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  • Review | Arrested Development – 4ª Temporada

    Review | Arrested Development – 4ª Temporada

    Após sete anos sem as aventuras dos Bluth, a Netflix assume a responsabilidade de tentar contar a história da família de desequilibrados, com um formato ainda menos usual do que o mockumentary apresentando a partir de 2003, a desunião familiar que sempre se anunciava como recurso narrativo para driblar a dificuldade de juntar o elenco, cuja agenda geral quase nunca batia entre si. O drama de Michael (Jason Bateman) começa por não ter mais capacidade de se manter financeiramente, colhendo os frutos dos desmandos de seu pai a frente da Bluth Company.

    Recentemente, o criador da série Mitchell Hurwitz remixou a quarta temporada, então há duas versões do mesmo programa, e ambas serão analisadas aqui. Essa postura inclusive sofreu com algumas polêmicas, já que o elenco não gostou de ter recebido apenas por quinze episódios, quando a versão nova tem vinte e dois.

    Temporada Quatro Original.

    Antes de mais nada, é mostrado um flashback mostrando Lucille e George Sênior novos, não interpretados por Jessica Walter e Jeffrey Tambor, e sim por Kristen Wiig e Seth Rogen (com uma peruca horrorosa). Boa parte dos famosos que fizeram participações especiais no seriado voltam aqui, inclusive, Liza Minelli, que faz Lucille 2 (ou Lucille Austero).  A situação do “protagonista” – essa condição sempre foi discutível, uma vez que cada Bluth tem um bom tempo de tela na série, dividindo assim os holofotes – é muito dificultada ao se deparar com a rejeição por parte do seu filho, que quer se mantar longe do pai, para não repetir os erros dele em não cortar a excessiva intimidade com a própria parentela.

    O formato da retomada se passa inteiro no primeiro episódio, que conta a tentativa de Michael em fundar a própria companhia, cujo fracasso ocorre pelo azar tradicional dele, talvez uma expiação pelos pecados familiares, visto no decorrer dos outros anos. Um dos pontos altos é a participação de Ron Howard, produtor-executivo e narrador do seriado, que se insere na trama como uma visão em meio a realidade, fazendo um papel auto-caricatural que desafia até os limites metalinguísticos da série. O motivo seria a feitoria de um filme sobre os Bluth, o que iria de encontro a realidade, já que a ideia de Hurwitz seria fazer um longa, que acabou transformando-se no seriado da Netflix.

    Em paralelo, George Sr. e Lucille resolvem se divorciar, forçando o último bastião familiar, fato que se torna ainda mais evidente ante a situação legal da matriarca, que será julgada segundo as esdrúxulas leis marítimas. Para variar, o momento mais constrangedor do  programa envolve Tobias, que mistura suas duas profissões, de terapeuta e ator para tentar ajudar Brie (Maria Bamford), uma ex-atriz falida que havia trabalhado em uma produção barata do Quarteto Fantástico, e que o conheceu por acaso. Para tentar ajudá-la a ganhar dinheiro, ele começou a posar como os personagens da Marvel, e foi impedido pelos advogados de Stan Lee, essa trama evolui com ele sendo preso, e depois trabalhando em um musical, na clínica de reabilitação de Lucille Austero, fato que ajuda a mostrar o quão degradante é a vida de Brie e o quão vergonhoso pode ser a de Tobias e dos demais Bluth.

    Os últimos dez episódios acontecem sob um mergulho profundo na melancolia, seja na versão tosca de Entourage que Gob (Will Arnett) vive, assim como sua reaproximação inoportuna de Steve Holt (Justin Grant Wade). É nesse pedaço também que Lindsay (Portia de Rossi) lida com o candidato Love (Terry Crews) um político direitista que quer erguer um muro para deixar os mexicanos longe do território americano, se envolvendo como prostituta de fato. Nessa parte, a personagem confronta sua hipocrisia, e motivação política torpe, se assumindo como uma patricinha que jamais trabalhou para conquistar nenhuma das posses que tem, mas obviamente que o roteiro não seria moralista, e trataria isso de maneira engraçada, como o é.

    Ainda assim, essa versão parece diferente demais da fase clássica. Há muita repetição de cenário e situações, e o fato das agendas dos atores não baterem fez com que a sensação de que esse ano foi feito unicamente por obrigação seja ainda mais grafado, tanto que boa parte das cenas foi feita com fundo verde, e isso faz perder demais a interação e química que fez de Arrested Development um objeto raro.

    Remix – The Fateful Consequences

    Pouco se mudou nas participações dos atores principais, que inclusive reclamaram por terem suas imagens exibidas em mais episódios – que curiosamente tem menos tempo de exibição que a quarta temporada original – e ainda estariam em regime de sindicato, que é um modo de exibição muito particular dos Estados Unidos. Quem teve que realmente trabalhar mais foi o narrador Ron Howard, que praticamente redublou tudo.

    Essa versão chama-se Fateful Consequences e tem 22 episódios, com um pouco mais de vinte minutos cada. Há cenas inéditas, e já no primeiro episódio dessa versão se estabelece um novo misterio, envolvendo uma morte inesperada. Seu formato lembra o vai e vem típico das temporadas anteriores, ainda que hajam diferenças drásticas na história, é como se fosse um gigantesco retcon (continuidade retroativa, em tradução livre), implantado

    As cenas inéditas certamente foram retiradas do material cortado da versão original, e esses acréscimos ajudam a amplificar a sensação de irregularidade do show, uma vez que em alguns momentos ele se torna mais confuso que a quarta temporada comum e em outros, explicita mais os fatos, com explicações bastante expositivas.

    Neste recorte, a questão da festa do Cinco de Quatro é ainda mais grafada. A vingança de Lucille Bluth sobre o feriado mexicano não serve apenas para sustentar a questão de segregação do muro que Love queria levantar, mas também a propagação do aplicativo antissocial Fakeblock, de George Michael, e claro, o terrível destino de Lucille Austero.

    E desse jeito, parecido demais com a terceira temporada, termina Fateful Consequences. Mais irregular que a outra, envolta na tentativa de emular o formato dos episódios antigos, pavimentando também o futuro da saga, mas seu resultado é discutível, apesar de ligeiramente mais positivo que a versão falada por cada personagem. A sensação de comida requentada não sai do paladar do espectador, o que é uma pena, pois qualquer que seja a versão desta quarta temporada, soa melancólica.

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  • Review | Arrested Development – 1ª a 3ª Temporada

    Review | Arrested Development – 1ª a 3ª Temporada

    A sufocante rotina familiar e necessidade de fuga deste paradigma é o principal mote de Arrested Development, que usa Michael Bluth (Jason Bateman) como avatar dessa sensação incômoda. O clã dos Bluth é uma desajustada família que faz questão de tornar a existência do protagonista algo desgraçado. A engraçadíssima narração (de Ron Howard, produtor do programa) exibe uma miséria existencial, de um homem entorpecido pelos que lhe são próximos e que tem poucos objetivos edificantes, além de ter na presença de seus parente a garantia de infelicidade.

    Para o espectador não familiarizado com o todo de AR – lançado no Brasil como Caindo na Real em suas primeiras temporadas –  as situações cômicas demoram a engrenar, porque as disfunções são mostradas aos poucos, bem como as fobias e situações tragicômicas. O que é evidente já nos primeiros episódios da primeira temporada é a briga de ego de pessoas absolutamente medíocres e preguiçosas, mostrada de um modo charmoso e capaz de gerar empatia por cada um dos estranhos personagens.

    Michael por exemplo é inábil com as mulheres, ainda em luto por conta de sua esposa falecida. Já Lindsay Bluth (Portia de Rossi) e Tobias Funke (David Cross) claramente vêem um divórcio que em breve deverá acontecer, ainda que se arraste por muito mais tempo, entre os motivos, a possibilidade de Tobias ser um homossexual que não se percebe como tal. Eles tem uma filha, Mae “Maeby” (Alia Shawkat) que por sua vez causa os instintos mais primitivos em seu primo, George Michael (Michael Cera), fazendo-o ter um desejo incestuoso. Lucille (Jessica Walter) é a mãe mesquinha da família, ela se sente desamparada por seu esposo, George Sr. (Jeffrey Tambor) quando o mesmo é preso. O filho mais próxima dela é o desfalcado mentalmente Buster (Tony Hale) e ainda há o primogênito aficionado por mágica e ilusionista GOB (Will Arnett). Depois de toda a crise, todo esse núcleo – com exceção de Lucille e Buster – vão morar no mesmo lugar, a casa modelo — um lar fake que serve como exemplo para outras obras imobiliárias da Bluth Company, tão falso quanto a unidade desses e o sucesso da empresa.

    Michael é o mais trabalhador do grupo, na verdade é o único que tem uma vida normal. Ele espera a promoção a presidente da Bluth Company mas antes de ser pego seu pai dá o posto de CEO a Lucille. A acusação de fraude recai sobre a empresa e revela de modo categórico a ganância da família, que não valoriza o irmão tanto quanto merece, nem mesmo na iminência da miséria.

    A única alternativa que os estúpidos parentes tem é de implorar ajuda ao homem justo, o mesmo que foi rejeitado por seu pai e desprezado por seus irmãos, fato que o faz parecer como o mito bíblico de José do Egito. Diante dessa situação, Michael quer obviamente uma bela compensação por ter de aguentar tanta idiotice acumulada, para logo depois perceber que a sua não-nomeação como sucessor de seu pai foi uma ação estratégica, para que ele não fosse preso também, o que até faz balançar seu coração, já que ele decidiu mudar seus planos de ir para Chicago seguir em frente abandonando tudo e todos, levando consigo seu filho. Por ser um sujeito de bom coração ele obviamente freia esses planos e tenta arrumar a confusão da companhia, e claro, de seus parentes.

    Os primeiros anos se focam na convivência nada sadia dentro da família, com competições imbecis dos filhos GOB, Buster e até de Michael por atenção dos pais – num comentário pseudo-freudiano ímpar, que envolve não só Complexo de Édipo mas tantas outras síndromes mais complexas – e claro, ganância, debochando da incessante busca  dos americanos por tentarem alcançar o American Dream, ainda que claramente sejam todos os personagens comuns.

    Parte do sucesso de Arrested Development é a persona de Bateman, e seu recorrente papel do homem normal, esforçado e de caráter ilibado que têm de lidar com as loucuras alheias, como foi em quase todos seus papéis posteriores ao seriado. Cada uma das situações esdrúxulas e nonsenses tornam-se mais interessantes por ter um forte pé na realidade, fazendo lembrar a todo momento o quanto os distúrbios comportamentais do grupo são perturbadores ante a ótica normativa dos outros homens. A tenacidade de Michael apesar de ser uma bela qualidade, se confunde com um defeito, por grafar ainda mais sua condescendência e complacência com os erros dos que o cercam.

    O final do primeiro ano um ocorre com mais uma tentativa de Michael em sair do seio familiar, para viver uma vida distante daqueles que fazem de si um ser miserável. Após o julgamento de seu pai, ele é mais uma vez, por força das circunstâncias, proibido de seguir seu caminho. O começo da segunda temporada prossegue em mais uma tentativa fracassada de retiro, para mostrar uma predileção pelo drama e pelos anúncios de saída, o que faz com que seus parentes narcisistas não acreditem em sua saída, tampouco sentindo sua falta como pacificador dentro do clã.

    A situação piora, quando George Sênior consegue enfim fugir da prisão, para então ser indiciado, fazendo daí algumas piadas com foragidos famosos, em especial o caso de Saddam Hussein, no ano de 2003 (aqui há até uma desconfiança de traição à pátria). Depois de ser encontrado em um túnel subterrâneo, Michael o abriga no sótão da casa modelo, para que ele esteja minimamente sob seu controle. Nesse momento também há a inserção do irmão gêmeo do patriarca, Oscar, que por sua vez abre a possibilidade de mais uma quantidade exorbitante de piadas, pondo os dois personagens em perspectivas bem diferentes, tendo ambos como amantes de Lucille.

    Uma das melhores coisas no segundo ano certamente é a imitação de Uma Babá Quase Perfeita que Tobias faz e todos fingem não saber quem ele é, para que permaneça sem incomodar ninguém. A relação estremecida entre ele e sua esposa parece realmente resultar em nada mais que o fracasso total, já que ela só o quer quando ele parece um fruto proibido, e quando ambos estão juntos, não conseguem ser felizes. Essa questão é obviamente hilária, mas esconde um comentário óbvio e sério, acusando uma hipocrisia comum a muitos casais, que só se mantém juntos por conta de convenções, e claro, por comodidade.

    O final da segunda temporada mostra George Sênior se entregando de bom grado, obviamente em um movimento mentiroso, já que o que ele tentou fazer foi mandar seu gêmeo Oscar em seu lugar para o cárcere, ao mesmo tempo em que consegue proferir um discurso hipócrita e moralista para GOB e Michael, dizendo que pelo fato de compartilharem do mesmo sangue, não deveriam brigar. A duplicidade de vida e discurso é só mais uma mostra do quão canalha o patriarca pode ser, dado a quantidade de prejuízos que causou a sua família, ou seja, seu sangue.

    A sensação de que a série de Mitchell Hurwitz é uma comédia de erros dos Bluth é na verdade um pretexto para contar uma história de constrangimento sobre a vergonha que a existência humana pode proporcionar, e isso fica ainda mais evidente e nítida ao se aproximar de 2005, o ano da terceira (e última até então) temporada comum de Arrested Development. As falcatruas que todos os parentes cometem fazem o (a princípio) ingênuo Michael ser mais cínico e capaz de, pelo menos, entender como eles funcionam, mas sem conseguir retribuir.

    Quando é posto a prova, Michael nega que tem uma família, finalmente verbalizando de modo categórico o desejo reprimido que sempre lhe tomou, e a vontade de se ver livre disso o torna cego até para coisas óbvias, mesmo quando ele se aproxima de uma linda mulher que na verdade esconde um segredo – que nem é tão secreto assim. O personagem claramente está anestesiado demais para entender sequer as coisas óbvias.

    É nesse momento do seriado que Tobias acredita que ganhará mais chances de interpretar bons papéis se tiver mais cabelo, tendo fracassos óbvios nisso. A deterioração dele deixa de ser apenas mental e sentimental, para ser também física. O implante alem de dar errado no início, fazendo seu coro cabeludo sangrar, causando um choque visual no espectador e até em personagens periféricos. Ele ao lado de GOB formam um dueto de idiotas carismáticos, que a princípio causariam ódio por suas inabilidades, mas compensam com um carisma absurdo. A personalidade do personagem de Arnet é ainda mais chamativa e magnética, e faz um enorme sentido no universo caótico que o programa estabelece. A inabilidade de GOB é mais discutida ainda nesse ano, graças a aproximação dele com Steve Holt (Justin Grant Wade), seu filho não reconhecido.

    O roteiro é tão mergulhado em metalinguagem, que pede aos seus espectadores e fãs que contem aos seus conhecidos sobre este show, através de mais uma ação arrecadação de fundos organizada pelos Bluth, ainda que Lucille e outros parentes sejam orgulhosos e arrogantes demais para receber ajuda externa. Os Bluth realmente não precisam de ninguém para sabotá-los, já que eles são especialistas nisso, um bom exemplo disso é Boys in Fight (ou no mercado mexicano Luchas y Muchachos), uma série de vídeos onde a competição entre GOB e Michael era incentivada por George Sênior, basicamente para tentar ter algum lucro, de maneira bem desonesta.

    George Michael finalmente tem coragem de assumir perante seu pai o desejo reprimido que tinha por sua prima, após descobrir que ela realmente era filha de Lindsay – somente para, após mais uma reviravolta, descobrir que Lindsay era na verdade adotada. O programa de TV recorre a sua fórmula, com a capacidade incrível de não desgastá-lo apesar da recorrência enorme de reviravoltas e autorreferências.

    Após três anos de exibição, a audiência baixa fez com que a Fox decidisse por encerrar as atividades de seus personagens, para um futuro sem certeza e com um desfecho abrupto. De certa forma, percebendo que o fim se aproximava, Hurwitz conseguiu amarrar bem até a desolação pelo fim de seu show, e um dos últimos momentos mostra uma intervenção de Ron Roward (em pessoa, e não só em narração), dizendo que a história da família não daria uma série, talvez um filme, provavelmente na tentativa de cavar uma oportunidade para isso. E dessa forma cara de pau, termina Arrested Development, mostrando uma família se decompondo, no auge de sua qualidade humorística, interrompida de maneira precoce por conta do público pequeno de telespectadores. O fato dela nunca ter sido tão popular quanto merecia passa por muitos motivos, entre elas, o fato de mais da metade das suas piadas só fazerem sentido para quem já é aficionado pelo programa, o que obriga seu espectador a entender profundamente sua mitologia, e outro fato é que, para quem abraça o programa, a sensação ao final é extremamente prazerosa, de tão reais que seus personagens parecem.

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  • Crítica | Green Room

    Crítica | Green Room

    Green Room 1

    Ainda seguindo o estilo rústico de seu filme anterior, Blue Ruin, Jeremy Saulnier acrescenta uma aura de popularidade a Green Room, que faz de seu modesto terror um longa carismático. O elenco, recheado de atores famosos, faz acreditar que a superficialidade e docilidade seriam a tônica do argumento, evidentemente como um longo e interessante despiste.

    The Ain’t Rights é uma banda de punk rock formada por jovens que tencionam apresentar uma rebeldia típica das poses de Sid Vicious e Joe Strummer, mas que na verdade escondem uma atitude ordeira, normativa e mantenedora do status quo. Após o fracasso de público da turnê, os rapazes decidem fazer um último show, em Oregon, “terreno” de nazistas e skinheads, que são brutalmente confrontados por eles já na primeira música que desautorizava o extremismo racista ideológico.

    Curiosamente, a elevação de patamar em relação à quantidade de público faz a banda aproximar-se de atitudes mais extremas. O quinteto adentra em uma trama que resume finalmente o real chamado à aventura, resultando na construção inicial em um mcguffin, como visto no clássico Um Drink no Inferno, inclusive reprisando os bons momentos do filme de Robert Rodriguez e Quentin Tarantino.

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    A desventura troca o gore comum e típico desse subgênero de filmes por outros aspectos escatológicos, evidenciando ambientes sujos, pouco iluminados, repletos de lodo e sangue, características que emulam o caráter dos antagonistas, que bolam um cerco para encobrir seus pecados.

    O elenco de astros Anton Yelchin (Pat, o baixista e principal liderança entre os musicistas), Imogen Poots (Amber), Alia Shawkat, Joe Cole e Patrick Stewart serve basicamente para aumentar a simpatia pelo filme. Ainda que em posição agradável do ponto de vista dramatúrgico, o casting é bem subalterno em relação à trama anárquica, reféns de um acaso que suprime qualquer frieza e fúria assassina previamente estabelecida.

    O lema comum ao punk rock, o Do It Yourself, é posto em prática de maneira violenta e extrema, se valendo de lâminas, improvisos e ameaças para ser executado. A guerra improvisada que se estabelece só se torna crível – apesar dos claros absurdos – graças à morte extremamente comum de seus personagens, os quais também são bastante comuns, exceção feita a Amber, que está lá exatamente para ser o contraponto seguro e frio das pessoas despreparadas, fúteis e desesperadas do grupo, evocando um possível passado misterioso e de natureza tão parecida quanto a do bando de Darcy (Stewart).

    Green Room consegue apresentar muito, mesmo em pouco tempo de tela e de exposição de seus personagens, compensando com situações insanas bem urdidas e cenas excelentes, fruto da experiência de Saunier em retratar programas televisivos e reais, e com urgência tão grave quanto a obra cinematográfica exige.

  • Crítica | A Filha do Meu Melhor Amigo

    Crítica | A Filha do Meu Melhor Amigo

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    Julian Farino é um diretor londrino acostumado a encabeçar episódios de séries como Byron, The Office-US, Sex And City, Roma entre outras muitas. Em seu primeiro longa-metragem, faz uma comédia dramática que emula alguns dos elementos de filmes indie – a saber a temática, fotografia e disposição de cores – bastante populares e com público cativo, vide Juno, 500 Dias com Ela, Ruby Sparks etc.

    O roteiro de Ian Helfer e Jay Reiss, também estreantes no cinema mainstream, foca em duas famílias vizinhas em Nova Jersey, e que tem na rotina a segurança de suas vidas – mesmo que todos ali passem longe do contentamento com a condição em que existem. A história é narrada por Vanessa (Alia Shawkat), uma menina frustrada profissionalmente, que aparenta ter bastante ambições, mas que faz pouco esforço para alcançar seus objetivos. Apesar disso, a base do guião não é nela, e sim na geração anterior – pelo menos nesse primeiro momento – especialmente no casamento malfadado entre Paige  e David – pais da relatora, e na vida privada dos seus melhores amigos Terry e Carol.

    A vida de todos é imutável, e eles são incapazes de quebrar qualquer paradigma, até que a filha do casal Ostroff retorna para casa, após ter seus planos de casamento frustrados. Nina (Leighton Messter) volta desiludida e pouco preocupada com qualquer coisa que não seja os seus próprios desejos, e se mete em uma relação que rompe a amizade entre as duas famílias. O subúrbio é utilizado como o avatar da rotina e do medo da variação, o argumento toca em temas como crise de meia-idade, término de casamento, ótica adolescente sobre divórcio dos pais etc. Outro ponto de interessante discussão é até que ponto é valido apelar para a tradição e para os laços familiares quando estas coisas se interpõem a felicidade própria.

    As atuações são razoáveis, Hugh Laurie que ainda possui muito do Doutor Casa em sua caracterização, mas dá uma personalidade diferente ao seu personagem passivo de meia-idade. Messter não compromete, mas faz pouco acreditar em seus dramas. Entretanto o destaque certamente é Catherine Keener, até por ter em mãos o personagem mais rico da película, e que apresenta maior evolução deixando de ser a esposa dedicada, simulada e ilusória para se tornar uma mulher cheia de ideais e que dedica sua vida a atingi-los – além é claro de ter protagonizado a cena mais cômica e agridoce do filme, onde destrói parte da decoração de natal da fachada de sua antiga casa para logo depois agir de forma calma e serena no interior da festa natalina.

    O caso de Nina foi o catalisador da mudança, o evento que modificou o status quo e fez todos perceberem o quanto os personagens estavam insatisfeitos com as próprias vidas, o que inclui a própria Nina, Paige, David, Carol, Terry e mesmo Vanessa, além é claro de trazer clareza de o quanto eles precisavam se transformar.

    Sair da zona de conforto é difícil, mas é necessário em alguns pontos da vida. David percebe tarde demais que certos caminhos não têm volta. The Oranges é uma comédia de incômodos e constrangimentos, um pouco pretensiosa, mas ainda assim de divertimento fácil.