Tag: nick nolte

  • VortCast 108 | The Mandalorian e O Livro de Boba Fett

    VortCast 108 | The Mandalorian e O Livro de Boba Fett

    Bem-vindos a bordo. Filipe Pereira (@filipepereiral | @filipepereirareal), Bruno Gaspar (@hecatesgaspar | @hecatesgaspar) e David Matheus Nunes (@david_matheus) se reúnem para comentar sobre as séries mais recentes do universo expandido de Star Wars: The Mandalorian e O Livro de Boba Fett.

    Duração: 89 min.
    Edição:
     Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira
    Arte do Banner:
     Bruno Gaspar

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  • Review | The Mandalorian – Chapter Seven: The Reckoning

    Review | The Mandalorian – Chapter Seven: The Reckoning

    O recap do sétimo episódio de The Mandalorian – batizado com The Reckoning – é um bocado longo, resgatando momentos de personagens que pouco apareceram, e não só dos personagens de Carl Weaters ou Werner Herzog, como em um acerto de contas com os outsiders que ajudaram o caçador de recompensas que dá nome a série a compor toda a trama pensada pelo criador Jon Favreau. Esse talvez seja o mais sentimental entre os sete capítulos já apresentados até aqui.

    A historia não tem rodeios, se mostra Greef Carga (Weaters) apresentando uma proposta de união, que talvez pusesse o Mando de Pedro Pascal em  uma situação conveniente e sem conseqüências graves para si e para quem lhe é querido. É engraçado como essa situação proposta iguala o sujeito a condição de Han Solo em Império Contra-Ataca, incluindo aí até as altas chances dele rescindir os erros no futuro, independente até do que ocorrerá no Season Finale, exatamente como ocorreu com o coreliano em O Despertar de Força.

    A partir daqui se falará mais diretamente da trama, se ao leitor incomodar ter contato com spoilers, é melhor parar de ler.

    O retorno de personagens como a Cara Dune de Gina Carano já era esperado, até pelo recapitular ter um caráter meio de prólogo. A forma como cada um dos personagens é mostrado dá um bocado de ideia de como funciona a personalidade dos mesmos, ainda que não haja tanto temo para cada um deles mostrar o seu cotidiano, e um pouco de quem cada um é. Mandalorian tem muita sorte em apresentar pessoas carismáticas e fáceis de gerar empatia mesmo com pouco tempo para desenrolar sua historia e para desenrolar a vida desses mesmos personagens.

    Nick Nolte e Taika Waititi também retornam, com seus Kuiill e IG-11 e a participação de ambos é carregada de sentimentalismo, mas nada que faça soar piegas. A valorização de um e a ressignificação do outro reforça a ideia de outsider que o seriado sempre carregou. Dirigido por Deborah Chow, esse é o capítulo mais frenético, pois as tentativas de negociação entre cliente, contratante e contratado são violentas, acompanhadas de tiroteios e cercos absurdos, evocando até o que sobrou do Império Galáctico, mas ainda sem grandes respostas para a trama. Impressiona como Favreau prende a atenção do espectador e do fã,  sendo bem pouco ou nada explicito dentro dos trinta minutos de capítulo e dos créditos “pintados”, que relembram e avançam a historia.

    Giancarlo Esposito faz um homem que parece imponente e uma autoridade seja lá do que for, mas há em sua persona um cuidado para manter ainda a aura de mistério, emulando poeticamente e também  na trama toda suspeição de Mando, que não confia em ninguém e que vê seu fracasso possivelmente chegar exatamente quando pensa em agir como equipe. Há um misto de  sensações ao perceber que falta apenas um capítulo para acabar The Mandalorian, pois além de desenrolar muitos mistérios, também há a sensação de que são poucos os momentos nessa jornada de oito capítulos, mas também há alívio, pois tal qual ocorreu recentemente com Watchmen, que também só deverá ter uma temporada (tomara), o fato de não haver uma grande extensão de historia a torna ainda mais única e especial, que tem suas qualidades positivas agravadas pelo largo uso de efeitos práticos ao invés do comum e exagerado uso de CGI.

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  • Crítica | Invasão ao Serviço Secreto

    Crítica | Invasão ao Serviço Secreto

    Invasão Ao Serviço Secreto é a terceira parte da trilogia Has Fallen, conhecida no Brasil como “Invasão a algo ou alguma coisa“, e seu início é silencioso, mostrando o método e ação de Mike Banning, personagem de Gerard Butler que em outras oportunidades já havia salvado a pátria e também o mundo. Os ângulos fechados lembram estilos de filmagem bem diferenciados, unindo a realidade semi documental de Tropa de Elite e outros filmes de ação brasileiros com os cortes secos e enfoques mais fechados da trilogia Bourne, em especial os filmes de Paul Greengrass. As cenas impressionam pela habilidade de Ric Roman Waugh em registrar a urgência, apesar de não ocorrer ali  um fato tão agressivo quanto aparenta, quase numa reimaginação da peça shakesperiana Muito Barulho por Nada.

    Há uma clara tentativa de tornar grave a vivencia de Mike. Ele toma pílulas, para lidar com o dia a dia estressante, com a proximidade da morte e com a violência corriqueira. Claramente ele não imaginou que viveria  tanto, nem que passaria por tantas operações ileso como está, e entre uma ida e outra para casa, onde encontra sua família e amigos, ele vai sentindo a pressão aumentar.

    O filme não é sutil, vai direto ao ponto especialmente no que toca a promoção do heroi dentro do órgão em que trabalha, e isso é feito pelo presidente novamente vivido por Morgan Freman, tal qual em Invasão a Londres – e ele recém assumido como líder de operações do serviço de proteção nacional vê um ataque hiper tecnológico e bem orquestrado ocorrer sobre si e sobre suas unidades. As não sutilezas não ocorrem só nas cenas de ação que são repletas de slow motion datado, mas também no fato de os ataques por drone ocorrerem logo após ele quase passar mal ante o comandante em chefe da nação soberana no continente americano.

    As aproximadamente duas horas de filme resultam em uma obra de ação um bocado genérica, que se distanciam demais do bom potencial prometido por seu início avassalador. Butler está visivelmente velho demais para esse tipo de papel, Freeman também parece apenas se repetir em um tipo de arquétipo que já fazia quando Clint Eastwood era astro de ação.

    Toda a questão envolvendo sua possível traição também é mal conduzida. A agente Thompson de Jada Pinkett Smith é uma personagem genérica, não passa de arquétipo, assim como a obvia inversão de perseguição ao herói. Há espaço também para reencontros com pessoas importantes de seu passado, os mesmos que antes não eram sequer mencionados, tudo para fazer Nick Nolte agir mais uma vez como velho louco e Danny Huston, que desde  sua primeira aparição já parece um traidor.

    O roteiro de Waugh, Matt Cook e Robert Mark Kamen surpreende praticamente nada, todos os rumos parecem telegrafados, com rumos decididos e desenhados muitos momentos antes de ocorrerem. O desfecho é doce demais para os heróis, mostra os vilões corruptos sendo presos, em um maniqueísmo exacerbado, com direito a colocarem o presidente Morgan Freeman em uma cena com políticos reais – entre eles Michel Temer e Vladimir Putin, no lugar de Donald Trump – e um resgate familiar envolvendo os novos personagens, incluindo momentos adocicados, com um bebê de poucos meses pavimentando uma nova relação de pai e avô.

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  • Review | The Mandalorian – Chapter Two: The Child

    Review | The Mandalorian – Chapter Two: The Child

    Após um início um pouco protocolar em The Mandalorian- Chapter One com Dave Filoni na direção, The Mandalorian retorna alguns poucos dias após seu primeiro capítulo, dessa vez comandado por Rick Famuyiwa, do recente Dope: Um Deslize Perigoso, o episódio parece ter mais personalidade, investe mais no humor e na graça, além de fazer o silêncio prevalecer, algo que não parece incomodo para o mandaloriano caçador de recompensas.

    Imagino que quem está lendo esse texto viu o primeiro capítulo, então é natural que se fala de partes importantes da trama. Boa parte dos que assistiram o episódio passaram a crer que a criança encontrada poderia ser um clone do Mestre Yoda, ou o próprio pequeno, embora não haja qualquer indício disso, já que ele morreu em O Retorno de Jedi, e reapareceu como espírito da força em Os Último Jedi, e até onde se sabe, não há ressurreição no universo Star Wars. Até se brinca com a possibilidade do mesmo ter poderes, já que ele sai da cápsula babá e interage apontando para o personagem de Pedro Pascal, mas os mistérios em seu entorno não são apressados em se resolverem.

    Famuyiwa usa e abusa do personagem novo. Mesmo sem utilidade o filhote acaba roubando a cena, por sua personalidade carismática e fofura. Toda a tentativa do personagem central em perseguir uma tribo de Jawas impressiona, não só pelo arrojo visual, que emula bem demais o início de Uma Nova Esperança. Os figurinos, os veículos, tudo é muito bonito para uma adaptação televisiva, e a armadura de Beskar realmente chama a atenção, já que está sempre em evidencia.

    Há todo um caráter diferenciado nos episódios, aparentemente não há tanta preocupação em mostrar uma historia épica, e sim side historys do universo de Star Wars, momentos simples e ordinários, a riqueza está nele tendo que lidar como uma babá, ou recuperando artefatos para os jawas (em uma luta épica, diga-se) ou tendo que conviver com  Kuiil (Kyle Pacek como dublê de corpo e Nick Nolte com voz e expressão) o ugnaught sentiano que o chama de Mando e que serve como guia para ele no planeta desconhecido.

    A Disney continua sem resolver a problemática de o seriado não ser vinculado em países como o Brasil, que ainda não tem seu serviço de streaming (programado para chegar no segundo semestre de 2020 ao que tudo indica) e mesmo a possibilidade de outro serviço  adotar as séries e filmes só deverá acontecer para o final do ano o início do próximo, desse modo, não há garantia de que haverá como assistir os mesmos sem lançar mão de downloads.

    Enquanto isso a trama que Jon Favreau propõe tem um lento desenrolar, fato que torna tudo muito dúbio, pois ao mesmo tempo que não apresenta nada fora do ordinário, também ganha exatamente pelo predomínio do ocaso, fazendo todo o rico universo de Star Wars ter importância, fugindo da velha obsessão herdada de George Lucas de explorar os detalhes dos Skywalkers. Caso seja realmente a vontade de The Mandalorian só mostrar historias de personagens e raças alternativas, não há grandes problemas, ainda que os mistérios e sementes plantadas apontem para uma maior grandeza.

    https://www.youtube.com/watch?v=M6bCi8ELAAw

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  • Crítica | Blue Chips

    Crítica | Blue Chips

    William Friedkin é um diretor diferenciado, capaz de trazer a luz obras como O Exorcista, Parceiros da Noite e Operação França, e em 1994, ele deu a luz a Blue Chips, uma historia sobre o esporte, que começa com um rompante de raiva e loucura do técnico Pete Bell (Nick Nolte), discutindo com os atletas universitários do time da Western University Dolphins. Ele entra no vestiário, começa a gritar, praguejar, agir como um louco, depois sai, deixa todos desesperados, ai volta mais calmo, logo, perde a razão de novo e sai, para fazer esse processo novamente.

    O filme registra magistralmente o clima dos campeonatos universitários de basquete, mostrando não só a adrenalina e loucura do jogo, como também o entorno, a atmosfera e todas as pessoas que são envolvidas pela paixão nacional que o basquete ocasiona. Outro aspecto curioso são os motivos em azul e amarelo, as cores do time de Bell, que estão nas  fontes dos créditos e demais letreiros dentro do filme e até no material de divulgação. Durante as cenas mais bonitas, Friedkin faz as duas cores predominarem, obviamente, seja pelos jogos em casa ou pela manifestação das torcidas.

    O roteiro de Ron Shelton (o mesmo que conduziu pouco tempo antes Brancos Não Sabem Enterrar) mostra um homem obcecado  desesperado, que não tem qualquer estabilidade financeira e mental, que não consegue sequer manter-se calma a beira de quadra, e não consegue manter seu casamento vivo. Quando ele retorna do jogo, tenta dormir na casa de sua ex-esposa, Jenny (Mary McDonnell), que prontamente o coloca para fora e relembra o quanto ele é insuportável na convivência comum.

    Ao perceber que seu time era muito ruim, Pete resolve apelar e fazer uma prática contra as regras, contratando jogadores que seriam pagos por fora para atuar em seu time como se estudassem em sua escola, ele então passeia pelo país, em paisagens diferentes e interioranas e traz três, Neon Boudeaux (Shaquille O’Neal), Butch McRae (Anfernee ‘Penny’ Hardaway) e Ricky Roe (Matt Nover), os três seriam o diferencial no time perdedor, a promessa de algo mais dentro da mediocridade dos campeonatos.

    O curioso realmente é onde eles encontra os moços, com um ele simula o jogo na sala de estar com as irmãs deles (duas crianças), a mãe e a avó, no caso do terceiro ele vai até a fazendo, e com o personagem de Shaq, ele vai a uma quadra clandestina, ver ele jogando, e percebe no gigante de 2,16 metros a possibilidade de um pivô infalível, mesmo que ele seja burro e praticamente analfabeto. Friedkin quis colocar atletas de verdade pois ao ver atores fazendo jogadores novatos, não se convencia de seus movimentos, e é curioso, pois Shaq estava em começo de carreira, foi draftado em 1993 (o filme é de 94) junto a Hardaway, que foi para o Orlando Magics – Shaq foi para o Magics e Hardaway para o Golden State Warriors, depois o time foi convencido pelo gigante a trocar com o GS. Essa escolha ocorreu enquanto eles filmavam Blue Chips, e a dupla teve o feito de eliminar o Chicago Bulls de Michael Jordan, na temporada 94-95, pouco após o filme ser lançado. Já Nover se tornou jogador e jogou um bom tempo na Europa, entre Itália, Espanha, Portugal etc, e também na Austrália.

    Não há o que reclamar da atuação ou da entrega de Nolte, ele faz um treinador dedicado, parece realmente ter noções táticas e dos fundamentos básicos do basquete. Ele se preparou para o papel acompanhando o técnico Bobby Knight durante a temporada de 92 em Indiana e absorveu bem o espírito, tudo isso para traduzir bem como teria sido parte da personalidade de Tates Locke, o treinador da Clemson Univerty de 70 a 75 – Locke também foi para NBA, no Buffalo Braves num período curto entre 76-77. A virada que ele tem que fazer, ao aceitar finalmente pagar os jogadores por fora mostra um homem com espírito quebrado, mas que já havia ido longe demais para voltar atrás.

    A trilha sonora, repleta de sucessos de Rock internacional embala boa parte das curvas dramáticas pelas quais passam Bell, e apesar de Blue Chips conter um caráter bem moralista, e isso não é à toa, pois para  muitos estadunidenses, o basquete é o mais manipulável dos esportes populares, seja no caso de apostas (jogadores são proibidos de praticar apostas, por exemplo) e também no caso de manipulação de resultados ou de uso de drogas.

    Friedkin acerta demais na composição de personagem do treinador que Nick Nolte vive, um homem nervoso, irascível, que briga muito pelo que acredita  e que é sobretudo apaixonado demais pelo esporte, não conseguindo fugir disto sequer quando se auto denuncia, e essa essência e beleza de caráter é muito bem exemplificada no filme, que além de toda essa discussão ética, ainda mostra um jogo de basquete muito bem feito e verossímil, com méritos totais ao seu realizador.

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  • Crítica | Cabo do Medo

    Crítica | Cabo do Medo

    Remakes são um perigo. A probabilidade de atacar o material original é gigante, mas ninguém melhor que o cara que produziu o melhor remake dos anos 2000 (Os Infiltrados, pra quem tinha dúvida de qual seria) para, no auge da fama e glória que conquistou após tantos clássicos dos anos 70 e 80, rodar em 1991 a trajetória sangrenta de Max, um assassino implacável que volta da prisão para infernizar, quase que literalmente, a vida da família do advogado Sam, homem honesto mas que o faz passar 14 anos enjaulado após perder o seu caso no júri.

    O psicopata interpretado por Robert De Niro volta com tudo, sangue nos olhos e faca na boca, e levando até as últimas consequências dos seus atos, Max coloca Sam, esposa e filha numa espiral (isso sim, literalmente falando) de tormentos físicos e psicológicos que para sempre vão estar no DNA daquela família. Mas Cabo do Medo vai além de bons sustos e uma direção forte em torno de uma história de vingança; eu diria, muito além disso.

    Estamos falando sobre a exploração bem-vinda, construtiva e talhada de um gênero, um tanto desgastado nos anos 90 e revivido em especial pelo sucesso de O Sexto Sentido, de M. Night Shyamalan. Martin Scorsese, o cineasta que nunca descansa tal qual sua famosa cidade de Nova York, revive elementos nesse remake de Círculo do Medo e recicla-os com maestria e força bem típica da sua visão, adotando na película a intensidade do assassino para traduzir, da maneira mais marcante e dramática possível o assombro que a família do advogado passa a viver, todos pagando pelo erro do pai.

    Da mesma forma como Max brinca com a filha de Sam, manipulando-a num jogo de sedução e pedofilia subjetiva, Scorsese nos instiga sobre os próximos passos que o vilão irá tomar, imprevisível e visceral, bem no estilo ‘doe a quem doer’. Sem baldes de sangue ou mortes icônicas, há aqui a curiosidade de um detetive cinematográfico debruçado sobre as possibilidades que a boa e velha tensão agrega a uma história dessas, e Scorsese faz isso com um prazer gigantesco e um tesão pelo suspense irresistível – a cena do ursinho é melhor que o “universo” de Invocação do Mal inteiro.

    Difícil lembrar de algum filme que o mestre de Touro Indomável ou Táxi Driver não tenha feito com toda a paixão e zelo do mundo pelo projeto, o que explica a barriga que suas histórias ganham, muitas vezes sendo mais longas que o necessário, mas se fosse para escolher algum entre tantos, o parente de Cabo do Medo poderia ganhar o título. A Ilha do Medo, com Leonardo DiCaprio, é quase tudo o que esse ótimo filme dos anos 90 nunca foi projetado para ser, felizmente: apático, distante, e portador duma atmosfera tão frágil que, se soprar, estilhaça.

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  • Crítica | The Ridiculous 6

    Crítica | The Ridiculous 6

    The-Ridiculous-6-Poster

    O cinema de Adam Sandler, salvo raras interpretações dramáticas, se divide em duas vertentes de comédia. Uma delas, a primeira na qual o astro se tornou conhecido, dedica-se a um humor explícito entre ironia, paródia e piadas físicas de apelo fácil. Outra se ancora em certa tradição da comédia romântica, transformando o ator em uma espécie de galã em histórias em que o conhecido humor exagerado fica mais leve, integrando melhor com a trama.

    Em ambos os caminhos, porém, o ator é criticado e ainda mantém o status de um dos atores menos rentáveis da indústria. O forte apelo de algumas produções se somam a outras obras pouco frutíferas, promovendo um caminho difícil em que o público nunca parece receptivo com suas histórias. Um fato que ainda não o impediu de ser personagem principal de diversos filmes e de manter sua popularidade fora dos Estados Unidos. Em nosso país, por exemplo, seus filmes sempre estreiam em primeiro lugar e se mantêm na lista dos mais assistidos.

    Assinando com a Netflix para produzir quatro longas-metragens, The Ridiculous 6 é o primeiro fruto dessa parceria que equipara o cinema tradição e o serviço de streaming em um mesmo patamar, com grandes produções e estrelas de destaque. Na trama, Tommy “Faca Branca” Stockburn parte em uma jornada para resgatar seu pai fora da lei, e no caminho descobre que tem cinco irmãos.

    Logo após o lançamento, as críticas negativas atribuíram o humor de Sandler como preconceituoso com os personagens abordados. Como em outras obras anteriores com o comediante, o roteiro utiliza clichês comum, no caso, o Velho Oeste, para produzir personagens caricatos. Como humorista, o ator nunca renovou seu repertório cômico e seu estilo de sempre é o visto em cena com piadas sobre escatologia, personificando figuras deslocadas e usando o riso como paródia. Nada de novo dentro de seu estilo de humor. A comédia sempre visa um alvo, afastando a realidade para rir de si mesma e, neste cenário, a produção ainda é capaz de rir do conceito que o cinema americano criou do cinema Western.

    Em cena se destacam as parcerias costumeiras do ator, como Rob Schneider e John Turturro, compondo certa química para uma história que não apresenta nada de novo. Dado que o humor de Sandler está preso à própria formula criada, aos poucos parte do público começa a rejeitá-lo pelo cansaço.

  • Crítica | Caça aos Gângsteres

    Crítica | Caça aos Gângsteres

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    Imagine-se em um bar. Daí aparece aquela mulher linda e maravilhosa. Você fica olhando de longe, admirando seu charme, seu sorriso, sua beleza estonteante e começa a achar que ela é especial. Única. Então você se aproxima e começa a conversar com ela. Em poucos minutos percebe que ela é superficial e comum. Essa é a sensação provocada por Caça aos Gângsteres. O filme tem muito estilo e apresentação pra pouco conteúdo.

    Passado em 1949, o impiedoso mafioso nova iorquino Mickey Cohen, vivido por Sean Penn, comanda com braço de ferro o crime organizado na cidade de Los Angeles. Sua influência vai além dos criminosos comuns, chegando ao escalão da polícia e aos políticos da região. Porém, um pequeno grupo de policiais liderados pelos sargentos John O’Mara e Jerry Wooters, vividos respectivamente por Josh Brolin e Ryan Gosling, resolve desmantelar a organização de Cohen.

    A trama é um completo decalque de Os Intocáveis, o já clássico filme dirigido por Brian De Palma. Porém, as semelhanças param por aí. Não vou comparar os dois filmes, vou apenas estabelecer alguns paralelos. Enquanto Eliot Ness e seus companheiros eram personagens bem delineados, com motivações profundas e críveis, nesse aqui as motivações são as mais mundanas possíveis. Um não quer que o filho ache que ele não fez nada enquanto a máfia dominava, o outro é o detetive que reluta em entrar no grupo e por aí a banda segue.

    O elenco estelar encabeçado por Gosling e Brolin tem atuações rasas, ainda que existam alguns breves momentos inspirados, mas nada além disso. Em nenhum momento o espectador consegue sentir empatia pelos heróis, chegando até mesmo a uma certa indiferença ser despertada.  É possível que os personagens profundos como um pires tenham influenciado nesse aspecto. Nem Sean Penn se destaca em meio às interpretações desfiladas na tela. Aliás, chega a dar pena a sequência em que o oscarizado ex-marido da Madonna tenta emular o icônico Tony Montana (Al Pacino em Scarface, outro filme do Brian De Palma). O diretor Ruben Fleischer não soube aproveitar o material humano que tinha em mãos. As cenas de ação são genéricas e não empolgam. Fora que a trilha sonora é completamente equivocada. Em vez de elevar a tensão da cena, dá nos nervos do espectador.

    O ritmo do filme é até interessante, sem muita enrolação, indo direto ao ponto. O diretor faz um uso interessante da câmera lenta em algumas cenas. Porém, os clichês vão se amontoando pelo caminho. Um fato é intrigante: os personagens são policiais, estão trabalhando à margem da lei, são conhecidos pelos bandidos da cidade, não usam máscaras pra fazer as batidas nos locais “secretos” onde a bandidagem opera, e custam a ser identificados mesmo frequentando bares e restaurantes apinhados de meliantes. É algo que não faz muito sentido e acaba passando batido no roteiro. Como ponto positivo, temos a impecável ambientação de época. A Los Angeles recriada é maravilhosa e os  figurinos são de encher os olhos. A direção de arte, de efeitos especiais e a cenografia merecem parabéns.

    Caça aos Gângsteres poderia ter sido um filmaço. Só conseguiu ser esteticamente lindo. Faltou cérebro nele. Cultuaram demais o corpo e esqueceram da mente.

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  • Crítica | Amores Inversos

    Crítica | Amores Inversos

    O começo de Amores Inversos é agridoce, exibindo o cotidiano incomum de Johanna Parry (Kristen Wiig), cujo comportamento é bastante curioso, uma vez que ela parece ter algum tipo de anomalia mental, que a faz ter dificuldades em expressar sentimentos e até de se alimentar como um adulto “normal”. Logo, sua paciente, uma idosa, que mesmo ela não sabe a idade, falece, deixando a mulher sem um ofício, coisa que não ocorria há 15 anos, quando ela assumiu os cuidados da anciã.

    Após isso, Johanna consegue outro serviço, tornando-se doméstica de uma família em frangalhos, formada pelos remanescentes à morte da sua amada matriarca. Sobraram o avô Mr. McCauley (Nick Nolte), um senhor a que Parry sempre responde, e que é assustadoramente gentil com ela, a menina Sabitha (Hailee Steinfeld) e o viúvo e “doente” Ken (Guy Pearce) que tem um passado trôpego e relações conturbadíssimas com o sogro e com a própria filha.

    O comportamento pouco convencional de Johanna faz todos a verem com maus olhos, geralmente de modo excludente, inclusive por Sabitha e por sua amiga Edith (Sami Gayle), que resolvem brincar com os sentimentos da cuidadora, forjando um flerte por meio de cartas, usando o nomadismo de Ken e a comunicação escrita para praticar os seus atos maléficos.

    Johanna é subserviente em quase todas as relações em que se embrenha, mesmo as românticas, causadas pela ilusão pensada pelas cabeças maléficas juvenis. Seus primeiros atos são os de conserto e de reabilitação do lugar onde está alocada, para só então agir. No entanto, sua condição não a exime de sentir-se rejeitada ou usada.

    Edith é encarada como má até mesmo por seus amigos, por impingir medo em uma pessoa incapaz de revidar os impropérios que vem a sofrer. Sua atitude covarde é também um mecanismo de defesa, uma vez que seu complexo de inferioridade é latente, motivado por sua condição financeira não ser abastada, o que no high school seria uma afronta das mais graves, condição o suficiente para ser excluída, ainda que isso não se prove num primeiro momento. O ato parece mais uma dissimulação, onde a adolescente usa a coitadice como muleta para praticar seus atos mesquinhos.

    Aos poucos a reunião entre Ken e a protagonista ganha contornos reais, como se a afeição fosse mais fácil entre dois páreas que buscam saciar a aflição de suas almas, cada um ao seu modo e estilo. O casal acabou íntimo por vias tortas, uma vez que pelos emails e cartas ela soube dos podres dele. O retorno dos reprimidos ao seio familiar é complicado para Sabitha e constrangedor em inúmeras instâncias, mas que, chegando ao seu desfecho, torna-se para a moça algo muito próximo do que seria uma vida doméstica normativa, muito aproximado graças ao empreendimento comercial de seu pai.

    Logo, o quadro evolui, mas não sem pisar em ovos e em desagrados. Saber de todas as facetas de seu par, mesmo as aparentemente desagradáveis, fazem-na ter subsídios o suficiente para cobrar dele uma atitude mais enérgica na sua reabilitação e no abandono do seu vício. Para analisar melhor a obra de Liza Johnson é preciso refletir, como quando se dá um passo atrás no momento em que se contempla algumas pinturas, para contemplar a real evolução da trajetória mostrada no ecrã cinematográfico, cujo limite da completude de espírito é analisada e mostrada sob um viés atípico.

  • Crítica | Sem Proteção

    Crítica | Sem Proteção

    sem proteção - cartaz

    O estopim da trama é nebuloso. Não fica muito claro qual a motivação de Sharon (Susan Sarandon) para escolher se entregar naquele momento, depois de tantos anos. Além de não ficar claro como o FBI chegou até Sharon exatamente no dia em que ela resolve se entregar. Sua conversa com o repórter, na prisão, dá algumas razões, mas nenhuma delas convence, nem é forte o suficiente para justificar o abandono de sua família – seu marido e seus filhos. Apesar de carregada de um idealismo meio caduco, a visão de Mimi Lurie (Julie Christie) – de continuar levando sua própria vida – é mais convincente e bem mais realista.

    Não bastasse isso, alguns esclarecimentos sobre o passado dos personagens não chegam a causar suspresa. O espectador atento consegue, sem muito esforço, entender o que houve antes mesmo que Ben Shepard, o repórter vivido por Shia LaBeouf, explique suas conclusões ao editor do jornal em que trabalha. Aliás, no que diz respeito às pesquisas conduzidas por Shepard, há outro problema no roteiro. As respostas surgem tão facilmente, que fica pairando a dúvida: “Como o FBI não tinha conseguido qualquer pista sobre o paradeiro de Grant antes?”.

    Apesar da estória interessante, que lembra um pouco O Fugitivo (com Harrison Ford), o filme perde intensidade na segunda metade, que basicamente se resume à fuga de Grant (Robert Redford), seu encontro com antigos companheiros de grupo e sua perseguição pelo FBI. Além da estrutura encontra parceiro/obtém informação/foge antes do FBI chegar se tornar repetitiva, os eventos se sucedem muito lentamente. Em vários momentos, o espectador tem a impressão de que Grant não tem urgência alguma em chegar seja-lá-onde-for. E isso enfraquece bastante o envolvimento com a trama e o interesse pelo destino do protagonista.

    E o sucesso do filme acaba se calcando quase exclusivamente na qualidade do elenco peso-pesado, repleto de figuras tarimbadas, além de Redford e os já citados, temos ainda Nick Nolte, Chris Cooper, Stanley Tucci. Até LaBeouf está bem como o repórter que corre atrás da notícia seguindo seus palpites e pesquisando no Google. Conseguindo aos poucos se livrar da figura de Transformer Boy, desempenha com competência a função de ser o olhar do espectador dentro da trama.

    É uma pena que uma boa premissa tenha se perdido assim. E o que poderia ser um excelente thriller acaba sendo apenas um filme morno e um pouco cansativo.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.