Tag: Kristen Wiig

  • VortCast 103 | Ghostbusters: Mais Além

    VortCast 103 | Ghostbusters: Mais Além

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira | @flaviopvieira) e Filipe Pereira (@filipepereiral | @filipepereirareal)  se reúnem para um bate-papo sobre a série de filmes Os Caças-Fantasmas, ou melhor, Ghostbusters, em especial sobre o filme mais recente. Curiosidades dos bastidores da franquia, as polêmicas do filme de 2016 e os principais acertos do novo longa.

    Duração: 64 min.
    Edição:
     Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira
    Arte do Banner:
     Bruno Gaspar

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  • Crítica | Mulher-Maravilha 1984

    Crítica | Mulher-Maravilha 1984

    Mulher-Maravilha 1984 se tornou uma das esperanças da Warner Bros. e DC Comics para retomar o sucesso do universo cinematográfico dos super-heróis da casa, após a recepção morna da Liga da Justiça. Além disso, era também aguardado que, após o fechamento forçado dos cinemas devido a pandemia, o filme, cuja estreia foi programada para dezembro, traria um retorno aceitável de bilheteria, mesmo que sua exibição fosse simultânea com o streaming da HBO Max.

    Novamente conduzido por Patty Jenkins, o início do filme marca um retorno a ilha das amazonas, Themyscera, resgatando boa parte do que deu certo em Mulher-Maravilha em 2017, com o caráter épico do filme solo da heroína. Essa sequencia em particular dura onze minutos, e logo a linha do tempo vai para o presente, os super coloridos anos oitenta do século XX. O segundo filme protagonizado por Gal Gadot faz lembrar seu par da editora concorrente, Capitã Marvel, que brincava com clichês de 1990, mas com diferenças cabais entre as narrativas e a necessidade de se apelar para outra época.

    O elenco é estrelado com destaque especial para Pedro Pascal fazendo o canastrão Maxwell Lord. Nos quadrinhos, surgiu como um ganancioso empresário da Liga da Justiça da fase J.M. Demattheis e Keith Giffen, mas que sempre que vai para outras mídia é retratado como um vilão puro e simples. Os problemas do filme começam justamente na hora de desenvolver as relações entre personagens. O exemplo disso é visto entre a doutora e especialista em geologia Barbara Minerva (Kristen Wiig) e a princesa amazona, uma relação cujo roteiro guarda semelhanças com Batman Eternamente, entre Edward Nygma e Bruce Wayne, mas sem ser tão caricatural. Fora isso, as intimidades dos personagens não parecem realistas, e sim um pastiche do que seriam os relacionamento entre pessoas reais. Ao menos a dinâmica e química entre Gadot e Chris Pine segue bem e firme, as piadas que funcionam são exatamente as que invertem os papeis da pessoa em um mundo novo, que antes contemplava Diana e agora, acometem Steve Trevor.

    Porém, o retorno do par romântico da heroína, ajuda a deflagrar um dos defeitos do filme: a conveniência do roteiro de Geoff Johns, David Callaham e Jenkins. O que incomoda é o apelo a suspensão de descrença. Em alguns pontos é bem comum os exageros nas historias em quadrinhos, mas aqui há também excessos e muita convenviências narrativa. Em especial ao artifício do objeto mágico de desejo, que muda suas regras a todo momento. Além disso, os personagens são quase todos muito genéricos, e as cenas de ação são artificiais e muito mal pensadas. As que ocorrem no deserto variam entre momentos com uma iluminação nada realista, unido a resgate de crianças que são feitas por bonecos tão fajutos quanto os vistos em Sniper Americano.

    Outra questão complicada é a participação da Mulher Leopardo. Sua versão é bem diferente dos gibis, e isso não necessariamente é um fator negativo. O problema mesmo é ela ser cercada de clichês, igual a tantos outros opositores de filmes de herói,  movido por algo maligno e ancestral, representando o esteriótipo de uma pessoa boa mas que é corrompida.

    Já o drama de Lord, no final, por mais bizarro que seja, ainda guarda boas surpresas, ao refletir sobre o apego ao poder absoluto, mostra como um homem comum pode se corromper. Os momentos finais guardam momentos grotescos e soluções que não fazem sentido, envolvendo os dois opositores, cujos fins são vergonhosos, assim como a utilização da tão esperada armadura da heroína em O Reino do Amanhã aqui sub aproveitada.

    Apesar de Deborah e Zack Snyder assinarem como produtores executivos, claramente se ignora completamente as falas sobre Diana estar escondida desde a Primeira Guerra Mundial, como é aludido em Batman VS Superman e Liga da Justiça (a saber se no vindouro Snydercut da Liga, haverá alguma explicação a respeito). Na verdade, James Wan já havia ignorado fatos sobre o rei atlante em seu Aquaman, mas aqui não há qualquer pudor da heroína em se expor, mesmo que fiquem dúvidas na imprensa sobre suas intenções e origens.

    Os aspectos visuais também são estranhos. Sai a fotografia super escura para uma clara e esquisita, em um trabalho assinado por Mathew Jansen, bem diferente do que havia feito em Poder Sem Limites, Game Of Thornes e The Mandalorian e até mesmo no primeiro filme. Ao menos a música de Hans Zimmer não interfere tanto na trama como em outros de seus trabalhos.

    Jenkins apresenta um filme desequilibrado, que faz lembrar os momentos mais atrozes de Mulher Gato, A Ascensão Skywalker ou A Torre Negra. Os poucos momentos que são inspirados ficam isolados, como ilhas no meio do oceano, soterradas por uma tempestade marinha capaz devastar tudo, incluindo as boas qualidades. Nem o sacrifício de heroísmo de Diana faz sentido, e a mensagem presente no diálogo entre ela e Lord é tão barata e piegas que faz temer pelos próximos trabalhos dos envolvidos. Naturalmente, já há uma parte três confirmada pelo estúdio.

  • Review | Arrested Development – 4ª Temporada

    Review | Arrested Development – 4ª Temporada

    Após sete anos sem as aventuras dos Bluth, a Netflix assume a responsabilidade de tentar contar a história da família de desequilibrados, com um formato ainda menos usual do que o mockumentary apresentando a partir de 2003, a desunião familiar que sempre se anunciava como recurso narrativo para driblar a dificuldade de juntar o elenco, cuja agenda geral quase nunca batia entre si. O drama de Michael (Jason Bateman) começa por não ter mais capacidade de se manter financeiramente, colhendo os frutos dos desmandos de seu pai a frente da Bluth Company.

    Recentemente, o criador da série Mitchell Hurwitz remixou a quarta temporada, então há duas versões do mesmo programa, e ambas serão analisadas aqui. Essa postura inclusive sofreu com algumas polêmicas, já que o elenco não gostou de ter recebido apenas por quinze episódios, quando a versão nova tem vinte e dois.

    Temporada Quatro Original.

    Antes de mais nada, é mostrado um flashback mostrando Lucille e George Sênior novos, não interpretados por Jessica Walter e Jeffrey Tambor, e sim por Kristen Wiig e Seth Rogen (com uma peruca horrorosa). Boa parte dos famosos que fizeram participações especiais no seriado voltam aqui, inclusive, Liza Minelli, que faz Lucille 2 (ou Lucille Austero).  A situação do “protagonista” – essa condição sempre foi discutível, uma vez que cada Bluth tem um bom tempo de tela na série, dividindo assim os holofotes – é muito dificultada ao se deparar com a rejeição por parte do seu filho, que quer se mantar longe do pai, para não repetir os erros dele em não cortar a excessiva intimidade com a própria parentela.

    O formato da retomada se passa inteiro no primeiro episódio, que conta a tentativa de Michael em fundar a própria companhia, cujo fracasso ocorre pelo azar tradicional dele, talvez uma expiação pelos pecados familiares, visto no decorrer dos outros anos. Um dos pontos altos é a participação de Ron Howard, produtor-executivo e narrador do seriado, que se insere na trama como uma visão em meio a realidade, fazendo um papel auto-caricatural que desafia até os limites metalinguísticos da série. O motivo seria a feitoria de um filme sobre os Bluth, o que iria de encontro a realidade, já que a ideia de Hurwitz seria fazer um longa, que acabou transformando-se no seriado da Netflix.

    Em paralelo, George Sr. e Lucille resolvem se divorciar, forçando o último bastião familiar, fato que se torna ainda mais evidente ante a situação legal da matriarca, que será julgada segundo as esdrúxulas leis marítimas. Para variar, o momento mais constrangedor do  programa envolve Tobias, que mistura suas duas profissões, de terapeuta e ator para tentar ajudar Brie (Maria Bamford), uma ex-atriz falida que havia trabalhado em uma produção barata do Quarteto Fantástico, e que o conheceu por acaso. Para tentar ajudá-la a ganhar dinheiro, ele começou a posar como os personagens da Marvel, e foi impedido pelos advogados de Stan Lee, essa trama evolui com ele sendo preso, e depois trabalhando em um musical, na clínica de reabilitação de Lucille Austero, fato que ajuda a mostrar o quão degradante é a vida de Brie e o quão vergonhoso pode ser a de Tobias e dos demais Bluth.

    Os últimos dez episódios acontecem sob um mergulho profundo na melancolia, seja na versão tosca de Entourage que Gob (Will Arnett) vive, assim como sua reaproximação inoportuna de Steve Holt (Justin Grant Wade). É nesse pedaço também que Lindsay (Portia de Rossi) lida com o candidato Love (Terry Crews) um político direitista que quer erguer um muro para deixar os mexicanos longe do território americano, se envolvendo como prostituta de fato. Nessa parte, a personagem confronta sua hipocrisia, e motivação política torpe, se assumindo como uma patricinha que jamais trabalhou para conquistar nenhuma das posses que tem, mas obviamente que o roteiro não seria moralista, e trataria isso de maneira engraçada, como o é.

    Ainda assim, essa versão parece diferente demais da fase clássica. Há muita repetição de cenário e situações, e o fato das agendas dos atores não baterem fez com que a sensação de que esse ano foi feito unicamente por obrigação seja ainda mais grafado, tanto que boa parte das cenas foi feita com fundo verde, e isso faz perder demais a interação e química que fez de Arrested Development um objeto raro.

    Remix – The Fateful Consequences

    Pouco se mudou nas participações dos atores principais, que inclusive reclamaram por terem suas imagens exibidas em mais episódios – que curiosamente tem menos tempo de exibição que a quarta temporada original – e ainda estariam em regime de sindicato, que é um modo de exibição muito particular dos Estados Unidos. Quem teve que realmente trabalhar mais foi o narrador Ron Howard, que praticamente redublou tudo.

    Essa versão chama-se Fateful Consequences e tem 22 episódios, com um pouco mais de vinte minutos cada. Há cenas inéditas, e já no primeiro episódio dessa versão se estabelece um novo misterio, envolvendo uma morte inesperada. Seu formato lembra o vai e vem típico das temporadas anteriores, ainda que hajam diferenças drásticas na história, é como se fosse um gigantesco retcon (continuidade retroativa, em tradução livre), implantado

    As cenas inéditas certamente foram retiradas do material cortado da versão original, e esses acréscimos ajudam a amplificar a sensação de irregularidade do show, uma vez que em alguns momentos ele se torna mais confuso que a quarta temporada comum e em outros, explicita mais os fatos, com explicações bastante expositivas.

    Neste recorte, a questão da festa do Cinco de Quatro é ainda mais grafada. A vingança de Lucille Bluth sobre o feriado mexicano não serve apenas para sustentar a questão de segregação do muro que Love queria levantar, mas também a propagação do aplicativo antissocial Fakeblock, de George Michael, e claro, o terrível destino de Lucille Austero.

    E desse jeito, parecido demais com a terceira temporada, termina Fateful Consequences. Mais irregular que a outra, envolta na tentativa de emular o formato dos episódios antigos, pavimentando também o futuro da saga, mas seu resultado é discutível, apesar de ligeiramente mais positivo que a versão falada por cada personagem. A sensação de comida requentada não sai do paladar do espectador, o que é uma pena, pois qualquer que seja a versão desta quarta temporada, soa melancólica.

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  • Crítica | Pequena Grande Vida

    Crítica | Pequena Grande Vida

    Após uma sequência de filmes praticamente irrepreensíveis, como Eleição, As Confissões de Schmidt e Sideways, o diretor Alexander Payne passou por uma sequência de altos e baixos. Para muitos, Descendentes havia sido seu pior filme até então, mas o fato de Nebraska ter tido o reconhecimento que teve acabou de certa forma mascarando o insucesso anterior. Quatro anos se passaram e finalmente chega as telas seu novo projeto, Pequena Grande Vida.

    Num mundo onde a superpopulação é a maior preocupação, cientistas descobrem que a solução é encolher as pessoas a um tamanho centimentral, a fim de consumir menos recursos. O herói da jornada é o profissional da saúde Paul Safranek (Matt Damon). Ele é casado com Audrey (Kristen Wiig) e após conversar com alguns amigos e com a família, decide então se submeter ao processo irreversível de diminuição. No entanto, sua companheira desiste do processo após ele ter sido reduzido e ele se vê sozinho em um mundo que parece ser habitado unicamente por conservadores brancos que buscam tornar suas pequenas poupanças em verdadeiras fortunas.

    Toda a propaganda para que as pessoas venham a aderir a ideia é envolta em uma fala repleta de engodo, parece ter ali uma ironia que será seguida de um enorme problema. Ao menos na vida de Paul, não é isso que acontece. As agruras que lhe ocorrem são apenas pessoais, e ele segue toda a duração do filme como um sujeito bonachão e extremamente alienado, mesmo quando tem contato com outras culturas e necessidades. O ponto de virada em sua trajetória é quando ele encontra o seu vizinho sérvio Dusan Mirkovic, um europeu trambiqueiro interpretado por Christoph Waltz. É através dele que Paul conhece Ngoc Lan Tran (Hong Chau), uma ativista vietnamita que foi diminuída a força por seu governo, e que nesse novo mundo, se tornou uma faxineira de pessoas ricas, que tem por hábito levar remédios vencidos e sobras de comida para as pessoas de seu gueto.

    A viagem até um ambiente pequenino não tão controlado quanto é o subúrbio onde Paul mora deveria chocar o público, mas não o faz, no entanto, causa espécie no personagem principal, já que ele percebe uma camada social que ele não fazia ideia de que existia. Ainda assim, sua ideia de ajuda passa por alguns momentos estranhos que o fazem enxergar os que sofrem essas mazelas como pobre coitados, mesmo que suas vidas tenham alegrias e tristezas comuns as de qualquer outro homem. A ideia de homem comum não passa na cabeça dele, afinal ele enxerga aquilo como uma sub-vida.

    É curioso como o sub-texto inconsciente do roteiro de Payne e Jim Taylor fala mais do que as camadas superficiais de sua história. Todo o discurso pseudo-ecológico em tom de livro barato de auto-ajuda não deixa de soar piegas em momento nenhum. As interferências de direção de Payne são bonitas visualmente mas são mal engendradas textualmente. A personagem de Tran que num primeiro momento parecia ser inspiradora soa bastante boba, não só pela barreira da língua, mas também por ter tido toda sua luta idiotizada. A poetização do ridículo passa um bocado do ponto, tencionando tanto se tornar jocoso que quase todas as viradas de roteiro soam previsíveis e pretensiosas, Pequena Grande Vida pouco acrescenta nas discussões que propõe, com quase nenhuma boa performance do grande elenco que possui.

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  • Crítica | Festa da Salsicha

    Crítica | Festa da Salsicha

    festa-da-salsicha

    As animações de comédia adultas tem ganho cada vez mais destaque no circuito comercial padrão, ainda que não sejam necessariamente uma tendência muito popular ainda. O mote deste Festa da Salsicha é baseado na expectativa de alimentos que vivem nas prateleiras dos supermercados, a espera de serem comprados e com expectativa de que isso ocorra logo, sem saber que seria consumidos e mutilados.

    O começo do filme de Conrad Vernon e Craig Tiernan mostra algumas salsichas cantando, como em musical, com uma letra repleta de piadas sexuais e palavras torpes, afastando qualquer espectador desavisado como já havia ocorrido anteriormente com Ted de Seth MacFarlane. Na essência, a busca por esse mundo novo envolve os desejos mais íntimos e básicos humanos, como a necessidade de copular unindo a uma realidade que faz piada com a o mito da caverna de Platão. A história é contada por meio da relação entre a salsicha Frank (Seth Rogen) e o pão de Hot Dog Brenda (Kristen Wiig), que estão prestes a ser comprados e que se envolvem em um incidente com a Honey Mostarda (Danny McBride), que as alerta da gravidade ocorrida na casa dos tais clientes, desassociando a questão da utopia de que haveria um lugar magnifico e paradisíaco para os produtos do mercado.

    As comparações e paralelos vistos na jornada dos dois personagens perecíveis após escaparem da bolsa plástica variam entre o ridículo e o grotesco. Compara-se os momentos de infortúnios das comidas com cenas do holocausto, de privação de sentidos e de assassinato em massa, fazendo lembrar muito os filmes catástrofes dos anos quarenta e cinquenta, além de questões de contra-cultura típicas dos humorísticos de 70 e 80.

    A questão da quarta dimensão, cenário onde os humanos são capazes de ver a movimentação dos alimentos, bem como seu comportamento é apresentado via uso de entorpecentes, ratificando a ideia de transgressão de quebra de conservadorismo do roteiro de Rogen, Kyle Hunter, Ariel Shaffir, Evan Goldberg e Jonah Hill, que são conhecidos por dirigir, escrever e protagonizar histórias como Segurando As Pontes, É o Fim e Superbad, que desconstroem a ideia de retidão de caráter via normatividade.

    O conjunto de piadas infames fortalece a ideia de combate mostrada ao final, como uma versão anárquica do desfecho do clássico Toy Story, ainda que tenha menos subtexto aprofundado que o desenho da Pixar e muito mais desejo de contar uma narrativa torpe e repleta de escatologias, contando com um final interessante e dedicado por completo a metalinguagem. A Festa da Salsicha é um projeto bobo, pueril e executado para a plateia que gosta dos mesmos momentos de absoluto humor juvenil descompromissado, típico das rodas de conversa masculinas após se matar aula. Está longe de ser um filme universal ou preocupado em discutir grandes temas, apesar de fazer troça de questões maiores.

  • Crítica | Caça-Fantasmas (2016)

    Crítica | Caça-Fantasmas (2016)


    Caça Fantasmas

    Fato novo é um termo bastante usado no futebol – em especial no brasileiro – para justificar qualquer novidade que visa dar uma sacudida no ânimo de um time que está mal. Talvez esse seja o paralelo mais justo com o ocorrido na franquia Caça-Fantasmas, paralisada na produção de filmes oficiais desde o fim da década de 1990, ainda por Ivan Reitman. O escalado para a função de modificar tudo seria Paul Feig, que tem por costume escalar no elenco suas musas Kristen Wiig e principalmente Melissa McCarthy, que já havia feito com ele Missão Madrinha de Casamento, As Bem Armadas e A Espiã Que Sabia de Menos. Antes mesmo do lançamento, o filme esteve envolto em polêmicas para muito além da qualidade de sua trama ou filmagem.

    A história se assemelha em alguns pontos ao esqueleto do clássico Os Caça-Fantasmas de 1984, sendo repleto de homenagens e aparições do elenco anterior. A história começa mostrando a acadêmica Erin Gilbert (Wiig), tentando alcançar status dentro da universidade em que trabalha, fracassando graças ao seu envolvimento no passado com Abby Yates (McCarthy): quando juntas, escreveram um obscuro livro sobre estudos paranormais. Aos poucos, aparecem outros personagens, bastante arquetípicos, desde a tresloucada e engraçada Jillyan Holtzmann (Kate McKinnon), que é revelação do longa, até Patty Tolan (Leslie Jonan), que age como a estereotipada mulher negra feita de alívio cômico no papel de Winston Redmore, ainda que suas justificativas sejam ligeiramente mais claras.

    O grave problema do filme mora no roteiro de Feig e Katie Dippold cuja parceria esteve presente em As Bem-Armadas e Parks and Recreation, e o montante de coincidências e situações forçadas. Apesar de introduzir melhor a questão da credulidade, opinião pública e dos tecnobables, as piadas nem sempre funcionam, tanto nos momentos em que Wiig tenta ser engraçada quanto nas participações especiais.

    Ao tentar tornar a trama verossímil ao mostrar a prefeitura de Nova York agindo para encobrir os eventos paranormais, as qualidades se dividem, sendo positivo ao trazer uma velha questão à tona, que seria o encobrimento de informação, fortalecendo teorias da conspiração, em um bom deboche à paranoia do americano, e negativo quando mostra com simplismo as curvas do destino. Falta conflito, um vilão decente, ainda que sua participação quando tomado seja interessante.

    Outro fator a discutir em relação à qualidade é o fato de as melhores piadas estarem com Kevin (Chris Hemsworth), que teve sua figura relacionada aos principais materiais de divulgação, um pouco por seu carisma mas principalmente para tentar evitar o boicote de setores mais conservadores a um filme de aventura majoritariamente escalado por mulheres. No entanto, sua posição é subalterna, como um sujeito inapto e escolhido por seus dotes físicos, invertendo irônica e inteligentemente os arquétipos normalmente exibidos nos filmes mainstream no quesito sexo-objeto.

    É um fato indiscutível que Caça-Fantasmas não seja um filme irrepreensível, mas tem uma carga de diversão alta, como o primeiro. Qualquer carga de ódio motivado pelo protagonismo das atrizes é injustificado em matéria de análise fílmica e vergonhoso no sentido ideológico, principalmente por este ser o menos gorduroso e piegas dos filmes de Feig desde Menores Desacompanhados. Não se justificam, em absoluto, as notas e reviews extremamente negativas a seu respeito, visto que a obra não cai na besteira de ser uma refilmagem literal do filme de Reitman, inclusive contando com a presença de espírito de fazer piada com o machismo presente em parte do público.

  • Crítica | The Diary of a Teenage Girl

    Crítica | The Diary of a Teenage Girl

    The Diary Of a Teenage Girl 1

    Narrado a partir de gravações de sua protagonista Minnie – executada pela inspirada e surpreendentemente expressiva Bel PowleyThe Diary of a Teenage Girl é o belo filme de estreia da atriz californiana Marielle Heller (de Caçada Mortal e Spin City) como diretora, além de ser baseado na graphic novel homônima de Phoebe Gloeckner, produto que causou furor por sua temática interessante.

    O roteiro de Heller é focado no despertar da feminidade e sexualidade de Minnie, que acaba se envolvendo primariamente em uma relação proibitiva, mas que a faz queimar etapas na volúpia e no jogo de sedução inexorável a quem se torna ativo em uma relação amorosa ou sexual. A evolução da moça é pontuada por situações engraçadas, graves e contadas da forma mais sincera possível, em um estilo que mistura desenhos e animações para evocar os sentimentos e sensações contraditórios da personagem, unindo paixão e talento na mesma mistura inebriante e irresistível.

    Através de sua sexualidade latente, ela acende o fetiche no mais próximo de homem ativo e devorador que lhe cerca, e tudo é conduzido de um modo muito corajoso e inusual, distante demais do estilo retrógrado que tipicamente permeia esse tipo de filme. A atuação de Powley funciona magistralmente graças à ótima escada que Kristen Wiig faz para ela, revelando finalmente uma faceta reservada que funciona, mas o fundamental é o roteiro muito bem urdido.

    Não há qualquer receio em retratar uma mulher cuja fome sexual é imensa, sem precedentes moralistas que barrem suas ações ou os acontecimentos do argumento. Nem a feminilidade, nem a juventude são coibidas, ao contrário, são louvadas livremente, usando o estilo documental para mostrar ao espectador que tal atitude deve prevalecer acima de qualquer preconceito.

    A jornada de Minnie não é só apresentar o desabrochar sexual, mas também a autoaceitação, descobrindo aos poucos o que a faz feliz e satisfeita, driblando causos como solidão, amor alheio e próprio e transformando em discussões maduras e adultas que não demonizam sequer questões tabus como prostituição e uso indiscriminado de substâncias ilícitas. The Diary of a Teenage Girl é um filme interessante tanto por seu formato quanto pelo conteúdo, servindo como diálogo entre as gerações mais antigas e a que acaba de entrar no período da puberdade.

  • Crítica | Zoolander 2

    Crítica | Zoolander 2

    Zoolander II 1

    Lançado quinze anos após o sucesso do primeiro filme, Ben Stiller resgata Derek Zoolander do ostracismo, começando seu Zoolander 2 com a mesma cena que abre o trailer que fez sucesso internet à dentro, mostrando o assassinato do astro Justin Bieber, postando sua foto póstuma no Instagram. É neste aspecto que mora um dos piores defeitos do longa, já que grande parte das boas piadas são entregues no material de divulgação, e não são bem desenvolvidas no decorrer da exibição.

    A intenção de Stiller é em reverenciar seu colega Drake Sahter, morto em 2004, ressuscitando sua co-criação em mais uma tentativa de revival esbarra em uma inspiração bastante fraca. O ex-modelo está no ostracismo, tendo todo seu hiato explicado através de um flashback curto, que visa atualizar o público e inserir o personagem em uma outra época. O anacronismo dos habitantes daquele antigo micro verso até funciona como piada, ainda que não sustente todo um filme sozinho. O chamado à aventura, ocorrido através de uma participação bastante engraçada de Billy Zane faz encontrar Derek e Hansel (Owen Wilson), que não se encontravam desde o acidente que mudou por completo a vida de ambos.

    O conflito de inimizade entre os dois fashionistas, visto no primeiro capítulo, é substituído por uma mágoa profunda, que faz ate perguntar qual era a intenção do texto de Stiller, John Hamburg, Nicholas Stoller e Justin Theroux, já que as melhores sacadas ocorre com Hansel, e não com o personagem titulo. O roteiro é confuso, escrito a oito mãos, fator que ajuda inclusive a explicar a demora em lançar em circuito comercial, gerando até a ácida comparação metalinguística, quanto a dificuldade de Zoolander em se adaptar aos novos tempos.

    A tentativa de fazer o drama engraçado ir para outro nível, atingindo camadas de evolução à vida adulta, com responsabilidades familiares esbarra em um texto muito confuso, que não consegue harmonizar sequer as participações especiais, ponto alto da outra versão. Sequer as personagens Valentina Valencia (Penelope Cruz) e Alexania Atoz (Kristen Wiig) conseguem fugir da mediocridade ultrapassada, com poucos momentos de um humor que supere os defeitos de mediocridade. A maioria das surpresas positivas, inclusive dessas personagens, já foram utilizadas nos ultimos trailers, fator que quebra o impacto destes momentos, claramente em uma tentativa desesperadas dos produtores em resumir tudo que havia de bom no filme nos teasers.

    A franquia deixa o arquétipo de comedia histericamente risível para se tornar uma auto parodia, uma escolha que tenciona ser corajosa, mas que resulta em um produto pífio. Ao mesmo tempo em que Stiller é generoso com seus colegas, em especial com Wilson e com o antagonista Jacobim Mogatu de Will Ferrell, falta uma direção mais ativa, fator que faz perguntar inclusive o motivo de Stoller não ter o feito, já que escreveu parte do roteiro e vinha de boas empreitadas, com Vizinhos e Cinco Anos de Noivado, explicado somente pelas dificuldades de agenda e talvez pela insistência de Stiller.

    Não há reprise dos momentos que fizeram do primeiro filme uma diversão descompromissada que surpreendia por um sub texto sagaz e debochado, o que é uma pena, já que Zoolander 2 não convenceu o público, mesmo com a onda nostálgica que afetou Hollywood recentemente, aproximando este muito mais do pouco elogiado Debi e Loide 2 do que há Tudo Por Um Furo, que conseguiu reverenciar e apresentar algo novo. A partir destes defeitos, é natural entender a baixa bilheteria, que reflete a falta de sincronia com a atualidade.

  • Crítica | Deadly Adoption

    Crítica | Deadly Adoption

    A Deadly Adoption 1

    Executado de maneira próxima ao formato de telefilme, Deadly Adoption é dirigido por Rachel Goldenberg (do jocoso Z Nation) com texto de Andrew Steele, que já havia trabalhado com Will Ferrell em Casa de Mi Padre. A premissa do filme é “séria”, apesar do protagonismo dos ex-astros do Saturday Night Live; na verdade tem o tom e paródia dos grandes dramas do próprio Lifetime.

    Sarah (Kristen Wiig) e Robert Benson (Ferrell) são um casal feliz no começo da fita, que vivem dos louros do marido best-seller, mas que se veem em um trauma enorme: um acidente caseiro que os faz perderem seu bebê ainda em gestação. A partir dali, dramas cotidianos seriam retratados sob cenas em ambientes abertos e de luz predominante, como nas novelas dos Estados Unidos, além de mostrar um script cheio de falas toscas que explicitam de modo óbvio a vida comum do subúrbio.

    A busca de um novo filho ocorre cinco anos após o fatídico acontecimento, e Robert se torna muito desconfiado, mesmo ao tentar adotar uma criança, somente melhorando sua visão a respeito ao conhecer Bridgette (Jessica Lowndes), uma linda moça grávida, que aos poucos passa a habitar o cotidiano da família, inclusive abraçando de modo terno a pequena Sully (Alyvia Alyn Lind ), filha do casal que é superprotegida pelo patriarca graças aos seus problemas com glicemia.

    Aos poucos, se desenvolve uma estranha relação da moça, a qual se dizia leitora de Benson e que tenta se aproximar lascivamente do pai da família, semelhante ao visto em A Mão Que Balança o Berço, ainda que de modo suave e pasteurizado, e supostamente sem ideais de assassinato – ao menos não tão escancarado quanto a versão com a babá. De maneira bem óbvia, há uma exploração do passado do escritor, explicitando de modo imbecil suas indiscrições no passado. Ainda que o tom de humor seja sutil demais em comparação com os demais filmes de Ferrell, é praticamente impossível não notar que os dramas apresentados possuem um tom de pastiche, mesmo para os desavisados.

    Uma trama de rapto logo se desenvolve, do modo mais sensacionalista e pífio possível, com um protagonista completamente engessado e sem capacidade de sentir qualquer coisa que não esteja previamente programado em sua rotina. As cenas que exigem maior talento dramatúrgico são feitas com coreografias e rotinas bastante patéticas, pois os criminosos são estúpidos, só perdendo em burrice para os personagens que fazem parte da mentalidade média americana.

    A irrealidade de Deadly Adoption se aproxima de ser engraçada, mas o tom ainda não vence. Claro como os olhos azuis de Ferrell, o filme guarda suas besteiras para um final em que o comediante banca Chuck Norris, pegando emprestado sua barba, sua pose de herói falido e uma trilha sonora tosca, que tenta ser edificante, tudo isso para remir seus pecados, traumas e afins, ao tentar achar sua filha e claro, exibir seu dublê – que nada tem a ver com o ator original.

    Os atos de bravura maniqueístas ganham ações de praticamente todos os membros do principal núcleo familiar, aumentando o nível de cafonice a camadas estratosféricas, que automaticamente tratam de fazer o clã vencer seus medos. Tudo a ponto de terminar o longa fazendo passinhos de dança, que explicitam o caráter de deboche que a obra teimava em não imprimir em toda sua extensão, o que faz causar lamentos, já que ela poderia ser bastante engraçada e apenas arranhar a superfície.

  • Crítica | Amores Inversos

    Crítica | Amores Inversos

    O começo de Amores Inversos é agridoce, exibindo o cotidiano incomum de Johanna Parry (Kristen Wiig), cujo comportamento é bastante curioso, uma vez que ela parece ter algum tipo de anomalia mental, que a faz ter dificuldades em expressar sentimentos e até de se alimentar como um adulto “normal”. Logo, sua paciente, uma idosa, que mesmo ela não sabe a idade, falece, deixando a mulher sem um ofício, coisa que não ocorria há 15 anos, quando ela assumiu os cuidados da anciã.

    Após isso, Johanna consegue outro serviço, tornando-se doméstica de uma família em frangalhos, formada pelos remanescentes à morte da sua amada matriarca. Sobraram o avô Mr. McCauley (Nick Nolte), um senhor a que Parry sempre responde, e que é assustadoramente gentil com ela, a menina Sabitha (Hailee Steinfeld) e o viúvo e “doente” Ken (Guy Pearce) que tem um passado trôpego e relações conturbadíssimas com o sogro e com a própria filha.

    O comportamento pouco convencional de Johanna faz todos a verem com maus olhos, geralmente de modo excludente, inclusive por Sabitha e por sua amiga Edith (Sami Gayle), que resolvem brincar com os sentimentos da cuidadora, forjando um flerte por meio de cartas, usando o nomadismo de Ken e a comunicação escrita para praticar os seus atos maléficos.

    Johanna é subserviente em quase todas as relações em que se embrenha, mesmo as românticas, causadas pela ilusão pensada pelas cabeças maléficas juvenis. Seus primeiros atos são os de conserto e de reabilitação do lugar onde está alocada, para só então agir. No entanto, sua condição não a exime de sentir-se rejeitada ou usada.

    Edith é encarada como má até mesmo por seus amigos, por impingir medo em uma pessoa incapaz de revidar os impropérios que vem a sofrer. Sua atitude covarde é também um mecanismo de defesa, uma vez que seu complexo de inferioridade é latente, motivado por sua condição financeira não ser abastada, o que no high school seria uma afronta das mais graves, condição o suficiente para ser excluída, ainda que isso não se prove num primeiro momento. O ato parece mais uma dissimulação, onde a adolescente usa a coitadice como muleta para praticar seus atos mesquinhos.

    Aos poucos a reunião entre Ken e a protagonista ganha contornos reais, como se a afeição fosse mais fácil entre dois páreas que buscam saciar a aflição de suas almas, cada um ao seu modo e estilo. O casal acabou íntimo por vias tortas, uma vez que pelos emails e cartas ela soube dos podres dele. O retorno dos reprimidos ao seio familiar é complicado para Sabitha e constrangedor em inúmeras instâncias, mas que, chegando ao seu desfecho, torna-se para a moça algo muito próximo do que seria uma vida doméstica normativa, muito aproximado graças ao empreendimento comercial de seu pai.

    Logo, o quadro evolui, mas não sem pisar em ovos e em desagrados. Saber de todas as facetas de seu par, mesmo as aparentemente desagradáveis, fazem-na ter subsídios o suficiente para cobrar dele uma atitude mais enérgica na sua reabilitação e no abandono do seu vício. Para analisar melhor a obra de Liza Johnson é preciso refletir, como quando se dá um passo atrás no momento em que se contempla algumas pinturas, para contemplar a real evolução da trajetória mostrada no ecrã cinematográfico, cujo limite da completude de espírito é analisada e mostrada sob um viés atípico.

  • Crítica | Como Treinar o Seu Dragão 2

    Crítica | Como Treinar o Seu Dragão 2

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    Quando Como Treinar o Seu Dragão chegou aos cinemas em 2010, não se imaginava que a nova animação da DreamWorks fizesse tanto sucesso. O estúdio apostou alto adaptando uma série de livros escrita por Cressida Crowell. Com um orçamento gordo de 165 milhões de dólares, o longa – dirigido por Dean DeBlois (Lilo & Stitch) e pelo roteirista de clássicos como O Rei Leão, Chris Sanders – chegou aos 500 milhões de dólares no mundo inteiro, garantindo financiamento para que mais dois filmes fossem encomendados. Como Treinar o Seu Dragão 2 chegou às telas quatro anos após seu antecessor, quase respeitando o tempo da ordem cronológica da história, que é de cinco anos.

    Soluço (voz de Jay Baruchel), o simpático protagonista, agora tem 20 anos de idade, o suficiente para que seu pai, Stoico (Gerard Butler), o coloque no trono, substituindo-o como líder da cidade de Berk. Porém, Soluço não quer nem um pouco assumir as responsabilidade de governar, ainda mais depois dos adventos do primeiro filme, quando a paz entre vikings e dragões passou a reinar. Nesses cinco anos, podemos perceber que a aliança entre dragões e o povo viking trouxe muitos benefícios à cidade, principalmente numa cena completamente inspirada em Os Flintstones, quando animais ajudam os humanos nas tarefas diárias. Vale destacar que Soluço possui vários aparatos “tecnológicos” muito legais, dispondo, inclusive, de uma wing suit, a popular asa de morcego, aparato bastante conhecido entre os paraquedistas.

    O filme começa numa festa em Berk, onde acontece uma corrida de dragões disputada pelos velhos amigos de Soluço: a namorada Astrid (voz de America Ferrera), Melequento (Jonah Hill), Perna de Peixe (Christopher Mintz-Plasse), Cabeça Dura (T.J. Miller), Bocão (Craig Ferguson) e a feia e revoltada, porém irresistível, Cabeça Quente (na voz de Kristen Wiig). Percebe-se que o protagonista deveria estar disputando a prova, porém ele está explorando o mundo com o seu dragão, Banguela, que ainda não consegue voar sozinho. Enquanto Soluço e Banguela voam, nota-se que, na verdade, eles estão mapeando o local, o que faz com que o jovem tenha consigo um enorme mapa da região, descoberta por Soluço e seu amigo.

    Mas a trama, de fato, começa quando, numa dessas explorações junto a Astrid e seu dragão Tempestade, Soluço e Banguela são atacados pelo simpático e divertido viking Eret (voz de Kit Harrington, o Jon Snow, de Game Of Thrones), que deixa escapar que está capturando dragões a mando do temido Drago Sangue Bravo (voz de Djimon Hounsou). E esse contato com Eret muda para sempre a vida de Soluço, interferindo, inclusive, em seu passado, onde algumas coisas são reveladas, como, por exemplo, a verdade sobre sua mãe, desaparecida desde um ataque de dragões a Berk, quando Soluço ainda era um bebê.

    O filme é bastante leve, passa rápido e não erra em nenhum aspecto. É engraçado e triste quando precisa ser e é tenso e suave quando também precisa ser. A história e o visual são mais ricos e abrangentes, dada a facilidade de se viajar por aí com um dragão. Simples assim. Pode-se dizer que os acontecimentos do primeiro filme, além de contribuírem com a trama, colaboram com os aspectos técnicos do segundo. Desta forma, a facilidade que Soluço tem de explorar a região o coloca em contato com a misteriosa guardiã de dragões, Valka (voz de Cate Blanchett), que sabe muito mais sobre os dragões do que qualquer outra pessoa no mundo, além de esconder um grande segredo. Para se ter uma ideia, Soluço é apresentado ao Dragão Alfa, um dragão colossal, talvez maior que o Godzilla, que controla todos os outros dragões.

    Um dos destaques fica por conta da diversidade de dragões que este filme possui. Cada raça possui características bem distintas, o que, infelizmente, deixa Banguela totalmente em segundo plano, ganhando mais importância somente no início do terceiro ato, quando Drago Sangue Bravo se torna, de fato, uma ameaça. Cabe destacar que ele também possui um Dragão Alfa, que resulta no maior combate de dragões já visto no cinema, mesmo que em uma animação. Um elemento grandioso não só pelos dragões alfa, mas porque Drago, assim como Valka, possui uma horda de dragões controlados por seus líderes, resultando numa épica batalha.

    Felizmente, o saldo é bem positivo, e o filme é com certeza uma ótima diversão para as crianças nas férias. Mas, por outro lado, talvez Chris Sanders tenha errado um pouco o tom ao escrever uma cena daquelas em que o herói pega a dama pela cintura e tasca-lhe um beijo, como acontece entre Soluço e Astrid, cena que resulta em um monte de “eca”, “credo” e “blergh” entre as crianças no cinema, causando risos nos adultos pela situação constrangedora e divertida.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Crítica | A Vida Secreta de Walter Mitty

    Crítica | A Vida Secreta de Walter Mitty

    a vida secreta de walter mitty

    Após sentar-se na cadeira de diretor, 6 anos atrás, em Trovão Tropical, Ben Stiller volta comandando a história de Walter Mitty. Interpretado pelo próprio ator, Walter é um funcionário da Revista Life que, com a reestruturação da  empresa, está prestes a perder o emprego.  Há 16 anos responsável por revelar os negativos do aventureiro fotógrafo Sean O’Connell (Sean Penn), agora Walter terá de sair de sua vida monótona e sem grandes realizações para ir ao encontro do velho parceiro de trabalho; a incumbência é a de garantir o que supostamente será a última capa da revista, que deixará de existir em sua forma física permanecendo apenas no formato Life Online (desde já, uma boa piada).

    Diferente das outras obras que dirigiu, aqui Stiller decide rumar em um caminho mais dramático. Para isso conta com ninguém mais ninguém menos do que Steve Conrad (À Procura da Felicidade) como roteirista. E, se mais simples, talvez a película convencesse. A direção presunçosa consegue diminuir o que de humano e sensível os 114 minutos de projeção têm a oferecer.

    Já estamos acostumados a ver histórias de pessoas superando os seus limites, principalmente em se tratando de grandes telas. O próprio Conrad fez isso magistralmente na consagrada obra com Will Smith. Mas, para que a narrativa funcione, é necessário que haja naturalidade, uma sensação de que os indivíduos se encaixem de forma orgânica em tais situações, ou então que sejam movidos a elas de forma lógica, racional. O que temos em A Vida Secreta de Walter Mitty é uma confusão de estilos, ou até mesmo de Stiller’s. De um lado, o diretor paródico que se sai bem na crítica do gosto pop ou dos estereótipos cinematográficos. De outro, o cineasta que punge falar sobre a quebra da inércia e a busca pelo verdadeiro propósito da vida, nem que para isso seja necessário bater de frente com tubarões, vulcões, montanhas congeladas, medos vencidos sob a motivação das canções que compõem a trilha sonora, aliás muito boa, com David Bowie, Arcade Fire, Of Monsters and Men, Junip, entre outros artistas. Há diferentes tons no longa. O personagem, que às vezes foge da realidade ainda acordado e devaneia situações cômicas, flutua entre o pastiche de cenas como a que remete a O Curioso Caso de Benjamin Button, e o realismo da realização naturalista, estilo Na Natureza Selvagem; ou quando realmente explora recônditos do universo, como a Groenlândia ou o Himalaia. Esses diferentes tons fazem com que até o objetivo da narrativa seja questionado, pois se há um “quê” de paródia nesse próprio fazer dramalhesco de Stiller, este se desfaz quando ocorre a constatação de que o roteiro se leva muito a sério, vide cenas como a que Mitty foge em disparada (algo que faz dezenas de vezes no filme) quando acredita que sua parceira de trabalho, Cheryl Melhoff (Kristen Wiig), voltou para o ex-marido, ou o próprio final da obra.

    O filme não é cansativo. O roteiro consegue guardar e espalhar surpresas interessantes e que trazem, de volta, o espectador de uma provável distração. Uma das melhores é a presença de Penn, quase nos instantes finais da película, soando até como uma possível piada, já que o próprio dirigiu o, já citado, Na Natureza Selvagem. Mas o problema é que, se por um lado vemos uma atualização da clássica obra protagonizada por Peter Sellers, Muito Além do Jardim, por outro vemos um esforço colossal de direção em explicar ou dizer, a partir de frases de efeito escritas no cenário ou outras inserções, tudo o que, na verdade, era para que víssemos em tela, de forma fluída e sem máculas. Soma-se a isso o excesso de cenas em slow-motion e o grande número de publicidades na produção e chega-se ao resultado de um filme que poderá até arrancar sorrisos marotos do espectador, mas no fim deixará uma sensação de discurso dito, redito e não dito ao mesmo tempo.

    Em seu cerne, porém, mesmo que frouxamente, A Vida Secreta de Walter Mitty nos faz voltar a tocar num calo social pós-moderno: a ausência de vida. Talvez o personagem mais cômico do filme seja o carinha da rede social que sazonalmente questiona Walter acerca de suas realizações, o que tem feito da vida, a que locais ele tem ido. É uma voz que, enquanto onisciente e onipresente, pode representar a nossa própria consciência nos questionando sobre o que temos feito com a nossa própria vida. Sério que realmente queremos passar anos e anos atrás de um balcão de escritório sem ao menos experimentar um décimo de por cento do que o mundo nos oferece lá fora? Sério que nossa atitude mais radical, em séculos, será cutucar alguém no Facebook? Sério que viveremos, para sempre, sérios e reclusos a tudo o que nós mesmos pedimos desesperadamente, dentro de nossa cabeça, e simplesmente optar por nos silenciar? Indiretamente, ou não, a obra de Stiller nos faz pensar em nós, pena que não seja tão eficaz como cinema quanto talvez o seja como palestra psicossocial.

    Texto de autoria de Rodrigo Rigaud.

  • Crítica | Tudo Por Um Furo

    Crítica | Tudo Por Um Furo

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    Adam McKay é responsável por dirigir alguns dos filmes mais hilários da carreira de Will Ferrell, como Ricky Bob: A Toda Velocidade, Quase Irmãos, Os Outros Caras e, claro, Âncora – A Lenda de Ron Burgundy. A esperada continuação do filme mais notável da parceria entre McKay e Ferrell começa tão estúpida e boba quanto o primeiro episódio, com toda a gritaria típica dos filmes do ator e a estupidez de Ron, mostrando a perfeita caricatura do jornalista televisivo moderno.

    A trajetória de Burgundy é interrompida com poucos minutos de exibição. Seu status quo é quebrado e a lenda é contestada, sendo logo mandado embora. A sequência de eventos que ocorre após a fatídica notícia é absolutamente hilária, sendo praticamente impossível para o espectador não rir. O renascer deste como jornalista após a humilhante constatação de sua incompetência é reunir a sua trupe novamente – nada mais clichê e certamente não poderia ser menos engraçado do que foi, pois cada um dos seus coadjuvantes está em uma situação das mais curiosas e absurdas: Champ Kind (David Koechner) tornou-se dono um restaurante fast-food que serve asinha de morcego empanada; Brian Fantana (Paul Rudd) faz ensaios fotográficos com pequenos gatos e se excita deveras com isto; enquanto Brick Stamland (Steve Carrell) acredita estar morto e é tão burro que vai ao próprio enterro. Toda a ironia da antiga rotina deles, ao invés de se repetir, é substituída por cenas ainda mais “babacas” que as anteriores.

    Tudo dentro do roteiro faz parecer um teatro dos absurdos. O machismo e racismo de Burgundy parecem não ter diminuído nada com o passar dos anos. Associados à intelectualidade média de norte-americano, esses preconceitos fazem da comédia algo sem muito compromisso com o politicamente correto, o que é muito raro, principalmente com o fato de não ser associada somente a jocosidades sexuais por necessidade. Todos os grupos secularmente excluídos recebem sua dose de gracejos: negros, gays, mentalmente prejudicados, latinos e mulheres.

    Seu retorno obviamente não é fácil, e ele tem de enfrentar novas rivalidades dentro da emissora, que só circula notícias, e na casa de sua esposa e atual ex, Veronica Corningstone, a ainda bela Christina Applegate. O método antiquado como Ron vê o mundo cobra o seu preço. Há necessidade de se reinventar como profissional da informação e como figura masculina, e sua saída é usar um discurso ufanista e sensacionalista voltado para o público que está dentro do maior denominador comum. Sua seleção de matérias visa reforçar a ideia de que a América é o melhor lugar do mundo para se viver, ignorando tudo o que aconteça à volta do mundo e que seja relevante. A falta de noção impera no modo de operar do laureado e premiado jornalista, e a ausência de limites faz com que todos não achem estranho ensinar o público a enrolar e fumar cachimbos de crack na televisão ao vivo. Tudo é tão absolutamente louco que, por mais nonsense que seja o cenário, o circo midiático maluco torna-se lógico e faz total sentido dentro daquele universo tão estapafúrdio.

    Uma boa novidade é o romance em que se metem Brick Tamland e Chani Lastname (Kristen Wiig), uma personagem desequilibrada mentalmente com direito a alguns distúrbios e transtorno obsessivo-compulsivo, inclusive com o mesmo background de origem militar para tais demências. Quando este tem de ir ao seu encontro, é apresentada a ela uma miscelânea enorme de variações de preservativos, inclusive os que não funcionam na prevenção de gravidez. A primeira interação do responsável pela previsão do tempo na tela verde é tão incrivelmente idiota que se torna uma das cenas que mais causaram gargalhadas nos últimos tempos.

    A falta de tato social de Ron continua intacta, se não aumentada. O affair que tem com Meagan Good  (Linda Jackson) o faz exagerar ainda mais com os estereótipos raciais. Até na mesa da família da moça utiliza-se de todo tipo de insinuação sexual, especialmente das mais sujas, com o que ele acha ser natural, unicamente pelo fato dos presentes serem negros, o que, em sua cabeça, os faz mais liberais nos assuntos relacionados ao coito poli e monogâmico. Um drama dos mais trágicos acontece com ele, e Burgundy se enfia numa luta contra o vício em crack que o faz agir como um pai ausente e irresponsável seletor de notícias. Quando cobre uma aleatória perseguição de carros, consegue uma entrevista de Veronica com Yaser Arafat, que vem a falar de sua tentativa de pacifismo com Israel. Seus índices de audiência atingem picos estratosféricos, mas sua fama é interrompida por um acidente que tira a sua visão, e consequentemente a capacidade de comunicar notícias via teleprompter.

    Depois da volta por cima e reinvenção enquanto cego, Ron Burgundy tem à sua frente um dilema moral: continuar a carreira cobrindo fatos sem importância ou ir ver o seu filho homenageá-lo em um recital. Sua escolha é a moralmente correta e ele se alinha com as coisas que o fazem bem, reatando as suas amizades e retornando ao seu verdadeiro amor, como na maioria dos último bons filmes de Ferrell. Ficaria um gosto de decepção se não fosse pela ótima cena repaginada da batalha entre jornalistas que reúnem ainda mais cenas de notícias, com participações especiais das mais diversas, entre humoristas e atores consagrados. Uma épica batalha contendo muita violência e referências das menos cabíveis possíveis, num dos exercícios de Deus Ex Machina com justificativa das melhores possíveis e um argumento providencial muito bem encaixado.

    O humor de Tudo por um Furo é universal, mas o roteiro faz ainda mais sentido para quem é comunicólogo. Todas as sandices mostradas em tela fazem da obra algo difícil de se levar a sério, obviamente não fazendo uso de humor inteligente ou cerebral. Por isto mesmo é uma obra única, por ser pensada e feita como uma troça de uma indústria que se leva demasiado a sério pela responsabilidade de informar. O filme é corretissimamente pensado e acerta muito dentro de sua proposta. Analisar algo fora desse escopo é total perda de tempo.