Tag: como treinar o seu dragão

  • Crítica | Como Treinar Seu Dragão 3

    Crítica | Como Treinar Seu Dragão 3

    Se há uma saga cinematográfica subestimada no universo que a Dreamworks tenta emplacar, essa é Como Treinar Seu Dragão, a aposta do estúdio para competir ao Oscar de melhor animação com a Pixar e com a Sony, que em Homem-Aranha no Aranhaverso, acabou arrebatando a estatueta. Como Treinar Seu Dragão 3, de Dean DeBlois começa com uma ação conjunta, onde Soluço, Banguela e seu amigos resgatam os dragões que estão sendo pirateados, dando vazão a historia da saga.

    Em Como Treinar Seu Dragão 2 – que não por acaso, é o auge da franquia  – se discutiu bastante a relação entre os dragões e os humanos, mostrando os vikings lidando bem com os monstros alados que cospem fogo, mostrando uma relação de interdependência que vai muito além da relação de um homem e seu animal de estimação, mesmo que os animais sejam bonitos e alguns até fofos, como Banguela, o último Furia da Noite que se tem notícia.

    A adaptação dos livros de Cressida Cowell é  bem diferente dos livros, mas há muita inteligência em continuar contando essa historia com uma sociedade que não só convive bem com os animais, como os insere dentro da sociedade. A aldeia viking só é considerado um paraíso por conta dessa inteiração, mas a mãe de Soluço, Valka, se preocupa que os garotos mal contam com seus amigos humanos, e a realidade, já posta nesse momento, é que aquele é o lar dos homens, não dos dragões.

    Apesar de já ter explorado assuntos bem adultos antes, a terceira parte consegue abordar e expandir temas igualmente básicos para o futuro de homens e dos seus pares reptilianos. Os protagonistas passam por uma fase de amadurecimento de encontrar seus pares, deixando de lado o nojo juvenil pelo sexo oposto para finalmente mostrar os machos tentando ser alfa, tentando impressionar as mulheres e fêmeas. Tudo isso é mostrado de uma forma singela e emotiva, com ambos se ajudando nesse processo, tendo que lidar inclusive com a emancipação de ambos.

    Os novos cenários apresentados são deslumbrantes, fazendo o espectador as vezes esquecer que se trata de uma animação. O montante de cores e formas fluem tão bem quanto o visual de Avatar, Jogador Nº 1 e demais filmes que fazem uso de reinos distantes e diferentes para fazer seu drama funcionar. Mas a expansão visual não se sustenta sozinha, para isso é preciso ter um acompanhamento também da historia, que é muito bem feita, tanto na mitologia, com o acréscimo de mais castas de dragões incluindo ai o acréscimo da Fúria do Dia (o dragãozinho branco que Banguela se apaixona), e também de Soluço e dos outros vikings.

    Há uma mensagem muito forte de preservação animal e de espécies e anti-predação dos humanos. A nova geração viking, liderada por Soluço é muito mais inteligente e evoluída que a Stolco, o Imenso, que aliás, faz participações boas aqui, com flashbacks que inspiram as tomadas de decisão do filho, inclusive no quesito mudança de postura. O filho não repete os erros do pai, não se permite ser sozinho como o antigo monarca foi, e isso é quase tão maduro quanta a perda de um membro do herói da jornada, como foi num dos capítulos anteriores.

    A luta final, em várias frentes faz lembrar os bons momentos de clássicos de fantasia futuristas e medievais, como Star Wars Uma Nova Esperança, O Retorno de Jedi e Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei, com perseguições e lutas repletas de significados, onde cada um dos carismáticos personagens coadjuvante tem ao menos um momento de brilho exclusivo.

    A ideia de resgate dos vikings por mais que parecesse dar errado é uma saída das mais inventivas e inteligentes, que mostra que os homens evoluíram junto com seus melhores amigos, sem falar do simbolismo envolvendo a queda de Grimmel, o vilão da historia, e o renascer do alfa humano. Há muito de J.R.R. Tolkien e Marion Zimmer Bradley nesses momentos finais, em especial no caráter super épico e arrepiante, tantos nos vôos rasantes dos dragões, quanto no final envolvendo o segredo dos dragões, as lendas e a mitologia em torno dessas criaturas belas, contando com um desfecho que apesar de otimista nos detalhes pessoais, é pragmático no sentido de não fantasiar com uma possível convivência pacifica entre as duas castas.

    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram | Spotify.

  • Crítica | Como Treinar o Seu Dragão

    Crítica | Como Treinar o Seu Dragão

    Baseado livremente nos livros de Cressida Cowell, Como Treinar Seu Dragão é o primeiro filme de uma cine serie, dirigido por Dean DeBlois, Chris Sanders era a aposta da Dreamworks para competir na última década com os filmes da Disney e Pixar. A base da historia é mitologia e iconografia viking, onde o jovem Spantosicus Strondus III ou simplesmente Soluço (Jay Baruchel no original e no Brasil dublado por Gustavo Pereira) sonha em ganhar fama em sua aldeia, achando que o caminho mais fácil para isso seria matando um dragão, seres esses que atormentam o lugar onde moram, o problema é que ele não leva o menor jeito para isso, mesmo sendo filho de uma lenda, Stoico, o Imenso (Gerard Butler e na versão nacional Mauro Ramos) que e líder de Berk e um dos guerreiros mais ativos da aldeia.

    A tradição dos Berk é de caçar dragões, e Soluço quer se tornar um bom caçador, mas ele além de não conseguir, é julgado por seu pai como frágil demais para conseguir tal feito. Ele monta uma armadilha e encontra lá um dragão negro, belo, e machucado, mas não tem coragem de matá-lo e dali começa uma estranha parceria, tão boa que o menino passa a usar os ensinamentos do dragão para ludibriar os outros monstros no treinamento comum.

    Soluço passa a adestrar a besta, de maneira escondida obviamente, pois seria proibido. Astrid (America Ferrera e no Brasil por Luisa Palomanes), a menina por quem ele é apaixonado começa a suspeitar, mas o mundo dos adultos pouco se importa com isso. A questão é que as diferenças entre gerações são mostradas não só nos interesses mas no comportamento entre pais e filhos. Soluço é um menino que se sente desprezado por todos, sobretudo por seu pai, e ele encontra em uma figura controversa um alento, alguém com quem pode ser sentimental apesar do óbvio aspecto selvagem e o fato dele esconder essa relação pode ser encarado como um paralelo com diversos aspectos de discussões mais adultas, como segregação de diferentes.

    Os aspectos visuais do filme são muito bem explorados, o lar dos dragões tem um vermelho muito vivido e  uma quantidade enorme dos monstros voadores circulando em torno da rainha, que os explora. Sem panfletar ou sem necessidade de lacrar o roteiro de DeBlois, Sanders e Will Davies mostra como uma casta explora outra e o quanto seres de discursos e linguagens diferentes mal julgam uns aos outros, isso tudo fortificado pela amizade de Soluço e Banguela.

    O destaque de Soluço diante dos treinamentos não ocorre porque ele é ótimo em batalhas como seu pai, e sim porque ele, uma criança, tem uma compreensão mais madura e adulta que os velhos aldeões e caçadores, entendendo finalmente que a relação ideal entre os repteis alados e os homens, e mesmo após ele conseguir conter  os dragões, observado por seu pai e pelos outros anciões, a teimosia predatória dos guerreiros humanos segue, em mais um esforço tolo que visa provar a masculinidade tóxica dos personagens que se acham heroicos.

    Pai e filho tem um discurso alinhado no final, ainda que não aconteça isso sem sacrifícios e sem  a ressignificação revisionista da relação entre homens e dragões, tudo bem que os animais se tornam pets, mas ao menos deixaram de ser objetos de caça de ódio, para receberem carinho a gratidão dos meninos e meninas, que claramente são mais exímios com os animais. Como Treinar Seu Dragão é uma animação simples, de excelência gráfica e com uma historia que desmonta paradigmas como foi nos sucessos maiores da Dreamworks, FormiguinhaZ, Shrek e Megamente, e ainda deu vazão a uma franquia que se preocupa em trazer boas historias, para muito alem do dever de só vender bonecos.

    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram | Spotify.
  • Crítica | Como Treinar o Seu Dragão 2

    Crítica | Como Treinar o Seu Dragão 2

    Como-treinar-o-seu-dragão-2

    Quando Como Treinar o Seu Dragão chegou aos cinemas em 2010, não se imaginava que a nova animação da DreamWorks fizesse tanto sucesso. O estúdio apostou alto adaptando uma série de livros escrita por Cressida Crowell. Com um orçamento gordo de 165 milhões de dólares, o longa – dirigido por Dean DeBlois (Lilo & Stitch) e pelo roteirista de clássicos como O Rei Leão, Chris Sanders – chegou aos 500 milhões de dólares no mundo inteiro, garantindo financiamento para que mais dois filmes fossem encomendados. Como Treinar o Seu Dragão 2 chegou às telas quatro anos após seu antecessor, quase respeitando o tempo da ordem cronológica da história, que é de cinco anos.

    Soluço (voz de Jay Baruchel), o simpático protagonista, agora tem 20 anos de idade, o suficiente para que seu pai, Stoico (Gerard Butler), o coloque no trono, substituindo-o como líder da cidade de Berk. Porém, Soluço não quer nem um pouco assumir as responsabilidade de governar, ainda mais depois dos adventos do primeiro filme, quando a paz entre vikings e dragões passou a reinar. Nesses cinco anos, podemos perceber que a aliança entre dragões e o povo viking trouxe muitos benefícios à cidade, principalmente numa cena completamente inspirada em Os Flintstones, quando animais ajudam os humanos nas tarefas diárias. Vale destacar que Soluço possui vários aparatos “tecnológicos” muito legais, dispondo, inclusive, de uma wing suit, a popular asa de morcego, aparato bastante conhecido entre os paraquedistas.

    O filme começa numa festa em Berk, onde acontece uma corrida de dragões disputada pelos velhos amigos de Soluço: a namorada Astrid (voz de America Ferrera), Melequento (Jonah Hill), Perna de Peixe (Christopher Mintz-Plasse), Cabeça Dura (T.J. Miller), Bocão (Craig Ferguson) e a feia e revoltada, porém irresistível, Cabeça Quente (na voz de Kristen Wiig). Percebe-se que o protagonista deveria estar disputando a prova, porém ele está explorando o mundo com o seu dragão, Banguela, que ainda não consegue voar sozinho. Enquanto Soluço e Banguela voam, nota-se que, na verdade, eles estão mapeando o local, o que faz com que o jovem tenha consigo um enorme mapa da região, descoberta por Soluço e seu amigo.

    Mas a trama, de fato, começa quando, numa dessas explorações junto a Astrid e seu dragão Tempestade, Soluço e Banguela são atacados pelo simpático e divertido viking Eret (voz de Kit Harrington, o Jon Snow, de Game Of Thrones), que deixa escapar que está capturando dragões a mando do temido Drago Sangue Bravo (voz de Djimon Hounsou). E esse contato com Eret muda para sempre a vida de Soluço, interferindo, inclusive, em seu passado, onde algumas coisas são reveladas, como, por exemplo, a verdade sobre sua mãe, desaparecida desde um ataque de dragões a Berk, quando Soluço ainda era um bebê.

    O filme é bastante leve, passa rápido e não erra em nenhum aspecto. É engraçado e triste quando precisa ser e é tenso e suave quando também precisa ser. A história e o visual são mais ricos e abrangentes, dada a facilidade de se viajar por aí com um dragão. Simples assim. Pode-se dizer que os acontecimentos do primeiro filme, além de contribuírem com a trama, colaboram com os aspectos técnicos do segundo. Desta forma, a facilidade que Soluço tem de explorar a região o coloca em contato com a misteriosa guardiã de dragões, Valka (voz de Cate Blanchett), que sabe muito mais sobre os dragões do que qualquer outra pessoa no mundo, além de esconder um grande segredo. Para se ter uma ideia, Soluço é apresentado ao Dragão Alfa, um dragão colossal, talvez maior que o Godzilla, que controla todos os outros dragões.

    Um dos destaques fica por conta da diversidade de dragões que este filme possui. Cada raça possui características bem distintas, o que, infelizmente, deixa Banguela totalmente em segundo plano, ganhando mais importância somente no início do terceiro ato, quando Drago Sangue Bravo se torna, de fato, uma ameaça. Cabe destacar que ele também possui um Dragão Alfa, que resulta no maior combate de dragões já visto no cinema, mesmo que em uma animação. Um elemento grandioso não só pelos dragões alfa, mas porque Drago, assim como Valka, possui uma horda de dragões controlados por seus líderes, resultando numa épica batalha.

    Felizmente, o saldo é bem positivo, e o filme é com certeza uma ótima diversão para as crianças nas férias. Mas, por outro lado, talvez Chris Sanders tenha errado um pouco o tom ao escrever uma cena daquelas em que o herói pega a dama pela cintura e tasca-lhe um beijo, como acontece entre Soluço e Astrid, cena que resulta em um monte de “eca”, “credo” e “blergh” entre as crianças no cinema, causando risos nos adultos pela situação constrangedora e divertida.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.