Tag: dreamworks

  • Crítica | Kung Fu Panda 3

    Crítica | Kung Fu Panda 3

    Em 2008, a Dreamworks nos apresentou a primeira parte das aventuras do panda Po, um atrapalhado urso que seria a reencarnação do “dragão guerreiro” conforme uma antiga profecia interpretada pelo mestre Oogway. O filme foi indicado ao Oscar de melhor animação no ano seguinte, mas não levou. Em 2011, sua sequência também obteve grande êxito de bilheteria e recebeu uma indicação ao Oscar, mas também não levou. Agora, chegamos na terceira parte das aventuras de Po e seus amigos, os Cinco Furiosos, e a Dreamworks novamente entrega um filme divertido que funciona tanto pra garotada quanto pros marmanjos que gostam de uma boa animação.

    Na trama, o pai desaparecido de Po reaparece e o convoca para viajar a um paraíso panda secreto a fim de que ele conheça mais sobre suas origens e também para se aproximarem. Mas quando o vilão sobrenatural Kai derrota o mestre Oogway, foge de sua prisão no mundo espiritual e começa a varrer toda a China derrotando todos os mestres de Kung Fu, Po deve fazer o impossível – aprender a treinar uma aldeia cheia de amantes da diversão e irmãos desajeitados para que juntos possam deter a terrível ameaça de Kai.

    Escrito pela dupla Jonathan Aibel e Glenn Berger, e dirigido por Jennifer Yuh Nelson e Alessandro Carloni, o filme é mais um passo na jornada de autoconhecimento do urso panda bonachão. Desde o primeiro filme, o protagonista está sempre em uma procura sobre o seu lugar no mundo e qual o seu propósito. Uma temática bem pertinente e desenvolvida com bastante leveza e sensibilidade nesse terceiro filme. A mistura de filosofia zen com filmes de artes marciais mais uma vez funciona bem, porém nesse filme temos um embate interessante: enquanto Po é uma espécie de amálgama de todos os seus ídolos, pois aprendeu e absorveu todas as lições de artes marciais que lhe foram ensinadas, Kai, o vilão, é uma espécie de fanático alucinado e predatório que além de querer tomar o lugar de suas inspirações, deseja tê-las para sempre como objetos de sua coleção, uma vez que os derrota e os transforma em tokens carregados em uma corrente. Interessante observar também a metalinguagem utilizada no filme, com Po sendo um representante do espectador, tecendo comentários sobre entradas triunfais, pausas dramáticas e outros clichês usados no cinema de super-herói, artes marciais e ação.

    Uma grave problema que o filme possui é o excesso de sequências de “montagem”. Se para os pequenos isso não é um problema, para os marmanjos isso dilui a dramaticidade e o impacto do treinamento dos personagens, fazendo com que Po perca um pouco da graça que tinha ao estar sempre enrolado com as tarefas e tendo que se superar a cada instante. Visualmente, o filme é espetacular, com técnicas de animação sendo mescladas em vários momentos para contar pontos cruciais da história, provocando um verdadeiro deslumbre para os olhos. A direção também acerta na direção de vozes, com escolhas novamente muito acertadas para os papéis (ressaltando que assisti a versão legendada), com destaque para o vilão Kai, dublado por Bryan Cranston. O ator altera sua voz para um tom ameaçador que por vezes remete aos momentos mais cruéis de seu Walter White.

    Fugindo do lugar comum dos filmes da Dreamworks, sempre lotados de melodrama, Kung Fu Panda 3 une muito bem a cultura oriental, voltada para a espiritualidade e a evolução pessoal, com a ocidental, voltada para o capitalismo, e entrega um grande divertimento para todas as idades.

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  • Crítica | O Poderoso Chefinho

    Crítica | O Poderoso Chefinho

    As animações contemporâneas se bifurcam em duas vertentes: aquela que expandiu suas produções além de um mero produto familiar de entretenimento, como a Pixar, Studio Ghibli e, recentemente, a Laika; e outros cujo enfoque é apenas a diversão com um apelo maior ao público infantil. Dois polos que atingem um grande número de bilheteria, ainda que no caminho do entretenimento a fórmula se demonstre mais evidente.

    Dirigido por Tom McGrath, responsável por outras animações-pipoca da Dreamworks como Madagascar, Os Pinguins de Madagascar e Megamente (este último um ponto fora da curva por uma qualidade elevada além do riso fácil), O Poderoso Chefinho é um filme que poderia fazer parte da primeira vertente e se expandir além de um produto de entretenimento. Afinal, abordar o nascimento de um irmão pela visão de um garoto, dando margem a uma imaginação ativa que o faz imaginá-lo como um vilão, teria uma necessária carga dramática e cômica. Porém, o roteiro de Michael McCullers, cujo melhor texto ainda é o divertido Austin Powers – O Agente “Bond” Cama, opta por uma trama linear, voltada para a família com direito a um riso fácil entre gags físicas e piadas bobas envolvendo bumbum e pum.

    A trama apresenta uma corporação em que os bebês são divididos em duas categorias antes de nascer: os familiares, que se comportam como bebês normais e os chefes, responsáveis por mandar na hierarquia local. Para evitar que a demanda de bebês caia no mundo, um bebê executivo é enviado a Terra com a missão de, como destaca sua sinopse, demonstrar que o amor é uma força poderosa.

    Ainda que tenha uma base criativa por trás, com potencial para ser uma história bem explorada a partir do imaginário do irmão mais velho do bebê, a trama evita qualquer efeito dramático para inserir os irmãos em uma missão para evitar que os bebês sejam trocados por outro tipo de amor na terra. O conceito do bebê-chefe é exposto na trama como se fosse natural, sem demonstrar se a história é apenas uma imaginação do jovem Tim, receoso por um novo membro em sua família, e, por consequência, o único que imagina o bebê como um pequeno executivo de terno, relógio e maleta, ou se, de fato, há uma corporação de infantes, oculta dos adultos.

    Como estruturar um espaço imaginário daria maior profundidade a trama (e talvez teria certa semelhança com o bonito e complexo Divertida Mente), a saída foi buscar a animação de entretenimento em uma história sem muito sentido interno, recheada de cenas de humor variado em que se destacam bebês, piadas físicas e, como citado anteriormente, piadas envolvendo bumbum e pum. Não se trata de exigir argumentos complexos em uma animação, mas de compreender que, mesmo na simplicidade boba da história, há lacunas que são mal explicadas e que, mesmo atenuadas pelos risos, resultam em um filme comum que repete a formula aventuresca de outras animações lançadas anualmente no verão americano.

    Porém, como muitas animações, O Poderoso Chefinho conquistou o público e mesmo concorrendo com produções de grande porte como A Bela e a Fera da Disney, teve alta arrecadação tanto nos Estados Unidos quanto nas bilheterias mundiais. Dessa forma, uma continuação está a caminho, inevitavelmente.

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  • Crítica | Como Treinar o Seu Dragão 2

    Crítica | Como Treinar o Seu Dragão 2

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    Quando Como Treinar o Seu Dragão chegou aos cinemas em 2010, não se imaginava que a nova animação da DreamWorks fizesse tanto sucesso. O estúdio apostou alto adaptando uma série de livros escrita por Cressida Crowell. Com um orçamento gordo de 165 milhões de dólares, o longa – dirigido por Dean DeBlois (Lilo & Stitch) e pelo roteirista de clássicos como O Rei Leão, Chris Sanders – chegou aos 500 milhões de dólares no mundo inteiro, garantindo financiamento para que mais dois filmes fossem encomendados. Como Treinar o Seu Dragão 2 chegou às telas quatro anos após seu antecessor, quase respeitando o tempo da ordem cronológica da história, que é de cinco anos.

    Soluço (voz de Jay Baruchel), o simpático protagonista, agora tem 20 anos de idade, o suficiente para que seu pai, Stoico (Gerard Butler), o coloque no trono, substituindo-o como líder da cidade de Berk. Porém, Soluço não quer nem um pouco assumir as responsabilidade de governar, ainda mais depois dos adventos do primeiro filme, quando a paz entre vikings e dragões passou a reinar. Nesses cinco anos, podemos perceber que a aliança entre dragões e o povo viking trouxe muitos benefícios à cidade, principalmente numa cena completamente inspirada em Os Flintstones, quando animais ajudam os humanos nas tarefas diárias. Vale destacar que Soluço possui vários aparatos “tecnológicos” muito legais, dispondo, inclusive, de uma wing suit, a popular asa de morcego, aparato bastante conhecido entre os paraquedistas.

    O filme começa numa festa em Berk, onde acontece uma corrida de dragões disputada pelos velhos amigos de Soluço: a namorada Astrid (voz de America Ferrera), Melequento (Jonah Hill), Perna de Peixe (Christopher Mintz-Plasse), Cabeça Dura (T.J. Miller), Bocão (Craig Ferguson) e a feia e revoltada, porém irresistível, Cabeça Quente (na voz de Kristen Wiig). Percebe-se que o protagonista deveria estar disputando a prova, porém ele está explorando o mundo com o seu dragão, Banguela, que ainda não consegue voar sozinho. Enquanto Soluço e Banguela voam, nota-se que, na verdade, eles estão mapeando o local, o que faz com que o jovem tenha consigo um enorme mapa da região, descoberta por Soluço e seu amigo.

    Mas a trama, de fato, começa quando, numa dessas explorações junto a Astrid e seu dragão Tempestade, Soluço e Banguela são atacados pelo simpático e divertido viking Eret (voz de Kit Harrington, o Jon Snow, de Game Of Thrones), que deixa escapar que está capturando dragões a mando do temido Drago Sangue Bravo (voz de Djimon Hounsou). E esse contato com Eret muda para sempre a vida de Soluço, interferindo, inclusive, em seu passado, onde algumas coisas são reveladas, como, por exemplo, a verdade sobre sua mãe, desaparecida desde um ataque de dragões a Berk, quando Soluço ainda era um bebê.

    O filme é bastante leve, passa rápido e não erra em nenhum aspecto. É engraçado e triste quando precisa ser e é tenso e suave quando também precisa ser. A história e o visual são mais ricos e abrangentes, dada a facilidade de se viajar por aí com um dragão. Simples assim. Pode-se dizer que os acontecimentos do primeiro filme, além de contribuírem com a trama, colaboram com os aspectos técnicos do segundo. Desta forma, a facilidade que Soluço tem de explorar a região o coloca em contato com a misteriosa guardiã de dragões, Valka (voz de Cate Blanchett), que sabe muito mais sobre os dragões do que qualquer outra pessoa no mundo, além de esconder um grande segredo. Para se ter uma ideia, Soluço é apresentado ao Dragão Alfa, um dragão colossal, talvez maior que o Godzilla, que controla todos os outros dragões.

    Um dos destaques fica por conta da diversidade de dragões que este filme possui. Cada raça possui características bem distintas, o que, infelizmente, deixa Banguela totalmente em segundo plano, ganhando mais importância somente no início do terceiro ato, quando Drago Sangue Bravo se torna, de fato, uma ameaça. Cabe destacar que ele também possui um Dragão Alfa, que resulta no maior combate de dragões já visto no cinema, mesmo que em uma animação. Um elemento grandioso não só pelos dragões alfa, mas porque Drago, assim como Valka, possui uma horda de dragões controlados por seus líderes, resultando numa épica batalha.

    Felizmente, o saldo é bem positivo, e o filme é com certeza uma ótima diversão para as crianças nas férias. Mas, por outro lado, talvez Chris Sanders tenha errado um pouco o tom ao escrever uma cena daquelas em que o herói pega a dama pela cintura e tasca-lhe um beijo, como acontece entre Soluço e Astrid, cena que resulta em um monte de “eca”, “credo” e “blergh” entre as crianças no cinema, causando risos nos adultos pela situação constrangedora e divertida.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.