torna-se uma mostra muito mais positiva da observação do cosmo – e consequentemente da vida – do que era mostrado até então na película, muito disso graças às falas dos caracteres flagrados pela câmera. O intuito um tanto piegas desse ato é afirmar que, afinal, a vida não é tão previsível, nem os sentimentos podem ser enquadrados em um escopo tão matemático e exato quanto a pretensão humana às vezes insiste em definir.

    Aos poucos, Stanley cede, e a partir disso, todo o seu ideário muda. A desconstrução do niilista, começa apresentando novamente a fé no Divino em virtude do que se vê. Isso chega até a surpreender o espectador, mas a surpresa dura poucos instantes, pois não demora para que o britânico intua novamente que Sophie é uma fraude. A misantropia o fez enxergar a verdade por trás da traição. Novamente, seus “maus sentimentos” o salvam, como sempre fizeram. O otimismo continua a ser visto por ele como uma ilusão e perda de tempo. Um tempo inútil, empregado para o nada, muito semelhante ao modo que muitos misantropos, como Stanley, veem o amor e sentimentos semelhantes.

    No entanto nota-se uma evolução no comportamento do protagonista. Apesar de sua arrogância e rejeição a assumir suas falhas, ele reconhece ser caústico e desagradável. Sua análise parte de um viés realista, que o faz encarar o universo da mesma maneira com que enxerga que não precisava ser tão amargo ou azedo no tratamento daqueles que vivem em seu círculo. A superioridade do amor sobre os argumentos pomposos, e uma visão poetizada desse sentir não garantem que a emoção seja retribuída. Somente as relação afetuosas pragmáticas e insossas funcionam do modo apolíneo com que Stanley conduz suas relações.

    Talvez a única advertência taxativa que se pode fazer à condução do roteiro de Woody Allen seja a mudança de postura do protagonista. Não que não seja factível ou plausível, porque aliás, é carregada de verossimilhança, mas a expectativa era de que o personagem permanecesse em sua posição arrogante, acima das vicissitudes alheias. A opção por focar na crítica é um artifício inteligente, mas não é incomum para o diretor. Mais comum ainda é a atenção às facetas humanas que na maioria das vezes são ignoradas, como o diretor faz ao abordar a ostentação depressiva em Blue Jasmine e o enorme vazio existencial dos céticos em  Magia ao Luar. Quanto a esse aspecto, o filme é perfeito em seu molde.

     

  • Crítica | O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro

    Crítica | O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro

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    Imagine uma casa muito bem projetada. Quartos, sala, cozinha, banheiros, todos no lugar certo e com tamanho ideal. Mas na hora da decoração, algo sai errado. Alguns cômodos ficam bonitos e funcionais, outros parecem bregas e de mau gosto. Ou simplesmente horríveis mesmo. Agora substitua “casa” por “filme” e aplique o mesmo raciocínio. O resultado será a definição precisa desta segunda aventura do Homem-Aranha da nova geração. Aguardado com desconfiança devido à controvérsia que marcou seu antecessor, O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro consegue a proeza de acertar nos aspectos mais difíceis e falhar infantilmente nos mais fáceis.

    A narrativa é situada logo após os eventos de O Espetacular Homem-Aranha. A personagem está estabelecida como um herói já mais experiente e adorado pela maioria dos nova-iorquinos. Peter Parker já está ganhando uns trocados vendendo fotos para o Clarim Diário (que aparece só através de menções, assim como J. Jonah Jameson) e segue namorando Gwen, ainda que assombrado pelas últimas palavras do capitão Stacy. Outra herança do primeiro capítulo é o misterioso passado do pai do herói, ligado a Oscorp, empresa que se revela cada vez mais como o centro dessa nova franquia. Dão as caras Norman e Harry Osborn, com uma dinâmica bem diferente da esperada  e muito interessante. E, da mesma forma que o Lagarto na aventura anterior, o(s) inimigo(s) da vez também surge(m) da Oscorp.

    O filme consegue combinar várias linhas narrativas e amarrá-las de forma satisfatória. O ritmo é acelerado, mas funcional, praticamente não há sensação de elementos corridos ou mal explorados. Tecnicamente ele também é acima da média, não só os efeitos visuais como também os sonoros chamam a atenção positivamente. As cenas de ação são bem empolgantes, ainda que seja incômodo o exagero em enfatizarem o espetáculo e a louvação ao herói. Duro de engolir as grades de isolamento e plateia quase sempre presente, como se as ações do Homem-Aranha fossem algo planejado, uma parada ou desfile.

    Andrew Garfield é um bom Homem-Aranha e um fraco Peter Parker. Explicando: o herói está mais espirituoso e brincalhão, o verdadeiro Amigão da Vizinhança dos quadrinhos. Mas sem a máscara, ele parece ser indeciso entre ser o hipster descoladão do primeiro filme e o Peter de verdade. Não um nerd CDF babão, mas um cara um tanto atrapalhado, que os outros não levam muito a sério. Isso é importante, pois faz parte da identidade secreta. Garfield parece ter sido informado disso e melhorou em relação ao capítulo anterior. Mas se mostra um ator limitado e limita-se a gaguejar ocasionalmente. Sorte dele que em vários momentos a ótima Emma Stone está em cena para salvá-lo. Há um inegável carisma entre os dois, e o romance vai-e-volta é bastante convincente, típico de jovens/pós-adolescentes, como são os personagens.

    A apreensão maior era, sem dúvida, referente à presença de três vilões na mesma história. A lembrança de Homem-Aranha 3 criou o dogma de que isso não funciona. Mas como Capitão América 2 acabou de mostrar, isso é bobagem. Aqui, Electro, Duende Verde e Rino dão as caras em diferentes momentos, e cada um tem sua função bem definida na trama, sem atropelos. Por outro lado, se na organização do tempo de cada um não há problemas, o desenvolvimento individual tem suas falhas. E a maior delas, ironicamente, está no inimigo que dá o subtítulo ao filme.

    Max Dillon, o Electro, tem a motivação mais fraca, simplória e imbecil já vista em filmes de super-herói. Ele é movido por inveja, birra e desejo de ser notado e fazer amigos. Mas tudo tratado de um jeito lamentável, vergonha alheia. Não há timidez, solidão ou inadequação social que justifiquem a mentalidade de uma criança de 5 anos que ele apresenta. Jamie Foxx está propositalmente caricato, não há mérito nem culpa dele. Por conta disso, é difícil apontá-lo como “vilão principal”, apesar de seu altíssimo nível de poder (lembrando muito a versão Ultimate, na qual ele peita até o Thor). Electro é, ao longo do filme, vítima, ferramenta e ameça, mas lhe falta personalidade pra ser um verdadeiro antagonista. Esse papel acaba pertencendo a Harry Osborn.

    A amizade de Peter e Harry é introduzida de forma retroativa, o que não prejudica em nada. Dane DeHaan mais uma vez provou ser um grande ator, vivendo seu papel com tanta intensidade que chega a ofuscar o protagonista. Harry tem suas motivações bem desenvolvidas, e sua “queda para o lado negro” é orgânica e convincente. Até os 40 minutos do segundo tempo, pelo menos. O roteiro se apressa e força a barra na hora em que Harry assume sua segunda identidade. Não há grandes justificativas para ele usar aquele traje e equipamentos, a impressão foi que alguém se lembrou que isso era OBRIGATÓRIO e não se incomodou em embasar.

    Aliás, faltou também uma explicação sobre por que a Oscorp possui diferentes projetos de armamentos. Nos quadrinhos do Universo Ultimate a empresa está inserida numa corrida armamentista, mas no filme isso não é mencionado explicitamente. Nessa linha, o Rino, em sua curtíssima participação, serve apenas como prelúdio para os futuros planos do estúdio. E para mostrar que o universo do Homem-Aranha é isso, novas ameaças surgem a todo instante, reforçando a importância e a necessidade do herói. O senso de responsabilidade de Peter Parker é testado e redimido neste filme, após ter sido incrivelmente mal apresentado no primeiro. Pena que, para isso, uma tragédia fosse necessária.

    Pra quem conhece um mínimo dos quadrinhos, era um evento esperado. Mas para o público infantil, aquele que Garfield declarou ser o foco da produção, deve ter sido um baque e tanto, uma violenta quebra no tom leve e bem humorado da produção. Essa vontade de atingir todas as faixas etárias naturalmente é algo nocivo ao filme, mas há que se louvar a coragem dos realizadores. Um dos momentos mais marcantes e pesados da vida do herói, fundamental na sua formação de caráter, ganhou uma ótima representação. Resta saber se, nos próximos filmes, existirá coerência em adotar um clima menos infantil. O Espetacular Homem-Aranha 2 ainda não foi o grande filme que o herói merece, mas mostrou potencial e disposição em explorar seu universo. Não custa ter boa vontade e torcer pra evolução continuar.

    Texto de autoria de Jackson Good.

  • Crítica | O Espetacular Homem-Aranha

    Crítica | O Espetacular Homem-Aranha

    Fazendo uma analogia bem óbvia, assistir O Espetacular Homem-Aranha pode ser comparado facilmente à experiência de andar numa montanha russa. Não pelas grandes variações dentro da trama – uma vez que não há muitas, já que se trata de mais um filme de origem – mas muito mais pelos altos e baixos da qualidade do roteiro, com um equilíbrio assustador entre os dois lados. Primeiro, vamos aos melhores momentos.

    Logo de cara, é possível fazer uma afirmação: a escolha de Andrew Garfield para o papel de Peter Parker foi um acerto superlativo. Em sua interpretação, ele concede fragilidade e senso de humor em níveis bem mais profundos que Tobey Maguire, protagonista da trilogia anterior, que também já havia feito um bom trabalho. Os momentos nos quais são mostrados o peso da responsabilidade que acompanha os poderes recém-adquiridos são particulamente interessantes na interpretação de Garfield.

    Se por um lado as cenas de ação perderam o tom épico impressos pelo trabalho de direção de Sam Raimi nos três primeiros filmes – quem não se lembra do momento no qual Tobey Maguire para um trem usando o próprio corpo em Homem-Aranha 2? – , as mesmas agora são mais frenéticas e cortadas num ritmo mais acelerado.

    Isso não acontece por acaso. Como se sabe, esse novo filme mira num público bem mais jovem, menos interessado em planos longos e demorados e bem mais ávido por ação desenfreada.

    Sim, a ação está lá. Mas o diretor Mark Webb (500 Dias com Ela) não comete o erro de focar a história apenas nela, dando boa profundidade emocional a Peter Parker; seja por meio do enigma que envolve o desaparecimento de seus pais, seja na relação não necessariamente tranquila com seus tios Ben (Martin Sheen) e May (Sally Field), seja na dificuldade de aproximação com seu interesse romântico, Gwen Stacy (Emma Stone).

    Infelizmente o mesmo não acontece com a representação do doutor Curt Connors (Rhys Ifans), alter ego do vilão deste episódio, o Lagarto. As variações motivacionais dele parecem muito mais fruto de um personagem mal construído que de um trabalho mais rico de caracterização. O vai-e-vem de sua postura em relação a Peter Parker e às circunstâncias que o cercam fragilizam a sua presença.

    A situação se agrava quando o próprio Lagarto surge em cena. A aproximação visual aos movimentos do réptil que lhe concedeu os poderes é um ponto positivo da produção. Mas paramos por aí. O inimigo do Homem-Aranha aqui é retratado de forma civilizada, reflexiva e até mesmo excessivamente estratégica. Ele fala, raciocina e planeja, uma postura muito mais próxima a um Doutor Destino que à natureza original do personagem.

    O Lagarto é – ou deveria ser – uma máquina assassina e devastadora, exatamente como nos quadrinhos. Para os que não o conhecem, vale a pena procurar por Tormento, microssérie (apenas dois episódios) do Homem-Aranha escrita por Todd Mcfarlane lançada aqui no Brasil na primeira metade dos anos 1990 pela Editora Abril. Ali, o Lagarto aparece em toda a sua natureza bestial.

    Da maneira como foi retratado no filme, entretanto, o personagem provoca muito mais simpatia que horror.

    Há furos de roteiro graves. Um dos piores ocorre numa constrangedora e forçada cena que envolve guindastes, já próximo ao fim do filme. Nela, numa tentativa desesperada de mostrar a simpatia e agradecimento que alguns habitantes de Nova York começam a demonstrar pelo cabeça de teia, os roteiristas extrapolam todos os limites da suspensão de descrença em favor de um momento “edificante”.

    Avaliando friamente – como, aliás, toda crítica a uma obra deveria ser – fica evidente que Sam Raimi possui muito mais recursos como cineasta que Mark Webb. Este último faz um bom trabalho. Mas a mão para composição e enquadramento de Raimi está anos-luz à frente do novo diretor.

    E já que mencionamos os dois realizadores, chegamos a um ponto igualmente importante: é muito difícil – na verdade, quase impossível – assistir o novo filme sem compará-lo à série anterior. E isso ocorre por um motivo bastante óbvio: além de ter sido bem realizada (com exceção da dispensável terceira parte, de 2007), a primeira trilogia é muito recente e, sem dúvida, ainda está impressa nas mentes dos fãs. Até mesmo porque seus episódios são repetidos exaustivamente nos canais de TV por assinatura.

    Em última análise, O Espetacular Homem-Aranha funciona bem para o que se propõe: um reboot da série do aracnídeo no cinema. No entanto, ao fim do filme, fica a sensação de que o que poderia ter sido ótimo foi apenas bom.

    Texto de autoria de Carlos Brito.

  • Crítica | Histórias Cruzadas

    Crítica | Histórias Cruzadas

    Logo no quadro inicial de Histórias Cruzadas, somos apresentados à personagem Aibileen Clark (Viola Davis, espetacular). Naquele momento, uma das primeiras frases ditas por ela define exatamente como é a sua vida e as das outras domésticas que surgirão ao longo do filme.

    “Eu sou uma empregada, minha mãe foi empregada e minha avó foi uma escrava caseira”, ela diz.

    Tudo nas vidas daquelas mulheres negras gira em torno dessa realidade: a conformidade com a condição imutável de que suas existências se resumem a trabalhar nas casas de patrões brancos, preparando suas refeições e cuidando de seus filhos.

    Elas estão ali para servir. São uma parte invisível das famílias de seus empregadores. Mas uma parte que jamais é totalmente aceita. Afinal, são mulheres. E pior: são negras – a característica imperdoável para os brancos que viviam na cidade de Jackson, Estado do Mississipi, ao longo dos anos de 1960, local e época nos quais a obra se desenrola.

    “Histórias Cruzadas” trata de dois temas difíceis: a total incapacidade de mudar o rumo da própria vida e a estupidez humana ao segregar um semelhante apenas pela cor da sua pele. No entanto, mesmo lidando com assuntos áridos, a película é uma obra simples, direta e – pelo menos na maior parte do tempo – leve. E talvez essa simplicidade seja sua maior qualidade.

    O roteiro é linear. A história é clara, bem como o posicionamento de cada um dos personagens que a compõem.

    Na trama, somos apresentados à Eugenia “Skeeter” Phelan (Emma Stone). Aspirante à jornalista e escritora, ela consegue um emprego no jornal local. No entanto, por ser mulher e viver numa cidade racista e sexista, a jovem consegue apenas escrever uma pequena coluna dedicada a donas de casa na qual lhe cabe apenas dar às leitoras dicas de limpeza doméstica.

    É nesse contexto que Skeeter e Aibileen se aproximam – a partir daí, a jovem branca que quer ser escritora percebe que a empregada pode ser a fonte da matéria-prima necessária à realização de uma grande reportagem: contar como é a vida das empregadas naquela sociedade segregacionista a partir do ponto de um ponto de vista até então inexplorado – o das próprias domésticas.

    Ambas – Skeeter e Aibileen – estão infelizes: a primeira quer claramente ir além dos limites da cidade e provar que uma mulher pode ser muito mais que uma caçadora de maridos, atividade para a qual praticamente todas as moças de Jackson são treinadas desde muito jovens. Já a segunda, tem a dor da morte de um filho e a amargura imposta pelo preconceito atravessadas na garganta. Ela precisa colocar para fora os absurdos cometidos em nome da separação provocada pela segregação.

    Absurdos, esses, que são bem retratados por meio da ação mais simples que se possa imaginar: ir ao banheiro – ou seja, até mesmo o mais corriqueiro dos atos pode ser utilizado para demonstrar como brancos tratavam negros dentro daquele contexto. Cabe ressaltar a maneira honesta como o diretor Tate Taylor retrata a hipocrisia dos moradores do subúrbio norte-americano daquele período: por trás das cercas brancas, gramados verdes e bem aparados, encontros sociais e lares aparentemente perfeitos, é possível ver, mesmo no menor dos gestos, o ódio e o desprezo que as pessoas que viviam ali sentiam pelos negros.

    Essa visão segregacionista é incorporada pela personagem Hilly Holbrook (Bryce Dallas Howard) – tradução literal da América racista, branca e protestante.

    Seu mundo, no entanto, está prestes a ruir. Discretas intervenções feitas pelo diretor por meio de reportagens de TV assistidas pelos personagens mostram a evolução que os direitos civis nos Estados Unidos experimentavam naquele momento. A luta pela igualdade comandada por Martin Luther King e o assassinato do presidente John Kennedy contextualizam a história dentro daquele período e deixam ainda mais claro que as coisas estavam mudando.

    E a própria Hilly será vítima de uma das maiores ações de vingança e Justiça mostradas no cinema nos últimos tempos. Protagonizada por sua ex-empregada Minny (Octavia Spencer, excelente), a cena em questão se vale de uma, digamos, metáfora “orgânica” para mostrar do que ela realmente é capaz.

    Atenção também à bela performance de Jessica Chastain (A Árvore da Vida), que interpreta a personagem Celia Foote e carrega sua construção com altas doses de inocência, desprendimento e sensualidade involuntária.

    “História Cruzadas” é um daqueles filmes simples – e não simplórios – que nos lembram o quanto situações insanas podem estar mais próximas do que imaginamos – até dentro de nossos lares.

    Insanidades como acreditar que o valor de uma pessoa pode ser medido pela cor da sua pele.

    Insanidade como fechar os olhos para o fato de que, no fim das contas, todos pertencemos à mesma raça: a humana.

    Texto de autoria de Carlos Brito.

  • Crítica | Zumbilândia

    Crítica | Zumbilândia

    zumbilandia

    George Romero, considerado o pai do gênero, imortalizou o que conhecemos como filmes de zumbis. Desde então, não temos nos deparado com grandes novidades depois de toda a invasão de zumbis na cultura pop, salvo raras exceções. Apesar da ideia velha, Ruben Fleischer dá uma nova roupagem e tenta mesclar terror com muito bom humor. OK, isso não é novidade, vide o ótimo Todo Mundo Quase morto, mas Zumbilândia vem com a proposta de um humor mais escrachado, mais ‘americano’.

    A história é simples, Columbus (Jesse Eisenberg), personagem central da história nos apresenta o mundo de Zumbilândia, revelando algumas regras que ele diz ser fundamental para sobreviver nesse mundo, tudo isso de maneira hilária. Apesar de ser um jovem medroso, Columbus decide cruzar os EUA para encontrar seus pais, mas no meio do caminho encontra Tallahassee (Woody Harrelson), um caçador de zumbi, e decide acompanhá-lo para chegar em segurança no seu destino mais facilmente.

    Durante a jornada dos dois, duas irmãs se juntam à eles, a mais jovem Little Rock (Abigail Breslin) e Wichitta (Emma Stone), o que acaba colaborando ainda mais na construção da história e trazendo ótimas risadas ao telespectador, como em dado momento onde decidem se esconder na mansão do um ator conhecido de Hollywood e o encontram se passando por um zumbi para se misturar a multidão de mortos-vivos.

    Não tenho o que falar do elenco, apesar de ser um filme que não exige grandes atuações, todos estão muito bem. Woody Harrelson está incrível bancando o maluco depressivo, Jesse Eisenberg interpreta o nerd loser magistralmente, Emma Stone continua lindíssima e esbanjando talento, o mesmo vale para Abigail Breslin. O ponto forte é a participação especial do tal ator hollywoodiano, o que só vem a enriquecer ainda mais o filme.

    Enfim, se ainda não tiveram a oportunidade de conferir, assistam sem medo. Apesar de não ter grandes novidades para o universo dos mortos-vivos, com certeza te fará rir bastante.