Tag: Jonathan Dayton

  • Crítica | A Guerra dos Sexos

    Crítica | A Guerra dos Sexos

    A Guerra dos Sexos, novo filme de Jonathan Dayton e Valerie Faris, diretores de Ruby Sparks e Pequena Miss Sunshine traz consigo o ambiente do tênis profissional na biografia de Billy Jean King (Emma Stone), tenista multi-campeão de Grand Slams.

    O longa em suas mais de duas horas consegue reproduzir o esporte com bastante emoção, em sequências enquadradas em ângulos que dificilmente aparecem em produtos semelhantes. Os planos abertos só não são mais poderosos graças aos dublês que pouco parecem com os atores principais, mas ainda assim há um esforço enorme em situar visualmente o espectador no auge dos anos setenta, logo após a revolução sexual. Dessa forma, todo o discurso pró-igualdade entre os sexos se torna aceitável, mesmo para as platéias mais conservadoras.

    Talvez o problema maior do longa more exatamente nessa isenção, uma vez que ele tenta fugir tanto do discurso panfletário que aparenta estar em cima do muro o tempo inteiro. O mote em cima da partida entre o tenista aposentado e showman Bobby Riggs (Steve Carrell) é sub-aproveitado, basicamente porque não há um aprofundamento nem das questões graves que lhe ocorrem e nem das pessoas que orbitam ao redor dele.

    Ainda assim, há uma carga de diversão muito forte nos dramas mostrados, sem evidentemente desrespeitar as causas levantadas. A questão é que o abuso da linguagem arquetípica suaviza o viés libertário e simbólico do produto final, fato que o faz decrescer um pouco em qualidade aos temas propostos, o que é uma pena. Mesmo as razões que faziam Riggs ser arrogante em quadra são aproveitadas sem maiores potenciais, bem como a rivalidade da protagonista com o misógino John Kramer, interpretado por um Bill Pullman que aparenta ter vergonha de dizer o texto machista que lhe foi incumbido pelo roteiro. Nesse ponto, há de pelo menos se comemorar o quão repleto de barbaridades eram os assuntos e argumentos ditos nos anos setenta em relação a figura da mulher e as suas capacidades tanto de raciocínio quanto de competitividade, o que ainda assim é muito pouco para um projeto tão ambicioso.

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  • Crítica | Ruby Sparks: A Namorada Perfeita

    Crítica | Ruby Sparks: A Namorada Perfeita

    Ruby Sparks

    A comédia romântica não é um gênero conhecido pela imprevisibilidade ou pelas inovações: o roteiro segue uma espécie de fórmula e é preciso fazer um filme simpático e divertido, mas todos os espectadores sabem que um casal se conhece, se desentende e fica junto no final. Sendo assim, o sucesso desses filmes se baseia no carisma e na química dos protagonistas, e também na parcela de “comédia” que torna agradável todo o caminho até um final já esperado.

    Ruby Sparks acerta exatamente em fazer um filme que trabalha muito bem a maior parte dos clichês do gênero, mas ainda assim inova o suficiente para se destacar do mar de filmes bonitinhos existentes.

    O roteiro escrito por Zoe Kazan (que também é a protagonista-título e neta do lendário diretor Elia Kazan) se foca em Calvin, um escritor prodígio que, dez anos depois do sucesso de seu romance de estreia, está em crise e com bloqueio criativo. Calvin não tem mais amigos e não interage com ninguém exceto seu irmão e psicanalista, até que um dia a protagonista do romance que ele afinal começou a escrever se materializa em sua cozinha e afirma ser sua namorada.

    Aqui está a maior originalidade do filme: Ruby Sparks não acaba quando os protagonistas finalmente ficam juntos. Ele começa aí, e sua trama não é composta das desventuras enfrentadas até que um descubra o amor do outro, mas justamente das dificuldades em se manter um relacionamento depois que o primeiro momento já passou. Ruby surgiu na mente de Calvin, logo, ela é a namorada perfeita, sua garota dos sonhos; mas, conforme ela vai vivendo no mundo real, sua personalidade ganha nuances. O que a torna encantadora também a faz inconstante, e a maior questão de Calvin vai ser aprender a lidar com algo que escapa completamente ao seu controle, mas que ele também não quer viver sem.

    Kazan acerta na construção de seus personagens: ambos são multi-dimensionais, parecidos com pessoas de verdade e parecem fazer sentido juntos. Mas, mais do que isso, Ruby é uma espécie de crítica ao estereótipo da menina problemática-mas-espontânea-e-adorável que vem proliferando nos últimos tempos. Sim, ela é adorável e também irritante, divertidamente espontânea, mas capaz de acabar de lingerie na piscina de uma festa cheia de gente importante. A visão da roteirista sobre essa legião de meninas “desajustadamente perfeitas” parece  estar expressa em uma fala do irmão de Calvin: “Mulheres esquisitas e bagunçadas, cujos problemas apenas as tornam mais adoráveis, não são reais.” E é justamente esse abismo entre a ideia na cabeça de Calvin e a menina de verdade à sua frente o assunto do filme.

    Ruby Sparks não açucara excessivamente seu tema: em alguns momentos a relação de Ruby e Calvin beira o doentio, e o final do filme traz uma cena bastante violenta. Ainda assim, o clima geral é alegre, romântico e otimista. Kazan e os diretores Jonathan Dayton e Valerie Faris (responsáveis por Pequena Miss Sunshine) conseguem resgatar um gênero que definhava visivelmente e inserir inteligência e reflexões válidas, sem perder o charme das comédias românticas tradicionais. Não é uma obra-prima do cinema, mas é um filme inteligente, divertido e a melhor comédia romântica em muito tempo.

    Texto de autoria de Isadora Sinay.